Este artigo contribui com a pesquisa de comunicação política ao propor uma classificação ideológica de fontes informacionais de acordo com a atenção multipartidária no Brasil. Para isso, reproduzimos a metodologia de classificação da atenção midiática multipartidária no Twitter (Benkler; Faris; Roberts, 2018; Giglietto et al., 2019). Extraímos uma base de dados original de 2,95 milhões de tweets, postados entre 2019 e 2020 por 1.346 usuários. Os resultados apontam para uma realidade mais complexa do que o conceito clássico de paralelismo político descreve. A maior parte das fontes informacionais distribui sua atenção entre diversos grupos partidários. Sites insulares são menos citados e reproduzem identidades político-ideológicas mais amplas, sem alinhamento ou audiência exclusiva de um partido. Ao final, debatemos as implicações dos resultados para a teoria do paralelismo político.
comunicação; sistema midiático híbrido; paralelismo político
Abstract
This paper contributes to political communication research by proposing an ideological classification of informational sources according to multiparty attention in Brazil. To this end, we replicate the methodology for classifying multiparty media attention on Twitter (Benkler; Faris; Roberts, 2018; Giglietto et al., 2019). We extracted an original database of 2.95 million tweets posted between 2019 and 2020 by 1,346 users. The results demonstrate a reality more complex than described by the classic concept of political parallelism. Most informational sources distribute attention among various party groups. Insular sites are less cited and reproduce broader political-ideological identities, without exclusive alignment or audience of one party. In conclusion we discuss the implications of the results for the theory of political parallelism.
communication; hybrid media system; political parallelism
Resumen
Este trabajo contribuye a la investigación en comunicación política proponiendo una clasificación ideológica de las fuentes informativas según la atención multipartidista en Brasil. Para ello, replicamos la metodología de clasificación de la atención mediática multipartidista en Twitter (Benkler; Faris; Roberts, 2018; Giglietto et al., 2019). Extrajimos una base de datos original de 2,95 millones de tuits, publicados entre 2019 y 2020 por 1.346 usuarios. Los resultados muestran una realidad más compleja de lo que describe el concepto clásico de paralelismo político. La mayoría de las fuentes informativas tienen una atención distribuida entre varios grupos partidistas. Los sitios insulares son menos citados y reproducen identidades político-ideológicas más amplias, sin alineación o audiencia exclusiva de un partido. Al final, discutimos las implicaciones de los resultados para la teoría del paralelismo político.
comunicación; sistema híbrido de medios; paralelismo político
Résumé
Cet article contribue à la recherche en communication politique en proposant une classification idéologique des sources informationnelles selon l'attention multipartite au Brésil. À cette fin, nous reproduisons la méthodologie de classification de l'attention médiatique multipartite sur Twitter (Benkler ; Faris ; Roberts, 2018 ; Giglietto et al., 2019). Nous avons extrait une base de données originale de 2,95 millions de tweets, postés entre 2019 et 2020 par 1 346 utilisateurs. Les résultats montrent une réalité plus complexe que ne le décrit le concept classique de parallélisme politique. La plupart des sources d'information ont une attention répartie entre les différents groupes de partis. Les sites insulaires sont moins cités et reproduisent des identités politico-idéologiques plus larges, sans alignement ou audience exclusive d'un parti. A la fin, nous discutons des implications des résultats pour la théorie du parallélisme politique.
communication; système médiatique hybride; parallélisme politique
Introdução
Os padrões de relacionamento entre meios de comunicação e instituições políticas experimentaram mudanças significativas nos últimos anos. Por décadas, a literatura internacional se valeu de dois modelos fundamentais para descrever essa relação. De um lado, havia o modelo do paralelismo político, do outro, o modelo do jornalismo independente. O primeiro tinha por referência central os países da Europa Ocidental e sustentava que os veículos da imprensa eram essencialmente porta-vozes de perspectivas endossadas pelos partidos políticos existentes. Considerada de um ponto de vista geral, essa situação se traduziria em um paralelismo entre veículos de imprensa e forças políticas (Blumler; Gurevitch, 1995Blumler, J. G.; Gurevitch, M. The Crisis of Public Communication. London: Routledge, 1995.; Seymour-Ure, 1974Seymour-Ure, C. The political impact of mass media. London: Constable, 1974.). Originário dos Estados Unidos, o outro modelo propõe que o jornalismo atua como uma instituição independente, comprometida com um ideal de serviço público expresso principalmente no conceito de objetividade jornalística (Cook, 1998Cook, T. E. Governing with the News: The News Media as a Political Institution. Chicago: University of Chicago Press, 1998.; Schudson, 1978Schudson, M. Discovering the News: A Social History of American Newspapers. New York: Basic Books, 1978.).
A partir da década de 1990, como consequência do processo de globalização dos meios de comunicação, o modelo de jornalismo independente dos Estados Unidos assumiu crescente influência internacional. Nesse contexto, Hallin e Mancini (2004)Hallin, D. C.; Mancini, P. Comparing media systems: Three models of media and politics. Cambridge: Cambridge University Press, 2004. apontaram uma tendência de convergência mundial em torno do modelo liberal, que tem nos Estados Unidos o seu principal referencial. Tais expectativas não se concretizaram, contudo. De fato, em certa medida, o oposto disso ocorreu, visto que a polarização política – que, segundo os autores, é característica do modelo pluralista polarizado – ganhou força em muitos países (Dalton, 2021Dalton, R. “Modeling ideological polarization in democratic party systems”. Electoral Studies, vol. 72, 102346, p.1-10, 2021. Disponível em: <https://doi.org/10.1016/j.electstud.2021.102346https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0261379421000652>. Acesso em: 29 abr. 2024.
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). Ironicamente, a lógica da polarização política ganhou contornos particularmente intensos nos Estados Unidos, especialmente após a ascensão de Donald Trump à Presidência do país (Hallin, 2019Hallin, D. C. "Mediatisation, neoliberalism and populisms: the case of Trump". Contemporary Social Science vol. 14, nº 1, p. 14-25, 2019.; Nechustai, 2018Nechustai, E. “From liberal to polarized liberal? Contemporary U.S. news in Hallin and Mancini’s typology of news systems”. The International Journal of Press/Politics, vol. 23, nº 2, p. 183–201, 2018. Disponível em: <https://journals.sagepub.com/doi/10.1177/1940161218771902>. Acesso em: 15 fev. 2024.
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). Essa polarização tem encontrado eco também no jornalismo (Yglesias, 2018Yglesias, M. “The case for Fox News studies”. Political Communication, vol. 35, nº 4, p. 681–683, 2018. Disponível em: <https://www.tandfonline.com/doi/full/10.1080/10584609.2018.1477532> Acesso em: 11 abr. 2020.
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) e tem levado o público a se isolar cada vez mais em nichos noticiosos (Stroud, 2011Stroud, N. Niche news: The politics of news choice. New York: Oxford University Press, 2011.).
Nos últimos anos, o conceito de paralelismo político adquiriu crescente visibilidade na literatura internacional (Artero, 2015Artero, J. P. Political parallelism and media coalitions in Western Europe, [online]. Reuters Institute for the Study of Journalism, University of Oxford, 2015. Disponível em: <https://reutersinstitute.politics.ox.ac.uk/our-research/political-parallelism-and-media-coalitions-western-europe>. Acesso em: 15 fev. 2024.
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; van der Pas, van der Brug; Vliegenthart, 2017), como recurso para lidar com esse cenário de polarização política. O termo também tem sido empregado para tratar da realidade brasileira (Azevedo, 2018Azevedo, F. "PT, eleições e editoriais da grande imprensa (1989-2014)". Opinião Pública, vol. 24, nº 2, p. 270-290, 2018. Disponível em: <https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/op/article/view/8653385>. Acesso em: 11 abr. 2020.
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; Pimentel; Marques, 2021Pimentel, P.; Marques, F. P. J. “De-Westernizing Media Parallelism: How Editorial Interests Unfold During Impeachment Crises”. Journalism Studies, vol. 22, nº 3, p. 282-304, 2021. Disponível em: <https://doi.org/10.1080/1461670X.2020.1867000>. Acesso em: 15 fev. 2024.
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). Como regra geral, o termo paralelismo político tem sido utilizado para retratar a relação entre partidos ou outras forças políticas e instituições midiáticas convencionais, operando principalmente no campo do impresso, rádio ou televisão. A questão que aqui se coloca é em que medida essa ferramenta teórica nos ajuda a entender as relações que se estabelecem entre agentes políticos e midiáticos em um sistema midiático híbrido, que articula essas mídias com outras, que operam com base em lógicas diversas, características do ambiente digital.
A fim de responder a esse problema, temos como objetivo geral propor um debate entre a bibliografia de paralelismo político e de sistema midiático híbrido e, como objetivo específico, replicar o modelo de classificação de atenção multipartidária no Twitter (Giglietto et al., 2019Giglietto, F., et al. “Multi-party media partisanship attention score. Estimating partisan attention of news media sources using Twitter data in the lead-up to 2018 Italian election”. Comunicazione politica, vol. 20, nº 1, p. 85-108, 2019. Disponível em: <https://www.rivisteweb.it/doi/10.3270/93030>. Acesso em: 11 abr. 2020.
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) para propor uma classificação ideológica de fontes informacionais brasileiras. Nesse sentido, visamos a investigar, do ponto de vista empírico, como simpatizantes partidários se comportam no compartilhamento de fontes de informação no Twitter.
O conceito de paralelismo político foi cunhado para analisar uma realidade caracterizada por grande estabilidade política, universo limitado de partidos políticos – muitos deles com sólidos vínculos com determinados segmentos da sociedade – e número igualmente limitado de organizações midiáticas, baseadas na imprensa, no rádio e na televisão (Blumler; Gurevitch, 1995Blumler, J. G.; Gurevitch, M. The Crisis of Public Communication. London: Routledge, 1995.; Seymour-Ure, 1974Seymour-Ure, C. The political impact of mass media. London: Constable, 1974.). A situação atual difere dessa em vários aspectos, visto que a fragmentação dos sistemas midiático e político dificulta relacionamentos estáveis entre eles (Albuquerque, 2020Albuquerque, A. Political Parallelism. In: Ornebring, H. (Org.). The Oxford Encyclopedia of Journalism Studies. Oxford: Oxford University Press, p. 1338-1351, 2020.). De um lado, há uma pulverização crescente do sistema partidário, com organizações burocráticas pouco enraizadas na sociedade e com identificação política residual (Lawson, 1988Lawson, K. When linkage fails. In: Lawson, K.; Merkl, P. (Orgs.). When parties fail: Emerging alternative organizations. Princeton: Princeton University Press, p. 14-47, 1988.). De outro lado, o advento das mídias digitais tornou o panorama midiático muito mais complexo. Em um sistema midiático híbrido, conforme denomina Chadwick (2017)Chadwick, A. The hybrid media system: Politics and power. Oxford: Oxford University Press, 2017., os custos de entrada para se tornar disseminador de conteúdo ficaram menores, e um número elevado de agentes se torna capaz de disseminar conteúdo para o público. Além disso, a natureza desses agentes ficou muito mais diversificada, já que indivíduos e todo tipo de organização social – partidos políticos, facções ou iniciativas sem identidade claramente definida – passaram a competir com as organizações midiáticas tradicionais.
Este artigo busca descrever os padrões de relacionamento entre partidos políticos e instituições midiáticas no Brasil, no contexto de um sistema midiático híbrido. Para isso, reproduzimos a metodologia de classificação da atenção midiática multipartidária no Twitter (Benkler; Faris; Roberts, 2018; Giglietto et al., 2019Giglietto, F., et al. “Multi-party media partisanship attention score. Estimating partisan attention of news media sources using Twitter data in the lead-up to 2018 Italian election”. Comunicazione politica, vol. 20, nº 1, p. 85-108, 2019. Disponível em: <https://www.rivisteweb.it/doi/10.3270/93030>. Acesso em: 11 abr. 2020.
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). Dessa forma, estudamos empiricamente as fontes informacionais citadas por grupos de simpatizantes de dezesseis partidos do Brasil. Extraímos uma base de dados original de 2,95 milhões de tweets, postados entre 2019 e 2020 por 1.346 usuários, que foram classificados de acordo com as proporções de retuites dados em contas oficiais das lideranças partidárias. Analisamos a distribuição da atenção de fontes informacionais entre as organizações políticas e no Twitter. Nesse sentido, a pesquisa contribui com a área de comunicação política, oferecendo uma proposta de classificação de fontes informacionais a partir de uma abordagem empírica do conceito de paralelismo político no sistema midiático híbrido, que analisa os padrões de compartilhamento de fontes informativas no Twitter por simpatizantes partidários.
Particularmente, este artigo se propõe a investigar em específico: a) se ocorrem correlações significativas entre grupos de simpatizantes partidários e determinados veículos informacionais no sistema midiático híbrido brasileiro; b) em qual medida há alinhamentos estáveis entre veículos informativos e os partidos políticos brasileiros e c) se é possível identificar bolhas de exposição seletiva e os fatores que condicionam sua formação.
Os resultados da análise enfatizam a baixa insularidade3 3 O conceito de insularidade é definido a partir do debate de Giglietto et al. (2019) como um modelo de distribuição de atenção multipartidária, em que fontes informacionais são citadas majoritariamente por seguidores de lideranças de apenas um partido, estando estas, portanto, em posição insular, ou seja, isoladas dos demais veículos do sistema midiático. interpartidária das fontes midiáticas, que são compartilhadas, em geral, por pessoas que seguem diversas organizações políticas, e um panorama estrutural de polarização moderada no Twitter, em que há um centro volumoso citado por ambos os polos, enquanto grupos de esquerda e de direita utilizam nichos ideológicos para compor os discursos do campo. Nesse sentido, considerando a situação de alta instabilidade política e fragmentação partidária do país, o artigo demonstra empiricamente as limitações da aplicação do conceito de paralelismo político no contexto da comunicação política digital brasileira.
O artigo está organizado em quatro seções. A primeira discute o conceito de paralelismo político e suas aplicações analíticas no contexto do sistema midiático híbrido. A segunda detalha o desenho de pesquisa, os instrumentos de coleta e as variáveis a serem analisadas. A terceira apresenta os dados que respondem às perguntas propostas. A quarta debate os achados à luz da literatura relacionada, e enfatiza como eles podem contribuir para o entendimento da comunicação política brasileira.
Fundamentos teóricos
Cunhado na década de 1970 por Seymour-Ure, 1974Seymour-Ure, C. The political impact of mass media. London: Constable, 1974., o conceito de paralelismo político descreve padrões de relacionamento estáveis entre partidos políticos, de um lado, e organizações midiáticas4 4 No argumento original de Seymour-Ure, veículos impressos. , do outro. O termo ganhou ampla circulação no meio acadêmico internacional quando Hallin e Mancini (2004)Hallin, D. C.; Mancini, P. Comparing media systems: Three models of media and politics. Cambridge: Cambridge University Press, 2004. fizeram dele uma das variáveis analíticas fundamentais do seu modelo de análise comparativa internacional. Segundo os autores, “esse tipo de conexão de um-para-um entre meios e partidos políticos está se tornando cada vez mais incomum atualmente, e onde os meios ainda se diferenciam politicamente, eles não se associam mais com partidos particulares, mas com tendências políticas gerais” (Hallin; Mancini, 2004Hallin, D. C.; Mancini, P. Comparing media systems: Three models of media and politics. Cambridge: Cambridge University Press, 2004., p. 27, tradução nossa)5 5 No original: “This kind of one-to-one connection between media and political parties is increasingly uncommon today, and where media are still differentiated politically, they more often are associated not with particular parties, but with general political tendencies” (Hallin; Mancini, 2004, p. 27). . Na visão desses autores, o paralelismo político se opõe ao modelo de jornalismo independente, que tem nos Estados Unidos o seu modelo privilegiado.
Ao fazerem do paralelismo político uma das variáveis analíticas do seu modelo comparativo de sistemas midiáticos, Hallin e Mancini (2004)Hallin, D. C.; Mancini, P. Comparing media systems: Three models of media and politics. Cambridge: Cambridge University Press, 2004. emprestam a esse conceito um status de aplicabilidade universal, de modo que toda sociedade pode ser classificada de acordo com o seu grau de paralelismo político. É possível argumentar que essa escolha deriva da natureza da amostra que os autores empregaram para formular o seu conceito. Ela inclui dezesseis países da Europa Ocidental e dois da América do Norte. Dentre esses países, apenas os Estados Unidos contam com um sistema presidencialista puro. Os demais – com a parcial exceção da França, semipresidencialista – apresentam um sistema parlamentarista. Nesse sistema, os partidos políticos têm um peso fundamental na formação do governo. Cabe notar, contudo, que, em termos globais, o sistema parlamentarista é muito menos difundido do que o presidencialista (Lijphart, 2003Lijphart, A. Modelos de Democracia. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.). No sistema presidencialista, a presença de um indivíduo à frente do Executivo diminui consideravelmente o peso que os partidos desempenham no processo de formação do governo (Samuels, 2002Samuels, D. "Presidentialized Parties: The Separation of Powers and Party Organization and Behavior". Comparative Political Studies, vol. 35, nº4, p. 461-483, 2002.). À parte disso, é importante observar que, fora do contexto da Europa Ocidental, outras instituições que não os partidos desempenham papel fundamental como organizadores das clivagens políticas. Dois exemplos, aqui, dizem respeito ao Líbano e à Nigéria. No primeiro caso, a representação política se organiza com base em clivagens confessionais (Salamey, 2009Salamey, I. "Failing Consociationalism in Lebanon and Integrative Options". International Journal of Peace Studies, vol. 14, nº 2, p. 83-105, 2009.). No segundo, clivagens étnicas desempenham papel igualmente fundamental (Ibeanu, 2000Ibeanu, O. "Ethnicity and Transition to Democracy in Nigeria: Explaining the Passing of Authoritarian Rule in Multi-ethnic Society". African Journal of Political Science, vol. 5, nº 2, p. 45-65, 2000.).
Uma perspectiva distinta sugere que o paralelismo político deve ser entendido como se referindo a uma experiência social e historicamente situada, que coincide, grosso modo, com os países da Europa Ocidental na segunda metade do século passado (Albuquerque, 2020Albuquerque, A. Political Parallelism. In: Ornebring, H. (Org.). The Oxford Encyclopedia of Journalism Studies. Oxford: Oxford University Press, p. 1338-1351, 2020.). A ideia básica que subjaz o conceito é a da simetria, o que se traduz em um padrão de complexidade ordenada: isso significa que a distribuição e características dos elementos que integram um sistema são basicamente reproduzidas em um outro. Duas variáveis são fundamentais aqui: o grau de competitividade existente nos sistemas políticos e midiáticos e o grau de estabilidade presente nas relações que eles estabelecem um com o outro. Com relação ao primeiro aspecto, o paralelismo político supõe um grau moderado de competitividade, tanto no sistema político quanto no midiático: se não existem alternativas em ambos os campos, a complexidade não se faz presente; todavia, alternativas em excesso desafiam a possibilidade de se identificar um princípio de ordem. Por outro lado, a ideia de paralelismo supõe que as relações entre determinados grupos políticos e meios de comunicação se mantêm estáveis ao longo do tempo.
Tanto do ponto de vista político quanto do midiático, o ambiente contemporâneo se tornou crescentemente fragmentado. No plano midiático, o advento de uma mídia pós broadcast e o papel central das mídias digitais na ecologia midiática criaram condições para o advento de um ambiente de alta escolha (Santos; Valenzuela, 2021Santos, M.; Valenzuela, S. Changing Media Landscapes and Political Participation. In: Grasso, M.; Giugni, M. (Orgs.). Oxford Handbook of Political Participation. Oxford: Oxford University Press, p. 841-857, 2021.; Van Aelst et al., 2017Van Aelst, P., et al. “Political communication in a high-choice media environment: a challenge for democracy?”. Annals of the International Communication Association, vol. 41, nº 1, p. 3-27, 2017. Disponível em: <https://www.tandfonline.com/doi/full/10.1080/23808985.2017.1288551>. Acesso em: 11 abr. 2020.
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; Prior, 2007), o que resultou em uma “aceleração do pluralismo” (Bimber, 1998Bimber, B. “The Internet and political transformation: Populism, community, and accelerated pluralism”. Polity, vol. 31, nº 1, p. 133–160, 1998. Disponível em: <https://www.jstor.org/stable/3235370?seq=1>. Acesso em: 15 fev. 2024.
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, p.133) e uma crescente fragmentação da audiência em nichos (Prior, 2007; Stroud, 2011Stroud, N. Niche news: The politics of news choice. New York: Oxford University Press, 2011.). Além disso, as próprias linhas editorais das organizações midiáticas se tornam menos estáveis em um sistema midiático híbrido, no qual organizações tradicionais competem com todo o tipo de novos agentes: organizações públicas e privadas; partidos políticos e suas facções; organizações de perfil indefinido, estruturadas com base na lógica do astroturfing; celebridades e indivíduos em geral.
A outra variável diz respeito à estabilidade política. O conceito de paralelismo político foi cunhado para descrever uma situação de grande estabilidade política que caracterizou a Europa Ocidental na segunda metade do século XX. A elaboração de modelos analíticos por autores como Sartori (1976)Sartori, G. Parties and Party Systems: a framework for analysis. Cambridge: Cambridge University Press, 1976. para lidar com sistemas partidários faz sentido à luz da expectativa de estabilidade que se apresentava relativamente à ordem política e partidária que se tornou senso comum no período. Ao longo da última década, contudo, a confiança na solidez e estabilidade das instituições decaiu consideravelmente e, à medida que os partidos políticos perdiam sua centralidade nos processos políticos, uma apreensão crescente se estabeleceu em relação ao colapso do centro político e à ascensão de líderes populistas e autoritários a ele associados (Levitsky; Ziblatt, 2020Levitsky, S.; Ziblatt, D. Como as Democracias Morrem. Rio de Janeiro: Zahar, 2020.; Mair, 2013Mair, P. Ruling the Void: The Hollowing of Western Democracy. Londres: Verso, 2013.).
Questionamos, assim, em que medida, essas condições se apresentam hoje no Brasil. Desde 2013, a conjuntura política nacional vem sendo marcada por episódios que provocaram mudanças no comportamento político-eleitoral. O primeiro ponto foi o ocaso do Partido dos Trabalhadores, imposto por um processo de criminalização das instituições democráticas e de judicialização da política (Engelmann, 2016Engelmann, F. “Julgar a política, condenar a democracia? Justiça e crise no Brasil”. Conjuntura Austral, vol. 7, nº 37, p. 9-16, 2016. Disponível em: <https://seer.ufrgs.br/ConjunturaAustral/article/view/66030 >. Acesso em: 11 abr. 2020.
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). De um lado, o impedimento da ex-presidente Dilma Rousseff foi marcado por uma acusação frágil de crime de responsabilidade de natureza contábil (Meyer, 2018Meyer, E. “Judges and Courts Destabilizing Constitutionalism: The Brazilian Judiciary Branch’s Political and Authoritarian Character”. German Law Journal, vol. 19, nº 4, p. 727-768, 2018. Disponível em: <https://www.cambridge.org/core/journals/german-law-journal/article/judges-and-courts-destabilizing-constitutionalism-the-brazilian-judiciary-branchs-political-and-authoritarian-character/5F9FE75C31AE0F4F7FC0736380009A21>. Acesso em: 02 mai. 2024.
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). O impeachment, utilizado como instrumento de reorganização do campo político, cassou a soberania popular manifesta nas urnas e deu início ao governo de Michel Temer. De outro, o desgaste da democracia se mostrou mais avançado pela prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em julgamento sem provas conduzido por Sérgio Moro, que assumiria o Ministério da Justiça no governo Bolsonaro (Meyer, 2018Meyer, E. “Judges and Courts Destabilizing Constitutionalism: The Brazilian Judiciary Branch’s Political and Authoritarian Character”. German Law Journal, vol. 19, nº 4, p. 727-768, 2018. Disponível em: <https://www.cambridge.org/core/journals/german-law-journal/article/judges-and-courts-destabilizing-constitutionalism-the-brazilian-judiciary-branchs-political-and-authoritarian-character/5F9FE75C31AE0F4F7FC0736380009A21>. Acesso em: 02 mai. 2024.
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).
Isso resultou em uma crise de legitimidade das instituições políticas e no surgimento de um campo de extrema-direita (Solano, 2018Solano, E. “Crise da democracia e extremismos de direita”. Análise Friedrich Ebert Stiftung, vol. 42, nº 1, p. 1-27, 2018. Disponível em: <https://library.fes.de/pdf-files/bueros/brasilien/14508.pdf>. Acesso em: 11 abr. 2020.
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). Nessa conjuntura, limitações particulares se impõem ao conceito de paralelismo político. Esse colapso provocou, portanto, o redesenho das forças políticas em plano nacional, especialmente, o esvaziamento eleitoral do PSDB e da centro-direita, em função do crescimento de uma direita autoritária e antidemocrática que se organizou em torno de Jair Bolsonaro. Com isso, o realinhamento eleitoral intensificou a fragmentação do sistema partidário, na medida em que as organizações políticas que lideravam a oposição perderam poder e a centro-direita ancorada em torno do PSDB deixou de pautar a agenda política. No campo da esquerda, porém, o PT se manteve como força hegemônica. Nesse cenário, a identidade do campo da direita passou a ser associada a uma identidade política antipetista (Borges; Vidigal, 2018Borges, A.; Vidigal, R. “Do lulismo ao antipetismo? Polarização, partidarismo e voto nas eleições presidenciais brasileiras”. Opinião Pública, vol. 24, nº 1, p. 53-89, 2018. Disponível em: <https://www.scielo.br/j/op/a/pVWZC8RnnP6d3pnQKygCPRg/>. Acesso em: 11 abr. 2020.
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). Assim, o conceito de paralelismo político apresenta limites para abordar com a situação brasileira. Do lado político, se há mais instabilidade, o sistema perde as referências anteriores que caracterizaram uma situação de competição nacional opondo PT e PSDB e ganha uma nova variável, composta pela direita autoritária com apelo massivo. Do lado midiático, esses novos sujeitos políticos são hostis à imprensa tradicional e desenvolvem seus próprios nichos radicalizados nas mídias digitais. A atuação sem modelo organizacional definido, característica peculiar desse grupo de direita (Alves, 2017Alves, M. “Campanha não oficial – A Rede Antipetista na eleição de 2014”. Revista Fronteiras– Estudos Midiáticos, vol. 19, nº 1, 2017. Disponível em: <https://www.researchgate.net/publication/317051613_Campanha_nao_oficial_-_A_Rede_Antipetista_na_eleicao_de_2014>. Acesso em: 05 mai. 2024.
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), impede a formação de consensos no campo ideológico, abrindo possibilidades para confrontos e para a fragmentação, como ilustram o afastamento do Movimento Brasil Livre e o “racha” no PSL.
O enfraquecimento das instituições políticas e democráticas dificulta, de modo mais agudo, as ligações estáveis e duradouras entre mídia e política. Se as condições básicas para essas conexões, propostas por Seymour-Ure (1974)Seymour-Ure, C. The political impact of mass media. London: Constable, 1974., já não se satisfaziam no contexto de comunicação de massa, esses pressupostos se tornam ainda mais frágeis, dados os desafios atuais do cenário brasileiro.
As aplicações do conceito de paralelismo no sistema midiático híbrido
O conceito de paralelismo político descreve relações sistêmicas entre mídia e política, enfatizando o alinhamento estável e consistente entre os partidos e a imprensa jornalística, em um ambiente de competitividade moderada. As pesquisas que aplicaram o conceito em investigações empíricas no Brasil focam especialmente no enviesamento da cobertura político-eleitoral nos jornais impressos. Azevedo (2018)Azevedo, F. "PT, eleições e editoriais da grande imprensa (1989-2014)". Opinião Pública, vol. 24, nº 2, p. 270-290, 2018. Disponível em: <https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/op/article/view/8653385>. Acesso em: 11 abr. 2020.
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argumenta que não há um jornalismo partidário de massa no sistema midiático nacional. Contudo, defende que a grande imprensa se aproxima ideologicamente de agendas liberais e conservadoras, o que se manifesta em uma posição sistematicamente antipetista nos editoriais. Ao estudar a cobertura sobre a COP-15, Lycarião e Maia (2015)Lycarião, D. Maia, R. “A COP-15 sob holofotes mediáticos: modos e níveis de intervenção política do jornalismo no sistema de mídia brasileiro”. E-Compós, vol. 18, n° 1, p. 1-17, 2015. Disponível em: <https://doi.org/10.30962/ec.1096>. Acesso em: 11 abr. 2020.
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explicam que o Jornal Nacional e a Folha de S.Paulo manifestavam posicionamentos políticos, mas não de forma partidária: “não fica comprovada a existência de um viés partidário ao modo que a variável ‘paralelismo político’ prevê” (Lycarião; Maia, 2015Lycarião, D. Maia, R. “A COP-15 sob holofotes mediáticos: modos e níveis de intervenção política do jornalismo no sistema de mídia brasileiro”. E-Compós, vol. 18, n° 1, p. 1-17, 2015. Disponível em: <https://doi.org/10.30962/ec.1096>. Acesso em: 11 abr. 2020.
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, p. 10).
No contexto de sistema midiático híbrido, com alta disponibilidade de fontes informacionais, tais procedimentos de análise de conteúdo manual enfrentam dificuldades, dado o grande volume de publicações. Além disso, a própria oferta midiática digital é distinta dos meios de massa, na medida em que possibilita a formação de nichos informacionais fortemente partidarizados, caracterizados pelo alinhamento político e pela exposição seletiva influenciada pelas preferências ideológicas (Stroud, 2011Stroud, N. Niche news: The politics of news choice. New York: Oxford University Press, 2011.). O desafio, então, é investigar os hábitos de atenção e consumo midiático em mídias sociais, contando com ampla variedade de veículos nativos digitais no Brasil, representados pela Blogosfera Progressista6 6 Por Blogosfera Progressista (BP) entendemos, neste artigo, o conjunto relativamente institucionalizado de coalização de comunicação de esquerda que atua como imprensa alternativa em relação aos conglomerados jornalísticos do país, conforme apontam Magalhães Carvalho, Albuquerque e Alves (2020). , startups jornalísticas e pelo nicho direitista.
Para resolver esse problema, pesquisas recentes vêm mudando a abordagem analítica. Em vez de analisar o conteúdo das coberturas político-eleitorais, um conjunto de autores investiga os modelos de distribuição da atenção de fontes informacionais entre atores partidários, ou seja, quais veículos de mídia são compartilhados pelos perfis de simpatizantes partidários nas plataformas. Em análise do ecossistema midiático no Twitter, durante a eleição estadunidense de 2016, Benkler, Faris e Roberts (2018) evidenciaram que o posicionamento ideológico dos perfis influencia as menções às notícias. Eles criaram o “score de atenção midiática partidária” para mensurar automaticamente a inclinação ideológica de veículos noticiosos, com base nas fontes retuitadas por perfis alinhados aos partidos Democrata ou Republicano. Dessa forma, o construto teórico enfatiza a polarização da audiência na seleção e disseminação de sites jornalísticos. Resultados mostraram uma fratura político-midiática: entre seguidores de Hillary Clinton, mais da metade replicaram notícias de veículos classificados na pesquisa como liberais, enquanto, entre os de Donald Trump, 2/3 retuitaram links republicanos.
Contudo, essa metodologia foi desenvolvida para o contexto estadunidense e apresentaria limitações em sistemas políticos com outras configurações. Assim, Giglietto et al. (2019)Giglietto, F., et al. “Multi-party media partisanship attention score. Estimating partisan attention of news media sources using Twitter data in the lead-up to 2018 Italian election”. Comunicazione politica, vol. 20, nº 1, p. 85-108, 2019. Disponível em: <https://www.rivisteweb.it/doi/10.3270/93030>. Acesso em: 11 abr. 2020.
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criaram o score de atenção midiática multipartidária para aplicação no contexto italiano. Na proposta, os autores operacionalizaram a insularidade da citação de fontes noticiosas como uma das facetas que compõem o paralelismo político, ou seja, veículos que recebem atenção majoritariamente de simpatizantes de um partido nas mídias sociais. Nessa pesquisa, eles apontaram um cenário de paralelismo político parcial, considerando que somente 20% das fontes noticiosas foram aferidas como altamente insulares.
Procedimentos metodológicos
O desenho desta pesquisa replica os procedimentos metodológicos propostos por Benkler, Faris e Roberts (2018) para aferir o partidarismo na disseminação de fontes informacionais, particularmente, a adaptação realizada por Giglietto et al. (2019)Giglietto, F., et al. “Multi-party media partisanship attention score. Estimating partisan attention of news media sources using Twitter data in the lead-up to 2018 Italian election”. Comunicazione politica, vol. 20, nº 1, p. 85-108, 2019. Disponível em: <https://www.rivisteweb.it/doi/10.3270/93030>. Acesso em: 11 abr. 2020.
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para sistemas políticos multipartidários. A abordagem possui duas etapas principais: a primeira classifica o grau de partidarismo de perfis no Twitter; a segunda analisa quais fontes informacionais7
7
Por fontes informacionais, este artigo entende e operacionaliza a fonte do website citada na publicação por meio de uma URL no texto do tweet.
esses usuários compartilham em suas contas. Com isso, construímos o Score de Atenção Midiática Multipartidária, seguindo as instruções de código de replicação em linguagem estatística R, escrito por Giglietto et al. (2019)Giglietto, F., et al. “Multi-party media partisanship attention score. Estimating partisan attention of news media sources using Twitter data in the lead-up to 2018 Italian election”. Comunicazione politica, vol. 20, nº 1, p. 85-108, 2019. Disponível em: <https://www.rivisteweb.it/doi/10.3270/93030>. Acesso em: 11 abr. 2020.
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. A metodologia apresenta um ganho analítico ao investigar a circulação de links informacionais do ponto de vista relacional, levando em consideração um amplo espectro de lideranças e simpatizantes partidários em uma democracia marcada pela fragmentação da representação política. Na sequência, explicamos detalhadamente a composição do banco de dados dessa pesquisa e a execução das categorizações e aferições.
O primeiro passo foi listar perfis partidários no Twitter que tivessem atualização frequente e interação nos últimos meses. Para isso, fizemos um recorte dos partidos que elegeram mais de sete8
8
Inicialmente, utilizaríamos o corte de 11 deputados federais eleitos em 2018 para seguir o critério de desempenho necessário para atingir a cláusula de barreira para acesso ao Fundo Partidário. Durante a coleta, optamos por reduzir o valor limítrofe para sete a fim de adicionar também PTB, PSOL, PCdoB, PSC, PROS, Cidadania e Novo, por entender que poderiam enriquecer a análise final.
deputados federais na eleição de 2018 e compusemos uma lista ou da conta do partido ou da liderança partidária9
9
Como as etapas posteriores dependem de a conta ser retuitada, se o perfil oficial do partido não estava atualizado ou não tinha RTs (retuítes), optou-se por selecionar uma liderança partidária, entendida como o presidente do partido ou liderança no Congresso Nacional. Nessa etapa, PP, PSD, PTB e PR foram excluídos da amostra por não se encaixarem nos requisitos mínimos da pesquisa, isto é, os perfis utilizados não tiveram RTs suficientes para identificar usuários partidários. A lista completa está disponível em: <https://figshare.com/s/68cb90d16844651011d5>.
. Seguindo os critérios, chegamos a 16 partidos brasileiros: Aliança pelo Brasil10
10
Embora não esteja devidamente cadastrado no Tribunal Superior Eleitoral, optamos por incluir o Partido da Aliança pelo Brasil de Jair Bolsonaro por já apresentar página oficial e verificada no Twitter e para avaliar se há distinções em relação ao PSL. Isso porque a família Bolsonaro expressou a saída do PSL e pediu aos simpatizantes para deixarem de seguir contas de deputados que permaneceram no partido, como a de Joice Hasselmann.
, Cidadania, DEM, MDB, Novo, PCdoB, PDT, Podemos, PROS, PSB, PSC, PSDB, PSL, PSOL, PT, SD. A coleta de dados foi realizada durante o mês de março de 2020. Em primeiro lugar, extraímos11
11
Todas as coletas de dados realizadas para essa pesquisa ocorreram no mês de março de 2020, por meio de consultas à Rest API do Twitter, utilizando o pacote rtweet da linguagem estatística R (Kearney, 2020).
os últimos 40012
12
Esse número foi selecionado por ter se demonstrado suficiente em etapas de pré-teste da metodologia para ser uma amostra dos tweets de cada conta para a extração dos retweets, que é a métrica usada para identificar os simpatizantes dos partidos.
tweets das contas dos partidos ou de suas lideranças (n = 6.400). A metodologia de classificação ideológica de usuários no Twitter analisa, de forma relativa, a proporção de retweets que disseminam conteúdo de cada partido (Giglietto et al., 2019Giglietto, F., et al. “Multi-party media partisanship attention score. Estimating partisan attention of news media sources using Twitter data in the lead-up to 2018 Italian election”. Comunicazione politica, vol. 20, nº 1, p. 85-108, 2019. Disponível em: <https://www.rivisteweb.it/doi/10.3270/93030>. Acesso em: 11 abr. 2020.
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). Assim, baixamos os dados dos usuários que compartilharam os 6.400 tweets das lideranças partidárias e criamos uma tabela de contingência com o percentual de retweets de cada grupo. Selecionamos os 10013
13
A metodologia original utiliza cinco mil contas, mas, a fim de viabilizar computacionalmente as operações seguintes, optamos por reduzir o número para 100, valor escolhido por tornar mais executável a rotina de extração sem incorrer demasiadamente em problemas de limites de cessão de dados pela API (rate limiting).
usuários que mais propagaram mensagens das lideranças partidárias, os quais atingiram um montante de 1.34614
14
Alguns partidos apresentam engajamento muito baixo e não completaram a lista.
perfis.
Em seguida, coletamos os últimos 3.00015 15 Valor arredondado do limite dos últimos 3.200 tweets que podem ser extraídos de cada conta pela API do Twitter. tweets publicados por esses 1.346 usuários, resultando em uma base de dados de 2,95 milhões de posts. Destes, 20,1% (n = 715.401) mencionavam ao menos uma URL, que foram tratadas para manter apenas o domínio do website 16 16 Para isso, coletamos os metadados referentes às URLs expandidas contidas nas mensagens dos tweets e aplicamos uma fórmula de expressão regular para retirar caracteres indesejados do endereço. Dessa forma, o domínio extraído do link www.folha.uol.com.br/notícia é folha.uol. . Além disso, fizemos uma limpeza manual para corrigir versões textuais distintas dos mesmos links17 17 Nesse caso, identificamos versões diferentes do mesmo domínio e unificamos o texto, como folha.uol, mobile.folha.uol e folha.uol.com. e excluir fontes que não se encaixavam nos critérios dessa pesquisa, como internacionais, tecnologia, esporte, entretenimento, marcas empresariais e fontes governamentais. Por fim, também excluímos sites citados menos de 4018 18 Testamos utilizar a média de citações (M = 25,74) como valor de corte, como reportado do artigo de Gigletto et al. (2019), mas o resultado trazia muito ruído de websites muito pouco mencionados, o que demandaria maior revisão manual; a fim de evitar um método de análise de conteúdo para exclusão de sites, o que não é feito na proposta original, fizemos testes e selecionamos o corte arbitrário de 40. Destacamos que esse valor tem apenas a função de corte limítrofe da amostra de fontes informacionais a serem consideradas na análise, não impactando os resultados finais. vezes pelos usuários, chegando a uma amostra de 293 domínios únicos e 265.759 tweets que os mencionavam.
Para a aferição do score de multipartidarismo e de insularidade, reproduzimos as fórmulas matemáticas e o script criados por Giglietto et al. (2019)Giglietto, F., et al. “Multi-party media partisanship attention score. Estimating partisan attention of news media sources using Twitter data in the lead-up to 2018 Italian election”. Comunicazione politica, vol. 20, nº 1, p. 85-108, 2019. Disponível em: <https://www.rivisteweb.it/doi/10.3270/93030>. Acesso em: 11 abr. 2020.
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. A aferição gerou três variáveis, apresentadas a seguir: Score de Atenção Midiática Multipartidária: mede a distribuição dos compartilhamentos recebidos por cada fonte pela proporção de citações que recebeu dos usuários classificados em cada partido na etapa anterior. É uma tabela de contingência que informa qual a porcentagem de menções às fontes para cada grupo de simpatizantes19
19
Os dados completos podem ser acessados em: <https://figshare.com/s/582a4afbeb727cbd2c01>.
. Insularidade: mensura a concentração de citações da fonte jornalística por usuários simpatizantes dos partidos amostrados. A fórmula considera a relação entre o score máximo de atenção midiática multipartidária e o coeficiente de concentração dado pelo índice Gini (Giglietto et al., 2019Giglietto, F., et al. “Multi-party media partisanship attention score. Estimating partisan attention of news media sources using Twitter data in the lead-up to 2018 Italian election”. Comunicazione politica, vol. 20, nº 1, p. 85-108, 2019. Disponível em: <https://www.rivisteweb.it/doi/10.3270/93030>. Acesso em: 11 abr. 2020.
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, p. 94). Assim, a ideia é que uma mídia noticiosa será considerada insular se tiver seu compartilhamento realizado majoritariamente por poucos partidos, sugerindo uma segregação estrutural da rede, encapsulada em bolhas noticiosas. Por outro lado, se o site é citado por diversos grupos partidários em proporções similares, demonstra que sua circulação extrapola as fronteiras ideológicas. Nível de insularidade: transforma a medida quantitativa de insularidade, que varia de 0 a 1, em quatro categorias de acordo com a média e o desvio-padrão da variável. O nível de insularidade é uma discretização da medida quantitativa de insularidade em quatro classes, de acordo com os intervalos do desvio-padrão em relação à média (Giglietto et al., 2019Giglietto, F., et al. “Multi-party media partisanship attention score. Estimating partisan attention of news media sources using Twitter data in the lead-up to 2018 Italian election”. Comunicazione politica, vol. 20, nº 1, p. 85-108, 2019. Disponível em: <https://www.rivisteweb.it/doi/10.3270/93030>. Acesso em: 11 abr. 2020.
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, p. 94), considerando (M = 0.50 e DP = 0.216). A classe “interpartidário” representa as fontes informacionais abaixo de um desvio-padrão, ou seja, com menor insularidade e compartilhada com simpatizantes de mais de um partido.
Por fim, definimos analiticamente as fontes altamente insulares como uma fonte partidarizada, ou seja, relacionada a um determinado partido, levando em conta que a maior parte dos tweets que mencionam essa fonte foi publicada exclusivamente por um grupo de simpatizantes partidários. Portanto, os níveis de insularidade moderado e alto serão interpretados como uma aproximação analítica do conceito de paralelismo político, indicando uma seleção partidarizada da audiência.
Resultados
Apresentamos a seguir os resultados das análises conduzidas na pesquisa. Seguindo as perguntas propostas, dividimos o texto nos seguintes subitens: Insularidade da atenção midiática; Paralelismo político das fontes informacionais e Alinhamentos político-ideológicos. Ao final, discutimos os achados sob a perspectiva da literatura em ciência política e comunicação política acerca do paralelismo político.
Insularidade da atenção midiática
A investigação do grau de insularidade das fontes informacionais indica se os links são publicados preferencialmente por simpatizantes de um partido ou se são citados de forma relativamente equânime entre os grupos. O objetivo é compreender se há aderência de organizações políticas a determinados sites. Um padrão elevado de insularidade indicaria uma relação de paralelismo político estável, na medida em que evidencia ligações preferenciais entre fontes informacionais e partidos.
A Tabela 1 exibe as proporções de fontes de acordo com o nível de insularidade, considerando quantos sites foram classificados em cada um dos intervalos, e as proporções de tweets, ou seja, o volume de publicações que mencionaram as URLs nas mensagens:
Os dados demonstram que o nível de insularidade é predominantemente baixo. Entre as fontes informacionais, 14,3% são interpartidárias, ou seja, são referenciadas em porcentagens similares por diversos partidos. A maior parte das fontes (44%) é pouco segregada, isto é, recebe atenção concentrada de determinados partidos em especial, mas não o suficiente para refletir uma adesão exclusiva. Já os sites com alto nível de insularidade chegam a 15,7% da amostra investigada, a maior parte composta pelos canais oficiais dos partidos e campanhas de mobilização política. Esse valor é relativamente menor do que o reportado na Itália por Giglietto et al. (2019)Giglietto, F., et al. “Multi-party media partisanship attention score. Estimating partisan attention of news media sources using Twitter data in the lead-up to 2018 Italian election”. Comunicazione politica, vol. 20, nº 1, p. 85-108, 2019. Disponível em: <https://www.rivisteweb.it/doi/10.3270/93030>. Acesso em: 11 abr. 2020.
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, o que pode ser atribuído à particularidade brasileira de intensa fragmentação do sistema partidário. Desse modo, temos um cenário em que a menor parcela dos insumos informacionais externos ao Twitter poderia ser classificada como partidarizada do ponto de vista da audiência.
Quando se leva em conta o volume de tweets que mencionam esses links, notamos que as menores parcelas são altamente insulares. A categoria interpartidária atingiu 55,4% das publicações. Esse é um achado significativo, tendo em vista que, apesar de ser um recorte de 14,3% de websites, recebem uma atenção muito elevada no Twitter. Esse percentual cai à medida que cresce o grau de insularidade das fontes. Nesse sentido, enquanto mais de 40% das fontes apresentam nível de insularidade moderado ou alto, sua circulação corresponde a menos de 15% dos tweets que citam URLs na amostra coletada. Há uma nuance importante nesse ponto, indicando que, embora haja uma percepção exacerbada de partidarização e poluição nas mídias sociais, dados empíricos do Twitter sugerem que não há necessariamente um vácuo no centro, isto é, a maior parte da citação de fontes tem caráter interpartidário.
Interessante notar que os resultados dessa pesquisa também estão em consonância com achados de Messing, van Kessel e Hughes (2017), os quais indicaram que aproximadamente 5% dos sites são citados exclusivamente por parlamentares de apenas um dos partidos nos Estados Unidos. Essa similaridade sugere a formação residual de nichos político-midiáticos que são disseminados pelas franjas ideológicas mais afastadas no centro ideológico.
Na Tabela 2, desagregamos os dados, apresentando as fontes mais citadas e seu percentual em cada recorte do nível de insularidade:
Um padrão bem interessante emerge dessa tabela. A categoria interpartidária representa os sites jornalísticos dos veículos de comunicação de massa do Brasil. Entre eles, estão O Globo, Folha de S.Paulo, UOL, G1, Veja, Estadão, Valor Econômico e R7. Ainda que parte desses sites seja apontada pela literatura como antipetista, dado o padrão de cobertura jornalística e enquadramentos de seus conteúdos, a dinâmica de atenção e o espalhamento no Twitter demonstram que seus conteúdos circulam entre mais de um grupo de simpatizantes partidários. Cabe enfatizar que, mesmo veículos que possam ser considerados mais advocatícios ou com cobertura enviesada, como O Antagonista, revista Veja e Gazeta do Povo, não foram classificados como insulares. Isso porque, ainda que tenham linhas editoriais intervencionistas no debate político, estes não fazem disseminação de conteúdo majoritariamente ligada a apenas um partido, como ilustra o episódio de petistas e psolistas citando a capa da Veja que criticava Sérgio Moro. O Antagonista é um caso exemplar, levando-se em conta que foi a fonte mais compartilhada em grupos de WhatsApp bolsonaristas na eleição de 2018 (Piaia; Alves, 2019), mas, ao se observar o score de atenção midiática multipartidária, percebe-se que sua disseminação é bastante pulverizada. Até mesmo partidos de esquerda utilizam seus links, o que pode ser explicado por um gênero de cobertura caça cliques que atravessa as fronteiras dos partidos.
A insularidade baixa captura um estilo de sites que investem intensamente no jornalismo advocatício, ou seja, com mais comentários e intervenção no debate político. Nessa classificação, estão presentes os atores da Blogosfera Progressista, como Brasil 247, Diário do Centro do Mundo, Jornal GGN, Revista Fórum e Conversa Afiada; além de sites de direita, como Jornal da Cidade Online, República de Curitiba, Revista Crusoé, O Antagonista e Conexão Política. Esse resultado é muito revelador da fragmentação partidária brasileira, pois mesmo fontes que são abertamente ativistas políticas não são compartilhadas por simpatizantes de um partido em especial. No próximo subitem, veremos que a ligação se manifesta mais abstratamente em relação a um campo ideológico ou conjunto de ideias do que a uma organização partidária.
Indo adiante, o recorte moderado reflete um misto de sites dos partidos, como Vermelho, PSDB e PT, além de fontes dedicadas a campanhas, como segundainstancia.org e blogs de nicho, como Coturnonoturno, de linha editorial militar, e o Antropofagista, que se define como um blog ligado à esquerda. Por fim, o nível alto de insularidade contém especificamente os sites de partidos e de suas lideranças. Cabe notar como alguns sites de partidos estão classificados como nível médio de insularidade, como o psdb.org e outros marcam pontuação alta nesta métrica, como psdb.vc, o que pode sugerir graus de especificidade do conhecimento e da atenção dessas fontes de acordo com culturas políticas particulares de cada grupo de simpatizantes.
Paralelismo político e atenção midiática
O score de atenção midiática multipartidária mensura a distribuição do uso das fontes no Twitter de acordo com as citações de simpatizantes que retuitam sistematicamente os perfis oficiais das lideranças dos partidos. Nesse subitem, analisamos as dinâmicas de paralelismo político no Twitter por meio de uma abordagem centrada nas audiências. Dessa forma, questionamos se há atenção de sites jornalísticos sistematicamente concentrada em um grupo partidário em especial. Essa preferência comparativa indica um alinhamento político entre o grupo partidário e a agenda do veículo.
Na Figura 1, exibimos os resultados do score de atenção midiática das fontes consideradas de insularidade baixa. Essa escolha se justifica por se tratar de veículos com modelo de cobertura de intervenção política que tendem a ser apontados como partidarizados e associados a organizações de esquerda ou de direita.
Os dados da Figura 1 sugerem que a atenção desses sites não é concentrada preferencialmente por um grupo de simpatizantes partidários. A audiência de pelo menos quatro partidos, situados no mesmo eixo ideológico, cita as fontes de baixa insularidade. Há, portanto, uma certa homogeneidade ideológica, mas não alinhamento às organizações partidárias subjacentes. Na conjuntura brasileira, com dezenas de partidos, alta volatilidade e pouca identificação partidária, mesmo sites advocatícios, como os ligados à Blogosfera Progressista, são fonte de informação disseminada pelo público de diversos partidos. O Brasil 247, por exemplo, recebe atenção significativa de simpatizantes das organizações de esquerda, como PT, PSOL, PCdoB, PDT e PSB. Em última análise, ainda que midiativistas da BP tenham preferências políticas claras, não são instrumentos organizacionais diretos dos partidos de esquerda, mantendo certo afastamento da burocracia partidária e orbitando de acordo com as condições políticas que se apresentam no campo ideológico (Magalhães Carvalho; Albuquerque; Alves, 2020).
Um comportamento similar emerge de sites alinhados às perspectivas ideológicas autoritárias e conservadoras. O Jornal da Cidade Online, conhecido portal de notícias de direita contrário às instituições democráticas, é mencionado por Novo, Aliança pelo Brasil, Podemos, PSC e PSL. Considerando-se a baixa identidade política e representação social das organizações burocráticas de direita no Brasil, era de se esperar que sites apontados como “bolsonaristas” circulassem também por outros grupos antipetistas.
Campos ideológicos
O conceito de paralelismo político abordado neste artigo é construto distinto do conceito de polarização ideológica (Alves, 2022Alves, M. "As Flutuações de Longo Prazo da Polarização no Brasil–Análise do Compartilhamento de Informações Políticas Entre 2011 e 2019". Dados, vol. 66, nº 2, 2022. Disponível em: <https://www.scielo.br/j/dados/a/R7CjTc36wwQ8JRqJXD3qTRt/>. Acesso em: 15 fev. 2024.
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). Isso porque uma dimensão analítica é a partidarização das fontes informacionais, ou seja, a atenção midiática exclusivamente dependente de um partido, o que não captura, necessariamente, uma segunda dimensão analítica dos eixos ideológicos, o que poderia apontar o grau de polarização, sobretudo, dado o amplo universo de fontes informacionais disponíveis na internet. Dada a fragmentação do sistema multipartidário brasileiro e sua característica de pulverização ou baixa aderência ideológica, uma fonte ser compartilhada por PT, PCdoB, PDT e PSOL a classificaria com médio grau de insularidade, ao passo que não ser compartilhada por simpatizantes de partidos inclinados à direita certamente a posicionaria mais à esquerda no eixo ideológico. Assim, com a finalidade de reduzir a multidimensionalidade dos 16 partidos selecionados pelo processo metodológico, aplicamos a análise de cluster (k-means) no score de atenção midiática multipartidária para identificar se há alinhamentos ideológicos e a formação de bolhas segregadas.
A Figura 2 demonstra o resultado dos eixos identificados pelo algoritmo de cluster, seguindo as variáveis de atenção midiática:
O resultado da clusterização sugere três grandes grupos de sites informacionais no Twitter. De um lado, em verde, está um conjunto de fontes ligadas ao campo de esquerda, considerando a Blogosfera Progressista, além do The Intercept e do El País. Vale destacar que o blog de Reinaldo Azevedo está posicionado nessa categoria, o que sugere que a modificação de sua linha editorial e seu posicionamento crítico à Operação Lava Jato lhe conferiram grande circulação entre progressistas. Ao centro, em vermelho, temos o que pode ser resumido como a grande imprensa jornalística nacional, englobando jornais impressos, revistas, rádios e portais noticiosos. Do lado direito, em azul, encontram-se veículos que são disseminados preferencialmente pelos partidos que influenciam, de alguma forma, o discurso de Jair Bolsonaro. Nesse grupo, estão Revista IstoÉ, Gazeta do Povo, portal R7, O Antagonista; além de fontes abertamente adesistas, como República de Curitiba, Jornal da Cidade Online, Terça Livre e Conexão Política. Imediatamente acima, há outro cluster representado por fontes citadas pelo Movimento Brasil Livre, o que indica o afastamento entre esses grupos e a disputa pela hegemonia na direita, manifestando-se em hábitos midiáticos distintos.
Considerando que o eixo X da análise de cluster capturou analiticamente uma dimensão que se aproxima do espectro ideológico unidimensional esquerda-direita, a Figura 3 exibe o posicionamento relativo das fontes informacionais nessa linha e o tamanho das bolhas mensura a quantidade de tweets que os referenciam:
Nesse ponto, temos uma visão mais clara da relação entre polarização e insularidade da atenção midiática multipartidária. O ambiente informacional brasileiro na internet é altamente heterogêneo. Dado o alto grau de fragmentação do sistema partidário nacional, essas fontes não refletem necessariamente um alinhamento exclusivo a uma organização política. Ao contrário, há um comportamento de captura do campo ideológico de referência, de acordo com as disputas pela hegemonia do território. Assim, os resultados apontam para uma configuração específica do caso do Brasil, em que há uma polarização moderada do ponto de vista do compartilhamento de fontes no Twitter. Isso porque, diferentemente do caso estadunidense (Benkler; Faris; Roberts, 2018), o centro continua preenchido por sites jornalísticos que são muito disseminados e fazem a ponte entre os polos ideológicos. Contudo, também há dois nichos informacionais ideologicamente segregados, na esquerda e na direita, que compõem o consumo informacional de cidadãos politizados.
Assim, o conceito de paralelismo político encontra desafios para a aplicação nessa conjuntura. A instabilidade e a fragmentação do sistema político nacional e as características do sistema midiático impedem alinhamentos estáveis e simetrias de longo prazo entre mídia e política. Os dados empíricos dessa pesquisa revelam um universo com nuances e transitoriedades. Mesmo fontes que, por exemplo, foram base da militância bolsonarista em 2018, como O Antagonista e MBL News, se tornaram rapidamente adversárias no decorrer de 2019. Em geral, os fluxos de disseminação de informações nas mídias sociais e a distribuição da atenção multipartidária são difusos e não respeitam adesão formal a uma organização política. Na prática, há tensões e negociações entre esses atores pelo poder no campo ideológico, e essas dinâmicas influenciam realinhamentos e posicionamentos dos discursos e das fontes informacionais subjacentes.
Implicações teóricas
Nos últimos anos, pesquisadores têm dado conta de uma crescente polarização política em diversos países ao redor do mundo (Dalton, 2021Dalton, R. “Modeling ideological polarization in democratic party systems”. Electoral Studies, vol. 72, 102346, p.1-10, 2021. Disponível em: <https://doi.org/10.1016/j.electstud.2021.102346https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0261379421000652>. Acesso em: 29 abr. 2024.
https://doi.org/10.1016/j.electstud.2021...
; Nechustai, 2018Nechustai, E. “From liberal to polarized liberal? Contemporary U.S. news in Hallin and Mancini’s typology of news systems”. The International Journal of Press/Politics, vol. 23, nº 2, p. 183–201, 2018. Disponível em: <https://journals.sagepub.com/doi/10.1177/1940161218771902>. Acesso em: 15 fev. 2024.
https://journals.sagepub.com/doi/10.1177...
; Stroud, 2011Stroud, N. Niche news: The politics of news choice. New York: Oxford University Press, 2011.). Nesse contexto, o conceito de paralelismo político ganhou renovada popularidade como ferramenta analítica para representar a nova realidade. A questão que nos propusemos a explorar neste artigo foi em que medida esse conceito permanece válido para descrever as relações que se estabelecem atualmente entre os campos da política e da mídia. Para dar conta dela, este artigo aplicou uma abordagem focada na audiência, analisando 2,95 milhões de tweets realizados pelas contas que sistematicamente retuitaram 16 lideranças partidárias brasileiras no Twitter.
Os dados de nossa análise demonstram uma realidade mais complexa do que o conceito clássico de paralelismo político é capaz de descrever. Por um lado, a análise de cluster sugere um certo padrão de coerência ideológica na relação entre veículos midiáticos e três grandes eixos de posicionamento político: esquerda, centro e direita, assemelhando-se aos padrões de um paralelismo político menos rígido, proposto por Hallin e Mancini (2004)Hallin, D. C.; Mancini, P. Comparing media systems: Three models of media and politics. Cambridge: Cambridge University Press, 2004.. Por outro lado, quando consideramos o problema a partir de uma lógica de sintonia fina, tendo em vista as relações entre veículos e forças políticas particulares, não encontramos elementos consistentes o suficiente para caracterizar algo que se possa definir como “paralelismo político”. De fato, o sistema parece tão fragmentado que nem mesmo os veículos com identidade política mais definida – como aqueles vinculados à Blogosfera Progressista, à esquerda, ou os veículos bolsonaristas – têm atenção altamente partidarizada.
Por que isso acontece? Sugere-se, aqui, que a existência de paralelismo político – isto é, padrões de relacionamento regulares entre determinados agentes políticos e midiáticos – só é possível em circunstâncias particulares, que não se apresentam no Brasil atualmente. Por um lado, é necessário que exista um ambiente político estável, de tal modo que as posições relativamente constantes dos agentes políticos possam ser reproduzidas por agentes midiáticos. No caso brasileiro, isso não acontece por duas razões: em primeiro lugar, o cenário político se tornou crescentemente centrífugo, com um número crescente de forças políticas que incluem não apenas partidos políticos, como também lideranças políticas individuais e tipos menos formais de organização política, tais como facções de partidos ou iniciativas de astroturfing; em segundo lugar, o ambiente político brasileiro se caracteriza por uma enorme instabilidade, cujas raízes remetem ao processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff.
Por fim, o advento das mídias sociais diminuiu brutalmente os custos de entrada para os agentes interessados em se tornar veículos de comunicação pública, bem como afetou a identidade e os modos de atuação desses agentes. Nesse cenário, organizações midiáticas tradicionais – preexistentes ao advento das mídias sociais – dividem espaço com outras, nativas digitais, bem como com indivíduos e toda sorte de grupos, alguns mais institucionalizados do que outros. A consequência é um sistema com alta disponibilidade de escolha de fontes midiáticas e alinhamentos políticos cambiantes, que se redefinem de acordo com as circunstâncias de curto prazo das disputas de poder nacionais. Isso ajuda a explicar o realinhamento condicionado entre partidos de esquerda e a imprensa tradicional e os conflitos entre diferentes segmentos de suporte bolsonaristas.
O estudo possui algumas limitações a serem consideradas. O desenho metodológico replica uma abordagem internacional recente que analisa as dinâmicas de polarização política pelos hábitos midiáticos de audiências partidarizadas. Assim, não leva em conta o conteúdo semântico dos retuites, como debatido pela literatura. Outro ponto é que Bolsonaro não estava filiado a um partido durante o período da coleta de dados, o que foi pontualmente contornado utilizando perfis de lideranças pessoais e do partido que buscava construir à época, o Aliança Brasil, que, efetivamente, só foi um partido do ponto de vista de presença digital. Um caminho para pesquisas futuras seria aprofundar os achados, considerando o contexto discursivo/semântico desses compartilhamentos e as táticas de curadoria para compor narrativas políticas.
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» https://www.tandfonline.com/doi/full/10.1080/10584609.2018.1477532
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3
O conceito de insularidade é definido a partir do debate de Giglietto et al. (2019)Giglietto, F., et al. “Multi-party media partisanship attention score. Estimating partisan attention of news media sources using Twitter data in the lead-up to 2018 Italian election”. Comunicazione politica, vol. 20, nº 1, p. 85-108, 2019. Disponível em: <https://www.rivisteweb.it/doi/10.3270/93030>. Acesso em: 11 abr. 2020.
https://www.rivisteweb.it/doi/10.3270/93... como um modelo de distribuição de atenção multipartidária, em que fontes informacionais são citadas majoritariamente por seguidores de lideranças de apenas um partido, estando estas, portanto, em posição insular, ou seja, isoladas dos demais veículos do sistema midiático. -
4
No argumento original de Seymour-Ure, veículos impressos.
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5
No original: “This kind of one-to-one connection between media and political parties is increasingly uncommon today, and where media are still differentiated politically, they more often are associated not with particular parties, but with general political tendencies” (Hallin; Mancini, 2004Hallin, D. C.; Mancini, P. Comparing media systems: Three models of media and politics. Cambridge: Cambridge University Press, 2004., p. 27).
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6
Por Blogosfera Progressista (BP) entendemos, neste artigo, o conjunto relativamente institucionalizado de coalização de comunicação de esquerda que atua como imprensa alternativa em relação aos conglomerados jornalísticos do país, conforme apontam Magalhães Carvalho, Albuquerque e Alves (2020).
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7
Por fontes informacionais, este artigo entende e operacionaliza a fonte do website citada na publicação por meio de uma URL no texto do tweet.
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8
Inicialmente, utilizaríamos o corte de 11 deputados federais eleitos em 2018 para seguir o critério de desempenho necessário para atingir a cláusula de barreira para acesso ao Fundo Partidário. Durante a coleta, optamos por reduzir o valor limítrofe para sete a fim de adicionar também PTB, PSOL, PCdoB, PSC, PROS, Cidadania e Novo, por entender que poderiam enriquecer a análise final.
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9
Como as etapas posteriores dependem de a conta ser retuitada, se o perfil oficial do partido não estava atualizado ou não tinha RTs (retuítes), optou-se por selecionar uma liderança partidária, entendida como o presidente do partido ou liderança no Congresso Nacional. Nessa etapa, PP, PSD, PTB e PR foram excluídos da amostra por não se encaixarem nos requisitos mínimos da pesquisa, isto é, os perfis utilizados não tiveram RTs suficientes para identificar usuários partidários. A lista completa está disponível em: <https://figshare.com/s/68cb90d16844651011d5>.
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10
Embora não esteja devidamente cadastrado no Tribunal Superior Eleitoral, optamos por incluir o Partido da Aliança pelo Brasil de Jair Bolsonaro por já apresentar página oficial e verificada no Twitter e para avaliar se há distinções em relação ao PSL. Isso porque a família Bolsonaro expressou a saída do PSL e pediu aos simpatizantes para deixarem de seguir contas de deputados que permaneceram no partido, como a de Joice Hasselmann.
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11
Todas as coletas de dados realizadas para essa pesquisa ocorreram no mês de março de 2020, por meio de consultas à Rest API do Twitter, utilizando o pacote rtweet da linguagem estatística R (Kearney, 2020).
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Esse número foi selecionado por ter se demonstrado suficiente em etapas de pré-teste da metodologia para ser uma amostra dos tweets de cada conta para a extração dos retweets, que é a métrica usada para identificar os simpatizantes dos partidos.
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13
A metodologia original utiliza cinco mil contas, mas, a fim de viabilizar computacionalmente as operações seguintes, optamos por reduzir o número para 100, valor escolhido por tornar mais executável a rotina de extração sem incorrer demasiadamente em problemas de limites de cessão de dados pela API (rate limiting).
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14
Alguns partidos apresentam engajamento muito baixo e não completaram a lista.
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15
Valor arredondado do limite dos últimos 3.200 tweets que podem ser extraídos de cada conta pela API do Twitter.
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16
Para isso, coletamos os metadados referentes às URLs expandidas contidas nas mensagens dos tweets e aplicamos uma fórmula de expressão regular para retirar caracteres indesejados do endereço. Dessa forma, o domínio extraído do link www.folha.uol.com.br/notícia é folha.uol.
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17
Nesse caso, identificamos versões diferentes do mesmo domínio e unificamos o texto, como folha.uol, mobile.folha.uol e folha.uol.com.
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18
Testamos utilizar a média de citações (M = 25,74) como valor de corte, como reportado do artigo de Gigletto et al. (2019), mas o resultado trazia muito ruído de websites muito pouco mencionados, o que demandaria maior revisão manual; a fim de evitar um método de análise de conteúdo para exclusão de sites, o que não é feito na proposta original, fizemos testes e selecionamos o corte arbitrário de 40. Destacamos que esse valor tem apenas a função de corte limítrofe da amostra de fontes informacionais a serem consideradas na análise, não impactando os resultados finais.
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19
Os dados completos podem ser acessados em: <https://figshare.com/s/582a4afbeb727cbd2c01>.
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
10 Jun 2024 -
Data do Fascículo
2024
Histórico
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Recebido
03 Fev 2023 -
Aceito
23 Nov 2023