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Psicologia islâmica: uma perspectiva inclusiva de epistemologias religiosas no campo da psicologia da religião

Islamic psychology: an inclusive perspective of religious epistemologies in psychology of religion

Psicología islámica: una perspectiva inclusiva de epistemologías religiosas en el campo de la Psicología de la Religión

Psychologie islamique: une perspective inclusive des épistémologies religieuses dans la psychologie de la religion

Resumo

O predomínio de teorias formuladas sob inspiração do estilo de vida ocidental no campo da psicologia acabou criando lacunas ao deixar de incluir especificidades de alguns grupos étnicos, religiosos e culturais. Esse cenário impulsionou vários movimentos recentes, que defendem uma psicologia culturalmente sensível que possa incluir as nuances e particularidades desses grupos. Inclui-se nesse contexto o Islã, uma religião que não se restringe somente às crenças, práticas e rituais religiosos, mas que engloba normas e preceitos que influenciam o estilo de vida do indivíduo. Este estudo tem como objetivo delinear uma reflexão teórica a respeito da psicologia islâmica, demarcando possibilidades e limites da integração de epistemologias religiosas como recurso potencial no campo da psicologia da religião. São abordados aspectos conceituais, origens históricas e fundamentos teóricos e metodológicos dessa nova abordagem, que vem ganhando cada vez mais espaço em instituições ao redor do mundo e no campo de pesquisa.

Palavras-chave:
psicologia islâmica; Islã; espiritualidade; religiosidade; psicologia da religião

Abstract

The psychological theories formulated under inspiration from the Western lifestyle created gaps by failing to include ethnic, religious, and cultural specificities. From this scenario emerged several recent movements which advocate a culturally sensitive psychology that encompass ethnic nuances and particularities. This context includes Islam, a religion that encompasses beliefs, practices, and rituals, as well as norms and precepts that influence the individual’s lifestyle. This study outlines a theoretical reflection on Islamic psychology, demarcating the possibilities and limits of integrating religious epistemologies in Psychology of Religion. Conceptual, historical, theoretical, and methodological aspects of this new approach, which has been gaining space in institutions worldwide and in the research field, are addressed in this study.

Keywords:
Islamic psychology; Islam; spirituality; religiosity; psychology of religion

Resumen

El predominio de teorías formuladas bajo la inspiración del estilo de vida occidental en el campo de la Psicología generó vacíos al no incluir especificidades de algunos grupos étnicos, religiosos y culturales. En este escenario surgieron movimientos recientes que abogan por una psicología culturalmente sensible, que incluya las particularidades y matices de estos grupos. Este contexto incluye el Islam, una religión que no solo se limita a creencias, prácticas y rituales religiosos, sino que también abarca normas y preceptos que influyen en el estilo de vida del individuo. El objetivo de este estudio es esbozar una reflexión teórica sobre la psicología islámica, demarcando posibilidades y límites de la integración de epistemologías religiosas como recurso potencial en el campo de la Psicología de la Religión. Se abordan aspectos conceptuales, orígenes históricos y fundamentos teóricos y metodológicos de este enfoque, que ha ganado espacio en instituciones de todo el mundo y en el campo de la investigación.

Palabras clave:
psicología islámica; Islam; espiritualidad; religiosidad; psicología de la religión

Résumé

Les théories élaborées sous l’inspiration de l’Occident dans la Psychologie a créé des lacunes en omettant d’inclure les spécificités des groupes ethniques, religieux et culturels. Ce scenario donne naissance à plusieurs mouvements récents qui prônent une psychologie douée d’une sensibilité culturelle. Ce contexte inclut l’Islam qui, en plus des croyances et des pratiques, impose des normes et des préceptes qui influencent le mode de vie de l’individu. Cette étude esquisse une réflexion théorique sur la psychologie islamique, soulignant les possibilités et les limites d’intégrer des épistémologies religieuses comme ressource potentielle dans la psychologie de la religion. Les aspects conceptuels, origines historiques et fondements théoriques et méthodologiques de cette nouvelle approche, qui prend de plus en plus de place dans les institutions du monde entier et dans la recherche, sont abordés.

Mots-clés:
psychologie islamique; Islam; spiritualité; religiosité; psychologie de la religion

Introdução

A expansão da agenda de pesquisas sobre religiosidade e espiritualidade (R/E) tem contribuído para a construção de novas tendências e proposições teórico-epistemológicas no contexto nacional e internacional (Koenig, 2012Koenig, H. G. (2012). Religion, spirituality, and health: the research and clinical implications. ISRN Psychiatry, 16, 278730. doi: 10.5402/2012/278730
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). A inclusão de tais perspectivas teóricas e práticas no contexto contemporâneo torna cada vez mais necessária a permeabilidade do campo acadêmico para saberes que por muito tempo foram considerados desvinculados da ciência psicológica. A psicologia, como ciência e profissão, tem sido insistentemente convocada a se posicionar sobre essas questões (Conselho Federal de Psicologia [CFP], 2013Conselho Federal de Psicologia. (2013). Posicionamento do sistema de conselhos de Psicologia para a questão da Psicologia, religião e espiritualidade: GT Nacional Laicidade e Psicologia. Brasília, DF: Autor.). Estudos situados no campo da psicologia da religião, da psicologia clínica e da psicologia positiva, por exemplo, têm demonstrado crescente interesse pela compreensão do ser humano por meio de uma perspectiva mais integrada e sistêmica, que envolva os aspectos individuais, sociais, culturais e religiosos (Lomas, Waters, Williams, Oades, & Kern, 2020Lomas, T., Waters, L., Williams, P., Oades, L. G., & Kern, M. L. (2020). Third wave positive psychology: broadening towards complexity. The Journal of Positive Psychology, 16(5), 660-674. doi: 10.1080/17439760.2020.1805501
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; Marques, 2010Marques, L. F. (2010). O conceito de espiritualidade e sua interface com a religiosidade e a Psicologia Positiva. Revista Psicodebate Psicología, Cultura y Sociedad, 10, 135-151. Recuperado de https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=5645349
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; Pargament, 2007Pargament, K. I. (2007). Spiritually integrated psychotherapy: understanding and addressing the sacred. New York: Guilford Press.; Seligman, 2009Seligman, M. E. P. (2009). Felicidade autêntica: usando a nova Psicologia Positiva para a realização permanente (N. Capelo, trad.). Rio de Janeiro, RJ: Objetiva.).

Em função disso, propostas mais recentes vêm se empenhando em incluir no repertório científico conhecimentos e perspectivas teóricas não-ocidentais no campo da psicologia, tanto no aspecto preventivo como no terapêutico. São movimentos que têm a influência de teorias decoloniais no campo da saúde e da educação e que buscam protagonismo, no intuito de ampliar o campo de visão do profissional psicólogo para além das perspectivas tradicionais que explicam o funcionamento psíquico (Decolonial Psychology Editorial Collective, 2021Decolonial Psychology Editorial Collective. (2021). General psychology otherwise: a decolonial articulation. Review of General Psychology, 25(4), 339-353. doi: 10.1177/10892680211048177
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; Nogueira & Guzzo, 2016Nogueira, S. G., & Guzzo, R. S. L. (2016). Psicologia africana: diálogos com o sul global. Revista Brasileira de Estudos Africanos, 1(2), 197-218. doi: 10.22456/2448-3923.66828
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; Pickren & Teo, 2020Pickren, W. E., & Teo, T. (2020). A new scholarly imaginary for general psychology. Review of General Psychology , 24(1), 3-5. doi: 10.1177/1089268020901799
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).

A despeito de tais avanços, vários desafios, barreiras e limitações de natureza teórico-epistemológica ainda se fazem presentes na demarcação do campo de pesquisas vinculadas à temática da psicologia da religião. Uma das dificuldades no estabelecimento do enquadre teórico é o maior enfoque nas subjetividades relacionadas às práticas espirituais do indivíduo, com menor ênfase nos conteúdos religiosos e na influência “positiva” e “negativa” que eles podem exercer nos diferentes contextos. Nessa vertente, Belzen (2009Belzen, J. A. (2009). Psicologia cultural da religião: perspectivas, desafios e possibilidades. Revista de Estudos da Religião, 9, 1-29. Recuperado de https://www.pucsp.br/rever/rv4_2009/t_belzen.pdf
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) questiona o motivo pelo qual a psicologia da religião tem se restringido mais ao estudo das experiências e vivências dos sujeitos do que à exploração do conhecimento das proposições da religião propriamente ditas, o que torna primordial uma compreensão mais sólida, abrangente e integrada, capaz de estabelecer conexões a partir de um esforço dialógico e colaborativo, já que tais elementos influenciam as representações psíquicas e o comportamento do indivíduo.

O presente estudo tem como objetivo delinear uma reflexão teórica a respeito da psicologia islâmica, demarcando possibilidades e limites da integração de epistemologias religiosas como recurso potencial no campo da psicologia e da psicologia da religião. Para tanto, são abordados aspectos conceituais, origens históricas e fundamentos dessa nova abordagem, que vem ganhando cada vez mais espaço em instituições ao redor do mundo e no campo de pesquisa.

Por que precisamos falar sobre uma epistemologia religiosa em psicologia?

A ampla disseminação de pesquisas, no âmbito nacional e internacional, sobre o tema da R/E criou a necessidade de elaborar novos contornos epistemológicos e construções teóricas com o propósito de expandir o arcabouço científico e resgatar conhecimentos que durante muito tempo foram preteridos como objeto de estudo do campo da psicologia. Esse contexto, segundo Da Silva (2020Da Silva, L. F. C. B. (2020). Da psicologia “moderna” desalmada à psicologia integrativa: a experiência religiosa em debate. In F. Asensi (Org.), Conhecimento e multidisciplinaridade (Vol. 1, pp. 315-334). Rio de Janeiro, RJ: Pembroke Collins.), provocou um “esquartejamento” epistemológico na ciência psicológica, expurgando diversos outros saberes em nome do paradigma científico racionalista hegemônico instaurado pela modernidade. O autor afirma que o rompimento da psicologia com a metafísica levou a um reducionismo do estudo da alma, com a investigação de componentes isolados da esfera mental, psíquica e comportamental. A tentativa de padronização e controle, incentivada pelo paradigma científico positivista, favoreceu o fortalecimento desse cenário dentro da psicologia, contribuindo para a disseminação e validação de teorias totalizantes e universalizantes que tentaram explicar a psiquê humana sem considerar os diversos contextos étnicos, religiosos e socioculturais que afetam o desenvolvimento do indivíduo e modelam sua visão de mundo. Em razão disso, Da Silva alerta para a necessidade de promover um resgate ontológico e epistemológico que contribua para a construção de perspectivas mais integrativas nesse campo.

Compartilhando uma visão análoga, Pickren e Teo (2020Pickren, W. E., & Teo, T. (2020). A new scholarly imaginary for general psychology. Review of General Psychology , 24(1), 3-5. doi: 10.1177/1089268020901799
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, p. 4) argumentam que “muitas das metodologias críticas e nativas emergentes podem desafiar e enriquecer metodologias fundamentadas na racionalidade do Iluminismo ocidental”. Nessa perspectiva, a interdisciplinaridade e a transdisciplinaridade, bem como a inclusão de múltiplas bases ontológicas, epistemológicas, metodológicas e éticas, são recursos necessários para alcançar aquilo que os autores denominam de uma “recalibração” da psicologia.

Ainda que as psicoterapias de base espiritual e religiosa sejam um campo em desenvolvimento e em busca de consolidação de seus fundamentos científicos, as práticas associadas ao contexto clínico têm gerado interesse crescente na literatura contemporânea (Koenig, 2015Koenig, H. G. (2015). Espiritualidade no cuidado com o paciente: Por que, como, quando e o quê (G. Campos, trad., 2a ed.). São Paulo, SP: Editora FE.; Lucchetti, Granero, Bassi, Latarroca, & Nacif, 2010Lucchetti, G., Granero, A. L., Bassi, R. M., Latorraca, R., & Nacif, S. A. P. (2010). Espiritualidade na prática clínica: o que o clínico deve saber? Revista Brasileira de Clínica Médica, 8(2), 154-158. Recuperado de https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/lil-544002
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).

É importante recordar que a divisão 36 da Associação Americana de Psicologia (APA), que atualmente representa a psicologia da religião, teve suas origens históricas no ano de 1946 e que entre seus objetivos originais constavam o propósito de contemplar uma “visão católica” da psicologia e uma “visão da psicologia” para os católicos. Essa postura sectária vigorou por mais de duas décadas, até que a pressão ecumênica para incluir o estudo de outras religiões acabou levando a entidade estadunidense a reformular seus objetivos no ano de 1970, incluindo segmentos religiosos de forma abrangente e não tendenciosa. A partir de 1996 a APA passou a ser reconhecida como responsável pelo estudo da psicologia da religião, destacando as repercussões que refletem a proeminência crescente das contribuições dessa temática no campo acadêmico e profissional (Reuder, 1999Reuder, M. E. (1999). A history of Division 36 (Psychology of Religion). In D. A. Dewsbury (Ed.), Unification through division: histories of the divisions of the American Psychological Association (Vol. 4, pp. 91-108). Washington, DC: American Psychological Association. doi: 10.1037/10340-000
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).

A contribuição da R/E para potencializar a adesão a hábitos e estilos de vida mais saudáveis, a necessidade de que os profissionais da saúde tenham conhecimento sobre aspectos específicos da religiosidade do cliente, o surgimento crescente de estudos que buscam integrar saberes e práticas espirituais e religiosas nas intervenções clínicas, bem como os aportes de resultados positivos decorrentes dessa integração no atendimento psicológico de pacientes que têm a R/E como dimensão essencial de suas vidas são alguns dos fatores que confirmam a relevância dessas novas abordagens teóricas e terapêuticas na psicologia (Haque, Khan, Kheshavarzi, & Rothman, 2016Haque, A., Khan, F., Keshavarzi, H., & Rothman, A. E. (2016). Integrating Islamic traditions in modern psychology: research trends in last ten years. Journal of Muslim Mental Health, 10(1), 75-100. doi: 10.3998/jmmh.10381607.0010.107
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; Pargament, 2007Pargament, K. I. (2007). Spiritually integrated psychotherapy: understanding and addressing the sacred. New York: Guilford Press.; Sperry, 2010Sperry, L. (2010). Psychotherapy sensitive to spiritual issues: a postmaterialist psychology perspective and developmental approach. Psychology of Religion and Spirituality , 2(1), 46-56. doi: 10.1037/a0018549
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;).

Todavia, a complexidade, diversidade e multidimensionalidade do campo religioso constituem desafios para pensarmos as bases de uma epistemologia religiosa que contemple as múltiplas vozes e cenários étnicos, religiosos e socioculturais existentes. No caso do Islã, alguns dados chamam a atenção: além de integrar o conjunto das três mais conhecidas religiões monoteístas do mundo, também é considerada, atualmente, a segunda maior religião em número de adeptos. Isso equivale a um contingente de aproximadamente dois bilhões de indivíduos espalhados pelos mais diversos países do Oriente e do Ocidente, representando cerca de 25% da população mundial. É considerada a religião que mais cresce no mundo e, segundo dados do Pew Research Center, conta com uma estimativa de crescimento de 70% na projeção do número de seguidores até 2060 (The changing global religious landscape, 2017The changing global religious landscape. (2017). Recuperado de https://www.pewforum.org/2017/04/05/the-changing-global-religious-landscape/#global-population-projections-2015-to-2060
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).

Segundo os muçulmanos, o Islã é uma religião baseada em uma revelação divina e descrita pelo Alcorão, cujos ensinamentos são complementados por uma extensa coletânea de tradições religiosas referentes à vida do profeta Muhammad. A religião ocupa um papel absolutamente fulcral na organização da vida e na consolidação da visão de mundo entre seus adeptos, e essa centralidade se deve, em parte, ao fato de não haver separação entre o secular e o religioso. O Alcorão tem um papel central na vida dos muçulmanos e, por isso, faz-se necessário ampliar a compreensão dos ensinamentos codificados no livro sagrado por meio da expansão de teorias e modelos que agreguem esses conhecimentos e ajudem a explicar como eles influenciam o comportamento da população de fiéis. Os conteúdos presentes nas fontes sagradas versam sobre a crença e a prática dos rituais, abarcando ainda diversos outros assuntos seculares, tais como higiene, alimentação, saúde, ética, moral, justiça e orientações sobre hábitos, condutas e comportamentos. Essa amplitude de temas faz com que a religião ocupe um lugar de proeminência que extrapola o âmbito espiritual, representando assim um código de vida (Hathout, 2014Hathout, H. (2014). Viagem pela mente de um muçulmano. Oak Brook, IL: American Trust Publications.; Rippin, 2005Rippin, A. (2005). Muslims: their religious beliefs and practices. Abingdon: Routledge.).

A busca de um paradigma islâmico de psicologia não é algo novo nem exclusivo da religião islâmica. Pesquisas alicerçadas nas mais diversas filosofias religiosas vêm articulando essa associação com a psicologia, como os estudos sobre a psicologia budista (Gold & Zahm, 2020Gold, E., & Zahm, S. (2020). Buddhist psychology informed Gestalt therapy for challenging times. The Humanistic Psychologist, 48(4), 373-377. doi: 10.1037/hum0000213
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; Tirch, Silberstein-Tirch, & Kolts, 2016Tirch, D., Silberstein-Tirch, L. R., & Kolts, R. L. (2016). Buddhist psychology and cognitive-behavioral therapy: a clinician’s guide. New York: Guilford Publications.; Zoysa, 2011Zoysa, P. (2011). The use of Buddhist mindfulness meditation in psychotherapy: a case report from Sri Lanka. Transcultural Psychiatry, 48(5), 675-683. doi: 10.1177/1363461511418394
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), a psicologia judaica (bem-Avie, Ives, & Loewenthal, 2015Ben-Avie, M., Ives, Y., & Loewenthal, K. (2015). Applied Jewish values in social sciences and psychology. New York: Springer.), a psicologia cristã (Entwistle, 2015Entwistle, D. N. (2015). Integrative approaches to psychology and Christianity: an introduction to worldview issues: philosophical foundations, and models of integration. Eugene: Cascade Books.; Hackney, 2021Hackney, C. (2021). Positive Psychology in Christian perspective: foundations, concepts, and applications. Westmont: IVP Academic; InterVarsity Press.), entre outros. Ainda que as proposições formuladas por tais propostas não sejam totalmente aceitas em alguns países, como no Brasil, sobretudo na prática clínica, autores como Dueck e Marossy (2019Dueck, A., & Marossy, M. (2019). A future for indigenous psychology of spirituality? Journal and Philosophical Psychology, 39(2), 120-126. doi: 10.1037/teo0000116
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) argumentam sobre a necessidade cada vez mais latente de uma “psicologia da espiritualidade”, afinada com os princípios da indigenous psychology, baseados em perspectivas decoloniais de cultura, religião e da própria psicologia, que permitem incluir conhecimentos potencialmente enriquecedores oriundos de tradições antigas e não-ocidentais.

Uma das premissas da alteridade é o reconhecimento de que existem grupos e culturas singulares, que sentem, pensam, agem e compreendem o mundo a partir de seus próprios repertórios interpretativos. Nesse sentido, a expressão indigenous psychology tem sido utilizada para definir um movimento que preconiza o estudo científico do comportamento humano (ou da mente) native. Em outras palavras, é uma abordagem que se preocupa em estudar os fenômenos psicológicos que não podem ser meramente “transportados” de uma região para outra, uma vez que são circunscritos aos limites singulares de determinada cultura, população e contexto nos quais tiveram origem (Allwood & Berry, 2006Allwood, C. M., & Berry, & J. W. (2006). Origins and development of indigenous psychologies: an international analysis. International Journal of Psychology, 41(4), 243-268. doi: 10.1080/00207590544000013
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). A expressão indigenous psychology está sendo traduzida para a língua portuguesa de forma literal, como “psicologia indígena”, o que pode criar confusão devido aos significados que o termo adquire na língua portuguesa, ligados ao termo “indígena” no contexto brasileiro, ao invés de se referir a pessoas originárias de qualquer região, território ou cultura. Por essa razão, talvez a tradução que mais se aproxime da acepção original do termo seja “psicologia de povos nativos” (tradução nossa).

Uma das premissas dessa abordagem é a consideração de que as teorias psicológicas tradicionalmente existentes não são universais e tampouco neutras, uma vez que refletem a psicologia e as tradições culturais importadas sobretudo de países europeus e da América do Norte. Desse modo, a psicologia de povos nativos propõe-se a examinar o conhecimento, as habilidades e crenças que as pessoas têm sobre si mesmas em seus contextos de vida e nos contornos de sua cultura. Em outras palavras, por que as pessoas sentem, pensam e agem da maneira como sentem, pensam e agem.

Considera-se que cada contexto sociocultural é único e singular. Por isso é preciso investigar os componentes afetivos, comportamentais e cognitivos subjacentes às atitudes, condutas, crenças, expectativas e valores dos indivíduos que são membros de cada cultura e comunidade. Nessa perspectiva, o fenômeno psicológico é investigado dentro de seu contexto ecológico, histórico e cultural. Assim, as teorias, conceitos e métodos são desenvolvidos de modo a incorporar as especificidades e matizes de cada contexto de pesquisa (Allwood & Berry, 2006Allwood, C. M., & Berry, & J. W. (2006). Origins and development of indigenous psychologies: an international analysis. International Journal of Psychology, 41(4), 243-268. doi: 10.1080/00207590544000013
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; Pasha-Zaidi, 2019).

A psicologia de povos nativos, categoria na qual também se inclui a psicologia islâmica, tem sido utilizada para representar as formas originárias e nativas a partir das quais as diversas culturas compreendem o comportamento humano, ocupando assim um espaço de relevância na ciência devido à dimensão multicultural da população em geral (Al-Karam, 2018Al-Karam, C. Y. (2018). Islamically Integrated Psychotherapy: uniting faith and professional practise. (Vol. 3). West Conshohoken: Templeton Press.; Pasha-Zaidi, 2021Pasha-Zaidi, N. (2021). Indigenizing an Islamic psychology. Psychology of Religion and Spirituality, 13(2), 194-203. doi: 10.1037/rel0000265
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). O intuito é questionar tanto a suposição de universalidade das experiências religiosas, como também adequar essa ideia às singularidades de cada crença religiosa, compreendendo como tais experiências repercutem no funcionamento psíquico e como os fenômenos psicológicos são vivenciados pelo indivíduo dentro de seu contexto cultural particular.

Esse tem sido também o eixo norteador da psicologia islâmica. Segundo Rassool (2021Rassool, G. H. (2021). Islamic psychology: human behaviour and experience from an Islamic perspective. New York: Routledge .), a construção de uma epistemologia islâmica é produto do despertar de uma consciência crítica dos muçulmanos, que estava adormecida ao longo dos anos em virtude da secularização do conhecimento pelo Ocidente, processo que acabou ofuscando o legado histórico deixado pelos pensadores islâmicos no campo da psicologia. Além de ter tal caráter de reparação histórica, a psicologia islâmica surge no cenário acadêmico também como uma resposta às epistemologias psicológicas que foram construídas ao longo dos anos, ancoradas em um paradigma eurocêntrico e secular, buscando preencher lacunas e preparar profissionais de saúde mental para atender a população adepta do Islã com uma escuta culturalmente sensível (Al-Karam, 2018Al-Karam, C. Y. (2018). Islamically Integrated Psychotherapy: uniting faith and professional practise. (Vol. 3). West Conshohoken: Templeton Press.; Haque & Rothman, 2021Haque, A., & Rothman, A. (2021). Islamic psychology around the globe. Seattle: International Association of Islamic Psychology .; Haque et al., 2016Haque, A., Khan, F., Keshavarzi, H., & Rothman, A. E. (2016). Integrating Islamic traditions in modern psychology: research trends in last ten years. Journal of Muslim Mental Health, 10(1), 75-100. doi: 10.3998/jmmh.10381607.0010.107
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).

Psicologia islâmica: origens e aspectos históricos

O legado islâmico na psicologia inclui desde as contribuições dos pensadores islâmicos antigos até os mais contemporâneos. De acordo com Elzamzamy, Ahmed, Hassan e El Mahdi (2021Elzamzamy, K., Ahmed, R. M., Hassan, W., & El Mahdi, M. (2021). In A. Haque e A. Rothman (Orgs.), Islamic psychology around the globe. Seattle: International Association of Islamic Psychology.), um dos expoentes da psicologia islâmica moderna é o sudanês Muhammad Uthman Nagati, que, além de ser um dos pioneiros da área, foi um dos psicólogos mais influentes do mundo árabe, em virtude das inúmeras traduções e obras originais que ele produziu sobre o assunto. No ano de 1948, ao iniciar seus estudos sobre a psicologia islâmica, sua proposta era conciliar os saberes da psicologia tradicional com o paradigma islâmico, sem, portanto, rejeitar uma em detrimento da outra. Assim, além das traduções de obras ocidentais, Elzamzamy et al. (2021Elzamzamy, K., Ahmed, R. M., Hassan, W., & El Mahdi, M. (2021). In A. Haque e A. Rothman (Orgs.), Islamic psychology around the globe. Seattle: International Association of Islamic Psychology.) revelam que Nagati buscava resgatar as ideias de pensadores muçulmanos antigos e explorar os diversos aspectos ligados ao funcionamento psíquico por meio dos saberes oriundos de fontes islâmicas tradicionais, delineando, para tanto, um plano estratégico de sete etapas que viabilizaria a construção, solidificação e disseminação desses conhecimentos (Quadro 1).

Quadro 1
Plano estratégico em sete etapas proposto por Muhammad Nagati para a consolidação das bases epistemológicas da psicologia islâmica.

O campo da psicologia islâmica também teve impulso, no início na década de 1970, com os escritos do psicólogo e professor sudanês Malik Badri (2016Badri, M. B. (2016). The dilemma of Muslim psychologists. Kuala Lumpur: Islamic Book Trust.), considerado um dos expoentes mais proeminentes desse movimento. Em sua obra O dilema dos psicólogos muçulmanos, o autor delineia uma série de questionamentos que alcançaram enorme repercussão. Uma das críticas mais destacadas se refere ao fato de que as teorias psicológicas não se ajustam ao estilo de vida islâmico, havendo muitas vezes uma colisão com as crenças e necessidades espirituais dos muçulmanos, já que seus comportamentos são influenciados diretamente pelas prescrições religiosas. O autor enfatiza o impacto da fé no tratamento psicoterapêutico e critica o enfoque materialista, e de certa forma ateístico, da ciência psicológica da época, o que por si só já fragiliza a premissa de neutralidade. Isso porque o fato de se desconsiderar a existência de uma dimensão espiritual e/ou religiosa não deixa de ser uma forma de crença pessoal que, assim como qualquer outra crença, também se torna suscetível aos vieses de toda e qualquer construção teórica. Badri foi duramente criticado por profissionais mais conservadores ligados à ciência tradicional, que rejeitavam qualquer tipo de vinculação da psicologia com a religião, e também sofreu retaliação por outros pesquisadores, que o acusaram de tentar resgatar uma suposta hegemonia da religião sobre a ciência (Badri, 2016Badri, M. B. (2016). The dilemma of Muslim psychologists. Kuala Lumpur: Islamic Book Trust.; Haque & Rothman, 2021Haque, A., & Rothman, A. (2021). Islamic psychology around the globe. Seattle: International Association of Islamic Psychology .).

A crítica de Badri (2016Badri, M. B. (2016). The dilemma of Muslim psychologists. Kuala Lumpur: Islamic Book Trust.) não se voltava somente às teorias clássicas da psicologia, mas também aos testes e instrumentos psicométricos, que são construídos sob os preceitos de um paradigma ocidental que não inclui as diferenças culturais e religiosas de determinadas populações. Isso, consequentemente, comprometia a confiabilidade e replicabilidade dos resultados obtidos em determinados grupos. Daí a necessidade, segundo o autor, de desenvolver uma perspectiva teórica específica, que respeite a pluralidade do modo de vida islâmico e inclua a diversidade cultural da sociedade, utilizando os saberes religiosos em uma relação de complementaridade com os saberes tradicionais (Badri, 2016Badri, M. B. (2016). The dilemma of Muslim psychologists. Kuala Lumpur: Islamic Book Trust.; Rothman & Coyle, 2018Rothman, A., & Coyle, A. (2018). Toward a framework for Islamic psychology and psychotherapy: an Islamic model of the soul. Journal of Religion and Health, 57(5), 1731-1744. doi: 10.1007/s10943-018-0651-x
https://doi.org/10.1007/s10943-018-0651-...
).

Teorias apoiadas na premissa de uma suposta “neutralidade” como critério de fidedignidade e rigor científico frequentemente interpretavam certas restrições religiosas como práticas repressoras, coercitivas, subservientes e, consequentemente, não saudáveis para o desenvolvimento e bem-estar psicológico do indivíduo. A ideia do “proibido” ou do “pecado”, sob as lentes de certas concepções teóricas, acabavam assumindo conotações negativas que simbolizavam uma restrição à liberdade do indivíduo. Essa suposta supressão do livre-arbítrio poderia acarretar sentimentos de medo ou culpa (Carmo, 2014Carmo, V. (2014). O sentimento de culpa como resultado das transgressões humanas (Dissertação de mestrado, Escola Superior de Teologia). Recuperado de http://dspace.est.edu.br:8080/jspui/handle/BR-SlFE/506
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). No entanto, partindo do princípio de que a saúde mental dos indivíduos é influenciada por fatores individuais e ambientais, não se pode atribuir a disfuncionalidade de um determinado comportamento exclusivamente à religião. Na visão espiritual ou religiosa existe uma interpretação completamente diferente das restrições e proibições, uma vez que as prescrições religiosas buscam estabelecer uma espécie de limite, de disciplina a ser seguida pelo adepto da religião, com o intuito de educar, orientar, confortar, alertar e manter uma certa ordem na vida do sujeito (Iwashita & Domingues, 2018Iwashita, P. K., & Domingues, R. G. (2018). Interfaces entre a culpa e o pecado. Caminhos: Revista de Ciências da Religião, 16(2), 188-202. doi: 10.18224/cam.v16i2.6506
https://doi.org/10.18224/cam.v16i2.6506...
). Estilos de vida saudáveis decorrentes da vinculação com a R/E muitas vezes se apoiam em prescrições normatizadoras que definem tais limites de forma nítida e cristalina, demarcando linhas de conduta tanto no plano individual como no coletivo (Moreira-Almeida, Lotufo Neto, & Koenig, 2006Moreira-Almeida, A., Lotufo Neto, F., & Koenig, H. (2006). Religiousness and mental health: a review. Brazilian Journal of Psychiatry, 28(3), 242-250. doi: 10.1590/S1516-44462006005000006
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).

Esse contexto pode deflagrar os seguintes questionamentos: como driblar o conflito que emerge de teorias psicológicas que a princípio classificam determinadas crenças e comportamentos religiosos como possivelmente disfuncionais ou prejudiciais ao equilíbrio psicológico do indivíduo, se tais teorias são construídas com base no estilo de vida secular e ocidental, que não se coadunam com as crenças religiosas do sujeito, ou com comportamentos e visões de mundo que para ele não fazem sentido? E como não incluir o aspecto religioso como eixo auxiliar no tratamento, sabendo que existem recursos relacionados à R/E que poderiam ser explorados a favor do indivíduo, seja de forma preventiva ou psicoterapêutica? Diversos pesquisadores têm se esforçado para responder a esses questionamentos desafiadores, e uma das alternativas encontradas na literatura tem sido a inclusão de epistemologias que acolham essas singularidades sem dissolvê-las e atendam às demandas de clientes cujos comportamentos estão intimamente relacionados às suas crenças religiosas. (Al-Karam, 2018Al-Karam, C. Y. (2018). Islamically Integrated Psychotherapy: uniting faith and professional practise. (Vol. 3). West Conshohoken: Templeton Press.; Haque & Rothman, 2021Haque, A., & Rothman, A. (2021). Islamic psychology around the globe. Seattle: International Association of Islamic Psychology .; Keshavarzi & Ali, 2021Keshavarzi, H., & Ali, B. (2021). Foundations of tradicional islamically integrated psychotherapy (TIIP). In H. Keshavarzi, F. Khan, B. Ali, & R. Awaad. (Eds.), Introducing traditional islamically integrated psychotherapy. New York: Routledge.; Rezaei & Mousavi, 2019Rezaei, S., & Mousavi, S. V. (2019). The effect of monotheistic integrated psychotherapy on the levels of resilience, anxiety, and depression among prisoners. Health, Spirituality and Medical Ethics, 6(1), 2-10. doi: 10.29252/jhsme.6.1.2
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; Rothman, 2022Rothman, A. (2022). Developing a model of Islamic psychology and psychotherapy: Islamic theology and contemporary understandings of Psychology. Abingdon: Routledge .; Vieten, Scammell, Pilato, Ammondson, Pargament, & Lukoff 2013Vieten, C., Scammell, S., Pilato, R., Ammondson, I., Pargament, K. I., & Lukoff, D. (2013). Spiritual and religious competencies for psychologists. Psychology of Religion and Spirituality , 5(3), 129-144. doi: 10.1037/a0032699
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).

Rothman (2022Rothman, A. (2022). Developing a model of Islamic psychology and psychotherapy: Islamic theology and contemporary understandings of Psychology. Abingdon: Routledge .) defende a necessidade de formulação de uma epistemologia islâmica, de caráter multidisciplinar, que inclua a visão psicológica, teológica, filosófica, cosmológica e ética. O autor enfatiza que, no caso do Islã, a religião funciona como uma espécie de orientação e visão sedimentada de mundo, que guia comportamentos e influencia o processo de tomada de decisões de seus adeptos. Junto a isso, muitas circunstâncias adversas, vivenciadas especialmente por muçulmanos, podem afetar os pilares da saúde mental. Dentre essas situações que causam vulnerabilidade estão a exposição à islamofobia, dificuldades na afirmação da identidade religiosa, traumas resultantes de experiências de guerra e lutos pela perda de bens materiais e/ou raízes familiares em decorrência de conflitos armados e de outras violências, necessidades de adaptação de imigrantes e refugiados ao modo de vida secular vigente nos países ocidentais, bem como a adaptação de muçulmanos convertidos dentro de uma nova comunidade somada à oposição e até ao distanciamento de amigos e de suas famílias de origem em razão da sua nova identidade religiosa (Abu-Raiya & Pargament, 2011Abu-Raiya, H., & Pargament, K. I. (2011). Empirically based psychology of Islam: summary and critique of the literature. Mental Health, Religion & Culture, 14(2), 93-115. doi: 10.1080/13674670903426482
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; Al-Karam, 2018Al-Karam, C. Y. (2018). Islamically Integrated Psychotherapy: uniting faith and professional practise. (Vol. 3). West Conshohoken: Templeton Press.; Rothman, 2022Rothman, A. (2022). Developing a model of Islamic psychology and psychotherapy: Islamic theology and contemporary understandings of Psychology. Abingdon: Routledge .).

Essas são apenas algumas das inúmeras fontes de sofrimento psicossocial que acometem essa população. São demandas singulares, que exigem escutas qualificadas e culturalmente sensíveis de profissionais capacitados e sob o auxílio de um arcabouço teórico-epistemológico congruente com os princípios anteriormente delineados.

Psicologia islâmica: conceitos e preceitos

A definição do termo psicologia islâmica é ampla e inclui conceitos que algumas vezes convergem e outras não, dependendo das correntes que a estudam (Al-Karam, 2018Al-Karam, C. Y. (2018). Islamically Integrated Psychotherapy: uniting faith and professional practise. (Vol. 3). West Conshohoken: Templeton Press.; Pasha-Zaidi, 2019; Rassool, 2021Rassool, G. H. (2021). Islamic psychology: human behaviour and experience from an Islamic perspective. New York: Routledge .; Rothman & Coyle, 2018Rothman, A., & Coyle, A. (2018). Toward a framework for Islamic psychology and psychotherapy: an Islamic model of the soul. Journal of Religion and Health, 57(5), 1731-1744. doi: 10.1007/s10943-018-0651-x
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). Utz (2011Utz, A. (2011). Psychology from Islamic perspective. Riyadh: International Islamic Publishing House.) afirma que o diferencial dessa perspectiva é a inclusão de aspectos do mundo invisível, espiritual, transcendental, ou seja, daquilo que não é passível de ser visto e experienciado diretamente pelo ser humano e que pode influenciar o seu comportamento. Partindo desse princípio, Utz define a psicologia islâmica como o estudo da alma, que engloba os processos mentais, emocionais e comportamentais junto aos fatores, visíveis ou não, que podem influenciá-los. Rassool (2021Rassool, G. H. (2021). Islamic psychology: human behaviour and experience from an Islamic perspective. New York: Routledge .) argumenta que é importante incluir nessa definição, além do elemento espiritual, o estudo de comportamentos éticos baseados em valores humanos, o qual, segundo este autor, ainda não alcançou um nível de amadurecimento suficiente dentro da ciência psicológica tradicional. Assim, no intuito de sintetizar essa questão, Rassool conceitua a psicologia islâmica como

. . . o estudo de processos cognitivos, afetivos e comportamentais e dos aspectos da alma, por meio de um paradigma baseado em evidências, que seja compatível com as crenças e práticas islâmicas e com as ciências islâmicas. (Rassool, 2021Rassool, G. H. (2021). Islamic psychology: human behaviour and experience from an Islamic perspective. New York: Routledge ., p.16)

Outro termo bastante utilizado nos estudos relacionados à psicologia islâmica é a “saúde mental muçulmana” (muslim mental health), que busca compreender as demandas dos muçulmanos ligadas à saúde mental, bem como a necessidade de capacitação dos líderes religiosos que lidam diretamente com a comunidade. Al-Karam (2018Al-Karam, C. Y. (2018). Islamically Integrated Psychotherapy: uniting faith and professional practise. (Vol. 3). West Conshohoken: Templeton Press.) explica que o termo saúde mental muçulmana ganha força e adquire musculatura diante da necessidade de alguns muçulmanos em buscar profissionais que compreendam questões mais específicas ligadas ao comportamento religioso, espiritual e cultural, uma vez que muitos deixam de buscar ajuda psicoterapêutica por suporem que tais lacunas não são valorizadas ou suficientemente preenchidas pelos profissionais do campo psi.

Por se tratar de um tema dotado de grande amplitude, Pasha-Zaidi (2019) sugere a adoção de um paradigma interdisciplinar e multinível que abarque essas perspectivas, buscando assegurar uma investigação mais completa da natureza humana, que permita compreender como as ideias islâmicas influenciam os significados construídos a nível individual e coletivo. No entanto, os esforços de conceitualização e distinção entre esses termos ainda não deixam totalmente claro se a psicologia islâmica estaria voltada para o estudo do comportamento dos muçulmanos, denominado por muitos de “psicologia muçulmana”, ou exclusivamente para a religião como um fator que, além de influenciar e moldar o comportamento humano, também busca agregar novos conhecimentos sobre a psiquê humana.

O estudo da psicologia islâmica ao redor do mundo

Ainda que a psicologia islâmica tenha como fundamento saberes oriundos de fontes religiosas, estudiosos e pesquisadores da área demonstram preocupação constante com o resguardo do rigor dos aspectos metodológicos na construção de seus modelos teóricos e na comprovação da eficácia de intervenções, instrumentos e técnicas baseadas neste paradigma, uma vez que a indagação e a busca de evidências também são estimuladas na concepção islâmica. Ademais, observa-se que, enquanto algumas correntes teóricas buscam um paradigma exclusivamente islâmico para criar seus modelos conceituais, outras tentam encontrar pontos em comum entre a perspectiva islâmica e os conceitos psicológicos ocidentais (Rassool, 2021Rassool, G. H. (2021). Islamic psychology: human behaviour and experience from an Islamic perspective. New York: Routledge .), o que pode contribuir para limitar as resistências ao pensamento islâmico.

Nos últimos anos a psicologia islâmica começou a ser inserida em ambientes acadêmicos diversos ao redor do mundo, como no Cambridge Muslim College, na Inglaterra; o Al-Karam Institute e Iowa University, nos Estados Unidos; Charles Sturt University, na Austrália; International Islamic University Malaysia, na Malásia; Riphah International University, no Paquistão; Islamic University of Indonesia, na Indonésia; International Open University, em Gâmbia; além de instituições presentes em países como Índia e Turquia (Al-Karam, 2018Al-Karam, C. Y. (2018). Islamically Integrated Psychotherapy: uniting faith and professional practise. (Vol. 3). West Conshohoken: Templeton Press.; Haque & Rothman, 2021Haque, A., & Rothman, A. (2021). Islamic psychology around the globe. Seattle: International Association of Islamic Psychology .). Outras organizações foram criadas com o propósito específico de estudo e pesquisa na área, como o International Institute of Islamic Thought (IIIT), nos Estados Unidos, com programas que buscam integrar as ciências islâmicas às ciências seculares; a Association of Muslim Social Scientists, International Association of Islamic Psychology (IAIP), International Students of Islamic Psychology (ISIP), entre outras (Rassool, 2021Rassool, G. H. (2021). Islamic psychology: human behaviour and experience from an Islamic perspective. New York: Routledge .).

Haque e Rothman (2021Haque, A., & Rothman, A. (2021). Islamic psychology around the globe. Seattle: International Association of Islamic Psychology .), em seu livro Islamic psychology around the globe, também articularam um panorama geral de estudos e aplicações da psicologia islâmica em 17 países: Egito, Austrália, Sudão, Indonésia, Malásia, Índia, Bósnia, Irã, Arábia Saudita, Nigéria, Paquistão, Somália, África do Sul, Turquia, Reino Unido, Alemanha e Estados Unidos. A rápida disseminação dessa área de estudo em diversas regiões do globo sinaliza um interesse crescente pelo tema e sua incorporação progressiva pelas instituições acadêmicas, fomentando uma expectativa promissora de expansão e alargamento das fronteiras desse campo.

Bases e fundamentos teóricos da psicologia islâmica

Apesar das fontes religiosas, como o Alcorão e a Sunna, servirem como fontes primárias para a construção de pilares teóricos sob a perspectiva islâmica, diversos modelos têm surgido a partir de raízes filosóficas de pensadores muçulmanos, sobretudo a partir das obras de Al-Ghazalli, cujo pensamento teórico também se baseou em conteúdos do Alcorão. Elementos como a alma (nafs), o espírito (ruh), o intelecto (aql) e o coração (qalb) são usados como base para explicar o funcionamento psíquico, por meio de uma interação sistêmica em que o indivíduo busca evoluir e melhorar suas atitudes e comportamentos continuamente ao longo da vida (Keshavarzi & Ali, 2020Keshavarzi, H., & Ali, B. (2021). Foundations of tradicional islamically integrated psychotherapy (TIIP). In H. Keshavarzi, F. Khan, B. Ali, & R. Awaad. (Eds.), Introducing traditional islamically integrated psychotherapy. New York: Routledge.; Rassool, 2021Rassool, G. H. (2021). Islamic psychology: human behaviour and experience from an Islamic perspective. New York: Routledge .; Rothman & Coyle, 2018Rothman, A., & Coyle, A. (2018). Toward a framework for Islamic psychology and psychotherapy: an Islamic model of the soul. Journal of Religion and Health, 57(5), 1731-1744. doi: 10.1007/s10943-018-0651-x
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).

O funcionamento psíquico descrito na concepção islâmica é totalmente atrelado à dimensão espiritual e transcendental, tendo em vista que, no Islam, a psiquê e o espírito seriam componentes da alma, o que a diferencia das visões psicológicas tradicionais. Nessa dimensão transcendental incluem-se elementos intangíveis que podem influenciar o comportamento, tais como a crença em Deus, nos anjos e demônios, na predestinação, na vida após a morte, no paraíso e inferno, na perspectiva de uma prestação de contas no Juízo Final, entre outras. Com isso, os modelos teóricos aproveitam os conhecimentos que emanam das fontes religiosas para compreender ou explicar certos comportamentos. Nesse entendimento incluem-se fatores externos e internos que influenciam o indivíduo, podendo favorecer ou perturbar seu bem-estar físico e psíquico. Essa é a razão pela qual a maior parte dos modelos decorrentes dessa perspectiva buscam uma compreensão da natureza humana e da personalidade que integre as três dimensões: corpo, mente e alma (Keshavarzi & Ali, 2020Keshavarzi, H., & Ali, B. (2021). Foundations of tradicional islamically integrated psychotherapy (TIIP). In H. Keshavarzi, F. Khan, B. Ali, & R. Awaad. (Eds.), Introducing traditional islamically integrated psychotherapy. New York: Routledge.; Rothman & Coyle, 2018Rothman, A., & Coyle, A. (2018). Toward a framework for Islamic psychology and psychotherapy: an Islamic model of the soul. Journal of Religion and Health, 57(5), 1731-1744. doi: 10.1007/s10943-018-0651-x
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; Yasien, 1996Yasien, M. (1996). Fitra: the Islamic concept of human nature. London: Taha Publishers.).

A psicologia islâmica também é marcada por uma diversidade de elementos éticos e morais, cujo intuito é aprimorar condutas e comportamentos a nível individual e social. Na visão islâmica, a satisfação humana pautada pelo prazer em detrimento do aspecto moral compromete diversos âmbitos da vida e, apesar de algumas pessoas associarem a moralidade a um retrocesso social e econômico, Othman (2016Othman, N. (2016). A preface to the Islamic personality psychology. International Journal of Psychological Studies, 8(1), 20-27. doi: 10.5539/ijps.v8n1p20
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) ressalta que uma das marcas mais fortes do Islam é justamente esse princípio, cujo intuito é aperfeiçoar a personalidade do indivíduo e promover um progresso não apenas individual, mas do grupo como um todo. A autora aponta que o foco excessivo dado por algumas teorias psicológicas à satisfação das necessidades humanas focada na obtenção do prazer torna tais necessidades cada vez mais vigorosas e difíceis de serem saciadas, podendo em certos casos conduzir o sujeito a uma espiral de autodestruição contínua e à fragilização do seu meio social. No entanto, em que pese a crítica à valorização do hedonismo como valor na sociedade ocidental, a forte presença da dimensão espiritual nas teorias islâmicas não exclui as necessidades do corpo. Pelo contrário, elas também são incorporadas por essa epistemologia como dimensão essencial para a obtenção do equilíbrio de todo o sistema, desde que dentro dos parâmetros de moderação e licitude definidos pelos preceitos religiosos (Ashraah, Gmaian, & Al-Shudaifat, 2013Ashraah, M. M., Gmaian, I., & Al-Shudaifat, S. (2013). Sex education as viewed by Islam education. European Journal of Scientific Research, 95(1), 5-16. Recuperado de https://www.semanticscholar.org/paper/Sex-Education-as-Viewed-by-Islam-Education-Ashraah/dd111af247bb0728f0b09b160721c503ef6ed005
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; Tabarah, 2001Tabbarah, A. A. (2001). The spirit of Islam: doctrine and teachings (H. T. Shoucair, trad.). Beirut: Dar el-Ilm Lil-Malayin.).

Considerações finais

Abordar as potencialidades da psicologia islâmica aos olhos do Ocidente e especialmente no contexto brasileiro, onde estudos e aplicações práticas relacionadas à psicoterapia integrada à espiritualidade ainda se encontram incipientes, pode gerar um certo estranhamento para aqueles que ainda não se encontram familiarizados com essas novas tendências. O sentimento de estranhamento também é alimentado pelo olhar suspeitoso e liminar que a psicologia tradicionalmente reservou às questões da R/E. Os esforços mantidos ao longo de décadas para manter o distanciamento da ciência psicológica do interesse pelo estudo de temas religiosos, especialmente os que tivessem algum caráter impositivo sobre o comportamento e a saúde mental do indivíduo, inibiu a aproximação entre psicologia e religiosidade. Ocorre, porém, que muitos benefícios proporcionados pela R/E acabaram sendo ignorados em virtude desse olhar preconceituoso, o que pode ter desvirtuado a descoberta de caminhos criativos e fecundos entre esses campos do conhecimento sobre a experiência humana.

A trilha aberta pelo movimento da psicologia de povos nativos procura descobrir como as visões culturais, teorias e suposições que fazemos sobre o mundo, juntamente com as instituições sociais, políticas, educacionais e religiosas influenciam os fenômenos psicológicos que circulam em cada cultura. Trata-se de um conhecimento que almeja o bem-estar coletivo, em uma tentativa de superar os desafios enfrentados por cada cultura, contribuindo para o fortalecimento de políticas públicas na educação, saúde, emprego e segurança e na superação de conflitos religiosos e visões dogmáticas e supremacistas.

Se partirmos do pressuposto de que a área de saúde investe cada vez mais na adoção de uma visão sistêmica de bem-estar, que inclui as dimensões físicas, psicológicas, sociais e espirituais, é lícito defendermos a necessidade de uma integração de diversas concepções para a construção de modelos contextualizados que se aproximem cada vez mais da realidade encarnada dos indivíduos. Abu-Raya e Pargament (2011Abu-Raiya, H., & Pargament, K. I. (2011). Empirically based psychology of Islam: summary and critique of the literature. Mental Health, Religion & Culture, 14(2), 93-115. doi: 10.1080/13674670903426482
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) apontam que muitos muçulmanos ao longo do tempo “desacreditaram’’ na ciência psicológica, justamente por perceberem-na como uma ciência mais “ocidental’’, que não abrangia ou confrontava certos princípios religiosos, além de atribuir-lhes um caráter negativo, de possível “perigo” para a saúde emocional do indivíduo. Essa atitude defensiva historicamente alimentou um olhar de suspeita e desconfiança sobre os impactos da R/E na saúde mental. Tal fato corrobora a necessidade de maior aproximação dos pesquisadores do campo da psicologia com a comunidade muçulmana, incrementando debates e reflexões sobre o tema, de modo a contribuir para a construção de agendas de pesquisa inclusivas, evitando o descarte de saberes que de alguma forma possam contribuir para o aperfeiçoamento da ciência psicológica, mitigando assim o seu distanciamento em relação à população muçulmana.

A inclusão de novas epistemologias na ciência psicológica, sobretudo aquelas decorrentes de filosofias espirituais e religiosas, tem se mostrado necessária para a compreensão do comportamento de indivíduos pertencentes a certas comunidades, especialmente daquelas cujos modos de vida não são pautados na racionalidade ocidental. Espera-se, assim, que essas reflexões possam contribuir para valorizar uma postura de maior permeabilidade e conjugação entre saberes de campos distintos, ao invés de reforçar as polarizações e fundamentalismos que restringem o horizonte do diálogo e o intercâmbio de conhecimentos, incentivando novas e profícuas descobertas sobre o tema.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    19 Abr 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    03 Abr 2022
  • Aceito
    04 Abr 2023
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