Resumos
Em razão da grande importância do nitrogênio na nutrição mineral das plantas, instalou-se um experimento em condições de campo em um Latossolo Vermelho, no ano agrícola 2005, no campo experimental da Embrapa Cerrados, Planaltina (DF), com o objetivo de realizar a calibração de métodos de determinação desse nutriente no solo para a cultura do trigo. Utilizou-se o delineamento experimental de blocos ao acaso com seis repetições, e os tratamentos foram seis doses de N: 0, 70, 140, 210, 280 e 350 kg ha-1. Amostras de solo das camadas de 0-20 e 20-40 cm foram retiradas, e três diferentes extratores químicos foram utilizados para avaliação da disponibilidade de N no solo. Os maiores coeficientes de determinação, obtidos pela regressão quadrática entre a produtividade do trigo e o N do solo extraído pelos diferentes extratores, foram observados nas análises das amostras da camada de 0-20 cm, de acordo com a seguinte ordem: KCl 2 mol L-1 a 100 °C (R2 = 0,997**) > H2O2/MnO2 (R² = 0,992**) > tampão pH 11,2 + NO3- (R² = 0,985**) > tampão pH 11,2 (R² = 0,960**). Os elevados valores dos coeficientes de determinação indicam que a camada de 0-20 cm é a mais recomendada em análises de rotina de N no solo para o trigo. Considerando a simplicidade de análise e o elevado coeficiente de determinação, o método da solução-tampão pH 11,2 + NO3- pode ser indicado para análise de rotina de N no solo. Os níveis críticos econômicos de N no solo calculados pelos diferentes extratores químicos, para as relações preço do quilograma de N/preço do quilograma do trigo de 5 a 7, foram: 90 a 68 mg kg-1 (H2O2/MnO2), 87 a 66 mg kg-1 (KCl 2M a 100 ºC), 81 a 62 mg kg-1 (tampão pH 11,2 + NO3-) e 64 a 47 mg kg-1 (tampão pH 11,2). Já os níveis críticos calculados pelo método matemático de Cate - Nelson foram: 94 mg kg-1 (H2O2/MnO2), 90 mg kg-1 (KCl 2M a 100 ºC), 82 mg kg-1 (tampão pH 11,2 + NO3-) e 61 mg kg-1 (tampão pH 11,2).
adubação nitrogenada; Triticum aestivum; extratores químicos
Nitrogen is a plant nutrient of great importance. To determine optimum N levels for wheat, a field trial was carried out in a Red Latosol, during the winter of 2005, at Embrapa Cerrados, Planaltina (DF - Brazil). The experiment was set up in a randomized block design, with six replications and the treatments consisted of six N doses (0, 70, 140, 210, 280 and 350 kg ha-1). Soil samples were collected in the 0-20 cm and 20-40 cm layers and three different chemical extractors were used to estimate N availability. Highest determination coefficients were obtained by a quadratic regression between wheat yield and soil N extracted by the different extractors from samples of the 0-20 cm layer, in the following order: KCl 2 mol L-1 a 100 °C (R2 = 0,997**) > H2O2/MnO2 (R² = 0,992**) > buffer pH 11,2 + NO3- (R² = 0,985**) > buffer pH 11,2 (R² = 0,960**). The high determination coefficients suggest that the 0-20 cm layer is the most appropriate for routine N analysis for wheat. The buffer pH 11.2 + NO3- solution can be recommended for routine N analysis, because of its simplicity and high determination coefficient. The economic critical levels for soil N calculated for the different chemical extractors, at a price ratio of 5 to 7 (kg kg-1 of N wheat) were 90 to 68 mg kg-1 (H2O2/MnO2), 87 to 66 mg kg-1 (KCl 2 mol L-1 at 100 °C), 81 to 62 mg kg-1 (buffer pH 11.2 + NO3-) and 64 to 47 mg kg-1 (buffer pH 11.2). The critical levels calculated by the Cate-Nelson mathematical method were 94 mg kg-1 (H2O2/MnO2), 90 mg kg-1 (KCl 2 mol L-1 at 100 °C), 82 mg kg-1 (buffer pH 11.2 + NO3-) and 61 mg kg-1 (buffer pH 11.2).
nitrogen fertilization; Triticum aestivum; chemical extractors
SEÇÃO IV - FERTILIDADE DO SOLO E NUTRIÇÃO DE PLANTAS
Avaliação da disponibilidade de nitrogênio no solo para o trigo em Latossolo Vermelho do Distrito Federal1 1 Parte da Dissertação de Mestrado em Ciências Agrárias/Gestão de Solo e Água do primeiro autor, apresentada à Universidade de Brasília - UNb.
Soil nitrogen availability for wheat in a Cerrado Red Latosol
Maria Fernanda Scian MeneghinI; Maria Lucrécia Gerosa RamosII; Sebastião Alberto de OliveiraIII; Walter Quadros Ribeiro JuniorIV; Renato Fernando AmabileV
IPesquisadora do Instituto Nacional da Propriedade Industrial - INPI. Rua Marynk Veiga 9, 18º andar, CEP 20050-910 Rio de Janeiro (RJ). E-mail: fernandameneghin@gmail.com
IIProfessora adjunta da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Brasília - FAV/UnB. Caixa Postal 4508, CEP 70910-970 Brasília (DF). E-mail: lucrecia@unb.br
IIIProfessor adjunto da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária, UnB. E-mail: oliveira@unb.br
IVPesquisador da Embrapa Cerrados - CPAC. Caixa Postal 08223, CEP 73301-970 Planaltina (DF). E-mail: walter@cpac.embrapa.br
VPesquisador da Embrapa Cerrados. E-mail: amabile@cpac.embrapa.br
RESUMO
Em razão da grande importância do nitrogênio na nutrição mineral das plantas, instalou-se um experimento em condições de campo em um Latossolo Vermelho, no ano agrícola 2005, no campo experimental da Embrapa Cerrados, Planaltina (DF), com o objetivo de realizar a calibração de métodos de determinação desse nutriente no solo para a cultura do trigo. Utilizou-se o delineamento experimental de blocos ao acaso com seis repetições, e os tratamentos foram seis doses de N: 0, 70, 140, 210, 280 e 350 kg ha-1. Amostras de solo das camadas de 0-20 e 20-40 cm foram retiradas, e três diferentes extratores químicos foram utilizados para avaliação da disponibilidade de N no solo. Os maiores coeficientes de determinação, obtidos pela regressão quadrática entre a produtividade do trigo e o N do solo extraído pelos diferentes extratores, foram observados nas análises das amostras da camada de 0-20 cm, de acordo com a seguinte ordem: KCl 2 mol L-1 a 100 °C (R2 = 0,997**) > H2O2/MnO2 (R2 = 0,992**) > tampão pH 11,2 + NO3- (R2 = 0,985**) > tampão pH 11,2 (R2 = 0,960**). Os elevados valores dos coeficientes de determinação indicam que a camada de 0-20 cm é a mais recomendada em análises de rotina de N no solo para o trigo. Considerando a simplicidade de análise e o elevado coeficiente de determinação, o método da solução-tampão pH 11,2 + NO3- pode ser indicado para análise de rotina de N no solo. Os níveis críticos econômicos de N no solo calculados pelos diferentes extratores químicos, para as relações preço do quilograma de N/preço do quilograma do trigo de 5 a 7, foram: 90 a 68 mg kg-1 (H2O2/MnO2), 87 a 66 mg kg-1 (KCl 2M a 100 ºC), 81 a 62 mg kg-1 (tampão pH 11,2 + NO3-) e 64 a 47 mg kg-1 (tampão pH 11,2). Já os níveis críticos calculados pelo método matemático de Cate - Nelson foram: 94 mg kg-1 (H2O2/MnO2), 90 mg kg-1 (KCl 2M a 100 ºC), 82 mg kg-1 (tampão pH 11,2 + NO3-) e 61 mg kg-1 (tampão pH 11,2).
Termos de indexação: adubação nitrogenada, Triticum aestivum, extratores químicos.
SUMMARY
Nitrogen is a plant nutrient of great importance. To determine optimum N levels for wheat, a field trial was carried out in a Red Latosol, during the winter of 2005, at Embrapa Cerrados, Planaltina (DF - Brazil). The experiment was set up in a randomized block design, with six replications and the treatments consisted of six N doses (0, 70, 140, 210, 280 and 350 kg ha-1). Soil samples were collected in the 0-20 cm and 20-40 cm layers and three different chemical extractors were used to estimate N availability. Highest determination coefficients were obtained by a quadratic regression between wheat yield and soil N extracted by the different extractors from samples of the 0-20 cm layer, in the following order: KCl 2 mol L-1 a 100 °C (R2 = 0,997**) > H2O2/MnO2 (R2 = 0,992**) > buffer pH 11,2 + NO3- (R2 = 0,985**) > buffer pH 11,2 (R2 = 0,960**). The high determination coefficients suggest that the 0-20 cm layer is the most appropriate for routine N analysis for wheat. The buffer pH 11.2 + NO3- solution can be recommended for routine N analysis, because of its simplicity and high determination coefficient. The economic critical levels for soil N calculated for the different chemical extractors, at a price ratio of 5 to 7 (kg kg-1 of N wheat) were 90 to 68 mg kg-1 (H2O2/MnO2), 87 to 66 mg kg-1 (KCl 2 mol L-1 at 100 °C), 81 to 62 mg kg-1 (buffer pH 11.2 + NO3-) and 64 to 47 mg kg-1 (buffer pH 11.2). The critical levels calculated by the Cate-Nelson mathematical method were 94 mg kg-1 (H2O2/MnO2), 90 mg kg-1 (KCl 2 mol L-1 at 100 °C), 82 mg kg-1 (buffer pH 11.2 + NO3-) and 61 mg kg-1 (buffer pH 11.2).
Index terms: nitrogen fertilization, Triticum aestivum, chemical extractors.
INTRODUÇÃO
A alta exigência de N caracteriza esse nutriente como um dos principais fatores limitantes ao crescimento e desenvolvimento das plantas. Diversos estudos confirmam a influência do N sobre a cultura do trigo (Frizzone et al., 1996; Coelho et al., 1998; Rodrigues et al., 2000; Didonet et al., 2000; Mundstock & Bredemeier., 2002; Da Ros et al., 2003; Sala et al., 2005).
A principal fonte de N no solo é a matéria orgânica, e a maioria dos solos agrícolas contém várias toneladas de N orgânico em seus perfis. No entanto, a maior parte desse N não está prontamente disponível para as plantas (Urquiaga & Zapata, 2000), pois é necessário que seja liberado sob formas minerais para que possa ser absorvido. O processo de mineralização em determinado período depende de vários fatores, como temperatura, umidade, aeração, pH, quantidade e natureza do material orgânico presente. Assim, a variação nesses fatores determina distintas velocidades na transformação do N orgânico em formas minerais (Kolchinski & Schuch, 2003).
Alguns autores têm mostrado resultados promissores para o uso de extratores químicos na avaliação do N do solo (Curtin & Wen, 1999). Estreitas correlações foram obtidas entre o N extraído com KCl 2M a 100 °C e a absorção do nutriente pela planta, em experimentos de campo conduzidos no Brasil (Oliveira, 1987, 1989; Reichmann Sobrinho, 1989; Serra, 2006). As soluções H2O2/MnO2 e fosfato-borato tampão pH 11,2 também se mostraram promissoras para avaliação de rotina do N do solo (Oliveira, 1987; Eciolaza & Oliveira, 1993; Serra, 2006).
O objetivo deste trabalho foi realizar o estudo de calibração de N no solo para a cultura do trigo, utilizando diferentes métodos químicos.
MATERIAL E MÉTODOS
O trabalho foi realizado durante o ano agrícola 2005, em um Latossolo Vermelho (Embrapa, 1978), no campo experimental da Embrapa Cerrados, localizado em Planaltina (DF), de coordenadas geográficas aproximadas de 15 ° 35 ' 30 '' S e 47 ° 42 ' 00 '' W, com 1.175 m de altitude, e com as seguintes propriedades químicas e características físicas: pH = 5,7 (em água), H + Al = 5,2 cmolc dm-3, Al3+ = 0,2 cmolc dm-3, P = 5,3 mg dm-3 (Mehlich I), K+ = 0,2 cmolc dm-3, Ca2+ = 1,7 cmolc dm-3, Mg2+ = 0,7 cmolc dm-3, CTC = 7,8 cmolc dm-3, matéria orgânica = 24,3g dm-3, argila = 47,5 dag kg-1, silte = 5,5 dag kg-1 e areia = 47 dag kg-1, analisadas segundo método da Embrapa ( 1979).
As análises de N no solo foram realizadas no Laboratório de Química do Solo da Universidade de Brasília (UnB). As análises granulométricas e químicas do solo da área experimental foram feitas nos laboratórios da Embrapa Cerrados.
Foi utilizado o delineamento experimental em blocos ao acaso com seis repetições, e os tratamentos foram seis doses de N: 0, 70, 140, 210, 280 e 350 kg ha-1.
O cultivar de trigo precoce Embrapa 42 foi semeado em parcelas de 4 m de comprimento por 2 m de largura. A área útil da parcela foi definida como as sete linhas centrais. O espaçamento de plantio foi de 0,20 m entre linhas e a densidade foi de 100 sementes por metro linear, com índice de germinação de 90 %.
Durante a condução do experimento, utilizou-se o sistema de irrigação por aspersão, tendo sido aplicada uma lâmina de água de 500 mm, e não houve necessidade de controle químico de pragas.
Na adubação de plantio, foram aplicados 100 kg ha-1 de K2O na forma de cloreto de potássio, 120 kg ha-1 de P2O5 na forma de superfosfato triplo e 70 kg ha-1 de FTE BR12. Também foi realizada a gessagem na dose de 2.000 kg ha-1 de gesso agrícola. A fonte de N usada foi o sulfato de amônio, o qual foi aplicado a lanço no plantio e incorporado imediatamente após a aplicação.
No nono dia após o plantio foram coletadas as amostras de solo nas camadas de 0-20 e 20-40 cm, no total de 10 amostras simples por parcela. Para coleta das amostras, utilizou um cilindro de aço vazado de 4 cm de diâmetro e 64 cm de comprimento, que foi introduzido no solo sob pressão. Após a homogeneização das amostras simples de cada parcela, foram recolhidas as amostras compostas. Estas foram secas ao ar, passadas em peneira de 2 mm e acondicionadas em potes plásticos com tampa e identificação, até que as análises químicas fossem realizadas.
Os dados de rendimento de grãos de trigo, uma vez corrigida a umidade para 130 g kg-1, foram correlacionados com os teores de N extraídos do solo pelos diferentes extratores por meio de regressão polinomial quadrática.
Métodos químicos para a avaliação de nitrogênio no solo
Extração com H2O2/MnO2 (Oliveira, 1987)
As análises foram feitas em duplicata, adicionando-se 2 mL de H2O2 30 % a 2 g de solo acondicionados em béquer de 100 mL. Após repouso de 30 min, o excesso de H2O2 foi eliminado pela adição de 0,1 g de MnO2. Depois da efervescência, foram adicionados 15 mL de água destilada. O material foi transferido para microdestilador, onde recebeu 0,2 g de MgO e 0,1 g de liga de Devarda.
O destilado foi recolhido, durante aproximadamente quatro minutos, em balão volumétrico de 50 mL contendo 10 mL de HCl 0,05N. Os cálculos foram realizados a partir da curva de calibração obtida pela destilação de soluções-padrão de N contendo 0-10-25-50-75-95 µg mL-1 de N. O N extraído foi quantificado por colorimetria em espectrofotômetro de UV/VIS a 440 nm.
Extração com Na3PO4/bórax - tampão pH 11,2 (Gianello, 1985)
As análises foram feitas em duplicata, transferindo-se 2 g de cada amostra de solo para o microdestilador, onde foram adicionados 25 mL da solução-tampão pH 11,2 (200 g de Na3PO4.12H2O + 50 g de bórax, em 2.000 mL de água destilada). A destilação e a análise foram feitas conforme descrito na extração com H2O2/MnO2.
Extração com Na3PO4/bórax - tampão pH 11,2 + NO3- (Serra, 2006)
As análises foram feitas em duplicata, transferindo-se 2 g de cada amostra de solo para o microdestilador, onde foram adicionados 25 mL da solução-tampão pH 11,2 (200 g de Na3PO4.12H2O + 50 g de bórax, em 2.000 mL de água destilada), 0,2 g de MgO, 0,1 g de liga de Devarda e 10 gotas de dimeticona para diminuir a excessiva formação de espuma em presença da liga metálica. A destilação e a análise foram feitas conforme descrito na extração com H2O2/MnO2.
Extração com KCl 2M a 100 ºC (Gianello, 1985)
As análises foram feitas em duplicata, colocando-se 2 g de cada amostra de solo em tubo de digestão Pirex, seguido da adição de 20 mL de KCl 2M. Os tubos tampados foram levados ao bloco digestor previamente aquecido a 100 °C, onde foram mantidos durante 4 h. Em seguida, todo o material foi transferido para o microdestilador, seguido da adição de 0,2 g de MgO, 0,1 g de liga de Devarda e 10 gotas de dimeticona. A destilação e a análise do N foram feitas conforme descrito na extração com H2O2/MnO2.
As doses econômicas de N foram calculadas a partir da função de produção (produtividade de grãos versus doses de N) para três diferentes relações n/w (preço do quilograma de N/preço do quilograma do trigo), de acordo com a fórmula:
N (kg ha-1) = (b - n/w)/-2c
em que c = coeficiente de regressão quadrático; b = coeficiente de regressão linear; n = preço do quilograma de N; e w = preço do quilograma do trigo.
Os níveis críticos foram calculados pelo método matemático de Cate & Nelson (1971). No cálculo dos níveis críticos econômicos (Malavolta et al., 1999), substituíram-se os valores das produtividades estimadas para as três doses econômicas de N, nas equações de regressão entre o N extraído do solo pelos diferentes extratores químicos para a camada de 0-20 cm e a produtividade de grãos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Em geral, os teores de N extraídos com H2O2/MnO2, nas duas camadas de amostragem, foram superiores aos extraídos pelos demais extratores químicos estudados (Quadro 1). Resultados semelhantes foram obtidos por Cantarella et al. (1994) em um experimento com solos ácidos no Estado de São Paulo. Segundo Eciolaza & Oliveira (1993), a água oxigenada pode ser considerada uma solução extratora forte, capaz de extrair maior quantidade de N do solo.
Os teores de N extraídos do solo foram maiores na camada mais superficial (0-20 cm). Esse resultado pode ser devido à incorporação pouco profunda do adubo nitrogenado ou, ainda, aos maiores teores de matéria orgânica presentes nesta camada. Gonçalves et al. (2001) e D'Andréa et al. (2004) afirmam que as maiores reservas de N estão na camada de 0-20 cm do solo, concordando com os resultados obtidos. O nível e a natureza do estoque orgânico de Latossolos sob diferentes sistemas de uso e de manejo foram estudados por Freitas et al. (2000), no Estado de Goiás. Os teores e estoques de N em todos os sistemas avaliados foram, em média, duas vezes maiores na camada de 0-20 cm em comparação com a de 20-40 cm, indicando a influência dos resíduos culturais no resultado.
Os dados de produtividade (Quadro 2) foram relacionados aos teores de N extraídos do solo pelos diferentes extratores químicos, e as análises de regressão mostraram que o modelo quadrático se ajustou aos dados (Figuras 2 a 9). Verificou-se estreita relação entre os valores obtidos, e os coeficientes de determinação (R2) variaram de acordo com o extrator e a camada de amostragem do solo.
A análise de regressão apontou os maiores coeficientes de determinação na camada de 0-20 cm, quando comparado às análises da camada mais profunda, indicando que há melhor aproveitamento do N pela planta nas camadas mais superficiais do solo. Esse resultado sugere que a melhor camada de amostragem do solo para fins de adubação nitrogenada, para o trigo, seja a de 0-20 cm. Oliveira (1987) também observou estreita correlação entre o N extraído pelos diferentes extratores e a produção de grãos de trigo; contudo, em seu estudo, os maiores coeficientes de correlação foram obtidos na camada mais profunda (0-50 cm).
O ordenamento dos extratores de acordo com os melhores valores dos coeficientes de determinação, na camada de 0-20 cm, foi: KCl 2 mol L-1 a 100 °C (R2 = 0,997**) > H2O2/MnO2 (R2 = 0,992**) > tampão pH 11,2 + NO3- (R2 = 0,985**) > tampão pH 11,2 (R2 = 0,960**).
A solução-tampão pH 11,2 foi a que apresentou os menores coeficientes de determinação nas duas camadas de solo analisadas. Jalil et al. (1994), Gianello et al. (2000) e Serra (2006) também observaram que o coeficiente de correlação obtido a partir da extração de N pelo método da solução-tampão sem a adição de liga de Devarda era inferior àquele obtido por outros métodos de extração do N do solo. Apesar de ser um método rápido e simples, a extração de N através dessa solução não inclui a fração de N-NO3-, a qual é importante na correlação com o N absorvido pelas plantas.
Os extratores H2O2/MnO2, KCl 2 mol L-1 a 100 °C e tampão pH 11,2 + NO3- não apresentaram coeficientes de determinação muito diferenciados nas análises realizadas para as amostras da camada de 0-20 cm. Resultados semelhantes foram obtidos por Serra (2006) em um estudo sobre a avaliação da disponibilidade de N por meio de extratores químicos, para a cultura do milho. Considerando as características de cada um desses extratores, pode-se sugerir que a solução-tampão pH 11,2 + NO3- seja recomendada para avaliação de N disponível em solos do Distrito Federal, uma vez que esta, além da praticidade de análise e economia de reagentes, é capaz de extrair nitrato, amônio e açúcares aminados do solo na mesma análise. A desvantagem do método de extração do N do solo com a solução-tampão pH 11,2 + NO3- é a formação excessiva de espuma na presença de liga metálica. No entanto, a adição do antiespumante dimeticona proposta por Serra (2006) mostrou-se eficiente na diminuição da tensão superficial dos líquidos, levando ao rompimento das bolhas formadas durante a destilação e impedindo a contaminação das amostras.
Oliveira (1989) afirma que os métodos mais promissores devem apresentar a vantagem de avaliar no mesmo extrato tanto o nitrato e amônio quanto o N orgânico facilmente mineralizável. A quantificação dessas frações é fundamental para avaliação do N disponível nos solos, fato confirmado pelos diversos estudos acerca da mineralização do N ao longo do ciclo de vida de culturas de importância agronômica (Silva, 1999; Deng & Tabatabai, 2000; Kliemann & Buso, 2002; Mar et al., 2003).
A partir dos dados dos quadros 1 e 2 calcularam-se os níveis críticos de N no solo pelo método matemático de Cate-Nelson, e as doses econômicas, produtividades estimadas e os níveis críticos econômicos foram calculados para três diferentes relações n/w (Figura 1, Quadros 3 e 4). A utilização do nível crítico econômico apresenta as vantagens de gerar valores que não são fixos e acompanhar as tendências de preço do mercado (Black, 1993).
Os níveis críticos econômicos calculados pelos diferentes extratores químicos, para as relações n/w de 5 a 7, são: 90 a 68 mg kg-1 (H2O2/MnO2), 87 a 66 mg kg-1 (KCl 2 mol L-1 a 100 °C), 81 a 62 mg kg-1 (tampão pH 11,2 + NO3-) e 64 a 47 mg kg-1 (tampão pH 11,2). Já os níveis críticos calculados pelo método matemático de Cate-Nelson são: 94 mg kg-1 (H2O2/MnO2), 90 mg kg-1 (KCl 2 mol L-1 a 100 °C), 82 mg kg-1 (tampão pH 11,2 + NO3-) e 61 mg kg-1 (tampão pH 11,2).
No quadro 4, observa-se que os níveis críticos calculados pelo método matemático de Cate-Nelson são próximos àqueles encontrados para a relação n/w = 5.
CONCLUSÕES
1. A camada mais indicada de amostragem para as análises de N no solo foi a de 0-20 cm.
2. O extrator mais indicado para a análise de rotina de N no solo é a solução-tampão pH 11,2 + NO3-, em razão da praticidade da análise e da economia de reagentes.
3. Os níveis críticos econômicos calculados pelos diferentes extratores químicos, para as relações n/w de 5 a 7, foram: 90 a 68 mg kg-1 (H2O2/MnO2), 87 a 66 mg kg-1 (KCl 2M a 100°C), 81 a 62 mg kg-1 (tampão pH 11,2 + NO3-) e 64 a 47 mg kg-1 (tampão pH 11,2).
4. Os níveis críticos calculados pelo método matemático de Cate-Nelson foram: 94 mg kg-1 (H2O2/MnO2), 90 mg kg-1 (KCl 2M a 100 °C), 82 mg kg-1 (tampão pH 11,2 + NO3-) e 61 mg kg-1 (tampão pH 11,2).
LITERATURA CITADA
Recebido para publicação em abril de 2007 e aprovado em setembro de 2008.
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
13 Jan 2009 -
Data do Fascículo
Out 2008
Histórico
-
Recebido
Abr 2007 -
Aceito
Set 2008