Resumo
Introdução O cenário da pandemia da Covid-19 impactou significativamente a vida das pessoas, de forma que as crianças foram um dos grupos sociais mais afetados.
Objetivo Compreender como as crianças vivenciaram o cotidiano na pandemia da Covid-19, a partir de sua própria perspectiva.
Método Estudo exploratório, de abordagem qualitativa, realizado com 19 crianças de 9 a 11 anos, vinculadas a uma escola pública. Para a coleta de dados, foi utilizada a elucidação gráfica como disparador da temática e uma entrevista semiestruturada. Os dados produzidos foram analisados com base na análise temática.
Resultados Quatro temas emergiram: a compreensão das crianças sobre a Covid-19 e os sentimentos gerados; a morte e o luto em decorrência da pandemia; as relações familiares; e a vulnerabilidade social vivenciada pelas famílias. Os resultados evidenciaram a clareza das crianças sobre a origem do vírus e sua propagação, os riscos advindos da contaminação e a importância da vacina. Em algumas famílias foi possível compartilhar mais momentos juntos e, em outras, houve o distanciamento, conflitos e relatos de violência. O desemprego e a fome também se fizeram presentes.
Conclusão Os resultados permitiram identificar como as crianças vivenciaram a pandemia em um cenário de maior vulnerabilidade social, a partir das vozes e perspectivas das próprias crianças. Compreende-se que o investimento em estudos dessa natureza possibilita o melhor enfrentamento de situações futuras adversas, favorecendo o seu desenvolvimento e saúde mental, com base na proposição de políticas públicas e estratégias de cuidado a essa população.
Palavras-chave: Crianças; Atividades Cotidianas; Saúde Mental; Terapia Ocupacional; Covid-19
Abstract
Introduction The Covid-19 pandemic has significantly impacted people's lives, with children being one of the most affected social groups.
Objective To understand how children experienced daily life during the Covid-19 pandemic from their own perspective.
Method Exploratory study, using a qualitative approach, conducted with 19 children aged 9 to 11 years old, linked to a public school. Graphic elucidation was used as a trigger for the theme's collection of data, followed by a semi-structured interview. Both the narratives derived from graphic elucidations and the data produced in interviews were analyzed using content analysis.
Results Some themes emerged, four of which will be presented - children's understanding of Covid-19 and the feelings generated; death and mourning as a result of the pandemic; family relationships; the social vulnerability experienced by families. The results showed how clear the children were about the origin of the virus and its spread, the risks arising from contamination such as the death of family members, and the importance of the vaccine. In some families it was possible to share more moments together and, in others, there was distancing, conflicts and reports of violence. In addition, the situation of social vulnerability stands out, in the face of unemployment and hunger.
Conclusion The results made it possible to identify how children experienced the pandemic in a scenario of greater social vulnerability, based on the voices and perspectives of the children themselves. It is understood that investing in studies of this nature enables better coping with future adverse situations, favoring their development and mental health, based on the proposition of public policies and care strategies for this population.
Keywords: Children; Activities of Daily Living; Mental Health; Occupational Therapy; Covid-19
Introdução
Em 11 de março, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou que a Covid-19 se tratava de uma emergência de saúde pública, sendo considerada uma pandemia (Organización Mundial de la Salud, 2020; Organização Pan-Americana de Saúde, 2022). Nesse cenário, foi necessária a reorganização do espaço, tempo e do cotidiano das famílias e crianças, uma vez que os impactos negativos se deram a partir de diferentes níveis: nas relações internacionais, no desenvolvimento do país, no Estado, na comunidade, no sistema familiar e individual (Berbert et al., 2021).
As repercussões da pandemia da Covid-19 não foram apenas de ordem biomédica e epidemiológica. Em escala global, houve implicações sociais, econômicas, políticas, culturais e históricas sem precedentes (Fundação Oswaldo Cruz, 2021; Brasil, 2022; Associação Médica Brasileira, 2021; Matta et al., 2021; Santos, 2021).
Assim, diante de uma das maiores crises sanitárias mundiais, dos receios sobre a pandemia, da sobrecarga de tarefas domésticas, da intensa convivência familiar, do desemprego, da diminuição da renda e das incertezas geradas, é fundamental se debruçar sobre as infâncias, uma vez que as crianças foram um dos grupos sociais mais impactados pelos efeitos adversos da pandemia, assim como os adolescentes, idosos e pessoas com deficiências (Lima, 2020; Fundação Oswaldo Cruz, 2020a; Organización Mundial de la Salud, 2020; Campbell et al., 2021).
Mesmo as crianças não sendo o foco de maior preocupação no contexto da pandemia por terem sido consideradas em situação de “menor risco” de contágio e morte devido às consequências clínicas em comparação a adultos e idosos, autores sinalizam a necessidade de maior atenção aos impactos da pandemia sobre o desenvolvimento e saúde mental destas, principalmente diante de situações de maior desigualdade social e vulnerabilidade (Moreno et al., 2020; Polanczyk, 2020; Santos et al., 2022a; Gashaw et al., 2021; Fundação Oswaldo Cruz, 2021). Em muitos casos, as crianças são vítimas invisíveis das consequências indiretas da pandemia, ou até mesmo negligenciadas em termos de continuidade do acesso à saúde e à proteção contra a violência (Pastore, 2021; Cabral et al., 2021; Santos et al., 2022b).
Estudos que se debruçaram sobre essa temática reforçam a necessidade de mais investigações a respeito das consequências desse momento histórico (Cid et al., 2020; Narzisi, 2020; Rodrigues & Lins, 2020; Ghosh et al., 2020; Guinancio et al., 2020; Fernandes, 2020; Singh et al., 2020).
Folino et al. (2021) desenvolveu um estudo que teve como objetivo compreender a percepção de crianças cariocas sobre a Covid-19. Para tanto, foram realizadas 20 entrevistas em plataformas digitais com crianças entre 8 e 10 anos de idade de distintos bairros de residência e perfis socioeconômicos. Os resultados evidenciaram que as crianças não estavam alheias à pandemia, sendo identificados sentimentos como preocupação e medo, compreensão sobre a gravidade da situação. Além disso, identificou-se que o cotidiano delas foi afetado de várias formas, a partir da interrupção da vida escolar presencial, a restrição de contato com colegas de aula, mudanças econômicas e de saúde enfrentadas por familiares. Os autores sugerem que novas investigações se debrucem sobre a percepção das crianças acerca da pandemia, uma vez que colaboram para a elaboração de estratégias de promoção de saúde mais adequadas para este público e condizentes com seus sentimentos, preocupações e percepções do risco.
Nessa direção, Silva et al. (2021) também desenvolveram um estudo com 2.021 crianças de 8 a 12 anos, buscando compreender as formas pelas quais as crianças vivenciaram a pandemia de Covid-19. A pesquisa foi realizada com a mediação de seus responsáveis, a partir de um questionário on-line. Os resultados revelaram que as crianças apresentaram capacidade de resistência, consciência de suas condições de vida, dos seus direitos e de suas famílias e responsabilidades. Estas indicaram os impactos negativos da pandemia sobre a saúde física e mental.
Diante de uma crise sanitária como a pandemia da Covid-19, de tamanha magnitude e consequências, é fundamental compreender esse cotidiano novo e emergente. Com base nesse panorama, é possível não só dimensionar e demarcar um contexto histórico e social de muito sofrimento, perdas e lutas, mas, principalmente, reconhecer as possibilidades de criação e vida, dia após dia.
Autores apontam que, ao buscar compreender como a pandemia afetou o bem-estar subjetivo das crianças, poder ouvi-las possibilita um lugar de fala a uma população invisibilizada, contribuindo para reflexões, práticas e proposições mais consistentes e condizentes com as experiências desses sujeitos (Delgado & Müller, 2005; Hartmann, 2020; Linhares & Enumo, 2020).
Assim, espera-se que, ao abordar a experiência e vivência da cotidianidade, sob a perspectiva da própria criança, seja possível contribuir para o maior conhecimento de uma realidade nova e emergente, que está sendo reinventada dia após dia, favorecendo novas reflexões e discussões acerca das políticas públicas e estratégias de intervenção voltadas a essa população. Desta forma, o estudo objetiva compreender como as crianças vivenciaram o cotidiano na pandemia da Covid-19, com base em sua própria perspectiva.
Objetivos
O objetivo do presente estudo foi compreender como as crianças vivenciaram2 o cotidiano na pandemia da Covid-19, com base em sua própria perspectiva.
Método
A presente pesquisa3 se trata de um estudo exploratório, de abordagem qualitativa. Considera-se que a pesquisa exploratória proporciona maior familiaridade com o problema (Gil, 1946) e a abordagem qualitativa busca compreender o fenômeno de estudo em seu ambiente usual, ou seja, como as pessoas vivem, o que pensam, como se comportam (Sampieri et al., 2006).
Para tanto, participaram 19 crianças na faixa etária de 9 a 11 anos, estudantes de uma escola pública municipal. Para a seleção destes, adotou-se como critérios de inclusão crianças de 9 a 11 anos, que o responsável autorizasse sua participação com a assinatura do Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE). Como critério de exclusão, tem-se aquelas crianças que mesmo os responsáveis autorizando não apresentaram interesse ou desejo em participar do estudo, com a apresentação do Termo de Assentimento Livre e Esclarecido (TALE).
Aponta-se que o recorte etário foi proposto uma vez que seriam crianças que estavam em processo de finalização do Ensino Fundamental I. Além disso, compreende-se que as crianças nessa faixa etária podem ter uma melhor compreensão do que foi e envolveu a pandemia, assim como suas dimensões temporais.
Para a identificação e localização dos participantes, foi solicitada autorização da Secretaria de Educação do município, sendo posteriormente realizada uma visita à escola selecionada para apresentação da proposta de pesquisa à gestão. Com o aceite da gestão, foram apresentados os critérios de inclusão e os possíveis participantes foram convidados. O convite para a pesquisa foi realizado em quatro salas, de forma que as crianças levaram o TCLE e uma carta de apresentação aos pais. As crianças que retornaram com o termo assinado, autorizando a participação na pesquisa, foram convidadas a participar e assinar o TALE.
Assim, o estudo foi realizado em uma escola pública municipal de uma região de grande vulnerabilidade social, de um município de médio porte, localizado no interior do estado de São Paulo. De acordo com dados obtidos no site da prefeitura, a região possui aproximadamente 16 mil habitantes, com altos índices de violência e baixo acesso à moradia, alimentação, educação e saúde. Quanto à escola, esta possuía no momento da coleta de dados aproximadamente 600 alunos, divididos do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental. A escolha do município e seleção da escola foi intencional e por conveniência, baseada em conhecimento prévio da pesquisadora sobre as particularidades do local e a facilidade para acessar a escola (Flick, 2009).
Para a produção dos dados, foram utilizados alguns recursos:
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Vídeo elucidativo em formato de animação gráfica com a narrativa temporal e evolução da pandemia da Covid-19, visando contextualizar e retomar as crianças sobre a pandemia. O vídeo foi elaborado a partir de um software de imagens, por uma profissional que trabalha com metodologias criativas, sendo o roteiro e a narração realizados pela pesquisadora.
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Produção de uma elucidação gráfica sobre a pandemia, como um desenho, escrita, colagem, por exemplo, ou o que preferissem, para suscitar narrativas a partir de meios não unicamente verbais, considerando as diferentes formas de expressão e comunicação das crianças. Por ser uma técnica interativa, aberta e pouco estruturada, a elucidação gráfica conferiu a liberdade de expressão às crianças participantes do estudo (Cortés, 2017). Finalizada a elucidação gráfica, as crianças narraram sobre a produção realizada.
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Roteiro de entrevista semiestruturada, o qual continha questões relativas à caracterização da criança e sua família (idade, série, composição familiar e trabalho dos pais), assim como sobre o cotidiano das crianças no contexto da pandemia (vivências domiciliares, relações sociais, o brincar, atividades escolares, dificuldades, potências, desafios, perspectivas futuras e formas de enfrentamento da pandemia).
Destaca-se que o roteiro de entrevista foi elaborado pelas pesquisadoras e, posteriormente, foi realizada sua validação por meio de avaliação externa de três juízes especialistas na área, conforme sugerido por Manzini (2003), além da aplicação piloto com três crianças. Em relação à coleta de dados, esta foi realizada pela própria pesquisadora, na escola, após a autorização da gestão escolar e do Comitê de Ética, semanalmente, durante os meses de novembro e dezembro de 2021. A escola disponibilizou o espaço da biblioteca, sendo necessário apenas um encontro com cada criança, de forma individual, tendo este variado de 20 a 50 minutos.
Para dar início à coleta de dados, o vídeo elucidativo foi apresentado por meio de um tablet disponibilizado pela pesquisadora. Este foi posicionado à frente das crianças, dando autonomia para que elas explorassem os recursos do aparelho. Após a apresentação do vídeo, foi solicitado para as crianças, por meio da pergunta disparadora “Como foi o seu dia a dia durante a pandemia?”, que realizassem uma elucidação gráfica, como um desenho, escrita, uma colagem, por exemplo, ou o que preferissem, utilizando recursos diversos disponibilizados pela pesquisadora. Finalizada a elucidação gráfica, as crianças narraram sobre a produção realizada.
Sobre as entrevistas, estas ocorreram após a produção da elucidação gráfica. Tanto as entrevistas como as narrativas sobre a elucidação gráfica foram gravadas apenas em áudio, sendo que o gravador ficou ao alcance e campo de visão das crianças, após sua ciência e aprovação quanto ao seu uso. Posteriormente, os dados foram armazenados em um dispositivo eletrônico local e transcritos pela pesquisadora.
Para as elucidações gráficas, não se buscou uma análise interpretativa, mas, sim, compreendê-las com base nas próprias verbalizações das crianças. Assim, tanto as narrativas sobre as elucidações gráficas como os dados produzidos nas entrevistas foram analisados pela pesquisadora com base na análise temática de Bardin (2011). A análise temática foi realizada em três etapas, sendo elas a pré-análise, a exploração do material e o tratamento dos dados e interpretação (Bardin, 2011).
Aponta-se que, com o intuito de evidenciar o protagonismo das crianças, as categorias temáticas identificadas e que serão apresentadas nos resultados partiram inicialmente da análise temática das narrativas das crianças sobre as elucidações gráficas (Figuras 1, 2, 3, 4) que produziram. Desta forma, à luz do que foi produzido e analisado nas elucidações gráficas, os resultados foram complementados com os dados obtidos e analisados nas entrevistas.
Elucidação gráfica produzida pelo participante 7, após a pergunta disparadora e, a seguir, a narrativa sobre a produção realizada.
Elucidação gráfica produzida pelo participante 1, após a pergunta disparadora e, a seguir, a narrativa sobre a produção realizada.
Elucidação gráfica produzida pelo participante 5, após a pergunta disparadora e, a seguir, a narrativa construída sobre a produção realizada.
Elucidação gráfica produzida pelo participante 18, após a pergunta disparadora e, a seguir, a narrativa sobre a produção realizada.
Resultados e Discussão
Nesta seção, serão apresentados e discutidos os resultados provenientes do presente estudo, iniciando pela caracterização dos participantes e, posteriormente, os temas que emergiram do processo de análise dos dados das narrativas sobre as elucidações gráficas e entrevistas. Observa-se que não será possível apresentar todas as elucidações gráficas produzidas pelas crianças, sendo selecionada apenas uma referente a cada categoria temática.
Caracterização dos participantes
Conforme apresentado anteriormente, participaram deste estudo 19 crianças, estudantes do Ensino Fundamental de uma escola pública municipal de uma cidade de médio porte do interior do estado de São Paulo.
Na Tabela 1, apresentam-se os dados relativos à caracterização dos participantes no que se refere à idade, ao gênero, à série que cursava no momento da produção dos dados e à composição familiar. O codinome “participante nº” foi utilizado com o intuito de preservar a identidade dos participantes.
Observa-se que, dos 19 participantes, 10 se identificaram pelo gênero feminino, enquanto 9 pelo gênero masculino. Todos os alunos estavam matriculados na mesma escola pública municipal, sendo que 7 cursavam o 4º ano do Ensino Fundamental e 12 cursavam o 5º ano do Ensino Fundamental.
Com relação à constituição familiar, esta teve a presença de pai, mãe e irmãos, mas também padrastos, avós, tios, primos e sobrinhos. Nota-se que, das 19 famílias, 12 não se caracterizam como famílias tradicionais, composta por mãe, pai e filhos. Destacam-se, na Figura 1, aquelas cuja constituição é majoritariamente de mulheres (mãe, avó, tia), sem a figura masculina do pai ou padrasto, o que a literatura aponta como uma tendência contemporânea, principalmente no que tange às periferias e regiões de maior vulnerabilidade social (Cúnico & Arpini, 2014).
Cúnico & Arpini (2014) discute o quanto que, em qualquer configuração familiar, há inúmeros desafios que se apresentam a mulheres que são chefes de suas famílias. A dupla jornada de trabalho, a dificuldade em conseguirem empregos melhor remunerados e a falta de apoio do ex-companheiro para partilhar responsabilidades podem fazer com que as mães se sintam sobrecarregadas devido ao acúmulo de funções, gerando sentimentos de fragilidade e insatisfação.
Na pesquisa desenvolvida por Muniz & Carrilho (2021), durante o período de isolamento social, os autores buscaram analisar os riscos sobre a renda e os desafios no cotidiano de mulheres chefes de família. Com base em entrevistas com dois grupos (3 mulheres em postos de trabalho formais e de estabilidade e 3 mulheres trabalhadoras informais), os resultados encontrados evidenciaram que as mulheres, sobretudo negras e periféricas, são as mais vulneráveis às consequências das crises econômicas e sociais, e neste caso, sanitária.
Compreende-se que essa realidade se agravou perante a pandemia, uma vez que muitas mulheres perderam os empregos ou passaram a ter instabilidade nestes, ao mesmo tempo em que tiveram de lidar com o aumento de responsabilidades domésticas durante esse período. Ou seja, a Covid-19 escancarou a vulnerabilidade estrutural feminina e a fenda existente entre a pobreza de homens e mulheres (Muniz & Carrilho, 2021; Nassif-Pires et al., 2021).
A seguir, serão apresentadas as temáticas emergidas com base nas elucidações gráficas e das entrevistas.
Tema 1. A compreensão das crianças sobre a Covid-19 e os sentimentos gerados
Narrativa sobre a elucidação gráfica:
Isso daqui era antes, isso daqui era a parte que mais tem na terra. Depois de um tempo, tudo foi ficando mais difícil. Primeiro, antes da Covid, começou os incêndios pelo mundo todo, mas aí chegaram os bombeiros e tacaram água. Não dá pra sobreviver direito, aí chegou a Covid, o fogo, misturou tudo. E deu início. E os dois se juntaram para acabar com o planeta. Aí a vacina... foi inventada, aí a Covid ficou fraca, tá adormecida, isso vai ser o negócio da vacina, tá bom. Aí sobrou isso de Covid. Aí o planeta voltou a ficar um pouco mais ou menos assim, mas existem alguns continentes... isso simboliza... que ainda tão dominando, a Covid tá dominando o continente e alguns estados, por causa que eles não quer (P7).
Uma das categorias temáticas que emergiu foi a compreensão das crianças sobre a Covid-19, o cenário pandêmico e como isso foi se dando em seu cotidiano. Os relatos evidenciaram aspectos referentes à origem do vírus e à sua propagação, medidas de segurança e proteção, riscos, expectativas futuras, entre outros.
Além disso, as crianças assimilaram o momento pandêmico de forma abrupta no cotidiano, principalmente a partir do relato e explicação de familiares, os quais puderam informar a eles sobre as primeiras medidas emergenciais de segurança e proteção adotadas pelo governo, como a suspensão das atividades escolares, isolamento social, uso de máscaras, higienização das mãos, por exemplo, e, também, sobre a forma de manifestação do vírus no organismo.
Quando minha mãe falou sobre a Covid, ela queria que a gente lavasse nossa mão, com sabão, passasse álcool gel e, quando saísse na rua, passar álcool em gel, depois lavar as mãos e, depois, na hora de comer, lavar a mão também (P3).
Eu só sei que ele pega na pessoa, a pessoa fica doente, e tem vezes que a pessoa morre, mas tem pessoa que não morre (P6).
Teve um dia normal, eu acordei pra ir pra escola. Minha mãe falou “Se você não quiser ir pra escola, não precisa, porque agora a doença, o coronavírus tá aqui, se você não quiser ir pra escola, não vai. Covid-19 é uma doença, bem pequenininha, e que se entrar na gente, a gente fica com falta de ar, a gente fica tossindo, espirrando, fica com dor de cabeça” (P14).
Além das perdas e do risco de morte iminente, identifica-se nos resultados o medo de se contaminar e contaminar seus familiares e pessoas queridas.
Eu tinha bastante medo de eu sair e pegar e levar pra algumas pessoas que eu gostava… (P1).
[…] De pegar essa doença e ficar doente. Daí não vou poder ir pra escola (P9).
Eu ficava de máscara, quando saía, em todo lugar... Muito difícil, eu pensei que eles (família) ia morrer, porque eles são um pouco velho (P18).
A vacinação também emergiu nos relatos das crianças, diante da expectativa de resolução do problema, além do próprio desejo de ser vacinado, junto com seus familiares e toda a sociedade.
[…] tem gente tomando vacina, e eu, quando chegar a 12 anos, vou ter que tomar, por causa que se não, eu não vou conseguir frequentar a escola (P4).
[…] é uma doença muito grave, que tá se expandindo pelo mundo, só que não está mais por causa da vacina… a vacina foi inventada, aí a Covid ficou fraca, tá adormecida… (P7).
Sobre as expectativas futuras com relação à pandemia, o anseio pelo seu fim é unânime entre as crianças entrevistadas, permeando também o desejo pela suspensão de algumas medidas de segurança e proteção, principalmente o uso de máscaras, além do retorno das atividades cotidianas, como o brincar, entre outras.
Que acabe a Covid, que tudo seja mais legal… (P7).
É que quando eu fui um dia lá na casa da minha irmã, aí eu senti que acabou a pandemia, que eu fiquei livre, sem me encolher na vida (P8).
Que passa esse Covid, pra daí brincar mais legal (P19).
Observa-se que muito do que as crianças compreendem e explanam sobre a Covid-19 perpassa as observações e transformações vivenciadas em seu cotidiano, considerando as vivências e situações que ocorreram, relações estabelecidas nesse tempo e espaço, e que tornaram esse período um campo de representações e interpretações sobre os pensamentos, ações e linguagens experienciadas no dia a dia, tal como a pesquisa de Idoiaga et al. (2020).
Realizado por meio de uma revisão sistemática, Idoiaga et al. (2020) objetivou compreender os efeitos das medidas de lockdown instituídas como resposta à pandemia de Covid-19, na saúde mental de crianças e adolescentes. Os resultados apontaram que as crianças mais velhas (de 6 a 12 anos) demonstraram maior preocupação com a situação, pois sabiam que a Covid-19 era altamente contagiosa, expressando medo, preocupação, tristeza, nervosismo e susto quando foram questionadas sobre o coronavírus. No entanto, elas demonstravam compreender bem a situação e a maioria delas também estava mais preocupada em infectar seus avós do que em serem elas próprias infectadas. Além disso, algumas delas expressaram que se sentiriam culpadas se alguém próximo fosse infectado.
Diante do cenário e situações vivenciadas, identificou-se nos relatos que o medo, conforme já sinalizado, assim como a solidão, a raiva, a insegurança e a ansiedade se fizeram presentes no cotidiano das crianças.
De modo geral, ao questionar as crianças sobre como elas se sentiram durante a pandemia, elas relataram que:
[…] eu desenvolvi uma ansiedade, só que a ansiedade foi bem baixa (P1).
Eu continuo sentindo muito medo por causa dela, parece que a pandemia não deixou as pessoas mais fracas, deixou elas com mais raiva, com mais vontade de bater, não é verdade. Eu me senti bem bravo, tipo, eu queria, qualquer pessoa que passasse na minha frente, eu dava algum soco, eu queria dar um soco, só que eu guardava (P7).
[…] me senti quase muito sozinho (P12).
[…] quando começou a pandemia, eu me senti um pouquinho, tipo, um pouquinho triste. Eu fiquei triste, fique bravo, porque esse maldito coronavírus tava matando, por causa que […] não é só nós, nós não têm que pensar em nós, nós têm que pensar nas pessoa, principalmente nas pessoas que nós ama. Daí eu fiquei um pouquinho bravo, por causa que as pessoas tavam morrendo, aí eu fiquei bravo, aí o maldita coronavírus, por que você tem que existir? Fiquei bravo (P13).
Previa-se que a pandemia traria impactos significativos para a saúde mental das crianças, uma vez que as rupturas, situações de incerteza e de perdas causadas pela Covid-19 poderiam mobilizar inúmeros sentimentos, sendo esperado que essas reações fossem ainda mais agravadas pelo fato de as mudanças terem sido abruptas e duradouras, abrangendo diferentes âmbitos do cotidiano. Além disso, sabe-se que o acesso e acolhimento nos equipamentos de saúde, educação e assistência que poderiam contribuir para sua saúde mental também foram limitados e muito tempo se passou até a implementação de medidas alternativas de cuidado e proteção a essa população.
Embora os estudos acerca deste tema ainda estejam em pleno desenvolvimento, principalmente considerando os impactos pós-pandemia na saúde mental das crianças, a literatura existente alerta que as crianças têm apresentado maiores dificuldades socioemocionais e comportamentais diante de tantas mudanças ocorridas. Alguns estudos sugerem inclusive que haverá uma pandemia ainda maior, em se tratando do sofrimento psíquico apresentado pela população (Mukherjee et al., 2020).
Dentre os prejuízos mais vivenciados pelas crianças durante esse período, têm-se aqueles que são provenientes da solidão, diante do isolamento social, uma vez que as medidas adotadas impediram as crianças de frequentarem as escolas e espaços sociais e recreativos, seja na comunidade ou outros contextos familiares, assim como de se relacionarem com seus pares. Autores ressaltam que a solidão a longo prazo e os sentimentos decorrentes do isolamento aumentam significativamente o risco dessas crianças desenvolverem problemas de saúde mental, como ansiedade, depressão e estresse (Cluver et al., 2020; Twenge & Campbell, 2018; Orgilés et al., 2021).
A falta de interação com os pares também foi fator de estudo para Golberstein et al. (2020). O estudo foi realizado por meio de uma enquete pela internet com 1290 pais ou responsáveis de crianças e adolescentes entre 5 e 18 anos nos Estados Unidos e os resultados mostraram que a falta de interações sociais e o isolamento foram fatores significativos associados a sintomas de ansiedade e depressão em crianças e adolescentes. Assim como o estudo de Golberstein et al. (2020), a revisão sistemática realizada por Loades et al. (2020) reforça que a falta de interação social e o isolamento podem aumentar o risco para problemas de saúde mental em crianças e adolescentes, especialmente para aqueles com transtornos pré-existentes.
Com base nos resultados encontrados no presente estudo, identifica-se que diversos fatores podem ter impactado a saúde mental das crianças. Dentre eles, destacam-se a interrupção abrupta das atividades diárias e escolares, o desconhecimento sobre a magnitude do vírus, risco de morte, inclusive de pessoas do núcleo familiar, o isolamento social, novas dinâmicas familiares, desigualdades e maior vulnerabilidade social, conforme se verá a seguir. Hipotetiza-se que tais fatores geraram mudanças significativas na rotina das crianças e que sem uma previsibilidade de retomada, com tantas incertezas futuras e poucos mecanismos de sustentação e manutenção de um cotidiano severamente interrompido, certamente trará prejuízos não só à saúde mental das crianças, mas também a toda população.
Ressalta-se que compreender melhor esses fatores é fundamental para dimensionar os impactos da pandemia para as crianças e sua saúde mental, assim como desenvolver intervenções adequadas para mitigar os efeitos negativos.
A morte e o luto em decorrência da pandemia da Covid-19
Narrativa sobre a elucidação gráfica: Como eu perdi todas as minhas vós e o meu vô, a metade do meu tempo eu ficava indo no cemitério para visitar eles ou levar algumas coisas (P1).
Com base nas elucidações gráficas, evidencia-se que a morte e o luto estiveram presentes. Das 19 crianças participantes, nove citaram vivências de morte e luto.
Eu ter perdido as minhas avós, minhas três vós, e o meu vô, fiquei muito triste depois de ter perdido uma das minhas avós (P1).
Quando meu vô morreu, eu chorei, mais ou menos, e fiquei normal, depois comecei a chorar bastante (P3).
[…] eu perdi um tio na pandemia, e isso me assustou um pouco (P10).
[…] minha madrinha, né, morreu, meu pai morreu, e só, achei triste (P12).
Diante do alto número de mortes no país, é esperado que as crianças tenham vivenciado situações de perda de familiares ou de pessoas próximas, sendo que algumas perderam mais de um membro da família. Além disso, observa-se que ainda que o número de casos novos e morte seja significativamente menor no momento da coleta de dados em comparação a outros momentos da pandemia, ainda era uma realidade presente. Ou seja, a pandemia da Covid-19 deu ênfase à morte e fez com que ela se tornasse uma ameaça constante, na qual todos estão sujeitos à contaminação, ao adoecimento e às consequências mais severas da doença. Segundo Penariol (2021), a morte na contemporaneidade ainda constitui um verdadeiro tabu e a pandemia da Covid-19 trouxe visibilidade a esta fragilidade, ao medo e ao temor diante de sua proximidade (Zambeli et al., 2016).
Mesmo com a relevância da temática, observa-se que somente dois estudos encontrados na literatura envolveram a morte e o luto na pandemia e a relação com as crianças (Silva, 2021; Silva et al., 2020). Estes sinalizam que as crianças passaram pelo mesmo processo de luto que seus familiares, necessitando de esclarecimento e acolhimento dos seus sentimentos.
Todavia, em se tratando das crianças participantes do presente estudo, identificou-se que o enfrentamento dessa situação, acesso e acolhimento em equipamentos da rede assistencial não foi uma possibilidade, uma vez que nem o que deveria ser urgente, como a vacinação em massa das crianças, foi adotado como conduta prioritária pelas instâncias governamentais e políticas públicas. Ou seja, as crianças tiveram de lidar com inúmeras perdas, que resultaram em uma variedade de sentimentos e reações, tal como apresentado nos resultados, além de alterações nas relações e dinâmicas familiares, sem o cuidado necessário.
Em uma sociedade onde falar sobre o processo de morrer é considerado um tabu, conviver com a morte em grande escala, como aconteceu durante o período de maior propagação do vírus, tem inúmeras implicações, uma vez que deixa de ser um acontecimento que se espera no final da vida, tornando-se um evento cotidiano e “natural” dessa vivência pandêmica, e não mais uma exceção, tal quando acontece precocemente. Ter que falar sobre ela e lidar com a realidade é extremamente difícil, principalmente para as crianças (Casellato, 2015), ainda mais diante de um contexto alarmante de tamanha crise sanitária mundial.
Segundo Bromberg (1998), a interpretação da morte por parte da criança é influenciada por diversos fatores, como idade, relação estabelecida com o falecido, estágio de desenvolvimento psicológico e a maneira como os adultos com quem convive lidam com a perda. O luto na infância é frequentemente subestimado e desconsiderado socialmente, em virtude da percepção equivocada de que crianças são incapazes de lidar com esse processo. Diante disso, sugere-se que essa concepção equivocada das experiências infantis e de suas formas de expressão seja revista.
Sengik & Ramos (2013) afirmam que falar sobre o assunto é fundamental e não irá aumentar a dor, ao contrário, tende a amenizá-la. Além disso, auxilia a criança na elaboração de seu luto, permitindo que ela tenha espaço de escuta, sendo imprescindível que o adulto fale sempre a verdade. Os autores sugerem que a criança sentirá a perda e, por isso, deve ser possibilitado a ela um espaço para que a dor possa existir, mesmo que a criança não conheça exatamente o processo da morte. A linguagem, nesse caso, tem um papel fundamental, pois à medida que se oportuniza falar sobre a perda de um ente querido, a criança passa a compreender melhor sobre sua falta e, consequentemente, sobre os sentimentos que envolvem o luto.
Nesse sentido, durante a pandemia, alguns materiais foram elaborados, visando à comunicação de notícias difíceis para as crianças, como a morte de um familiar, contribuindo para uma maior compreensão do público infantil sobre os desafios encontrados nesse contexto. Aponta-se que esses materiais, em sua maioria, foram elaborados como forma de apoio informacional às equipes de saúde e famílias (Fernandes, 2020).
Segundo as autoras, notícia difícil é “qualquer informação transmitida que leve, direta ou indiretamente, a alguma alteração negativa na vida de quem a recebe, seja um sentimento ruim, seja uma mudança drástica não desejada”. Assim, com base em orientações sobre como comunicar essas notícias – morte, necessidade de hospitalização, medidas de isolamento – as autoras auxiliam os adultos a não só transmitir a informação às crianças, mas também sobre como acolhê-las nesse momento (Fernandes et al., 2021).
Perante o contexto, considera-se fundamental que os diferentes atores envolvidos com o público infantil compreendam as particularidades dessa vivência para as crianças, assim como sua necessidade de escuta e acolhimento. Recomenda-se que mais estudos possam continuar investigando essa temática na pandemia, uma vez que, além de escassos, apontam que testemunhar a morte tão precocemente, de maneira tão abrupta e frequente, tem gerado impactos significativos na vida e saúde mental dessas crianças, sendo imprescindível a criação de medidas e políticas que atendam a essa demanda emergente.
As relações familiares durante a pandemia da Covid-19
Narrativa sobre a elucidação gráfica: Bom, na pandemia, eu morava junto com a minha mãe, eu, minha mãe e meus irmãos, daí minha mãe começou a namorar com meu padrasto, e ele começou a morar com nós, daí na casa que nós morava há muito tempo, o meu irmão não se dava bem com meu padrasto, daí nós saímos dessa casa pra ir morar lá na casa de baixo... (P5).
Observa-se, com base nos relatos das crianças, que as dinâmicas e relações familiares se modificaram significativamente durante a pandemia, de forma que conflitos e o distanciamento entre os membros estiveram presentes.
Eles nem ligava muito pra mim, tirando minha mãe ou minha irmã, eles só ligavam pra mim quando era pra pedir alguma coisa. Meus irmãos ficaram mais legal, eles começaram a trabalhar, eles não me batem tanto (P7).
[…] minha mãe ficava, assim, tipo, ela não dava bola pra mim, ela ia descansar um pouco, né, e meus irmãos ficavam lá no quarto, todos eles, e eu ficava andando pela casa, não tinha nada pra fazer, então ficava no quarto… (P18).
Para além dos conflitos e dificuldades de relacionamento, identifica-se também situações de violências, as quais as crianças vivenciaram direta ou indiretamente no cotidiano familiar durante a pandemia.
[…] tava meio difícil, né, por causa que eu tava falando com minha mãe pra me deixar sair um pouco na rua. Ela não deixava, daí eu falei “Vai, mãe, por favor, só um pouquinho só”. Daí ela falou, daí ela me xingou, daí eu fiquei de castigo, daí ficou meio... quase todos os dias assim (P13).
[…] minha tia falou que meu padrasto fez coisa errada com minha irmã de 5 anos, meu padrasto falava que era mentira, minha mãe falava que era mentira (P17).
Em contrapartida, apesar das situações enfrentadas, a restrição imposta e o confinamento favoreceram, em algumas situações, o aumento do tempo de convivência entre as crianças e suas famílias, sendo possível verificar em seus discursos aspectos positivos gerados por tal situação.
[…] foi uma convivência boa, porque ninguém podia sair, ninguém podia fazer nada, então a gente acabou ficando mais próximos até (P1).
[…] nós ficava mais juntos, aí nós assistia um filme, minha mãe pedia pizza, era legal (P14).
[…] quando eu sempre brincava com a minha irmã, meu irmão, minha mãe. Eu não ficava muito com a minha mãe. Daí, agora, eu só fico dentro de casa jogando, e fico sempre mais perto da minha mãe (P17).
A reinvenção do cotidiano, tal como citado por Guizzo et al. (2020), resultou na permanência de famílias inteiras no mesmo espaço físico, sendo o ambiente familiar o único lugar no qual era possível estar, tendo em vista as medidas de isolamento adotadas. Assim, algumas crianças afirmaram que durante o período da pandemia o isolamento proporcionou a proximidade com os pais e responsáveis e, embora em um contexto de tantas perdas e eventos estressores, os familiares puderam ser fonte de suporte, como citado por Linhares & Enumo (2020), onde o confinamento familiar seria a única prescrição disponível para enfrentamento da adversidade causada pela Covid-19.
Em contrapartida, segundo alguns autores, o aumento do tempo de permanência e de contato dentro do lar, que nem sempre oferece as melhores condições de bem-estar, pode favorecer tensões e conflitos, os quais, aliados a eventos estressores característicos do período da pandemia, podem aumentar a chance de violência e os desfechos negativos à saúde física e mental das crianças. A preocupação com o trabalho, a possibilidade de perdê-lo ou ainda a sua ausência associada à necessidade de subsistência da família podem resultar em ansiedade, irritabilidade e menor paciência para lidar com as dificuldades cotidianas e necessidades das crianças (Fundação Oswaldo Cruz, 2020b; Marques et al., 2020; Matta et al., 2021).
A Organização das Nações Unidas (2018) aponta que a suspensão das atividades escolares aumentou o risco de exposição das crianças à negligência e maus tratos, bem como ao abuso e diferentes formas de violência. Ao encontro do exposto, estudos têm alertado que a violência sofrida por crianças aumentou significativamente durante a pandemia, bem como quando se trata de adolescentes e mulheres (Marques et al., 2020; Magalhães et al., 2023).
A vulnerabilidade social vivenciada pelas famílias durante a pandemia da Covid-19
Narrativa sobre a elucidação gráfica: É, eu com minha família em casa, não saímos pra nada, e ficamos, mais ou menos, uns cinco meses em casa. Daí, fomos devagarzinho, assim, comprando as coisas e tal, fazendo as coisas. Daí meu padrasto ia trabalhando, né, minha mãe desempregada, daí agora ela tá trabalhando, e daí a gente foi voltando aos poucos (P18)
Identifica-se que um aspecto presente no relato das crianças se refere à situação de maior vulnerabilidade social enfrentada pela família no período pandêmico, diante das fragilidades socioeconômicas advindas principalmente da perda do emprego de familiares.
[…] eu acho que enfrentaram muitas coisas, por a minha mãe não trabalhar mais, a gente nunca passou fome nem nada, mas a gente começou a perder bastante dinheiro, por ela perder o trabalho… (P1).
[…] porque o trabalho não voltou, e eles ficam desempregados, né, daí passa mais dificuldade (P2)
[…] muitas dificuldades, meu irmão tava procurando emprego, minha mãe foi despedida de um emprego aí, por causa da Covid (P7).
[…] quando não tem nada pra comer lá em casa, minha mãe vai correr, corre atrás de dinheiro pra comprar pão pra nós. Eu ficava triste quando minha mãe não conseguia trabalho (P8).
[…] minha mãe parou de trabalhar […] minha mãe só conseguia viver do auxílio (P16).
[…] ela teve que sair do trabalho, teve que procurar outro, até procurar outro, demorou, daí agora ela achou, daí ela falou que passou bastante dificuldade (P17).
Em abril de 2020, em uma Declaração, a diretora executiva do UNICEF, Henrietta Fore, sinaliza que as crianças não são face da pandemia da Covid-19, mesmo que elas estejam correndo o risco de estar entre suas maiores vítimas, já que suas vidas se alterariam de maneiras profundas, em particular pelos impactos socioeconômicos e medidas de mitigação que poderiam inadvertidamente fazer mais mal do que bem (Fundo das Nações Unidas para a Infância, 2020).
Os dois anos mais intensos de pandemia e os estudos realizados neste período escancaram o que a literatura aponta acerca da vulnerabilidade de alguns grupos sociais. Segundo Santos (2021, p. 16), “qualquer quarentena é sempre discriminatória” e, apesar da tentativa de estabelecimento de um “novo normal”, as ações impostas para a diminuição da propagação do vírus foram marcadas por perdas na saúde, na convivência, na economia, no lazer, entre tantos outros.
Considera-se que o posicionamento negativista do Brasil diante da pandemia e das medidas apresentadas pela ONU e OMS fez com que o Brasil, em Julho de 2020, fosse considerado um dos mais letais em relação à Covid-19 na América do Sul, demarcando ainda mais a pobreza, a insuficiência e ausência de políticas públicas direcionadas às crianças, em que as famílias pobres ficaram ainda mais vulneráveis (Katz, 2022; CNN Brasil, 2022).
Desta forma, o cotidiano das crianças foi severamente impactado pela insuficiência de políticas públicas de saúde e assistência (Katz, 2022) como lentidão no processo de vacinação, por exemplo (CNN Brasil, 2022), e dificuldades no acesso ao auxílio emergencial (Caixa Econômica Federal, 2022).
Criadas como estratégia de enfrentamento da situação, as medidas de estímulo econômico e transferências emergenciais de renda (auxílio emergencial) foram cruciais para as populações economicamente mais vulneráveis durante a pandemia da Covid-19. Contudo, ressaltam-se algumas problemáticas na operacionalização dessa política, que resultaram na dificuldade de acesso a esse direito em um cenário de muitas urgências, prejudicando significativamente as famílias brasileiras, tornando-se obstáculos para a garantia da cidadania e do acesso ao direito à assistência em um momento de crise sanitária, econômica e social (Muniz & Carrilho, 2021; Nassif-Pires et al., 2021). Ou seja, as crianças foram atingidas não só pelo vírus, mas também pela fome, pela precariedade econômica da família e pela falta de acesso à escola e aos recursos tecnológicos (Fundação Oswaldo Cruz, 2020c).
Em síntese, com base nos resultados e discussões apresentadas, foi possível identificar o que as crianças compreendem e pensam sobre a Covid-19, assim como os sentimentos gerados nesse período. De modo geral, as crianças trouxeram a experiência vivida, considerando as modificações ocorridas no dia a dia, nas ações cotidianas. Sobre a temática da morte e o luto, foram compartilhadas as vivências perante as perdas sofridas, principalmente de avós, tios e pais. Além disso, as crianças relataram que em algumas famílias a relação e proximidade entre os membros foi mais positiva no período pandêmico, pois puderam compartilhar momentos prazerosos e, em outras, houve o distanciamento entre os membros, muitos conflitos familiares e situações de violência. Por fim, na última temática, aponta-se para a vulnerabilidade social vivenciada pelas famílias, perante as fragilidades socioeconômicas advindas principalmente da perda do emprego de familiares.
Conclusão
Este estudo teve como objetivo identificar e compreender como as crianças vivenciaram o cotidiano na pandemia da Covid-19, com base em sua perspectiva.
Os resultados foram apresentados em quatro temáticas e respondem aos objetivos propostos na medida em que tratam sobre a vivência cotidiana das crianças no período, evidenciando o quanto elas foram e têm sido afetadas pela pandemia. A título de exemplo, as crianças compartilharam com clareza o que compreendiam sobre a Covid-19, o que sentiram durante o período, a presença da morte e o luto com a perda de familiares, as transformações nas dinâmicas familiares e os desafios presentes diante da vulnerabilidade social vivenciada pelas famílias.
Além disso, ressalta-se o quanto elas foram generosas em compartilhar com a pesquisadora seus próprios cotidianos, ainda que com tantas marcas deixadas por uma das maiores crises sanitárias mundiais. Os achados reforçam a urgência de, cada vez mais, sermos capazes de escutá-las, possibilitando um lugar de fala em diferentes cenários e contextos de inserção.
Nessa direção, espera-se que os resultados possam contribuir para ampliar o conhecimento de uma das maiores crises sanitárias já vivenciadas, favorecendo novas reflexões e discussões acerca das políticas públicas e estratégias de intervenção voltadas a essa população.
Como limite do estudo, considerando o início da pandemia no Brasil em 2020 e o momento da produção dos dados no segundo semestre de 2021, foi um longo período a ser dimensionado e processado pelas crianças, por isso, identificaram-se algumas dificuldades temporais das crianças ao contar sobre seus cotidianos.
Tendo em vista os impactos da pandemia e suas implicações no cotidiano das crianças, é fundamental o desenvolvimento de outros estudos com crianças e não sobre elas, em contextos e realidades socioeconômicas diversos, que possam continuar a investigar essa realidade, visando favorecer o cotidiano, o desenvolvimento e a saúde mental desse grupo social que foi significativamente impactado.
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1
O material apresentado se trata de um recorte da pesquisa de mestrado da primeira autora. O projeto foi aprovado no Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos da UFSCar sob protocolo n. 5.121.003.
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2
Ressalta-se que a coleta de dados foi realizada durante a pandemia da Covid-19, no momento em que a pandemia ainda estava em evidência, com alto número de contágio e mortes. No dia 01/12/21, durante o período da coleta desta pesquisa, 1086 novos casos foram notificados, com a média dos sete dias de 897 casos. O retorno gradual às atividades escolares presenciais havia sido liberado há aproximadamente 30 dias e os alunos ainda estavam em processo de adaptação à nova realidade perante o contexto. Assim, este é o recorte contextual-temporal deste estudo.
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3
Observa-se que o projeto de pesquisa foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos da UFSCar (CEP), seguindo a resolução 510/2016 e as normativas para realização de pesquisas no contexto da pandemia (o uso de máscara, distanciamento entre a pesquisadora e a criança, higienização dos materiais e mobília após o uso por cada criança). A aprovação da submissão se deu sob parecer n. 5.121.003.
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Como citar: Camargo, A. P., & Fernandes, A. D. S. A. (2023). A vivência cotidiana das crianças durante a pandemia da Covid-19. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, 31, e3581. https://doi.org/10.1590/2526-8910.ctoAO275135811
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Editado por
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Editora de seção
Profa. Dra. Ana Paula Serrata Malfitano
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
08 Dez 2023 -
Data do Fascículo
2023
Histórico
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Recebido
23 Maio 2023 -
Revisado
06 Jul 2023 -
Revisado
22 Ago 2023 -
Aceito
04 Set 2023