RESUMO
Ferdinand de Saussure, Mikhail Bakhtin e Émile Benveniste, originários de diferentes países e continentes, coexistiram durante o século XX, deixando importante legado na história do pensamento linguístico, herança que continua a moldar e a influenciar as atuais discussões acadêmicas. Além de suas contribuições como linguistas e/ou filósofos da linguagem, outra característica comum os une: a dedicação ao ensino. Ao longo de suas carreiras, os três foram eminentemente professores. Este artigo explora as nuances biográficas que aproximam e distinguem essa tríade nos estudos linguísticos, em especial no que diz respeito à atuação docente, destacando características singulares que definiram suas trajetórias acadêmicas.
PALAVRAS-CHAVE: Docência; Biografia; Legado acadêmico; Estudos linguísticos; Ensino
ABSTRACT
Ferdinand de Saussure, Mikhail Bakhtin, and Émile Benveniste came from different countries and continents; these authors coexisted throughout the 20th century, leaving a significant legacy for linguistic thought-a heritage that continues to shape and influence contemporary academic discourse. Besides their roles as linguists and philosophers of language, another shared characteristic binds them together: their commitment to education. Throughout their careers, all three were dedicated educators. This article explores the biographical intricacies that unite and set apart this trio towards linguistic studies, especially in their pedagogical pursuits, emphasizing singular attributes that characterized their academic journeys.
KEYWORDS: Teaching; Biography; Academic legacy; Linguistic studies; Education
Palavras iniciais
Ferdinand de Saussure, Emile Benveniste e Mikhail M. Bakhtin são referências obrigatórias na formação de quem se interessa pelos estudos da linguagem. A vasta publicação sobre os autores torna difícil a tarefa de escrever algo absolutamente original. Cada um deles, em seu tempo e lugar, teve interesses comuns e distintos, o que torna arriscado fazer qualquer tipo de comparação. As três referências contribuíram, à sua maneira, para o avanço nos estudos da linguagem e seguem gerando pesquisas e inspirando novos e experientes leitores.
Em busca de trazer alguma novidade sobre essa tríade consagrada nos estudos da ciência da linguagem, recorremos à lição do mestre de mais longa data, que alerta para a necessidade de se instaurar um ponto de vista. Assim, decidimos descrever um traço comum e pouco explorado acerca dessas três referências autorais: o exercício da docência. Tanto Saussure quanto Benveniste e Bakhtin exerceram, em algum momento de suas vidas, a profissão de professor. Quem lê e estuda os autores há algum tempo não tem dúvida de que são grandes mestres, tanto que, muitas vezes, é assim que nos referimos a eles, como nossos mestres. Por mais óbvia que seja essa referência, como aprendemos com eles, “às vezes é útil pedir à evidência que se justifique” (Benveniste, 1995, p. 284). Por isso, decidimos pautar justamente essa característica que une essas três grandes referências das ciências da linguagem, o fazer docente. Principalmente porque compartilham um atributo que consideramos fundamental ao professor, o ser pesquisador.
O professor é aquele sujeito curioso, que segue perguntando, mostrando, aprendendo, ensina o mestre Paulo Freire (2001, p. 259), em quem nos inspiramos:
O aprendizado do ensinante ao ensinar se verifica à medida em que o ensinante, humilde, aberto, se ache permanentemente disponível a repensar o pensado, rever-se em suas posições; em que procura envolver-se com a curiosidade dos alunos e dos diferentes caminhos e veredas, que ela os faz percorrer.
Assim, buscamos mostrar quem foram esses sujeitos ensinantes. Sem seguir uma linearidade histórica nessa busca, consultamos fontes diversas para cada autor, respeitando a singularidade da vida de cada um. Na busca das fontes, selecionamos e excluímos textos e obras, assumindo o risco das nossas escolhas.
Desse modo, iniciamos esse empreendimento em busca de compreender o docente que cada um foi, com Ferdinand de Saussure, esse linguista que, segundo os editores dos Escritos de linguística geral (Bouquet; Engler, 2002, p. 11), descrevia a abordagem de seu pensamento como uma filosofia da linguística1. O texto segue com uma incursão pela biografia de Émile Benveniste, o jovem estudioso que “encontrou” Saussure muito cedo e dele ora se aproximou, ora se distanciou como tão bem descreve Normand (2007). E finalizamos a tarefa a que nos propomos, explorando aspectos biográficos e teóricos de Mikhail M. Bakhtin, o filósofo da liberdade (Clark; Holquist, 2008).
Como fontes de consulta, especialmente para Saussure e Benveniste, servimo-nos de muitos paratextos, ou textos-moldura, usando expressão de Brait (2021) aos textos de pesquisadores e/ou tradutores que acompanham as obras dos autores, a saber: o Curso de linguística geral, de agora em diante CLG, para o primeiro; e as Últimas aulas no Collège de France (1968 e 1969), para o segundo. Quanto a Bakhtin, recorremos a duas obras principais: Mikhail Bakhtin em diálogo: conversas de 1973 com Viktor Duvakin (2012) e Questões de estilística no ensino de língua (2019). Se referimos dados biográficos, foi porque acreditamos que possuem relação direta ou indireta com o fazer docente de cada um dos autores. Não temos dúvida de que bons professores são pesquisadores por natureza. Assim, iniciando com Saussure, vamos mostrar que o fazer científico tão presente na vida de cada um deles está entrelaçado com o fazer docente.
1 Saussure, o mestre genebrino
Ferdinand de Saussure doutorou-se em 1880, na Universidade de Leipzig com a tese De l’emploi du génitif absolu en sanscrit. Ainda estudante em Leipzig, entre 1876 e 1880, escreveu e publicou o único livro Mémoire sur le système primitif des voyelles dans les langues indo-européennes.
A obra póstuma que o consagrou como o grande teórico da linguística geral e da semiologia do século XXI foi publicada em 1916, três anos após sua partida definitiva, sem testemunhar os efeitos da publicação da obra organizada por seus colegas a partir das anotações de seis alunos e uma aluna que participaram dos três cursos ministrados por ele na Universidade de Genebra entre 1907 e 1911.
Falar de Saussure é tarefa complexa. É vasto o número de fontes para pesquisa que integram manuscritos (publicados e não publicados), cartas (pessoais e profissionais), anotações de alunos, cartas de alunos, edições críticas ao CLG, anagramas (publicados ou não publicados). Dada a heterogeneidade e a complexidade das fontes disponíveis, como bem recomendam José Luiz Fiorin, Valdir Flores e Leci Barbisan (2013), para falar de Saussure é necessário instaurar um ponto de vista. É possível estudar o Saussure dos anagramas, o das lendas, o da linguística geral, o da gramática comparada, o dos estudos indianos e o da fonética, entre outros, ensina Flores (2022).
Assim, para não correr o risco de apenas repetir o que está publicado por pesquisadores competentes do legado saussuriano, é que optamos por descrever o que nos pareceu mais óbvio (e menos mencionado) nas referências a Saussure, sua atuação como professor. Inspirando-nos na expressão mestre genebrino, muitas vezes usada (aparentemente apenas) como aposto e anafórico, fomos em busca do que se sabe ou diz sobre Saussure, o professor.
Assim, tomando por corpus principal a edição brasileira do CLG, fizemos uma busca, inicialmente pela palavra mestre e seu sinônimo mais recorrente, professor. Depois, como não existe professor sem alunos ou estudantes, nem mestre sem discípulos, em associação referencial, fomos em busca das ocorrências dessas palavras no CLG.
Tomando por referência a obra póstuma, organizada por Bally e Sechahaye com a colaboração de Albert Riedlinger, encontramos a palavra mestre em dez ocorrências. A primeira, localizada no prefácio à edição brasileira, assinado por Isaac Nicolau Salum (2003, p. xviii), é usada para descrever uma das dificuldades enfrentadas pelos editores do Cours para a edição da obra: “Os apontamentos dificilmente correspondem ipis verbis às palavras do mestre. Como nota R. Godel, ‘são notas de estudantes, e essas notas são apenas um reflexo mais ou menos claro da exposição oral’”. A referência ao mestre, opção de Salum, decorre provavelmente da associação às palavras estudantes e exposição oral, usadas por Robert Godel.
Há outros cinco empregos da palavra mestre no prefácio à primeira edição, assinado por Bally e Sechahaye (2002, p. 1-4). O primeiro emprego se dá no segundo parágrafo do prefácio: “Após a morte do mestre […]”, em provável uso de anáfora indireta, já que no primeiro parágrafo consta a informação de que sucedera Joseph Wertheimer na Universidade de Genebra. As outras quatro ocorrências parecem reiterar o mesmo objetivo, garantir a coesão e a coerência do texto através da retomada de um conceito que pode ser inferido do ofício exercido por Saussure na Universidade de Genebra.
Assim, dentre as dez ocorrências da palavra mestre no CLG, seis encontram-se nos textos-moldura, o que nos leva à constatação de que, se o primeiro contato com o pensamento de Saussure se dá através da leitura do CLG, já nas primeiras páginas, antes mesmo de adentrarmos nas lições, já nos deparamos com a referência a Saussure como professor.
As outras quatro ocorrências não se referem a Saussure, apenas ilustram exemplos de palavras para fins de análise, o que ocorre na discussão sobre relações sintagmáticas e associativas. Estão todas no mesmo parágrafo, no início da página 144 da edição brasileira de 2003.
A palavra professor é registrada somente duas vezes na obra, ambas no quadro biográfico que antecede o prefácio à primeira edição. É nesse quadro que o leitor identifica o período em que Saussure esteve contratado como professor extraordinário em Genebra, onde ingressou como docente aos 34 anos, em 1891, e tornou-se titular em 1896. Dando sequência à busca, localizamos o vocábulo alunos em cinco ocorrências; dessas, três estão no prefácio à edição brasileira e as outras duas no corpo do texto das lições. A palavra alunos comparece no prefácio, para identificar a quantidade de estudantes matriculados em cada um dos três cursos ministrados: seis no primeiro (janeiro a julho de 1907); onze no segundo (novembro de 1908 a julho de 1909) e doze no terceiro (outubro de 1910 a julho de 1911).
Já no corpo do texto da obra, as duas vezes em que a palavra alunos comparece é no cap. IV, que trata do princípio da analogia, e a ocorrência se dá no mesmo parágrafo. A referência ocorre num contexto de descrição das gramáticas europeias do princípio da analogia na formação do alemão e na gramática hindu e não se refere aos alunos matriculados no curso de Saussure.
A palavra estudantes é utilizada sete vezes. Todas no prefácio à edição brasileira. As três primeiras ocorrências identificam os prováveis interlocutores da obra, os estudantes de ensino superior brasileiros, a exemplo da terceira ocorrência: “Às vezes à pergunta feita a estudantes que já conseguiram aprovação em Lingüística se já leram Saussure, obtemos a resposta sincera de que apenas ‘fizeram pesquisa’ nele” (Salum, 2003, p. xvi).
As outras quatro ocorrências da palavra estudantes merecem um olhar mais acurado, por isso as transcrevemos:
1⁰ - Saussure não estava contente com o desenvolvimento da matéria. Não só tinha que incluir matéria ligada às línguas indo-européias por necessidade de obedecer ao programa, mas também ele próprio se sentia limitado pela compreensão dos estudantes e por não sentir como definitivas as suas idéias. Eis o que ele diz a L. Gautier:
“Vejo-me diante de um dilema: ou expor o assunto em toda a sua complexidade e confessar todas as minhas dúvidas, o que não pode convir para um curso que deve ser matéria de exame, ou fazer algo simplificado, melhor adaptado a um auditório de estudantes que não são lingüistas. Mas a cada passo me vejo retido por escrúpulos”.
2.⁰ - Os apontamentos dificilmente corresponderiam ipsis verbis às palavras do mestre. Como nota R. Godel, “são notas de estudantes, e essas notas são apenas um reflexo mais ou menos claro da exposição oral”.
3.⁰ - Sobre essas duas deformações do pensamento de Saussure - a que ele fazia para ser simples para os estudantes e a que eles faziam no anotar aproximadamente - soma- se a da organização da matéria por dois discípulos, ilustres, mas que declaram não terem estado presentes aos cursos (Salum, 2003, p. xvii-xviii).
As quatro ocorrências se dão no contexto de explicação do linguista que prefacia a edição brasileira acerca dos problemas enfrentados pelos organizadores das anotações dos alunos que deram origem à obra, no entanto cabe observar que dois desses usos não são de Salum. A primeira e a última das quatro ocorrências derivam de dois outros contextos de uso; a segunda ocorrência parece ter origem em declaração do próprio Ferdinand de Saussure, ao confessar sua hesitação sobre a complexidade a ser imposta na organização do conteúdo de suas aulas, diante de um público que não era exclusivo de linguistas (conforme fonte manuscrita em nota de Túlio de Mauro), e a terceira é uma citação direta de Godel.
Desse modo, é possível que o emprego do termo pelo autor do prefácio brasileiro tenha sido mero recurso de coesão, em situação de referenciação para remissão e antecipação de palavras. No entanto, não nos passou despercebido o emprego desse termo, cuja relação com a função docente de Saussure é evidente.
Por fim, a palavra discípulos como sinônimo de estudantes chama atenção, pois ocorre dez vezes na obra. Nove ocorrências encontram-se nos textos-moldura, sendo a maioria delas, isto é, seis, no prefácio à edição brasileira, uma no quadro biográfico, duas no prefácio dos organizadores da edição francesa e apenas uma ocorrência2 no texto.
Ou seja, levando em conta a obra CLG, a referência a Ferdinand Saussure como professor, construída de forma aparentemente sutil, encontra-se presente de forma explícita no uso das palavras mestre e professor, mas também por associação indireta, através do uso das palavras estudantes, alunos e discípulos. O uso dessas formas de referenciação na construção dos textos, especialmente nos de moldura, influenciaram muito a recepção do autor e de seu pensamento no contexto brasileiro, pois dificilmente alguém escreve algo sobre Saussure sem referir-se a ele como mestre.
Sem dúvida, se conhecemos Saussure como cientista da linguagem, certamente é porque ele foi (também) professor. Seu profundo conhecimento das línguas foi compartilhado nos três cursos célebres e, graças aos alunos que registraram o conteúdo de suas aulas, ganhou fama e popularizou-se cientificamente. Não tivemos acesso às características mais singulares de Saussure professor em fonte direta. É possível, entretanto, que ainda possam vir à tona estudos que revelem essa face oculta do mestre, graças à persistência e curiosidade dos pesquisadores. Não se pode negar que Saussure foi um pesquisador-professor obstinado, cujo valor está registrado na história da ciência do século XX.
Depois de apresentar Ferdinand de Saussure-professor, vamos aprofundar a perspectiva docente de outro linguista que teve interesses de pesquisa semelhantes aos do mestre genebrino.
2 Émile Benveniste, o linguista sírio-francês
Apesar de não terem se conhecido pessoalmente - no ano em que Saussure partiu, o menino Benveniste recém chegava a Paris para estudar como bolsista interno da escola rabínica na Aliança Israelita Universal, - é inegável a influência de Ferdinand de Saussure na sua produção teórica3.
Nascido Ezra Benveniste em 1902, em Alepo, na Síria, Émile Benveniste, o antropólogo da linguagem, exímio conhecedor das línguas indo-europeias, especialista em gramática comparada e teórico inovador de linguística geral, adotou o nome que o tornou conhecido entre os pensadores mais influentes do século XX quando se naturalizou francês em 1924 (Coquet e Fenoglio, 2014).
Uma coincidência aproximaria de forma indireta os dois estudiosos. Benveniste foi aluno de Antoine Meillet, o mestre, na época, da gramática comparada das línguas indo-europeias que, por sua vez, havia sido aluno de Saussure, de quem se tornou um dos principais interlocutores, na École Pratique des Hautes Études. A filiação de Benveniste a Meillet é atestada de forma reconhecida pelo próprio Benveniste, em entrevista concedida a Pierre Daix e publicada, primeiramente na revista Les Lettres françaises, em julho de 1968:
[...] Foi pelo fato de tê-lo encontrado muito jovem, quando de meus estudos na Sorbonne, e por eu ter, sem dúvida, muito mais gosto pela pesquisa que pela rotina de ensino, que este encontro foi decisivo para mim. [...] É necessário aqui voltar um pouco antes porque, através dele, foram os ensinamentos de Ferdinand de Saussure em Paris que foram em parte transmitidos aos discípulos de Meillet (Benveniste, 1989, p. 11).
Desta entrevista, em que Benveniste afirma seu gosto maior pela pesquisa do que pela rotina de ensino, geraram interpretações de que o linguista não gostava de ser professor, dada sua preferência pela pesquisa. Para nós, o gosto pela pesquisa é a maior qualidade que pode ter um professor. É a pesquisa que produz o conhecimento. Que influência pode exercer na vida dos estudantes um professor que prefere ensinar a pesquisar? Ou que não gosta de estudar? Um professor que preferisse a rotina de estudos à pesquisa seria um mero reprodutor de conteúdo, o oposto do que se espera de um mestre, na melhor acepção que pode ter essa palavra.
Em relação a Mikhail Bakhtin, de quem foi contemporâneo, não encontramos nos textos publicados referências explícitas às teorizações do filósofo da linguagem russo. Sabemos que há aproximações possíveis do ponto de vista teórico4, principalmente no que diz respeito à visão de questões relacionadas ao discurso. Além disso, ambos compartilharam algumas coincidências biográficas, algumas infelizes, como a perseguição política, o exílio, enfermidades, escassez financeira no final da vida e até mesmo o ano de partida com diferença de pouco mais de um ano. Bakhtin morreu em 07 de março de 1975 e Benveniste em 03 de outubro de 1976. Há outras coincidências, como o interesse pelas línguas e o conhecimento de várias delas e o contato mais (ou menos) próximo com o principal representante do Círculo Linguístico de Praga, Roman Jakobson, além de certo apreço pela polêmica.
Em relação às línguas, o conhecimento de Benveniste era particularmente excepcional, portanto incomparável. Com família de origem poliglota5, ainda jovem aprendeu muitas línguas, pois no seu ambiente familiar falava-se turco, árabe, grego moderno, provavelmente eslavo (Kristeva, 2014). Ao longo da vida, Émile Benveniste estudou profundamente línguas, como sânscrito, hitita, tocariano, indiano, iraniano, grego, latim, persa antigo, avético, osseta, sogdiano, todas as línguas indo-europeias. Em uma viagem de estudos pelo Irã e Afeganistão, estudou cinco línguas pamirianas. Em outra viagem de estudos, pela América do Norte, tomou contato e se apaixonou por duas línguas indígenas da família atapasco. De fato, o conhecimento e o interesse pelas línguas foi mais do que a dedicação de uma vida, foi sua paixão exclusiva (Todorov, 2014).
Diante de tantos temas que instigam a curiosidade, o interesse deste artigo - insistimos - é pela característica/condição de docente do mestre. Por isso, tal como fizemos com Saussure, elegemos uma fonte para abordar um dos papéis exercidos por Benveniste durante a maior parte de sua vida. A escolha foi pelos textos-moldura que integram a obra Últimas aulas no Collège de France (1968-1969), publicada há pouco mais de uma década na França, traduzida e publicada no Brasil em 20146.
A obra inicia com uma apresentação à edição brasileira, de autoria do professor e pesquisador gaúcho Valdir Flores, que se dedica há mais de 30 anos a semear o legado de Benveniste no país, e um prefácio, assinado por Júlia Kristeva, a linguista que foi aluna de Benveniste, e apresenta ao leitor o seu professor mais ilustre, como “um estudioso austero, exímio conhecedor das línguas antigas, expert em gramática comparada, autoridade em linguística geral” (Kristeva, 2014, p. 31).
A introdução da obra organizada e redigida por Jean-Claude Coquet e Irène Fenoglio antecipa o que o leitor vai encontrar na obra: anotações, folhetos e pastas com conteúdo inédito que integra o conjunto das aulas ministradas por Émile Benveniste no Collège de France em 1968 e 1969. Os organizadores alertam sobre o conteúdo divulgado: as aulas, até então acessíveis apenas aos especialistas que as assistiram, “inovam em relação aos artigos publicados em Problèmes de linguistique générale” (Coquet e Fenoglio, 2014, p. 68-69).
As aulas ministradas ao longo desses dois anos foram organizadas sob forma de três capítulos, cada um com um título-tema, em razão da natureza das discussões. Informações precisas das datas em que as aulas aconteceram, como dia, mês e ano, com anotações manuscritas do próprio autor digitalizadas, dão a conhecer o tipo de letra, quase sempre bastante legível, com traços firmes, levemente inclinados para a direita. Conforme Coquet e Fenoglio (2014), cada aula editada com os manuscritos do próprio Benveniste contou com as anotações dos linguistas presentes já citados, Coquet e Normand, e ainda Jacqueline Authier-Revuz, que forneceu suas anotações das aulas que constituem os dois primeiros capítulos da obra. Os textos que integram o conjunto das últimas aulas são complexos e deram origem a várias dissertações e teses, não se constituem, portanto, objeto principal deste artigo, cujo interesse é descrever o professor Émile Benveniste.
Além das aulas, a obra presenteia o leitor com dois anexos e um posfácio. O anexo 1 publiciza a única biografia de Émile Benveniste, inédita e não concluída, redigida pelo amigo pessoal, Georges Redard, que se tornou também seu herdeiro, após a morte de Carmelia Benveniste, a única irmã e beneficiária patrimonial de Benveniste. Redard, que foi professor da Universidade de Berna e depois reitor da Universidade de Genebra, ao mesmo tempo em que apresenta ao leitor recém-chegado o teórico inovador da linguística geral, faz conhecer ao leitor iniciado várias informações preciosas até então ocultas do linguista reservado e disciplinado nos estudos. Assim, é possível saber desde dados sobre o núcleo familiar, anotações pessoais de seus cadernos de apontamentos, relatórios de trabalho e diários de viagens até os últimos anos de vida e sofrimento na convalescença.
Sob forma de anexo 2, assinado por Émilie Brunet, o leitor toma conhecimento do que se constituiu no acervo Benveniste da Bibliothèque Nationale de France: os papéis de trabalho de Benveniste, notas de quando fora estudante e aluno de Antoine de Meillet, por exemplo, até as últimas anotações já no período mais difícil de sua vida, após o acidente vascular cerebral em dezembro de 1969.
Por fim, o posfácio assinado por Tzvetan Todorov, encerra com justa homenagem a obra que Benveniste não escreveu e que, por isso, guarda alguma semelhança com a publicação póstuma de Saussure. Faz conhecer o testemunho pessoal de Todorov, que foi aluno de Benveniste em um curso de linguística geral em 1963 e anuncia referências importantes sobre o professor Émile Benveniste.
Assim, tomando por fonte os textos-moldura que integram o conjunto dessa obra em homenagem a Émile Benveniste, ambicionamos descrever o docente que se tornou alicerce fundador dos estudos da enunciação.
Menções explícitas ao exercício da docência de Benveniste encontram-se já no início da obra, na seção de Cronologia biográfica. É de outubro de 1918 a informação de que “Benveniste procura uma vaga de professor-auxiliar em uma escola secundarista” (Coquet e Fenoglio, 2014, p. 24), o que deve ter sido a primeira experiência em escola. No posfácio, Todorov (2014) ratificará a informação acerca do início da experiência docente de Benveniste como auxiliar em escola secundária enquanto estudante universitário. A segunda menção é de que no período entre “1922-1924 leciona no colégio Sévigné, em Paris” (Todorov, 2014, p. 24). A terceira e última menção da seção de Cronologia informa 1927 como o ano de seu ingresso como professor titular na École Pratique des Hautes Études, onde permaneceu como docente até dezembro de 1969.
No prefácio, assinado por Júlia Kristeva, a referência a Benveniste como professor passa quase despercebida em duas breves menções: “De volta à França, estuda com Antoine Meillet, ao qual sucede como professor (cátedra de Gramática Comparada) na EPHE, onde exerce grande influência entre os colegas” (Kristeva, 2014, p. 32) e “Após a libertação, Benveniste reassume suas aulas na EPHE e no Collège de France, formando várias gerações de estudantes [...]” (Kristeva, 2014, p. 33). Como é possível constatar, são menções breves e objetivas, sem destaque ao ofício desempenhado pelo linguista. Para retomar o nome de Benveniste, em recurso de nominalização, Kristeva (2014) se refere a ele como “o jovem nascido no coração do Império Otomano” (p. 35), “o teórico” (p. 37); “o linguista” (p. 42); “o autor” (p. 48); “o sanscritista” (p. 55); “o grande erudito” (p. 58). Raras vezes e, sempre em um contexto mais privado, encontramos a referência ao docente.
A menção a Benveniste como professor se dá em um círculo da esfera pessoal da então estudante bolsista do governo francês, quando descreve o gabinete de trabalho na casa do autor, onde era orientada por ele: “Despachando rapidamente os detalhes administrativos, o professor inquiria sobre meu trabalho” (Kristeva, 2014, p. 58); “Lembro que o professor me aconselhou a ler” (Kristeva, 2014, p. 59).
Embora o contexto seja um tanto restrito, uma vez que se trata do depoimento de uma aluna em situação de orientação individual, é possível encontrar uma face pouco explorada do linguista, que se revela para o leitor um professor que desafia a pensar. É o que depreendemos da leitura, por exemplo, desses trechos:
Benveniste se mostrava tão pedagogo e protetor quanto atento. [...] Na maioria das vezes, ele respondia às minhas perguntas com declarações lapidares, um tanto provocadoras: “Veja, eu só me interesso pelas pequenas coisas. O verbo être [ser/estar], por exemplo”. [...] Ou então, à guisa de resposta às minhas interrogações, ele abria o texto sânscrito do Rigveda, traduzindo diretamente para o francês as passagens apropriadas (Kristeva, 2014, p. 59).
O texto de Kristeva revela características dignas dos grandes mestres, como a capacidade de instigar os alunos, de fazê-los pensar, e também o afeto. No texto da introdução da obra, encontramos outras qualidades distintas, como é possível ler nessa descrição:
Dentre todas suas facetas, a publicação destas últimas aulas permite mostrar aquela que menos se conhece do linguista: a envergadura do erudito é conhecida, a limpidez do estudo teórico, admirada; começa-se a entrever as dimensões e orientações do pesquisador, mas o dinamismo e a firmeza do professor haviam sido esquecidos. Ora, se o erudito descobre e desenvolve um saber cada vez mais aprofundado sobre espaços linguísticos específicos, se o pesquisador constrói, artigo após artigo, sua teoria e os conceitos que a sustentam, o desdobramento didático para a constituição de uma engenhosa transmissão ainda não havia sido desvelado, embora vários ouvintes de Benveniste a tenham testemunhado (Coquet e Fenoglio, 2014, p. 69).
Encontramos nas palavras dos organizadores da obra um destaque ao que consideramos importantes atributos de um docente, além de ser um pesquisador: o dinamismo e a firmeza, a habilidade para o desdobramento didático, isto é, a capacidade metodológica que faz um professor ser mestre. É possível ser um pesquisador sem ser professor, mas é impossível ser um bom professor sem ser pesquisador. Ainda assim, um pesquisador-professor sem dinamismo, sem capacidade metodológica será esquecido por seus discípulos, o que não foi o caso de Benveniste.
Outra evidência da habilidade docente está na organização e no planejamento do professor Benveniste. Coquet e Fenoglio (2014, p. 80) encontraram, em uma das folhas soltas de bloco em preparação ao curso que reúne as últimas aulas, a seguinte anotação: “Focar as aulas no caráter semiótico/semântico da linguagem”. Poder-se-ia pensar que um erudito como Benveniste poderia abdicar de preparação prévia, pois, por óbvio, como grande conhecedor do assunto sobre o qual iria ministrar as aulas, seria fácil improvisar. Não é o que as anotações manuscritas revelam. Até mesmo o mestre dos mestres - vemos que os alunos matriculados constituem a bibliografia que estudamos - organizava e planejava suas aulas.
Após a apresentação dos três capítulos que reúnem o conjunto das 15 aulas e da Última aula ministrada por Benveniste, chegamos ao texto inédito de Georges Redard, que não dá ênfase ao papel do professor. Ali conhecemos o grande estudioso de muitas línguas, o obstinado e metódico pesquisador, com poucos amigos fora do círculo de trabalho, e também o homem solitário, que raramente tirava férias e que passou os últimos anos de sua vida, após a doença, internado em hospitais e casas de saúde.
Sem obedecer a uma sequência cronológica linear, o texto inicia com relatos das consequências da crise cardíaca que o linguista sofrera em 1956 e que afetara sua saúde, conforme registros em correspondências pessoais, sobre o cansaço que o acometia nas aulas e viagens. Poucas informações referem a função do docente Benveniste, como a data de sua nomeação como professor de gramática comparada e iraniano na EPHE, em 1० de novembro de 1927. É o pesquisador curioso e determinado que conhecemos nesta biografia, como no relato de viagem realizada entre 1952 e 1953 de incursão linguística pela costa oeste da América do Norte até o interior do Alasca, onde estuda duas línguas da família atapasca: o haida e o tlingit, ainda faladas, mas já em extinção. Essa viagem lhe permitiu ministrar em 1954 um curso no Collège de France sobre as línguas indianas do Alasca, assunto inédito em um programa de ensino na França. Além do seu tempo, Benveniste não era mero transmissor de conhecimento, era um estudioso implacável e curioso, na maioria das vezes, e que também ministrava cursos e aulas. Um professor incomum e ativo, que costumava ministrar as aulas, normalmente, em pé.
Na sequência da obra, o ensaio de Émilie Brunet leva o leitor a conhecer a diversidade dos papéis de Benveniste, graças à conservação dos documentos. Ainda que dispersos em diferentes lugares, documentos administrativos, correspondências, relatórios, programas de aula, notas de aulas ministradas por Benveniste, 27 cadernetas com anotações de pesquisas em viagem ao Alasca, entre outros, comprovam o quanto ainda há de se revelar sobre o pesquisador e antropólogo da linguagem.
Por fim, chegamos ao Posfácio de Todorov. Pouca novidade acerca da vida pessoal ou profissional de Benveniste encontramos na seção que finaliza a obra. É o testemunho de quem esteve perto do linguista erudito a novidade. Perto como assistente do curso que Benveniste ministrava, e perto do convalescente no hospital. Assim inicia o texto:
Tendo chegado a Paris na primavera de 1963, comecei a procurar um curso que tratasse das propriedades gerais da linguagem. Descobri que um certo Émile Benveniste dava um curso de linguística geral no Collège de France. Não havia nenhuma dificuldade para assistir ao curso: nenhuma inscrição era necessária (Todorov, 2014, p. 243).
Um professor que ministrava um curso para um pequeno número de estudantes7 interessados em linguística geral e que encontravam um mestre que falava lentamente e sem olhar para os alunos. Essa informação que poderia denunciar um professor desmotivado precisa ser colocada no contexto de fragilidade de saúde8 de Benveniste, como destaca Redard nas correspondências reunidas do mestre. Não é o que acontece, como podemos comprovar neste depoimento:
No entanto, a atração que essa fala exercia sobre mim não diminuía. Eu tinha a impressão de assistir ao desenvolvimento exemplar do método científico, tanto prudente quanto firme, e de ser colocado ao mesmo tempo em presença de um erudito arquetípico, discreto, modesto, até mesmo tímido, mas cujo espírito se lançava audaciosamente. Não havia discurso tornitruante, nem alarde, nem deslumbramento: um conhecimento preciso dos fatos, uma preocupação com a clareza, uma capacidade de ver além das aparências e de revelar o geral para além do particular (Todorov, 2014, p. 244).
O testemunho do admirador pelo mestre confirma a genialidade do maior linguista francês do século XX. Mas mais do que isso, nos faz saber que um erudito de tamanha envergadura, mesmo no período de vulnerabilidade física, não perdia a capacidade de encantar seus discípulos. Conhecemos, assim, um pouco mais das características do professor Émile Benveniste. Na próxima seção, vamos conhecer um pouco mais sobre o último representante desta tríade consagrada nos estudos da linguagem.
3 Bakhtin, o filósofo russo
Mikhail Mikhailóvich Bakhtin nasceu em Orel, sul de Moscou, em novembro de 1895, trinta e oito anos depois do nascimento, no mesmo mês, de Ferdinand de Saussure, em Genebra, na Suíça, e apenas sete anos antes de Émile (ainda Ezra) Benveniste, em Alepo, na Síria.
Aproximações e distanciamentos marcam a vida e o pensamento dos autores. Se aos onze anos de idade, Benveniste ingressava como interno, longe dos pais, na escola rabínica em Paris, Bakhtin, aos nove, acompanhava a família em razão da transferência por motivo de trabalho do pai para a cidade de Vilno, capital da Lituânia. É em Vilno que Bakhtin ingressa formalmente na escola e onde permanece até os 15 anos, quando nova transferência do pai leva a família para Odessa, onde ele completa os estudos secundários. Depois de cursar um ano no ensino superior em Odessa, Bakhtin transferiu seus estudos para São Petersburgo9, onde concluiu os estudos superiores. A vida familiar caracterizada por mudanças de cidade acompanha Bakhtin ao longo da vida e é importante para compreender algumas particularidades da sua biografia.
Uma condição notável para a popularização do nome de Bakhtin foi o fato de ele ter constituído um grupo de intelectuais que leva seu nome, o conhecido Círculo de Bakhtin. Sobre o círculo que leva seu nome, diz: “Ao meu redor tinha um círculo que era chamado de ‘o Círculo de Bakhtin’” (Bakhtin; Duvakin, 2012, p. 144). De fato, entre 1919 e 1929, Bakhtin integrou um grupo de intelectuais que se reunia, regularmente, primeiro em Nevel e Vitebsk, depois em São Petersburgo. Esse grupo de intelectuais de interesses e formação diversa possuía uma característica interdisciplinar, incluindo o filósofo Matvei Kagan, o biólogo Ivan Kanaev, a pianista Maria Yudina, o professor e estudioso de literatura Lev Pumpianski, além dos dois mais conhecidos dos leitores, além do próprio Bakhtin: o filólogo e professor Valentin Voloshinov10 e o advogado, professor e gestor na área da cultura, Pavel Medvedev (Faraco, 2009).
Traduções recentes direto do russo para o português, originais e reescritas, têm sido importantes para recolocar questões importantes sobre as ideias discutidas pelo Círculo e muito têm contribuído para fazer avançar os estudos no Brasil.
Diferentemente de Saussure e Benveniste, nesta seção escolhemos jogar menos luz nos textos-moldura de uma das obras selecionadas, e mais em um artigo do período em que ele atuava como professor da educação básica e em uma entrevista, em que temos acesso ao depoimento do próprio Bakhtin.
A entrevista concedida por Bakhtin ao colega Victor Duvakin, estudioso de literatura e professor na Universidade de Moscou, em 1973, é “um documento único que contém preciosos testemunhos do filósofo russo sobre o seu tempo e sobre si mesmo”, atesta Ponzio (2012, p. 7), no prefácio da obra.
É provável que o leitor experiente de Bakhtin tenha conhecimento de textos de pesquisadores que desacreditam partes dos depoimentos de Bakhtin presentes nessa entrevista. Gozando de plena saúde mental, aos 78 anos, há várias evidências de que o filósofo reconhecia pequenas falhas de memória, quando afirma, em mais de uma ocasião, não ter certeza em relação ao ano em que um fato ou outro ocorrera, como é possível ler nos seguintes trechos da entrevista (Bakhtin; Duvakin, 2012):
[...] pode ser que a memória me traia, faço confusão [...] (p. 39);
[...] sim, eu não me lembro exatamente das datas [...] (p. 39);
[...] a minha memória virou inútil, particularmente sobre coisas, digamos, recentes [...] (p. 41);
[...] talvez me lembre em seguida, no decorrer da conversa, porque agora a memória não me acompanha [...] (p. 57);
[...] sabia muito mais de memória. Agora minha memória é simplesmente irreversível [...] (p. 96).
Usar argumento incapacitante para invalidar a fala de um idoso não é atitude respeitosa. Assim, servimo-nos, muitas vezes, nesse texto, aos depoimentos do próprio Bakhtin, reconhecendo que ele, mais do que qualquer outro, é quem tem maior autoridade para falar sobre si.
A série de seis entrevistas concedidas por Bakhtin entre 22 de fevereiro e 23 de março de 1973 ocorreram em um intervalo de uma semana, à exceção das duas últimas, que foram gravadas nos dias 22 e 23 de março daquele ano. A partir de perguntas feitas pelo entrevistador que introduz os tópicos a serem tratados na conversa sob forma de questionamentos, Bakhtin responde, como ocorre em uma conversa quase natural11 sem muito compromisso com a linearidade dos fatos, de modo que cabe ao leitor reconstruir o histórico, juntando as partes de depoimentos colhidos nos diferentes momentos.
É assim que, já na primeira conversa, emerge o assunto da existência do grupo que mais tarde passará a ser referido como o Círculo de Bakhtin12. Não foi o único círculo de que Bakhtin participou; sua presença ocorria com maior ou menor intensidade em diferentes grupos, cujos interesses eram de natureza filosófica, de caráter filosófico-religioso e literários. Em alguns, sua presença era mais como ouvinte, em outras fazia explanações, como é possível comprovar neste trecho do depoimento: “em Ruguévitch eu era mais ativo” (Bakhtin; Duvakin, 2012, p. 186).
Pelo que se pode depreender dos depoimentos de Bakhtin, uma das primeiras formações de grupo que se reunia para discutir temas de interesse e de que Bakhtin participa fora criada em São Petersburgo, antes mesmo de Bakhtin transferir os estudos para lá. Chamavam a esse grupo de Omphalos (que significa umbigo) e Bakhtin o frequentava esporadicamente, ainda quando residia em Odessa (1912-1913). O grupo não tinha uma organização rígida; reunia tanto estudantes com vínculo com a universidade quanto egressos que possuíam interesses comuns. Era liderado por seu irmão, Nikolai Mikhailovich Bakhtin, com quem compartilhava o interesse por filosofia. Faziam parte desse grupo Lev Vasilievich Pumpianski, um dos seus amigos mais íntimos; o filólogo e poeta Mikhail Lopatto, os irmãos Sergei e Nikolai Radlov. “Era um círculo, assim, de amigos”, diz Bakhtin (Bakhtin; Duvakin, 2012, p. 44), que também definia o grupo como “estudiosos gozadores, gozadores da ciência… ou se quisermos palhaços da ciência” (Bakhtin; Duvakin, 2012, p. 57). Essa era a peculiaridade desse que foi o primeiro círculo do qual participara.
No período entre 1919 a 1929, Bakhtin se reúne, em Nevel e em Vitebsk, com pessoas de largo espectro de interesses e ocupações profissionais para discutir textos filosóficos e literários, movimentando a vida cultural das cidades. (Clark; Holquist, 2008). É em Nevel, para onde se mudou logo após a conclusão do ensino superior, em 1918, em razão das consequências da 1a. guerra mundial que havia afetado duramente as cidades maiores como São Petersburgo, que Bakhtin exerceu formalmente a primeira experiência como docente13: foi professor no Ginásio Svencianski, que depois mudou de nome para Escola Unificada do Trabalho. Permanece por dois anos nessa cidade, depois se muda para Vitebsk com o amigo Pumpianski, onde fica por mais dois anos, ou seja, até o final de 1922. Nos anos que se seguem, entre 1923 e 1929, vive em Petrogrado, até que, preso em 1929, é condenado ao exílio no Cazaquistão, onde permanece por seis anos. Foi assim que, entre 1935 e 1945, sem emprego regular, desempenhou atividades diversas como professor e palestrante, até que, em 1945, ingressa como professor regular no Instituto Pedagógico de Saransk, na Mordóvia, onde permanece até 1975, quando declina definitivamente.
É a partir da vivência docente desse período de aproximadamente três anos, entre 1942 e 1945, que destacamos o professor Mikhail Bakhtin. Essa experiência foi publicada sob forma de artigo, “pela primeira vez na revista Filologia Russa [Rússkaia Sloviésnost], 1994, nᵒ 2, pp. 47-56 (publicação e notas de L.S. Miélikhova)”, conforme assina Ludmila Gogotichvíli, com a colaboração de Svetlana Savtchuk (2019, p. 45).
Em 1997, sob organização de Serguei G. Botcharov e Liudmila A. Gogotichvíli, o artigo foi publicado no volume 5 das obras reunidas em 7 volumes referentes aos trabalhos de Bakhtin produzidos no período entre 1940 e 1960. Esse texto, até então acessível somente em língua inglesa aos pesquisadores da teoria bakhtiniana no Brasil, foi trazido ao conhecimento dos brasileiros através de tradução de Sheila Grillo e Ekaterina Vólkova Américo em 2013. Além da tradução do texto de Bakhtin, direta do russo para o português, a obra conta com posfácio e notas assinadas pelas tradutoras, apresentação de Beth Brait e um ensaio assinado por Gogotichvíli que permite ao leitor compreender a complexa reconstituição do texto que foi encontrado sob forma de manuscrito em folhas de caderno (à semelhança das últimas aulas de E. Benveniste). É essa obra a segunda principal fonte de consulta a que recorremos para descrever traços do professor Bakhtin.
A apresentação da obra, assinada por Beth Brait, traz o instigante título Lições de gramática do professor Mikhail M. Bakhtin e faz jus à descrição do perfil do docente preocupado e rigoroso pesquisador que ele foi:
Há explicitamente nesse trabalho de Bakhtin a demonstração de que ele estava atento ao contexto escolar e à crise no ensino de língua em curso desde o início do século XX, e que sua atuação consistia, entre outras coisas, em rever a posição do ensino da gramática na escola, considerando que uma certa estilística, então no centro de suas preocupações, poderia, se articulada à gramática, auxiliar os professores e levar os alunos a um conhecimento ativo de procedimentos característicos da língua literária e, também, da língua do cotidiano, da língua viva, em uso (Brait, 2019, p. 11).
Este artigo de Bakhtin, como observa Brait (2019), revela a preocupação do intelectual em articular teoria e prática para não só pensar o ensino da língua materna, mas mostrar aos professores “como fazer”, em um artigo que se assemelha ao que atualmente chamamos de uma sequência didática para ensinar língua materna.
Se muito conhecemos sobre o filósofo dos estudos linguísticos e literários, autoridade sobre a obra de Dostoievski, autor da carnavalização em Rabelais, fundador da teoria do dialogismo, pouco se fala ou escreve sobre o professor Bakhtin. Buscamos o texto do início da década de 1940 porque encontramos nele indicativos que mostram características do Bakhtin professor que podem ser inspiradoras para quem exerce ou pretende exercer esse ofício, como procuramos mostrar a seguir.
O texto breve - são aproximadamente vinte páginas - inicia com uma avaliação do autor sobre o ensino da gramática nas escolas russas. Bakhtin criticava o ensino puramente gramatical, que não considerava os aspectos estilísticos. Mas o que chama nossa atenção é a preocupação didático-metodológica e a postura de pesquisador desse mestre. É o que podemos confirmar neste trecho do texto: “a fim de levar os estudantes a compreenderem por si mesmos essa questão” ou neste: “em seguida, é preciso mostrar a eles” (Bakhtin, 2019, p. 26), onde fica evidente a preocupação do professor em ajudar os estudantes a compreenderem por si próprios.
O texto critica o ensino da época, mas também a metodologia usada pelos professores: “Infelizmente, de modo geral, nossos professores têm dificuldade em dar tais explicações” (Bakhtin, 2019, p. 27).
Quanto à postura, é possível perceber um professor metódico, rigoroso pesquisador que analisa criteriosamente muitos textos produzidos por seus alunos. É o que descobrimos ao ler que havia analisado detalhadamente cerca de 300 redações, feitas em sala de aula e em casa, de duas turmas de 8a. série e constatado que “em todas essas redações ocorreram apenas três casos de utilização de período composto por subordinação sem conjunção” (Bakhtin, 2019, p. 29).
Além do rigor metodológico típico do pesquisador, conhecemos um professor que era capaz de aprender com seus estudantes, como vemos neste outro trecho do texto em que é possível ver, como se estivéssemos com uma lupa, o professor em ação, alguém que observa a escrita dos estudantes, levanta hipóteses e projeta uma forma de ensinar algo que percebe que os estudantes ainda não sabem:
Os ditados e as conversas posteriores com os alunos convenceram-me de que, ao encontrar o período composto sem conjunção em um texto alheio pronto, os alunos o entendiam bem, lembravam das regras e quase não erravam na pontuação. Porém, ao mesmo tempo eles não sabiam em absoluto utilizar essa forma em seus próprios textos, não sabiam utilizá-la de modo criativo. Isso aconteceu porque o significado estilístico dessa forma notável não foi devidamente abordado na 7a. série. [...] Seria preciso mostrar a sua importância para eles (Bakhtin, 2019, p. 29).
O trecho em destaque aponta para um outro elemento que quase nos passa despercebido, que é a relação do professor com os estudantes: “os ditados e as conversas posteriores com os alunos”, diz o mestre. E assim descobrimos que o professor Bakhtin não era mero burocrata do ensinar, mas alguém que estava próximo dos aprendentes, ouvindo-os e, muito provavelmente, (re)programando as aulas. Certamente a convivência em grupos (círculos) de estudo com integrantes de interesse multidisciplinar moldaram a formação desse professor que se constituía no outro de seus alunos, ouvinte e interlocutor atento.
Outros trechos do artigo justificam a analogia com uma sequência didática, como caracterizou Brait (2019). É o que percebemos nesses segmentos do texto de Bakhtin (2019):
Chamamos a atenção dos alunos para o volume excessivo e a sonoridade desagradável dessas conjunções [...] (p. 31).
Fazemos os alunos tirarem suas próprias conclusões a partir de nossa análise [...] (p. 33).
É necessário chamar a atenção dos alunos apenas para o que há de novo no segundo período [...] (p. 34).
Chamamos a atenção dos alunos para a forma do verbo na primeira oração [...] (p. 35).
Levamos os alunos à conclusão que encerra nossa análise [...] (p. 36).
Depois, junto com os alunos analisaremos [...] (p. 39).
Todos esses excertos evidenciam a preocupação do mestre em mostrar ao professor como ensinar a língua materna de modo que a aprendizagem fosse significativa para os alunos, ensinando a eles uma língua que só tem sentido no discurso. A lição chega ao final com a recomendação de que “é necessário tirar os alunos do beco sem saída da linguagem livresca, para colocá-los no caminho daquela utilizada na vida: uma linguagem tanto gramatical e culturalmente correta, quanto audaciosa, criativa e viva” (Bakhtin, 2019, p. 42).
Assim, mesmo distantes no tempo e no espaço, encontramos, na ação pedagógica de Bakhtin, os princípios de Paulo Freire (2001), sobre o ato de ensinar com responsabilidade ética, política e profissional, que exige formação permanente, alicerçada na prática.
Considerações finais sobre três vidas e um legado
O texto que apresentamos buscou apresentar particularidades da biografia de três grandes autores que viveram no século XX, cuja herança teórica está registrada na história dos estudos da linguagem. Procuramos abordar uma face que consideramos ainda pouco explorada dos três autores. Salvaguardadas as diferenças, todos foram, durante a maior parte de suas vidas, (também) professores.
A investigação do perfil docente dos autores nos levou a conhecer algumas poucas, mas relevantes coincidências, e revelou que o fazer científico dos três sempre esteve entrelaçado com o fazer docente, o que nos aponta para importante lição. Se a face metódica de Saussure, preocupado com a complexidade do tema a ser abordado nas aulas de um curso para um público que não era exclusivo de estudiosos da língua, revela um docente implicado com a metodologia, aprendemos que havia ali um professor, esse mestre que segue nos inspirando. A referência anafórica “mestre” recebeu novos contornos ao revelar que foi o ofício do professor que tornou possível a popularização do cientista da linguagem.
Benveniste, por sua vez, como asseverou Normand (2006), foi responsável pela abertura da ciência linguística à discussão com outras áreas, como a sociologia, a filosofia, a psicanálise. A face pouco explorada do linguista-professor revelou-se em obra póstuma das últimas aulas ministradas, cujos manuscritos e anotações dos célebres alunos mostram qualidades didáticas até então pouco conhecidas. Além disso, através dos textos de amigos, alunos e colegas, foi possível conhecer o homem curioso, que destinou sua vida exclusivamente à investigação linguística e cujas aprendizagens foram socializadas em cursos com programas originais e em dedicada orientação aos estudantes.
Quanto a Mikhail Bakhtin, conhecemos aspectos de sua biografia que trouxeram à tona características didático-pedagógicas singulares que contribuem para definir o perfil do intelectual e filósofo com que se identificou na maturidade. A pesquisa empreendida revelou um professor crítico ao modelo tradicional de ensino, competente em articular teoria e prática e preocupado em desenvolver a autonomia dos estudantes.
Essas características seriam suficientes para justificar porque esses três nomes são, para todos os pesquisadores que se interessam pelo tema da (língua)gem, exímios e admiráveis professores. Esperamos, no entanto, ter trazido alguma novidade para mostrar que, além de pesquisadores e pensadores incontestes, foram docentes incomuns e inspiradores para além de seu próprio tempo. Assim como Paulo Freire, o professor brasileiro de quem temos mais orgulho, os três não incluíam a pesquisa como mera qualidade adicional à prática, mas sustentavam o espírito investigador indissociado da prática docente.
REFERÊNCIAS
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- SAUSSURE, Ferdinand de. Escritos de linguística geral. Organização e edição de Simon Bouquet, Rudolf Engler com a colaboração de Antoinette Weil. Tradução de Carlos Augusto Leuba Salum e Ana Lúcia Franco. São Paulo: Cultrix, 2004.
- SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de linguística geral. Organização de Charles Bally, Albert Sechehaye com a colaboração de Albert Riedlinger. Tradução de Antônio Chelini, José Paulo Paes e Izidoro Blikstein. São Paulo: Cultrix, 2002.
- TODOROV, Tzvetan. Émile Benveniste, o destino de um erudito. In: BENVENISTE, Émile. Últimas aulas no Collège de France (1968 e 1969). Organização de Jean- Claude Coquet e Irène Fenoglio. Tradução de Daniel Costa da Silva, Heloisa Monteiro Rosário, Patrícia Chittoni Ramos Reuillard e Verónica Galíndez-Jorge. São Paulo: Editora Unesp, 2014. p. 243-262.
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Declaração de disponibilidade de conteúdo
Os conteúdos subjacentes ao texto da pesquisa estão contidos no manuscrito.
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Pareceres
Tendo em vista o compromisso assumido por Bakhtiniana. Revista de Estudos do Discurso com a Ciência Aberta, a revista publica somente os pareceres autorizados por todas as partes envolvidas.
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1
Se a origem da palavra philosophĭa remete aos componentes gregos philo, que indica a capacidade de amar, e o vocábulo sophia, que se refere ao saber adquirido, de fato podemos dizer que as lições de Saussure foram a expressão desse amor ao conhecimento do estudo sobre a linguagem.
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2
Essa ocorrência, no texto dos Apêndices, ocorre no contexto de uma explicação sobre sufixos, em discussão sobre as unidades da língua: “Lendo Bopp e seus discípulos [...]” (Saussure, 2002, p. 214).
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3
A título de exemplo, no conjunto de textos que integram os Problemas de Linguística Geral I, entre referências textuais e notas de rodapé, o nome de Saussure é citado 90 vezes.
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4
Por não ser ponto central neste texto a aproximação teórica dos autores, se o leitor tiver interesse pode consultar Todorov (2014, p. 257).
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5
Sua mãe era professora de hebraico, francês e russo na escola da Aliança Israelita Universal de Samokov, na Bulgária, o pai era falante de ladino - uma língua derivada do espanhol medieval, com influências do hebraico e outras línguas, faladas principalmente pelos judeus sefarditas.
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6
A obra, organizada por Jean-Claude Coquet e Irène Fenoglio, chegou ao conhecimento dos brasileiros por tradução de equipe coordenada por Valdir Flores.
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7
Conforme Todorov (2014), o número de assistentes aos cursos cresceu consideravelmente após a publicação da obra Problemas de linguística geral I, em 1966.
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8
Há sete anos, em 1956, Benveniste havia sofrido um infarto que comprometera sua saúde e disposição (Redard, 2014).
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9
A cidade de São Petersburgo teve seu nome alterado diversas vezes; até 1923 era Petrogrado; a partir de maio de 1924 já era Leningrado (Bakhtin; Duvakin, 2012).
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10
O sobrenome do autor é registrado com diferentes redações; seguimos a redação da referência consultada.
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11
Sabemos que a situação não é de absoluta naturalidade, porque ambos sabem que a conversa está sendo gravada.
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12
A existência de grupos que se reuniam para discutir temas de interesse comum ou diverso parece ser uma prática bastante corriqueira na Rússia de Bakhtin à época. Chamavam círculo tanto para alguns tipos de associações quanto para qualquer outro tipo de agrupamento, como se depreende de uma das falas de Duvakin: “aquele círculo que governava a Rússia era de fato frágil” (Bakhtin; Duvakin, 2012, p. 123). Identificamos mais de uma dezena desses grupos no depoimento de Bakhtin: Omphalos, círculo puchkiniano, Opojaz, círculo de Meier, círculo dos acmeitas, círculo de Esenin (ou eseniano), círculo de Bogaturev, círculo de Ruguévitch, círculo de Gumilev, círculo de Pavel Nikolaevich Medvedev, círculo Lermontoviano, além do círculo que levou seu nome e o de Praga, do qual Roman Jakobson tornou-se um dos principais representantes.
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13
Não localizamos maiores informações sobre essa que deve ter sido sua estreia como docente.
Parecer I
Sobre o autor do parecerSCIMAGO INSTITUTIONS RANKINGSParecer I
O texto é bastante original e trata com seriedade e rigor o tema escolhido; apresenta uma boa revisão bibliográfica e cumpre o que anuncia no resumo e na introdução. Muitos aspectos relativos às atividades docentes dos três autores objeto do artigo são trazidos ao longo do texto, evidenciados por referências às obras consultadas, no entanto, as considerações finais deixam a desejar no que diz respeito à reflexão das relações cogitadas entre o fazer docente dos três estudiosos. É necessário desenvolver um pouco mais esse tópico, pois isso acrescerá ainda maior qualidade ao artigo. É prudente fazer uma rigorosa revisão linguística no texto. APROVADO COM SUGESTÕES [Revisado]
- recomendação: aceitar
Histórico
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Parecer recebido em
03 Abr 2024
Parecer III
Sobre o autor do parecerSCIMAGO INSTITUTIONS RANKINGSParecer III
O artigo "Saussure, Bakhtin e Benveniste: o legado de três pilares no ensino e no pensamento linguístico" apresenta um lado não muito explorado dos três linguistas que compõem a chamada atual desta revista, Ferdinand de Saussure, Mikhail Bakhtin e Émile Benveniste, que consiste na prática docente desses autores. Considero que há originalidade na escolha do tema e que o texto demonstra um conhecimento abrangente da bibliografia relacionada a esses autores, além de trazer também dados importantes sobre suas biografias. Apesar disso, deixo como sugestão ao (à) autor (a) que a parte dedicada ao ‘legado’ desses estudiosos no que diz respeito à docência seja mais desenvolvida - se não no artigo, na pesquisa da qual ele decorre -, tendo em vista que senti falta de uma elaboração teórica a respeito do tema. Outro ponto para o qual chamo a atenção concerne ao fato de que, talvez, as edições referentes às anotações dos alunos de Saussure, publicadas por Komatsu e Harris deem uma melhor perspectiva a respeito do Saussure professor, do que o CLG. Essas sugestões podem ser ou não acatadas pelo (a) autor (a) e não impedem a aprovação do artigo. APROVADO
- recomendação: aceitar
Histórico
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Parecer recebido em
04 Abr 2024
Disponibilidade de dados
Os conteúdos subjacentes ao texto da pesquisa estão contidos no manuscrito.
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
13 Dez 2024 -
Data do Fascículo
Jan-Mar 2025
Histórico
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Recebido
28 Fev 2024 -
Aceito
12 Ago 2024