RESUMO
O objetivo do trabalho foi verificar a ocorrência de predadores nas seguintes cultivares de soja: Conquista, IAC 18, Jataí, IAC 8-2 e Goiânia. O experimento foi instalado na Fazenda Santa Fé, Município de Araçatuba, SP, com delineamento estatístico de blocos casualizados com 5 repetições. Os predadores coletados com rede de varredura (10/parcela) e pano de batidas (5/parcela) foram: Anthocoridae, Callida pallidipennis, Callida scutelaris, Callida sp., Chrysopidae, Chrysoperla externa, Ceraeochrysa cubana, Ceraeochrysa sp., Cycloneda sanguinea, Dermaptera, Exochomus bimaculosus, Formicidae, Geocoris sp., Lebia concina, Leptotrachelus sp., Nabis sp., Orius sp., Ploiariidae, Podisus sp., Reduvidae, Scymnus sp., Staphilinidae e aranhas. Não houve diferenças estatísticas entre os tratamentos.
PALAVRAS-CHAVE:
Glycine max; insetos; aranhas; ocorrência.
ABSTRACT
The objective of the work was to verify the occurrence of predators in the following soybean cultivars: Conquest, IAC 18, Jataí, IAC 8-2 and Goiânia. The experiment was carried out at the Farm Santa Fé, district of Araçatuba, SP, Brazil, with statistical delineation of randomized blocks design with 5 repetitions. The predators collected with fishnet (10 per part) and beating cloth (5 per part) were: Anthocoridae, Callida pallidipennis, Callida scutelaris, Callida sp., Chrysopidae, Chrysoperla externa, Ceraeochrysa cubana, Ceraeochrysa sp., Cycloneda sanguinea, Dermaptera, Exochomus bimaculosus, Formicidae, Geocoris sp., Lebia concina, Leptotrachelus sp., Nabis sp., Orius sp., Ploiariidae, Podisus sp., Reduvidae, Scymnus sp., Staphilinidae and spiders. No statistically significant differences were found between the treatments.
KEY WORDS:
Glycine max; insect; spiders; occurrence.
INTRODUÇÃO
A presença de predadores em cultura de soja é bastante freqüente e o conhecimento de seu comportamento e ocorrência são importantes para o estabelecimento do sistema de manejo integrado de pragas na cultura. Entre os predadores estudados por CORRÊA et al. (l977), Nabis sp. e Geocoris sp. foram os mais importantes, sendo encontrados desde Goiás até o Rio Grande do Sul.
Os principais predadores encontrados na cultura da soja em Ponta Grossa, PR, por CORRÊA (1975CORRÊA, B.S.; SMITH. J.G.; PANIZZI, A.R. Ocorrência de artrópodos predadores em soja. In: REUNIÃO CONJUNTA DE PESQUISA DE SOJA RS/SC, 3., 1975, Porto Alegre, Reunião. Porto Alegre: 1975. 5p.) com os métodos de pano de batidas e rede de varredura, foram as aranhas e insetos das familias Nabidae (Nabis sp.), Lygaeidae (Geocoris sp.), Chrysopidae (Chrysopa sp.), Carabidae (Lebia concina, Callida scutellaris e Calosoma granulatum), Coccinellidae (Cycloneda sanguinea e Eriopis connexa) e Syrphidae (Syrphus phaeostigma e Allograpta sp.). Com armadilha de solo, dos 290 insetos coletados, 32% foram formigas.
Em Santa Helena de Goiás, GO, os predadores estiveram presentes durante todo o desenvolvimento da soja, destacando-se, com maior ocorrência, Nabis sp. e Geocoris sp. As aranhas foram encontradas em menor número (PRADO et al., 1981PRADO P.C.N.; CUNHA, H.F.; SILVA, A.L. Ocorrência dos principais insetos pragas da soja e seus inimigos naturais em Santa Helena de Goiás,GO. In: SEMINÁRIO NACIONAL DE PESQUISA DE SOJA, 1., 1981, Londrina, Anais. Londrina: EMBRAPA-CNPSo, 1981. p.111-139.).
No Município de Orlândia, SP, RAMIRO et al. (1986)RAMIRO, Z.A.; BATISTA FILHO, A.; MACHADO, L.A. Ocorrência de pragas e inimigos naturais em soja no Município de Orlândia, SP. An. Soc. Entomol. Bras., v.15, n.2, p.239246,1986. referem-se às aranhas, à Geocoris sp. e à Nabis sp. como os predadores predominantes na cultura da soja. As maiores populações foram encontradas nas cultivares IAC-8, IAC-9 e IAC-11 e menores em IACFoscarin-31 e IAC-10. As espécies Callida spp., C. sanguinea, L. concina e Orius sp., foram observadas indiferentemente em todas as cultivares. Já em Nuporanga, SP, RAMIRO et al. (1987)RAMIRO, Z.A.; BATISTA FILHO, A.; MACHADO, L.A. Levantamento de pragas e inimigos naturais em seis cultivares de soja. Biológico, São Paulo, v.53, n.1/6, p.7-23, 1987. constataram, em seis cultivares de soja, os mesmos predadores observados em outras regiões do Brasil (Callida spp., C. sanguinea, Geocoris sp., Nabis sp., Orius sp., formigas e aranhas).
As populações de aranhas foram altas durante a maior parte do desenvolvimento da cultura da soja, principalmente, quando ocorreram as maiores infestações das pragas (LEITE & LARA 1985LEITE, L.G. & LARA, F.M. Flutuação populacional de insetos e inimigos associados a cultura da soja em Jaboticabal, SP. An. Soc. Entomol. Bras., v.14, p.45-57, 1985.).
RODRIGUES (1996)RODRIGUES, C.J. Influência de duas cultivares de soja Glycine max (L.) Merrill sobre insetos-praga e seus inimigos naturais. Ilha Solteira: 1996. 83p. [Dissertação (Mestrado) Faculdade de Engenharia do Campus de Ilha Solteira /UNESP]. encontrou nas variedades IAC100 e IAS-5, populações semelhantes de Geocoris sp., Nabis sp., Solenopsis sp. e aranhas.
Em cinco municípios do Rio Grande do Sul, MORAES et al. (1991)MORAES, R.R.; LOECK, A.E.; BELARMINO, L.C. Inimigos naturais de Rachiplusia nu (Guenée, 1852) e de Pseudoplusia includens (Walker, 1857) (Lepidoptera: Noctuidae) em soja no Rio Grande do Sul. Pesqui. Agropecu. Bras., v.26, n.1., p.57-64, 1991. verificaram a ocorrência de aranhas, Nabis sp., L. concina, Geocoris sp. e Chrysopa sp. como os mais abundantes. As maiores populações foram observadas nos meses de fevereiro e março, durante os estádios R4-R7, e variaram em função do local. As aranhas foram mais abundantes em Arroio Grande, Capão do Leão e Passo Fundo; Nabis sp. e Geocoris sp., em Cruz Alta; L. concina, em Santa Rosa. As reduções das pragas na cultura foram relacionadas aos períodos em que ocorreram maiores populações dos predadores.
Devido ao seu hábito polífago, as aranhas são predadores generalistas, predam tanto desfolhantes, as lagartas, como sugadores, os percevejos. É efetiva, a ação das aranhas, no sentido de prevenir surtos populacionais do que no sentido de baixar altos níveis populacionais (WHITCOMB, 1980WITHCOMB, W.H. Sampling spiders on soybean fields. In: KOGAN, M. & HERZOG, D.C. (Eds.). Sampling methods in soybean entomology. New York: Springer-Verlag, 1980. p. 544-57.).
O objetivo deste trabalho foi observar a ocorrência de predadores na cultura da soja, no Município de Araçatuba, como instrumento para subsidiar programas de manejo integrado de pragas.
MATERIAL E MÉTODOS
O campo experimental foi instalado em 30/11/01 com as cultivares de soja Conquista, IAC 18, Jataí, IAC 8-2 e Goiânia, plantadas em delineamento inteiramente casualizado, com cinco repetições. Cada parcela foi formada por 20 linhas de 10 m de comprimento, espaçamento com de 0,5 m entre elas, separadas por carreadores de 2m.
Os levantamentos começaram a partir do início do florescimento das plantas de soja (R1) de acordo com descrição de FEHR et al. (1971)FEHR, W.R.; CAVINESS, C.E.; BURMOOD, D.T.; PENNINGTON, J.S. Stage of development descriptions for soybeans, Glycine max (L.) Merrill. Crop Sci., v.11, p. 929-931, 1971. utilizando rede de varredura (10 redadas/parcela) e pano de batidas (5 panos/parcela). No período de janeiro a abril de 2002, foram realizadas 10 avaliações, nas seguintes datas: 17 e 29 de janeiro; 13 e 26 de fevereiro; 5, 11, 18, 25 de março e 1 e 8 de abril. Os insetos coletados foram acondicionados em vidros, contendo álcool 70%, devidamente etiquetados, para posterior separação e identificação no laboratório.
Durante todo o período de desenvolvimento das cultivares não se utilizou qualquer meio de controle de pragas no campo experimental e as ervas daninhas foram eliminadas por meio de capinas manuais.
Para efeito de análise estatística as médias obtidas foram analisadas por meio dos testes de significância F e Tukey ao níveis de 5%, utilizando o programa SANEST (ZONTA & MACHADO, s/daZONTA, E.P & MACHADO, A.A. Sanest: sistema de análise estatística. Piracicaba: USP/ESALQ/Departamento de Zootecnia, S.d.ta).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os insetos predadores foram encontrados em todos os levantamentos que iniciaram no estádio de florescimento da soja, ocorrido no mês de janeiro (Tabela 1). Durante as avaliações foram coletados e identificados: Callida pallidipennis, Callida scutelaris, Callida sp., Chysopidae, Chrysoperla externa, Ceraeochrysa cubana, Ceraeochrysa sp., C. sanguinea, Dermaptera, Exochomus bimaculosus, Formicidae, Geocoris sp., L. concina, Leptotrachelus sp., Nabis sp., Orius sp., Ploiariidae, Podisus sp., Reduvidae, Scymnus sp. e Staphilinidae. As diferenças não foram significativas ao nível de 5% nas avaliações dos dias: 17, 29/1, 13, 26/2, 18/3 e 8/ 4/02. Nas avaliações dos dias 5, 11, 25/3 e 1/4/02 a análise mostra desempenho semelhante entre as cultivares. De acordo com os dados contidos na Tabela 1 pode-se verificar que não houve diferença estatística entre os tratamentos, não obstante a diferença numérica existente entre eles.
No estádio de floração até o desenvolvimento de vagens (R1 - R3) os números médios de predadores não apresentaram diferenças estatísticas (Fig. 1). Os inimigos naturais foram mais abundantes nos estádios relativos a formação de vagens e enchimento de sementes (R4 - R6). Nestes estádios as cultivares apresentaram números com diferenças significativas com destaque para a cultivar Jataí onde estes artrópodes foram mais abundantes. Na fase de maturação (R7 - R8) as cultivares apresentaram números de predadores próximos daqueles encontrados durante o período formação de vagens e enchimento de sementes. Essa preferência pode estar relacionada ao estímulo das plantas ou a densidade populacional das presas (ALTIERI, 1991ALTIERI, M.A. Ecology of tropical herbivores in polycultural agroecosystems. In: PRICE, P.W. et al. (Eds.). Plantanimal interactions. s.l., (Cidade): John Wiley, 1991. p.607-618.).
Médias de insetos predadores1 1 Predadores:Anthocoridae, Callida pallidipennis, Callida scutelaris, Callida sp., Chrysopidae, Chrysoperla externa, Ceraeochrysa cubana, Ceraeochrysa sp., Cycloneda sanguinea, Dermaptera, Exochomus bimaculosus, Formicidae, Geocoris sp, Lebia concina, Leptotrachelus sp., Nabis sp., Orius sp., Ploiariidae, Podisus sp., Reduvidae, Scymnus sp e Staphilinidae. coletados pelos métodos do pano de batidas e da rede de varredura em cinco cultivares de soja, em condições de campo. Araçatuba, SP, 2002 .
Médias de aranhas coletadas pelos métodos do pano de batidas e da rede de varredura em cinco cultivares de soja em condições de campo. Araçatuba, SP, 2002.
A Figura 2 mostra que estatisticamente as médias de predadores coletados foram semelhantes entre as cultivares.
Entre os inimigos naturais, as aranhas foram as mais abundantes (Tabela 2), fato também observado por MORAES et al. (1991)MORAES, R.R.; LOECK, A.E.; BELARMINO, L.C. Inimigos naturais de Rachiplusia nu (Guenée, 1852) e de Pseudoplusia includens (Walker, 1857) (Lepidoptera: Noctuidae) em soja no Rio Grande do Sul. Pesqui. Agropecu. Bras., v.26, n.1., p.57-64, 1991. no Rio Grande do Sul e RAMIRO et al. (1986)RAMIRO, Z.A.; BATISTA FILHO, A.; MACHADO, L.A. Ocorrência de pragas e inimigos naturais em soja no Município de Orlândia, SP. An. Soc. Entomol. Bras., v.15, n.2, p.239246,1986. em Orlândia, SP. Essas aranhas ocorreram em todas as avaliações e foram coletadas em números semelhantes nas cinco cultivares. Esses agentes de controle natural foram mais abundantes quando as plantas se encontravam nos estádios de enchimento de sementes e maturação, R4 a R8 (Fig. 3). As médias de aranhas coletadas resultantes das avaliações não apresentaram diferenças significativas entre as cultivares (Fig. 4).
Número de insetos predadores coletados em cinco cultivares de soja, Araçatuba, 2002. R1 - R3 floração até desenvolvimento de vagem, R - R6 enchimento de vagem, R7 - R8 maturação.
Número de aranhas coletadas em cinco cultivares de soja, Araçatuba, 2002. R1 - R3 floração até desenvolvimento de vagem, R - R6 enchimento de vagem, R7 - R8 maturação.
CONCLUSÕES
• Os resultados obtidos, considerados no seu conjunto, demostraram que não foi possível detectar diferenças estatísticas entre os tratamentos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
- ALTIERI, M.A. Ecology of tropical herbivores in polycultural agroecosystems. In: PRICE, P.W. et al (Eds.). Plantanimal interactions s.l., (Cidade): John Wiley, 1991. p.607-618.
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- CORRÊA, B.C.; PANIZZI, A.R.; NEWMAN, G.G.; TURNIPSEED, S.G. Distribuição geográfica e abundância estacional dos principais insetos pragas da soja e seus predadores. An. Soc. Entomol. Bras., v.6, n.1, p.40-50, 1977.
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
16 Set 2024 -
Data do Fascículo
Jan-Mar 2004
Histórico
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Recebido
06 Nov 2003 -
Aceito
28 Dez 2003