Palavras-chave
Doenças Cardiovasculares; Sistema Alimentar; Prevenção de Doenças; Saúde Pública
As doenças cardiovasculares (DCV) representam um problema de saúde pública de alta magnitude no Brasil, sendo a principal causa de mortalidade no país, com destaque para a doença arterial coronariana como a principal causa de óbitos.11. Oliveira GMM, Brant LCC, Polanczyk CA, Malta DC, Biolo A, Nascimento BR, et al. Cardiovascular Statistics - Brazil 2023. Arq Bras Cardiol. 2024;121(2):e20240079. doi: 10.36660/abc.20240079.
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Segundo os dados do Global Burden of Disease, 2021, o padrão alimentar foi responsável por 12% do risco atribuído ao total de mortes por doenças crônicas não transmissíveis na população geral brasileira.22. Global Burden of Disease. GBD Compare: Brasil [Internet]. Washington: Institute for Health Metrics and Evaluation; 2021 [cited 2024 May 22]. Available from: http://ihmeuw.org/6flc.
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Tais condições ocasionam prejuízos sistêmicos, não apenas impactando na mortalidade populacional ou reduzindo a expectativa de vida, mas também a incapacidade, gerando dependência de um indivíduo para realizar suas atividades cotidianas.33. Global Burden of Disease. Cardiovascular Burden Estimates 1990 and 2021. Washington: Institute for Health Metrics and Evaluation; 2022.
Diante deste cenário, a Organização Mundial de Saúde (OMS) defende políticas públicas focadas em estratégias de saúde e atualização regular das diretrizes nacionais de alimentação e nutrição, adaptando-se às mudanças nos hábitos alimentares, nos sistemas alimentares, e nas condições de saúde da população.44. World Health Organization. Good Urban Governance for Health and Well-being: A Systematic Review of Barriers, Facilitators and Indicators. Geneva: World Health Organization; 2023.,55. World Health Organization. Achieving Well-being: A Global Framework for Integrating Well-being Into Public Health Utilizing a Health Promotion Approach. Geneva: World Health Organization; 2023.
No Brasil, há diversas diretrizes nutricionais e programas governamentais direcionados à promoção de dietas saudáveis. O Programa Alimentar Brasileiro Cardioprotetor (DICABR), tem como objetivo promover uma alimentação saudável e adequada para prevenir doenças cardíacas e categoriza os alimentos em grupos identificados pelas cores da bandeira do Brasil, explorando a cultura e a regionalidade alimentar do país. A cor verde representa os alimentos que devem ser consumidos em maior quantidade, como frutas, legumes, verduras, leites e iogurte. A cor amarela, alimentos que devem ser consumidos com moderação, como pães, cereais, tubérculos e alguns tipos de doces caseiros (cocada, goiabada, doce de abóbora). A cor azul representa alimentos que devem ser consumidos em menor quantidade, sendo estes carnes, queijos, ovos, manteiga, leite condensado e creme de leite. Apesar de seu potencial, a adesão e a divulgação entre a população beneficiária foram insuficientes para alcançar os resultados esperados na prevenção de DCV.66. Brasil. Ministério da Saúde. Alimentação Cardioprotetora. Brasília: Ministério da Saúde; 2018.
Um estudo transversal realizado com indivíduos em centros de referência cardiovascular no Nordeste do Brasil evidenciou que a população estudada está longe de cumprir as recomendações do DICABR.77. Brito L, Sahade V, Marcadenti A, Torreglosa CR, Weber B, Bersch-Ferreira AC, Rodrigues IG, et al. Adequação Alimentar de Indivíduos com Doença Cardiovascular Conforme Diretrizes Clínicas no Programa Alimentar Brasileiro Cardioprotetor. Arq Bras Cardiol. 2024; 121(7):e20230705. DOI: https://doi.org/10.36660/abc.20230705.
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A dieta desses indivíduos foi pobre em fibras e micronutrientes, com alta ingestão de gorduras saturadas e baixo consumo de ácidos graxos insaturados, evidenciando sua baixa qualidade nutricional.
Um outro estudo piloto randomizado e controlado avaliou 117 pacientes ambulatoriais brasileiros com mais de 45 anos de idade com doença cardiovascular aterotrombótica. Apesar da ausência de significância estatística, o estudo ressalta o potencial do consumo de uma dieta saudável e alimentos regionais na modulação de fatores de risco cardiovascular. Ele comparou as diferentes recomendações dietéticas oferecidas aos pacientes e foi possível observar menor pressão arterial e glicemia de jejum nos pacientes que receberam orientações do DICABR, quando comparado a grupos que receberam orientações de diretrizes brasileiras cardiovasculares de 2012.88. Weber B, Galante AP, Bersch-Ferreira AC, Torreglosa CR, Carvalho VO, Victor ES, et al. Effects of Brazilian Cardioprotective Diet Program on risk factors in patients with coronary heart disease: a Brazilian Cardioprotective Diet randomized pilot trial. Clinics (Sao Paulo). 2012;67(12):1407-14. doi: 10.6061/clinics/2012(12)10.
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É fundamental reconhecer que o consumo alimentar é influenciado por diversos fatores, como acesso, preferências pessoais, disponibilidade de alimentos, renda e cultura. No Brasil, a produção de alimentos é significativa, com 7,8% das terras dedicadas à agricultura e 21,2% para pastagens.99. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo Agropecuário: Resultados Definitivos 2017. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; 2019. Isso ressalta a necessidade de examinar as condições que afetam do início ao final desse sistema alimentar, e questionar por que a população enfrenta barreiras para acessar esses alimentos uma vez que o problema não é a quantidade produzida.
Ao formular políticas públicas e diretrizes nutricionais, é essencial considerar as complexidades do sistema alimentar brasileiro e desenvolver estratégias abrangentes que abordem as múltiplas dimensões que influenciam em todas essas etapas. Isso inclui: 1) incentivar a agricultura sustentável e a distribuição eficiente, garantindo a disponibilidade contínua de alimentos saudáveis, 2) facilitar o acesso a alimentos saudáveis através de políticas como subsídios para frutas e vegetais podem tornar esses alimentos mais acessíveis, especialmente para populações em situação de insegurança alimentar,1010. Castro MA, Fontanelli MM, Nogueira-de-Almeida CA, Fisberg M. Food Insecurity Reduces the Chance of Following a Nutrient-Dense Dietary Pattern by Brazilian Adults: Insights from a Nationwide Cross-Sectional Survey. Nutrients. 2022;14(10):2126. doi: 10.3390/nu14102126.
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3) engajar profissionais de saúde devidamente capacitados para fornecer orientação nutricional individualizada aos pacientes,1111. Brasil. Ministério da Saúde. Departamento de Promoção da Saúde. Estratégia de Saúde Cardiovascular na Atenção Primária à Saúde: Instrutivo para Profissionais e Gestores. Brasília: Ministério da Saúde; 2022. 4) promover mudanças nos hábitos alimentares por meio de campanhas de conscientização, educação nutricional e promoção de restaurantes com opções saudáveis, que podem auxiliar na adoção de hábitos alimentares mais adequados.1212. Kim Y, Rangel J, Colabianchi N. Food Environments and Cardiovascular Disease: Evidence From the Health and Retirement Study. Am J Prev Med. 2024:S0749-3797(24)00080-1. doi: 10.1016/j.amepre.2024.03.004.
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Desta forma, a promoção de dietas saudáveis através de diretrizes nutricionais e políticas públicas é fundamental para combater a alta prevalência de DCV no Brasil, sendo possível identificar onde podem ser implementadas ações voltadas para estas doenças. Considerar a implementação, expansão e divulgação de programas como o DICABR, aliadas à compreensão das complexidades do sistema alimentar e à adoção de estratégias abrangentes, pode contribuir significativamente para a redução da incidência de DCV e a melhoria da qualidade de vida da população brasileira.
Referências
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1Oliveira GMM, Brant LCC, Polanczyk CA, Malta DC, Biolo A, Nascimento BR, et al. Cardiovascular Statistics - Brazil 2023. Arq Bras Cardiol. 2024;121(2):e20240079. doi: 10.36660/abc.20240079.
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2Global Burden of Disease. GBD Compare: Brasil [Internet]. Washington: Institute for Health Metrics and Evaluation; 2021 [cited 2024 May 22]. Available from: http://ihmeuw.org/6flc
» http://ihmeuw.org/6flc -
3Global Burden of Disease. Cardiovascular Burden Estimates 1990 and 2021. Washington: Institute for Health Metrics and Evaluation; 2022.
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4World Health Organization. Good Urban Governance for Health and Well-being: A Systematic Review of Barriers, Facilitators and Indicators. Geneva: World Health Organization; 2023.
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5World Health Organization. Achieving Well-being: A Global Framework for Integrating Well-being Into Public Health Utilizing a Health Promotion Approach. Geneva: World Health Organization; 2023.
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6Brasil. Ministério da Saúde. Alimentação Cardioprotetora. Brasília: Ministério da Saúde; 2018.
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7Brito L, Sahade V, Marcadenti A, Torreglosa CR, Weber B, Bersch-Ferreira AC, Rodrigues IG, et al. Adequação Alimentar de Indivíduos com Doença Cardiovascular Conforme Diretrizes Clínicas no Programa Alimentar Brasileiro Cardioprotetor. Arq Bras Cardiol. 2024; 121(7):e20230705. DOI: https://doi.org/10.36660/abc.20230705
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8Weber B, Galante AP, Bersch-Ferreira AC, Torreglosa CR, Carvalho VO, Victor ES, et al. Effects of Brazilian Cardioprotective Diet Program on risk factors in patients with coronary heart disease: a Brazilian Cardioprotective Diet randomized pilot trial. Clinics (Sao Paulo). 2012;67(12):1407-14. doi: 10.6061/clinics/2012(12)10.
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9Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo Agropecuário: Resultados Definitivos 2017. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; 2019.
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10Castro MA, Fontanelli MM, Nogueira-de-Almeida CA, Fisberg M. Food Insecurity Reduces the Chance of Following a Nutrient-Dense Dietary Pattern by Brazilian Adults: Insights from a Nationwide Cross-Sectional Survey. Nutrients. 2022;14(10):2126. doi: 10.3390/nu14102126.
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11Brasil. Ministério da Saúde. Departamento de Promoção da Saúde. Estratégia de Saúde Cardiovascular na Atenção Primária à Saúde: Instrutivo para Profissionais e Gestores. Brasília: Ministério da Saúde; 2022.
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12Kim Y, Rangel J, Colabianchi N. Food Environments and Cardiovascular Disease: Evidence From the Health and Retirement Study. Am J Prev Med. 2024:S0749-3797(24)00080-1. doi: 10.1016/j.amepre.2024.03.004.
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Minieditorial referente ao artigo: Adequação Alimentar de Indivíduos com Doença Cardiovascular Conforme Diretrizes Clínicas no Programa Alimentar Brasileiro Cardioprotetor
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
19 Ago 2024 -
Data do Fascículo
Jul 2024
Histórico
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Recebido
28 Maio 2024 -
Revisado
26 Jun 2024 -
Aceito
26 Jun 2024