Resumo
Neste texto celebram-se as ideias e o legado do educador Carlos Rodrigues Brandão, falecido, infelizmente, no dia 12 de julho de 2023. Para homenagear Brandão, optou-se por tomar como base a obra intitulada O educador: vida e morte, que completou 42 anos e serviu como inspiração ao título deste texto. Por certo, a distância do tempo não apaga o espírito do educador de vocação amorosa e libertária. Brandão era implacável ao tecer críticas às injustiças sociais, ao mesmo tempo que indicava saídas cotidianas para o trabalho educativo de cariz emancipatório. O pensamento de Brandão não feneceu; poético e divertido, permanece vivo e a florescer entre nós. Como na reflexão de Rubem Alves (1983, p. 17): “E o educador, morreu? Educadores são como as velhas árvores. Possuem uma face, um nome, uma estória a ser contada”.
Palavras-chave:
Carlos Rodrigues Brandão; educação emancipatória; pedagogia libertária
Abstract
This text celebrates the ideas and legacy of educator Carlos Rodrigues Brandão, who unfortunately died on July 12, 2023. To honor Brandão, we chose to take as a basis the work entitled O educador: vida e morte (The Educator: Life and Death), which completed 42 years and served as inspiration for the title of this text. Indeed, the distance of time does not erase the educator’s spirit of a loving and libertarian vocation. Brandão ruthlessly criticized social injustices while indicating daily outlets for emancipatory educational work. Brandão’s thought has not withered; poetic and amusing, it remains alive and flourishing among us. As in the reflection of Rubem Alves (1983, p. 17): “And the educator, did he die? Educators are like old trees. They have a face, a name, a story to be told.”
Keywords:
Carlos Rodrigues Brandão; emancipatory education; libertarian pedagogy
Resumen
Este texto celebra las ideas y el legado del educador Carlos Rodrigues Brandão, fallecido lamentablemente el 12 de julio de 2023. Para homenajear a Brandão, optamos por basarnos en la obra titulada O educador: vida e morte (El educador: vida y muerte), que cumple 42 años y sirvió de inspiración para el título de este texto. Por supuesto, la distancia del tiempo no borra el espíritu del educador con vocación amorosa y humanitaria. Brandão fue implacable en su crítica a las injusticias sociales, al tiempo que apuntaba soluciones cotidianas para un trabajo educativo emancipador. El pensamiento de Brandão no ha muerto; poético y divertido, permanece vivo y floreciente entre nosotros. Como reflexiona Rubem Alves (1983, p. 17): “Y el educador, ¿está muerto? Los educadores son como árboles ancianos. Tienen un rostro, un nombre, una historia que contar”.
Palabras clave:
Carlos Rodrigues Brandão; educación emancipadora; pedagogía libertaria
Introdução
Neste texto celebram-se as ideias, o legado e as obras do educador Carlos Rodrigues Brandão que, infelizmente, faleceu aos 83 anos no dia 12 de julho de 2023. No entanto, seu pensamento não feneceu; ao contrário, permanece vivo e continua a florescer entre nós. Assim, para homenagear Brandão, optou-se por tomar como base uma obra organizada por ele intitulada O educador: vida e morte (Brandão, 1983BRANDÃO, Carlos R. (org.). O educador: vida e morte. Rio de Janeiro: Edições Graal , 1983.), publicada pela primeira vez em janeiro de 1982, completando 42 anos, e que serviu como inspiração ao título deste texto. Trata-se de um compêndio que pode ser considerado um clássico na literatura da educação brasileira e que serve como referência a diferentes áreas, como educação, filosofia, antropologia e saúde coletiva. Na obra, ainda são autores, ao lado de Brandão, Paulo Freire, Marilena Chaui, Rubem Alves, Miguel Arroyo, entre outros. Trata-se de uma geração de pensadores nacionais que, como afirmou Freire (1983FREIRE, Paulo. Educação: o sonho possível. In: BRANDÃO, Carlos R. (org.). O educador: vida e morte. Rio de Janeiro: Edições Graal , 1983. p. 89-102., p. 101) no livro, são aqueles e aquelas que se molharam nas águas da história e da cultura de seu povo e que escolheram estar ao lado dos oprimidos. Por certo, a morte ou a distância do tempo não os apagam.
Lembro-me das várias vezes em que assisti e estive com Brandão, o que inclui momentos nos quais atendeu a convites para participar de disciplinas e seminários com o tema da Educação Popular no campo da saúde coletiva. As salas e audiências nas quais Carlos Brandão participava costumavam ser bastante concorridas. Ele tinha algo de muito peculiar em suas aulas e conferências: além da impressionante erudição acadêmica e filosófica, era divertido e poético ao falar dos processos educativos e da pedagogia da própria vida. Dava gosto assisti-lo ao fazer reflexões sobre a prática da educação em conexão com o contexto social e político. Era implacável ao tecer críticas às injustiças e desigualdades econômicas, ao mesmo tempo indicava saídas cotidianas para o trabalho educativo de cariz emancipatório. Ele nos desafiava a pensar o cotidiano do trabalho pedagógico como ‘ensinar-e-aprender’, verbos indissociáveis, faces do mesmo processo do trabalho do educador (Brandão, 1983BRANDÃO, Carlos R. (org.). O educador: vida e morte. Rio de Janeiro: Edições Graal , 1983., p. 73). De acordo com as ideias de Brandão, a prática tem precedência sobre a teoria, tal qual a tradição de educação popular preconizada por Paulo Freire (1978FREIRE, Paulo. Cartas à Guiné-Bissau: registros de uma experiência em processo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978.).
E, de fato, Brandão filia-se à linhagem de pensamento crítico no campo da educação em conjunto com Paulo Freire, contemporâneo e amigo, que possui como um de seus pressupostos principais a ideia de que as mudanças na realidade se constroem por meio de interações entre diferentes esferas do saber. Trata-se, pois, da aprendizagem pela experiência e pela convivência com o outro, gerando conhecimento coletivo com potencial para que floresçam transformações sociais (Brandão, 2003BRANDÃO, Carlos R. Pergunta a várias mãos: a experiência da pesquisa no trabalho do educador. São Paulo: Cortez, 2003.; Silva e Souza, 2014SILVA, Aline A.; SOUZA, Katia R. Educação, pesquisa participante e saúde: as ideias de Carlos Rodrigues Brandão. Trabalho, Educação e Saúde, Rio de Janeiro, v. 12, n. 3, p. 519-539, 2014. https://doi.org/10.1590/1981-7746-sip00012. Disponível em: https://www.tes.epsjv.fiocruz.br/index.php/tes/article/view/1335. Acesso em: 24 mar. 2024.
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). De acordo com Brandão (1983BRANDÃO, Carlos R. (org.). O educador: vida e morte. Rio de Janeiro: Edições Graal , 1983., p. 75), o educador deve “escolher o seu lado e lutar por ele”.
Foi no livro O educador: vida e morte que Brandão registrou uma passagem da história da educação, especificamente na Grécia antiga, alusiva aos velhos escravos pedagogos que conduziam meninos e meninas a caminho da escola. O educador, escravo e substituto dos pais nobres, caminhava lado a lado dos meninos gregos e era cidadão do mundo e da cultura. Por meio da metáfora do educador, velho escravo pedagogo, Brandão (1983)BRANDÃO, Carlos R. (org.). O educador: vida e morte. Rio de Janeiro: Edições Graal , 1983. nos aponta para o que se deseja ainda hoje na educação: tornar os processos educativos em interações humana afetuosas e, literalmente, em caminhadas dialógicas de mãos dadas, simbolizando o respeito, o cuidado e a confiança. Embora as abissais diferenças sociais estivessem presentes na clássica sociedade grega, Brandão não as ignorou e trouxe a análise da atividade do pedagogo-educador para os nossos dias no contexto histórico do modo de produção capitalista, como ‘trabalho’.
Nesse sentido, importa considerar, com Brandão (1983BRANDÃO, Carlos R. (org.). O educador: vida e morte. Rio de Janeiro: Edições Graal , 1983.), o aspecto da exigência de os educadores(as) pensarem, de forma crítica e consciente, a sua atividade cotidiana e o seu próprio trabalho. Brandão propõe o permanente exercício da crítica política da educação, chamando atenção para as especificidades no trabalho político do educador. Complementarmente, em capítulo do livro O educador: vida e morte, Rubem Alves (1983ALVES, Rubem. O preparo do educador. In: BRANDÃO, Carlos R. (org.). O educador: vida e morte. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1983. p. 13-28.) questiona: “E o educador, morreu?”. Respondendo em seguida: “Educadores são como as velhas árvores. Possuem uma face, um nome, uma estória a ser contada” (Alves, 1983ALVES, Rubem. O preparo do educador. In: BRANDÃO, Carlos R. (org.). O educador: vida e morte. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1983. p. 13-28., p. 17).
Assim, fica o convite para a leitura das obras de Carlos Rodrigues Brandão, por meio do acesso a parte de seu legado (vivo), no website A partilha da vida (Brandão, 1995BRANDÃO, Carlos R. A partilha da vida: livros e outros escritos de Carlos Rodrigues Brandão. [S. l.]: Cabral Editora, 1995. Disponível em: https://apartilhadavida.com.br/. Acesso em: 24 mar. 2024.
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). Lá é possível conhecer a sua biografia, trajetória acadêmica, baixar gratuitamente livros e outros escritos e, ainda, experimentar por meio do seu amplo trabalho o espírito do educador de vocação amorosa, libertária e caminhante.
Gratidão coletiva, Brandão!
Referências
- ALVES, Rubem. O preparo do educador. In: BRANDÃO, Carlos R. (org.). O educador: vida e morte. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1983. p. 13-28.
- BRANDÃO, Carlos R. (org.). O educador: vida e morte. Rio de Janeiro: Edições Graal , 1983.
- BRANDÃO, Carlos R. Pergunta a várias mãos: a experiência da pesquisa no trabalho do educador. São Paulo: Cortez, 2003.
- BRANDÃO, Carlos R. A partilha da vida: livros e outros escritos de Carlos Rodrigues Brandão. [S. l.]: Cabral Editora, 1995. Disponível em: https://apartilhadavida.com.br/. Acesso em: 24 mar. 2024.
» https://apartilhadavida.com.br - FREIRE, Paulo. Cartas à Guiné-Bissau: registros de uma experiência em processo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978.
- FREIRE, Paulo. Educação: o sonho possível. In: BRANDÃO, Carlos R. (org.). O educador: vida e morte. Rio de Janeiro: Edições Graal , 1983. p. 89-102.
- SILVA, Aline A.; SOUZA, Katia R. Educação, pesquisa participante e saúde: as ideias de Carlos Rodrigues Brandão. Trabalho, Educação e Saúde, Rio de Janeiro, v. 12, n. 3, p. 519-539, 2014. https://doi.org/10.1590/1981-7746-sip00012. Disponível em: https://www.tes.epsjv.fiocruz.br/index.php/tes/article/view/1335 Acesso em: 24 mar. 2024.
» https://doi.org/https://doi.org/10.1590/1981-7746-sip00012» https://www.tes.epsjv.fiocruz.br/index.php/tes/article/view/1335
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Financiamento
Não se aplica. -
Questões éticas
Não se aplica. -
Apresentação prévia
Não se aplica.
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
13 Maio 2024 -
Data do Fascículo
2024
Histórico
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Recebido
19 Mar 2024 -
Aceito
20 Mar 2024