Resumos
O presente estudo descreve um gradiente florístico de uma cronosequência de florestas secundárias do Nordeste Paraense, a partir de 19 sítios de diferentes idades, avaliados em diferentes anos. Foram usados os dados de densidade e realizada análise de regressão para riqueza, diversidade, densidade, densidade relativa máxima e equibilidade em relação à idade. Foi usado o método de análise de agrupamento hierárquico, sendo a distância euclidiana utilizada como medida de dissimilaridade e aplicada uma Análise de Componente Principal (PCA) para confirmação dos grupos. Após a definição dos grupos, foi feita a análise indicadora de espécies (IndVal) sobre a mesma matriz utilizada para análise de agrupamento. Encontrou-se um gradiente geográfico na cronosequência analisada e as espécies Tapirira guianensis, Vismia guianensis, Inga alba, Lacistema aggregatum, Croton maturensis, Abarema jupunba, Inga rubiginosa, Guateria poepigiana e Thyrsodium paraense, são indicadoras das florestas secundárias do Nordeste Paraense analisadas neste estudo.
Floresta secundária; Cronosequência; gradiente florístico
This study describes a floristic gradient of secondary forest chronosequence in northeast of Pará State - Brazil, from 19 sites of different ages, evaluated in different years. We used density data and carried out regression analysis for richness, diversity, density, maximum relative density and equitability in relation to the age. We used the hierarchic grouping method of analysis and the Euclidean distance as dissimilarity measure, and applied a Principal Component Analysis (PCA) for confirming the groups. After defining the groups, we made an indicating species analysis (IndVal) on the same matrix used for the grouping analysis. We found a geographic gradient in the chronosequence analyzed and the species Tapirira guianensis, Vismia guianensis, Inga alba, Lacistema aggregatum, Croton maturensis, Abarema jupunba, Inga rubiginosa, Guateria poepigiana and Thyrsodium paraense to be indicators of the northeast Para (Brazil) secondary forests analyzed in this study.
Secondary forest; chronosequence; floristic gradient
CIÊNCIAS FLORESTAIS
Shirley Soares PrataI; Izildinha de Souza MirandaII; Sérgio Augusto Oliveira AlvesIII; Flavia cardoso FariasIV; Fernando Cristovam da Silva JardimV
ISecretaria de Estado de Meio Ambiente - PA.E-mail: shirleyprata@yahoo.com.br IIUniversidade Federal Rural da Amazônia.E-mail: izildinha@uol.com.br IIIUniversidade de São Paulo.E-mail:sergioagrobio@ig.com.br IVSecretária de Estado de Meio Ambiente - PA.E-mail: cardosofarias@yahoo.com.br VUniversidade Federal Rural da Amazônia.E-mail: fernando.jardim@ufra.edu.br
RESUMO
O presente estudo descreve um gradiente florístico de uma cronosequência de florestas secundárias do Nordeste Paraense, a partir de 19 sítios de diferentes idades, avaliados em diferentes anos. Foram usados os dados de densidade e realizada análise de regressão para riqueza, diversidade, densidade, densidade relativa máxima e equibilidade em relação à idade. Foi usado o método de análise de agrupamento hierárquico, sendo a distância euclidiana utilizada como medida de dissimilaridade e aplicada uma Análise de Componente Principal (PCA) para confirmação dos grupos. Após a definição dos grupos, foi feita a análise indicadora de espécies (IndVal) sobre a mesma matriz utilizada para análise de agrupamento. Encontrou-se um gradiente geográfico na cronosequência analisada e as espécies Tapirira guianensis, Vismia guianensis, Inga alba, Lacistema aggregatum, Croton maturensis, Abarema jupunba, Inga rubiginosa, Guateria poepigiana e Thyrsodium paraense, são indicadoras das florestas secundárias do Nordeste Paraense analisadas neste estudo.
Palavras-chave: Floresta secundária, Cronosequência, gradiente florístico
ABSTRACT
This study describes a floristic gradient of secondary forest chronosequence in northeast of Pará State - Brazil, from 19 sites of different ages, evaluated in different years. We used density data and carried out regression analysis for richness, diversity, density, maximum relative density and equitability in relation to the age. We used the hierarchic grouping method of analysis and the Euclidean distance as dissimilarity measure, and applied a Principal Component Analysis (PCA) for confirming the groups. After defining the groups, we made an indicating species analysis (IndVal) on the same matrix used for the grouping analysis. We found a geographic gradient in the chronosequence analyzed and the species Tapirira guianensis, Vismia guianensis, Inga alba, Lacistema aggregatum, Croton maturensis, Abarema jupunba, Inga rubiginosa, Guateria poepigiana and Thyrsodium paraense to be indicators of the northeast Para (Brazil) secondary forests analyzed in this study.
Key Words: Secondary forest , chronosequence, floristic gradient
INTRODUÇÃO
Entre 1978 e 2001, o Estado do Pará contribuiu em média com 34% das florestas secundárias da Amazônia brasileira, embora tenha diminuído de 38% para 33% nesse período (Neeff et al. 2006). Sendo que a região Nordeste destaca-se por apresentar aproximadamente 50% de sua área coberta por florestas secundárias em diferentes estágios sucessionais (Vieira et al. 2003).
São várias as causas desta situação: a implantação de monocultivos de grãos, a produção de carvão vegetal, a extração ilegal de madeira, a expansão pecuária, a abertura de estradas, a colonização de novas fronteiras e a agricultura de corte e queima (Nepstad et al.1999). Segundo Kass e Somarriba (1999) em toda a América Latina, a agricultura de corte e queima é a mais tradicional atividade antrópica formadora de florestas secundárias. Essa atividade também é considerada a mais importante na região Nordeste do Pará (Tucker et al. 1998; Vieira et al. 2003), onde os pequenos fazendeiros deixam as áreas em pousio (período de regeneração florestal) após o ciclo agrícola para recuperação de matéria orgânica e nutriente do solo (Moran et al. 2000a).
A agricultura de corte e queima em áreas da floresta amazônica afeta a composição das espécies e conseqüentemente a densidade, estrutura e biomassa das florestas secundárias (Uhl et al. 1988; Lima et al. 2007), especialmente em área de colonização antiga, como é o Nordeste do Pará, onde a colonização iniciou no século 19, inúmeros ciclos agrícolas já ocorreram e são raras as florestas primárias que, em geral, são importantes fornecedoras de sementes para a regeneração florestal (Tucker et al. 1998). Também o histórico de uso da terra, nessas situações, pode influenciar fortemente as diferenças estruturais entre sítios dentro de uma mesma área e de áreas diferentes (Uhl et al. 1988; Moran et al. 2000b).
Vários estudos têm abordado para o neotrópico (Guariguata e Ostertag, 2001; DeWalt et al. 2003) e em especial para região amazônica, (Tucker et al. 1998; Lu et al. 2003; Saldarriaga et al. 1988; Uhl et al. 1988; Moran e Brondízio, 1998; Moran et al. 2000a; Mausel et al. 1993; Vieira et al. 2003), modelos sucessionais, que diferenciam os estágios da sucessão, através da idade da vegetação, média de altura e área basal, características fisionômicas e níveis de reflectância foliar, embora os autores destaquem que as características estruturais e fisionômicas das florestas secundárias sejam fortemente influenciadas pela composição florística.
As características fisionômicas e estruturais são muito úteis para o monitoramento através de sensoriamento remoto (Mausel et al. 1993; Tucker et al. 1998; Vieira et al. 2003; Neeff, 2005) no entanto, a composição florística é mais importante para o uso e manejo das florestas, que envolvem valores e práticas específicas ao conjunto de espécies existentes numa área.
Nesse contexto objetiva-se nesse estudo (1) estabelecer a relação entre a diversidade de espécies e as mudanças florísticas, (2) analisar o gradiente florístico existente numa cronosequência do Nordeste do Estado do Pará e (3) determinar espécies indicadoras de florestas secundárias em diferentes estágios sucessionais do Nordeste do Estado do Pará.
MATERIAL E MÉTODOS
ÁREA DE ESTUDO
O Nordeste do Estado do Pará abrange uma área total de aproximadamente 144.000 Km², localizado entre as coordenadas 0º 33' a 5º 21' S e 46º a 49º 40' W (EMBRAPA, 1991). O clima da região apresenta segundo a classificação Köppen, dois tipos climáticos, ambos com temperaturas anuais superiores a 18ºC, sendo o tipo climático predominate Af (Clima tropical chuvoso sem estação seca), apresentando temperatura média em torno de 26ºC. Essa média de temperatura sempre elevada pode ser explicada pela proximidade da linha do equador e pela baixa altitude (EMBRAPA, 1991).
Nessa região ocorre predomínio de planícies litorâneas e ou tabuleiros e colinas; os solos são principalmente latossolo amarelo, latossolo vermelho-amarelo e latossolo vermelho. (EMBRAPA, 1991).
A vegetação original era a Floresta Pluvial Equatorial, porém, atualmente essa vegetação se resume em pequenos fragmentos, embora a região também apresente fragmentos de florestas secundárias em estágio bem avançado da sucessão, que muitas vezes se confunde com as florestas primárias.
COLETA DE DADOS
Foram usados os dados de densidade (indivíduos/área) de artigos publicados, originários de levantamentos florísticos de 19 sítios de diferentes idades, realizados em diferentes anos e com base em diferentes métodos (Tabela 1). Usar dados já publicados pode gerar vários problemas devido às diferenças metodológicas, mas pode também gerar alguns padrões ecológicos interessantes (Neeff, 2005) Para amenizar esse problema a densidade usada foi inicialmente padronizada para indivíduos/hectare para todas as áreas.
MÉTODOS DE ANÁLISES
Para análise da flora foram usados os parâmetros de densidade relativa (DR = ni/N*100, onde ni é o número de indivíduos da espécie i; N = número total de indivíduos levantados na área) e freqüência relativa (Fr = j/k*100, onde j = número de áreas onde a espécie ocorre; k = número total de parcelas). Destaques foram dados às espécies que apresentaram grandes concentrações de indivíduos em uma só área (DRmáxima). A similaridade florística entre as áreas foi analisada através do índice de Jaccard segundo McCune e Grace (2002).
Foram utilizados três índices de diversidade: (1) Riqueza de espécies (S), que representa o número de espécies na área; (2) o índice de Shannon-Weaver (H' = " pi * ln(pi), onde: pi = ni/N, ni = número de indivíduos*ha-1 da espécie, N = número total de indivíduos*ha-1 existente na área), que é amplamente utilizado por sua simplicidade e por possuir duas propriedades intrínsecas: (a) H'= 0, se e somente se a amostra tiver apenas uma espécie; (b) H' alcança o valor máximo quando todas as espécies forem igualmente abundantes; e (3) a eqüibilidade (E = H'/H'max, onde: H'max = ln(S), S = número de espécies na área), que expressa a relação entre a diversidade encontrada e o máximo valor que pode alcançar. Todos esses índices assumem que todas as espécies foram incluídas na amostragem (Magurran, 1988). Para verificar a relação entre diversidade e idade foi realizada uma regressão linear simples.
Para estabelecer o gradiente florístico que ocorre na cronosequência foi usado o método de análise de agrupamento hierárquico, aglomerativo e politético sobre o log (n+1), sendo n, a densidade das espécies, que ocorreram em pelo menos três sítios estudados (171 espécies). A distância euclidiana foi usada como medida de dissimilaridade. O dendrograma foi produzido usando o método de Ward (McCune e Grace, 2002) e os grupos foram definidos subjetivamente. Uma Análise de Componente Principal (PCA) foi aplicada para confirmação dos grupos. Segundo Newbery (1991) a PCA é recomendada para sítios onde existe a dominância de uma ou poucas espécies.
Após a definição dos grupos, foi usada uma análise indicadora de espécies (IndVal), Dufrêne e Legendre (1997), sobre a mesma matriz usada para a análise de agrupamento. O método combina o grau de especificidade de uma determinada espécie para cada um status ecológico e sua fidelidade ao status, assumindo que dois ou mais grupos, a priori estabelecidos, existem e que as abundâncias das espécies foram tomadas em cada uma das áreas. O IndVal considera as densidades e frequências das espécies dentro dos grupos e repartições pré-estabelecidos. O IndVal varia de 0 a 100 e o IndValmax é o maior valor alcançado pela espécie nas várias repartições apresentadas no dendrograma. A significância estatística do IndVal foi avaliada usando o teste de randomização de Monte Carlo, com 500 repetições aleatórias e nível de significância de 5%. A hipótese nula é que IndValmax não é maior que os valores casuais (ou seja, que as espécies não têm nenhum valor indicador).
RESULTADOS
A matriz de densidade das espécies por área apresentou 496 espécies, pertencentes a 198 gêneros e 64 famílias. 228 espécies ocorreram em apenas uma área e 97 espécies ocorreram em duas áreas. Assim, a similaridade média entre as áreas foi muito baixa (Jmédio = 0,134 + 0,087) (Figura 1). As maiores similaridades ocorreram entre áreas de uma mesma localidade e entre idades mais próximas, como PBNT5 e PBNT10 (J = 0,477), PBNT20 e PBNT40 (J = 0,405) e BRA40 e BRA50 (J = 0.494).
As espécies com as maiores médias de densidade relativa também apresentarm as maiores freqüências (tabela 2). Contudo, existem algumas espécies com média de densidade relativa alta, mas com freqüência baixa (Connarus angustifolius, Myrcia bracteata, Myrcia cuprea, Maprounea guianensis, Ocotea guianensis, Pouroma guianensis e Virola sebifera) ou espécies com alta freqüência e baixa média de densidade relativa (Inga alba, Inga thibaudiana, Himatanthus sucuuba e Jacaranda copaia).
Algumas espécies com densidade e freqüência mais elevadas apresentaram alta concentração de indivíduos em uma só área, como Lacistema pubescens (em CAST4, PBNT10, CAST12 e PBNT40), Vismia guianensis (em PBNT5 e BEN8), Croton matourensis (em BRA15 e SFP70), Myrcia bracteata (em BRA40 e BRA50), Abarema jupunba (em SFP10), Virola sebifera (em SFP20), Lacistema aggregatum (em PBNT20), Maprounea guianensis (em BRA30), Pourouma guianensis (em Taua50), Pourouma longipendula (em MAR33), Ocotea guianensis (em SFP40), Eschweilera coriacea (em MAR50).
A riqueza de espécies, diversidade de Shannon e a densidade relativa máxima apresentaram relação linear significativa com a idade das florestas estudadas; entretanto, a densidade e equibilidade não apresentaram relação significativa com a idade (Tabela 3). A diversidade de Shannon apresentou o maior coeficiente de determinação (r2 = 0,6064) e menor dispersão dos dados (Figura 2c). O mesmo ocorreu com a riqueza de espécies das florestas mais jovens; entretanto a riqueza variou bastante nas florestas mais velhas, a partir de 40 anos de idade (Figura 2b). O inverso ocorreu com a densidade relativa máxima, que apresentou maior variação entre as florestas mais jovens e maior homogeneidade entre as florestas mais velhas (Figura 2c). Densidade relativa máxima apresentou baixo coeficiente de determinação (r2 = 0,2785) e foi o único parâmetro a apresentar relação negativa com a idade das florestas (Tabela 3, Figura 2a).
O dendrograma de abundância não revelou um gradiente de idade, mas um gradiente geográfico. Quatro grupos podem ser identificados: Grupo 1 com as áreas localizadas mais a oeste da região (MAR33, MAR50, BEN8 e Taua50); Grupo 2 com as áreas de Castanhal (CAST4, CAST12) e uma área mais distante, localizada na região de Nova Timboteua (PBNT10); Grupo 3 com as áreas mais a leste, em Bragança (BRA15, BRA30, BRA40 e BRA50); e, o Grupo 4 com as áreas localizadas na região de São Francisco do Pará e Nova Timboteua (SFP6, SFP10, SFP20, SFP40, SFP70, PBNT5, PBNT20 e PBNT40) (Figuras 3 e 4).
A PCA gerou os seguintes eigenvalores: 28,682, 26,227, 14,543, 13,070, 11,000 e 10,475 para os seis primeiros eixos, respectivamente. Esses seis eixos explicaram 60,817% da variância das espécies (Figura 5). Com os dois primeiros eixos foram definidos três grupos: Grupo 1 que apresentou correlação negativa com eixo 1 e positiva com eixo 2; esse grupo foi muito similar ao grupo 1 da análise de agrupamento, com MAR33, MAR50, e Taua50; Grupo 2 que apresentou correlação positiva com os eixos 1 e 2; esse grupo foi idêntico ao grupo 3 da análise de agrupamento, com BRA15, BRA30, BRA40 e BRA50; e, Grupo 3 que apresentou correlação positiva com o eixo 1 e negativa com o eixo 2, mistura todas as áreas existentes entre São Francisco do Pará e Peixe Boi/ Nova Timboteua. A separação desse grupo em grupos menores não foi visível até o eixo 3.
As análises de agrupamento e componentes principais confirmaram a existência de dois grupos fortes, localizados nos extremos geográficos da região e, dois grupos mais complexos, que podem se misturar, localizados na região intermediária entre os extremos (Figuras 3 , 4, 5). Com base nesses resultados foram utilizados os quatro grupos resultantes da análise de agrupamento para identificar as espécies indicadoras através do IndVal.
Das 171 espécies analisadas, que se encontravam no mínimo em três áreas, 70 espécies apresentaram valores de IndValmax maior que 50, no entanto 13 dessas espécies não apresentaram valores significantes através do teste de Monte Carlo (Tabela 4), restando 57 espécies consideradas indicadoras. Sete espécies são indicadoras de todas as florestas analisadas, Tapirira guianensis, Vismia guianensis, Inga alba, Lacistema aggregatum, Croton maturensis, Abarema jupunba, Inga rubiginosa. Guateria poepigiana e Thyrsodium paraense também foram indicadoras genéricas, exceto para as áreas do grupo 2 (CAST4, CAST12 e PBNT10) (Tabela 4).
Das 48 espécies indicadoras restantes, as que apresentaram maiores valores de IndVal (>80) foram Laetia procera, Licania heteromorpha e Rinorea guianensis no grupo 1 (MAR33, MAR50, BEN8 e Taua50); Myrcia sylvatica, Lacistema pubescens e Banara guianensis no grupo 2 (CAST4, CAST12 e PBNT10); Ouratea castaneaefolia, Rheedia acuminata, Sapindus saponaria, Saccoglottis amazonica, Licania densiflora, Slonea froesii, Myrcia bracteata, Tabebuia serratifolia, Phyllanthus nobilis, Couratari oblongifolia, Himatanthus sucuuba e Stryphnodendron guianensis no grupo 3 (BRA15, BRA30, BRA40 e BRA50); e, Myrcia cuprea a única espécie indicadora do grupo 4 (SFP6, SFP10, SFP20, SFP40, SFP70, PBNT5, PBNT20 e PBNT40) (Tabela 4).
DISCUSSÃO
A baixa similaridade entre as florestas analisadas reflete a baixa freqüência das espécies, o que pode estar relacionado à grande heterogeneidade de colonização por diferenças entre as idades, extensões e natureza dos distúrbios (Pickett et al. 1987), mas também pode estar relacionado à grande heterogeneidade natural encontrada na floresta amazônica (Clinebell et al. 1995).
O processo sucessional pode ser evidenciado pela riqueza e diversidade de Shannon que aumentaram com a idade das florestas, e com a densidade relativa da espécie mais abundante na área (DRmax), que diminuiu com a idade. No entanto, a equibilidade não apresentou relação significativa com a idade. Vieira et al. (2003) também encontraram um aumento da riqueza e diversidade de Shannon numa cronosequência estudada no Nordeste paraense.
Peña-Carlos (2001) e Uhl et al. (1988) relatam que na sucessão secundária, inicialmente poucas espécies predominam no ambiente, assim as florestas mais jovens apresentam baixa riqueza e alta abundância de poucas espécies, mas no decorrer do adensamento da floresta, o sombreamento vai aumentando as espécies menos exigentes à luz começam a predominar, e com isso aumentam a riqueza e a distribuição dos indivíduos entre as espécies tornando o ambiente mais heterogêneo.
A composição florística não mostrou relação com a idade das florestas analisadas, os resultados das análises de agrupamento e ordenação mostraram um padrão de colonização de espécies relacionado com a distância geográfica.
Os solos e o clima do Nordeste paraense parecem ser muito importantes na colonização das espécies durante o processo sucessional. Bragança (Grupo 3), por exemplo, apresenta uma pluviosidade anual (entre 2200 e 3000mm) bem superior à pluviosidade anual das demais áreas, e em geral um solo do tipo latossolo muito argiloso, o que possibilita drenagem adequada e boa capacidade de retenção de água e nutrientes, (EMBRAPA, 1991), influenciando a abundância de Ouratea castaneaefolia, Rheedia acuminata, Sapindus saponaria, Saccoglottis amazonica, Licania densiflora, Slonea froesii, Myrcia bracteata, Tabebuia serratifolia, Phyllanthus nobilis, Couratari oblongifolia, Himatanthus sucuuba e Stryphnodendron guianensis.
As áreas de Marituba (Grupo 1) apresentam clima do tipo Af, que consiste em um clima quente sem estação seca, com chuvas bem distribuídas ao longo do ano e pluviosidade anual de 1500 a 2500 mm. Essa distribuição de chuvas mais equilibrada deve influenciar a abundância de Laetia procera, Licania heteromorpha e Rinorea guianensis.
Castanhal (Grupo 2), apresentam clima do tipo Am, sendo este caracterizado pela presença de uma estação seca e temperaturas elevadas, no entanto as áreas de Castanhal apresentam solos arenosos com fases pedregosas, o que é caracterizado por baixa capacidade de retenção de água, diferentes das demais áreas, é provável que as espécies Myrcia sylvatica, Lacistema pubescens e Banara guianensis sejam bem adaptadas a este tipo de solo.
São Francisco do Pará e Nova Timboteua/Peixe-Boi (Grupo 4) , também possuem clima do tipo Am, abrangendo solos latossolo amarelo com textura média e latossolo amarelo vermelho, como existe maior heterogeneidade de solo, apenas uma espécie apresentou características para se tornar bastante abundante nessas áreas.
Fatores como fertilidade do solo, precipitação, altitude e proximidades de fonte de sementes (Guariguata e Ostertag, 2001), grau de isolamento e forma do fragmento (Tilman et al. 1994; Bierregaard et al. 1992; Nascimento e Laurance 2006) podem afetar fortemente a composição florística das áreas.O histórico de uso também deve ser considerado como fator determinante sobre a flora que se estabelece nas diferentes áreas. As áreas de São Francisco do Pará e Peixe Boi/ Nova Timboteua (Grupo 4) foram usadas por agricultura de roça e queima e, quando comparadas com outras florestas da região apresentaram níveis inferiores de biomassa, riqueza e diversidade (Vieira 1996; Almeida e Vieira 2001), conforme analisados pelos respectivos autores.
Em Marituba (Grupo 1), a floresta foi cortada para produção de lenha, não sofrendo queima (Mello 2004), também a área de Santo Antônio do Tauá (Grupo 1) não sofreu grandes distúrbios (Prata, 2007). As florestas do Grupo 2 possuem um histórico bastante degradador, com longos e repetidos ciclos de cultivo, no sistema agrícola de corte e queima (Vieira 1996; Araújo et al. 2005). Esse histórico de uso pode ser importante na formação do Grupo 2, o único a apresentar áreas distantes geograficamente, duas áreas na região de Castanhal e uma área na região de Peixe Boi/ Nova Timboteua.
O histórico de uso da área influencia fortemente o banco de sementes (Araújo et al. 2001; Mônaco et al. 2003; Auld e Denham 2006) e a rebrotação de indivíduos, a partir de caules e raízes (Fujisaka et al. 1998; Rodrigues et al. 2004), influenciando assim o estabelecimento das espécies no estágio inicial da sucessão e, as espécies estabelecidas podem determinar a composição florística nos estágios posteriores devido à competição por espaço, luz e nutrientes que ocorre durante o processo sucessional (Fujisaka et al. 1998; Coelho et al. 2003).
As condições químicas do solo também são influenciadas pelo histórico de uso (Cravo e Smith 1997; Longo e Espindola 2000; McGrath et al. 2001; Silva et al. 2006). Em áreas que sofreram corte e queima, há um aumento de nutrientes no solo nos primeiros ciclos, ocorrendo a seguir uma perda considerável de nutrientes, principalmente provocada pela volatização e lixiviação; após vários ciclos de corte e queima a área tem uma tendência a ficarem muito degradadas, especialmente se os períodos de pousio forem curtos (Cravo e Smith 1997; Mertz 2002).
Com os resultados alcançados neste estudo podemos contribuir positivamente para o melhor aproveitamento dos recursos florestais como, por exemplo, nos Sistemas Agroflorestais - SAFs e enriquecimento de capoeiras, bem como contribuir para fins ambientais como em projetos de restauração de áreas degradas.
Nos sistemas agroflorestais, em que espécies arbóreas são plantadas junto com cultivares, conhecendo as características e propriedades da comunidade em que o mesmo esta sendo trabalhado, poderá produzir resultados mais eficientes, ao realizar analise de agrupamento e IndVal, a comunidade será identificada e as espécies que a bioindicam, visto que o método combina o grau de especificidade de uma determinada espécie para um status ecológico (Mcgeoch et al. 2002), assim as espécies arbóreas escolhidas para consorciar com o cultivares terão melhor balizamento, visto que as mesmas exercem papel importante, pois amenizam a erosão e fornecem matéria orgânica, estimulando a fauna do solo, além de aumentar a ciclagem e disponibilidade de nutrientes. Se for levado em consideração também que a colonização de novas espécies da área será influenciada principalmente por fatores abióticos como clima e solo, o preparo do solo será melhor direcionado e que a diversidade aumentará com a idade, o tempo de pousio poderá ser extendido, pois quanto maior a diversidade, maior a variabilidade genética e consequentemente maior a resistências das espécies em relação a pragas a doenças.
De forma semelhante pode-se também contribuir com os projetos de enrriquecimento de capoeiras, visto que a analise de agrupamento e a indVal identificarão a comunidade biológica que esta estabelecida antes de enriquecê-la e indicarão quais as espécies devem ser escolhidas, pois não adianta apenas enrriquecer com as espécies que foram encontradas a partir de um inventario florestal, pois os dados nos permite inferir que é preciso ter a sensibilidade, para pensar que as espécies que antes colonizaram com um determinado comportamento, após o distúrbio podem colonizar com comportamentos diferentes, ou seja, as espécies que antes eram abundantes, após o distúrbio podem colonizar como raras.
Para projetos de restauração de áreas degradadas, uma boa sugestão, seria fazer uma análise das florestas secundarias de diferentes idades que existem ao redor da área objeto de restauração e determinar quais as espécies são bioindicadoras da área e definir melhor quais as espécies e suas respectivas densidades para a utilização nos plantios de restauração. Essas análises permitiriam estimar a idade em que a área em restauração terá alcançada uma determinada diversidade, visto que a restauração de áreas degradadas deve ter por objetivo não só de resgatar uma representatividade das espécies que existia naquele ecossistema a ser reconstruído, mas também a diversidade genética dentro das populações dessas espécies (Kageyama et al. 1998), dessa forma teríamos uma ferramenta importantíssima para estimar o sucesso da restauração, promovendo o enrriquecimento com planejamento
CONCLUSÕES
Na cronossequência analisada, a colonização de espécies arbóreas é influenciada principalmente por fatores abióticos como clima e solo, sendo que a distribuição e a composição florística não apresentou relação significativa com a idade da capoeira, ao contrário da diversidade que apresentou relação significativa. A análise de IndVal permitiu indicar quais as espécies apresentam especificidade para com o status ecológico do habitat, que sofreu modificações abióticas e bióticas.
Os dados obtidos permitem inferir importantes contribuições para o aproveitamento mais eficiente dos recursos florestais e aprimoramento de projetos de restauração de áreas degradadas.
Recebido em 15/05/2009
Aceito em 11/12/2009
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
21 Out 2010 -
Data do Fascículo
Set 2010
Histórico
-
Recebido
15 Maio 2009 -
Aceito
11 Dez 2009