RESUMO
Objetivo:
Elencar possíveis alternativas no universo de opções viáveis para que as bibliotecas universitárias alcancem maior autonomia nas práticas interculturais, levando em consideração o contexto pré-globalização e pós-pandemia. No âmbito das bibliotecas universitárias, é importante adotar práticas específicas para analisar as dinâmicas interculturais e promover a interação entre indivíduos de diferentes culturas.
Método:
O método utilizado neste estudo é a pesquisa bibliográfica de caráter descritivo. Nesse sentido, sugere-se que as bibliotecas universitárias adotem estratégias para compartilhar os valores culturais de sua comunidade, a fim de criar um ambiente mais inclusivo e acolhedor.
Resultado:
Como resultado, espera-se que as iniciativas das bibliotecas universitárias permitam reconhecer e valorizar a diversidade cultural presente na comunidade acadêmica, estimulando a troca de conhecimentos e experiências entre os usuários, fomentando um diálogo intercultural e contribuindo para o desenvolvimento de um maior respeito mútuo entre indivíduos de diferentes origens. Além disso, espera-se que essas iniciativas promovam a inclusão e acessibilidade de grupos sub-representados, fortalecendo os laços entre a biblioteca e a comunidade universitária.
Conclusões:
Esta abordagem de práticas interculturais e de interculturalidade em bibliotecas universitárias tem o potencial de fortalecer a diversidade e enriquecer a atmosfera do ambiente informacional. Ao valorizar a pluralidade de perspectivas e experiências presentes na comunidade acadêmica, a biblioteca se posiciona como um espaço inclusivo e acolhedor, capaz de inspirar o compartilhamento de conhecimentos e a troca de ideias. Essa dinâmica intercultural enriquece o ecossistema informacional, estimulando a curiosidade, o respeito e o crescimento pessoal de todos os envolvidos.
PALAVRAS-CHAVE:
Práticas interculturais; Bibliotecas universitárias; Interculturalismo; Diversidade cultural
ABSTRACT
Objective:
To list possible alternatives in the universe of viable options for university libraries to achieve greater autonomy in intercultural practices, taking into account the pre-globalization and post-pandemic context. Within the scope of university libraries, it is important to adopt specific practices to analyze intercultural dynamics and promote interaction between individuals from different cultures.
Methods:
The method used in this study is descriptive bibliographic research. In this sense, it is suggested that university libraries adopt strategies to share the cultural values of their community in order to create a more inclusive and welcoming environment.
Results:
As a result, it is expected that university library initiatives will allow for the recognition and appreciation of cultural diversity present in the academic community, stimulating the exchange of knowledge and experiences among users, fostering intercultural dialogue and contributing to the development of greater mutual respect between individuals from different backgrounds. In addition, it is expected that these initiatives will promote the inclusion and accessibility of underrepresented groups, strengthening ties between the library and the university community.
Conclusions:
This approach to intercultural practices and interculturality in university libraries has the potential to strengthen diversity and enrich the atmosphere of the information environment. By valuing the plurality of perspectives and experiences present in the academic community, the library positions itself as an inclusive and welcoming space, capable of inspiring the sharing of knowledge and the exchange of ideas. This intercultural dynamic enriches the information ecosystem, stimulating curiosity, respect and personal growth in all involved.
KEYWORDS:
Intercultural practices; University libraries; Interculturalism; Cultural diversity
1 INTRODUÇÃO
A biblioteca desempenha um papel crucial na sociedade, preservando o patrimônio cultural e disponibilizando informações valiosas. No atual cenário, é essencial que as bibliotecas se adaptem, ampliando suas funções e buscando inovações que impactem positivamente a vida das pessoas. Segundo Valentim (2016VALENTIM, Marta Lígia Pomim. O perfil das bibliotecas contemporâneas. In: RIBEIRO, Anna Carolina Mendonça Lemos; FERREIRA, Pedro Cavalcanti Gonçalves (orgs.). Biblioteca do século XXI: desafios e perspectivas. Brasília : Ipea, 2016.), o contexto econômico, social e tecnológico exige mudanças substanciais na forma como as bibliotecas funcionam. Eles precisam ampliar seus papéis, bem como suas responsabilidades, inovando-se constantemente para mudanças efetivas na realidade que cerca as pessoas.
O conceito de "interculturalidade" refere-se à promoção de interações e trocas entre pessoas de diversas culturas, fortalecendo a identidade social e valorizando as diferenças culturais. Portanto, as bibliotecas universitárias, ao reconhecerem e valorizarem essas diferenças, podem se esforçar por construir uma coexistência harmoniosa e inclusiva, baseada em valores compartilhados de respeito, tolerância e igualdade.
Criar espaços propícios para que a comunidade acadêmica aprenda a lidar construtivamente com as diferenças culturais é crucial para promover uma sociedade diversificada e inclusiva. Isso exige um compromisso contínuo com o diálogo intercultural, a educação e o reforço dos valores fundamentais da democracia e da justiça social.
Ao abraçar a diversidade e envolver-se em conversas significativas, as bibliotecas universitárias podem contribuir para a construção de uma comunidade global mais unida e equitativa, baseada no respeito mútuo e na empatia em seus espaços informacionais.
A implementação de práticas interculturais nas bibliotecas universitárias é de extrema importância para promover a diversidade e a inclusão no ambiente acadêmico. Essas práticas envolvem a valorização e o respeito às diferentes culturas da comunidade universitária, criando um espaço acolhedor e acessível a todos os estudantes. Isso pode ser alcançado por meio do fornecimento de materiais e recursos que representam diversas culturas, da organização de eventos e atividades que incentivem o intercâmbio de conhecimentos entre estudantes de diversas origens, bem como da formação de profissionais de biblioteca para abordarem as necessidades dos usuários de forma inclusiva. As práticas interculturais também podem envolver parcerias com outras instituições ou organizações que trabalham para promover objetivos de diversidade, expandindo o seu alcance de impacto através da cooperação mútua.
É importante entender que a diversidade cultural não surge de diferenças biológicas inerentes entre os grupos humanos, mas sim da adaptação e evolução das práticas e significados culturais em diferentes contextos ambientais e sociais. Em outras palavras, os seres humanos desenvolvem modos de fazer e significados distintos em resposta às condições específicas de seus ambientes e experiências históricas.
Após a pandemia, a desigualdade social e o acesso à informação confiável foram ainda mais acentuados. Candau (2016CANDAU, Vera Maria. “Ideias-força” do pensamento de Boaventura Sousa Santos e a educação intercultural. In: CANDAU, Vera Maria (org.). Interculturalizar, descolonizar, democratizar: uma educação “outra”?. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2016. p. 76-96. Disponível em: https://educacaoonline.edu.puc-rio.br/index.php/eduonline/article/download/286/pdf/1068. Acesso em 10 jun. 2024.
https://educacaoonline.edu.puc-rio.br/in...
) destaca a importância de abordar as questões interculturais como um elemento essencial, uma ferramenta estratégica que contribui para fortalecer a coesão social, minimizar conflitos e facilitar a integração de grupos marginalizados na cultura dominante. Nesse sentido, as bibliotecas universitárias desempenham um papel fundamental, pois são essenciais para a disseminação de informações confiáveis. Portanto, essas instituições devem criar novos serviços, desenvolver coleções e garantir a acessibilidade a fontes de diversas culturas e idiomas.
A autora ainda defende uma perspectiva intercultural na educação, reconhecendo o "outro" e promovendo o diálogo entre grupos socioculturais. O ensino da negociação cultural é importante devido às desigualdades de poder existentes na sociedade (Candau, 2008CANDAU, Vera Maria. Multiculturalismo e educação: desafios para a prática pedagógica. In: MOREIRA, Antonio Flávio; CANDAU, Vera Maria (orgs). Multiculturalismo: diferenças e práticas pedagógicas. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.). Essa abordagem visa promover uma maior compreensão e respeito mútuo entre as diferentes culturas presentes no ambiente universitário, contribuindo para a construção de uma comunidade mais inclusiva e equitativa.
Algumas questões importantes a serem abordadas incluem: como reestruturar as bibliotecas universitárias de forma mais inclusiva após a pandemia? Como a desigualdade social afeta a diversidade cultural? De que maneira as bibliotecas podem incorporar verdadeiramente uma abordagem intercultural?
Além disso, este texto busca identificar temas que contribuam para a literatura sobre interculturalidade em bibliotecas universitárias, visando promover um ambiente mais acolhedor e equitativo para toda a comunidade acadêmica.
2 DESAFIOS E OPORTUNIDADES DA INTERCULTURALIDADE EM BIBLIOTECAS UNIVERSITÁRIAS
No século XXI, as bibliotecas universitárias devem ser vistas como espaços que promovem a educação intercultural1 1 A educação que valoriza o interculturalismo desenvolve-se através de relações entre indivíduos de diferentes culturas, e não simplesmente entre “culturas” num sentido abstrato. Esta educação prioriza aqueles que criam e sustentam práticas culturais, pois essas práticas não existem independentemente dos contextos históricos ou das experiências das pessoas que as constituem. As pessoas são moldadas em ambientes culturais específicos, mas, em última análise, os indivíduos moldam a sua própria cultura. Portanto, uma abordagem intercultural envolve a promoção de relações entre as pessoas como agentes ativos que constituem as suas próprias sociedades culturalmente diversas, com histórias ricas que influenciam a forma como elas compreendem a si mesmas e aos outros ao seu redor (Fleuri, 2001). . A natureza intercultural dessas instituições se manifesta em diversos aspectos, tais como: (I) acervos multilíngues e multiculturais2 2 O conceito de multiculturalidade é semelhante ao de interculturalidade no sentido de ambos abordarem os desafios que diferentes culturas enfrentam ao coexistir dentro de uma mesma sociedade. No entanto, o multiculturalismo tende a se manter dentro de uma compreensão mais tradicional da cultura, pressupondo a existência de culturas distintas e homogêneas que convivem em um mesmo espaço, porém sem necessariamente interagir ou se influenciar mutuamente (Welsch, 1999). , contemplando obras de autores, temáticas e perspectivas diversas; (II) representação de diferentes grupos étnicos, culturais e sociais nas coleções e atividades promovidas; (III) atendimento acolhedor e sensível às necessidades de usuários provenientes de diversas origens; (IV) realização de projetos culturais, eventos e exposições que valorizem a pluralidade presente na comunidade acadêmica. Portanto, uma proposta intercultural para bibliotecas universitárias refere-se a interações ou contatos entre indivíduos de diversas origens. No entanto, a comunicação pode por vezes ser dificultada devido às diferenças nos sistemas de valores relacionados com o papel familiar, questões sobre gênero, distinções sociais, entre outros, levando a perspectivas conflitantes sobre a visão do mundo.
Segundo Sant'Anna (2018), ao longo da história, o conceito de biblioteca evoluiu, divergindo significativamente da compreensão atual. As bibliotecas adaptaram-se constantemente para atender a ideologias e sistemas dominantes, mas, apesar dessas transformações, uma constante permanece: a biblioteca sempre existiu para servir a sociedade. Como instituição de apoio, a biblioteca oferece recursos, suporte, consolo e soluções, desempenhando um papel transformador na comunidade.
Nesse contexto, as bibliotecas universitárias têm um papel fundamental ao fomentar a educação intercultural, contribuindo para a compreensão mútua entre culturas, a valorização da diversidade e a promoção de uma sociedade mais justa e inclusiva. Elas são vistas como locais de encontro cultural, construídas com base em sua diversificada coleção de livros e documentos que refletem a vasta diversidade cultural e do pensamento humano ao longo da história (Furtado; Oliveira, 2012FURTADO, Cassia; OLIVEIRA, Lídia. Biblioteca escolar e interculturalidade: rede social em países lusófonos Portal Biblon. Em Questão, Porto Alegre, v. 18, n. 1, p. 155 - 169, jan./jun. 2012.). Dessa forma, devem manter-se comprometidas em criar espaços que permitam o diálogo e a troca de conhecimentos entre indivíduos de diferentes origens culturais, fortalecendo os laços sociais e a coesão comunitária. Essa abordagem intercultural é essencial para que as bibliotecas universitárias sejam capazes de atender às necessidades diversas de sua comunidade, promovendo uma educação mais inclusiva e enriquecedora para todos.
O conceito de interculturalidade em bibliotecas não é novo. Estudos recentes destacam a existência de "Bibliotecas Interculturais" como espaços promotores do diálogo entre culturas. De acordo com Oliveira (2011OLIVEIRA, Lúcia Maciel Barbosa de. A cidade tecida pela cultura; a cultura tecida pela cidade. Ponto Urbe, n. 9, p.1-9, 2011. Disponível em: http://journals.openedition.org/pontourbe/1806. Acesso em: 10 jun. 2024.
http://journals.openedition.org/pontourb...
), o prefixo "inter" implica reciprocidade, e a interculturalidade refere-se ao confronto, ao entrelaçamento e ao que acontece quando indivíduos e grupos entram em contato, envolvendo negociação, conflito e trocas recíprocas. Ela permite mobilizar recursos interculturais para construir alternativas.
A interculturalidade está associada ao diálogo cultural e social, pois envolve interações entre pessoas de origens distintas. No entanto, esse processo pode ser desafiado por diferenças culturais. Pozzer e Pozzer (2022POZZER, Adecir; POZZER, Suzan Alberton. Identidade, decolonialidade, interculturalidade e a construção de uma ideia de nação na história da educação brasileira. Revista Even. Pedagóg. Número Regular: Estudos Decoloniais Sinop, v. 13, n. 3 (34. ed.), p. 613-632, ago./dez. 2022. Disponível em: https://periodicos.unemat.br/index.php/reps/article/download/6433/7329. Acesso em: 27 jun. 2023.
https://periodicos.unemat.br/index.php/r...
) afirmam que o diálogo intercultural cria espaços pacíficos e combate às desigualdades históricas. Além disso, Ferreira (2012FERREIRA, Carla Sofia. Bibliotecas escolares e promoção do diálogo Intercultural. 2012. Dissertação (Mestrado em Gestão da Informação e Bibliotecas Escolares). Departamento de Educação e Ensino à Distância, Universidade Aberta. Disponível em: https://repositorioaberto.uab.pt/bitstream/10400.2/2183/1/Carla%20Ferreira.pdf. Acesso em: 05 nov. 2023.
https://repositorioaberto.uab.pt/bitstre...
) enfatiza o papel da interculturalidade no desenvolvimento de uma sociedade global, promovendo a comunicação e o compartilhamento de experiências.
Para praticar a interculturalidade, as bibliotecas oferecem recursos informativos e oportunidades de diálogo intercultural. O engajamento dialógico entre culturas supera métodos fragmentados de conhecimento (Schnorr, 2019SCHNORR, Giselle Moura. Inéditos viáveis: dialogicidade, interculturalidade e libertação. Revista do NESEF. v. 8, n. 1. p. 24-46, jan./jul. 2019.). Para os autores Munsberg e Silva (2018MUNSBERG, João Alberto Steffen; SILVA, Gilberto Ferreira da. Interculturalidade na perspectiva da descolonialidade: possibilidades via educação. RIAEE-Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 13, n. 1, p. 140-154, jan./mar., 2018. Disponível em: https://periodicos.fclar.unesp.br/iberoamericana/article/view/9175/7151. Acesso em: 20 jun. 2023.
https://periodicos.fclar.unesp.br/iberoa...
, p. 148), “[...] a interculturalidade deve ser vista sob a perspectiva das relações ‘entre’ as diferenças, entre os povos e culturas, entre os grupos distintos [...]”.
Conforme Ramos e Nogueira (2020RAMOS, Kellyane Lisboa; NOGUEIRA, Eulina Maria Leite; FRANCO, Zilda Gláucia. Elias. A interculturalidade crítica como alternativa para uma educação crítica e decolonial. Eccos - Revista Cientifica, São Paulo, n. 54, p. 1-10, e17339, jul./set. 2020. Disponível em: https://doi.org/10.5585/eccos.n54.17339. Acesso em: 23 jun. 2023.
https://doi.org/10.5585/eccos.n54.17339...
), o intercultural enfatiza que todas as culturas podem e devem ser reconhecidas em suas especificidades, cujas diferenças são integradas e não excluídas dentro de um aspecto social, cultural. Dessa forma, as bibliotecas universitárias podem ser um local particularmente útil, desempenhando um papel fundamental no acesso ao conhecimento, na remediação das desigualdades sociais e na melhoria da qualidade de vida das pessoas, ou seja, elas podem “[...] reconstruir sob outras bases, estabelecendo outras/novas formas de relações, de existir e co-existir. E nesse ambiente educacional, os usuários poderão “[...] aprender a ser, estar e (con)viver com o outro” (Munsberg e Silva, 2018MUNSBERG, João Alberto Steffen; SILVA, Gilberto Ferreira da. Interculturalidade na perspectiva da descolonialidade: possibilidades via educação. RIAEE-Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 13, n. 1, p. 140-154, jan./mar., 2018. Disponível em: https://periodicos.fclar.unesp.br/iberoamericana/article/view/9175/7151. Acesso em: 20 jun. 2023.
https://periodicos.fclar.unesp.br/iberoa...
, p. 148).
Mesmo para aqueles que têm acesso aos meios de comunicação digitais e bibliotecas, ainda existem desafios relacionados à representação e à interpretação da diversidade cultural. Muitas vezes, as narrativas e representações culturais nos meios de comunicação são filtradas por lentes culturais dominantes ou estereotipadas, o que pode distorcer a compreensão da verdadeira complexidade e dinâmica das diferentes culturas.
Nesse sentido, a biblioteca fortalece as conexões sociais através da descolonização do conhecimento3
3
A decolonialidade está presente no campo da organização do conhecimento não somente quando termos como “decolonial”, “decolonialidade” ou “descolonização” são usados, mas, também, quando se nota a presença de populações que confrontam o lugar epistêmico que grupos hegemônicos as colocam (Garcez; Sales, 2021, p. 9).
e da informação. Deve ser vista como um local que facilita diversas interações significativas, sendo essencial compreender o seu potencial como espaço de encontros interculturais. Assim, por meio da descolonização do conhecimento, segundo Ramos, Nogueira e Franco (2020RAMOS, Kellyane Lisboa; NOGUEIRA, Eulina Maria Leite; FRANCO, Zilda Gláucia. Elias. A interculturalidade crítica como alternativa para uma educação crítica e decolonial. Eccos - Revista Cientifica, São Paulo, n. 54, p. 1-10, e17339, jul./set. 2020. Disponível em: https://doi.org/10.5585/eccos.n54.17339. Acesso em: 23 jun. 2023.
https://doi.org/10.5585/eccos.n54.17339...
, p. 6), “[...] desmistificamos preconceitos, em busca desse diálogo cada vez mais necessário em um mundo carregado de estereótipos e preconceitos emergiu da colonialidade".
A interculturalidade em bibliotecas está intimamente relacionada a um conjunto de habilidades essenciais, tais como:
-
a) Conhecimento sobre o outro: compreender e valorizar as diferentes culturas presentes na comunidade.
-
b) Autocognição: ter consciência de sua própria identidade cultural e como ela influencia suas perspectivas.
-
c) Habilidades de interpretação e relacionamento: ser capaz de interpretar e se relacionar de forma respeitosa com pessoas de diferentes origens culturais.
-
d) Habilidades de comunicação: desenvolver uma comunicação eficaz, sensível às nuances culturais.
-
e) Apreciação de valores e comportamentos diferentes: demonstrar abertura e valorização pelas diversas práticas e sistemas de crenças.
-
f) Conhecimento de diversas culturas: buscar compreender e se familiarizar com a riqueza das diferentes tradições culturais.
-
g) Respeito mútuo: cultivar uma atitude de respeito, tolerância e valorização da diversidade cultural.
Ao desenvolver esse conjunto de habilidades, as bibliotecas universitárias podem criar ambientes verdadeiramente acolhedores e inclusivos, que fomentem o diálogo intercultural e a troca de conhecimentos entre pessoas de distintas origens culturais.
É necessário um esforço constante no campo educacional para preservar a cultura e o conhecimento, apoiando iniciativas inclusivas que reconheçam a diversidade. O objetivo é ampliar ainda mais essas oportunidades por meio da implementação de estratégias que facilitem o envolvimento entre diferentes culturas, promovendo assim a participação ativa na comunidade acadêmica.
2.1 Desenvolvendo competência intercultural por meio de práticas reflexivas
A competência intercultural frequentemente envolve práticas reflexivas, onde pensar e considerar são componentes-chave do desenvolvimento pessoal. Neste caso, a reflexão crítica implica em uma atividade interna externalizada através do diálogo, permitindo-nos compreender os outros de forma mais imparcial ao mesmo tempo em que reforçamos nossa própria visão crítica em relação a eles.
Neste sentido, deve-se considerar que as bibliotecas universitárias desempenham um papel significativo na sociedade. Isso ocorre ao promoverem a preservação criativa e dinâmica da língua, da memória literária e do patrimônio cultural de diferentes grupos. Além disso, elas incentivam o intercâmbio intercultural entre usuários de diversas comunidades linguísticas e culturais.
Considerar as divergências entre abordagens pedagógicas, tais como a Pedagogia do Oprimido e a Pedagogia Intercultural de Paulo Freire é crucial. De acordo com Mota Neto e Streck (2019, p. 215), há alguns motivos pelos quais a pedagogia do oprimido representa uma ruptura em relação às práticas colonizadoras de educação, pois
[...] define as classes populares como sujeitos da história, da educação e da investigação, superando a dicotomia sujeito e objeto; valoriza a sabedoria popular e a história local, oferecendo possibilidades de construir conhecimento a partir de cosmovisões ancestrais, anteriores ao processo colonizador; empodera as classes e os grupos populares, devido ao seu viés conscientizador e mobilizador; engendra um diálogo intercultural que viabiliza a restauração da humanidade dos sujeitos e do mundo; enfatiza a participação cidadã e democrática, criando uma fissura na cultura do silêncio e na colonialidade do poder (Mota Neto; Streck, 2019, p. 215).
Ao analisar a colonialidade do poder, podemos adotar uma abordagem abrangente que aborde as questões estruturais relacionadas ao poder e suas interações com o discurso e a prática, perpetuando a opressão enfrentada por grupos específicos. Essa opressão é entendida como um conjunto de condições sociais que sistematicamente desfavorecem os membros de um grupo em relação a outro. Nesse contexto, os legados coloniais reforçam a opressão enfrentada pelos indivíduos com base em raça, gênero ou status socioeconômico.
Já a Pedagogia Intercultural oferece métodos e competências valiosos, particularmente em áreas como literatura, liberdade de expressão e comunicação educacional. Essas competências são essenciais para uma relação educacional genuína na biblioteca, como assistência com consultas bibliográficas ou orientação para serviços por meio de entrevistas ou instruções.
A abordagem intercultural é compatível com as exigências da segurança cultural, pois leva em conta questões organizacionais e sistêmicas, evitando as armadilhas da alteridade. Ela se posiciona como um modelo reflexivo que critica pontos de referência desde uma perspectiva não discriminatória. Isso se alinha com as recentes políticas públicas focadas na igualdade, diversidade e inclusão, que têm se voltado para um modelo de biblioteca intercultural e para a criação de espaços de interação.
As conversas geradas nesses novos espaços baseiam-se na prática reflexiva e em princípios interculturais, compensando assim a forma como os serviços, produtos, espaços e coleções nas bibliotecas universitárias podem reproduzir formas sociais e culturais sistemáticas.
2.2 A visão intercultural como ferramenta para a promoção da igualdade na biblioteca universitária
A biblioteca universitária é considerada um meio de comunicação intercultural e de interação entre culturas. Uma das suas principais funções é preservar a diversidade cultural e desenvolver as tradições nacionais da sociedade. Portanto, uma abordagem informativa deve ser complementada por uma abordagem sociológica, filosófica e cultural que veja a biblioteca como uma forma de envolvimento intercultural. Essa reorganização, com base nessa ideia, contribuirá para a formação de uma humanidade educada, tanto intelectualmente quanto culturalmente, capaz de resolver conflitos através do diálogo pacífico e da cooperação.
Segundo Targino (2020TARGINO, Maria das Graças. Mediação cultural e da leitura como estratégia de inclusão social: bibliotecas comunitárias. Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação, São Paulo, v. 16, p. 1-17, 2020. Disponível em: https://brapci.inf.br/index.php/res/v/141204. Acesso em: 16 set. 2022
https://brapci.inf.br/index.php/res/v/14...
), as ações culturais nas bibliotecas visam democratizar a leitura como ferramenta capaz de contribuir para o avanço das comunidades, reduzindo as desigualdades sociais, econômicas e culturais. Consequentemente, o envolvimento em atividades culturais nas bibliotecas universitárias não só estimula a criatividade individual, mas também promove a literacia informacional para públicos diversos, ao mesmo tempo que desperta sentimentos como envolvimento, prazer, aceitação de representação e flexibilidade.
Nesta perspectiva, percebemos a biblioteca como um espaço intercultural que engloba áreas de interação, como reuniões, conversas e participação, refletindo formas de criar experiências transculturais com potencial crítico transformador. Portanto, os profissionais que trabalham em bibliotecas devem abraçar o desafio de promover a literacia do conhecimento e contribuir para os domínios socioculturais.
Essa abordagem exige uma avaliação do impacto da participação dos usuários e dos níveis de envolvimento da comunidade. Pesquisas futuras podem explorar as funções dos sistemas interativos nas bibliotecas universitárias, transformando-as em ambientes produtivos para o aprendizado sobre diferentes culturas. Isso contribui diretamente para a promoção da educação multicultural global. Como afirma Walsh (2012WALSH, Catherine. Interculturalidad y (de)colonialidad: perspectivas críticas y políticas. Visão Global, Joaçaba, v. 15, n. 1-2, p. 61-74, jan./dez., 2012., p. 61, tradução nossa),
A interculturalidade tornou-se um tema da moda. E embora se possa argumentar que esse interesse é feliz pelo que sugere em termos de consciência e reconhecimento da diversidade cultural, também é lamentável por muitas vezes reduzir a interculturalidade a pouco mais do que um novo multiculturalismo, subtraindo-o assim de qualquer crítica, política, sentido construtivo e transformador.
Para alcançar uma comunicação culturalmente competente, é crucial avaliar criticamente os valores culturais, as normas sociais e as tradições individuais. Conforme Rasteli e Cavalcante (2014RASTELI, Alessandro; CAVALCANTE, Lídia Eugênia. Mediação cultural e apropriação da informação em bibliotecas públicas. Encontros Bibli, UNESP, 2014. v. 19, n. 39, 2014. p. 43-58 ISSN 1518-2924. Disponível em: https://brapci.inf.br/index.php/res/download/43603. Acesso em: 20 jun. 2023.
https://brapci.inf.br/index.php/res/down...
, p. 47), “as questões que surgem na comunicação estão relacionadas à cultura por meio de um processo de produção de sentido nos espaços onde os usuários vivenciam suas experiências, resultando em trocas interpessoais de significados.”
Compreender a cultura dos usuários é crucial para combater o preconceito e desinformação em bibliotecas. Existem diversas formas de obter esse conhecimento, como por meio da participação em mediações culturais, da leitura de livros importantes ou da exibição de filmes e do diálogo com pessoas de diferentes culturas. Este processo envolve uma construção conjunta de significados que podem ser transformados em sabedoria útil (Rasteli; Cavalcante, 2014RASTELI, Alessandro; CAVALCANTE, Lídia Eugênia. Mediação cultural e apropriação da informação em bibliotecas públicas. Encontros Bibli, UNESP, 2014. v. 19, n. 39, 2014. p. 43-58 ISSN 1518-2924. Disponível em: https://brapci.inf.br/index.php/res/download/43603. Acesso em: 20 jun. 2023.
https://brapci.inf.br/index.php/res/down...
).
Segundo Furtado e Oliveira (2012FURTADO, Cassia; OLIVEIRA, Lídia. Biblioteca escolar e interculturalidade: rede social em países lusófonos Portal Biblon. Em Questão, Porto Alegre, v. 18, n. 1, p. 155 - 169, jan./jun. 2012.), as bibliotecas têm um papel crucial na promoção do desenvolvimento criativo, preservando o patrimônio linguístico-cultural e a memória literária. Elas também fomentam a compreensão intercultural por meio de atividades educativas. Assim, a biblioteca como espaço de encontro promove a reflexão sobre planejamento estratégico, ética profissional e acessibilidade. Nesse sentido, as bibliotecas interculturais surgem como uma resposta aos desafios sociais, criando capital social por meio da promoção de relações interpessoais.
E como podemos caracterizar as bibliotecas universitárias como um espaço de interações significativas entre diferenças, seja em termos culturais, étnicos, linguísticos ou socioeconômicos? O conceito central deveria se concentrar mais na compreensão ou nos objetivos compartilhados do que na identidade. Outro método eficaz para aprender sobre diferentes culturas é abordar uma atitude positiva. Nas bibliotecas universitárias podem-se criar um espaço separado onde os usuários possam compartilhar imagens, panfletos e cartazes de sua cultura. Isso promove a diversidade e inclusão cultural nas bibliotecas conforme afirma Porto (2019PORTO, Morena Pereira. Biblioteca, interculturalidade e a agenda 2030. Anais… XXVIII Congresso Brasileiro de Biblioteconomia e Documentação Vitória, 01 a 04 de outubro de 2019., p. 3),
“incentivar e resguardar a linguagem, memória literária e herança cultural, com uma perspectiva voltada à inclusão das minorias. Ao mesmo tempo proporciona à comunidade a possibilidade de conhecer novas culturas, incentivando o respeito e a tolerância com o diverso e diferente.”
Ao visitar este espaço, o usuário não só partilha o seu patrimônio cultural como também conhece outras culturas. Como resultado, este tipo de interação envolve socialização e integração cultural que faz da biblioteca um centro de intercâmbio intercultural que incentiva a abertura de expressão, a tolerância e o respeito mútuo.
Há várias práticas interculturais que podem ser verificadas por meio de estudo de usuários4 4 É fundamental delinear o perfil da comunidade de usuários para quem as informações são fornecidas. Isso permite identificar suas necessidades informacionais e torná-las conhecidas por meio de estudos, permitindo que sejam atendidas pela biblioteca (Calva González, 2013). nas bibliotecas. Tais práticas podem ser:
-
a) fornecer kits de leitura para usuários aprenderem outros idiomas;
-
b) disponibilizar coleções de livros em vários idiomas. Essas coleções ajudam os leitores a manter seus laços culturais, ao mesmo tempo que promovem a conscientização cultural;
-
c) organizar grupos de leitura, hora do conto em vários idiomas;
-
d) criar grupos para utilizar textos literários em atividades orais que estimulem a conversação e exercícios práticos na língua do país convidado;
-
e) fomentar e estruturar a interação entre culturas distintas por meio de videochamadas;
-
f) traduzir material informativo;
-
g) hora do conto em diversos idiomas;
-
h) compartilhar diversas informações, como vídeos informativos multilíngues no YouTube;
-
i) capacitar as pessoas em aspectos culturais e sociais para que possam compreender e interpretar adequadamente as normas éticas e valores culturais presentes na sociedade;
-
j) adquirir habilidades linguísticas por meio de materiais adaptados e conteúdos escritos em uma língua simples;
-
k) proporcionar treinamento em como usar as Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), desde o básico até a pesquisa avançada na internet;
-
l) comunicar e sensibilizar os indivíduos sobre a importância da interculturalidade através de diversas estratégias, técnicas, iniciativas e educação de alfabetização cultural.
Além disso, as bibliotecas universitárias devem elaborar estratégias e planejar serviços com sensibilidade às práticas interculturais da seguinte forma:
-
a) compreensão dos conceitos interculturais: reconhecer o efeito das barreiras culturais, sociais e linguísticas na utilização da biblioteca por minorias;
-
b) perfil ou análise da comunidade: coletar informações e dados sobre a cultura utilizando métodos de pesquisa social que incluem mapeamento do território, contexto social (compreendendo heterogeneidade, mudanças sociais, presença de minorias visíveis ou invisíveis e tendências migratórias), entre outras questões culturais;
-
c) atendimento ao usuário: oferecer serviços e programas úteis, através da análise de diversas informações recolhidas em pesquisas de satisfação dos usuários, bem como de avaliações efetuadas pela comunidade em geral. Estas observações servem de orientação para a tomada de decisões importantes que envolvem o planejamento de novos serviços e a redefinição dos existentes;
-
d) elaborar políticas e estratégias de serviços, organizando conferências e reuniões: fomentar o acesso a recursos legais por meio do fornecimento de serviços informativos e programas educativos para melhorar sua alfabetização neste tema;
-
e) colaboração: trabalhar em conjunto com outras bibliotecas, organizações culturais e associações de imigrantes para construir serviços multiculturais em rede.
Para bibliotecas públicas, a situação é ainda mais complexa. Além dos desafios comuns, como a gestão de recursos limitados e a necessidade de adaptar-se às mudanças tecnológicas, elas também precisam lidar com outras barreiras que afetam diretamente sua capacidade de oferecer serviços de qualidade. Por exemplo:
-
a) cortes orçamentários: podem reduzir significativamente a capacidade de contratar profissionais qualificados, adquirir materiais e manter infraestrutura adequada. Isso pode dificultar a oferta de novos serviços e a realização de atividades, tornando mais difícil para as bibliotecas atender às necessidades da comunidade;
-
b) crise econômica: pode afetar não apenas as instituições públicas, mas também a comunidade em geral. Isso pode levar à diminuição da demanda por serviços da biblioteca e à dificuldade de captar recursos adicionais. Como resultado, as bibliotecas podem precisar reduzir seus serviços ou fechar departamentos, o que pode ter um impacto negativo na comunidade;
-
c) falta de pessoal qualificado: a carência de profissionais especializados pode limitar a capacidade das bibliotecas de desenvolver e implementar novas ações, além de sobrecarregar os funcionários existentes. Isso pode levar a uma diminuição da qualidade dos serviços oferecidos e a uma perda de confiança da comunidade nas bibliotecas.
Superar essas barreiras é essencial para que elas possam cumprir seu papel vital de promover o acesso à informação, educação e cultura para todos os membros da comunidade.
Ter sensibilidade cultural e capacidade de ver o mundo a partir da perspectiva dos outros são essenciais para a oferta de serviços e de práticas interculturais. Numa sociedade intercultural, as bibliotecas podem desempenhar um papel vital na construção de novas ligações sociais e culturais entre os indivíduos que complementam relações que foram enfraquecidas devido a estruturas sociais coesas e fragmentadas, aproveitando ao mesmo tempo os benefícios resultantes gerados por este capital social.
Ao decidir quais línguas cobrir e que tipos de recursos incluir (livros de ficção e não-ficção, periódicos, recursos da Internet, etc.), as bibliotecas devem primeiro considerar as necessidades da sua comunidade. Muitas bibliotecas implementam projetos e atividades específicas para a educação intercultural e o combate ao racismo. Depois de construir uma coleção que reflita diversas identidades culturais, é importante implementar um programa intercultural que envolva objetivos, processos e atividades fáceis de seguir, como orientação ao usuário no uso desses materiais.
A prática reflexiva permite uma melhor operacionalização, um aspecto fundamental necessário para implementação eficaz em ambiente centrado nas nuances culturais disponíveis através da interculturalidade buscando gerar espaços amigáveis às comunidades diversas e contribuindo nos processos educativos. Para isso, entender a comunicação intercultural requer o compartilhamento de informações entre grupos sociais e culturais diversos que abrangem pessoas com diferentes origens religiosas, educacionais, étnicas e socioeconômicas. É importante compreender as diferenças na maneira como indivíduos de culturas distintas se comunicam e percebem o mundo ao seu redor.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
As bibliotecas universitárias desempenham um papel crucial no intercâmbio cultural e informacional. Uma abordagem holística, considerando aspectos sociológicos, filosóficos e culturais, é essencial para cumprir essa função. Elas não são apenas repositórios de livros, mas meios de conectar manifestações culturais e promover identidades regionais. Assim, elas se tornam centros de conhecimento e intercâmbio cultural, contribuindo para sociedades diversas e enriquecidas. Adaptar a organização desses espaços com base em princípios inclusivos pode impactar significativamente o desenvolvimento intelectual e cultural dos indivíduos.
Em um mundo globalizado e diante dos desafios da pandemia, as bibliotecas universitárias precisam se adaptar e se tornar mais inclusivas e interculturais. Isso envolve investir em treinamento de bibliotecários, promover parcerias internacionais, fornecer recursos e materiais de diversas culturas e línguas, além de criar espaços físicos e virtuais que estimulem a diversidade de pensamento. Ao fazer isso, as bibliotecas desempenham um papel vital na promoção da interculturalidade, aprimorando a experiência acadêmica dos alunos.
Portanto, este ensaio destaca a importância das bibliotecas universitárias no desenvolvimento de comunidades globais e na promoção da compreensão intercultural. Ao reconhecer as bibliotecas como centros de conhecimento, o texto ressalta a sua capacidade de fomentar interações entre culturas e promover a compreensão mútua.
Identificar práticas recomendadas de engajamento e métodos eficazes para a comunicação intercultural é crucial para que as bibliotecas possam desempenhar esse papel de forma eficaz. Isso envolve não apenas a disponibilização de recursos e materiais de diversas culturas, mas também a criação de espaços físicos e virtuais que estimulem o diálogo e a troca de ideias entre os membros da comunidade acadêmica.
A expansão do acervo e sua acessibilidade a todos os interessados demonstram o compromisso das bibliotecas universitárias em promover a diversidade cultural e o compartilhamento global de conhecimento. Isso não apenas enriquece a experiência acadêmica dos estudantes, mas também contribui para a construção de uma sociedade mais inclusiva e interconectada. Dessa forma, ao entender e valorizar o papel das bibliotecas universitárias como facilitadoras do diálogo intercultural e do intercâmbio de conhecimento, pode-se promover uma maior compreensão e respeito pela diversidade cultural em escala global. Essas instituições desempenham um papel vital na promoção da cooperação e colaboração entre diferentes culturas, contribuindo para o desenvolvimento de comunidades mais tolerantes e solidárias.
REFERÊNCIAS
- CALVA GONZÁLES, Juan José. Estudios de usuários em diferentes comunidades: necessidades de informacíon y comportamiento informativo. México: UNAM, 2013.
- CANDAU, Vera Maria. “Ideias-força” do pensamento de Boaventura Sousa Santos e a educação intercultural. In: CANDAU, Vera Maria (org.). Interculturalizar, descolonizar, democratizar: uma educação “outra”?. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2016. p. 76-96. Disponível em: https://educacaoonline.edu.puc-rio.br/index.php/eduonline/article/download/286/pdf/1068 Acesso em 10 jun. 2024.
» https://educacaoonline.edu.puc-rio.br/index.php/eduonline/article/download/286/pdf/1068 - CANDAU, Vera Maria. Multiculturalismo e educação: desafios para a prática pedagógica. In: MOREIRA, Antonio Flávio; CANDAU, Vera Maria (orgs). Multiculturalismo: diferenças e práticas pedagógicas. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.
- FERREIRA, Carla Sofia. Bibliotecas escolares e promoção do diálogo Intercultural. 2012. Dissertação (Mestrado em Gestão da Informação e Bibliotecas Escolares). Departamento de Educação e Ensino à Distância, Universidade Aberta. Disponível em: https://repositorioaberto.uab.pt/bitstream/10400.2/2183/1/Carla%20Ferreira.pdf Acesso em: 05 nov. 2023.
» https://repositorioaberto.uab.pt/bitstream/10400.2/2183/1/Carla%20Ferreira.pdf - FLEURI, Reinaldo Mathias. Desafios à educação intercultural no Brasil. PerCursos. Florianópolis, v. 2, n. 0, set. 2001. p. 1-14.
- FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 9. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981.
- FREIRE, Paulo. Ação cultural para a liberdade e outros escritos. 6. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982.
- FURTADO, Cassia; OLIVEIRA, Lídia. Biblioteca escolar e interculturalidade: rede social em países lusófonos Portal Biblon. Em Questão, Porto Alegre, v. 18, n. 1, p. 155 - 169, jan./jun. 2012.
- GARCEZ, Dirnéle Carneiro; SALES, Rodrigo de. Decolonizando a organização do conhecimento: um olhar do periódico Knowledge Organization (2000-2020). Tendências da Pesquisa Brasileira e Ciência da Informação, ANCIB, v. 14. 2021. p. 1-21. Disponível em: https://brapci.inf.br/index.php/res/v/195017 Acesso em: 26 jun. 2023.
» https://brapci.inf.br/index.php/res/v/195017 - MOTA NETO, João Colares da; STRECK, Danilo Romeu. Fontes da educação popular na América Latina: contribuições para uma genealogia de um pensar pedagógico decolonial. Educ. rev., 2019 35(78), p. 207-223, nov. 2019.
- MUNSBERG, João Alberto Steffen; SILVA, Gilberto Ferreira da. Interculturalidade na perspectiva da descolonialidade: possibilidades via educação. RIAEE-Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 13, n. 1, p. 140-154, jan./mar., 2018. Disponível em: https://periodicos.fclar.unesp.br/iberoamericana/article/view/9175/7151 Acesso em: 20 jun. 2023.
» https://periodicos.fclar.unesp.br/iberoamericana/article/view/9175/7151 - OLIVEIRA, Lúcia Maciel Barbosa de. A cidade tecida pela cultura; a cultura tecida pela cidade. Ponto Urbe, n. 9, p.1-9, 2011. Disponível em: http://journals.openedition.org/pontourbe/1806 Acesso em: 10 jun. 2024.
» http://journals.openedition.org/pontourbe/1806 - PORTO, Morena Pereira. Biblioteca, interculturalidade e a agenda 2030. Anais… XXVIII Congresso Brasileiro de Biblioteconomia e Documentação Vitória, 01 a 04 de outubro de 2019.
- POZZER, Adecir; POZZER, Suzan Alberton. Identidade, decolonialidade, interculturalidade e a construção de uma ideia de nação na história da educação brasileira. Revista Even. Pedagóg. Número Regular: Estudos Decoloniais Sinop, v. 13, n. 3 (34. ed.), p. 613-632, ago./dez. 2022. Disponível em: https://periodicos.unemat.br/index.php/reps/article/download/6433/7329 Acesso em: 27 jun. 2023.
» https://periodicos.unemat.br/index.php/reps/article/download/6433/7329 - RAMOS, Kellyane Lisboa; NOGUEIRA, Eulina Maria Leite; FRANCO, Zilda Gláucia. Elias. A interculturalidade crítica como alternativa para uma educação crítica e decolonial. Eccos - Revista Cientifica, São Paulo, n. 54, p. 1-10, e17339, jul./set. 2020. Disponível em: https://doi.org/10.5585/eccos.n54.17339 Acesso em: 23 jun. 2023.
» https://doi.org/10.5585/eccos.n54.17339 - RASTELI, Alessandro; CAVALCANTE, Lídia Eugênia. Mediação cultural e apropriação da informação em bibliotecas públicas. Encontros Bibli, UNESP, 2014. v. 19, n. 39, 2014. p. 43-58 ISSN 1518-2924. Disponível em: https://brapci.inf.br/index.php/res/download/43603 Acesso em: 20 jun. 2023.
» https://brapci.inf.br/index.php/res/download/43603 - SANT ANNA, Jorge. A biblioteca universitária e sua intervenção no contexto social: fomentando práticas multifuncionais. RICI: R.Ibero-amer. Ci. Inf., ISSN 1983-5213, Brasília, v. 11, n. 2, p. 449-469, maio/agosto, 2018. Disponível em: https://periodicos.unb.br/index.php/RICI/article/download/8337/9615/19686 Acesso em: 10 jun. 2024.
» https://periodicos.unb.br/index.php/RICI/article/download/8337/9615/19686 - SCHNORR, Giselle Moura. Inéditos viáveis: dialogicidade, interculturalidade e libertação. Revista do NESEF. v. 8, n. 1. p. 24-46, jan./jul. 2019.
- TARGINO, Maria das Graças. Mediação cultural e da leitura como estratégia de inclusão social: bibliotecas comunitárias. Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação, São Paulo, v. 16, p. 1-17, 2020. Disponível em: https://brapci.inf.br/index.php/res/v/141204 Acesso em: 16 set. 2022
» https://brapci.inf.br/index.php/res/v/141204 - VALENTIM, Marta Lígia Pomim. O perfil das bibliotecas contemporâneas. In: RIBEIRO, Anna Carolina Mendonça Lemos; FERREIRA, Pedro Cavalcanti Gonçalves (orgs.). Biblioteca do século XXI: desafios e perspectivas. Brasília : Ipea, 2016.
- WALSH, Catherine. Interculturalidad y (de)colonialidad: perspectivas críticas y políticas. Visão Global, Joaçaba, v. 15, n. 1-2, p. 61-74, jan./dez., 2012.
- WELSCH, Wolfgang. Spaces of Culture: City, Nation, World. London: Sage, 1999, p. 194-213. Disponível em: https://welsch.uni-jena.de/papers/W_Wlelsch_Transculturality.html Acesso em: 03 nov. 2023.
» https://welsch.uni-jena.de/papers/W_Wlelsch_Transculturality.html
-
FINANCIAMENTO
Não se aplica. -
CONSENTIMENTO DE USO DE IMAGEM
Não se aplica -
APROVAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA
Não se aplica
-
1
A educação que valoriza o interculturalismo desenvolve-se através de relações entre indivíduos de diferentes culturas, e não simplesmente entre “culturas” num sentido abstrato. Esta educação prioriza aqueles que criam e sustentam práticas culturais, pois essas práticas não existem independentemente dos contextos históricos ou das experiências das pessoas que as constituem. As pessoas são moldadas em ambientes culturais específicos, mas, em última análise, os indivíduos moldam a sua própria cultura. Portanto, uma abordagem intercultural envolve a promoção de relações entre as pessoas como agentes ativos que constituem as suas próprias sociedades culturalmente diversas, com histórias ricas que influenciam a forma como elas compreendem a si mesmas e aos outros ao seu redor (Fleuri, 2001FLEURI, Reinaldo Mathias. Desafios à educação intercultural no Brasil. PerCursos. Florianópolis, v. 2, n. 0, set. 2001. p. 1-14.).
-
2
O conceito de multiculturalidade é semelhante ao de interculturalidade no sentido de ambos abordarem os desafios que diferentes culturas enfrentam ao coexistir dentro de uma mesma sociedade. No entanto, o multiculturalismo tende a se manter dentro de uma compreensão mais tradicional da cultura, pressupondo a existência de culturas distintas e homogêneas que convivem em um mesmo espaço, porém sem necessariamente interagir ou se influenciar mutuamente (Welsch, 1999WELSCH, Wolfgang. Spaces of Culture: City, Nation, World. London: Sage, 1999, p. 194-213. Disponível em: https://welsch.uni-jena.de/papers/W_Wlelsch_Transculturality.html. Acesso em: 03 nov. 2023.
https://welsch.uni-jena.de/papers/W_Wlel... ). -
3
A decolonialidade está presente no campo da organização do conhecimento não somente quando termos como “decolonial”, “decolonialidade” ou “descolonização” são usados, mas, também, quando se nota a presença de populações que confrontam o lugar epistêmico que grupos hegemônicos as colocam (Garcez; Sales, 2021GARCEZ, Dirnéle Carneiro; SALES, Rodrigo de. Decolonizando a organização do conhecimento: um olhar do periódico Knowledge Organization (2000-2020). Tendências da Pesquisa Brasileira e Ciência da Informação, ANCIB, v. 14. 2021. p. 1-21. Disponível em: https://brapci.inf.br/index.php/res/v/195017. Acesso em: 26 jun. 2023.
https://brapci.inf.br/index.php/res/v/19... , p. 9). -
4
É fundamental delinear o perfil da comunidade de usuários para quem as informações são fornecidas. Isso permite identificar suas necessidades informacionais e torná-las conhecidas por meio de estudos, permitindo que sejam atendidas pela biblioteca (Calva González, 2013CALVA GONZÁLES, Juan José. Estudios de usuários em diferentes comunidades: necessidades de informacíon y comportamiento informativo. México: UNAM, 2013.).
-
PUBLISHER
Universidade Federal de Santa Catarina. Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação. Publicação no Portal de Periódicos UFSC. As ideias expressadas neste artigo são de responsabilidade de seus autores, não representando, necessariamente, a opinião dos editores ou da universidade.
Editado por
EDITORES
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
28 Out 2024 -
Data do Fascículo
2024
Histórico
-
Recebido
13 Dez 2023 -
Aceito
01 Ago 2024 -
Publicado
13 Set 2024