Desde os primórdios da humanidade, quando a vida era ameaçada na sua integridade física, os agravos não compreendidos no cotidiano já eram atribuídos aos deuses e ao misticismo.
O avanço dos conhecimentos naturais das ciências e tecnologias, mergulhando num mundo não visível a olhos nus, mas compreensível e lógico de microrganismos, micropartículas e sistemas fisiopatológicos nos levaram ao desenvolvimento de um modelo biomecânico, tecnicista e fragmentado. Atribui-se aos fármacos, aos meios diagnósticos e terapêuticos advindos das intervenções cientificas a solução plena para a abordagem do processo saúde-doença. Esta postura levou a uma cisão com a condição humana. O homem estava fadado e limitado no tempo e no espaço. Sabendo de sua transitoriedade, criava incertezas e consequentemente precisava procurar o imponderável, não mensurável e misterioso: a alma humana.
Esta busca pela transcendência, pelo sentido da vida, pela esperança, pelo conforto, pelo intangível e pela conexão com as demais pessoas, caminhando pelo mundo subjetivo, está além da religiosidade. Ela paira num universo que inclui a espiritualidade, especialmente frente à finitude, a dor e ao sofrimento. Curiosamente, quando a vida está ameaçada, estes sentimentos, colocados à margem pelas ciências, afloram como uma força poderosa.
Então, como um profissional da saúde estenderá seus cuidados no atendimento ao enfermo e seus familiares em seu sofrimento? Numa visão mais integrada e totalitária do humano? Num conceito multidisciplinar de saúde agregando aspectos físicos, psíquicos, sociais e espirituais? As escolas médicas devem procurar, através de suas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) que preconizam o perfil médico humano e reflexivo, proporcionar aos seus estudantes e professores momentos de intensas reflexões. Este aprendizado deve basear-se em empatia e compaixão, num universo amplo de valores familiares, crenças e contextos culturais, humanizando desta forma o atendimento. A visão do cuidar do outro deve ir além das medidas terapêuticas e a espiritualidade deve ser uma ferramenta do cuidado, pois a esperança encontra-se nesta dimensão.
Como abordar o tema espiritualidade com nossos alunos? Sabendo-se que os agravos à saúde rompem com os aspectos biológicos, psíquicos, sociais e espirituais e nossas intervenções devem atender o paciente em todas essas esferas?
Há várias formas das instituições operacionalizarem a abordagem da espiritualidade na formação do profissional de saúde, abrangendo desde uma disciplina formal, regulamentada na matriz pedagógica, a palestras, discussões em pequenos grupos, leituras, filmes sobre o tema, acompanhamento com capelães, entrevistas, cursos de extensão, atividades complementares, estágios, tutorias e abordagem na transversalidade dos currículos etc.
Diz Dimitrios G. Oreopoulos: “ não é necessário dar conselhos, nem lições ao paciente que sofre. Ele compreende quando você tem compaixão e sente-se ajudado. Ao sentir compaixão pelo outro, esquecemos de nós mesmos e de nossos próprios problemas'”.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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1DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS DO CURSO DE GRADUAÇÃO EM MEDICINA. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/Med.pdf>.
» http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/Med.pdf
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
Apr-Jun 2018