Resumo
Introdução
Observa-se um interesse crescente na utilização de métodos para avaliar a efetividade das práticas desenvolvidas por terapeutas ocupacionais, contudo, quando se trata de instrumentos de avaliação próprios da terapia ocupacional, ainda que o uso seja visto como positivo e vantajoso, parecem ser pouco utilizados e difundidos no Brasil.
Objetivo
Identificar e analisar estudos originais desenvolvidos em território brasileiro que utilizaram instrumentos sistematizados de avaliação criados por terapeutas ocupacionais para a população infantojuvenil.
Método
Trata-se de uma pesquisa de revisão sistemática da literatura, sendo as buscas realizadas nas bases de dados: PubMed, Scopus, SciELO e BVS, além dos periódicos: Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, Revista Interinstitucional Brasileira de Terapia Ocupacional e Revista Baiana de Terapia Ocupacional, atendendo aos critérios de seleção adotados.
Resultados
Foram incluídos 37 estudos, contemplando 15 instrumentos criados por terapeutas ocupacionais para a avaliação de crianças e adolescentes. Quatro categorias de instrumentos emergiram da análise dos resultados, a saber: desempenho funcional; participação e desempenho ocupacional; comportamento lúdico e atividade sensorial. A maioria dos instrumentos apresentou boas evidências de adequação psicométrica no contexto brasileiro, embora alguns ainda necessitem de maiores investigações.
Conclusão
Diante dos instrumentos e de suas principais características apresentadas neste estudo, pôde-se apreender um panorama diverso, podendo potencializar os processos de cuidado em infância e adolescência no campo da terapia ocupacional. Há a recomendação para que futuros estudos se debrucem em investigar ferramentas avaliativas confiáveis para compor a produção científica nacional.
Palavras-chave:
Revisão Sistemática; Psicometria; Desenvolvimento Humano
Abstract
Introduction
There is a growing interest in the use of methods to assess the effectiveness of practices developed by occupational therapists, however, when it comes to specific assessment tools of occupational therapy, although the use of it is seen as positive and advantageous, they seem to be little used and widespread in Brazil.
Objective
This study aimed to identify and analyze original studies developed in the Brazilian territory that used systematic assessment tools created by occupational therapists for children and adolescents.
Method
This is a systematic literature review research, with the searches being carried out in the databases: PubMed, Scopus, Scielo, Virtual Health Library (VHL) and in the journals: Brazilian Journal of Occupational Therapy, Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, Revista Interinstitucional Brasileira de Terapia Ocupacional and Revista Baiana de Terapia Ocupacional, meeting the selection criteria adopted.
Results
37 studies were included, containing 15 instruments created by occupational therapists to assess children and adolescents. Four categories of instruments emerged from the analysis of the results, namely: functional performance; occupational participation and performance; playful behavior, and sensory activity. Most of the assessment tools presented good evidence of psychometric adequacy in the Brazilian context, although some still need further investigation.
Conclusion
Because of the assessment tools and their main characteristics presented in this study, it was possible to apprehend a diverse panorama, which could enhance the caring processes in childhood and adolescence in the field of Occupational Therapy. There is a recommendation for future studies to investigate reliable assessment tools to compose the national scientific production.
Keywords:
Systematic Review; Psychometrics; Human Development
Introdução
A avaliação sempre foi um tema de interesse da Terapia Ocupacional. Para esta profissão, o processo avaliativo é amplo e contínuo, a partir do qual se busca coletar e interpretar as informações necessárias para o planejamento da intervenção, sendo necessário seguir uma linha de raciocínio lógica na procura de respostas e caminhos que possibilitam maior conhecimento acerca do perfil ocupacional dos sujeitos-alvo para análise de sua participação e desempenho ocupacionais (Tedesco, 2000Tedesco, S. A. (2000). Estudo da validade e confiabilidade de um instrumento de terapia ocupacional: auto-avaliação do funcionamento ocupacional (SAOF) (Dissertação de mestrado). Universidade Federal de São Paulo, São Paulo., 2017Tedesco, S. A. (2017). Avaliação e intervenção de terapia ocupacional em contextos hospitalares. In M. M. R. P. De Carlo & A. Kudo (Eds.), Terapia ocupacional em contextos hospitalares e cuidados paliativos (pp. 79-101). São Paulo: Payá.; Kudo et al., 2012Kudo, A. M., Parreira, F. V., Barros, P. B. M., & Zamper, S. S. S. (2012). Construção do instrumento de avaliação de terapia ocupacional em contexto hospitalar pediátrico: sistematizando informações. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, 20(2), 173-181. http://dx.doi.org/10.4322/cto.2012.017.
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; Mancini et al., 2020Mancini, M. C., Pfeifer, L. I., & Brandão, M. D. B. (2020). Processos de avaliação de terapia ocupacional na infância. In L. I. Pheifer & M. M. M. Sant’Anna (Eds.), Terapia ocupacional na infância: procedimentos para a prática clínica (pp. 25-40). São Paulo: Memnon.; Mazak, 2021Mazak, M. S. R. (2021). Adaptação transcultural do instrumento The Short Child Occupational Profile para a Língua Portuguesa do Brasil (Dissertação de mestrado). Universidade Federal de São Carlos, São Carlos.).
A avaliação compreende desde as etapas iniciais até o desfecho de uma intervenção, sendo que uma das formas mais eficazes para identificação de necessidades do sujeito é a utilização de instrumentos de avaliação, que são ferramentas específicas que possibilitam maior clareza para a definição de objetivos terapêuticos, facilitando a mensuração e documentação dos resultados obtidos em terapia (Chaves et al., 2010Chaves, G. F. S., Oliveira, A. M., Forlenza, O. V., & Nunes, P. V. (2010). Escalas de avaliação para Terapia Ocupacional no Brasil. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 21(3), 240-246. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v21i3p240-246.
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; Tedesco, 2017Tedesco, S. A. (2017). Avaliação e intervenção de terapia ocupacional em contextos hospitalares. In M. M. R. P. De Carlo & A. Kudo (Eds.), Terapia ocupacional em contextos hospitalares e cuidados paliativos (pp. 79-101). São Paulo: Payá.).
Nesse sentido, Rocha et al. (2013)Rocha, S. R., Dornelas, L. F., & Magalhães, L. C. (2013). Instrumentos utilizados para avaliação do desenvolvimento de recém-nascidos pré-termo no Brasil: revisão da literatura. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, 21(1), 109-117. http://dx.doi.org/10.4322/cto.2013.015.
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e Brito & Pinheiro (2016)Brito, T. T. D., & Pinheiro, C. L. (2016). Instrumentos de avaliação utilizados por terapeutas ocupacionais na criança com paralisia braquial obstétrica. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, 24(2), 335-350. http://dx.doi.org/10.4322/0104-4931.ctoAR0555.
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ressaltam sobre a importância de os profissionais terem o conhecimento dos recursos disponíveis para avaliação, para que possam fazer escolhas adequadas e utilizar corretamente os instrumentos, de forma a garantir maior êxito em suas intervenções.
Em contrapartida, há pelo menos duas décadas, a literatura vem sinalizando fragilidades no que diz respeito à avaliação na Terapia Ocupacional, apontando que esse profissional encontra dificuldades entre aquilo que se avalia e aquilo que seriam os objetivos da profissão (Magalhães, 1997Magalhães, L. C. (1997). Avaliação de terapia ocupacional: o quê avaliar e como avaliar. In Anais do 5º Congresso Brasileiro e 4º Simpósio Latino americano de Terapia (Boletim do Congresso Brasileiro de Terapia Ocupacional, pp. 29-36). Belo Horizonte: Associação dos Terapeutas Ocupacionais de Minas Gerais.; Tedesco, 2000Tedesco, S. A. (2000). Estudo da validade e confiabilidade de um instrumento de terapia ocupacional: auto-avaliação do funcionamento ocupacional (SAOF) (Dissertação de mestrado). Universidade Federal de São Paulo, São Paulo.). Também se destacava a escassez do uso por métodos avaliativos mais objetivos e sistematizados para a identificação de necessidades do sujeito e demonstração dos progressos alcançados em terapia, indicando que a área de avaliação ainda requer investimento dos terapeutas ocupacionais (Magalhães, 1997Magalhães, L. C. (1997). Avaliação de terapia ocupacional: o quê avaliar e como avaliar. In Anais do 5º Congresso Brasileiro e 4º Simpósio Latino americano de Terapia (Boletim do Congresso Brasileiro de Terapia Ocupacional, pp. 29-36). Belo Horizonte: Associação dos Terapeutas Ocupacionais de Minas Gerais.; Tedesco, 2000Tedesco, S. A. (2000). Estudo da validade e confiabilidade de um instrumento de terapia ocupacional: auto-avaliação do funcionamento ocupacional (SAOF) (Dissertação de mestrado). Universidade Federal de São Paulo, São Paulo.).
Ainda hoje se destacam algumas dificuldades na adoção dessas ferramentas, dentre elas, a falta de delimitação das características das intervenções relacionadas à escolha correta de instrumentos e a preferência dos terapeutas ocupacionais pela utilização de instrumentos para a realização de pesquisa, e não, de fato, na prática clínica (Tedesco, 2017Tedesco, S. A. (2017). Avaliação e intervenção de terapia ocupacional em contextos hospitalares. In M. M. R. P. De Carlo & A. Kudo (Eds.), Terapia ocupacional em contextos hospitalares e cuidados paliativos (pp. 79-101). São Paulo: Payá.). Para ilustrar, essa dificuldade pode ser observada no estudo realizado por Bueno (2013)Bueno, A. R. (2013). Terapia ocupacional no campo da saúde mental infanto-juvenil: revelando as ações junto aos Centros de Atenção Psicossocial Infanto-juvenil (CAPSi) (Dissertação de mestrado). Universidade Federal de São Carlos, São Carlos., que objetivou identificar as formas de avaliação na prática de terapeutas ocupacionais nos Centros de Atenção Psicossocial Infantojuvenis (CAPSij). Verificou-se que para realizar o processo de identificação de necessidades, esses profissionais utilizam os seguintes recursos: anamneses, escalas de desenvolvimento, entrevistas abertas, acolhimentos, observação e realização de atividades. Entretanto, metade das 24 profissionais entrevistadas não respondeu sobre sua forma de avaliação, evidenciando uma falta de sistematização, “[...] como se a avaliação acontecesse de forma intuitiva, algo que não é verdadeiro” (Bueno, 2013Bueno, A. R. (2013). Terapia ocupacional no campo da saúde mental infanto-juvenil: revelando as ações junto aos Centros de Atenção Psicossocial Infanto-juvenil (CAPSi) (Dissertação de mestrado). Universidade Federal de São Carlos, São Carlos.. p. 105). Mesmo considerando que as avaliações em terapia ocupacional não precisam ser realizadas de forma engessada, Bueno (2013)Bueno, A. R. (2013). Terapia ocupacional no campo da saúde mental infanto-juvenil: revelando as ações junto aos Centros de Atenção Psicossocial Infanto-juvenil (CAPSi) (Dissertação de mestrado). Universidade Federal de São Carlos, São Carlos. sinaliza que sistematizar esse processo favorece e enriquece o diálogo entre todos os profissionais envolvidos no tratamento da criança ou adolescente, além de viabilizar a produção literária na área científica.
Na mesma linha, um estudo de revisão que buscou identificar os instrumentos utilizados pelos terapeutas ocupacionais com a população infantil, encontrou 48 instrumentos utilizados na área, a nível nacional e internacional (Silva & Martinez, 2002Silva, D. B. R., & Martinez, C. M. S. (2002). Modelos de avaliação em terapia ocupacional: estudos dos hábitos funcionais e de auto-suficiência em crianças. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, 10(2), 77-93.), contudo, não eram próprios da profissão, o que corrobora com outros autores sobre a necessidade de esforços nessa área em particular (Gomes & Oliver, 2010Gomes, M. L., & Oliver, F. C. (2010). A prática da terapia ocupacional junto à população infantil: revisão bibliográfica do período de 1999 a 2009. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 21(2), 121-129. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v21i2p121-129.
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). No mesmo caminho, Chaves et al. (2010)Chaves, G. F. S., Oliveira, A. M., Forlenza, O. V., & Nunes, P. V. (2010). Escalas de avaliação para Terapia Ocupacional no Brasil. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 21(3), 240-246. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v21i3p240-246.
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investigaram as escalas de avaliação específicas de Terapia Ocupacional no Brasil, encontrando sete instrumentos traduzidos para a língua portuguesa e validados, sendo que destes, apenas um é específico para avaliação de crianças e outros dois podem vir a ser utilizados com adolescentes. Assim, reitera-se a necessidade de se investigar instrumentos específicos de Terapia Ocupacional para essa população no Brasil.
Atualmente, considera-se que esse cenário vem sofrendo transformações, sendo possível observar que nos últimos 10 anos o interesse na utilização de métodos específicos para avaliar a efetividade das práticas desenvolvidas tem sido crescente, além de uma maior preocupação com a validação e confiabilidade dos instrumentos adaptados por terapeutas ocupacionais no contexto brasileiro (Tedesco, 2017Tedesco, S. A. (2017). Avaliação e intervenção de terapia ocupacional em contextos hospitalares. In M. M. R. P. De Carlo & A. Kudo (Eds.), Terapia ocupacional em contextos hospitalares e cuidados paliativos (pp. 79-101). São Paulo: Payá.; Correia, 2019Correia, R. C. B. (2019). Elaboração e validação de instrumento de avaliação para a prática supervisionada obrigatória na graduação em terapia ocupacional (Dissertação de mestrado). Faculdade Pernambucana de Saúde, Recife.).
Nessa direção, destaca-se a importância da utilização de instrumentos de avaliação que sejam eficientes em suas proposições, ou seja, apresentem rigor em seu histórico de criação e validação junto à população alvo, de modo a resultarem em dados confiáveis sobre os constructos que pretendem avaliar. No caso da utilização de instrumentos produzidos em outros países, observa-se a pertinência da realização da adaptação transcultural e a validação dessa nova versão, incluindo o estudo das qualidades psicométricas destes instrumentos (Chaves et al., 2010Chaves, G. F. S., Oliveira, A. M., Forlenza, O. V., & Nunes, P. V. (2010). Escalas de avaliação para Terapia Ocupacional no Brasil. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 21(3), 240-246. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v21i3p240-246.
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; Chaves, 2012Chaves, G. F. S. (2012). Estudo da confiabilidade e validade da Medida Canadense de Desempenho Ocupacional (COPM) em idosos com Comprometimento Cognitivo Leve (CCL) (Dissertação de mestrado). Universidade de São Paulo, São Paulo.). Sobre isso Chaves et al. (2010)Chaves, G. F. S., Oliveira, A. M., Forlenza, O. V., & Nunes, P. V. (2010). Escalas de avaliação para Terapia Ocupacional no Brasil. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 21(3), 240-246. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v21i3p240-246.
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e Tedesco (2017)Tedesco, S. A. (2017). Avaliação e intervenção de terapia ocupacional em contextos hospitalares. In M. M. R. P. De Carlo & A. Kudo (Eds.), Terapia ocupacional em contextos hospitalares e cuidados paliativos (pp. 79-101). São Paulo: Payá. ainda apontam para a pequena quantidade de instrumentos validados, confiáveis e específicos de Terapia Ocupacional disponíveis no Brasil.
A importância de fomentar produções de terapeutas ocupacionais no que se refere a instrumentos de avaliação é algo problematizado pela literatura nacional (Chaves et al., 2010Chaves, G. F. S., Oliveira, A. M., Forlenza, O. V., & Nunes, P. V. (2010). Escalas de avaliação para Terapia Ocupacional no Brasil. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 21(3), 240-246. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v21i3p240-246.
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; Chaves, 2012Chaves, G. F. S. (2012). Estudo da confiabilidade e validade da Medida Canadense de Desempenho Ocupacional (COPM) em idosos com Comprometimento Cognitivo Leve (CCL) (Dissertação de mestrado). Universidade de São Paulo, São Paulo.; Correia, 2019Correia, R. C. B. (2019). Elaboração e validação de instrumento de avaliação para a prática supervisionada obrigatória na graduação em terapia ocupacional (Dissertação de mestrado). Faculdade Pernambucana de Saúde, Recife.; Magalhães, 1997Magalhães, L. C. (1997). Avaliação de terapia ocupacional: o quê avaliar e como avaliar. In Anais do 5º Congresso Brasileiro e 4º Simpósio Latino americano de Terapia (Boletim do Congresso Brasileiro de Terapia Ocupacional, pp. 29-36). Belo Horizonte: Associação dos Terapeutas Ocupacionais de Minas Gerais.; Tedesco, 2000Tedesco, S. A. (2000). Estudo da validade e confiabilidade de um instrumento de terapia ocupacional: auto-avaliação do funcionamento ocupacional (SAOF) (Dissertação de mestrado). Universidade Federal de São Paulo, São Paulo.). Isto é relevante porque a utilização de instrumentos desenvolvidos por outras categorias profissionais pode trazer consequências quando não são sensíveis aos domínios da intervenção em Terapia Ocupacional, pois o interesse do terapeuta é no desempenho e na participação ocupacional dos sujeitos (Magalhães, 1997Magalhães, L. C. (1997). Avaliação de terapia ocupacional: o quê avaliar e como avaliar. In Anais do 5º Congresso Brasileiro e 4º Simpósio Latino americano de Terapia (Boletim do Congresso Brasileiro de Terapia Ocupacional, pp. 29-36). Belo Horizonte: Associação dos Terapeutas Ocupacionais de Minas Gerais.; Mazak, 2021Mazak, M. S. R. (2021). Adaptação transcultural do instrumento The Short Child Occupational Profile para a Língua Portuguesa do Brasil (Dissertação de mestrado). Universidade Federal de São Carlos, São Carlos.).
Assim, a utilização de instrumentos próprios nas práticas da terapia ocupacional auxilia na credibilidade e objetividade das intervenções, como também possibilitam a produção de conhecimento específico da área, contribuindo para o reconhecimento científico e clínico da Terapia Ocupacional (Chaves et al., 2010Chaves, G. F. S., Oliveira, A. M., Forlenza, O. V., & Nunes, P. V. (2010). Escalas de avaliação para Terapia Ocupacional no Brasil. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 21(3), 240-246. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v21i3p240-246.
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; Chaves, 2012Chaves, G. F. S. (2012). Estudo da confiabilidade e validade da Medida Canadense de Desempenho Ocupacional (COPM) em idosos com Comprometimento Cognitivo Leve (CCL) (Dissertação de mestrado). Universidade de São Paulo, São Paulo.).
Motta & Takatori (2001)Motta, M. P., & Takatori, M. (2001). A assistência em terapia ocupacional sob a perspectiva do desenvolvimento da criança. In M. M. R. P. De Carlo & C. C. Bartalotti (Eds.), Terapia ocupacional no Brasil: fundamentos e perspectivas (pp. 117-135). São Paulo: Plexus. apontam que instrumentos de avaliação em terapia ocupacional para crianças adotam, de forma geral, os mesmos formatos e objetivos do universo ocupacional dos adultos, porém se diferenciam na abordagem do desenvolvimento e na forma de coletar informações.
Mancini et al. (2020)Mancini, M. C., Pfeifer, L. I., & Brandão, M. D. B. (2020). Processos de avaliação de terapia ocupacional na infância. In L. I. Pheifer & M. M. M. Sant’Anna (Eds.), Terapia ocupacional na infância: procedimentos para a prática clínica (pp. 25-40). São Paulo: Memnon. apontam que, no universo da infância e adolescência, instrumentos de avaliação são utilizados por terapeutas ocupacionais por vários motivos, como: auxiliar na determinação da elegibilidade da criança/adolescente que receberá a intervenção de terapia ocupacional, monitorar o progresso durante o processo de intervenção terapêutica e, por fim, para tomar decisões sobre o método de intervenção mais apropriado e eficaz para cada criança e adolescente. Para Motta & Takatori (2001)Motta, M. P., & Takatori, M. (2001). A assistência em terapia ocupacional sob a perspectiva do desenvolvimento da criança. In M. M. R. P. De Carlo & C. C. Bartalotti (Eds.), Terapia ocupacional no Brasil: fundamentos e perspectivas (pp. 117-135). São Paulo: Plexus., por meio desses instrumentos, o terapeuta ocupacional busca informações sobre os interesses da criança e do adolescente, o que fazem em seu cotidiano, como fazem e por que fazem, a fim de conhecer suas possibilidades, potencialidades, dificuldades e desafios, podendo, assim, favorecer o processo de cuidado junto a essa população. Identificar as melhores ferramentas avaliativas nas práticas da terapia ocupacional na infância pode contribuir para o incremento das ações propostas e favorecer o avanço da área no país (Mancini et al., 2020Mancini, M. C., Pfeifer, L. I., & Brandão, M. D. B. (2020). Processos de avaliação de terapia ocupacional na infância. In L. I. Pheifer & M. M. M. Sant’Anna (Eds.), Terapia ocupacional na infância: procedimentos para a prática clínica (pp. 25-40). São Paulo: Memnon.).
A partir do exposto, o presente estudo teve como objetivo identificar e analisar estudos originais desenvolvidos em território brasileiro que utilizaram instrumentos sistematizados de avaliação (nacionais ou devidamente adaptados transculturalmente) criados por terapeutas ocupacionais para a população infantojuvenil.
Método
Trata-se de uma pesquisa de revisão sistemática da literatura, a qual envolve uma busca rigorosa para identificar, avaliar e sintetizar estudos desenvolvidos e publicados sobre determinado tema (Grant & Booth, 2009Grant, M. J., & Booth, A. (2009). A typology of reviews: an analysis of 14 review types and associated methodologies. Health Information and Libraries Journal, 26(2), 91-108. http://dx.doi.org/10.1111/j.1471-1842.2009.00848.x.
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).
As buscas foram realizadas no período de setembro a outubro de 2019, nas seguintes bases de dados: PubMed, Scopus, SciELO e Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), e nos periódicos online: Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, Revista Interinstitucional Brasileira de Terapia Ocupacional (REVISBRATO) e Revista Baiana de Terapia Ocupacional.
A estratégia de busca adotada consistiu em utilizar os seguintes descritores: (“terapia ocupacional” OR “occupational therapy”) AND (avaliação OR validação OR “adaptação transcultural” OR assessment OR validation OR “cross-cultural adaptation”) AND (infancia OR infanti* OR adolesc* OR criança OR infantojuvenil OR childhood OR infant OR child OR youth*) AND (Brasil OR Brazil).
Ainda, foram critérios de inclusão na presente revisão:
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Estudos de adaptação transcultural e validação1 1 Estudos de adaptação transcultural objetivam tornar o instrumento traduzido o mais fiel possível da sua versão original, e, para isso, devem-se seguir etapas de tradução, retrotradução, análise por juízes e alcance das equivalências semântica, idiomática, experiencial e conceitual para a língua-alvo (Beaton et al., 2000). Após esse processo, costuma-se validar o instrumento. O termo validade pode ser definido como a capacidade em realmente medir o que supostamente deve medir, e deve abarcar as análises psicométricas dos itens do instrumento (Pasquali, 2009). para o Brasil de instrumentos que foram criados exclusivamente por terapeutas ocupacionais ou por terapeutas ocupacionais integrantes da equipe de criação multiprofissional, que avaliam crianças e adolescentes entre 0 a 18 anos;
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Estudos descritivos exploratórios2 2 Pesquisas descritivas exploratórias são aquelas realizadas por pesquisadores interessados na atuação prática (Gil, 2002). Descritivas porque têm como objetivo principal a descrição dos traços de determinada população/fenômeno ou, então, a constatação de relações entre variáveis, sendo bem característica a utilização de técnicas padronizadas de coleta de dados, tais como questionários; e explicativas porque visam proporcionar maior familiaridade com o problema, objetivando torná-lo mais explícito ou constituir hipóteses, geralmente assumindo a forma de estudo de caso (Gil, 2002). que utilizaram instrumentos próprios da terapia ocupacional com crianças e adolescentes de 0 a 18 anos;
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Estudos realizados em contexto brasileiro, apresentados nos idiomas inglês, português ou espanhol, com autoria de pelo menos um/a terapeuta ocupacional brasileiro/a;
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Estudos com instrumentos validados (na língua materna ao menos);
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Sem delimitação de ano de publicação.
Foram excluídos editoriais, ensaios, revisões de literatura e estudos que não foram realizados no Brasil.
A seguir, na Figura 1, apresenta-se o fluxograma que ilustra as etapas seguidas na pesquisa e o resultado da busca realizada.
Diagrama de Fluxo dos estudos identificados, filtrados, excluídos e incluídos (Moher et al., 2009Moher, D., Liberati, A., Tetzlaff, J., & Altman, D. G. (2009). Preferred reporting items for systematic reviews and meta-analyses: the PRISMA Statement. PLoS Medicine, 6(6), 1-6. http://dx.doi.org/10.1371/journal.pmed.1000097.
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Ressalta-se que durante a análise dos resumos foi investigada manualmente e individualmente a autoria original de cada instrumento utilizado nos estudos, garantindo, assim, o critério de seleção em produções que utilizassem instrumentos criados por terapeutas ocupacionais.
Assim, observa-se na Figura 1 que, após o refinamento da seleção, foram incluídos 37 artigos na presente revisão. A partir da leitura na íntegra, um banco de dados foi criado para sistematização das informações coletadas, que incluiu: fonte completa do artigo, instrumento de avaliação utilizado, seu objetivo e uma categorização de cada instrumento em termos do enfoque que dão ao desenvolvimento infantojuvenil.
Além disso, para compor essa sistematização de informações da amostra final, foi realizado um procedimento específico de busca acerca de cada instrumento de avaliação, investigando sobre os autores originais e autores da adaptação transcultural/validação do instrumento para o Brasil e as respectivas datas, bem como suas propriedades psicométricas e a faixa etária abrangida.
Resultados
A seguir, na Tabela 1 apresentam-se os artigos selecionados:
Deste total, 16 artigos versam sobre processos de adaptação transcultural e validação de instrumentos de terapia ocupacional para o Brasil e 21 referem-se a pesquisas descritivas exploratórias que aplicaram instrumentos de terapia ocupacional com crianças e adolescentes, abrangendo tanto pesquisas de caracterização dos sujeitos quanto de medida de eficácia clínica das intervenções em Terapia Ocupacional. Uma melhor descrição destes artigos está ilustrada no fluxograma da Figura 2.
Todos os artigos incluídos nesta revisão foram publicados no período compreendido entre 2002 e 2019, sendo que as publicações foram provenientes de 11 periódicos diferentes (Figura 3):
Observa-se, pela Figura 3, que dos 37 artigos selecionados, 34 foram publicados em periódicos específicos da terapia ocupacional, com destaque para a Revista de Terapia Ocupacional da USP, que inclui em seu escopo a temática de processos avaliativos que contribuem para o aprimoramento teórico-técnico do campo assistencial e/ou de ensino. Ainda, ressalta-se a visibilidade internacional de pesquisas brasileiras publicadas em periódicos internacionais com nível de excelência.
A partir do exposto, foi identificado nos artigos um total de 15 instrumentos de avaliação (Tabela 2), sendo que a maioria desses estudos adotou instrumentos adaptados para o uso no Brasil. Somente um instrumento foi desenvolvido em território brasileiro, a saber – Avaliação da Coordenação e Destreza Motora (ACOORDEM) (Magalhães et al., 2004Magalhães, L. C., Nascimento, V. C. S., & Rezende, M. B. (2004). Avaliação da coordenação e destreza motora - ACOORDEM: etapas de criação e perspectivas de validação. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 15(1), 17-25. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v15i1p17-25.
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). Quanto à faixa etária a que se aplicam, 10 instrumentos são específicos para avaliação de crianças e três para crianças e adolescentes. Os demais instrumentos não explicitam faixa etária de aplicação, porém há uma recomendação para sua utilização. Estes 15 instrumentos passaram por uma análise de categorização, de caráter qualitativo, sendo o critério definido a partir dos domínios relevantes em termos de problemática e objetivos da avaliação. Assim, foram definidas quatro categorias de instrumentos. A primeira categoria abarca instrumentos que avaliam o desempenho funcional, isto é, discorre sobre a eficiência das habilidades da criança no que diz respeito às funções motoras, cognitivas, sociais, processuais, de mobilidade e de autocuidado. A segunda abrange instrumentos que avaliam a participação e desempenho ocupacional, ou seja, buscam mensurar os níveis de participação e engajamento nas diversas ocupações, bem como as áreas (autocuidado, produtividade e lazer) e componentes (espiritual, físico, sociocultural e mental) de desempenho e a importância dos papéis que as crianças e adolescentes desempenham. A terceira discorre sobre o comportamento lúdico, com instrumentos que avaliam o brincar imaginativo e simbólico da criança, a organização do brincar, a comunicação de suas necessidades e sentimentos, e as atitudes lúdicas de uma forma geral. E por fim, a quarta categoria discorre sobre a atividade sensorial, onde apresenta um único instrumento que avalia itens como o processamento sensorial, modulação e comportamento e respostas emocionais ligadas às atividades sensoriais.
Os objetivos de cada instrumento, assim como informações sobre os autores originais e dos autores que fizeram sua adaptação para o uso no Brasil também se encontram descritos na Tabela 2.
Discussão
O presente estudo revelou que existem 15 instrumentos de terapia ocupacional que avaliam crianças e adolescentes disponíveis para uso no Brasil e que se diferenciam pelo enfoque que dão ao desenvolvimento infantojuvenil. Os resultados apontam um aumento no interesse para o desenvolvimento de instrumentos sistematizados por terapeutas ocupacionais.
A amostra investigada permite sinalizar o caráter diversificado do quesito avaliação em terapia ocupacional junto à população infantojuvenil. Essa variedade de abordagens traz como vantagem um maior número de possibilidades para profissionais dos campos de prática e pesquisa, a depender do propósito terapêutico. Porém, apesar desta gama de instrumentos, a literatura ainda aponta para as fragilidades em sua utilização e disseminação, principalmente na prática cínica do terapeuta ocupacional (Magalhães, 1997Magalhães, L. C. (1997). Avaliação de terapia ocupacional: o quê avaliar e como avaliar. In Anais do 5º Congresso Brasileiro e 4º Simpósio Latino americano de Terapia (Boletim do Congresso Brasileiro de Terapia Ocupacional, pp. 29-36). Belo Horizonte: Associação dos Terapeutas Ocupacionais de Minas Gerais.; Tedesco, 2017Tedesco, S. A. (2017). Avaliação e intervenção de terapia ocupacional em contextos hospitalares. In M. M. R. P. De Carlo & A. Kudo (Eds.), Terapia ocupacional em contextos hospitalares e cuidados paliativos (pp. 79-101). São Paulo: Payá.), o que indica que esta revisão pode contribuir para difundir o conhecimento entre esses profissionais.
Vale a pena ressaltar que a tentativa das “categorias” criadas a partir dos enfoques dos instrumentos encontrados, consistiu apenas em apresentá-los de forma mais didática, pois apesar de terem semelhanças dentro de um mesmo segmento, eles não precisam se bastar, podendo ser utilizados concomitantemente (combinações) tanto nas práticas quanto em pesquisas a depender do objetivo traçado.
Nessa direção, cinco estudos selecionados apresentaram combinação entre instrumentos, como por exemplo: ACOORDEM e DCDQ-Brasil (n=3); DCDQ-Brasil, PEGS e COPM (n=1); e Perfil Sensorial e PEDI (n=1). Essa combinação, tanto em pesquisas quanto em intervenções, é vista como positiva por alguns autores. Winkler & Clemen (2004)Winkler, R. L., & Clemen, R. T. (2004). Multiple experts vs. multiple methods: combining correlation assessments. Decision Analysis, 1(3), 167-176. http://dx.doi.org/10.1287/deca.1030.0008.
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afirmam que a correlação entre múltiplos métodos de avaliação trazem resultados mais precisos para a coleta de informações. Tedesco (2000)Tedesco, S. A. (2000). Estudo da validade e confiabilidade de um instrumento de terapia ocupacional: auto-avaliação do funcionamento ocupacional (SAOF) (Dissertação de mestrado). Universidade Federal de São Paulo, São Paulo. destaca como vantajosa não só a utilização de mais de um instrumento com o mesmo sujeito, mas também a utilização de instrumentos de diferentes abordagens teóricas, chamando esse processo de Integrative Approach, isto é, uma abordagem mais integrativa na terapia, sinalizando que essa conduta considera as especificidades e necessidades individuais.
Essas combinações de instrumentos de avaliação evidenciam a necessidade inerente das intervenções em terapia ocupacional centradas na infância e adolescência em se conhecer as demandas e potencialidades dos sujeitos-alvo de forma ampliada, com foco em seu desempenho e participação ocupacional, o que, portanto, requer avaliações diferenciadas e que contemplem mais do que um aspecto do desenvolvimento (Mancini et al., 2020Mancini, M. C., Pfeifer, L. I., & Brandão, M. D. B. (2020). Processos de avaliação de terapia ocupacional na infância. In L. I. Pheifer & M. M. M. Sant’Anna (Eds.), Terapia ocupacional na infância: procedimentos para a prática clínica (pp. 25-40). São Paulo: Memnon.).
A respeito das qualidades psicométricas, verificou-se que quase todos os instrumentos de avaliação encontrados no presente estudo apresentaram boas evidências de adequação psicométrica no contexto brasileiro, ainda que alguns tenham indicado a necessidade de futuras análises para maior aprofundamento visando assegurar sua reprodutibilidade (Cordeiro, 2005Cordeiro, J. J. R. (2005). Validação da lista de identificação de papéis ocupacionais em pacientes portadores de doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) no Brasil (Dissertação de mestrado). Universidade Federal de São Paulo, São Paulo.; Chaves, 2012Chaves, G. F. S. (2012). Estudo da confiabilidade e validade da Medida Canadense de Desempenho Ocupacional (COPM) em idosos com Comprometimento Cognitivo Leve (CCL) (Dissertação de mestrado). Universidade de São Paulo, São Paulo.; Faria & Magalhães, 2006Faria, M. G. A., & Magalhães, L. C. (2006). Adaptação da AMPS-escolar para crianças brasileiras de 4 a 8 anos. Psicologia em Estudo, 11(3), 493-502. http://dx.doi.org/10.1590/S1413-73722006000300005.
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; Paicheco et al., 2010Paicheco, R., Di Matteo, J., Cucolicchio, S., Gomes, C., Simone, M. F., & Assumpção Junior, F. B. (2010). Inventário de Avaliação Pediátrica de Incapacidade (PEDI): aplicabilidade no diagnóstico de transtorno invasivo do desenvolvimento e retardo mental. Med Reabil, 29(1), 9-12. Recuperado em 20 de agosto de 2020, de https://pdfs.semanticscholar.org/c6c7/be098f001e07b103a2830aea9a34928d2c18.pdf
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; Pfeifer et al., 2011aPfeifer, L. I., Queiroz, M. A., Santos, J. L. F., & Stagnitti, K. E. (2011a). Cross-cultural adaptation and reliability of Child-Initiated Pretend Play Assessment (ChIPPA). Canadian Journal of Occupational Therapy, 78(3), 187-195. http://dx.doi.org/10.2182/cjot.2011.78.3.7.
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; Mattos et al., 2015Mattos, J. C., D’Antino, M. E. F., & Cysneiros, R. M. (2015). Tradução para o português do Brasil e adaptação cultural do Sensory Profile. Psicologia: Teoria e Prática, 17(3), 104-120. http://dx.doi.org/10.15348/1980-6906/psicologia.v17n3p104-120.
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; Silva et al., 2017Silva, C. G. S., Van Petten, A. M. V. N., Harsányi, E., & Magalhaes, L. C. (2017). Análise psicométrica dos itens da Avaliação da Coordenação e Destreza Motora (ACOORDEM) em crianças de 4 anos. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 28(1), 9-18. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v28i1p9-18.
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; Ruggio et al., 2018Ruggio, C. I. B., Missiuna, C., Costa, S. A., Araújo, C. R. S., & Magalhães, L. C. (2018). Validity and reliability of the Perceived Efficacy and Goal Setting System (PEGS) for Brazilian children. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, 26(4), 828-836. http://dx.doi.org/10.4322/2526-8910.ctoAO1702.
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; Sarraff et al., 2018Sarraff, T. F. S., Martinez, C. M. S., & Santos, J. L. F. (2018). Especificidade e sensibilidade do DCDQ para crianças de 8 a 10 anos no Brasil. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 29(2), 135-143. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v29i2p135-143.
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; Demarchi et al., 2019Demarchi, G. S. S., Andrade, M. D., Novelli, M. M. P. C., Katz, N., & Uchôa-Figueiredo, L. R. (2019). Análise da consistência interna da versão em português da Avaliação Cognitiva Dinâmica de Terapia Ocupacional para Crianças (DOTCA-Ch) em estudantes de 06 a 12 anos. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, 27(3), 545-554. http://dx.doi.org/10.4322/2526-8910.ctoAO1618.
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; Sposito et al., 2019Sposito, A. M. P., Santos, J. L. F., & Pfeifer, L. I. (2019). Validation of the revised knox preschool play scale for the brazilian population. Occupational Therapy International, 2019(2), 1-5. http://dx.doi.org/10.1155/2019/6397425.
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; Alves et al., 2019Alves, J. F. M., Van Petten, A. M. N., Cermak, S. A., & Magalhães, L. C. (2019). Evaluation of the reliability and validity of the brazilian version of the here’s how i write: a child’s self-assessment and goal setting tool. The American Journal of Occupational Therapy, 73(2), 1-10. http://dx.doi.org/10.5014/ajot.2019.025387.
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; Galvão, 2019Galvão, E. R. V. P. (2019). Adaptação transcultural e validação para o uso no Brasil da Medida da Participação e do Ambiente - Crianças e Jovens (PEM-CY) (Dissertação de mestrado). Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Santa Cruz.). Apenas em relação aos Protocolos do Modelo Lúdico (Sant’Anna et al., 2008Sant’Anna, M. M. M., Blascovi-Assis, S. M., & Magalhães, L. C. (2008). Adaptação transcultural dos protocolos de avaliação do Modelo Lúdico. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 19(1), 34-47. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v19i1p34-47.
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) e o CHEQ (Brandão et al., 2016Brandão, M. B., Freitas, R. E. R. M., Oliveira, R. H. S., Figueiredo, P. R. P., & Mancini, M. C. (2016). Tradução e adequação cultural do Children’s Hand-Use Experience Questionnaire (CHEQ) para crianças e adolescentes brasileiros. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 27(3), 236-245. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v27i3p236-245.
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) não foram encontrados estudos dos processos de validação no Brasil.
Em relação às abordagens teóricas, dentre os instrumentos descritos, foi possível identificar que alguns explicitam sob quais referenciais estão apoiados, como por exemplo, a COPM, que é baseada no Modelo Canadense de Desempenho Ocupacional e Engajamento – CMOP-E (Chaves, 2012Chaves, G. F. S. (2012). Estudo da confiabilidade e validade da Medida Canadense de Desempenho Ocupacional (COPM) em idosos com Comprometimento Cognitivo Leve (CCL) (Dissertação de mestrado). Universidade de São Paulo, São Paulo.); a Lista de Papéis Ocupacionais, que tem sua fundamentação no Modelo da Ocupação Humana – MOH de Gary Kielhofner (Cordeiro, 2005Cordeiro, J. J. R. (2005). Validação da lista de identificação de papéis ocupacionais em pacientes portadores de doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) no Brasil (Dissertação de mestrado). Universidade Federal de São Paulo, São Paulo.); o PEGS, que se baseia na Prática Centrada no Cliente (Ruggio, 2008Ruggio, C. I. B. (2008). Adaptação transcultural do Perceived Efficacy and Goal Setting System – PEGS para crianças brasileiras (Dissertação de mestrado). Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte.); o Perfil Sensorial, que incorpora o Modelo de Processamento Sensorial de Dunn (Mattos et al., 2015Mattos, J. C., D’Antino, M. E. F., & Cysneiros, R. M. (2015). Tradução para o português do Brasil e adaptação cultural do Sensory Profile. Psicologia: Teoria e Prática, 17(3), 104-120. http://dx.doi.org/10.15348/1980-6906/psicologia.v17n3p104-120.
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); e os Protocolos de Avaliação do Modelo Lúdico, que se fundamentam no Modelo Lúdico de Francine Ferland (Sant’Anna et al., 2008Sant’Anna, M. M. M., Blascovi-Assis, S. M., & Magalhães, L. C. (2008). Adaptação transcultural dos protocolos de avaliação do Modelo Lúdico. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 19(1), 34-47. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v19i1p34-47.
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). Os demais instrumentos não mencionam abordagem teórica específica de Terapia Ocupacional nas publicações desta amostra.
Sabe-se que durante a construção da profissão, os diferentes modelos, abordagens e paradigmas foram estruturados a partir dos contextos sociais, políticos, culturais e econômicos de cada época, sendo que os encontrados pelo presente estudo são os mais utilizados e citados pela literatura. Contudo, é possível observar que não existe uma tendência única no uso de abordagens e instrumentos de avaliação e que há uma escassez de estudos que digam qual tem sido a prática do terapeuta ocupacional com a população infantojuvenil (Gomes & Oliver, 2010Gomes, M. L., & Oliver, F. C. (2010). A prática da terapia ocupacional junto à população infantil: revisão bibliográfica do período de 1999 a 2009. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 21(2), 121-129. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v21i2p121-129.
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; Silva et al., 2020Silva, M. R., Silva, P. C., Rabelo, H. D., & Vinhas, B. C. V. (2020). A terapia ocupacional pediátrica brasileira diante da pandemia da COVID-19: reformulando a prática profissional. Revista Interinstitucional Brasileira de Terapia Ocupacional, 4(3), 422-437. http://dx.doi.org/10.47222/2526-3544.rbto34171.
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).
Além disso, a maior parte dos estudos incluídos adotou instrumentos de avaliação adaptados de outros países para o Brasil, algo que é comumente visto como a melhor opção entre os pesquisadores, por conta da economia de tempo em relação à construção de um novo instrumento e também por possibilitar pesquisas transculturais (De Sousa et al., 2013De Sousa, D. A., Moreno, A. L., Gauer, G., Manfro, G. G., & Koller, S. H. (2013). Revisão sistemática de instrumentos para avaliação de ansiedade na população brasileira. Avaliação Psicológica, 12(3), 397-410.).
Por outro lado, a escassez de instrumentos desenvolvidos a partir da realidade brasileira é uma questão a ser discutida. Ainda que os instrumentos de avaliação sejam adaptados transculturalmente, o modelo e a interpretação dos resultados estão, geralmente, assentados em epistemologias pragmáticas e funcionalistas advindas, em sua maioria, da América do Norte e Europa e pouco considerando o contexto sócio-político-cultural dos países latinos e da América do Sul, por exemplo, correndo o risco de reduzir problemáticas sociais a problemas individuais (Galheigo, 2012Galheigo, S. M. (2012). Perspectiva crítica y compleja de terapia ocupacional actividad, cotidiano, diversidad y justicia social y compromiso ético político. TOG (A Corunã), 9, 176-187.; Guajardo Córdoba, 2017Guajardo Córdoba, A. (2017). Lecturas y relatos históricos de la terapia ocupacional en suramérica: una perspectiva de reflexión crítica. Revista Ocupación Humana, 16(2), 110-117. http://dx.doi.org/10.25214/25907816.141.
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; Núñez, 2019Núñez, C. M. V. (2019). Terapias Ocupacionales del Sur: una propuesta para su comprensión. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, 27(3), 671-680. http://dx.doi.org/10.4322/2526-8910.ctoARF1859.
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). No entendimento de Guajardo Córdoba (2017Guajardo Córdoba, A. (2017). Lecturas y relatos históricos de la terapia ocupacional en suramérica: una perspectiva de reflexión crítica. Revista Ocupación Humana, 16(2), 110-117. http://dx.doi.org/10.25214/25907816.141.
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), essa visão pode distanciar as práticas da Terapia Ocupacional da necessidade de transformação da realidade social que tanto gera desigualdades.
Assim, compreendendo que a Terapia Ocupacional não é uma prática fora da realidade humana, Guajardo Córdoba (2017Guajardo Córdoba, A. (2017). Lecturas y relatos históricos de la terapia ocupacional en suramérica: una perspectiva de reflexión crítica. Revista Ocupación Humana, 16(2), 110-117. http://dx.doi.org/10.25214/25907816.141.
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) aponta que as intervenções devem estar além dos indivíduos e das relações microssociais, trazendo o embate para que exista um cuidado frente ao cientificismo e medições objetivas que são alheios à realidade social e cultural dos países do Sul. Na mesma linha, Galheigo (2012)Galheigo, S. M. (2012). Perspectiva crítica y compleja de terapia ocupacional actividad, cotidiano, diversidad y justicia social y compromiso ético político. TOG (A Corunã), 9, 176-187. e Mazak (2021)Mazak, M. S. R. (2021). Adaptação transcultural do instrumento The Short Child Occupational Profile para a Língua Portuguesa do Brasil (Dissertação de mestrado). Universidade Federal de São Carlos, São Carlos. sinalizam que essa perspectiva biomédica e funcionalista vem mudando gradativamente nos países da América do Sul.
Recomenda-se, nesse sentido, o investimento em criações de instrumentos brasileiros de terapia ocupacional, a partir de identificações de uma realidade social e cultural própria da América Latina, ou mesmo, brasileira. Os estudos sobre a ACOORDEM corroboram com tais apontamentos (Magalhães et al., 2004Magalhães, L. C., Nascimento, V. C. S., & Rezende, M. B. (2004). Avaliação da coordenação e destreza motora - ACOORDEM: etapas de criação e perspectivas de validação. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 15(1), 17-25. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v15i1p17-25.
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; Lacerda et al., 2007Lacerda, T. T. B., Magalhães, L. C., & Rezende, M. B. (2007). Validade de conteúdo de questionários de coordenação motora para pais e professores. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 18(2), 63-77. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v18i2p63-77.
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; Cardoso & Magalhães, 2009Cardoso, A. A., & Magalhães, L. C. (2009). Bilateral coordination and motor sequencing in Brazilian children: preliminary construct validity and reliability analysis. Occupational Therapy International, 16(2), 107-121. http://dx.doi.org/10.1002/oti.273.
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, 2012Cardoso, A. A., & Magalhães, L. C. (2012). Análise da validade de critério da Avaliação da Coordenação e Destreza Motora - ACOORDEM para crianças de 7 e 8 anos de idade. Brazilian Journal of Physical Therapy, 16(1), 16-22. http://dx.doi.org/10.1590/S1413-35552012000100004.
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; Cardoso et al., 2014Cardoso, A. A., Magalhães, L. C., & Rezende, M. B. (2014). Motor skills in brazilian children with developmental coordination disorder versus children with motor typical development. Occupational Therapy International, 21(4), 176-185. http://dx.doi.org/10.1002/oti.1376.
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; Silva et al., 2017Silva, C. G. S., Van Petten, A. M. V. N., Harsányi, E., & Magalhaes, L. C. (2017). Análise psicométrica dos itens da Avaliação da Coordenação e Destreza Motora (ACOORDEM) em crianças de 4 anos. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 28(1), 9-18. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v28i1p9-18.
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).
Outro aspecto observado no presente estudo, diz respeito à faixa etária predominante que os instrumentos são destinados, ou seja, entre 6 a 18 anos, sendo que a média de intervalos entre as idades investigadas pelos instrumentos é 8,1 anos. Isto pode estar relacionado com o fato de que é na idade escolar onde normalmente as limitações e dificuldades são mais percebidas, pois é comum existir comparações acerca do desenvolvimento infantojuvenil com os pares. A literatura aponta que a maioria dos casos de alterações no desenvolvimento é percebida tardiamente, isto é, em idade escolar, o que indica que ainda faltam estratégias para identificação precoce das mais diversas questões do desenvolvimento, principalmente junto às equipes de atenção primária à saúde e de Educação (Della Barba et al., 2011Della Barba, P. C. S., Alves, L. P., & Antiqueira, J. (2011). Caracterização da demanda para a terapia ocupacional do programa de saúde da criança e do adolescente da unidade saúde escola (USE - Universidade Federal de São Carlos). Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, 19(1), 101-110.). Nesse sentido, entende-se que quanto mais precocemente uma avaliação em terapia ocupacional é realizada, maiores são as chances de bons resultados, compreendendo os instrumentos como facilitadores da identificação de necessidades em terapia ocupacional.
Mas o que guia o terapeuta ocupacional na escolha de um instrumento de avaliação no campo da infância e adolescência? Estudos apontam que o terapeuta ocupacional escolhe um instrumento por várias razões, como, por exemplo, o custo, as dificuldades de administração, a faixa etária, as potencialidades e dificuldades do sujeito-alvo, a formação das habilidades próprias do terapeuta, suas bases teóricas, bem como a partir das qualidades psicométricas do instrumento (Tedesco, 2000Tedesco, S. A. (2000). Estudo da validade e confiabilidade de um instrumento de terapia ocupacional: auto-avaliação do funcionamento ocupacional (SAOF) (Dissertação de mestrado). Universidade Federal de São Paulo, São Paulo., 2017Tedesco, S. A. (2017). Avaliação e intervenção de terapia ocupacional em contextos hospitalares. In M. M. R. P. De Carlo & A. Kudo (Eds.), Terapia ocupacional em contextos hospitalares e cuidados paliativos (pp. 79-101). São Paulo: Payá.). Mais especialmente no que se refere às fases da infância e adolescência, o terapeuta também precisa se atentar às particularidades dessa população, onde as mudanças ocorrem de forma mais acelerada quando comparadas a outras fases da vida, repercutindo em todas as áreas do desenvolvimento, o que leva a compreender que um instrumento de avaliação precisa ser sensível a essas mudanças e que a necessidade de reavaliação é constante.
Vale apontar que o processo de avaliar crianças e adolescentes não é algo simples, pois além de levar em consideração fatores particulares do desenvolvimento, que é dinâmico, é necessário verificar se o raciocínio por detrás da utilização de um instrumento está associado com as demais avaliações que ocorrem no processo terapêutico, advindas de ferramentas como entrevistas e observações, inclusive com as percepções subjetivas e a dinâmica presente na relação e no fazer (Tedesco, 2017Tedesco, S. A. (2017). Avaliação e intervenção de terapia ocupacional em contextos hospitalares. In M. M. R. P. De Carlo & A. Kudo (Eds.), Terapia ocupacional em contextos hospitalares e cuidados paliativos (pp. 79-101). São Paulo: Payá.). Evidentemente não é possível (nem desejável) capturar toda sutileza e dinamismo do fazer humano em processos de avaliação, entretanto, deve-se optar pelo que é bom o bastante ou o suficiente para substanciar o raciocínio clínico do terapeuta ocupacional, questionando como determinado instrumento irá contribuir para o entendimento global da função ocupacional do sujeito (Magalhães, 1997Magalhães, L. C. (1997). Avaliação de terapia ocupacional: o quê avaliar e como avaliar. In Anais do 5º Congresso Brasileiro e 4º Simpósio Latino americano de Terapia (Boletim do Congresso Brasileiro de Terapia Ocupacional, pp. 29-36). Belo Horizonte: Associação dos Terapeutas Ocupacionais de Minas Gerais.).
Assim sendo, diante dos instrumentos de avaliação e de suas principais características aqui apresentadas, é possível refletir sobre a utilização de cada um deles para os diferentes aspectos que permeiam a infância e adolescência. Através das avaliações com base em instrumentos sistematizados e validados, confere-se maior possibilidade de delimitação de objetivos, o que leva a melhores direcionamentos para as intervenções, e consequentemente, para melhores resultados com a população atendida, seja no campo clínico ou científico. Ainda, ressalta-se a necessidade de criticidade por parte do terapeuta ocupacional ao escolher a melhor forma de realizar a avaliação do sujeito, considerando sua realidade sócio-político-cultural brasileira. Deste modo, amplia-se o olhar e a forma de cuidado para com crianças e adolescentes, onde a prática terapêutica ocupacional pode contribuir para um desenvolvimento mais integral dessa população.
Considerações Finais
Considera-se que este artigo cumpriu o objetivo que se propôs em investigar sobre os instrumentos criados por terapeutas ocupacionais voltados para a avaliação de crianças e adolescentes que estão em uso no Brasil. Pôde-se apreender o panorama da diversidade de instrumentos que podem ser utilizados com essa população, a fim de potencializar o processo terapêutico ocupacional e o processo de cuidado como um todo.
Como limitação do estudo, cabe ressaltar que não foram pesquisadas teses e dissertações e demais produtos bibliográficos nacionais, que porventura poderiam ampliar a lista de instrumentos de avaliação aqui reportada, tendo em vista que possam existir outros tipos de avaliação com as mesmas características daquelas trazidas neste estudo.
Nesse caminho, há recomendações para que futuras pesquisas possam trilhar nessa constante atualização dos instrumentos existentes para avaliação da criança e do adolescente, pois novas discussões sempre estão em pauta, novos paradigmas são construídos e novas formas de olhar para essa população são assimiladas. Tendo em vista que a contribuição do profissional terapeuta ocupacional tem muito a compor neste campo, podendo oferecer um olhar mais holístico e ampliado para essa população, estudos que se debrucem em investigar ferramentas avaliativas confiáveis devem compor a produção científica nacional.
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Estudos de adaptação transcultural objetivam tornar o instrumento traduzido o mais fiel possível da sua versão original, e, para isso, devem-se seguir etapas de tradução, retrotradução, análise por juízes e alcance das equivalências semântica, idiomática, experiencial e conceitual para a língua-alvo (Beaton et al., 2000Beaton, D. E., Bombardier, C., Guillemin, F., & Ferraz, M. B. (2000). Guidelines for the process of cross-cultural adaptation of self-report measures. Spine, 25(24), 3186-3191. http://dx.doi.org/10.1097/00007632-200012150-00014.
http://dx.doi.org/10.1097/00007632-20001... ). Após esse processo, costuma-se validar o instrumento. O termo validade pode ser definido como a capacidade em realmente medir o que supostamente deve medir, e deve abarcar as análises psicométricas dos itens do instrumento (Pasquali, 2009Pasquali, L. (2009). Psicometria. Revista da Escola de Enfermagem da USP, 43(spe), 992-999. http://dx.doi.org/10.1590/S0080-62342009000500002.
http://dx.doi.org/10.1590/S0080-62342009... ). -
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Pesquisas descritivas exploratórias são aquelas realizadas por pesquisadores interessados na atuação prática (Gil, 2002Gil, A. C. (2002). Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas.). Descritivas porque têm como objetivo principal a descrição dos traços de determinada população/fenômeno ou, então, a constatação de relações entre variáveis, sendo bem característica a utilização de técnicas padronizadas de coleta de dados, tais como questionários; e explicativas porque visam proporcionar maior familiaridade com o problema, objetivando torná-lo mais explícito ou constituir hipóteses, geralmente assumindo a forma de estudo de caso (Gil, 2002Gil, A. C. (2002). Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas.).
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Fonte de Financiamento
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES - Código 001.
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Editora de seção
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
22 Out 2021 -
Data do Fascículo
2021
Histórico
-
Recebido
20 Ago 2020 -
Aceito
30 Abr 2021