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Cecília Meireles e Gabriela Mistral como leitoras de Rabindranath Tagore: negociações de gênero entre América Latina e Índia

Cecília Meireles and Gabriela Mistral as Readers of Rabindranath Tagore: Negotiating Gender Between Latin America and India

RESUMO

O presente artigo aborda a influência do escritor bengali Rabindranath Tagore na obra de duas escritoras latino-americanas que faziam parte do movimento Modernista: a chilena Gabriela Mistral, laureada com o Prêmio Nobel de Literatura (1945), e a brasileira Cecília Meireles. Por meio de análises textuais de Gabriela Mistral e Cecília Meireles, argumento que a contribuição de Rabindranath Tagore foi importante para a literatura de mulheres na América Latina no século XX. Ao analisar Gabriela Mistral e Cecília Meireles como escritoras e leitoras, o artigo questiona as distinções entre ambas as práticas culturais, além de mostrar que a América Latina vivenciou, bem antes dos estudos pós-coloniais, o desenvolvimento de uma poética que não somente criticou o paradigma patriarcal, mas também o eurocêntrico.

PALAVRAS-CHAVE:
Gabriela Mistral; Cecília Meireles; Rabindranath Tagore; literatura de mulheres; Sul Global

ABSTRACT

This article depicts the influence of the Bengali author Rabindranath Tagore on two Latin American women writers, both part of the Modernist movement: the Chilean Nobel laureate (1945) Gabriela Mistral, and the Brazilian Cecília Meireles. By examining the poetic reflections on Tagore and his influence on Mistral’s and Meireles’ prose and poetry, the article argues that the Tagore’s reception was important for women’s writing in 20th century Latin America. In analyzing Mistral and Cecília as writers and readers, I will question the differences between both cultural practices and show that Latin America became the hotspot for the development of a poetic that prior to the advent of postcolonial studies, criticized the patriarchal model, and the Eurocentric perspective of the cultural vanguard.

KEYWORDS:
Gabriela Mistral; Cecília Meireles; Rabindranath Tagore; women’s writing; Global South

Negociações de gênero entre Índia e América Latina

O presente artigo investiga a influência do escritor bengali e primeiro ganhador não europeu do Prêmio Nobel de Literatura (1913), Rabindranath Tagore, na formação de uma corrente de escrita feminina na América Latina.1 1 Este artigo se baseia na minha tese de mestrado, não publicada (Jöhnk, 2018). Trata-se de uma tradução, adaptação e reescritura de partes selecionadas desse trabalho, que originalmente também incluía uma análise de Victoria Ocampo. Principalmente porque nos últimos anos novos artigos foram publicados que se dedicam à relação de Cecília Meireles com a Índia, as referências bibliográficas também foram atualizadas. Concentro-me em duas escritoras modernistas, Gabriela Mistral (1889-1957) e Cecília Meireles (1901-1964), para as quais a leitura de Tagore foi constitutiva para a suas próprias estéticas e poéticas e para as quais essa leitura tinha uma conexão com gênero. As razões pelas quais Tagore foi tão importante para a produção literária feminina podem ser vistas através de uma redação sobre a cultura popular em Bengala, publicada no ano de 1907, na coleção Lokashahitya, que significa “folclore” (Sen, 1996SEN, Suchismita. Tagore’s “Lokashahitya”. The Oral Tradition in Bengali Children’s Rhymes. Asian Folklore Studies, v. 55, n. 1, p. 1-47, 1996. Disponível em: https://www.jstor.org/stable/1178855/ . Acesso em 09 nov. 2023.
https://www.jstor.org/stable/1178855/...
, p. 2). Esse ensaio representou uma inovação à sua época, visto que a maioria dos intelectuais em Bengala não se interessava por tradições folclóricas (Sen, 1996, p. 3). Nesse relato, Tagore descreve como colecionava canções de ninar, passadas de geração em geração por mulheres:

For some time now I have been busy collecting the rhymes that women in Bengal use to amuse children. These rhymes have a special significance for the study of our language and social history, but it is their natural, spontaneous poetic quality that has been of even greater value to me (Tagore apudSen, 1996SEN, Suchismita. Tagore’s “Lokashahitya”. The Oral Tradition in Bengali Children’s Rhymes. Asian Folklore Studies, v. 55, n. 1, p. 1-47, 1996. Disponível em: https://www.jstor.org/stable/1178855/ . Acesso em 09 nov. 2023.
https://www.jstor.org/stable/1178855/...
, p. 5).2 2 Eu me refiro à tradução ao inglês feita por Suchismita Sen. Veja também McQuail, 2010, p. 493.

O gênero literário da canção de ninar é, notoriamente, associado à maternidade. Leitores e leitoras latino-americanos também devem relacionar esse gênero literário à literatura de Gabriela Mistral, que, além de ter sido uma poeta, exerceu uma grande influência na área da pedagogia e escreveu canções infantis. A citação demonstra a importância de tradições literárias de mulheres para o escritor bengali, numa época em que a literatura feminina era marginalizada. O presente artigo mostra como essas afinidades entre a poética de Tagore e questões de gênero são percebidas por duas leitoras e poetas latino-americanas. Em duas leituras detalhadas, demonstrarei a dimensão da influência de Tagore na obra de Gabriela Mistral e Cecília Meireles, e, com isto, sugerirei que, através das leituras dessas duas escritoras, podemos entender por que a obra de Tagore foi importante para a escrita feminina latino-americanas no século XX. Baseando-me em dois exemplos de culturas linguísticas diferentes e, além disso, em duas autoras que eram conscientes das questões de gênero, proponho que o assunto do presente artigo possa ser ampliado - tanto em relação à própria obra das escritoras quanto em relação a outras autoras e tradutoras.

A presente contribuição se concentra na coleção de poesias Gitanjali, publicada no ano de 1910 por Tagore, e evoca a influência de The Crescent Moon (1913TAGORE, Rabindranath. The Crescent Moon. Traduzido por Rabindranath Tagore. London: Macmillan and Company, 1913.) na obra de Gabriela Mistral.3 3 No presente artigo não vou abordar a importância da tradução, mas vale enfatizar que Gabriela Mistral provavelmente leu Gitanjali através de uma tradução espanhola, possivelmente uma tradução de Tagore (1918) feita por Pedro Requena Legarreta. Também existia uma tradução dessa coleção que o próprio Tagore (1997) fez ao inglês. A escritora chilena encontrou Tagore pessoalmente em 1930MISTRAL, Gabriela. Un Tagore de Nueva York [manuscrito]. Biblioteca Nacional de Chile, 1930. Disponível em: http://www.bibliotecanacionaldigital.cl/bnd/623/w3-article-138456.html. Acesso em: 31 mai. 2023.
http://www.bibliotecanacionaldigital.cl/...
, durante uma viagem aos Estados Unidos (Mistral, 1930MISTRAL, Gabriela. Un Tagore de Nueva York [manuscrito]. Biblioteca Nacional de Chile, 1930. Disponível em: http://www.bibliotecanacionaldigital.cl/bnd/623/w3-article-138456.html. Acesso em: 31 mai. 2023.
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; Prasad Ganguly, 2016PRASAD GANGULY, Shyama. Beyond the Trans-Atlantic Matrix: Tagore and Latin-America. In: KLENGEL, Susanne; ORTIZ WALLNER, Alexandra (org.). Sur/South. Poetics and Politics of Thinking Latin America / India. Madrid, Frankfurt: Iberoamericana Vervuert, 2016. p. 135-152., p. 142). A respeito do seu encontro com o poeta bengali, a poeta comentou: “Yo había leído esto en la prensa norteamericana y no pensaba acercarme a él, a pesar del cariño - de los cariños que le tengo: cariño de su literatura y de su pedagogía de cera y miel, de sus muchos poemas y de su única escuela” (Mistral, 1930MISTRAL, Gabriela. Un Tagore de Nueva York [manuscrito]. Biblioteca Nacional de Chile, 1930. Disponível em: http://www.bibliotecanacionaldigital.cl/bnd/623/w3-article-138456.html. Acesso em: 31 mai. 2023.
http://www.bibliotecanacionaldigital.cl/...
, s.p.). Analisando o pensamento de Mistral, sugiro que, para a recepção de Tagore, dois aspectos são relevantes: a literatura e a pedagogia. Ambas são características que unem Gabriela Mistral e Cecília Meireles, posto que as duas escritoras também eram educadoras e escreviam textos pedagógicos. Assim, também podemos ler numa crônica curta de Cecília Meireles: “Poemas, contos, canções, romances, teatro, música, tudo converge para um fim superior, na obra de Tagore. É uma obra altamente educativa, sem nenhuma aparência ou intenção didática” (Meireles, 1980, p. 165).

Um outro aspecto valioso na comparação das leituras de Gabriela Mistral e Cecília Meireles refere-se ao seu tempo histórico. O final da Primeira Guerra Mundial resultou numa decepção com a Europa, gerando uma busca de novos ídolos e novas redes intelectuais (Loundo, 2011LOUNDO, Dilip. “A praia dos mundos sem fim”. Os encontros de Rabindranath Tagore com a América Latina. Aletria, v. 21, n. 2, p. 41-56, 2011. Disponível em: https://periodicos.ufmg.br/index.php/aletria/article/view/18434/ . Acesso em 09 nov. 2023.
https://periodicos.ufmg.br/index.php/ale...
, p. 48-49; Bhattacharya, 2016BHATTACHARYA, Nilanjana. Exploring a South-South Dialogue: Spanish American Reception of Rabindranath Tagore. Revista de Lenguas Modernas, v. 25, p. 81-99, 2016. Disponível em: https://revistas.ucr.ac.cr/index.php/rlm/article/view/27683/27892. Acesso em 09 nov. 2023.
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, p. 93). Uma dinâmica comparável evoluiu depois da Segunda Guerra Mundial, quando, de acordo com Susanne Klengel, também se abriu a possibilidade para “la participación activa y a nível igualitário de actores intelectuales del Sur en el discurso global universalista” (Klengel, 2016aKLENGEL, Susanne. La Goa de Gilberto Freyre. Laboratorio lusotropical para el pensamiento transareal desde el Sur. In: KLENGEL, Susanne; ORTIZ WALLNER, Alexandra (org.). Sur/South. Poetics and Politics of Thinking Latin America / India. Madrid; Frankfurt: Iberoamericana Vervuert, 2016a. p. 113-134., p. 125). Nessas constelações históricas cresce o interesse por pensadores como Tagore ou Ghandi, como expõe a própria Cecília Meireles em sua redação Tagore and Brazil, ao escrever em inglês:

It was, indeed, an epoch when anything pertaining to India found a wide public, as if after the First World War a special interest in the Orient, and more particularly India, had arisen, and with it, as Tagore may have believed, a hope for the rebuilding of the world on more spiritual and more fraternal foundations (Meireles, 1961MEIRELES, Cecília. Tagore and Brazil. In: Sahitya Akademi (org.). A Centenary Volume. Radindranath Tagore 1861-1961. New Delhi: Sahitya Akademi, 1961. p. 334-337., p. 335).4 4 Veja também Meireles, 1962, p. 80.

Cecília Meireles menciona que a recepção de Tagore está conectada com a evolução de um pensamento humanista e espiritual. Além desse marco histórico, a influência de Tagore na América Latina também coincide com a luta pelos direitos de mulheres, refletidos na obra de Gabriela Mistral e Victoria Ocampo (Prasad Ganguly, 2016PRASAD GANGULY, Shyama. Beyond the Trans-Atlantic Matrix: Tagore and Latin-America. In: KLENGEL, Susanne; ORTIZ WALLNER, Alexandra (org.). Sur/South. Poetics and Politics of Thinking Latin America / India. Madrid, Frankfurt: Iberoamericana Vervuert, 2016. p. 135-152., p. 145). O hispanista Prasad Ganguly discute a esse propósito:

In this scenario Tagore’s forceful advocacy of freedom in childhood education and his emancipating stance in favor of women in the face of varied social and cultural injustices (in Bengal, which served as the microcosm of a very wide canvas) projected the idea of selfhood and individuality defined and uniquely constructed in a cultural connected but also sharing universal constants with all other feminine selves (Prasad Ganguly, 2016PRASAD GANGULY, Shyama. Beyond the Trans-Atlantic Matrix: Tagore and Latin-America. In: KLENGEL, Susanne; ORTIZ WALLNER, Alexandra (org.). Sur/South. Poetics and Politics of Thinking Latin America / India. Madrid, Frankfurt: Iberoamericana Vervuert, 2016. p. 135-152., p. 145).

Essa citação indica a importância da leitura de Tagore para a consciência feminista na América Latina. Em geral, sabe-se que Tagore obteve mais popularidade na América Latina do que no mundo anglófono (veja, por exemplo, Bhattacharya, 2016BHATTACHARYA, Nilanjana. Exploring a South-South Dialogue: Spanish American Reception of Rabindranath Tagore. Revista de Lenguas Modernas, v. 25, p. 81-99, 2016. Disponível em: https://revistas.ucr.ac.cr/index.php/rlm/article/view/27683/27892. Acesso em 09 nov. 2023.
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, p. 84; Prasad Ganguly, 2014PRASAD GANGULY, Shyama. Spain and Latin America. In: KÄMPCHEN, Martin; BANGHA, Imre (org.). Rabindranath Tagore. One Hundred Years of Global Reception. New Delhi: Orient Black Swan, 2014. p. 476-498., p. 476). Essa presença dinâmica de Tagore está também conectada com as traduções da sua obra (Pinheiro, 2016PINHEIRO, Cláudio Costa. Las muchas encarnaciones de Tagore y los escritos de su espíritu. In: KLENGEL, Susanne; ORTIZ WALLNER, Alexandra (org.). Sur/South. Poetics and Politics of Thinking Latin America / India. Madrid, Frankfurt: Iberoamericana Vervuert, 2016. p. 283-308.) e, especialmente, a tradução da sua obra pelo casal literário espanhol Zenobia Camprubí e Juan Ramón Jiménez (Bhattacharya, 2016BHATTACHARYA, Nilanjana. Exploring a South-South Dialogue: Spanish American Reception of Rabindranath Tagore. Revista de Lenguas Modernas, v. 25, p. 81-99, 2016. Disponível em: https://revistas.ucr.ac.cr/index.php/rlm/article/view/27683/27892. Acesso em 09 nov. 2023.
https://revistas.ucr.ac.cr/index.php/rlm...
, p. 84).

A meta do presente artigo, porém, não consiste em discutir a extensão da receptividade de Tagore na América Latina, nem em debater o conteúdo feminista de sua obra - que de fato gerou controvérsias (Mandal, 2015MANDAL, Somdatta. “Was Tagore a Feminist? Re-evaluating Selected Fiction and Their Film Adaptions.” Literature Compass, v. 12, no. 5, 2015, p. 227-237. Disponível em: https://compass.onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/lic3.12227/ . Acesso em 09 nov. 2023.
https://compass.onlinelibrary.wiley.com/...
). Concentro-me em duas escritoras nesse diálogo entre Índia e América Latina, que conectaram a sua leitura de Tagore com questões de gênero. Faço apenas menção seletiva à pesquisa em constante evolução sobre a influência de Tagore na obra de Cecília Meireles (por exemplo Loundo, 2011LOUNDO, Dilip. “A praia dos mundos sem fim”. Os encontros de Rabindranath Tagore com a América Latina. Aletria, v. 21, n. 2, p. 41-56, 2011. Disponível em: https://periodicos.ufmg.br/index.php/aletria/article/view/18434/ . Acesso em 09 nov. 2023.
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; Oliveira, 2014OLIVEIRA, Giesele Pereira de. Cecília Meireles e a Índia: Das provisórias arquiteturas ao ‘extâse longo de ilusão nenhuma’ [manuscrito]. São Paulo: Editora da Unesp, 2014. Disponível em: https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/123392/000823526.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: 31 mai. 2023.
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; Oliveira, 2016OLIVEIRA, Gisele Pereira de. (Des)Orientalização, (Des)Colonização, (Des)Territorialização: Diálogos entre o Brasil e a Índia no Pós-guerra. Cronos, v. 17, n. 1, p. 38-50, 2016. Disponível em: https://periodicos.ufrn.br/cronos/article/view/12937/ . Acesso em 09 nov. 2023.
https://periodicos.ufrn.br/cronos/articl...
; Wolff, 2017WOLFF, Marcus. O Tagore de Cecília Meireles e outros Tagores. Contexto, v. 31, n. 1, 2017, p. 483-504. Disponível em: https://periodicos.ufes.br/contexto/article/view/14955/ . Acesso em 09 nov. 2023.
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) e, de maneira mais geral, sobre a importância da Índia na obra da escritora modernista (Ferigate; Silva, 2021FERIGATE, Anderson Azevedo; SILVA, Teresinha V. Zimbrão. Presença do Hinduismo na poesia de Cecília Meireles antes de Poemas escritos na Índia. Estudos Linguísticos e Literários. n. 70, p. 376-393, 2021. Disponível em: https://periodicos.ufba.br/index.php/estudos/article/view/43858/ . Acesso em 09 nov. 2023.
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; Loundo, 2007LOUNDO, Dilip. Cecília Meireles e a Índia: viagem e meditação poética. In: GOUVÊA, Leila V. B (org.). Ensaios sobre Cecília Meireles. São Paulo: Humanitas, 2007. p. 129-176.; Reis, 2019REIS, Ana Amélia Neubern Batista. Cecília Meireles e a Índia no modernismo brasileiro. Tese (Doutorado) - Universidade Federal de Minas Gerais 2019. Disponível em: https://repositorio.ufmg.br/handle/1843/32989 . Acesso em 09 nov. 2023.
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). A relação entre Gabriela Mistral e Rabindranath Tagore permanece, no entanto, menos discutida. Também vale mencionar as discussões sobre a relação entre Rabindranath Tagore e Victoria Ocampo, que, devido à sua intensidade, também já foram objetos de artigos e estudos que inspiraram este trabalho (Klengel, 2013KLENGEL, Susanne. Victoria Ocampo und Tagore. Zur Problemlage transkultureller Biografik. In: UNSELD, Melanie; ZIMMERMANN, Christian von (org.). Anekdote - Biographie - Kanon. Zur Geschichtsschreibung in den schönen Künsten. Köln; Weimar; Wien: Böhlau, 2013. p. 365-382.; Dyson, 2016DYSON, Ketaki Kushari. The Tagore-Ocampo Encounter: Tangled, Complex Realities. A Personal Research Survey. In: KLENGEL, Susanne; ORTIZ WALLNER, Alexandra (org.). Sur/South. Poetics and Politics of Thinking Latin America / India. Madrid, Frankfurt: Iberoamericana Vervuert, 2016. p. 27-37.).

Um outro pilar dessa contribuição consiste na revisão de contextos mais amplos, nas relações culturais entre a Índia e América Latina, para as quais os trabalhos da já citada pesquisadora Susanne Klengel são fundamentais. Em seus artigos e livros editados, Klengel se dedica à formação de um “conhecimento de entendimento” [“Verständigungswissen”] no Sul Global, partindo de figuras como Victoria Ocampo e Rabindranath Tagore (Klengel, 2016bKLENGEL, Susanne. Literarische Beziehungen und Erfahrungswelten zwischen Lateinamerika, Europa und Indien. Bewegungen, Akteure, Repräsentationen Süd-Süd. In: KOPF, Martina; SEILER, Sascha (org.). Blicke auf Lateinamerika und Europa. Heidelberg: Winter, 2016b. p. 49-61., p. 49; Klengel; Ortiz Wallner, 2016DYSON, Ketaki Kushari. The Tagore-Ocampo Encounter: Tangled, Complex Realities. A Personal Research Survey. In: KLENGEL, Susanne; ORTIZ WALLNER, Alexandra (org.). Sur/South. Poetics and Politics of Thinking Latin America / India. Madrid, Frankfurt: Iberoamericana Vervuert, 2016. p. 27-37., p. 9). Em um livro editado sobre Sur / South. Poetics and Politics of Thinking Latin America / India, Alexandra Ortiz Wallner e Susanne Klengel (2016KLENGEL, Susanne; ORTIZ WALLNER, Alexandra. A New Poetics and Politics of Thinking Latin America/India. SUR/SOUTH and a Different Orientalism. In: KLENGEL, Susanne; ORTIZ WALLNER, Alexandra (org.). Sur/South. Poetics and Politics of Thinking Latin America / India. Madrid, Frankfurt: Iberoamericana Vervuert, 2016. p. 7-26., p. 7-8) também demonstram o estado atual da pesquisa sobre as relações entre a América Latina e a Índia, as quais, no campo dos estudos culturais, ainda não receberam a atenção merecida.

Um ensaio, que visa a compreender a questão da recepção, necessariamente contempla as escritoras Gabriela Mistral e Cecília Meireles como leitoras. Metodologicamente, o presente artigo se baseia em teorias que centram o papel da leitura, tal como podemos observá-lo, em textos de teoria da recepção (Iser, 1970ISER, Wolfgang. Die Appellstruktur der Texte: Unbestimmtheit als Wirkungsbedingung literarischer Prosa. Konstanz: UVK, 1970.) ou nos textos do semiótico francês Roland Barthes. Em La Mort de l’auteur, Barthes (1984BARTHES, Roland. La Mort de l’auteur. In: BARTHES, Roland. Le Bruissement de la langue. Paris: Seuil, 1984. p. 63-69., p. 69), famosamente, proclamou que a morte do autor seria o nascimento do leitor, e em Le Plaisir du texte (1973BARTHES, Roland. Le Plaisir du texte. Paris: Seuil, 1973. 112 p.) ele reflete sobre o prazer da leitura. Também podemos considerar teorias mais contemporâneas, como as elaboradas por Gloria Anzaldúa, que hoje em dia é conhecida sobretudo por sua escrita queer e multilíngue. As suas teorias sobre a imaginação e a leitura permanecem pouco estudadas (Keating, 2009ANZALDÚA, Gloria. On the Process of Writing Borderlands/La Frontera. In: KEATING, Ana Louise (org.). The Gloria Anzaldúa Reader. Durham; London: Duke University Press, 2009. p. 187-197., p. 103). Anzaldúa frequentemente refletia sobre a importância da leitura para a sua própria escrita, tal como no ensaio To(o) Queer the Writer, e não somente desequilibrava as fronteiras entre os gêneros e as línguas, mas também entre o ato de escrever e o de ler:

[...] I intend to problematize the relationship between reader, writer, and text - specifically the reader’s role in giving meaning to the text. It is the reader (and the author reading as a reader) who ultimately makes the connections, finds the patterns that are meaningful for her or him (Anzaldúa, 2009ANZALDÚA, Gloria. On the Process of Writing Borderlands/La Frontera. In: KEATING, Ana Louise (org.). The Gloria Anzaldúa Reader. Durham; London: Duke University Press, 2009. p. 187-197., p. 190).

Outros exemplos da sua reflação sobre as convergências entre o ato de escrever e de ler se encontram em citações como a presente: “In the past the reader was a minor character in the triangle of author-text-reader. More and more today the reader is becoming as important if not more important than the author. Making meaning is a collaborative affair” (Anzaldúa, 2009ANZALDÚA, Gloria. On the Process of Writing Borderlands/La Frontera. In: KEATING, Ana Louise (org.). The Gloria Anzaldúa Reader. Durham; London: Duke University Press, 2009. p. 187-197., p. 168; cf.Jöhnk; von Ohlen, no preloJÖHNK, Marília; VON OHLEN, Elena. Las comadres de Gloria Anzaldúa: lecturas queer, comunidad y reescrituras de la mitología. In: JÖHNK, Marília; VON OHLEN, Elena (org.). La actualidad de Gloria Anzaldúa. Nuevas lecturas de Borderlands/La Frontera. The New Mestiza. (no prelo). ). Portanto, o meu objetivo é analisar a obra de escritoras como Gabriela Mistral e Cecília Meireles de um ponto de vista similar, desfazendo, assim como Iser, Barthes ou Anzaldúa, as distinções entre leitor e escritor, e explorando como o ato de escrever e de ler estão intrinsecamente ligados.

Pedagogia com Gabriela Mistral

No ano de 1922, Gabriela Mistral deixa o seu país natal, Chile, depois de ter recebido um convite para colaborar com a reforma educacional no México, à época dirigida pelo ministro José Vasconcelos. Como resultado dessa estadia, Mistral edita o livro Lecturas para mujeres, destinado à educação de meninas em uma escola rural, batizada com o nome da poeta chilena.5 5 A viagem de Gabriela Mistral e o livro escolar Lecturas para mujeres são examinados mais profundamente no meu livro Jöhnk, 2021, p. 23-106. Mais detalhes sobre a missão educativa de Gabriela Mistral no México se encontram em Weinberg (2016) e Schneider (1997). No prefácio dessa obra, a escritora chilena expõe diretamente a ligação entre Tagore e a literatura de mulheres:

Ya es tiempo de iniciar entre nosotros la formación de una literatura femenina, seria. A las excelentes maestras que empieza a tener nuestra América corresponde ir creando la literatura del hogar, no aquella de sensiblería y de belleza inferior que algunos tienen por tal, sino una literatura con sentido humano, profundo. La han hecho hasta hoy, aunque parezca absurdo, sólo los hombres: un Ruskin, en Inglaterra; un Tagore, en la India; para no citar más (Anotemos, en descargo de las mujeres, dos nobles nombres: el de Ada Negri, en Italia, y el de Selma Lagerloff en Suecia) (Mistral, 1924MISTRAL, Gabriela. Introducción a estas “Lecturas para mujeres”. In: MISTRAL, Gabriela (org.). Lecturas para mujeres. Destinadas a la enseñanza del lenguaje. Ciudad de México: Secretaría de Educación, 1924. p. 7-17., p. 10-11).6 6 Bhattacharya (2016, p. 88) explica que esse comentário de Mistral pode parecer “limited” [limitado] para pessoas que igualmente tem acesso aos seus textos escritos em língua bengali.

Com essas palavras, Gabriela Mistral evoca um conceito de “literatura feminina” que se distancia do biológico. A citação revela que a literatura feminina, de acordo com a autora, se caracteriza primeiramente por seu valor humanista. Podemos observar uma convergência com o conceito de escrita feminina elaborada por Hélène Cixous. Embora se trate de duas concepções divergentes do feminino, sabemos que o conceito de “escrita feminina” na obra de Hélène Cixous também se caracteriza por um distanciamento em relação às noções biológicas do feminino. No seu ensaio Le Rire de la Méduse, Hélène Cixous cita, por exemplo, uma passagem famosa de Ulysses, de James Joyce, enquanto em outros textos ela privilegia a literatura de Clarice Lispector para ilustrar o seu conceito (Cixous, 2010CIXOUS, Hélène. Le Rire de la Méduse. In: CIXOUS, Hélène. Le Rire de la Méduse et autres ironies. Paris: Galilée, 2010. p. 37-68., p. 53; Cf. Weber, 1994WEBER, Ingeborg. Den Körper schreiben, die Orange leben: Hélène Cixous und das Konzept der écriture féminine. In: WEBER, Ingeborg (org.). Weiblichkeit und weibliches Schreiben. Poststrukturalismus, weibliche Ästhetik, kulturelles Selbstverständnis. Darmstadt: Wissenschaftliche Buchgesellschaft, 1994. p. 2-33., p. 22). No caso de Gabriela Mistral, encontramos uma relativização do biológico e um reconhecimento de que autores como Tagore podem criar, em suas obras, espaços para experiências femininas, tornando-se assim importantes para o desenvolvimento das escritoras.

O livro escolar de Gabriela Mistral contém vários textos que a poeta considerava significativos para a educação feminina. Esses textos provêm, em primeiro lugar, da cultura hispano-americana, e foram classificadas em segmentos diferentes, como “Hogar” (no qual se encontram a maioria dos textos de Tagore), “Motivos Espirituales” e “Naturaleza”. Devemos acrescentar que Tagore é o segundo autor mais citado e um dos poucos autores inclusos em Lecturas para mujeres que não pertence à cultura espanhola ou francesa (Arrigoitia, 1989ARRIGOITIA, Luis de. Pensamiento y forma en la prosa de Gabriela Mistral. Puerto Rico: Editora de la Universidad de Puerto Rico, 1989. 408 p., p. 60). Os textos de Tagore, compilados por Mistral são de origens diversas, oriundos de obras como The Crescent Moon (1913), Fruit Gathering e The Gardener (Bhattacharya, 2016BHATTACHARYA, Nilanjana. Exploring a South-South Dialogue: Spanish American Reception of Rabindranath Tagore. Revista de Lenguas Modernas, v. 25, p. 81-99, 2016. Disponível em: https://revistas.ucr.ac.cr/index.php/rlm/article/view/27683/27892. Acesso em 09 nov. 2023.
https://revistas.ucr.ac.cr/index.php/rlm...
, p. 89).

No seu prefácio, a própria Gabriela Mistral se designa como “Recopiladora” (Mistral, 1924MISTRAL, Gabriela. Introducción a estas “Lecturas para mujeres”. In: MISTRAL, Gabriela (org.). Lecturas para mujeres. Destinadas a la enseñanza del lenguaje. Ciudad de México: Secretaría de Educación, 1924. p. 7-17., p. 17). Como demonstrado pela pesquisadora franco-alemã Élisabeth Décultot (2014DÉCULTOT, Élisabeth. Einleitung: Die Kunst des Exzerpierens. Geschichte, Probleme, Perspektiven. In: DÉCULTOT, Élisabeth (org.). Lesen, Kopieren, Schreiben. Lese- und Exzerpierkunst in der europäischen Literatur des 18. Jahrhunderts. Berlin: Ripperger & Kremers, 2014. p. 7-47., p. 9), no contexto histórico do século XVIII, as compilações não eram somente produtos de um processo passivo de leitura, mas - frequentemente - serviam de origem para uma produção literária própria. Nesse sentido, também considero as coleções de Mistral de obras de Tagore como processos importantes para o desenvolvimento da sua própria literatura. Gabriela Mistral é compiladora e leitora de Tagore, o que contribui para a sua própria produção literária e, além disso, é constitutivo no nível discursivo para a fundação de uma escrita feminina na América Latina.

Como mencionado, Gabriela Mistral selecionou partes do livro The Crescent Moon, de Tagore, em uma coleção de histórias para crianças. Em seu ensaio Libros escolares complementários, Gabriela Mistral (1979MISTRAL, Gabriela. Libros escolares complementarios. In: MISTRAL, Gabriela. Magisterio y Niño. Selección de Prosa y Prólogo de Roque Esteban Scarpa. Santiago: Editorial Andrés Bello, 1979. p. 112-117., p. 115) já tinha se referido positivamente a esse livro de Tagore. Também observamos que, ao lado das partes escolhidas dessa obra de Tagore, Gabriela Mistral anota a seguinte frase no seu livro didático: “Recomendar todas las obras de Tagore” (Mistral, 1924, p. 74; Cf. Bhattacharya, 2016BHATTACHARYA, Nilanjana. Exploring a South-South Dialogue: Spanish American Reception of Rabindranath Tagore. Revista de Lenguas Modernas, v. 25, p. 81-99, 2016. Disponível em: https://revistas.ucr.ac.cr/index.php/rlm/article/view/27683/27892. Acesso em 09 nov. 2023.
https://revistas.ucr.ac.cr/index.php/rlm...
, p. 89). Isso demonstra que a poeta chilena considerava a leitura do escritor indiano crucial para a educação de mulheres. As histórias em The Crescent Moon, entretanto, são diálogos entre mãe e filho, evocando a perspectiva das duas figuras em intercâmbio. O título é uma alusão alegórica ao crescimento de uma criança, no qual o texto evoca através da referência à fase crescente da lua (McQuail, 2010, p. 491). Na sua escolha dos textos de Tagore, Gabriela Mistral consequentemente enfatiza o amor e, particularmente, no amor materno (Bhattacharya, 2016BHATTACHARYA, Nilanjana. Exploring a South-South Dialogue: Spanish American Reception of Rabindranath Tagore. Revista de Lenguas Modernas, v. 25, p. 81-99, 2016. Disponível em: https://revistas.ucr.ac.cr/index.php/rlm/article/view/27683/27892. Acesso em 09 nov. 2023.
https://revistas.ucr.ac.cr/index.php/rlm...
, p. 89). Alguns títulos são alterados por Gabriela Mistral, outros permanecem: El principio e El fin correspondem ao título do original.7 7 As divergências de Mistral a respeito da tradução espanhola de Camprubí-Jiménez foram examinadas por Bhattacharya (2016, p. 89).

Os poemas em The Crescent Moon podem ser lidos como alegoria, que se referem ao processo de escrever, o que é especialmente presente em textos tal como Authorship (Tagore, 1913TAGORE, Rabindranath. The Crescent Moon. Traduzido por Rabindranath Tagore. London: Macmillan and Company, 1913., p. 58-59).8 8 De acordo com McQuail (2010, p. 499) pode-se observar em Authorship uma recusa da língua do pai e uma preferência pela língua da mãe. Na sua escolha, a autora dá uma atenção especial às histórias que contêm um diálogo entre mãe e filho. Essa constelação se reflete também na obra de Mistral, que frequentemente tentava captar a essência da maternidade na sua lírica. O tema da maternidade também pode ser interpretado em relação ao processo de escrever. Dessa maneira, nas teorias da escrita feminina, segundo Cixous, a figura materna também serve como uma imagem metapoética que é relacionada à amamentação e à “l’encre blanche” [tinta branca] (Cixous, 2010CIXOUS, Hélène. Le Rire de la Méduse. In: CIXOUS, Hélène. Le Rire de la Méduse et autres ironies. Paris: Galilée, 2010. p. 37-68., p. 48).9 9 Para mais detalhes sobre a figura da mãe no ensaio de Cixous, Cf. Weber, 1994, p. 22-23. Eu sugiro que a constelação de mãe e filho não somente tem um significado em relação à obra de Tagore e de Mistral, como também em relação às propostas deste artigo. Essa constelação pode ser lida como reflexão poética, o que pode ser observado no fato de que os excertos refletem o processo de aprendizagem da fala: “Lo que anhela es aprender palabras de labios de su madre” (Tagore, 1924TAGORE, Rabindranath. El niño es así… In: MISTRAL, Gabriela (org.). Lecturas para mujeres. Destinadas a la enseñanza del lenguaje. México: Secretaría de Educación, 1924., p. 75). Assim, Gabriela Mistral reflete implicitamente sobre a convergência entre leitura e escrita, bem como sobre o poder criativo da leitura que estimula sua própria escrita.

Comentários a poemas de Rabindranath Tagore

Uma divergência na recepção da obra de Tagore por Gabriela Mistral e Cecília Meireles representa a importância da mística para a escritora chilena, como podemos observar em Comentarios a poemas de Rabindranath Tagore. Essa obra foi publicada no ano de 1917, no conjunto Rabindranath Tagore, poeta y filósofo hindu, e no ano de 1922, na famosa coleção de poesias de Gabriela Mistral Desolación (Arrigoitia, 1989ARRIGOITIA, Luis de. Pensamiento y forma en la prosa de Gabriela Mistral. Puerto Rico: Editora de la Universidad de Puerto Rico, 1989. 408 p., p. 50; Bhattacharya, 2016BHATTACHARYA, Nilanjana. Exploring a South-South Dialogue: Spanish American Reception of Rabindranath Tagore. Revista de Lenguas Modernas, v. 25, p. 81-99, 2016. Disponível em: https://revistas.ucr.ac.cr/index.php/rlm/article/view/27683/27892. Acesso em 09 nov. 2023.
https://revistas.ucr.ac.cr/index.php/rlm...
, p. 90). Embora o título sugira que trata-se de um conjunto de comentários, trata-se, antes de tudo, de uma interpretação, uma continuação e um re-writing da poesia de Tagore (Bhattacharya, 2016BHATTACHARYA, Nilanjana. Exploring a South-South Dialogue: Spanish American Reception of Rabindranath Tagore. Revista de Lenguas Modernas, v. 25, p. 81-99, 2016. Disponível em: https://revistas.ucr.ac.cr/index.php/rlm/article/view/27683/27892. Acesso em 09 nov. 2023.
https://revistas.ucr.ac.cr/index.php/rlm...
, p. 90-92). Comentarios a poemas de Rabindranath Tagore faz referência à mística, o que une a recepção de Tagore com uma tradição literária de mulheres. Como é de conhecimento comum, místicas como Teresa de Jesus exerceram um papel crucial para o desenvolvimento da escrita feminina no século XX. A própria Mistral refere-se continuadamente à mística espanhola na sua obra (Arrigoitia, 1989ARRIGOITIA, Luis de. Pensamiento y forma en la prosa de Gabriela Mistral. Puerto Rico: Editora de la Universidad de Puerto Rico, 1989. 408 p., p. 50, 53; Mistral, 2002MISTRAL, Gabriela. Bendita mi lengua sea - Diario íntimo de Gabriela Mistral, 1905-1956. Organização de Jaime Quezada. Santiago: Planeta; Ariel, 2002. 299 p., p. 50 e 60-61). O paralelismo entre a escrita feminina e a mística foi, além disso, refletido nas teorias de Luce Irigaray (1974IRIGARAY, Luce. Speculum de l’autre femme. Paris: Éd. de Minuit, 1974., p. 238; Wild, 2016WILD, Cornelia. Mystik. In: WEIDNER, Daniel (org.). Handbuch Literatur und Religion. Stuttgart: Metzler, 2016. p. 395-398., p. 395), o que enfatiza a importância dessa corrente para os contextos do presente artigo. Numa crônica de Mistral sobre a região espanhola Castilla, a narradora encontra-se com Teresa de Jesus e discute com esta a fundação de uma tradição literária - isso sublinha a conexão entre mística e tradições literárias de mulheres na esfera da obra mistraliana:

No me cansé de fundar. Tú, mujer de Chile, sin fundar, te has cansado.

- Es cierto, madre.

- ¿Sabes por qué? Porque has querido fundar condescendiendo con los hombres, sujetando tu impulso, así se construye sin alegría y la obra, que sale muerta, ni la aprovecha ni Dios ni el Diablo. Yo, fundaba, hija, según el croquis divino que se me pintaba en el pecho. Y no buscaba gustar a nadie (MISTRAL, 1978aMISTRAL, Gabriela. Castilla. In: MISTRAL, Gabriela. Gabriela anda por el mundo. Selección de prosas y prólogo de Roque Esteban Scarpe. Santiago: Bello 1978a. p. 203-213., p. 205).

Vale mencionar que Teresa de Jesus não foi a única mística de importância para a obra de Mistral. A titular do prémio Nobel também evoca Catarina de Siena na sua prosa - que também faz parte de uma tradição e genealogia de escrita feminina (Mistral, 1978bMISTRAL, Gabriela. Siena. In: MISTRAL, Gabriela: Gabriela anda por el mundo. Selección de prosas y prólogo de Roque Esteban Scarpe. Santiago: Bello, 1978b. p. 245-251., p. 250). Nos diários de Mistral encontramos, além disso, uma escrita que reflete o diálogo de místicas como Teresa de Jesus com Deus.10 10 No diario de Gabriela Mistral (2002, p. 39) encontramos diálogos com Deus: “Como una enamorada estoy pensando cómo será el momento en que yo caiga con mi cuello sobre tu brazo. Cómo te miraré. Cómo me mirarás. Me impondrás una larga espera antes de verte. Iré viéndote pliegue a pliegue o me cegarás de un golpe con tu resplandor. Qué día mío será el que me salve, cuál de mis culpas mirarás con más ira. Qué canto mío me dejarás cantarte. Déjame acabar de aderezar la mesa de los míos y después voy. Cuánto he soñado contigo y, sin embargo, qué miedo de no haberte soñado nunca como eras y hallarte extraño y demorar mucho tiempo en reconocerte”. Para o contexto do presente artigo, é importante destacar que Mistral se conecta com Tagore através do misticismo e, consequentemente, adapta Tagore à esfera cristã, designando o poeta bengali, por exemplo, como “pastor” (Mistral, 2009MISTRAL, Gabriela. La gracia en la poesía. In: TELES, Gilberto Mendonça; MÜLLER-BERGH, Klaus (org.). Vanguardia latinoamericana: Historia, crítica y documentos. Tomo V. Sudamérica. Chile y países del Plata: Argentina - Paraguay - Uruguay. Frankfurt; Madrid: Iberoamericana Vervuert, 2009. v. 5, p. 91-93., p. 91; veja também Prasad Ganguly, 2016PRASAD GANGULY, Shyama. Beyond the Trans-Atlantic Matrix: Tagore and Latin-America. In: KLENGEL, Susanne; ORTIZ WALLNER, Alexandra (org.). Sur/South. Poetics and Politics of Thinking Latin America / India. Madrid, Frankfurt: Iberoamericana Vervuert, 2016. p. 135-152., p. 142 e 2013PRASAD GANGULY, Shyama. Spain and Latin America. In: KÄMPCHEN, Martin; BANGHA, Imre (org.). Rabindranath Tagore. One Hundred Years of Global Reception. New Delhi: Orient Black Swan, 2014. p. 476-498., p. 488-489).

Em Comentarios a poemas de Rabindranath Tagore, Mistral cita versos da coleção de poesias Gitanjali e usa essas citações como títulos. No ano de 1913, Tagore tinha recebido o Prêmio Nobel para essa coleção poética, que conta a viagem espiritual do narrador (Saha, 2017SAHA, Sukanya. “Stylistic Analysis of Tagore’s Song Offerings in ‘Gitanjali’.” Bharatiya Pragna: An Interdisciplinary Journal of Indian Studies v. 2, n. 1, p. 1-11, 2017. Disponível em: http://www.indianstudies.net/v2/n1/v2n101.pdf . Acesso em 09 nov. 2023.
http://www.indianstudies.net/v2/n1/v2n10...
, p. 1). Trata-se, além disso, de um diálogo entre Deus e o narrador, que Mistral usa nos seus comentários. Esses comentários afirmam que a recepção de Tagore na obra de Mistral se situa entre o processo da escrita e leitura. Os comentários são fruto de uma leitura que se transforma numa escrita, enfatizando a convergência entre o processo de escrever e o de ler. A seguinte análise se concentra num excerto desses comentários e, primeiramente, aborda o texto original de Rabindranath Tagore: o poema número 95, que não tem título:

I was not aware of the moment when I first crossed the threshold of this life.

What was the power that made me open out into this vast mystery like a bud in the forest at midnight!

When in the morning I looked upon the light I felt in a moment that I was no stranger in this world, that the inscrutable without name and form had taken me in its arms in the form of my own mother.

Even so, in death the same unknown will appear as ever known to me. And because I love this life, I know I shall love death as well.

The child cries out when from the right breast the mother takes it away, in the very next moment to find in the left one its consolation (Tagore, 1997TAGORE, Rabindranath. Gitanjali. A Collection of Prose Translations Made by the Author from the Original Bengali. New York: Scribner Poetry, 1997., p. 113).

Tagore reflete sobre a transgressão entre a vida e a morte, aproximando esta à esperança.11 11 Sobre a relação de Tagore com a morte Cf. Bhattacharya (2016, p. 91). A morte é interpretada como o outro lado da vida, como demonstrado na imagem da amamentação da criança pela mãe. A metáfora da mãe, também presente na obra de Mistral, sugere que a concepção de Deus, masculinizada na tradição cristã, é vista como um ser sem gênero, no qual as diferenças humanas se dissolvem. Na sua resposta a esse poema, Mistral cita Tagore - “I shall love death as well” -, mas, ao mesmo tempo, traduz a citação e a modifica significativamente, omitindo o auxiliar “shall” [deveria]. A voz poética de Mistral tem certeza de que vai amar a morte:

“Sé que también amaré la muerte.”

No creo, no, en que he de perderme tras la muerte.

¿Para qué me habrías henchido tú, si había de ser vaciada y quedar como las cañas, exprimida? ¿Para qué derramarías la luz cada mañana sobre mis sienes y mi corazón, si no fueras a recogerme como se recoge el racimo negro melificado al sol, cuando ya media el otoño?

Ni fría ni desamorada me parece, como a los otros, la muerte. Paréceme más bien un ardor, un tremendo ardor que desgaja y desmenuza las carnes, para despeñarnos caudalosamente el alma.

Duro, acre, sumo, el abrazo de la muerte. Es tu amor, es tu terrible amor, ¡oh, Dios! ¡Así deja rotos y vencidos los huesos, lívida de ansia la cara y desmadejada la lengua! (Mistral, 1922MISTRAL, Gabriela. Comentarios a poemas de Rabindranath Tagore. In: MISTRAL, Gabriela. Desolación. New York: Instituto de las Españas en los Estados Unidos, 1922. p. 208-211., p. 208).

No seu comentário do poema de Tagore, Mistral conserva a reflexão sobre a morte e a ambiguidade como sentimento predominante (Cf. para uma outra interpretação: Bhattacharya, 2016BHATTACHARYA, Nilanjana. Exploring a South-South Dialogue: Spanish American Reception of Rabindranath Tagore. Revista de Lenguas Modernas, v. 25, p. 81-99, 2016. Disponível em: https://revistas.ucr.ac.cr/index.php/rlm/article/view/27683/27892. Acesso em 09 nov. 2023.
https://revistas.ucr.ac.cr/index.php/rlm...
, p. 91-92). Essa ambivalência já se revela na definição da morte como “terrible amor” de Deus, como “abrazo” e na abundância de perguntas, que não encontramos em Tagore. Mistral evidencia a importância da confiança em Deus, mas também concentra-se no consumo e na decadência, como se pode ver nas metáforas mórbidas e barrocas da destruição do corpo: “¡Así deja rotos y vencidos los huesos, lívida de ansia la cara y desmadejada la lengua!”.

O diálogo com Deus, que não encontramos no poema de Tagore, se refere a uma forma estabelecida da escrita mística, presente na obra de autoras como Teresa de Jesus. A convergência da recepção da obra de Tagore com tradições literárias de mulheres afirma a ideia principal deste artigo. A morte frequentemente representa o impensável na literatura, portanto a linguagem que utilizamos para descrevê-la é figurativa, como vemos nas metáforas no poema de Tagore (mãe, amamentação, botão). A linguagem poética de Mistral caracteriza-se por seu caráter figurativo, mas também detectamos metáforas de outro campo semântico, sobretudo da botânica e da colheita (“cañas”, “racimo”, “recogerme”, “otoño”). Isso é consistente com a linguagem poética de Mistral, que começou a sua carreira como professora de geografia e demonstrou na sua obra uma atenção especial à geografia e à botânica da América Latina. A dominância dessa linguagem poética reflete, em outro plano, em como a leitura e a escrita coincidem e testemunham que a literatura de Tagore é apropriada e transformada para os objetivos da obra mistraliana.

Cecília Meireles e uma cançãozinha para Tagore

Ao contrário de Gabriela Mistral, Cecília Meireles nunca encontrou Tagore pessoalmente. Nos anos 1924TAGORE, Rabindranath. El niño es así… In: MISTRAL, Gabriela (org.). Lecturas para mujeres. Destinadas a la enseñanza del lenguaje. México: Secretaría de Educación, 1924. e 1925, Tagore tinha feito duas escalas no Rio de Janeiro, mas não existem provas de um encontro entre o poeta bengali e Cecília Meireles (Loundo, 2011LOUNDO, Dilip. “A praia dos mundos sem fim”. Os encontros de Rabindranath Tagore com a América Latina. Aletria, v. 21, n. 2, p. 41-56, 2011. Disponível em: https://periodicos.ufmg.br/index.php/aletria/article/view/18434/ . Acesso em 09 nov. 2023.
https://periodicos.ufmg.br/index.php/ale...
, p. 52). Porém, a escritora visitou a Índia nos anos 1953/1954, poucos anos depois da independência, atendendo a um convite do governo indiano (Paz Rodriguez, 2013PAZ RODRIGUEZ, José. Brazil. In: KÄMPCHEN, Martin; BANGHA, Imre (org.). Rabindranath Tagore. One Hundred Years of Global Reception. New Delhi: Orient Black Swan, 2013. p. 569-576., p. 570). Essa viagem foi documentada nas suas crônicas, nas quais também observamos um amplo conhecimento da cultura e história indiana (Chakravarti, 2015CHAKRAVARTI, Ananya. Peripheral Eyes. Brazilians and India, 1947-61. Journal of Global History, v. 10, n. 10, p. 122-146, 2015. Disponível em: https://doi.org/10.1017/S174002281400031X . Acesso em 09 nov. 2023.
https://doi.org/10.1017/S174002281400031...
, p. 124-125; Cf. para mais detalhes: Loundo, 2007). Outra distinção entre a obra de Gabriela Mistral e a de Cecília Meireles é o fato de que Cecília tinha conhecimentos da língua bengali e demonstrava nos seus escritos conhecimentos específicos da sua estética, usando, por exemplo, termos técnicos (Chakravarti, 2015CHAKRAVARTI, Ananya. Peripheral Eyes. Brazilians and India, 1947-61. Journal of Global History, v. 10, n. 10, p. 122-146, 2015. Disponível em: https://doi.org/10.1017/S174002281400031X . Acesso em 09 nov. 2023.
https://doi.org/10.1017/S174002281400031...
, p. 124-126; Loundo, 2011, p. 53). Além disso, Cecília Meireles se engajava como presidenta da Sociedade Brasileira de Amigos da Índia (Chakravarti, 2015CHAKRAVARTI, Ananya. Peripheral Eyes. Brazilians and India, 1947-61. Journal of Global History, v. 10, n. 10, p. 122-146, 2015. Disponível em: https://doi.org/10.1017/S174002281400031X . Acesso em 09 nov. 2023.
https://doi.org/10.1017/S174002281400031...
, p. 128), e agia como tradutora da obra de Tagore.12 12 Loundo (2011, p. 53) menciona que Cecília Meireles provavelmente traduziu Tagore do inglês ao português e faz alusão a outras traduções de Tagore feitas pela modernista brasileira (Loundo, 2007, p. 148). Assim como Gabriela Mistral, Cecília Meireles era uma professora de escola e universidade e demonstrava uma dedicação especial à didática na sua obra (Paz Rodriguez, 2013PAZ RODRIGUEZ, José. Brazil. In: KÄMPCHEN, Martin; BANGHA, Imre (org.). Rabindranath Tagore. One Hundred Years of Global Reception. New Delhi: Orient Black Swan, 2013. p. 569-576., p. 569). Esse contexto é importante, porque uma parte da popularidade do Tagore no Brasil se explica pela difusão extensa de um livro escolar, As mais belas histórias, que incluía um conto de Tagore (Paz Rodriquez, 2013PAZ RODRIGUEZ, José. Brazil. In: KÄMPCHEN, Martin; BANGHA, Imre (org.). Rabindranath Tagore. One Hundred Years of Global Reception. New Delhi: Orient Black Swan, 2013. p. 569-576., p. 568). Também vale relembrar o papel de Tagore na política educacional do seu país, que culminou na fundação da Universidade de Shantiniketan, que exerceu uma grande influência em Cecília Meireles (Loundo, 2007LOUNDO, Dilip. Cecília Meireles e a Índia: viagem e meditação poética. In: GOUVÊA, Leila V. B (org.). Ensaios sobre Cecília Meireles. São Paulo: Humanitas, 2007. p. 129-176., p. 147-148).

A importância de Tagore para questões de gênero já é realçada no prefácio de Cecília Meireles para a sua tradução do drama Çaturanga, originalmente escrito pelo poeta bengali:

Não será novidade dizer que o público feminino sempre se mostrou muito vibrátil à fascinação de Tagore. [...] A verdade, porém, é que Tagore foi um grande defensor das mulheres, e sem que elas mesmas, em geral, o saibam: pois essa defesa se apresenta mais claramente em sua obra de romancista e o Poeta, entre nós, é menos conhecido sob êsse aspecto, sendo, realmente, êste, o seu primeiro romance traduzido no Brasil. Em verso, Tagore canta freqüentemente a Mulher; mas, em prosa, explica-a, ilumina seus sentimentos e pensamentos, torna-a compreensível em suas delicadezas e obscuridades, glorifica-a entusiástica e ternamente; e, a essa generosa e penetrante luz, seus defeitos e culpas se diluem e apagam. É a maneira tagoreana de encarnar o espírito da Índia, com sua adoração pela Forma Feminina da criação universal (Meireles, 1962MEIRELES, Cecília. Apresentação por Cecília Meireles. In: TAGORE, Rabindranath. Çaturanga, MEIRELES, Cecília (org.). Rio de Janeiro: Editora Delta, 1962. p. 79-83., p. 81).

Como Gabriela Mistral, Cecília Meireles sublinha a importância de Tagore para a prática da leitura feminina e acentua o seu papel no movimento feminista. Essa conexão é crucial, pois afirma que a recepção de Tagore está associada à questão de gênero.13 13 Em sua tese de doutorado sobre Cecília Meireles e a Índia, Gisele Pereira de Oliveira (2014, p. 87-125, sobretudo p. 89) também evoca a dimensão feminista nos Poemas escritos na Índia e cita justamente esse comentário na sua tradução de Çaturanga. A relação com Tagore também é exposta em outros textos de Cecília Meireles, como, por exemplo, em uma crônica sobre a Índia publicada no ano de 1954 no jornal Diário de Notícias. Cecília Meireles narra o seu percurso na biblioteca de Calcutá, ocasião em que encontra uma imagem de Tagore:

Rabindranath Tagore sobrevive e alegra mais este ambiente intelectual com a primavera dos seus desenhos. Como o sentimos eterno - no que pintou, no que escreveu, no que compôs em todos os caminhos da arte! Como o sentimos vivo, ao nosso lado, e entendemos o seu sonho de tornar inteligíveis, um ao outro, o Oriente e o Ocidente! E com que sinceridade lhe agradecemos! E com que carinho! Voltamos felizes, como se o tivéssemos visto. A Beleza é uma felicidade imortal (Meireles, 2016MEIRELES, Cecília. Um dia em Calcutá... In: MEIRELES, Cecília. Crônicas de viagem. v. 2, São Paulo: Global Editora, 2016. p. 237-240., p. 240).

A contemplação do quadro se transforma numa experiência estética. Além disso, podemos detectar um foco no entendimento - como se demonstra ao mencionar “entendemos” e ao adjetivo “inteligíveis”. Isso revela que Cecília Meireles está descrevendo partes de um processo hermenêutico que se refere ao intercâmbio entre a Ásia e o hemisfério ocidental. Esse encontro intercultural imaginado acontece no ramo estético, como se pode ver na alusão à “beleza” e ao prazer estético (“uma felicidade imortal”). A presente citação revela uma característica da recepção de Tagore na obra de Cecília Meireles: a aproximação da Índia e do Brasil através da hermenêutica. Nas poesias de Cecília Meireles domina o lado espiritual das suas leituras de Tagore, porém, cabe ressaltar que a pedagogia também ocupava um lugar importante.

O presente artigo se concentra, sobretudo, na coleção Poemas escritos na Índia, publicada em 1953 por Cecília Meireles. Nessa coleção se encontra um poema crucial para os contextos do presente artigo, “Cançãozinha para Tagore”:

Cançãozinha para Tagore
Àquele lado do tempo
onde abre a rosa da aurora,
chegaremos de mãos dadas,
cantando canções de roda
com palavras encantadas.
Para além de hoje e de outrora,
veremos os Reis ocultos
senhores da Vida toda,
em cuja etérea Cidade
fomos lágrima e saudade
por seus nomes e seus vultos.

Àquele lado do tempo
onde abre rosa da aurora,
e onde mais do que a ventura
a dor é perfeita e pura,
chegaremos de mãos dadas.

Chegaremos de mãos dadas,
Tagore, ao divino mundo
em que o amor eterno mora
e onde a alma é o sonho profundo
da rosa dentro da aurora.

Chegaremos de mãos dadas
cantando canções de roda.
E então nossa vida toda
será das coisas amadas (Meireles, 1973aMEIRELES, Cecília. Cançãozinha para Tagore. In: MEIRELES, Cecília. Poemas escritos na India, Poesias Completas de Cecília Meireles. Doze Noturnos da Holanda e outros poemas. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1973a. v. 3, p. 78-79., p. 78-79).

Quando Cecília Meireles publicou a “Cançãozinha para Tagore”, o poeta bengali já havia falecido. O poema representa um diálogo com o ídolo morto e imagina uma união metafisica “[à]quele lado do tempo”. Essa ideia de uma união metafísica pode ser conectada, como eu proponho, com o motivo da “fusão de horizontes” que encontramos na disciplina acadêmica da hermenêutica. O filósofo Hans-Georg Gadamer (1965GADAMER, Hans-Georg. Wahrheit und Methode. Grundzüge einer philosophischen Hermeneutik. Tübingen: Mohr, 1965., p. 375), na sua obra Wahrheit und Methode, descreve o processo da “Gewinnung des Auslegungshorizontes” [obtenção do horizonte da compreensão]. O termo “Horizont” [horizonte] no vocabulário de Gadamer (1965GADAMER, Hans-Georg. Wahrheit und Methode. Grundzüge einer philosophischen Hermeneutik. Tübingen: Mohr, 1965., p. 289) exprime os preconceitos que marcam o recipiente e que esse não consegue superar. Mas, de acordo com Gadamer (1965GADAMER, Hans-Georg. Wahrheit und Methode. Grundzüge einer philosophischen Hermeneutik. Tübingen: Mohr, 1965., p. 289), se trata de um conceito dinâmico cujo caráter flexível resulta, por exemplo, do diálogo com o passado.14 14 Isso significa que um horizonte sempre está marcado pelo passado, como formulado por Gadamer na mesma página: “Es gibt so wenig einen Gegenwartshorizont für sich, wie es historische Horizonte gibt, die man zu gewinnen hätte. Vielmehr ist Verstehen immer der Vorgang der Verschmelzung solcher vermeintlich für sich seiender Horizonte” (Gadamer, 1965, p. 289). Obviamente esse poema, publicado no ano de 1953, não se refere à metodologia de Gadamer. Todavia, podemos concluir que Cecília Meireles reflete sobre a dimensão da compreensão, em vista do desejo da voz poética em um entendimento perfeito dos textos de Tagore. O encontro imaginado com Tagore é um encontro artístico, como se pode deduzir da referência às “canções de roda / com palavras encantadas”. Assim, o presente poema indica que a leitura de Tagore não é um ato passivo, mas um momento de inspiração artística e de atividade.

Ao contrário de outros poemas publicados nos Poemas escritos na India, “Cançãozinha para Tagore” não se refere a um momento específico da viagem, mas a uma experiência estética que emerge através da leitura. O diálogo poético com Tagore substitui uma lacuna na viagem de Cecília Meireles à Índia, dado que ela não pôde encontrar-se com um de seus ídolos literários. Vale mencionar que não se trata do diálogo estético isolado, pois também encontramos um padrão comparável na “Canção para Sarojíni”: “Como já não podes ver o que estou vendo, / vejo por ti” (Meireles, 1973bMEIRELES, Cecília. Canção para Sorojíni. In: MEIRELES, Cecília. Poemas escritos na India, Poesias Completas de Cecília Meireles. Doze Noturnos da Holanda e outros poemas. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1973b. v. 3, p. 68-69., p. 68). Como no caso de Tagore, Cecília Meireles tampouco pôde comunicar-se com a poeta Sarojini Naidu, que tinha falecido em 1949. Esse verso estabelece uma continuação desse diálogo, a voz poética se define como sucessora literária da autora indiana.

A dimensão metafisica da “Cançãozinha para Tagore” também surge no campo lexical: “além”, “etérea Cidade”, “divino mundo”, “amor eterno”, “alma”. O uso de letras maiúsculas de conceitos como “Reis”, “Vida” e “Cidade” indica que esses substantivos possuem uma relevância e podem ser interpretados como alegoria. Como se sabe, o cristianismo considera Jesus Cristo o “rei dos Judeus” e, assim, a coroa dos reis na Europa somente representava um feudo de Jesus (Lurker, 1979LURKER, Manfred. König/Kaiser. In: LURKER, Manfred (org.). Wörterbuch der Symbolik. Stuttgart: Kroner, 1979. p. 308-309., p. 308). O substantivo “Vida” também possui uma dimensão cristã, o que também se pode constatar em relação ao substantivo “Cidade”. Esse, num contexto cristão, refere-se à cidade santa Jerusalém, frequentemente citada como exemplo clássico para o quatuor sensus scripturae. O encontro entre a voz poética e Tagore se realiza, em conclusão, num contexto cristão, mas cabe enfatizar que também predominam termos poéticos.

Na sua leitura do poema, Gisele de Pereira de Oliveira interpreta o encontro do sujeito poético com Tagore como “dança de roda” (2014OLIVEIRA, Giesele Pereira de. Cecília Meireles e a Índia: Das provisórias arquiteturas ao ‘extâse longo de ilusão nenhuma’ [manuscrito]. São Paulo: Editora da Unesp, 2014. Disponível em: https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/123392/000823526.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: 31 mai. 2023.
https://repositorio.unesp.br/bitstream/h...
, p. 209). Assim o diminuitivo do título “remete ao âmbito infantil, ao lúdico, ao imaginário, talvez, ao fantástico” (Oliveira, 2014OLIVEIRA, Giesele Pereira de. Cecília Meireles e a Índia: Das provisórias arquiteturas ao ‘extâse longo de ilusão nenhuma’ [manuscrito]. São Paulo: Editora da Unesp, 2014. Disponível em: https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/123392/000823526.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: 31 mai. 2023.
https://repositorio.unesp.br/bitstream/h...
, p. 209). Concluímos assim que as leituras de Tagore por Cecília Meireles e Gabriela Mistral se associam de novo à esfera da pedagogia. O lugar onde a voz poética e Tagore se encontrarão é especificado como “rosa da aurora”. A rosa é uma metáfora cristã representando Jesus Cristo, Maria, a graça divina e a morte (Schuster, 2008SCHUSTER, Jörg. Rose. In: BUTZER, Günter; JACOB, Joachim (org.). Metzler Lexikon literarischer Symbole. Stuttgart: Metzler, 2008. p. 301-304., p. 301). Mas também é uma imagem metapoética referindo-se ao próprio texto (Schuster, 2008SCHUSTER, Jörg. Rose. In: BUTZER, Günter; JACOB, Joachim (org.). Metzler Lexikon literarischer Symbole. Stuttgart: Metzler, 2008. p. 301-304., p. 301). A imagem da aurora pode ser relacionada a Tagore diretamente, já que ela é associada ao sol nascente comumente associado com a Ásia. Além disso, trata-se de uma imagem do “in illo tempore, uma região-tempo limítrofe entre o dia e a noite” (Oliveira, 2014OLIVEIRA, Giesele Pereira de. Cecília Meireles e a Índia: Das provisórias arquiteturas ao ‘extâse longo de ilusão nenhuma’ [manuscrito]. São Paulo: Editora da Unesp, 2014. Disponível em: https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/123392/000823526.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: 31 mai. 2023.
https://repositorio.unesp.br/bitstream/h...
, p. 209). Dessa maneira, interpreto o encontro com o outro lado da aurora como um encontro da voz poética com o Tagore da sua leitura. A abertura da rosa é uma imagem para a compreensão que será realizada, tal como uma expressão figurativa para um novo começo. Assim, a metáfora da aurora é usada por Hegel (Schneider, 2008SCHNEIDER, Steffen. Morgenröte. In: BUTZER, Günter; JACOB, Joachim (org.). Metzler Lexikon literarischer Symbole. Stuttgart; Weimar: Metzler, 2008. p. 234-235., p. 234-235):15 15 Na sua interpretação, Loundo expõe a “síntese poética e eloqüente do sentimento de fraternidade universal (tanmayī-bhāvanā)[.]”. (Loundo, 2011, p. 54)

Diese drei Tatsachen der sogenannten Restauration der Wissenschaften, der Blüte der schönen Künste und der Entdeckung Amerikas und des Weges nach Ostindien sind der Morgenröte zu vergleichen, die nach langen Stürmen zum ersten Male wieder einen schönen Tag verkündet. […] In dieser dritten Periode sind wieder drei Abteilungen zu machen. Zuerst haben wir die Reformation als solche zu betrachten, die alles verklärende Sonne, die auf jene Morgenröte am Ende des Mittelalters folgt, dann die Entwicklung des Zustandes nach der Reformation und endlich die neueren Zeiten von dem Ende des vorigen Jahrhunderts an (Hegel, 2020HEGEL, Georg Wilhelm Friedrich. Vorlesungen über die Philosophie der Geschichte. Berlin: Suhrkamp, 2020. , p. 491).

Nesse extrato de Vorlesungen über die Philosophie der Geschichte, Hegel refere-se à aurora como imagem de uma zäsur, ou seja, como um corte marcante na história. Ao mesmo tempo, o filósofo idealista alemão descreve a época entre a Idade Média e o Renascimento com uma metáfora da aurora - um novo começo que se caracteriza por suas incertezas. Essa dimensão corresponde à experiência histórica de Gabriela Mistral e Cecília Meireles, em particular a situação depois da Primeira Guerra Mundial, descrita na introdução. A rosa da aurora é a leitura de Tagore, que amplia a imaginação e contribui para a formação de uma corrente literária, que se constitui de valores humanistas que transgredem as culturas, os continentes, as religiões, os idiomas - e os gêneros.

Simples Leitores

Em comentários metapoéticos de Gabriela Mistral e Cecília Meireles, observamos que Tagore é considerado importante para genealogias literárias e tradições de escrita de mulheres. A tradição mística, por exemplo, funciona como ponto de cruzadas entre a recepção de Tagore e tradições literárias que foram um ponto de referência para escritoras. A leitura da obra de Tagore coincide com a produção artística na obra de Gabriela Mistral e Cecília Meireles, exemplificado através de um comentário da poeta brasileira:

[…] a Rabindranath Tagore se chamou o Gurudev, o ‘Professor’ - não no sentido mais ou menos aleatório de mero transmissor de conhecimentos, mas com o significado profundo de um formador de almas, de um Poeta atuante, capaz de abrir para os discípulos - ou simples leitores - caminhos largos e claros de pensamento, de sentimento, de compreensão da vida, de entendimento das nações, com o instrumento da Beleza [...] (Meireles, 1980MEIRELES, Cecília. O Gurudev. In: MEIRELES, Cecília. O que se diz e o que se entende. (Crônicas). Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1980. p. 163-165., p. 163).

Nessa citação, Cecília Meireles nos informa que a estética é a disciplina privilegiada para a recepção de Tagore, que, além disso, também exerce um papel espiritual. A leitura de Tagore foi para Cecília Meireles, como indicado por essa citação, um momento de formação estética. Para muitas escritoras do Modernismo, as leituras de Tagore, incentivaram o intercâmbio poético com a Índia, como exposto por Victoria Ocampo no seu famoso ensaio Tagore en las barrancas de San Isidro: “[…] el poeta bengalí, representante no sólo de Oriente sino de un puente ‘in the making’ entre Occidente y Oriente” (Ocampo, 1961OCAMPO, Victoria. Tagore en las barrancas de San Isidro. Buenos Aires: Sur, 1961., p. 16). Seguindo esses pensamentos de Victoria Ocampo, também podemos concluir que Tagore representa pars pro toto as relações culturais entre a América Latina e Índia - relações culturais que até hoje permanecem pouco estudadas e cujas protagonistas eram escritoras. Através de leituras, reescrituras, adaptações, comentários e poemas, que diluem as distinções entre produção e recepção, Gabriela Mistral e Cecília Meireles participaram na construção de um discurso literário no Sul Global que questionou, bem antes dos estudos pós-coloniais, o paradigma patriarcal, eurocêntrico, nacionalista e essencialista na esfera literária.

Referências

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    » https://periodicos.ufes.br/contexto/article/view/14955/
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    Este artigo se baseia na minha tese de mestrado, não publicada (Jöhnk, 2018JÖHNK, Marília. Weibliches Schreiben zwischen Indien und Lateinamerika. Gabriela Mistral, Victoria Ocampo und Cecília Meireles als Leserinnen Rabindranath Tagores. Dissertação (Mestrado) - Freie Universität Berlin, 2018. ). Trata-se de uma tradução, adaptação e reescritura de partes selecionadas desse trabalho, que originalmente também incluía uma análise de Victoria Ocampo. Principalmente porque nos últimos anos novos artigos foram publicados que se dedicam à relação de Cecília Meireles com a Índia, as referências bibliográficas também foram atualizadas.
  • 2
    Eu me refiro à tradução ao inglês feita por Suchismita Sen. Veja também McQuail, 2010MCQUAIL, Josephine A. “There is Nothing as Old as a Child”: Childhood and Language in Rabindranath Tagore’s The Crescent Moon. Rupkatha Journal on Interdisciplinary Studies in Humanities, v. 2, n. 4, p. 491-503, 2010. Disponível em: https://rupkatha.com/there-child-childhood-language-rabindranath-tagores-crescent-moon/ . Acesso em 09 nov. 2023.
    https://rupkatha.com/there-child-childho...
    , p. 493.
  • 3
    No presente artigo não vou abordar a importância da tradução, mas vale enfatizar que Gabriela Mistral provavelmente leu Gitanjali através de uma tradução espanhola, possivelmente uma tradução de Tagore (1918TAGORE, Rabindranath. Gitanjalí: poemas místicos. Traduzido por Pedro Requena Legarreta. México, Nueva York, 1918. ) feita por Pedro Requena Legarreta. Também existia uma tradução dessa coleção que o próprio Tagore (1997TAGORE, Rabindranath. Gitanjali. A Collection of Prose Translations Made by the Author from the Original Bengali. New York: Scribner Poetry, 1997.) fez ao inglês.
  • 4
    Veja também Meireles, 1962MEIRELES, Cecília. Apresentação por Cecília Meireles. In: TAGORE, Rabindranath. Çaturanga, MEIRELES, Cecília (org.). Rio de Janeiro: Editora Delta, 1962. p. 79-83., p. 80.
  • 5
    A viagem de Gabriela Mistral e o livro escolar Lecturas para mujeres são examinados mais profundamente no meu livro Jöhnk, 2021JÖHNK, Marília. Poetik des Kolibris. Lateinamerikanische Reiseprosa bei Gabriela Mistral, Mário de Andrade und Henri Michaux. Bielefeld: Transcript, 2021. Disponível em: https://www.transcript-verlag.de/978-3-8376-5864-4/poetik-des-kolibris/. Acesso em: 09 nov. 2023.
    https://www.transcript-verlag.de/978-3-8...
    , p. 23-106. Mais detalhes sobre a missão educativa de Gabriela Mistral no México se encontram em Weinberg (2016WEINBERG, Liliana. Gabriela Mistral. Recado para América. Revista de Historia de América, n. 152, p. 11-41, 2016, Disponível em: https://revistasipgh.org/index.php/rehiam/article/view/355/ . Acesso em 09 nov. 2023.
    https://revistasipgh.org/index.php/rehia...
    ) e Schneider (1997SCHNEIDER, Luis Mario. Gabriela Mistral en México. Una devota del misionerismo vasconcelista. In: LILLO, Gastón; RENART, Guillermo J. (org.). Re-leer hoy a Gabriela Mistral. Mujer, historia y sociedad en América Latina. Ottawa; Santiago de Chile: University of Ottawa; Universidad de Santiago, 1997. p. 147-158.).
  • 6
    Bhattacharya (2016BHATTACHARYA, Nilanjana. Exploring a South-South Dialogue: Spanish American Reception of Rabindranath Tagore. Revista de Lenguas Modernas, v. 25, p. 81-99, 2016. Disponível em: https://revistas.ucr.ac.cr/index.php/rlm/article/view/27683/27892. Acesso em 09 nov. 2023.
    https://revistas.ucr.ac.cr/index.php/rlm...
    , p. 88) explica que esse comentário de Mistral pode parecer “limited” [limitado] para pessoas que igualmente tem acesso aos seus textos escritos em língua bengali.
  • 7
    As divergências de Mistral a respeito da tradução espanhola de Camprubí-Jiménez foram examinadas por Bhattacharya (2016BHATTACHARYA, Nilanjana. Exploring a South-South Dialogue: Spanish American Reception of Rabindranath Tagore. Revista de Lenguas Modernas, v. 25, p. 81-99, 2016. Disponível em: https://revistas.ucr.ac.cr/index.php/rlm/article/view/27683/27892. Acesso em 09 nov. 2023.
    https://revistas.ucr.ac.cr/index.php/rlm...
    , p. 89).
  • 8
    De acordo com McQuail (2010MCQUAIL, Josephine A. “There is Nothing as Old as a Child”: Childhood and Language in Rabindranath Tagore’s The Crescent Moon. Rupkatha Journal on Interdisciplinary Studies in Humanities, v. 2, n. 4, p. 491-503, 2010. Disponível em: https://rupkatha.com/there-child-childhood-language-rabindranath-tagores-crescent-moon/ . Acesso em 09 nov. 2023.
    https://rupkatha.com/there-child-childho...
    , p. 499) pode-se observar em Authorship uma recusa da língua do pai e uma preferência pela língua da mãe.
  • 9
    Para mais detalhes sobre a figura da mãe no ensaio de Cixous, Cf. Weber, 1994WEBER, Ingeborg. Den Körper schreiben, die Orange leben: Hélène Cixous und das Konzept der écriture féminine. In: WEBER, Ingeborg (org.). Weiblichkeit und weibliches Schreiben. Poststrukturalismus, weibliche Ästhetik, kulturelles Selbstverständnis. Darmstadt: Wissenschaftliche Buchgesellschaft, 1994. p. 2-33., p. 22-23.
  • 10
    No diario de Gabriela Mistral (2002MISTRAL, Gabriela. Bendita mi lengua sea - Diario íntimo de Gabriela Mistral, 1905-1956. Organização de Jaime Quezada. Santiago: Planeta; Ariel, 2002. 299 p., p. 39) encontramos diálogos com Deus: “Como una enamorada estoy pensando cómo será el momento en que yo caiga con mi cuello sobre tu brazo. Cómo te miraré. Cómo me mirarás. Me impondrás una larga espera antes de verte. Iré viéndote pliegue a pliegue o me cegarás de un golpe con tu resplandor. Qué día mío será el que me salve, cuál de mis culpas mirarás con más ira. Qué canto mío me dejarás cantarte. Déjame acabar de aderezar la mesa de los míos y después voy. Cuánto he soñado contigo y, sin embargo, qué miedo de no haberte soñado nunca como eras y hallarte extraño y demorar mucho tiempo en reconocerte”.
  • 11
    Sobre a relação de Tagore com a morte Cf. Bhattacharya (2016BHATTACHARYA, Nilanjana. Exploring a South-South Dialogue: Spanish American Reception of Rabindranath Tagore. Revista de Lenguas Modernas, v. 25, p. 81-99, 2016. Disponível em: https://revistas.ucr.ac.cr/index.php/rlm/article/view/27683/27892. Acesso em 09 nov. 2023.
    https://revistas.ucr.ac.cr/index.php/rlm...
    , p. 91).
  • 12
    Loundo (2011LOUNDO, Dilip. “A praia dos mundos sem fim”. Os encontros de Rabindranath Tagore com a América Latina. Aletria, v. 21, n. 2, p. 41-56, 2011. Disponível em: https://periodicos.ufmg.br/index.php/aletria/article/view/18434/ . Acesso em 09 nov. 2023.
    https://periodicos.ufmg.br/index.php/ale...
    , p. 53) menciona que Cecília Meireles provavelmente traduziu Tagore do inglês ao português e faz alusão a outras traduções de Tagore feitas pela modernista brasileira (Loundo, 2007LOUNDO, Dilip. Cecília Meireles e a Índia: viagem e meditação poética. In: GOUVÊA, Leila V. B (org.). Ensaios sobre Cecília Meireles. São Paulo: Humanitas, 2007. p. 129-176., p. 148).
  • 13
    Em sua tese de doutorado sobre Cecília Meireles e a Índia, Gisele Pereira de Oliveira (2014OLIVEIRA, Giesele Pereira de. Cecília Meireles e a Índia: Das provisórias arquiteturas ao ‘extâse longo de ilusão nenhuma’ [manuscrito]. São Paulo: Editora da Unesp, 2014. Disponível em: https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/123392/000823526.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: 31 mai. 2023.
    https://repositorio.unesp.br/bitstream/h...
    , p. 87-125, sobretudo p. 89) também evoca a dimensão feminista nos Poemas escritos na Índia e cita justamente esse comentário na sua tradução de Çaturanga.
  • 14
    Isso significa que um horizonte sempre está marcado pelo passado, como formulado por Gadamer na mesma página: “Es gibt so wenig einen Gegenwartshorizont für sich, wie es historische Horizonte gibt, die man zu gewinnen hätte. Vielmehr ist Verstehen immer der Vorgang der Verschmelzung solcher vermeintlich für sich seiender Horizonte” (Gadamer, 1965GADAMER, Hans-Georg. Wahrheit und Methode. Grundzüge einer philosophischen Hermeneutik. Tübingen: Mohr, 1965., p. 289).
  • 15
    Na sua interpretação, Loundo expõe a “síntese poética e eloqüente do sentimento de fraternidade universal (tanmayī-bhāvanā)[.]”. (Loundo, 2011LOUNDO, Dilip. “A praia dos mundos sem fim”. Os encontros de Rabindranath Tagore com a América Latina. Aletria, v. 21, n. 2, p. 41-56, 2011. Disponível em: https://periodicos.ufmg.br/index.php/aletria/article/view/18434/ . Acesso em 09 nov. 2023.
    https://periodicos.ufmg.br/index.php/ale...
    , p. 54)

Editado por

Editor-chefe:

Rachel Esteves Lima

Editor executivo:

Anderson Bastos Martins
Victor Coutinho Lage

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    01 Dez 2023
  • Data do Fascículo
    May-Aug 2023

Histórico

  • Recebido
    19 Maio 2023
  • Aceito
    21 Set 2023
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