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Nutrição do cafeeiro arábica em função da densidade de plantas e da fertilização com NPK

Coffee nutrition as a function of plant density and NPK fertilization

Resumos

Embora aumente a produtividade por área, o adensamento reduz a produção por planta, eleva sua eficiência de recuperação de nutrientes, o que contribui para a redução da quantidade de fertilizantes a ser aplicada por planta. O objetivo deste trabalho foi avaliar a resposta do cafeeiro arábica à aplicação de N (100, 300, 500 e 700 kg.ha-1 de N), P (0, 60, 120 e 180 kg.ha-1 de P2O5) e K (100, 300, 500 e 700 kg.ha-1 de K2O), cultivados em diferentes densidades de plantio (3.333, 5.000, 10.000 e 20.000 plantas por hectare). Com base em informações obtidas em cinco produções, não foram observadas diferenças significativas de produtividade em função da densidade de plantas. A resposta em produtividade do café arábica às doses de N, P e K foi variável nos diversos espaçamentos, com maior freqüência de resultados positivos a N e P e menos expressivos para K. Os teores foliares de N e P foram pouco influenciados pelas doses de N e P2O5. Os teores foliares de K foram fortemente influenciados pelas doses de K2O. Cafeeiros submetidos ao sistema de cultivo adensado apresentaram maiores teores foliares de P e K, quando comparados àqueles cultivados em espaçamento mais largo. Os solos sob cultivo adensado, quando comparados a solos sob cultivos mais largos, apresentaram variações em suas características químicas, sendo mais evidente a redução do teor de H + Al.

café; nutrição; adubação; adensamento; análise de solo


Although increasing in productivity, high-density tree planting provides reduction of the production per plant, increases the efficiency of recovery of nutrients by plants, and can contributes to the reduction of the amount of fertilizers to be applied per plant. Due to evaluate the answer of coffee tree plants (Coffea arabica L.) to N (100, 300, 500 e 700 kg.ha-1 of N); P (0, 60, 120 and 180 kg.ha-1 of P2O5) and K (100, 300, 500 and 700 kg.ha-1 of K2O) application, on work was carried out in a coffee cultivated at four densities (3,333; 5,000; 10,000 and 20,000 plants/ha). Database obtained at five harvests showed no significant differences of productivity as function of planting densities. Answers in productivity were obtained more strongly related to N and P doses. Answers to K application were less expressive. N and P foliar levels were little influenced by the doses of N and P2O5 applied by soil each year. K foliar levels were strongly influenced by the doses of K2O. Foliar levels of N and K were highest in coffee high-density tree when compared with those cultivated in wider spacing. The major variation on chemical soil characteristics was the highest levels of reduction on H+Al observed in coffee high-density tree coffee.

Arabic coffee; high density; fertilization; nitrogen; phosphorus; potassium; soil analysis


FERTILIDADE DO SOLO E NUTRIÇÃO DE PLANTAS

Nutrição do cafeeiro arábica em função da densidade de plantas e da fertilização com NPK

Coffee nutrition as a function of plant density and NPK fertilization

Luiz Carlos PrezottiI; Aledir Cassiano da RochaII

IInstituto Capixaba de Pesquisa Assistência Técnica e Extensão Rural - Solos e Nutrição de Plantas, 29375-000 Venda Nova do Imigrante (ES). E.mail crdrcserrano@incaper.es.gov.br

IIInstituto Capixaba de Pesquisa Assistência Técnica e Extensão Rural - Fitotecnia

RESUMO

Embora aumente a produtividade por área, o adensamento reduz a produção por planta, eleva sua eficiência de recuperação de nutrientes, o que contribui para a redução da quantidade de fertilizantes a ser aplicada por planta. O objetivo deste trabalho foi avaliar a resposta do cafeeiro arábica à aplicação de N (100, 300, 500 e 700 kg.ha-1 de N), P (0, 60, 120 e 180 kg.ha-1 de P2O5) e K (100, 300, 500 e 700 kg.ha-1 de K2O), cultivados em diferentes densidades de plantio (3.333, 5.000, 10.000 e 20.000 plantas por hectare). Com base em informações obtidas em cinco produções, não foram observadas diferenças significativas de produtividade em função da densidade de plantas. A resposta em produtividade do café arábica às doses de N, P e K foi variável nos diversos espaçamentos, com maior freqüência de resultados positivos a N e P e menos expressivos para K. Os teores foliares de N e P foram pouco influenciados pelas doses de N e P2O5. Os teores foliares de K foram fortemente influenciados pelas doses de K2O. Cafeeiros submetidos ao sistema de cultivo adensado apresentaram maiores teores foliares de P e K, quando comparados àqueles cultivados em espaçamento mais largo. Os solos sob cultivo adensado, quando comparados a solos sob cultivos mais largos, apresentaram variações em suas características químicas, sendo mais evidente a redução do teor de H + Al.

Palavras-chave: café, nutrição, adubação, adensamento, análise de solo.

ABSTRACT

Although increasing in productivity, high-density tree planting provides reduction of the production per plant, increases the efficiency of recovery of nutrients by plants, and can contributes to the reduction of the amount of fertilizers to be applied per plant. Due to evaluate the answer of coffee tree plants (Coffea arabica L.) to N (100, 300, 500 e 700 kg.ha-1 of N); P (0, 60, 120 and 180 kg.ha-1 of P2O5) and K (100, 300, 500 and 700 kg.ha-1 of K2O) application, on work was carried out in a coffee cultivated at four densities (3,333; 5,000; 10,000 and 20,000 plants/ha). Database obtained at five harvests showed no significant differences of productivity as function of planting densities. Answers in productivity were obtained more strongly related to N and P doses. Answers to K application were less expressive. N and P foliar levels were little influenced by the doses of N and P2O5 applied by soil each year. K foliar levels were strongly influenced by the doses of K2O. Foliar levels of N and K were highest in coffee high-density tree when compared with those cultivated in wider spacing. The major variation on chemical soil characteristics was the highest levels of reduction on H+Al observed in coffee high-density tree coffee.

Key words: Arabic coffee, high density, fertilization, nitrogen, phosphorus, potassium, soil analysis.

1. INTRODUÇÃO

Diversas práticas culturais têm sido utilizadas para se aumentar a produtividade da cultura do café. Entretanto, nenhuma tem sido tão eficiente quanto ao aumento da população de plantas por unidade de área, ou seja, o uso de plantios adensados.

Até o advento do adensamento das lavouras de café, predominavam as recomendações de adubação por cova. Assim, pequenas variações na população de plantas pouco influenciavam a quantidade a ser aplicada por hectare. Atualmente, com o aumento considerável da densidade de plantas por área, a simples multiplicação da quantidade de fertilizantes a ser aplicado por planta pelo número de plantas por área tornou-se inadequada, superestimando as recomendações. Essa relação não é verdadeira, pois com o aumento da densidade, há redução da produção por planta, tanto de biomassa de frutos como vegetativa (folhas, ramos, caule e raiz) em vista da competição entre elas. Outro fator a ser considerado é que, com o aumento da densidade de raízes e mais umidade do solo, proporcionada pela maior cobertura do solo, ocorre aumento da eficiência de recuperação de nutrientes pelas plantas, contribuindo para reduzir a quantidade de fertilizantes a ser aplicada à lavoura. Esse fato foi confirmado por PAVAN et al. (1990), PAVAN et al. (1991) e PAVAN et al. (1994), quando obtiveram maior produtividade de lavouras adensadas com níveis médios de adubação, ao passo que, em lavouras plantadas em espaçamentos mais largos, o aumento da produção foi obtido com maiores níveis de fertilização.

Dados obtidos por esse autor mostram as alterações químicas e físicas do solo causadas pelo adensamento do cafeeiro: aumento do pH, dos teores de Ca, Mg, K, P e Carbono Orgânico, índice de estabilidade de agregados e na umidade do solo.

Mesmo para o sistema de plantio não adensado, são citados na literatura, resultados contrastantes, com relação à resposta do cafeeiro à fertilização com macro e micronutrientes. Na maioria dos casos, observa-se efeito positivo da fertilização com NPK. Entretanto, diversos trabalhos têm demonstrado pouca ou nenhuma resposta à aplicação desses nutrientes.

SANZONOWICZ et al. (2001) trabalhando com doses de N em solo de Cerrado, observaram que o N não influenciou a flutuação anual da produção, proporcionando acréscimo de 35,9% na produção de grãos. Não houve alteração dos teores foliares desse elemento.

RAIJ et al. (1996) trabalhando com N e K, obtiveram resposta negativa à aplicação de K em solos com teores iniciais de 78 mg.dm-3 e 109 mg.dm-3 de K. A maioria das respostas ao nitrogênio, embora não muito acentuadas, foram positivas, sendo negativa apenas no biênio 91/92 no município de Mandaguari. Observou-se pequena influência das adubações com N e K nos teores foliares desses elementos.

GALLO et al. (1999), estudando a resposta do cafeeiro a NPK, observaram efeito depressivo na produção para os três nutrientes.

GARCIA (1999) realizou estudo para determinar a saturação de potássio para o cafeeiro em solos com diferentes valores de CTC. A variação da saturação de K na CTC do solo de 0 para 12% proporcionou modificações dos teores de K foliar de 1,56 a 1,90 dag.kg-1 na cultivar Acaiá e de 2,12 a 2,28 dag.kg-1 em 'Mundo Novo'. Não houve diferenças estatísticas na produção. Os teores de 130 mg.dm-3 (4% de K na T) no solo de CTC média e 180 mg.dm-3 (4,5 % na T) no solo de CTC alta, segundo os autores, foram suficientes para o suprimento do elemento à cultura.

VIANA et al. (1987), avaliando a resposta do cafeeiro a N e K, observaram resposta linear a N (dose máxima de 400 kg.ha-1 de N) e quadrática a K, concluindo que a adubação potássica apenas propiciou ganho na produção, quando o solo se apresentava com menos de 138 mg.dm-3 de K (Mehlich-1).

SILVA et al. (1998) sugerem, para o cafeeiro, o nível crítico de 100 mg.dm-3 de K pelo extrator Mehlich-1.

Buscando explicar as variadas respostas do cafeeiro à fertilização potássica, SILVA et al. (1997) demonstraram que, mesmo em solos com alto grau de intemperização, existem reservas de potássio não-trocável que podem atender a médio e longo prazo a demanda parcial do cafeeiro por esse nutriente.

O objetivo deste trabalho foi avaliar a resposta do cafeeiro aos nutrientes N, P e K, quando cultivado em diferentes densidades de plantio.

2. MATERIAL E MÉTODOS

Foram desenvolvidos quatro experimentos com as seguintes densidades de plantas: 3.333 plantas por ha (3 m x 1 m); 5.000 plantas por ha (2 m x 1 m); 10.000 plantas por ha (2 m x 0,5 m) e 20.000 plantas por ha (1 m x 0,5 m).

Os experimentos foram instalados na Fazenda Experimental do Instituto Capixaba de Pesquisa Assistência Técnica e Extensão Rural (INCAPER), no município de Venda Nova do Imigrante (ES), a 720 m de altitude, em solo LVd3 (Latossolo Vermelho-Amarelo distrófico, relevo montanhoso e forte ondulado), representativo da região de café Arábica do Estado do Espírito Santo. As características químicas do solo são apresentadas na Tabela 1.

Foi utilizada a cultivar Catuaí Vermelho, plantada em covas de 40 cm x 40 cm x 40 cm (uma muda por cova). A adubação até o primeiro ano e os tratos culturais dos experimentos seguiram as recomendações publicadas no Manual Técnico para a Cultura do Café no Estado do Espírito Santo (COSTA, 1995). Após esse período, foram aplicados os tratamentos: 100, 300, 500 e 700 kg.ha-1 de N; 0, 60, 120 e 180 kg.ha-1 de P2O5; 100, 300, 500, e 700 kg.ha-1 de K2O. Como fonte de N, P2O5 e K2O, utilizou-se uréia (45% de N), superfosfato triplo (45% de P2O5) e cloreto de potássio (60% de K2O).

As doses indicadas foram aplicadas anualmente, sendo P fornecido de uma só vez, por ocasião do primeiro parcelamento. N e K foram parcelados em três vezes, durante o período chuvoso (setembro a março).

O esquema experimental foi o fatorial fracionado ½ (4 x 4 x 4), totalizando 32 tratamentos, dispostos no delineamento de blocos casualisados com duas repetições. As parcelas foram constituídas por 36 plantas, sendo as 10 plantas centrais consideradas como úteis. As variáveis observadas foram: produtividade e teores de nutrientes no solo e nas folhas. Os dados foram analisados por regressão, sendo citadas as significâncias das regressões e dos modelos até o nível de 20% de probabilidade.

A amostragem do solo foi retirada na projeção da copa do cafeeiro, à profundidade de 0 a 20 cm. Foram realizadas as seguintes determinações: pH em água, P, K, Al, Ca, Mg e MO. As análises seguiram o método proposto pela EMBRAPA (1997). A amostragem foliar foi realizada, coletando-se o 4.º par de folhas de ramos produtivos, na altura mediana da planta e nos quatro quadrantes. Foram feitas análises de macro e micronutrientes, segundo o método proposto por BATAGLIA et al. (1983)

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A influência dos diferentes espaçamentos sobre a produtividade de café arábica pode ser observada na Tabela 2.

Mesmo apresentando uma diferença de produção de 11,3 sc.ha-1 entre os espaçamentos 3 m x 1 m e 2 m x 1 m, não houve diferença significativa entre as médias de produtividade dos experimentos.

Analisando-se as tendências, observa-se que a maior produtividade foi obtida em lavouras com espaçamento de 2 m x 1 m e 1 m x 0,5 m. Embora tenham obtido o mesmo nível de produtividade, os cafeeiros plantados no espaçamento de 1 m x 0,5 m apresentaram efeito marcante da bianualidade, principalmente de 1999 para 2000 com produtividade de 79 sc.ha-1 e 10,1 sc.ha-1 respectivamente. Esse efeito foi menos marcante no espaçamento de 2 m x 1 m.

As equações lineares múltiplas da produção de café arábica em função de doses de N, P2O5 e K2O para os diversos anos e espaçamentos encontram-se na Tabela 3. Na safra de 1997 não se observou acréscimo de produção com as doses de N, visto que nos espaçamentos de 2 m x 1 m e 2 m x 0,5 m a reposta foi negativa. Observou-se acréscimo de produção com as doses de P nos espaçamentos de 2 m x 1 m e 1 m x 0,5 m.

Resposta positiva ao K somente se notou no espaçamento 3 m x 1 m, quando as interações NK, PK e NP apresentaram efeitos e tendências variados. Pelo intercepto das equações, observa-se que a safra de 1998 foi um ano de baixas produções, obtendo-se resposta positiva a N em todos os espaçamentos. O mesmo foi notado para P, com exceção do espaçamento de 1 m x 0,5 m. É interessante observar a interação NK influenciando negativamente a produção em todos os espaçamentos, com exceção em 2 m x 0,5 m.

Na safra de 1999 houve resposta a N e P em todos os espaçamentos. Resposta positiva a K somente se notou no espaçamento 2 m x 1 m. Na safra de 2000, respostas positivas a N se observaram nos espaçamentos 3 m x 1 m e 2 m x 1m. Não se observou resposta positiva a P. Aumento de produção com as doses de K foi observada nos espaçamentos de 2 m x 1 m e 2 m x 0,5 m. As interações apresentaram comportamento diverso.

Na safra de 2001, a resposta positiva a N e P somente não foi observada no espaçamento de 3 m x 1 m, que respondeu exclusivamente ao K e à interação NP.

A influência do adensamento na resposta do café arábica à aplicação de N, P e K pode ser observada na Tabela 4, em que foram correlacionados os coeficientes angulares do efeito linear para N, P e K das equações apresentadas na Tabela 3, com a média de produtividade obtida nas safras de 97/98/99/00/01 (Tabela 2). Houve aumento progressivo dos coeficientes de correlação para N nos espaçamentos mais estreitos, indicando maior resposta a esse nutriente em sistemas mais adensados. Esse mesmo efeito observou-se para P e para a interação NK.

Os coeficientes de correlação para K foram progressivamente menores à medida que se reduziu o espaçamento, indicando menor resposta a K em sistemas mais adensados.

As interações NP e PK não permitiram correlações em razão do reduzido número de ocorrência nas diversas equações.

Objetivando avaliar o efeito da bianualidade do cafeeiro arábica na resposta à aplicação de N, P e K, foram relacionados, na Tabela 5, as equações lineares múltiplas da produtividade em função de doses dos nutrientes para os anos cuja produtividade foi inferior a 30 sc.ha-1 (anos de baixa produção) e superiores a 30 sc.ha-1 (anos de alta produção).

Nos anos de baixa produtividade, houve resposta linear positiva ao N em todos os espaçamentos, com exceção de 2 m x 0,5 m, cuja resposta à aplicação de N se deu quando aplicado juntamente com o K. A resposta ao K foi negativa no espaçamento 3 m x 1 m e 2 m x 0,5 m, linear positiva em 2 m x 1 m, e quadrática em 1 m x 0,5 m, sendo a dose de 227 kg.ha-1 de K2O responsável por 90% da produção máxima.

Nos anos de alta produtividade foram observadas respostas quadráticas a N nos espaçamentos de 3 m x 1 m, 2 m x 1 m e 2 m x 0,5 m, sendo as doses de 323 kg.ha-1, 441 kg.ha-1 e 282 kg.ha-1 de N responsáveis por 90% da produção máxima. No espaçamento de 1 m x 0, 5m a resposta a N e P foi linear positiva e linear negativa para K. No espaçamento de 2 m x 0,5 m a resposta ao K foi quadrática, sendo a dose de 141 kg.ha-1 de K2O responsável por 90% da produção máxima.

As interações NP, NK e PK influenciaram a produção do café arábica de maneira diversa, sendo observada maior freqüência de resposta negativa da interação NK. A alta freqüência de equações de regressão lineares positivas nos anos de baixa produtividade é indicativo da maior exigência de N pelo cafeeiro neste período, o que se atribui à necessidade de reconstituição da biomassa vegetativa da planta, afetada pelo maior carreamento dos nutrientes para os frutos em anos de alta produção.

Na literatura, são freqüentes os trabalhos que demonstram respostas a N (CARVAJAL, 1984; RAIJ et al., 1996; GALLO et al., 1999; GARCIA, 2002). Ressalta-se a necessidade de correlações da resposta do cafeeiro ao nitrogênio e os teores de matéria orgânica do solo. Embora seja conhecida a baixa resposta do cafeeiro ao fósforo, observou-se neste trabalho aumento médio de produção de 12%.

Esse valor é semelhante ao de 15% obtido por URIBE (1980) e de 16% obtido por GALLO et. al (1999).

Corroborando com os dados obtidos neste trabalho, de modo geral, a resposta do cafeeiro ao potássio é bastante controvertida, quando se observam os trabalhos apresentados na literatura. Alguns apresentam respostas expressivas e outros, pequenas ou mesmo ausência de resposta (MIGUEL et al., 1983; RAIJ et al., 1996; BARROS et al., 1997; GALLO et al., 1999). Os teores iniciais de potássio dos solos utilizados neste trabalho variaram de 76 a 100 mg.dm-3, sendo comuns em solos da região serrana do Estado do Espírito Santo. Mesmo assim, a resposta ao potássio foi pouco expressiva, o que não seria de se esperar, uma vez que o nível crítico de produção preconizado para a cultura do café está na faixa de 200 mg.dm-3 (DE MUNER e PREZOTTI, 2001). Resultados semelhantes foram obtidos por GALLO et al. (1999) com solos do município de Mococa (SP), embora os teores iniciais de fósforo e potássio dos solos fossem muito elevados (22 mg.dm-3 de P resina e 214 mg.dm-3 de K).

A maioria das justificativas para a ausência de resposta está nos elevados teores iniciais de potássio dos solos utilizados para o desenvolvimento dos experimentos. Entretanto, é necessário maior aprofundamento na busca de explicações para esse fato. Análises das diferentes formas de K no solo, além da forma trocável, poderia ser importante informação, pois alguns tipos de solos contêm minerais como, por exemplo, as micas, que possuem potássio em sua estrutura, em forma não disponível para as plantas. Com a redução da concentração de potássio próximo às raízes do cafeeiro, esse nutriente pode ser liberado dessa estrutura, tornando-se então disponível e contribuindo para a nutrição das plantas. SILVA et al. (1997) demonstraram que, mesmo em solos com alto grau de intemperização, existem reservas de potássio não-trocável que podem atender a médio e longo prazo a demanda parcial do cafeeiro por esse nutriente.

Foram realizadas análises conjuntas dos teores de nutrientes foliares e do solo em função das doses de N, P2O5 e K2O para cada safra e espaçamento. Entretanto, assim como a produtividade, os resultados mostraram-se variáveis, não apresentando uniformidade das respostas, o que dificulta a visualização das tendências. Desse modo, optou-se pela apresentação das análises de regressão dos teores foliares de N, P e K em função de doses de N, P2O5 e K2O, para os diferentes espaçamentos, considerando-se a média dos teores de cada nutriente nas safras de 1997 a 2001 (Figura 1).


Observaram-se aumentos dos teores foliares de N somente nos experimentos com espaçamentos 2 m x 1 m (0,04 dag.kg-1 para cada 100 kg de N) e 1 m x 0,5 m (0,03 dag.kg-1 para cada 100 kg de N). Para o cafeeiro, são comuns recomendações de N próximas a 300 kg.ha-1 e indicação de teores foliares de 3 dag.kg-1 de N como adequado. Entretanto, observou-se neste trabalho que a dose inicial de 100 kg.ha-1 foi suficiente para atingir teores foliares médios de 3,1 dag.kg-1, mesmo em experimentos com espaçamentos mais abertos. Ressalta-se aqui a necessidade de acrescentar, em trabalhos dessa natureza, o tratamento sem a aplicação do elemento, para que seja possível determinar o potencial de suprimento do solo e a correlação dessa informação com outras variáveis que possam influenciar a disponibilidade desse nutriente, como por exemplo, o teor de matéria orgânica do solo.

O aumento do teor foliar de P somente foi significativo no tratamento com espaçamento de 2 m x 0,5 m (0,1 dag.kg-1 para cada 100 kg de P2O5). Os teores foliares de K foram fortemente influenciados pelas doses de K2O, com acréscimos de até 0,17 dag.kg-1 para cada 100 kg de K2O.

Importante informação obtida neste trabalho pode ser observada na Figura 2, em que plantas submetidas ao sistema adensado apresentam maiores teores de P e K, quando comparadas àquelas cultivadas em espaçamentos mais abertos. Uma possível explicação para esse fato está na maior umidade do solo, proporcionada por mais sombreamento e maior acúmulo de biomassa vegetal na superfície do solo. Assim, há maior difusão desses elementos no solo, principalmente de P e conseqüentemente maior absorção pelas plantas. Caso este fato seja comprovado por outros trabalhos, ficará então evidenciada a necessidade de inclusão da variável "população de plantas" em estudos de determinação dos níveis críticos foliares desses elementos. Não se observou, porém, variação do teor de N com o aumento da densidade de plantas. O aumento dos teores de P e K no solo, detectado em amostras retiradas na projeção de copa do cafeeiro, em função das doses de P2O5 e K2O e seu efeito cumulativo com o passar dos anos (1999 para 2001) pode ser visualizado na Figura 3. Observa-se que, mesmo nas parcelas onde não se aplicou fósforo, há elevação de seu teor no solo, principalmente nas lavouras mais adensadas.



Certamente, esse aumento é atribuído a maior acúmulo de matéria orgânica na superfície do solo, contribuindo tanto no aspecto quantitativo do elemento quanto no fenômeno da solubilização do P por enzimas e ácidos orgânicos. Esse mesmo argumento pode ser utilizado para explicar a influência da população de plantas sobre as características químicas do solo, conforme dados apresentados na Tabela 6.

Das variáveis analisadas, as que apresentaram maior tendência de variação foram o H + Al (significativo a 9,41% de probabilidade) e pH, Al e V apesar de não-significativos (Figura 4). Esse fenômeno também foi observado por PAVAN et al. (1994).


4. CONCLUSÕES

1. Não foram observadas diferenças significativas de produtividade em função da densidade de plantas.

2. No espaçamento 1 m x 0,5 m observou-se maior efeito da bianualidade da produção.

3. Houve aumento progressivo da intensidade de resposta ao N, P e à interação NK com o adensamento da cultura. Para o K as respostas foram progressivamente menores com o adensamento.

4. Observou-se maior exigência a N em anos de baixa produtividade.

5. Os teores foliares de N e P foram pouco influenciados pelas doses de N e P2O5. Os teores foliares de K foram fortemente influenciados pelas doses de K2O.

6. Cafeeiros submetidos ao sistema de cultivo adensado apresentaram maiores teores foliares de P e K quando comparados àqueles cultivados em espaçamento mais largos.

7. Os solos sob cultivo adensado, quando comparados a solos sob cultivos mais largos, apresentaram variações em suas características químicas, sendo mais evidente a redução do teor de H + Al.

Trabalho recebido para publicação em 28 de junho de 2002 e aceito em 19 de fevereiro de 2004

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    15 Set 2004
  • Data do Fascículo
    2004

Histórico

  • Aceito
    19 Fev 2004
  • Recebido
    28 Jun 2002
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