Construção e validação de podcast para educação em saúde sexual e reprodutiva de adolescentes ^*

Resumo

Objetivo:

construir e validar o conteúdo de um podcast para educação em saúde sexual e reprodutiva de adolescentes.

Método:

estudo metodológico embasado na perspectiva freiriana. Para a construção do podcast foi aplicado o Questionário de Conhecimento sobre Sexualidade a 60 adolescentes e realizada revisão integrativa da literatura. Onze especialistas realizaram o processo de validação da tecnologia. Adotou-se o Item-level Content Validity Index ≥ 0,78 e alfa de Cronbach ≥0,700 para avaliar a consistência interna do instrumento.

Resultados:

foram produzidos, com participação dos adolescentes em todo o processo, quatro episódios de podcast utilizando-se da peça radiofônica abordando os temas relação sexual e sexualidade, métodos contraceptivos, Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) e Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) e outras infecções sexualmente transmissíveis. O podcast apresenta episódios com duração entre 8 e 11 minutos e foi validado com Item-level Content Validity Index = 0,87 e alfa de Cronbach = 0,951.

Conclusão:

o podcast foi validado para educação em saúde sexual e reprodutiva de adolescentes e constitui uma ferramenta para as práticas de profissionais de saúde, particularmente os enfermeiros, bem como uso autônomo pelos adolescentes.

Descritores:
Saúde do Adolescente; Comportamento do Adolescente; Educação em Saúde; Educação Sexual; Tecnologia Educacional; Estudo de Validação

Abstract

Objective:

to construe and validate a podcast for teen sexual and reproductive health education.

Method:

a methodological study was conducted based on Freire’s perspective. The podcast was construed based on the Knowledge about Sexuality Questionnaire applied to 60 adolescents and an integrative literature review. Eleven experts conducted the validation process. Internal consistency was evaluated using Item-level Content Validity Index ≥0.78 and Cronbach’s alpha ≥0.700.

Results:

four podcast episodes were produced with the adolescents’ participation using the radio play format, addressing sex and sexuality, contraceptive methods, human immunodeficiency virus (HIV) and Acquired Immunodeficiency Syndrome (AIDS) and other sexually transmitted infections. The podcast episodes last between 8 and 11 minutes and was validated with Item-level Content Validity Index = 0.87 and Cronbach’s alpha = 0.951.

Conclusion:

the podcast was validated for teen sexual and reproductive health education and constitutes a tool for health professional practices, particularly nurses, as well as autonomous use by adolescents.

Descriptors:
Adolescent Health; Adolescent Behavior; Health Education; Sex Education; Educational Technology; Validation Study

Resumen

Objetivo:

construir y validar el contenido de un pódcast para la educación sexual y reproductiva de los adolescentes.

Método:

estudio metodológico basado en la perspectiva freiriana. Para la construcción del pódcast se aplicó el Cuestionario de Conocimiento sobre Sexualidad a 60 adolescentes y se realizó la revisión bibliográfica integradora. Once especialistas llevaron a cabo el proceso de validación de la tecnología. Se adoptó el Item-level Content Validity Index Cron 0,78 y alfa de Cronbach ≥0,700 para evaluar la consistencia interna del instrumento.

Resultados:

se produjeron, con la participación de los adolescentes en todo el proceso, cuatro episodios de pódcast utilizando la pieza radiofónica abordando los temas relación sexual y sexualidad, los métodos anticonceptivos, el Virus de la Inmunodeficiencia Humana (VIH) y el Síndrome de Inmunodeficiencia Adquirida (SIDA) y otras infecciones de transmisión sexual. El pódcast cuenta con episodios que duran entre 8 y 11 minutos y ha sido validado con Item-level Content Validity Index = 0,87 y alfa de Cronbach = 0,951.

Conclusión:

el pódcast ha sido validado para la educación en salud sexual y reproductiva de los adolescentes y constituye una herramienta para las prácticas de los profesionales de la salud, particularmente de los enfermeros, así como el uso autónomo por parte de los adolescentes.

Descriptores:
Salud del Adolescente; Conducta del Adolescente; Educación en Salud; Educación Sexual; Tecnologia Educacional; Estudio de Validación

Destaques:

(1) Os adolescentes estiveram envolvidos na construção da tecnologia.

(2) O podcast é um recurso educacional de fácil acesso e baixo custo.

(3) O formato de peça radiofônica promove aproximação com o estilo e linguagem do público.

(4) O podcast ainda é pouco usado pela enfermagem, principalmente na educação em saúde.

(5) O podcast inédito e validado por especialista está disponível gratuitamente.

Introdução

A abordagem à saúde sexual e reprodutiva é permeada por censuras e restrita com base em preconceitos, tabus e relações de poder. Tratando-se desta dimensão concernente ao ciclo vital, estas limitações são ainda mais perceptíveis quando direcionadas ao público adolescente, observando-se ações orientadas a responsabilização individual, culpabilização e mudanças de comportamento verticalmente orientadas por políticas públicas não inclusivas¹.

Os adolescentes, em especial aqueles vivendo em países em desenvolvimento, enfrentam desafios adicionais em termos de saúde sexual e reprodutiva, postos os equívocos relacionados a educação sexual, a negligência e/ou desatenção adulta, as barreiras sociais, culturais e de acesso².

A adolescência é marcada pelo estirão pôndero-estatural, manifestação dos caracteres sexuais secundários e transformações cognitivas que corroboram para a apreciação de novos vínculos intrapessoais, interpessoais e com o meio³. Logo, a sexualidade encontra lócus de maior desenvolvimento e autopercepção neste período.

Discutir saúde sexual transpassa as questões do ato em si, envolvendo práticas e experiências relativas à satisfação, prazer, afetividade, sentimentos e saúde. As experiências da sexualidade, embora com traços transversais que se assemelham entre os indivíduos, desenvolve-se de modo singular, modificada conforme o contexto temporal, social e cultural no qual o adolescente está inserido, podendo representar riscos à saúde, qualidade de vida e ser fator de vulnerabilidade².

Parte-se, pois, da compreensão de que é preciso avançar no debate quanto ao pleno exercício da sexualidade na adolescência, fornecendo subsídios para promoção da saúde do adolescente nas dimensões de prazer, intimidade e realização. Anseia-se pelo fortalecimento da autonomia e empoderamento adolescente, ultrapassando discursos normativos-preventivos que vislumbram prioritariamente a saúde sexual como risco⁴.

O uso de tecnologias educacionais demonstra potencial no processo de educação condizente com a promoção da saúde do adolescente, uma vez que permite o envolvimento do público ao qual se destina e a abordagem de temáticas diversas, representando inclusão e adequabilidade às necessidades em saúde⁵.

Dentre as tecnologias educacionais utilizadas no campo da saúde, o podcast vem assumindo relevância em processos educativos^6-7. Consiste em um recurso online de áudio, de acesso via computadores, celulares e reprodutores de áudio, capaz de reunir informações diversas, tais como palestras, entrevistas e reflexões⁶.

Seu caráter inovador encontra-se na flexibilidade em seus modos de reprodução e compartilhamento; na autonomia em sua utilização em local e horário pertinente ao usuário; bem como na difusão de conhecimento que ultrapassa barreiras geográficas, como a imposta pelo momento pandêmico vivenciado mundialmente pelo coronavírus (COVID-19)^6,8.

Sob as premissas da promoção da saúde, propostas de educação em saúde consolidadas sob reconhecimento de necessidades, planejamento em saúde, trabalho em equipe, educação popular e participação, representam avanços condizentes com a atuação profissional assertiva frente aos novos modos de produção de saúde nos territórios⁹.

Neste interim, o podcast torna-se relevante para facilitar o acesso de adolescentes a informações sobre saúde sexual e reprodutiva, livre de constrangimentos inter-relacionais e com incentivo ao autocuidado. É ainda ferramenta potente para o trabalho profissional em saúde enquanto recurso educacional.

Objetivou-se, pois, construir e validar o conteúdo de um podcast para educação em saúde sexual e reprodutiva de adolescentes.

Método

Tipo de estudo

Estudo metodológico¹⁰ embasado na perspectiva freiriana¹¹ para a construção de uma tecnologia educacional, operacionalizado em quatro etapas: referencial teórico; identificação das temáticas; elaboração da tecnologia educativa e validação do material construído (Figura 1).

Figura 1
Algoritmo de construção e validação do podcast Coisa de Adolescente. Iguatu, CE, Brasil, 2021

Etapa 1 - A perspectiva freireana como referencial teórico

A perspectiva freireana, adotada como referencial teórico nesse estudo, advém da obra de Paulo Freire sobre a pedagogia crítica que acredita que os indivíduos apreendem seu objeto de estudo por meio de uma prática dialética com a realidade. Consiste, pois, em uma educação ética, libertadora e transformadora que se relaciona com os diferentes modos de ver e experienciar o mundo, buscando transformá-lo de modo consciente¹¹.

Buscou-se mobilizar a educação popular, a participação e o diálogo como elementos essenciais na construção do podcast, com intuito de atribuir sentido à aprendizagem, aproximando-se dos saberes, vivências e comunidade do público a que se destina¹¹.

Dentre as proposições freireanas, adotou-se o itinerário do círculo de cultura para condução dos momentos de construção do podcast, contemplando as etapas de investigação temática, para aproximação com o conhecimento dos adolescentes, sua visão de mundo, experiências prévias e vocabulário; de codificação e descodificação, investigando os significados dos temas elencados e debatendo sobre estes para roteirização dos episódios; e desvelamento crítico, com a proposta dos roteiros dos episódios como produto de um processo participativa e dialético¹².

Etapa 2 - Identificação das temáticas

Para aproximação teórica com as temáticas relevantes à educação em saúde com adolescentes e a utilização do podcast enquanto tecnologia educacional foi realizada revisão integrativa da literatura. Esta foi norteada em seis passos: definição da pergunta da revisão, busca e seleção dos estudos primários, extração de dados dos estudos primários, avaliação crítica dos estudos primários, síntese dos resultados da revisão e apresentação da revisão¹³.

A estratégia PICo (População/pacientes, Intervenção, Comparação/controle, Desfecho/outcome) foi utilizada para formulação da questão de pesquisa “Quais temáticas e tecnologias educacionais têm sido utilizadas para promover a saúde de adolescentes?” ⁽⁵.

A busca e seleção dos estudos primários deu-se por meio do portal de periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), nas bases de dados Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE), via PubMed e Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature (CINAHL) e na biblioteca virtual Scientific Electronic Library Online (SciELO), utilizando-se a busca avançada⁵.

Foram utilizadas as estratégias de busca: 1) Educational Technology AND Adolescent AND Health Promotion; 2) Educational Technology AND Adolescent; 3) Educational Technology AND Health Promotion; e 4) (“Educational Technology” OR “Instructional Technology” OR “multimedia”) AND (“Health Promotion” OR “Promotion of Health” OR “Promotional Itens”) AND (“Adolescents” OR “Adolescence” OR “Teens” OR “Teenagers” OR “Youth”)⁵.

Os dados foram extraídos conforme instrumento construído pelos autores com foco no reconhecimento das temáticas prevalentes e nas tecnologias utilizadas para promoção da saúde de adolescentes. Para avaliação da qualidade metodológica dos estudos, utilizou-se o Critical Appraisal Skills Programme (CASP). Os resultados foram sintetizados e apresentados de modo textual⁵.

Para reconhecer as necessidades de educação em saúde sexual e reprodutiva, de modo a complementar o levantamento bibliográfico e assegurando a participação dos adolescentes no projeto, aplicou-se o Questionário de Conhecimentos sobre Sexualidade (QCS)¹⁴.

Etapa 3 - Elaboração da tecnologia educativa

Essa etapa consistiu na construção do podcast e foi dividida em três fases: captação dos adolescentes para colaboração na construção da tecnologia, planejamento das gravações e produção do podcast. Utilizando-se a peça radiofônica enquanto gênero, envolvendo teatro, literatura e música na produção de uma dramatização que foge à simples narração de uma história, discutindo de modo criativo temas do cotidiano.

Nesse momento, elencou-se as temáticas a serem trabalhadas e realizou-se o planejamento para apropriação sobre o tema, construção dos roteiros e gravação dos episódios.

A construção deu-se com base nos círculos de cultura freireanos, considerando as perspectivas freirianas da educação popular, da participação e do diálogo, a partir da interação de adolescentes escolares implicados e disponíveis a participar do processo e acadêmicos do curso de enfermagem, sob orientação do pesquisador proponente.

Etapa 4 - Validação do material construído

Essa etapa compreendeu a validação do podcast segundo julgamento de especialistas. Neste processo, permite-se que experts sugiram exclusões, acréscimos ou alterações de partes ou totalidade da tecnologia. Para validação examina-se com precisão a tecnologia construída a partir de escores estabelecidos, quantificando a concordância destes com a validade do conteúdo.

Cenário de estudo

O estudo teve como cenário uma escola estadual de educação profissional, que oferta o ensino médio profissionalizante a jovens e adolescentes, disponibilizando formação técnica nos cursos de Administração, Computação e Enfermagem. A escolha da instituição deu-se por conveniência, considerando a parceria para execução das atividades do projeto de extensão e desenvolvimento de uma rádio escolar, com o envolvimento de discentes no processo de produção, edição e divulgação de conteúdo de áudio no ambiente escolar, tal como proposta podcast.

Período

As fases do estudo foram operacionalizadas no período de março de 2020 a junho de 2021.

População, critérios de seleção e amostra

A população do estudo foi constituída por 440 adolescentes matriculados ao início na referida escola. Frente às condições sanitárias e epidemiológicas do período, decorrentes da pandemia pela COVID-19, aproximadamente 30% (n=132) dos alunos estavam acompanhando regularmente as atividades letivas na escola participante por meio de aulas remotas e/ou de atividades presenciais. Realizou-se cálculo amostral por meio do G*Power 3.1.9.7, definindo os valores de 0,05 para o erro amostral, 0,95 para o nível de confiança e 0,50 para o efeito estimado. Assim, pelo cálculo amostral obteve-se 54 adolescentes, sendo que a amostra final foi de 60 adolescentes. Também participaram um docente e dez discentes do curso de Enfermagem na execução das fases do estudo e onze especialistas.

Como critério de seleção foram convidados a participar do estudo os adolescentes na faixa etária de 10 a 19 anos - delimitação segundo o Ministério da Saúde -, regularmente matriculados e acompanhando as atividades letivas. Foram excluídos os adolescentes que não realizaram devolutiva do instrumento de coleta de dados conforme prazo pactuado previamente.

Para seleção dos especialistas nas temáticas de educação em saúde e/ou saúde pública/coletiva, mídias digitais, tecnologias na educação ou áudio, atribuiu-se como critérios de seleção a pontuação de cinco a oito pontos. Aqueles que atingiram a pontuação mínima de cinco pontos, correspondente à tese ou dissertação na(s) temática(s) (2 pontos), monografia de graduação ou especialização na(s) temática(s) (1 ponto), participação em grupos/projetos de pesquisa que envolvam a(s) temática(s) (1 ponto), experiência docente (1 ponto), atuação prática (1 ponto), orientação de trabalho na(s) temática(s) (1 ponto) e participação em bancas avaliadoras de trabalhos sobre a(s) temática(s) (1 ponto)¹⁵, foram convidados a participar do estudo.

O convite à participação deu-se por meio de correio eletrônico a partir de identificação destes na plataforma Lattes, disponível no portal Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), e através da técnica snowball, em que um participante faz a indicação de um novo participante conforme história pregressa e adequação aos objetivos do estudo. Adotou-se a recomendação de um número ímpar de especialistas, obtendo-se 11 participações¹⁰.

Para a validação pelos especialistas, utilizou-se de instrumento de avaliação utilizado previamente na validação de um podcast para educação em saúde sobre hanseníase, composto por itens que versavam sobre o conteúdo (8 itens), funcionalidade (6 itens), aparência (9 itens) e ambiente sonoro (7 itens)¹⁶. Os especialistas atribuíram a concordância com cada item do instrumento em uma escala Likert de quatro pontos: 1-irrelevante, 2- pouco relevante, 3-bastante relevante, 4- altamente relevante.

Variáveis do estudo

O questionário online utilizado para coleta de dados, via Google Forms, contemplava questões sociodemográficas para os adolescentes (sexo, idade em anos completos, cor/raça, religião e estado civil) e para os especialistas (sexo, idade, graduação, titulação e área de ocupação no ensino, pesquisa, assistência e/ou gestão).

Instrumento utilizado para a coleta das informações

Para o processo de identificação das necessidades de conhecimentos dos adolescentes, utilizou-se o Questionário de Conhecimentos sobre Sexualidade (QCS). Este instrumento contempla 25 assertivas com respostas dicotômicas (verdadeiro/falso), divididas em seis dimensões: primeira relação sexual e preocupações sexuais, sexualidade e prazer sexual, contracepção e práticas sexuais seguras, prevenção da gravidez, Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) e Vírus da Imunodeficiência Humana/Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (HIV/AIDS) e aconselhamento e atendimento em saúde sexual e reprodutiva¹⁴.

Em complemento, foram formuladas questões quanto ao conhecimento e atitudes dos adolescentes quanto à saúde sexual e reprodutiva, tais como: conhecimento sobre IST, como se prevenir, uso de preservativos nas relações sexuais, situações em que não faz uso de preservativo, métodos contraceptivos que conhece, como obtém preservativos e principal fonte de informações sobre saúde sexual e reprodutiva.

Coleta de dados

Na fase de levantamento das necessidades de conhecimento dos adolescentes a logística de coleta de dados seguiu a anuência pela coordenação da instituição: apresentação da proposta e material para os professores e pactuação quanto ao encaminhamento deste para os adolescentes, envio do link de acesso ao questionário e vídeo explicativo produzido pelos discentes de enfermagem e direcionado aos adolescentes apresentando o instrumento e tecendo explicações sobre o consentimento do responsável e o assentimento e preenchimento adequado do instrumento. Foram disponibilizadas cópias físicas do instrumento aos adolescentes que assim desejaram.

Concernente à construção do podcast, a etapa de captação dos adolescentes para participação ativa da tecnologia se deu por meio do Whatsapp ^® . Os jovens foram convidados a participar da segunda fase; explicou-se o objetivo e o processo operacional de construção. A segunda fase tratou do planejamento das gravações, incluindo a orientação dos adolescentes sobre podcast, seu uso para atividades educativas e sobre peça radiofônica.

A organização e gravação de cada episódio aconteceu em cerca de três encontros cada, conduzidos conforme itinerários dos círculos de cultura. Nesses momentos foram conduzidas as discussões sobre a temática, elaboração do roteiro e gravação do episódio. Estes foram facilitados por um pesquisador, doutorando e com experiência com trabalhos com adolescentes e educação em saúde, com auxílio de discentes de enfermagem.

A discussão sobre a temática para fundamentação da estruturação dos roteiros envolvia uma produção coletiva em roda de conversa entre os participantes, orientadas por questões do tipo “Fale-me sobre”, como fale-me sobre o HIV e a AIDS. A partir de então buscava-se averiguar o conhecimento dos participantes, termos utilizados para referir-se ao tema e aspectos da temática que demonstravam incerteza ou conhecimento errôneo. O aprofundamento era conduzido pelo pesquisador, elucidando as dúvidas reconhecidas. Por exemplo, diante da proposição de trabalho das Infecções Sexualmente Transmissíveis fez-se necessário conhecer as principais infecções que acometem adolescentes, suas formas de transmissão, possibilidades de tratamento, formas de prevenção, entre outros.

Os encontros de discussão sobre a temática e elaboração do roteiro tinham duração média de duas horas e meia, enquanto o de gravação do episódio durava aproximadamente uma hora.

Na terceira fase, compreende-se a produção do podcast por meio da pré-produção, produção e pós-produção. Na pré-produção foram definidos os personagens e seus intérpretes e construídos os roteiros técnicos. Os roteiros foram construídos pelos participantes do projeto e apreciados pelo coordenador, encaminhando sugestões de ajustes conforme necessário. Nos momentos de produção, a peça radiofônica era gravada via plataforma Google Meet, respeitando o distanciamento social prezado no momento. A seguir, o áudio do vídeo era extraído e encaminhado para pós-produção, envolvendo a edição, inclusão das trilhas sonoras e efeitos, mixagem e masterização no software Cantasia Studio 9 versão 2020.012.

Para a validação do podcast, a tecnologia educacional foi disponibilizada aos especialistas para avaliação, junto ao instrumento avaliativo, carta convite e Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), assegurando seu desejo em contribuir com o estudo. Realizaram-se três ciclos de convite/lembrete para participação, com intervalos de 15 dias.

Tratamento e análise dos dados

Os dados coletados foram organizados em planilha eletrônica do Microsoft Office Excel 2016 ^® e processados com auxílio do Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) versão 20.

Utilizou-se de estatística descritiva por meio de frequência absoluta e relativa, média e desvio padrão (DP) para as variáveis sociodemográficas, assim como para as questões sobre conhecimentos e atitudes dos adolescentes sobre saúde sexual e reprodutiva. Para o Questionário de Conhecimentos sobre Sexualidade calculou-se o escore global e definiu-se quintis como níveis de conhecimento dos adolescentes, conforme acertos aos itens de cada dimensão: muito insatisfatório (0 a 20%), insatisfatório (21 a 40%), regular (41 a 60%), satisfatório (61 a 80%) e muito satisfatório (80 a 100%).

Realizou-se análise de concordância entre os especialistas através do teste de kappa de Fleiss. Considerando a variação de zero a um, onde K<0,20 a concordância é muito fraca; 0,21≤K≤0,40 a concordância é fraca; 0,41≤K≤0,60 a concordância é moderada; 0,61≤K≤0,80 a concordância é boa; e ≥0,81 a concordância é muito boa¹⁷.

Para análise dos dados foi realizado o cálculo do Índice de Validade de Conteúdo (IVC), que demonstra a congruência dos especialistas por meio da concordância sobre os aspectos avaliados. Foram calculados o Item-level Content Validity Index (I-CVI), correspondente à quantidade de especialistas que atribuíram 3 (bastante relevante) ou 4 (altamente relevante) a determinado item dividido pelo número total de especialistas, considerando excelente o índice maior ou igual a 0,78)¹⁸; e o alfa de Cronbach, para análise da consistência interna do instrumento, com valor desejado maior ou igual a 0,700¹⁹.

Aspectos éticos

O projeto foi submetido e apreciado por Comitê de Ética em Pesquisa, sob parecer n. 4.205.242. Preocupou-se em seguir as normativas nacionais e internacionais da pesquisa envolvendo seres humanos em todas as etapas do estudo. Utilizou-se do termo de assentimento direcionados aos adolescentes, assegurando a autonomia destes em firmarem o interesse em contribuir com o estudo, e Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, para os pais e/ou responsáveis por estes. No preenchimento do formulário online foi disponibilizada opção para atestar a concordância em participar do estudo e contato para encaminhar cópia digitalizada do TCLE devidamente preenchido e assinado.

Resultados

O estudo realizado obteve como resultado a construção e validação de um podcast com quatro episódios sobre saúde sexual e reprodutiva voltado a adolescentes, nomeado Coisa de Adolescente.

O uso dos itinerários do Círculo de Cultura contribuiu para assegurar a participação dos adolescentes nos momentos de teorização, roteirização e gravação dos episódios. Na investigação do universo vocabular, buscou-se aproximação com os termos utilizados pelos adolescentes para descrição de aspectos pertinentes à saúde sexual e reprodutiva, tais como “a menstruação desceu” e “pegar doença”, referindo-se à menstruação e adoecimento por infecção sexualmente transmissível, respectivamente.

Avançando, a partir dos temas e palavras geradoras codificadas e decodificadas, houve o intento de utilizar nos episódios situações, espaços e preferências comuns às realidades dos participantes. Dentre estas pode-se pontuar o encontro entre os jovens em praças da cidade, o predomínio de atividades educativas na escola e unidade básica de saúde conduzidas por meio de palestras e o contato dos adolescentes com informações em saúde por meio de mídias digitais, tais como transmissões ao vivo em redes sociais.

Para a problematização das temáticas que emergiam ao primeiro encontro, propunha-se a exploração de cada tema em específico, por meio de processo dialógico. Esta problematização foi essencial para fortalecimento da compreensão dos participantes sobre as singularidades do tema discutido e sua representação no roteiro do episódio.

Na identificação das temáticas e dos tipos de tecnologias utilizadas, por meio de revisão da literatura, reconheceu-se em 19 estudos que utilizaram ferramentas para promoção da saúde de adolescentes a contemplação de temáticas relativas à saúde sexual e reprodutiva em nove destes (47,36%). Quanto as tecnologias utilizadas, os aplicativos digitais prevaleceram, correspondendo a nove dos estudos (47,36%). Também foram identificadas tecnologias impressas, como jogos e história em quadrinhos, e propostas de ação, como peças teatrais. Não foi reconhecido uso de podcast para educação em saúde do público adolescente.

Quanto ao conhecimento e atitudes de adolescentes sobre saúde sexual e reprodutiva, participaram desta fase 60 adolescentes, com idade média de 17 anos (DP=2,45), em sua maioria pardos (66,7%), do sexo feminino (61,7%), católicos (40%) e solteiros (83,3%).

A principal fonte de informações utilizada pelos adolescentes foi a mídia/internet/televisor (43,3%). A maior parte dos participantes relatou conhecer as IST HIV/AIDS (90%), Papiloma Vírus Humano (HPV) (75%), Herpes (61,7%) e Sífilis (61,7%). O conhecimento mostrou-se limitado quanto a Donovanose e Cancro e 8,3% dos participantes revelou não conhecer nenhuma das infecções listadas.

Sobre os métodos contraceptivos, 85% conhece o preservativo, 80% os métodos hormonais e 33,3% os métodos naturais, como o coito interrompido e a tabelinha. Entretanto, apenas 53,3% afirma utilizar preservativos em suas relações. Dentre as situações apontadas nas quais não se faz seu uso encontram-se parceria fixa (46,7%), estar sem o preservativo no momento (10%) e ter relações com uma pessoa conhecida (8,3%).

O escore global do Questionário de Conhecimento sobre Sexualidade para a amostra foi satisfatório, com 79,3% de acertos. Entretanto, identificou-se níveis insatisfatórios sobre a testagem de HIV e aconselhamento sobre sexualidade na escola. Ademais, os itens sobre primeira relação sexual e práticas sexuais, relação da influência do uso de álcool sobre a percepção nos comportamentos sexuais, gravidez no contato sexual com penetração desprotegido e transmissão do HIV, obtiveram nível de conhecimento regular. Assim sendo, os temas listados mostraram-se relevantes à abordagem para empoderamento adolescente.

Realizado o levantamento das necessidades de conhecimento dos adolescentes, deu-se início a etapa de elaboração da tecnologia educativa. A captação dos adolescentes foi realizada pela rede social Whatsapp ^® e através dos discentes extensionistas do Projeto de Extensão Coisa de Adolescente. Cinco adolescentes se dispuseram a participar de todas as etapas da construção do podcast educacional.

A construção da tecnologia envolveu a capacitação dos participantes quanto ao podcast e seu uso, etapas de produção e peça radiofônica. Foram eleitas quatro temáticas para a produção de quatro episódios: Sexo e Sexualidade; Métodos Contraceptivos; HIV/AIDS e Outras IST. A interpretação de cada personagem nos episódios criados, bem como os nomes fictícios a eles atribuídos, foi de autoria dos próprios estudantes. Após a construção, os grupos enviaram via e-mail os roteiros prontos para o professor-orientador, objetivando o alinhamento das questões técnicas acerca das informações abordadas. A Figura 1 sumariza as principais características dos episódios gravados.

Figura 1
Síntese dos episódios do podcast Coisa de Adolescente. Iguatu, CE, Brasil, 2021

*HIV/AIDS = Vírus da Imunodeficiência Humana/Síndrome da Imunodeficiência Adquirida; †IST = Infecções Sexualmente Transmissíveis; ‡HPV = Papilomavírus Humano

Antes da gravação do material foram realizadas orientações quanto às técnicas de gravação, testagem do áudio de cada participante, bem como foi feita uma primeira leitura do roteiro simulando a gravação do podcast para que cada participante pudesse se adaptar e incorporar o personagem, como também para ajustar a linguagem e o conteúdo oferecido.

Os episódios têm entre 8 e 11 minutos de duração, com o intuito de manter a atenção dos espectadores, contribuindo assim para o aprendizado do público-alvo.

A etapa de validação de conteúdo contou com a participação de 11 especialistas com graduação em enfermagem, sendo destes oito mulheres. Quanto a atuação profissional, todos apresentaram experiência na área de Saúde pública/Saúde coletiva e 63,3% na Educação em saúde/Promoção da Saúde. Dentre os participantes, 81,1% têm experiência em docência, seguidos de experiências na assistência (36,3%) e pesquisa (18,1%). Nenhum dos especialistas apresentou experiência em gestão. Todos os participantes eram mestres, sendo suas áreas de estudo nas dissertações: Educação em Saúde/Promoção da Saúde 63,3%, Saúde Pública/Saúde Coletiva (81,8%) e Mídias Digitais/Tecnologia na Educação (36,3%).

O teste de kappa de Fleiss mostrou que há uma confiabilidade moderada entre os especialistas (K=0,58 [IC95%: 0,019-0,97]; z=2,938; p<0,05).

A média do I-CVI para o podcast educacional foi de 0,87. Quanto a relevância dos itens, expressa pelo cálculo do I-CVI, que equivale à quantidade de especialistas que concordarem ou concordarem totalmente com determinado item, constata-se que o valor do I-CVI foi maior do que 0,78 na maioria dos itens avaliados, exceto para os itens 4,1, 4.3 e 4.5 (Tabela 1).

A consistência interna dos itens avaliados foi considerada satisfatória, sendo o alfa de Cronbach 0,951 para o instrumento utilizado.

Tabela 1
Índice de validade dos itens e alfa de Cronbach quanto ao conteúdo, funcionalidade, aparência e ambiente sonoro do podcast Coisa de Adolescente. Iguatu, CE, Brasil, 2021

Itens avaliados	I-CVI*	Alfa de Cronbach
1. Conteúdo
1.1 O conteúdo atende uma possível situação de educação em saúde.	1,00	0,954
1.2 O conteúdo é coerente com uma prática educacional em saúde.	1,00	0,886
1.3 O conteúdo é relevante para educação em saúde.	1,00	0,954
1.4 O podcast mostra aspectos culturais da realidade da população sobre saúde sexual e reprodutiva.	0,82	0,795
1.5 O podcast consegue transmitir informação educacional em saúde para diferentes públicos.	1,00	0,909
1.6 O podcast é esclarecedor sobre saúde sexual e reprodutiva.	1,00	0,886
1.7 O conteúdo é claro e objetivo.	1,00	0,886
1.8 O gênero peça radiofônica auxiliou na transmissão do conteúdo.	1,00	0,931
2. Funcionalidade
2.1 O podcast é fácil de ser acessado.	1,00	0,909
2.2 A abertura do podcast chama a atenção de quem está ouvindo e indica o conteúdo do material.	1,00	0,954
2.3 A linguagem utilizada está compatível com um material educacional.	1,00	0,886
2.4 O podcast é adequado para difusão de material educacional em saúde.	1,00	0,954
2.5 O tempo do podcast é coerente.	1,00	0,909
2.6 O formato da dramatização auxiliou na compreensão do conteúdo.	1,00	0,795
3. Aparência
3.1 O título chama a atenção do ouvinte.	1,00	0,840
3.2 O título é coerente com o conteúdo.	1,00	0,954
3.3 A duração do podcast é satisfatória para fornecer conhecimento sobre saúde sexual e reprodutiva.	1,00	0,840
3.4 O formato de peça radiofônica motiva a ouvir o podcast.	1,00	0,886
3.5 O conteúdo e a história apresentadas incentivam a conhecer/entender sobre saúde sexual e reprodutiva.	1,00	0,886
3.6 As cenas são simples e claras e abordam o conhecimento sobre saúde sexual e reprodutiva.	1,00	0,954
3.7 Existe lógica na sequência da narrativa.	0,82	0,863
3.8 O ouvinte é incentivado a prosseguir a audição do conteúdo até o final.	1,00	0,863
3.9 A formulação dos diálogos é atrativa e não cansativa.	1,00	0,840
4. Ambiente Sonoro
4.1 Os cenários e personagens são atraentes e identificáveis pela voz (locução) e pelos efeitos sonoros utilizados.	0,73	0,704
4.2 Os efeitos sonoros, o tipo de locução e as trilhas sonoras selecionadas facilitam o entendimento do podcast.	0,82	0,795
4.3 É fácil perceber a mudança de personagem pelo tom da voz e tipo de locução.	0,73	0,772
4.4 É fácil perceber a mudança de ambiente pelos efeitos sonoros utilizados.	0,82	0,818
4.5 Os personagens estão bem caracterizados pelo tom de voz (locução) e pelos efeitos sonoros utilizados.	0,73	0,750
4.6 A trilha/efeitos sonoros auxiliou no entendimento do conteúdo.	1,00	0,886
4.7 A trilha/efeitos sonoros auxiliou na ambientação dos espaços.	0,82	0,840

• *I-CVI = Item-level Content Validity Index

Atentou-se para as recomendações dos especialistas, principalmente quanto ao ambiente sonoro, dimensão com menores índices de concordância, realizando as devidas adequações. As sugestões dos especialistas, modificações realizadas e impressões à avaliação estão descritas na Figura 2.

Após esta etapa, os episódios foram disponibilizados em diversas plataformas digitais (Deezer, Google Podcasts, Anchor, Amazon Music, Pocket Casts, Breaker, Spotify, Overcast, Apple Podcasts) para apreciação e download, onde o público possa ter acesso ao material de forma gratuita, bem como para uso por profissionais de saúde na educação da comunidade.

Figura 2
Sugestões dos especialistas e modificações realizadas no podcast. Iguatu, CE, Brasil, 2021

Discussão

O podcast tem se popularizado enquanto tecnologia educacional assíncrona devido a sua facilidade de uso, praticidade, conveniência e repetibilidade em relação a métodos didáticos tradicionais, capaz de conduzir inúmeras informações, uma vez que o ouvinte só necessita de um aparelho que permita a reprodução do áudio²⁰. Nos Estados Unidos, por exemplo, em 2019, 51% da população com mais de 12 anos ouviu podcasts²¹.

Nessa perspectiva, o podcast Coisa de Adolescente foi desenvolvido com o intuito de orientar adolescentes quanto a temáticas pertinentes a saúde sexual e reprodutiva de modo adequado à realidade, assegurando seu envolvimento em todo o processo e proporcionando educação contínua, com acesso ao conteúdo em qualquer hora e lugar.

O podcast é uma ferramenta de comunicação que permite ao transmissor a possibilidade de disseminar materiais educativos de temáticas necessárias à comunidade em formato de episódios de áudio, aumentando sua eficiência ao permitir que os usuários executem outras atividades enquanto usufrutuam de seu conteúdo²⁰. Com a inserção das Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (TDIC) no dia-a-dia dos adolescentes e jovens, os podcasts ganham cada vez mais espaço nos meios de aprendizagem, seja o escolar ou nos serviços de saúde.

Os adolescentes tornam-se público de ações educativas com temáticas de saúde por mostrarem vulnerabilidades, atreladas à própria fase da vida, que favorecem a uma maior predisposição a agravos. Cabe enfatizar que fatores como dificuldades no convívio familiar, contato com a violência, condições religiosas e culturais, baixo/falta de incentivo à educação e curiosidade em vivenciar riscos, viabilizam uma maior possibilidade de adquirir IST e/ou uma gravidez indesejada²².

Estudo realizado em escolas públicas em Recife e Olinda (PE) aponta que os profissionais de saúde e educação utilizam recursos tecnológicos enquanto diferenciais nas ações educativas sobre saúde sexual e reprodutiva, uma vez que aproximam o educador do educando, formando uma rede de apoio mais próxima e participativa em um assunto tão sensível a essa fase. A inovação na abordagem da saúde sexual e reprodutiva é relevante, posto o uso cotidiano de tecnologias pelos adolescentes²³.

O processo de gravar e escutar a si mesmo e aos colegas no desenvolvimento do podcast proporciona maior consolidação do conhecimento quando em comparação com a leitura de materiais sobre o mesmo tema. A construção da tecnologia demanda do indivíduo envolto, neste caso adolescentes e discentes de enfermagem, um maior empenho e análise da temática apresentada, ampliando a participação destes na produção de conhecimentos e desenvolvendo uma aprendizagem mais significativa e participativa²⁴.

De modo hodierno, o podcast ganha destaque na função de partilhar conhecimentos em diversas possibilidades e favorecer aos educadores e profissionais da saúde um melhor desenvolvimento no processo de ensino-aprendizagem nas atividades educativas. Isso deve-se a suas características incentivadoras quando inseridos em atividades didáticas, visto que além da oportunidade de inserir um tema de forma contextualizada, motiva nos ouvintes debates de assuntos disciplinares ou interdisciplinares²⁵.

Nessa perspectiva, a abordagem de assuntos sobre saúde sexual e reprodutiva no formato de peça radiofônica é oportuna para que os adolescentes possam imaginar e vivenciar as cenas transmitidas, encontrando reconhecimento contextual e ancorando-se para dar significado ao processo de aprendizagem. A motivação para ouvir podcast relaciona-se à interação convergente de recursos de humor e abordagem teórica²⁶.

Falar sobre saúde sexual e reprodutiva exige do facilitador postura e clareza diante das abordagens, de forma que traga situações cotidianas do público, visto que, quanto mais próximo estiver o tema da realidade, mais fácil será a compreensão dos adolescentes e a segurança em manifestar-se. Assim, ao sugerir o uso de uma ferramenta que é componente do dia a dia do adolescente, o educador deve mostrar-se disponível para a produção de um vínculo com esse público²⁷.

Estudo com uso de podcasts na educação médica revelou simultaneidade contributiva: os produtores de conteúdo o utilizavam para promulgar e difundir conhecimentos, ao passo que os ouvintes se apropriavam desse conteúdo para empoderar-se e serem capazes de melhor elaborar suas dúvidas²⁶. Desvela-se o potencial contributivo para ambas as partes envolvidas no desenvolvimento e consumo de um podcast.

Em razão dos adolescentes começarem a vida sexual de forma precoce, é importante a capacitação pessoal com a inserção deste tema antecedendo o início das práticas sexuais. Para que seus efeitos sejam potencializados com maiores chances de aplicabilidade na vida dos indivíduos, as ações educativas devem indagar situações concretas de vida de forma a possibilitar pensamentos críticos que colaborem para reflexões de mudanças da realidade²⁷.

A educação sexual, quando desenvolvida antes do início da atividade sexual, pode contribuir na conscientização da prática do sexo seguro. Com isso, é imprescindível oportunizar espaços para reflexões a respeitos dos comportamentos sexuais de modo a reduzir a exposição aos agravos²⁷.

No período de execução deste estudo, a população brasileira estava orientada a manter distanciamento social, com modificação nas rotinas e formas de organização e ação social, impostas pela situação epidemiológica e sanitária pela COVID-19. Essas modificações nos modos de pensar e agir intentou adaptações nas ações educativas escolares e de saúde. Nessa perspectiva, urge a necessidade de oportunizar ferramentas digitais para a aprendizagem, nelas inclusas a educação em saúde, materializando-se o podcast enquanto ferramenta favorável ao prosseguimento da aprendizagem, dado que por meio de sua linguagem permite a compreensão de intervenções verbais e não-verbais²⁰.

A utilização desse tipo de conteúdo em ações educativas mostra-se como recurso efetivo na construção do conhecimento, visto que podem ser facilmente utilizados em movimento, integrando-se ao espaço pessoal, de tempo e de conteúdo²⁸. No entanto, envolver os estudantes também no processo de produção é tão importante quanto a entrega do material pronto, pois estes adquirem papel de protagonista do processo, exercendo seu empoderamento e autonomia, bem como fortalecendo sua confiança para atividades futuras²⁴.

Nesse estudo, a consistência interna para resposta dos especialistas variou de 0,704 a 0,954, revelando que as informações contidas no material educacional são coerentes e válidas para serem usadas pelo público-alvo. Valores semelhantes foram identificados em estudos de validação, tais como estudos de jogos sobre sexualidade direcionado à adolescentes, onde o alfa de Cronbach variou de 0,79²⁹ a 0,88³⁰.

As sugestões e críticas dos especialistas possibilitaram olhar externo e sem viés de pesquisador para o processo desenvolvido, permitindo o redirecionar da proposta para melhor se adequar ao objetivo.

Como limitações deste estudo, pontua-se a priorização das temáticas trabalhadas conforme levantamentos prévios do conhecimento dos adolescentes e duração dos episódios, não contemplando-as em profundidade. Para tanto, seria necessário a produção de novos episódios. Pontua-se ainda a restrição de acesso do conteúdo para pessoas com deficiência auditiva, com vias alternativas de solução a partir da disponibilização dos roteiros de gravação. Por fim, a ausência de estudos com propósitos semelhantes a esse na literatura reduz o seu potencial comparativo com outras realidades. Mostra-se relevante a avaliação de usabilidade desta ferramenta junto à adolescentes.

Este estudo implica avanços para a enfermagem e promoção da saúde por propor o uso inovador do podcast na abordagem de temas afins à saúde sexual e reprodutiva de adolescentes, construída com base na literatura científica e necessidades de conhecimento do público-alvo e assegurando a participação deste no seu desenvolvimento. Os resultados contribuem para o processo de educação em saúde a partir do uso do podcast em espaços de promoção da saúde, como a escola e Unidade Básica de Saúde (UBS), bem como uso autoinstrucional pelos adolescentes. Seu caráter inovador desvela-se ainda frente ao pouco uso de podcasts na educação em áreas além da medicina, e pela adequação de sua linguagem ao público adolescente, ampliando sua usabilidade e impacto enquanto recurso educacional para aprendizagem.

Conclusão

Este estudo apresentou a construção e validação do podcast educacional Coisa de Adolescente para uso como ferramenta educativa para promoção da saúde sexual e reprodutiva de adolescentes, desenvolvida de forma participativa e compartilhada entre todos os indivíduos envolvidos. Sua validação por um corpo de especialistas reforça seu potencial de utilização para abordagem temática de saúde sexual e reprodutiva com adolescentes, quer seja em espaços e atuação de profissionais de saúde, como o enfermeiro, quanto pela autonomia do jovem.

A utilização do podcast como recurso educacional apresenta como vantagens: baixo custo, fácil acesso pelo smartphone, disponibilidade em qualquer horário e local, possibilidade ilimitada de repetições, além de ter uma linguagem acessível e de acordo com a realidade do público a quem é destinado. O uso do áudio de forma participativa em ações educativas ainda preserva a imagem do participante, uma vez que muitos adolescentes se negam em participar por timidez. Desta forma, o educador encontra na tecnologia educacional podcast, uma ferramenta simplificadora e dinamizadora de conteúdo, facilitando assim o processo de ensino aprendizagem na educação em saúde.

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• *
  Este artigo refere-se à chamada temática “Saúde dos adolescentes e o papel do enfermeiro”. Editado pela Universidade de São Paulo, Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Centro Colaborador da OPAS/OMS para o Desenvolvimento da Pesquisa em Enfermagem, Ribeirão Preto, SP, Brasil. A publicação deste suplemento foi apoiada pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS). Os artigos passaram pelo processo padrão de revisão por pares da revista para suplementos. As opiniões expressas neste suplemento são exclusivas dos autores e não representam as opiniões da OPAS/OMS.

• 4
  ⁴Bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), Brasil.

Editado por

Editora Associada: Maria Lúcia Zanetti

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  03 Out 2022
• Data do Fascículo
  2022

Histórico

• Recebido
  05 Maio 2022
• Aceito
  25 Jun 2022