Resumo:
Esta pesquisa teve o seu enfoque na hospitalidade do espaço turístico urbano, cujo tema tem sido explorado em outros estudos ou experiências de pesquisa dos autores. O foco da análise é o espaço edificado: infraestrutura, paisagem urbana e qualidade ambiental das destinações turísticas e suas relações com a hospitalidade. Nessa perspectiva, ressalta-se que alguns desses trabalhos já foram submetidos a revistas ou eventos científicos, visando também, desta maneira, a assegurar uma avaliação por pares. O destino de Praia do Forte na Região Metropolitana de Salvador é uma localidade tradicional e histórica, do ponto de vista da ocupação humana do território e do ponto de vista da recente ocupação turística. Assim, o objetivo principal desta pesquisa foi analisar condições da hospitalidade física desse destino turístico consolidado. Trata-se de um destino localizado no litoral, dotado de paisagens naturais singulares, onde a memória histórico-cultural marca a paisagem edificada, além da demanda turística recente acentuada, em virtude dos atributos culturais e da preservação ambiental. A metodologia está amparada na pesquisa descritiva e qualitativa com uma abordagem empírica e sensorial, apoiada na pesquisa documental, bibliográfica e iconográfica. Os dados foram analisados à luz do método interpretativo, focado nos conceitos e paradigmas que dão suporte aos estudos da hospitalidade do espaço edificado, visando a contribuir com os métodos de análise da hospitalidade urbana dos destinos turísticos. Os resultados da análise demonstram o desempenho deste destino turístico em cada uma das categorias de análise: acessibilidade, legibilidade e identidade.
Palavras-chave:
Hospitalidade urbana; Espaço edificado; Hospitalidade; Destinos turísticos; Praia do Forte - Bahia
Abstract:
This research had its focus on the hospitality of the urban tourist space, whose theme has been explored in other studies or research experiences of the authors. The focus of the analysis is the built space: infrastructure, urban landscape and environmental quality of tourist destinations and their relations with hospitality. In this perspective, it is noteworthy that some of these works have already been submitted to journals or scientific events, aiming also, in this way, to ensure a peer review. The destination of Praia do Forte in the Metropolitan Region of Salvador is a traditional and historical place from the point of view of human occupation of the territory and from the point of view of recent tourist occupation. Thus, the main objective of this research was to analyze conditions of the physical hospitality of this consolidated tourist destination. It is a destination located on the coast, endowed with unique natural landscapes, where the historical-cultural memory marks the built landscape, besides the recent tourist demand accentuated due to cultural attributes and environmental preservation. The methodology is based on descriptive and qualitative research with an empirical and sensorial approach, supported by documentary, bibliographic and iconographic research. The data were analyzed in the light of the interpretative method, focused on the concepts and paradigms that support the studies of hospitality of the built space, aiming to contribute to the methods of analysis of the urban hospitality of tourist destinations. The results of the analysis demonstrate the performance of this tourist destination in each of the analysis categories: accessibility, legibility and identity.
Keywords:
Urban hospitality; Built space; Hospitality; Tourist destinations; Praia do Forte - Bahia.
Resumen:
Esta investigación se centró en la hospitalidad del espacio turístico urbano, cuyo tema ha sido explorado en otros estudios o experiencias de investigación de los autores. El foco del análisis es el espacio construido: infraestructura, paisaje urbano y calidad ambiental de los destinos turísticos y sus relaciones con la hospitalidad. En esta perspectiva, cabe destacar que algunos de estos trabajos ya han sido presentados a revistas o eventos científicos, pretendiendo también, de esta forma, garantizar una revisión por pares. El destino de Praia do Forte, en la Región Metropolitana de Salvador, es un lugar tradicional e histórico desde el punto de vista de la ocupación humana del territorio y desde el punto de vista de la reciente ocupación turística. Así, el objetivo principal de esta investigación fue analizar las condiciones de hospitalidad física de este consolidado destino turístico. Se trata de un destino situado en la costa, dotado de paisajes naturales únicos, donde la memoria histórico-cultural marca el paisaje construido, además de la reciente demanda turística acentuada en virtud de los atributos culturales y la preservación del medio ambiente. La metodología se basa en una investigación descriptiva y cualitativa con enfoque empírico y sensorial, apoyada en investigación documental, bibliográfica e iconográfica. Los datos fueron analizados a la luz del método interpretativo, centrado en los conceptos y paradigmas que sustentan los estudios de la hospitalidad del espacio construido, con el objetivo de contribuir a los métodos de análisis de la hospitalidad urbana de los destinos turísticos. Los resultados del análisis demuestran el desempeño de este destino turístico en cada una de las categorías de análisis: accesibilidad, legibilidad e identidad.
Palabras clave:
Hospitalidad urbana; Espacio construido; Hospitalidad; Destinos turísticos; Praia do Forte - Bahia.
INTRODUÇÃO
No contexto da cidade turística, Lucio Grinover (2007Grinover, L. (2007). A Hospitalidade, a Cidade e o Turismo. Aleph. ) infere que existe uma imagem de cidade que cria uma informação legível acerca do espaço urbano e das arquiteturas que o compõe; tal oferta de informação é uma expressão de hospitalidade urbana. Com essa informação, o visitante se sente acolhido, bem recebido, encontra o que procura, passeia descompromissado e se dedica à contemplação sem o risco de se perder. Esses estudos, a partir da imagem da cidade e todo seu escopo, contribuíram, concomitantemente, com a noção de hospitalidade urbana e com o planejamento dos destinos turísticos urbanos.
Entende-se, portanto, que a hospitalidade do espaço edificado está relacionada com a qualidade do ambiente urbano e, no caso dos destinos turísticos, com a qualidade da experiência turística dos visitantes e com a experiência dos residentes em receber, sendo a qualidade do espaço físico das cidades essencial nessas interações. Ressalta-se que a hospitalidade da cidade passa pela qualidade da paisagem urbana, que abarca as características do sítio geográfico, a morfologia urbana - arquitetura da cidade e qualidade do espaço público - locus das interações sociais - ordenamento e oferta de infraestrutura e mobilidade, para assegurar o deslocamento e a inclusão social. Nota-se que tanto uma análise da forma como a de conteúdo - significado - da imagem da cidade, torna possível inferir que ela pode ser dotada, ou não, de hospitalidade. Para Grinover (2007Grinover, L. (2007). A Hospitalidade, a Cidade e o Turismo. Aleph. , p. 82), a hospitalidade é um “dom” do espaço carregado pelos signos da acessibilidade, legibilidade e identidade, portanto, aqueles atributos já sistematizados por Kevin Lynch (1997Lynch, K. (1997). A imagem da cidade. Martins Fontes.). Aliado a isso, deve-se considerar que atributos do espaço edificado contemporâneo dão ênfase ao sentido emocional que o ambiente poderá proporcionar para garantir o bem-estar das pessoas. Essa garantia de acolhimento, bem-estar e qualidade do ambiente é uma questão-chave quando se trata de destinos turísticos urbanos sob a ótica da hospitalidade, ou do espaço que se torna lugar como signo de acolhimento.
Nessa apreensão, a qualidade do espaço físico deve assegurar também a sua legibilidade e a identidade do local, de modo a proporcionar a emoção e possibilitar a leitura do lugar: a acessibilidade, a inclusão, o acolhimento, a mobilidade, o bem-estar são fatores que contribuem para que o espaço físico seja hospitaleiro. Em se tratando de destinações turísticas, a hospitalidade do espaço deve se evidenciar, tendo em vista que os visitantes precisam apreendê-lo, sentir-se seguros para se deslocarem e vivenciarem experiência turística de maneira aprazível. Nessa perspectiva, a hospitalidade do espaço físico é fundamental para o espaço turístico urbano, para resgatar a cidadania e o bem-estar social.
Nesse sentido, as evidências científicas e, consequentemente, o desenvolvimento tecnológico têm demonstrado a concomitante e necessária sustentabilidade ambiental e as condições de hospitalidade dos espaços edificados. Portanto, se verifica que as condições elencadas do espaço construído - acessibilidade, legibilidade, identidade, significado e bem-estar - foram os fios condutores para a análise deste trabalho. Partindo desses pressupostos, a análise procurou responder o objetivo principal: analisar o destino turístico Praia do Forte na Bahia, enquanto diferencial do espaço turístico contemporâneo. Como justificativa, esta pesquisa apontou para a importância em contribuir com métodos de análise acerca da hospitalidade do espaço físico, por se tratar de uma nova vertente de pesquisa científica, cujo arcabouço teórico e os métodos de análise foram postulados muito recentemente.
A metodologia está amparada na pesquisa descritiva e qualitativa com uma abordagem empírica e sensorial, apoiada na pesquisa documental, bibliográfica e iconográfica. Os dados foram analisados à luz do método interpretativo, focado nos conceitos e paradigmas que dão suporte aos estudos da hospitalidade do espaço edificado.
A análise do destino turístico pesquisado demonstrou bom desempenho da acessibilidade (Grinover, 2003Grinover, L. (2003). Hospitalidade: um tema a ser reestudado e pesquisado. In A. D. F. M., Dencker & M. S. Bueno (Orgs.), Hospitalidade: Cenários e Oportunidades (p. 61-71). Pioneira Thomson Learning. ; Grinover, 2006Grinover, L. (2006). A hospitalidade urbana: acessibilidade, legibilidade e identidade. Hospitalidade, 3(2), 29-50. https://www.revhosp.org/hospitalidade/article/view/191.; GrinoverGrinover, L. (2007). A Hospitalidade, a Cidade e o Turismo. Aleph. , 2007). Ademais, o destino turístico pesquisado possui diversidade de atrativos, infraestrutura turística e uma demanda turística expressiva, exatamente por conta da infraestrutura hoteleira no local e no seu entorno.
Nesse estudo também se analisou a arborização urbana, temperatura local e níveis de ruído urbano no destino estudado.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Bell (2009Bell, D. (2009). Tourism and hospitality. In: T. a Jamal & M. Robinson (Eds.), The SAGE Handbook of Tourism Studies (pp. 19-34). Sage. DOI: https://doi.org/10.4135/9780857021076.n2.) aponta para a necessidade contemporânea de mais pesquisas sobre hospitalidade, assim como Allis e Fraga (2016Allis, T., & Fraga, C. (2016). Mobilidades turísticas e hospitalidade urbana: Análise bibliográfica a partir de publicações de turismo no Brasil. Revista Turismo & Desenvolvimento, 26, 155-165. DOI: 10.34624/rtd.v0i26.10787.) apontam produção acadêmica tímida para estudos sobre hospitalidade urbana no Brasil. Os estudos sobre hospitalidade das cidades têm se dedicado aos valores sociais, nos quais o espaço não foi tratado de forma eficaz. Bell (2009) observou que, na última década, tem sido renovado o interesse pelos estudos de hospitalidade relacionados com o turismo, para além do conteúdo pragmático da gestão da hospitalidade, mas encontraram uma análise diversificada das Ciências Sociais; especialmente em estudos sobre imigração e asilo para refugiados em várias cidades do mundo contemporâneo. Por exemplo, o “acesso”, como condição da hospitalidade urbana, está vinculado ao planejamento participativo e ferramentas de políticas públicas (Mercier et al., 2014Mercier, J., Duarte, F., Domingue, J., & Carrier, M. (2014). Understanding continuity in sustainable transport planning. In: Curitiba. Urban Studies, 52(8), p. 1454-1470. DOI: 10.1177/0042098014538526.; Hambleton, 2015Hambleton, R. (2015). Power, place and the new civic leadership. Local Economy, 30(2), 167-172. DOI: 10.1177/0269094215570563.); a hospitalidade dos lugares da cidade condicionada pelo empreendedorismo e produção cultural (Lugosi et al., 2010Lugosi, P., Bell, D., & Lugosi, K. (2010). Hospitality, Culture and Regeneration: Urban Decay, Entrepreneurship and the 'Ruin' Bars of Budapest. Urban Studies, 47(14), 3079-3101. DOI: 10.1177/0042098009360236.); questões de gênero como contribuição para hospitalidade da cidade (HØy-Petersen et al., 2016HØy-Petersen, N., Woodward, I. and Skrbis, Z. (2016). Gender performance and cosmopolitan practice:exploring gendered frames of openness and hospitality. The Sociological Review, 64 (4), 970-986. DOI: 10.1111/1467-954X.12390.) e contribuição da sociologia pragmática para hospitalidade das cidades (Blok & Meilvang, 2014Blok, A., & Meilvang, M. L. (2014). Picturing urban green attachments: civic activists moving between familiar and public engagements in the city. Sociology, 49(1), 19-37. DOI: 10.1177/0038038514532038.).
Portanto, a hospitalidade também pode ser estudada como “espaço”, como a interpretação dominante (Jackobson, 1971Jackobson, R. (1971). Selected Writings II: Word and Language. Mouton.).
Da mesma forma, pesquisas em hospitalidade urbana derivadas da Geografia Humana compreendem o papel social de comensalidade, comércio e serviços de bairro como atributos da hospitalidade nas cidades (Bell, 2009Bell, D. (2009). Tourism and hospitality. In: T. a Jamal & M. Robinson (Eds.), The SAGE Handbook of Tourism Studies (pp. 19-34). Sage. DOI: https://doi.org/10.4135/9780857021076.n2.; Latham, 2003Latham, A. (2003). Urbanity, lifestyle and making sense of the new urban cultural economy: notes from Auckland, New Zealand. Urban Studies, 40(9), 1699-1724. DOI: 10.1080/0042098032000106564.). Nesse mesmo viés social, Gibson e Molz (2016Gibson, S., & Molz, J. G. (2016). Mobilizing hospitality: the ethics of social relations in a mobile world. Routledge.) analisaram a hospitalidade urbana por meio de relações sociais marcadas pela inclusão, exclusão, violência e gentileza, em que essas categorias são apresentadas como uma descrição das mobilidades sociais. Da mesma forma, Landau (2012Landau, L. B. (2012). Hospitality without hosts: mobility and communities in Africa’s urban estuaries. WISER 19, 5(7), 1-19. https://wiser.wits.ac.za/system/files/seminar/Landau2012.pdf.), embora tenha inferido sobre um espaço comunitário, dedicou-se a construir uma explicação de hospitalidade urbana justificada por relações sociais de associações étnicas e multiculturalismo. Heal (2011Heal, F. (2011). Urban hospitality. In O. F. Head (Ed.), Hospitality in Early Modern England. Oxford Scholarship.) infere sobre diferentes espaços de hospitalidade urbana a partir de uma perspectiva socioeconômica na formação de diferentes territórios em cidades da Inglaterra elizabethana.
Nesse sentido, como lacuna teórica apontada neste estudo, há a possibilidade de um sistema de caracterização morfológica espacial das áreas urbanas que vai além dos atributos sociais da hospitalidade nas cidades.
A hospitalidade como um ato de receptividade, acolhimento, bem-estar, conforto e inclusão (Lashley, 2015Lashley, C. (2015). Hospitalidade e hospitalidade. Revista Hospitalidade , 12 (Special Issue), 70-92. https://www.revhosp.org/hospitalidade/article/view/566.; Lynch et al., 2007Lashley, C., Lynch, P., & Morrison, A. J. (2007). Hospitality: a social lens. Elsevier.; Gibson & Molz, 2016Gibson, S., & Molz, J. G. (2016). Mobilizing hospitality: the ethics of social relations in a mobile world. Routledge.; Tasci & Semrad, 2016Tasci, A., & Semerad, K. (2016). Developing a scale of hospitableness: a table of two worlds. International Journal of Hospitality Management, 53, 30-41. DOI: 10.1016/j.ijhm.2015.11.006. ) não deixa de ser uma ressignificação do conceito de hospitalidade que está enraizado na cultura desde a Antiguidade, como sugere Raffestin (2013Raffestin, C. (2013). Réinventer l'hospitalité. Communications, 65, 165-177. https://www.persee.fr/doc/comm_0588-8018_1997_num_65_1_1997. ). Disso decorrem implicações desses princípios de hospitalidade para o conceito de hospitalidade do espaço edificado, que tem como princípio assegurar a todo cidadão o acesso a equipamentos, serviços, e um ambiente legível e acolhedor. De acordo com Grinover (2007Grinover, L. (2007). A Hospitalidade, a Cidade e o Turismo. Aleph. ), hospitalidade pressupõe acolhimento, lei universal que garante, sob certas condições, a inclusão de outros no mesmo espaço. A hospitalidade da cidade passa ainda pelo ordenamento geral da paisagem urbana e dos lugares públicos (Grinover, 2007Grinover, L. (2007). A Hospitalidade, a Cidade e o Turismo. Aleph. , p. 125).
Assim, estudar a cidade é procurar quais elementos e estruturas podem conferir o estado de cidade hospitaleira ou, ao contrário, cidade repulsiva ou até mesmo hostil; isso significa que as categorias sociais, culturais, históricas, econômicas e ambientais estão substanciadas em atributos de acessibilidade e legibilidade (Grinover, 2007Grinover, L. (2007). A Hospitalidade, a Cidade e o Turismo. Aleph. , p. 131).
Nesse sentido, pode-se ter um sistema de caracterização morfológica urbana como um conjunto instrumental de representação dos atributos espaciais relevantes. A caracterização morfológica busca uma síntese de estruturas composta por características essenciais; assim, as técnicas de caracterização morfológica do lugar integram uma descrição, enquanto variáveis incidentes no seu comportamento, mas também possibilitam a orientação dos indivíduos em identificar essas características através do espaço configurado (Kohlsdorf, 1996Kohlsdorf, M. E. (1996). A apreensão da forma da cidade. Editora da Universidade de Brasília., p. 75).
Trata-se, portanto, da importância da imagem da cidade que carrega identidade e sugere legibilidade. Dessa forma, Lynch (1997Lynch, K. (1997). A imagem da cidade. Martins Fontes.) e Grinover (2007Grinover, L. (2007). A Hospitalidade, a Cidade e o Turismo. Aleph. ) argumentam que uma cidade é hospitaleira através de sua leitura eficaz, sendo que esses autores nomeiam graus de legibilidade. Para esses autores, trata-se da facilidade pela qual a cidade pode ser visualmente apreendida, reconhecida e organizada, de acordo com um esquema coerente.
Baptista (2002Baptista, I (2002). Lugares De Hospitalidade. In: C. M. Dias (Org.), Hospitalidade: reflexões e perspectivas. Manole. ) atenta para a urgência de dotar espaços urbanos como lugares hospitaleiros, tendo em vista que a hospitalidade surge como um acolhimento ético por excelência, capaz de qualificar o ambiente urbano. Os lugares de hospitalidade são lugares de urbanidade, são lugares abertos a outros, pois falar de hospitalidade significa levar em conta as implicações da dupla relação humana com o lugar e com o outro (Baptista, 2002Baptista, I (2002). Lugares De Hospitalidade. In: C. M. Dias (Org.), Hospitalidade: reflexões e perspectivas. Manole. , p. 16).
Como observa Cruz (2002Cruz, R. de C. A. da (2002). Hospitalidade turística e fenômeno urbano no Brasil: considerações gerais. In: C. M. de M. Dias (Org.), Hospitalidade: Reflexões e Perspectivas . Manole.), parte da hospitalidade é fruto da organização socioespacial dos lugares e isso, possivelmente, se dá em função da dimensão socioespacial subjacente ao ato de acolher ocupantes desses lugares; bem como a hospitalidade do espaço físico da cidade passa pelo ordenamento geral das paisagens urbanas e pela organização dos lugares públicos (Cruz, 2002, p. 141).
Segundo Campos (2008Campos, S. R. (2008). Os cinco sentidos da hospitalidade. Observatório de Inovação do Turismo. Revista Acadêmica, 3(1), 1-17. DOI: 10.12660/oit.v3n1.5694.), quando o turista vivencia uma experiência de viagem e está conhecendo algo novo e inusitado, sua percepção se torna mais sensível ao ambiente e absorve dele as imagens do lugar que pode ser apreendido como um lugar hospitaleiro ou hostil. Atualmente, alguns autores inferem sobre a hospitalidade do espaço físico a partir da imagem do destino (Ahn et al., 2013Ahn, T., Ekinci, Y., & Li, G. (2013). Self-congruence, functional congruence and destination choice. Journal of Business Research, 66(6), 719-723. DOI: 10.1016/j.jbusres.2011.09.009.; Kamins & Grupta, 1994Kamins, M. A., & Grupta, K. (1994). Congruence between spokesperson and product type: a matchup hypothesis perspective. Psychology & Marketing, 11(6), 569-586. DOI: 10.1002/mar.4220110605.).
Nas cidades onde o turismo está consolidado como uma atividade econômica geradora de divisas, emprego e renda, a hospitalidade se faz tão necessária quanto os atrativos e infraestrutura que lhes dão sustentação. Portanto, a imagem do destino se associa à percepção da hospitalidade do espaço, evidenciando, assim, essa relação que, por sua vez, reforça a satisfação do habitante, visitante ou turista em vivenciar sua experiência turística de maneira aprazível. Nessa perspectiva, o conjunto da paisagem edificada pode criar uma atmosfera agradável aos sentidos, provocar emoções e tornar a experiência turística significativa de forma aprazível.
A partir dessa conceituação, o método desta pesquisa definiu categorias de análise que possibilitam demonstrar os signos de hospitalidade do espaço físico urbano. Disso decorre a seleção de categorias utilizadas para a análise do objeto desta pesquisa, quais sejam: acessibilidade, legibilidade e identidade; e se arrisca conforto ambiental urbano como fator de ampliação da construção epistemológica e contribuição com métodos de análise da hospitalidade urbana de destinos turísticos.
Acessibilidade: conceito que define possibilidades de acesso dos indivíduos, ou de grupos sociais a certas atividades ou serviços que estão presentes na cidade, sem distinção social. Pode ser considerado como a disponibilidade de instalações e infraestruturas ou dos meios físicos que permitem a acessibilidade física tangível, sistema de transporte, infraestrutura viária de acessibilidade ao espaço citadino, os meios de deslocamento. A acessibilidade intangível ou virtual, que pode proporcionar acesso à cultura, à informação, vem a ser a essência da cidadania através da qualidade de vida que proporciona hospitalidade e condições para o desenvolvimento do espaço público.
Legibilidade: diz respeito à qualidade visual de uma cidade, identificada por seus habitantes ou pelos visitantes ou turistas, sendo um referencial no processo de orientação e reconhecimento do espaço físico, por meio da imagem ambiental, que pode facilitar ou dificultar a orientação e o reconhecimento do espaço físico dependendo da disposição dos elementos: bairros, marcos ou caminhos facilmente reconhecíveis e agrupados num modelo global (Lynch, 1997Lynch, K. (1997). A imagem da cidade. Martins Fontes.). Segundo Grinover (2007Grinover, L. (2007). A Hospitalidade, a Cidade e o Turismo. Aleph. ), a leitura da cidade se dá pela ótica qualitativa, por meio de códigos que possibilitam identificar uma rua, edifícios ou bairros, com pontos de vistas e culturas diferentes, gerando uma comunicação dialógica entre determinado edifício e a sensibilidade do cidadão, determinando a escolha do percurso, não por ser mais rápido, mas, principalmente, pelas sensações ou sentimentos que esse percurso pode despertar.
Identidade: no contexto contemporâneo das grandes cidades, as linguagens arquitetônicas e urbanizadoras são consideradas internacionais e modelares, o que, de outra forma, despertam fascinação e, consequentemente, um interesse por lugares na cidade, os quais, articulados, vão gerar uma nova identidade para o lugar. A análise de hospitalidade urbana deve considerar que, como símbolo na memória social, a imagem é composta pela utilização do espaço pela apropriação do patrimônio cultural, pelas tipologias arquitetônicas e pela singularidade do ambiente (Grinover, 2007Grinover, L. (2007). A Hospitalidade, a Cidade e o Turismo. Aleph. , p. 150).
Conforto ambiental urbano: como mais uma categoria de análise da hospitalidade do espaço edificado, relacionando-o com a acessibilidade e com legibilidade, agregando variáveis tangíveis referentes ao dimensionamento e desenho dos espaços públicos a partir da perspectiva do pedestre: a arborização urbana, parques e jardins, que são parâmetros para criar microclimas e maior conforto ambiental no espaço urbano. Ademais, variáveis intangíveis, ou de difícil mensuração, da percepção ambiental - sensações geradas a partir dos estímulos do espaço edificado -, por meio da qualidade do espaço que proporciona hospitalidade, qualidade de vida e condições para o desenvolvimento do espaço público.
Com essas categorias selecionadas, a análise procurou evidenciar a relação que se estabelece entre hospitalidade do espaço físico das cidades e descrições provocadas por este espaço: receptividade e acolhimento do habitante, visitante ou turista, satisfação de ordem psicológica, necessidade de trocas culturais. Uma relação que se estabelece entre hospitalidade, bem-estar e qualidade de vida.
METODOLOGIA
A leitura espacial se apoiou no método descritivo dos atributos de hospitalidade, segundo as categorias de análise de acessibilidade, legibilidade e identidade, conforme Grinover (2007Grinover, L. (2007). A Hospitalidade, a Cidade e o Turismo. Aleph. ), Raymond (1997Raymond, H. (1997). Itinèraire mental de l'urbain hospitalier. Cominnications. ), Lynch (1997Lynch, K. (1997). A imagem da cidade. Martins Fontes.); além de dados de conforto ambiental urbano: temperatura em locais sombreados e a “sol a pino”, bem como dados de acústica urbana em locais da Praia do Forte com maior movimentação de transeuntes (Murgel, 2007Murgel, R. (2007). Fundamentos de acústica ambiental. Senac.; Romero, 2013Romero, M. A. B. (2013). Princípios Bioclimáticos Para o Desenho Urbano. Editora da UnB.).
A abordagem se deu através do método interpretativo de pesquisa que consiste em ver, discriminar e generalizar. Entende-se a arquitetura da cidade como dado não verbal, o que caracteriza a busca da realidade do espaço socialmente construído como gerador de informação; assim, parte-se da leitura do espaço e sua representação, seja em fotografia, mapeamentos, perspectivas, na tentativa de formular novas hipóteses.
Por se tratar de sistema espacial, é notória sua plurissignificação inerente, originando uma gama de interpretações com várias possibilidades relacionais. Deve-se considerar que o método não se inicia com a formulação de uma teoria que é aplicada ao objeto, no intuito de deduzir alguma relação teórica, mas, parte-se do objeto de pesquisa como gerador de novas interpretações. Em determinados momentos da pesquisa, ocorreu uma simultaneidade entre objeto de pesquisa e teoria; desse modo é que a leitura bibliográfica serviu para estimular a interpretação, entendendo-a como repertório informacional e não como mecanismo justificativo.
Trata-se também de um estudo de caso, com ênfase na análise de Praia do Forte, no litoral Norte da Bahia, o que decorreu a análise da aplicação dos conceitos de hospitalidade urbana, por meio das categorias de análise que estabelecem o fio condutor para o entendimento e explicação da hospitalidade do espaço edificado do destino selecionado.
O método interpretativo da representação dos índices de hospitalidade está amparado pelas teorias de hospitalidade urbana, essencialmente com o trabalho de Lucio Grinover (2003Grinover, L. (2003). Hospitalidade: um tema a ser reestudado e pesquisado. In A. D. F. M., Dencker & M. S. Bueno (Orgs.), Hospitalidade: Cenários e Oportunidades (p. 61-71). Pioneira Thomson Learning. , 2006, 2007) que, por sua vez, se apoia nas teorias propostas por Lynch (1997Lynch, K. (1997). A imagem da cidade. Martins Fontes.) sobre imagem e paisagem urbanas. Assim, a análise procurou identificar as condições de hospitalidade do espaço físico, através das categorias de análise supramencionadas, que regem a hospitalidade da cidade.
Procedimentos metodológicos
A investigação optou pelo estudo da cidade e adotou a teoria de que o desenho da cidade ou de uma parte dela configura a construção de um ambiente hospitaleiro capaz de apresentar a coerência da paisagem local, onde se buscam as leis, motivos e ordens, que estão ligados à realidade urbana (Cullen, 1971Cullen, G. (1971). Paisagem Urbana. Edições 70.; Lynch, 1997Lynch, K. (1997). A imagem da cidade. Martins Fontes.).
O desenvolvimento desta pesquisa se baseou nos ensinamentos da investigação qualitativa, a qual parte do princípio de que a descoberta científica resulta da associação das doutrinas existentes à observação da realidade, cujo resultado confirma ou refuta a hipótese proposta (Creswell, 2007Creswell, J. W. (2007). Projeto de pesquisa: métodos qualitativo, quantitativo e misto. Artmed.).
Dessa forma, este estudo estabeleceu um conjunto de procedimentos ligados à hipótese e, consequentemente, aos objetivos. Esses procedimentos estão descritos nas etapas de trabalho a seguir. Montagem de bibliografia: levantamento de livros, artigos de revistas, jornais, etc., relacionados com o tema da pesquisa, bem como de informação que possibilite a compreensão do objeto em sua explanação teórica mais abrangente. Leitura de bibliografia e documentação. Identificação de índices significativos dos textos e material iconográfico, separando-os em fichas temáticas. Leitura espacial do objeto e do material iconográfico. Leitura das paisagens urbanas selecionadas, feita a partir de visitas in loco. Discussão das informações coletadas propondo a relação delas com as hipóteses sobre o assunto. Coleta de dados secundários e levantamento, em campo, dos indicadores sobre a oferta e demanda turística, para subsidiar a relação entre esses indicadores com a qualidade do espaço e com os índices de hospitalidade.
Também houve a análise da arborização urbana, temperatura local e os níveis de ruído urbano. As medições de temperaturas local foram efetuadas com o aplicativo Thermometer Checker para medições de temperaturas em ambientes externos e a medição dos níveis de ruído urbano, com o aplicativo dB SoundMeter Time4UDe cibelMeter. As medições dos níveis de ruído e temperatura foram feitas em período do início da “alta temporada”, portanto, em dia de verão, especificamente no dia 31 de outubro de 2021, a partir das 10 horas, em pontos de maior concentração de pessoas na rua principal da vila Praia do Forte.
A análise dos dados à luz da teoria demonstrou e caracterizou a aplicação dos conceitos de hospitalidade do espaço físico, cujos resultados comparados ao material iconográfico e teórico do tema e objeto, evidenciam a qualificação da hipótese levantada.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O Distrito de Praia do Forte no Litoral Norte da Bahia
Esse destino turístico possui uma diversidade de atrativos composta pelo turismo cultural com a preservação das ruínas do Castelo da Torre de Garcia D’Ávila, primeiro porto da Bahia para exportação do açúcar para a Europa, produzido pelos engenhos de açúcar do Recôncavo, além da gastronomia, comércio de lojas de moda e lojas de artesanato, feiras de artesanato e produtos locais, banho de sol e mar, uma unidade do Projeto Tamar para a preservação das tartarugas marinhas e com uma exposição permanente e palestras sobre preservação ambiental, sendo um local muito frequentado por crianças acompanhadas pelos turistas adultos. Além de shows musicais ao ar livre e uma infraestrutura turística robusta, possui uma demanda turística nacional e internacional expressiva, exatamente por conta da diversidade do produto turístico e da infraestrutura hoteleira no local e no seu entorno: a rede de resorts e hotéis de bandeiras nacional e internacional, instalada na Costa de Sauípe, litoral norte da Bahia (Figura 1).
Imagem de satélite da área de estudo do Distrito de Praia do Forte no Litoral Norte da Bahia
A análise confirmou que, dentre as categorias aplicadas, a legibilidade diz respeito à qualidade visual de uma cidade, identificada por seus habitantes e pelos visitantes, sendo um referencial no processo de orientação e reconhecimento do espaço físico, através da imagem ambiental, que pode facilitar ou dificultar a orientação e o reconhecimento do espaço físico dependendo da disposição dos elementos, pois possibilita a cognição espacial e direcionamento e gera segurança psicológica. Nesse processo, as possibilidades geradas vão além da escolha de um deslocamento mais rápido, porque envolve a emoção e enriquece a percepção sobre o lugar (Lynch, 1997Lynch, K. (1997). A imagem da cidade. Martins Fontes.).
Na Praia do Forte, ela é manifestada ao longo do circuito turístico que envolve as duas ruas principais e onde há mais circulação do fluxo turístico, ou seja, um circuito de aproximadamente 2 Km, iniciando na entrada principal da vila em cujo trecho da via estão as lojas de moda e de artesanato, os restaurantes, bares e cafeterias, as galerias de arte, de artesanato e produtos locais, seguindo até a praça da igrejinha, arquitetura colonial, onde se descortina a praia com as embarcações até chegar no complexo do Projeto Tamar. Dessa forma, a legibilidade do espaço está assegurada ao longo do destino turístico, enquanto categoria de análise do conceito de hospitalidade do espaço edificado (Figuras 2 e 3).
Sobre a categoria de análise identidade que, segundo Grinover 2007Grinover, L. (2007). A Hospitalidade, a Cidade e o Turismo. Aleph. , desperta uma fascinação pelo diferencial e, consequentemente, um interesse pelo local, a análise de hospitalidade urbana deve considerar que, como símbolo na memória social, a imagem é composta pela utilização do espaço pela apropriação do patrimônio cultural, pelas tipologias arquitetônicas e pela singularidade do ambiente (Grinover, 2007Grinover, L. (2007). A Hospitalidade, a Cidade e o Turismo. Aleph. , p. 150).
A análise da identidade de Praia do Forte constatou a evidência da identidade urbana ao longo desse circuito turístico do local. Ela está manifestada nas duas vias ladeadas de casas tradicionais de arquitetura vernacular que abrigavam os pescadores. Essas casas receberam pinturas vibrantes e adaptações para abrigar lojas e restaurantes, cujos traços principais das fachadas não foram alterados. A visão da paisagem do conjunto da vila é carregada de identidade com a vista do mar, onde se avista os barcos ancorados dos pescadores e seus artefatos de pesca, pela igrejinha, o Castelo da Torre de Garcia D’Ávila do período colonial, do início do povoamento de Praia do Forte - símbolos que identificam a atividade de pesca artesanal, com as embarcações e os artefatos da colônia de pescadores, uma tradição da Praia do Forte Santo desde o início do povoamento desse Distrito (Figuras 4 e 5 ).
Já a acessibilidade em toda a extensão do circuito turístico é feita exclusivamente para pedestre, não é permitida nem a circulação de ciclistas. Nesse circuito de 2 Km, circulam apenas duas charretes puxadas por quadriciclo de bicicleta, como uma opção para pessoas com dificuldades de locomoção e como atração das crianças, a alegria de circular na vila de charrete.
O desenho universal está presente ao longo das vias, onde circula o fluxo turístico, desde a entrada da vila até o complexo do Projeto Tamar e às praias: com revestimentos confortáveis dos pisos, rampa de acessos às lojas, restaurantes e demais equipamentos. O mobiliário urbano está distribuído por toda e extensão do circuito, com bancos em áreas sombreadas e em áreas expostas ao sol (Figuras 6, 7, 8 e 9).
Mesmo sem o trânsito de automóveis, a sinalização de pedestre possui placas de informação bilíngues - português e inglês - das atividades que estão presentes ao longo do destino. O estacionamento de automóveis e motos é remoto, sendo que possui um serviço de micro-ônibus permanente, circulando do estacionamento até a vila e vice-versa, nos horários das 8 horas até as 24 horas, cujo valor já está agregado ao preço do estacionamento.
No que se refere à análise da arborização urbana, na vila da Praia do Forte se constatou a presença da vegetação planejada ou paisagística - arborização, jardins - ao longo de todo o percurso turístico. Essa vegetação se junta na Praça da Igreja com a vegetação natural - o coqueiral das praias e se estende para além do complexo do Projeto Tamar (Figura 10).
O sombreamento está garantido por toda a vila. Com esse condicionamento, foi possível identificar temperaturas mais amenas nas áreas sombreadas, o que caracteriza um microclima nessas áreas com pequenas variações de temperatura (Figura 11).
Constatou-se, igualmente, a existência de maciços verdes de restinga e matas remanescentes no entorno da área de estudo, os quais podem ser visualizados na imagem acima (Figuras 12 e 13). De um modo geral, esses maciços de matas e a paisagem do mar proporcionam uma qualidade ao ambiente edificado, até mesmo porque a densidade do conjunto edificado é baixa e o espaço físico é satisfatoriamente aerado.
Com relação ao conforto acústico e conforto térmico urbano, os pontos de medição podem em ser verificados nas figuras abaixo que sinalizam as estações de medição (Figuras 14, 15, 16 e 17).
Os pontos A, C e D sinalizam a medição do ruído urbano, onde foram realizadas as medições, com o aplicativo dB SoundMeter Time4UDe cibelMeter.
Dessa forma, os níveis de ruído urbano encontrados nos três pontos de maior aglomeração da vila de Praia do Forte estão dentro da normalidade para o conforto acústico em espaços públicos.
Na vila de Praia do Forte se encontram medições do ruído urbano maiores em razão do fluxo turístico. Mesmo assim, os níveis de ruído estão dentro das faixas normais do conforto ambiental do espaço público, segundo Murgel (2007Murgel, R. (2007). Fundamentos de acústica ambiental. Senac.). Deve-se considerar, ainda, que se trata de área recreacional com uso comercial, bem como vale destacar que o limite máximo permitido, segundo a NR 15, Anexo I, é de 85 dB (Prometal EPis, 2020Prometal EPIs (2020, outubro). Limite de Tolerância para o Ruído: vamos falar mais sobre isso?. Prometal. https://prometalepis.com.br/blog/limite-de-tolerancia-para-o-ruido-vamos-falar-mais-sobre-isso/.).
As medições obtidas de temperatura a céu aberto em Praia do Forte registraram variações entre as áreas expostas ao sol e as áreas sombreadas, nos quatro pontos mapeados as medições obtidas da temperatura foram: nos pontos A e C expostos ao sol a temperatura foi 32°C; já no ponto B área sombreada, a medição de temperatura foi 31°C em razão do sombreamento; já na estação D área sombreada, a temperatura foi de 30°C. Nota-se que, no ponto D, a variação da temperatura foi 2°C menor que no ponto A, possivelmente porque esse ponto está mais próximo do mar. Portanto, a brisa marinha aliada ao sombreamento da área foram fatores ambientais responsáveis por essa redução de temperatura. As medições da temperatura local foram efetuadas com o aplicativo Thermometer Checker. Deve-se considerar que a temperatura é considerada “quente” quando está acima de 32°C; mas, por se tratar de área de praia, a temperatura máxima que poderia causar desconforto seria de 37°C (cinco graus acima da temperatura normal daquela área) (Treinamento24, s.d.Treinamento24 (s.d.). É considerado calor a partir de quantos graus?. Treinamento24. https://treinamento24.com/library/lecture/read/433857-e-considerado-calor-a-partir-de-quantos-graus.).
Dessa forma, constata-se que a arborização urbana é um fator ambiental produzido no espaço edificado pela presença de árvores, vegetação, jardins e parte do solo permeável, que são capazes de produzir microclimas (Romero, 2013Romero, M. A. B. (2013). Princípios Bioclimáticos Para o Desenho Urbano. Editora da UnB.). Esses fatores ambientais promovem também hospitalidade do espaço físico edificado.
A partir disso, conclui-se que as condições acústicas e térmicas na vila de Praia do Forte atendem de modo satisfatório os critérios do conforto ambiental. Essa análise está substanciada nos parâmetros estabelecidos para o conforto térmico e acústico, segundo Romero (2013Romero, M. A. B. (2013). Princípios Bioclimáticos Para o Desenho Urbano. Editora da UnB.) e Murgel (2007Murgel, R. (2007). Fundamentos de acústica ambiental. Senac.). Portanto, as medições efetuadas por essa pesquisa confirmam a adequação e aceitabilidade dos dados obtidos no espaço público da vila de Praia do Forte, fato este que assegura que a análise efetuada, em relação a mais esse condicionamento ambiental urbano da hospitalidade do espaço edificado desse destino turístico.
Concluindo a análise do destino turístico analisado, os resultados demonstraram o desempenho da hospitalidade do espaço edificado do destino em pauta. Assim, a análise da categoria identidade converge quanto aos critérios que asseguram a identidade de cada um desse destino em suas especificidades históricas, culturais e ambientais, mas respondendo aos critérios da hospitalidade do espaço construído.
A análise da legibilidade identificou uma limitação quanto à sinalização de pontos de ônibus, mas, de forma genérica, a análise da legibilidade atende aos demais parâmetros dessa categoria da hospitalidade do ambiente físico construído.
A análise da acessibilidade confirma que esta categoria foi a que mais se destacou, tendo em vista que está bem resolvida e responde a praticamente todos os critérios da hospitalidade do ambiente edificado. De um modo geral, o destino de Praia do Forte apresentou um desempenho muito bom na análise de todas as categorias da hospitalidade urbana. Houve um investimento maior do poder público e da iniciativa privada para a acessibilidade, até porque este destino possui diversidade de atrativos e uma infraestrutura turística, além de demanda turística nacional e internacional exigente.
No quesito conforto ambiental térmico e acústico, o destino analisado apresenta bons índices para ruído urbano, fato que produz qualidade ambiental urbana.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados desta pesquisa confirmam a pertinência das categorias de análise preconizadas por Grinover (2003Grinover, L. (2003). Hospitalidade: um tema a ser reestudado e pesquisado. In A. D. F. M., Dencker & M. S. Bueno (Orgs.), Hospitalidade: Cenários e Oportunidades (p. 61-71). Pioneira Thomson Learning. , 2006, 2007) para a interpretação da hospitalidade urbana. A metodologia adotada pela pesquisa de caráter exploratório e descritivo se demonstrou eficaz, na medida em que se prestou como um primeiro momento de inferência acerca da hipótese levantada. Com isso, procurou-se enfatizar os conteúdos de hospitalidade do espaço edificado diante da necessidade de mais evidências teóricas construídas por uma epistemologia da hospitalidade urbana. Nesse sentido, os estudos devem atentar para o papel que o espaço pode conferir para o fenômeno da hospitalidade, em razão dos atributos que o próprio espaço edificado possui como locus de hospitalidade e não somente pelas relações sociais ocorridas nesse espaço.
Os limites dessa pesquisa foram: escassez da bibliografia sobre a hospitalidade do espaço edificado e de uma bibliografia que revelasse o papel da hospitalidade à escala da cidade associada à paisagem urbana e ao condicionamento ambiental urbano.
De todo modo, os resultados corroboram as categorias de análise propostas para o entendimento da hospitalidade urbana e propõem outra categoria de análise, qual seja o condicionamento ambiental urbano. Essa, em suas interfaces com acessibilidade e com legibilidade, poderá integrar as variáveis tangíveis da escala dos espaços públicos na perspectiva do pedestre. E as variáveis intangíveis da percepção ambiental, tal como a emoção.
Os resultados também procuram dar uma contribuição teórica à literatura escassa sobre a hospitalidade do ambiente físico edificado ou urbano, bem como instigar e ampliar a discussão, gerar novos questionamentos e incentivar novos estudos no campo da hospitalidade do espaço edificado.
No campo pragmático, a promoção da identidade, legibilidade, acessibilidade e conforto ambiental urbano, está diretamente associada ao comércio turístico do destino, seja ele público ou privado. Nesse sentido, a pesquisa poderia fornecer uma compreensão dessas condições espaciais aos gestores das cidades turísticas. Porque, no contexto brasileiro, a formulação de políticas públicas para serviços de transporte, mobilidade, acessibilidade e áreas de lazer estão vinculadas aos gestores públicos; da mesma forma em que a iniciativa privada está mais vinculada aos incentivos de lazer, entretenimento e hotelaria, ou sob a ação dos gestores do trade turístico.
AGRADECIMENTOS
Esta pesquisa foi realizada com o apoio do CNPq, aprovada no Edital Produtividade em Pesquisa 2019 a 2022, cujo objeto de estudo foi o destino turístico Praia do Forte na Região Metropolitana de Salvador, localidade tradicional e histórica do ponto de vista da ocupação humana do território e do ponto de vista da recente ocupação turística.
REFERÊNCIAS
- Ahn, T., Ekinci, Y., & Li, G. (2013). Self-congruence, functional congruence and destination choice. Journal of Business Research, 66(6), 719-723. DOI: 10.1016/j.jbusres.2011.09.009.
- Allis, T., & Fraga, C. (2016). Mobilidades turísticas e hospitalidade urbana: Análise bibliográfica a partir de publicações de turismo no Brasil. Revista Turismo & Desenvolvimento, 26, 155-165. DOI: 10.34624/rtd.v0i26.10787.
- Baptista, I (2002). Lugares De Hospitalidade. In: C. M. Dias (Org.), Hospitalidade: reflexões e perspectivas Manole.
- Bell, D. (2009). Tourism and hospitality. In: T. a Jamal & M. Robinson (Eds.), The SAGE Handbook of Tourism Studies (pp. 19-34). Sage. DOI: https://doi.org/10.4135/9780857021076.n2.
- Blok, A., & Meilvang, M. L. (2014). Picturing urban green attachments: civic activists moving between familiar and public engagements in the city. Sociology, 49(1), 19-37. DOI: 10.1177/0038038514532038.
- Campos, S. R. (2008). Os cinco sentidos da hospitalidade. Observatório de Inovação do Turismo. Revista Acadêmica, 3(1), 1-17. DOI: 10.12660/oit.v3n1.5694.
- Creswell, J. W. (2007). Projeto de pesquisa: métodos qualitativo, quantitativo e misto Artmed.
- Cruz, R. de C. A. da (2002). Hospitalidade turística e fenômeno urbano no Brasil: considerações gerais. In: C. M. de M. Dias (Org.), Hospitalidade: Reflexões e Perspectivas . Manole.
- Cullen, G. (1971). Paisagem Urbana Edições 70.
- Gibson, S., & Molz, J. G. (2016). Mobilizing hospitality: the ethics of social relations in a mobile world Routledge.
- Grinover, L. (2007). A Hospitalidade, a Cidade e o Turismo Aleph.
- Grinover, L. (2006). A hospitalidade urbana: acessibilidade, legibilidade e identidade. Hospitalidade, 3(2), 29-50. https://www.revhosp.org/hospitalidade/article/view/191.
- Grinover, L. (2003). Hospitalidade: um tema a ser reestudado e pesquisado. In A. D. F. M., Dencker & M. S. Bueno (Orgs.), Hospitalidade: Cenários e Oportunidades (p. 61-71). Pioneira Thomson Learning.
- Hambleton, R. (2015). Power, place and the new civic leadership. Local Economy, 30(2), 167-172. DOI: 10.1177/0269094215570563.
- Heal, F. (2011). Urban hospitality. In O. F. Head (Ed.), Hospitality in Early Modern England Oxford Scholarship.
- HØy-Petersen, N., Woodward, I. and Skrbis, Z. (2016). Gender performance and cosmopolitan practice:exploring gendered frames of openness and hospitality. The Sociological Review, 64 (4), 970-986. DOI: 10.1111/1467-954X.12390.
- Jackobson, R. (1971). Selected Writings II: Word and Language Mouton.
- Kamins, M. A., & Grupta, K. (1994). Congruence between spokesperson and product type: a matchup hypothesis perspective. Psychology & Marketing, 11(6), 569-586. DOI: 10.1002/mar.4220110605.
- Kohlsdorf, M. E. (1996). A apreensão da forma da cidade Editora da Universidade de Brasília.
- Landau, L. B. (2012). Hospitality without hosts: mobility and communities in Africa’s urban estuaries. WISER 19, 5(7), 1-19. https://wiser.wits.ac.za/system/files/seminar/Landau2012.pdf.
- Lashley, C. (2015). Hospitalidade e hospitalidade. Revista Hospitalidade , 12 (Special Issue), 70-92. https://www.revhosp.org/hospitalidade/article/view/566.
- Lashley, C., Lynch, P., & Morrison, A. J. (2007). Hospitality: a social lens. Elsevier.
- Latham, A. (2003). Urbanity, lifestyle and making sense of the new urban cultural economy: notes from Auckland, New Zealand. Urban Studies, 40(9), 1699-1724. DOI: 10.1080/0042098032000106564.
- Lynch, K. (1997). A imagem da cidade Martins Fontes.
- Lugosi, P., Bell, D., & Lugosi, K. (2010). Hospitality, Culture and Regeneration: Urban Decay, Entrepreneurship and the 'Ruin' Bars of Budapest. Urban Studies, 47(14), 3079-3101. DOI: 10.1177/0042098009360236.
- Mercier, J., Duarte, F., Domingue, J., & Carrier, M. (2014). Understanding continuity in sustainable transport planning. In: Curitiba. Urban Studies, 52(8), p. 1454-1470. DOI: 10.1177/0042098014538526.
- Montadon, A. (2003). Hospitalidade: ontem e hoje. In: Dencker, A. F. D. M. & Bueno, M. S. (Orgs.), Hospitalidade : Cenários e Oportunidade Pioneira Thomson Learning.
- Murgel, R. (2007). Fundamentos de acústica ambiental Senac.
- Prometal EPIs (2020, outubro). Limite de Tolerância para o Ruído: vamos falar mais sobre isso?. Prometal. https://prometalepis.com.br/blog/limite-de-tolerancia-para-o-ruido-vamos-falar-mais-sobre-isso/.
- Raymond, H. (1997). Itinèraire mental de l'urbain hospitalier Cominnications.
- Raffestin, C. (2013). Réinventer l'hospitalité. Communications, 65, 165-177. https://www.persee.fr/doc/comm_0588-8018_1997_num_65_1_1997.
- Romero, M. A. B. (2013). Princípios Bioclimáticos Para o Desenho Urbano Editora da UnB.
- Tasci, A., & Semerad, K. (2016). Developing a scale of hospitableness: a table of two worlds. International Journal of Hospitality Management, 53, 30-41. DOI: 10.1016/j.ijhm.2015.11.006.
- Treinamento24 (s.d.). É considerado calor a partir de quantos graus?. Treinamento24. https://treinamento24.com/library/lecture/read/433857-e-considerado-calor-a-partir-de-quantos-graus.
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
15 Set 2023 -
Data do Fascículo
Sep-Dec 2023
Histórico
-
Recebido
08 Nov 2022 -
Aceito
24 Maio 2023