Resumos
Descreve-se modificação do cisel convencional, denominada cisel em forma de U, com a finalidade de tornar mais precisa e segura a secção do teto da órbita no acesso orbitofrontal.
acesso frontoorbital; técnica cirúrgica; instrumentação
We describe a new U-shaped chisel whose cutting edge allows for a precise and safer cutting of the orbital roof in the frontoorbital approach.
frontoorbital approach; operative technique; instrumentation
CISEL EM U PARA A SECÇÃO DO TETO DA ÓRBITA
NOTA TÉCNICA
SEBASTIÃO GUSMÃO* * Dr. Sebastião Gusmão - Rua dos Otonis 909/410 - 30150-270 Belo Horizonte MG - Brasil. , ROBERTO LEAL SILVEIRA* * Dr. Sebastião Gusmão - Rua dos Otonis 909/410 - 30150-270 Belo Horizonte MG - Brasil. , RODRIGO FALEIRO* * Dr. Sebastião Gusmão - Rua dos Otonis 909/410 - 30150-270 Belo Horizonte MG - Brasil.
RESUMO - Descreve-se modificação do cisel convencional, denominada cisel em forma de U, com a finalidade de tornar mais precisa e segura a secção do teto da órbita no acesso orbitofrontal.
PALAVRAS-CHAVE: acesso frontoorbital, técnica cirúrgica, instrumentação.
U-shaped chisel to cut the orbital roof: technical note
ABSTRACT - We describe a new U-shaped chisel whose cutting edge allows for a precise and safer cutting of the orbital roof in the frontoorbital approach.
KEY WORDS: frontoorbital approach, operative technique, instrumentation.
A remoção da reborda orbitária superior para aumentar a exposição da base do crânio no acesso frontal foi introduzida por Frazier1, em 1913. Jane et al.2, em 1982, sistematizaram o acesso supraorbital com abordagem subfrontal. Alaywan e Sindou3, em 1990, demonstraram que a remoção da reborda orbitária superior aumenta de 75% o ângulo de exposição do acesso subfrontal. Al-Mefty4, em 1987, combinou os acessos supraorbitário e pterional (acesso frontoorbital) para a abordagem das lesões da base das fossas anterior e média.
Com a divulgação da cirurgia de base do crânio o acesso frontoorbital tornou-se procedimento neurocirúrgico de rotina para abordagem das lesões da porção média da base anterior do crânio e da região suprasselar. Um dos pontos críticos deste acesso é a secção do teto da órbita. Esta estrutura consiste numa parede óssea aproximadamente horizontal que separa a base anterior do crânio da cavidade orbitária. Sua face endocraniana forma a maior parte da base anterior do crânio. É coberta pela dura-máter que está em contato com a face orbitária do lobo frontal. Sua face orbitária forma a parede superior (teto) da órbita e está em contato com a periorbita5.
A dificuldade da secção do teto da órbita no acesso orbitofrontal é decorrente desta secção ser realizada antes da craniotomia e, portanto, sem controle endocraniano. Durante esta secção "à cega" corre-se o risco de se lesar a periorbita em contato com o teto da órbita ou a dura-máter que cobre a a base anterior do crânio.
Após a dissecção da periorbita e o afastamento anterior do conteudo orbitário, a secção do teto da órbita é realizada com broca rotatória acionada por motor (drill) ou cisel a partir de duas aberturas no crânio: uma no ângulo súpero-medial da órbita, na região do seio frontal (glabela), e outra imediatamente posterior à sutura fronto-zigomática e que expõe a fossa anterior e a cavidade orbitária. Na metade deste orifício avista-se o teto da órbita separando as duas cavidades.
O objetivo desta publicação é descrever um cisel, projetado a partir do cisel convencional, com a finalidade de facilitar a secção do teto da órbita no acesso frontoorbital.
DESCRIÇÃO DO CISEL
Cisel ou cinzel é um instrumento de aço, cortante numa das extremidades. Com a finalidade de evitar a lesão do conteúdo das duas cavidades durante a secção do teto da órbita, idealizamos um cisel com a extremidade cortante em forma de U. A barra horizontal do U é a face cortante e as duas barras verticais têm a função de conter o cisel sobre o teto da órbita, evitando que ele deslize para a fossa anterior ou para a cavidade orbitária. O cisel é feito de aço e mede 12 cm de comprimento, 1 cm de largura e 0,3 cm de espessura (Fig 1).
O teto da órbita é seccionado em uma linha que liga a sutura fronto-zigomática ao ângulo súpero-medial da órbita, situado imediatamente acima e lateral à sutura fronto-nasal (násio). A metade lateral desta secção é feita com o cisel a partir do orifício que expõe o teto da órbita lateralmente. A metade medial da secção é feita a partir de um orifício de trépano ou de uma fenda feita com o drill sobre a glabela. O cisel em U é aplicado alternadamente ao teto da órbita a partir das duas aberturas e a secção é feita com golpes de martelo (Figs 2 e 3).
O cisel em U foi usado nos últimos 28 acessos orbitofrontais sem nenhuma complicação relacionada diretamente ao seu uso. Observamos que a secção do teto da órbita por meio deste cisel passou a ser realizada de forma mais rápida e segura. Em nenhum caso ocorreu lesão da dura-máter ou da periorbita durante a secção do teto da órbita. O cisel em U tem sido também útil nos procedimentos realizados no laboratório de anatomia neurocirúrgica.
Hospital Madre Teresa e Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte, MG. Aceite: 18-janeiro-1999.
- 1. Frazier CH. An approach to the hypophysis through the anterior cranial fossa. Ann Surg 1913;57:145-150.
- 2. Jane JA, Park TS, Pobereskin LH. The supraorbital approach: technical note. Neurosurgery 1982;11:537-542.
- 3. Alaywan M, Sindou M. Fronto-temporal approach with orbito-zygomatic removal. Acta Neurochir 1990;104:79-83.
- 4. Al-Mefty O. Supraorbital-pterional approach to skull base lesions. Neurosurgery 1987;21:474-477.
- 5. Testut L, Jacob, O. Traité d'anatomie topographique. 5.Ed. Paris: Gaston Doin Čditéurs, 1929.
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
06 Dez 2000 -
Data do Fascículo
Jun 1999
Histórico
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Aceito
18 Jan 1999