Palavras-chave Fibrilação Atrial; COVID-19/complicações; Revascularização Miocárdica/métodos; Infarto do Miocárdio com Supradesnivelamento do Segmento ST; Mortalidade; Interpretação Estatística de Dados
Caro editor,
O trabalho realizado por Kalkan et al.,1 teve por objetivo avaliar o valor preditivo do escore CHA2DS2-VASc para o escore syntax residual (rSS) em pacientes com infarto agudo do miocárdio com supradesnivelamento do segmento ST (IAMCSST). 688 pacientes foram incluídos no estudo, os quais foram divididos em dois grupos a considerar o escore rSS: pontuação até 8: grupo de rSS baixo (grupo 1); pontuação acima de 8: grupo de rSS elevado (grupo 2).
Na análise geral dos pacientes, houve diferença estatística com relação a idade, dislipidemia, níveis de hemoglobina e glicose, lesão coronariana culpada e o escore CHA2DS2-VASc (p<0,001). A análise individual dos componentes do escore em cada grupo, revelou diferença nos seguintes: hipertensão arterial sistêmica, idade ≥ 75 anos, diabetes mellitus e doença vascular. Ademais, regressão logística realizada pelos autores identificou artéria coronária direita e escore CHA2DS2-VASc como fatores independentes de rSS elevado.
Desta forma, o estudo contribui para a discussão acerca da relevância do escore para predição do prognóstico de pacientes com rSS elevado no contexto de IAMCSST. No entanto, além desta importante casuística apresentada, outros trabalhos avaliaram a aplicabilidade do escore em contextos diferentes.
Sen et al.,2 avaliaram o valor preditivo do escore CHADS2 e CHA2DS2-VASc em pacientes com doença arterial coronária crônica em subanálise do COMPASS trial. Foram incluídos no estudo, 18.278 pacientes, tendo como desfecho primário desta análise, a ocorrência de eventos cardiovasculares maiores. Para ambos os escores avaliados, a ocorrência do desfecho primário foi superior à proporção da elevação dos mesmos. Além disso, a mortalidade por todas as causas, por causa cardiovascular, infarto e acidente vascular cerebral apresentaram diferença estatisticamente significativa para ambos os escores.
De forma semelhante, Burgos et al.,3 em estudo retrospectivo compararam a performance dos escores CHA2DS2-VASc, HATCH e POAF na predição de fibrilação atrial no pós-operatório de cirurgia cardiovascular. 3113 pacientes foram incluídos, entre os quais, cirurgia de revascularização miocárdica (45%), cirurgia valvar (24%), cirurgia combinada (15%) e outros procedimentos (16%) perpassaram a análise. Todos os escores revelaram boa performance na predição de fibrilação atrial no contexto de pós-operatório, sendo, segundo os autores, o escore CHA2DS2-VASc foi aquele com melhor poder discriminativo para fibrilação atrial.
Ainda neste âmbito, Tasbulak et al.,4 avaliaram em estudo retrospectivo de caso-controle com 280 pacientes a aplicabilidade dos escore CHA2DS2-VASc na detecção de oclusão dos enxertos utilizados na cirurgia de revascularização miocárdica. Considerou-se como falha dos enxertos, a presença de 70% ou mais de estenose bem como oclusão evidenciada à cinecoronarioangiografia. Na descrição geral dos pacientes, observou-se diferença estatística àqueles com hipertensão arterial sistêmica (p=0,004), diabetes mellitus (p=0,0001), níveis de creatinina (p=0,0001) e nos valores dos escores CHADS2 e CHA2DS2-VASc (0,0001). Regressão logística foi realizada para identificar fatores associados à falha dos enxertos, onde o escore CHA2DS2-VASc foi identificado como fator independente (OR 2,28) (95% IC 1,02-5,09).
Nos últimos 2 anos, a emergência da pandemia por COVID-19 e suas consequências ao sistema de saúde nacional trouxeram inúmeros desafios à tona. No entanto, também se ampliou o conhecimento acerca desta doença. Em publicação recente, Montazeri et al.,5 em estudo retrospectivo avaliaram o uso dos escores CHADS2 e CHA2DS2-VASc na predição de desfechos em pacientes acometidos por COVID-19.
Foram incluídos 1.406 pacientes com idade média de 59,47 ± 16,48, onde 60,46% eram do sexo masculino. Como desfecho primário, considerou-se mortalidade por todas as causas em três meses. Após análise dos dados, os escores foram capazes de predizer mortalidade, síndrome respiratória aguda, disfunção renal aguda e necessidade de ventilação mecânica.5
Em suma, a aplicabilidade abrangente, especialmente do escore CHA2DS2-VASc é notória, em diferentes contextos pode-se observar relação direta com determinados desfechos assim como prognóstico dos pacientes.
Referências
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1 Kalkan AK, Kahraman S, Avci Y, Bulut U, Gulmea R, Turkyilmaz SB, et al. The Predictive Value of CHA2DS2-VASc Score on Residual Syntax Score in Patients With ST Segment Elevation Myocardial Infarction. Arq Bras Cardiol. 2022;119(3):393-9. DOI: 10.36660/abc.20210670
» https://doi.org/10.36660/abc.20210670 -
2 Sen J, Tonkin A, Varigs J, Fonguh S, Berkowitz SD, Yusuf S, et al. Risk stratification of cardiovascular complications using CHA2DS2-VASc and CHADS2 scores in chronic atherosclerotic cardiovascular disease. Int J Cardiol. 2021;337:9-15. DOI: 10.1016/j.ijcard.2021.04.067
» https://doi.org/10.1016/j.ijcard.2021.04.067 -
3 Burgos LM, Seoane L, Parodi JB, Espinoza J, Galizia Brito V, Benzadón M, Navia D. Postoperative atrial fibrillation is associated with higher scores on predictive indices. J Thorac Cardiovasc Surg. 2019 Jun;157(6):2279-86. DOI: 10.1016/j.jtcvs.2018.10.091
» https://doi.org/10.1016/j.jtcvs.2018.10.091 -
4 Tasbulak O, Sahin A. The CHA2DS2-VASc Score as an Early Predictor of Graft Failure After Coronary Artery Bypass Surgery. Cureus. 2022 Mar 4;14(3):e22833. DOI: 10.7759/cureus.22833
» https://doi.org/10.7759/cureus.22833 - 5 Montazeri M, Keykhaei M, Rashedi S, Karbalai Saleh S, Pazoki M, et al. Prognostic significance of CHADS2 and CHA2DS2-VASc scores to predict unfavorable outcomes in hospitalized patients with COVID-19. J Cardiovasc Thorac Res. 2022;14(1):23-33.
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
07 Abr 2023 -
Data do Fascículo
2023