Resumos
O objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito de curto prazo e o residual de doses de xisto retortado (XR) sobre a retenção do C de resíduos culturais no solo. Foram avaliadas a mineralização e a retenção de C de folhas e talos de soja enriquecidos com 13C, em solo com e sem histórico de aplicação de XR e na presença e na ausência de doses crescentes de XR. Houve efeito de curto prazo do XR sobre a retenção de C no solo. Esse efeito ocorreu somente com a mistura de folhas + 3 Mg ha-1 de XR, em que a retenção de C no solo superou em 21% aquela observada com a aplicação isolada das folhas. O XR apresenta potencial de reter C no solo.
estoque de carbono; fracionamento físico; isótopo 13C; mineralização do C; resíduos culturais.
The objective of this work was to evaluate the short-term and the residual effect of retorted oil shale (ROS) rates on the C retention of crop residues in the soil. The mineralization and C retention of soybean leaves and stems enriched with 13C were evaluated, in soil with and without history of ROS application and in the presence and absence of increasing ROS rates. There was a short-term effect of ROS on C retention in the soil. This effect only occurred with the mixture of leaves + 3 Mg ha-1 ROS, in which C retention in the soil surpassed by 21% the one observed with the sole application of leaves. ROS has the potential to retain C in the soil.
carbon stock; physical fractionation; 13C isotope; C mineralization; crop residues.
O xisto é uma rocha de origem sedimentar da qual é possível extrair diversos produtos, como
óleo e gás combustíveis (Pimentel et al., 2006PIMENTEL, P.M.; SILVA JUNIOR, C.N.; MELO, D.M.A.; MELO, M.A.F.;
MALDONADO, G.; HENRIQUE, D.M. Caracterização e uso de xisto para adsorção de chumbo
(II) em solução. Cerâmica, v.52, p.194-199, 2006. DOI:
10.1590/S0366-69132006000300013.
https://doi.org/10.1590/S0366-6913200600...
). O
Brasil tem a segunda maior reserva mundial e utiliza alta tecnologia - Processo Petrosix,
desenvolvido pela Petrobras - para extrair óleo a partir do xisto. Durante esse processo,
gera-se um rejeito sólido, denominado xisto retortado, que representa 80 a 90% da
matéria-prima de alimentação do processo (Pimentel et al.,
2006PIMENTEL, P.M.; SILVA JUNIOR, C.N.; MELO, D.M.A.; MELO, M.A.F.;
MALDONADO, G.; HENRIQUE, D.M. Caracterização e uso de xisto para adsorção de chumbo
(II) em solução. Cerâmica, v.52, p.194-199, 2006. DOI:
10.1590/S0366-69132006000300013.
https://doi.org/10.1590/S0366-6913200600...
). Esse rejeito apresenta considerável teor de matéria orgânica (15%) e
elevado teor de silício (50%), além de cálcio, magnésio, enxofre e micronutrientes (Pereira & Vitti, 2004PEREIRA, H.S.; VITTI, G.C. Efeito do uso do xisto em características
químicas do solo e nutrição do tomateiro. Horticultura Brasileira, v.22, p.317-322,
2004. DOI: 10.1590/S0102-05362004000200031.
https://doi.org/10.1590/S0102-0536200400...
; Doumer et al., 2011DOUMER, M.E.; GIACOMINI, S.J.; SILVEIRA, C.A.P.; WEILER, D.A.; BASTOS,
L.M.; FREITAS, L.L. de. Atividade microbiana e enzimática em solo após a aplicação de
xisto retortado. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.46, p.1538-1546, 2011. DOI:
10.1590/S0100-204X2011001100016.
https://doi.org/10.1590/S0100-204X201100...
).
Por suas características, o xisto retortado vem sendo estudado como possível condicionador
de solos, para uso na agricultura. Em trabalho recente, Doumer et al. (2011)DOUMER, M.E.; GIACOMINI, S.J.; SILVEIRA, C.A.P.; WEILER, D.A.; BASTOS,
L.M.; FREITAS, L.L. de. Atividade microbiana e enzimática em solo após a aplicação de
xisto retortado. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.46, p.1538-1546, 2011. DOI:
10.1590/S0100-204X2011001100016.
https://doi.org/10.1590/S0100-204X201100...
encontraram menores emissões de CO2 após adição
desse rejeito ao solo. Esses autores atribuíram esse efeito às características do xisto
retortado, como estrutura lamelar e área superficial específica de 65 m2
g-1 (Pimentel et al., 2006PIMENTEL, P.M.; SILVA JUNIOR, C.N.; MELO, D.M.A.; MELO, M.A.F.;
MALDONADO, G.; HENRIQUE, D.M. Caracterização e uso de xisto para adsorção de chumbo
(II) em solução. Cerâmica, v.52, p.194-199, 2006. DOI:
10.1590/S0366-69132006000300013.
https://doi.org/10.1590/S0366-6913200600...
), as quais
podem ter provocado a proteção física e química da matéria orgânica do solo (MOS) e a
adsorção do C lábil, o que limita a degradação desses compostos orgânicos pela biomassa
microbiana do solo. No entanto, essa hipótese deve ser avaliada para melhorar o
conhecimento sobre os possíveis efeitos de curto prazo e a aplicação residual do xisto
retortado na estabilização de C no solo.
O objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito de curto prazo e o residual de doses de xisto retortado sobre a retenção do C de resíduos culturais no solo.
Foram realizados dois experimentos em laboratório. O solo utilizado foi um Argissolo
Vermelho distrófico arênico (100 g kg-1 de argila, 10 g kg-1 de C e
CTC a pH 7 de 9,1 cmolc dm-3), coletado na camada de 0-5 cm de um
experimento instalado em janeiro de 2010. Foi avaliado o efeito da aplicação de doses
crescentes de xisto retortado, em sistema plantio direto, sobre as características
biológicas indicadoras de qualidade do solo (Doumer et al.,
2011DOUMER, M.E.; GIACOMINI, S.J.; SILVEIRA, C.A.P.; WEILER, D.A.; BASTOS,
L.M.; FREITAS, L.L. de. Atividade microbiana e enzimática em solo após a aplicação de
xisto retortado. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.46, p.1538-1546, 2011. DOI:
10.1590/S0100-204X2011001100016.
https://doi.org/10.1590/S0100-204X201100...
). A coleta do solo foi realizada em novembro de 2012, após terem sido
realizadas cinco aplicações de xisto retortado nas doses de 0, 1,5 e 3 Mg ha-1.
No experimento 1, foi testado o efeito residual da aplicação do xisto retortado, em que os
tratamentos foram compostos por amostras de solo de parcelas que receberam 0, 7,5 e 15 Mg
ha-1. Já no experimento 2, foi avaliado o efeito de curto prazo da aplicação
de xisto retortado, em que os tratamentos foram constituídos com solo somente da parcela
sem histórico de aplicação de xisto retortado (0 kg ha-1), que recebeu, no
laboratório, três doses de XR equivalentes a 0, 1,5 e 3 Mg ha-1. O xisto
retortado aplicado no campo e o utilizado no experimento 2 foram provenientes da
Superintendência de Industrialização do Xisto (SIX), da Petrobras, localizada em São Mateus
do Sul, PR. Após a coleta do xisto retortado, o material foi moído (<0,3 mm) e
armazenado em sacos de ráfia, mantidos secos e protegidos de sol e chuva.
Em ambos os experimentos, os tratamentos foram avaliados na presença e na ausência de
folhas e de talos de soja [Glycine max (L.) Merr.] marcados com
13C. Os resíduos foram enriquecidos com 13C, em condições de
campo, por meio de aplicações semanais de 13CO2, conforme metodologia
descrita em Sangster et al. (2010) SANGSTER, A.; KNIGHT, D.; FARRELL, R.; BEDARD-HAUGHN, A. Repeat-pulse
13CO2 labeling of canola and field pea: implications for soil organic matter studies.
Rapid Communications in Mass Spectrometry, v.24, p.2791-2798, 2010. DOI:
10.1002/rcm.4699.
https://doi.org/10.1002/rcm.4699....
. Em cada
aplicação do 13CO2, as plantas foram cobertas por câmara
confeccionada com chapas de acrílico (polimetilmetacrilato), com 100% de transmitância da
luz solar, sem proteção UV. O 13CO2 foi gerado com uso de solução de
NaH13CO3 (99% de átomos 13C), a qual foi colocada no
interior da câmara, dentro de frasco contendo HCl (2 mol L-1), através do septo
contido na parte superior da câmara. A concentração de CO2 no interior da câmara
foi monitorada com registrador de dados de CO2, umidade e temperatura, modelo
SD800 (Extech Instruments Corporation, Nashua, NH, EUA). Sempre que as leituras de
CO2 estiveram abaixo de 250 ppm, uma nova solução de
NaH13CO3 foi adicionada, tendo-se mantido uma concentração total
de CO2, na atmosfera interna da câmara, entre 250 e 450 ppm. Os pulsos de
13CO2 foram aplicados por um período de 1-1,5 hora entre as 10
horas da manhã e as 13 horas da tarde.
Nos resíduos secos e moídos, foram determinados os teores de C e N por combustão seca, e o excesso isotópico em 13C, em espectrômetro de massas, modelo Delta V Advantage (Thermo Fisher Scientific Inc., Bremen, Alemanha). Os talos apresentaram teor de C, N e δ13C de 43,5%, 0,61% (C/N=72) e 61,8‰, respectivamente. Já as folhas apresentaram 41,4% de C, 1,85% de N (C/N=22) e 57,1‰ de δ13C. Os resíduos moídos foram incorporados ao solo isoladamente ou em conjunto com o xisto retortado, em quantidade equivalente a 3 Mg ha-1.
Cada unidade experimental foi montada separadamente em recipientes de acrílico (6 cm de
altura e 5,3 cm de diâmetro interno), onde foram colocados 114,4 g de solo úmido (100 g de
solo seco a 105ºC), de acordo com Doumer et al.
(2011)DOUMER, M.E.; GIACOMINI, S.J.; SILVEIRA, C.A.P.; WEILER, D.A.; BASTOS,
L.M.; FREITAS, L.L. de. Atividade microbiana e enzimática em solo após a aplicação de
xisto retortado. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.46, p.1538-1546, 2011. DOI:
10.1590/S0100-204X2011001100016.
https://doi.org/10.1590/S0100-204X201100...
. Utilizou-se o delineamento experimental de blocos inteiramente
casualizados com quatro repetições, o que totalizou nove tratamentos em cada incubação. As
unidades experimentais foram mantidas em câmara de incubação, em condições aeróbicas, na
ausência de luminosidade, a 25oC, e o solo, na umidade de 80% da capacidade de
campo.
Nos dois experimentos, as unidades experimentais foram acondicionadas individualmente em
frascos de vidro com capacidade de 800 mL. A avaliação da emissão de CO2,
durante os 80 dias de incubação, foi realizada sempre nas mesmas unidades experimentais,
conforme Doumer et al. (2011)DOUMER, M.E.; GIACOMINI, S.J.; SILVEIRA, C.A.P.; WEILER, D.A.; BASTOS,
L.M.; FREITAS, L.L. de. Atividade microbiana e enzimática em solo após a aplicação de
xisto retortado. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.46, p.1538-1546, 2011. DOI:
10.1590/S0100-204X2011001100016.
https://doi.org/10.1590/S0100-204X201100...
. Ao final da
incubação, nos tratamentos com uso isolado de talos e folhas e combinados com 3 Mg
ha-1 de xisto retortado, foi realizado o fracionamento físico da MOS, de
acordo com Cambardella & Elliot (1992)CAMBARDELLA, C.A.; ELLIOT, E.T. Particulate soil organic matter changes
across a grassland cultivation sequence. Soil Science Society of America Journal,
v.56, p.777-783, 1992. DOI: 10.2136/sssaj1992.03615995005600030017x.
https://doi.org/10.2136/sssaj1992.036159...
. Os
teores de C e o excesso isotópico em 13C das frações matéria orgânica
particulada (MOP) e matéria orgânica associada aos minerais (MOM) foram determinados em
espectrômetro de massa, modelo Delta V Advantage (Thermo Fisher Scientific Inc., Bremen,
Alemanha).
A mineralização do C foi calculada tendo-se considerado as quantidades emitidas de
C-CO2 em cada tratamento, bem como as quantidades de C adicionadas ao solo
pelos talos e pelas folhas de soja, conforme Aita et al.
(2006)AITA, C.; CHIAPINOTTO, I.C.; GIACOMINI, S.J.; HÜBNER, A.P.; MARQUES,
M.G. Decomposição de palha de aveia preta e dejetos de suínos em solo sob plantio
direto. Revista Brasileira de Ciência do Solo, v.30, p.149-161, 2006. DOI:
10.1590/S0100-06832006000100015.
https://doi.org/10.1590/S0100-0683200600...
. Nesse cálculo, assume-se que os resíduos culturais de soja não influem na
taxa de decomposição da MOS (efeito "priming"). Assim, o valor resultante é chamado de
mineralização aparente do C dos resíduos. A fração de C nas frações MOP e MOM proveniente
dos talos e das folhas de soja foi calculada a partir da seguinte equação (Liang et al., 2010LIANG, B.Q.; LEHMANN, J.; SOHI, S.P.; THIES, J.E.; O'NEILL, B.;
TRUJILLO, L.; GAUNT, J.; SOLOMON, D.; GROSSMAN, J.; NEVES, E.G.; LUIZÃO, F.J. Black
carbon affects the cycling of non-black carbon in soil. Organic Geochemistry, v.41,
p.206-213, 2010. DOI: 10.1016/j.orggeochem.2009.09.007.
https://doi.org/10.1016/j.orggeochem.200...
): fC novo = (δ13C
amostra - δ13C controle)/(δ13C adicionado -
δ13C controle), em que: δ13C amostra é o 13C
medido nas frações MOP e MOM; δ13C controle é o 13C nas frações
MOP e MOM do solo sem a adição dos resíduos culturais; e δ13C adicionado é
o 13C nos talos e nas folhas. A quantidade de C novo retido em cada fração (MOP
e MOM) no solo, ao final da incubação, foi obtida ao se multiplicar o teor de C em cada
fração pelo fC novo.
Os resultados foram submetidos à análise de variância, e as médias dos tratamentos foram comparadas pelo teste Tukey, a 5% de probabilidade.
Houve aumento da liberação de CO2 com a adição dos talos e das folhas de soja ao
solo, em comparação ao solo sem resíduos (Tabela
1). Os resultados de mineralização aparente do C são indicativos de maior
mineralização dos talos do que das folhas (50% vs. 44,6% no experimento 1 e 52,9 vs. 43,4%
no experimento 2). No solo com histórico de adição de xisto retortado, a liberação de
CO2 e a mineralização aparente do C dos talos e das folhas de soja não foram
inferiores àquelas observadas no solo que nunca recebeu o rejeito. Já a aplicação conjunta
de talos + 3 Mg ha-1 de xisto retortado no solo sem histórico de adição do
rejeito provocou redução na liberação de CO2 e na mineralização aparente do C,
quando comparado ao tratamento com talos sem o uso do subproduto. Na literatura consultada,
não foram encontrados resultados sobre a emissão de CO2 após a adição de xisto
retortado ao solo, na presença de resíduos vegetais. Alguns estudos com biocarvão, que
também apresenta estrutura lamelar, porosidade e elevada área superficial, mostraram que a
aplicação conjunta de biocarvão e resíduos vegetais ao solo provoca redução na
mineralização aparente do C dos resíduos vegetais (Prayogo
et al., 2014PRAYOGO, C.; JONES, J.E.; BAEYENS, J.; BENDING, G.D. Impact of biochar
on mineralisation of C and N from soil and willow litter and its relationship with
microbial community biomass and structure. Biology Fertility and Soils, v.50,
p.695-702, 2014. DOI: 10.1007/s00374-013-0884-5.
https://doi.org/10.1007/s00374-013-0884-...
). Essa redução na mineralização do C causada pelo biocarvão pode
estar relacionada à liberação de compostos fenólicos que se ligam e inibem as enzimas
degradativas, à sorção de enzimas extracelulares na matriz do biocarvão e à sorção de C
solúvel no biocarvão, o que o torna indisponível para a decomposição (Jones et al., 2011JONES, D.L.; MURPHY, D.V.; KHALID, M.; AHMAD, W.; EDWARDS-JONES, G.;
DELUCA, T.H. Short-term biochar-induced increase in soil CO2 release is both
biotically and abiotically mediated. Soil Biology and Biochemistry, v.43,
p.1723-1731, 2011. DOI: 10.1016/j.soilbio.2011.04.018.
https://doi.org/10.1016/j.soilbio.2011.0...
). É possível que, no presente trabalho, esses
mecanismos também estejam envolvidos na redução da mineralização do C provocada pelo xisto
retortado.
Liberação de C-CO2 e C mineralizado de folhas e talos de soja (Glycine max) em solo com (Experimento 1) e sem histórico (Experimento 2) de aplicação de xisto retortado(1).
Os teores de C nas frações MOP e MOM não foram alterados pela adição do xisto retortado e dos resíduos culturais de soja (Tabela 2). Entretanto, a adição dos resíduos no solo provocou alteração nos valores de δ13C, o que indicou a incorporação do C presente nos talos e nas folhas de soja nas frações MOP e MOM do solo. No experimento com histórico de aplicação de xisto retortado, não foi observado efeito desse subproduto sobre a retenção do C no solo (Tabela 2). Constatou-se que, no experimento realizado com solo sem histórico de aplicação de xisto retortado, a sua aplicação conjunta com os resíduos promoveu maior retenção de C no solo do que o tratamento composto pelas folhas de soja. Nesse tratamento, a retenção de C no solo superou em 21% (26,1% vs. 31,7%) aquela do tratamento com a aplicação isolada das folhas. Esse aumento da retenção do C no solo esteve relacionado, principalmente, ao aumento do C na fração MOP (12,3% vs. 17,5%). Esses resultados podem explicar, em parte, a menor mineralização do C das folhas, em comparação à dos talos (Tabela 1).
Teor de C, δ13C e C retido dos resíduos culturais de soja (Glycine max) presente nas frações matéria orgânica particulada (MOP) e matéria orgânica associada aos minerais (MOM), em solo com (Experimento 1) e sem histórico (Experimento 2) de aplicação de xisto retortado(1).
Não houve efeito residual do xisto retortado na redução da mineralização e no aumento da
retenção do C de resíduos culturais adicionados ao solo, em condição de laboratório (Tabelas 1 e 2). Possivelmente, o xisto retortado
aplicado anteriormente ao solo pode estar complexado aos minerais e à MOS, o que reduz sua
reatividade e seu possível poder de estabilização do C recém adicionado ao solo. A
reatividade do xisto retortado está ligada à presença, na sua composição, de argilominerais
de camada dupla (2:1), como ilita e montmorilonita e grupos funcionais silanoides,
hidroxílicos e carboxílicos (Pimentel et al., 2006PIMENTEL, P.M.; SILVA JUNIOR, C.N.; MELO, D.M.A.; MELO, M.A.F.;
MALDONADO, G.; HENRIQUE, D.M. Caracterização e uso de xisto para adsorção de chumbo
(II) em solução. Cerâmica, v.52, p.194-199, 2006. DOI:
10.1590/S0366-69132006000300013.
https://doi.org/10.1590/S0366-6913200600...
).
Essas propriedades devem favorecer as associações com compostos orgânicos e minerais do
solo.
Quando aplicado conjuntamente com os resíduos, o efeito de curto prazo do xisto retortado
ocorreu somente sobre a retenção do C das folhas no solo, o que indicou que esse efeito é
dependente da fonte de C adicionada ao solo. Esse resultado pode estar em concordância com
a hipótese de Cotrufo et al. (2013)COTRUFO, M.F.; WALLENSTEIN, M.D.; BOOT, C.M.; DENEF, K.; PAUL, E. The
Microbial Efficiency-Matrix Stabilization (MEMS) framework integrates plant litter
decomposition with soil organic matter stabilization: do labile plant inputs form
stable soil organic matter? Global Change Biology, v.19, p.988-995, 2013. DOI:
10.1111/gcb.12113.
https://doi.org/10.1111/gcb.12113....
, de que resíduos
com elevada qualidade química apresentam maior potencial para o acúmulo de C no solo. Liang et al. (2010)LIANG, B.Q.; LEHMANN, J.; SOHI, S.P.; THIES, J.E.; O'NEILL, B.;
TRUJILLO, L.; GAUNT, J.; SOLOMON, D.; GROSSMAN, J.; NEVES, E.G.; LUIZÃO, F.J. Black
carbon affects the cycling of non-black carbon in soil. Organic Geochemistry, v.41,
p.206-213, 2010. DOI: 10.1016/j.orggeochem.2009.09.007.
https://doi.org/10.1016/j.orggeochem.200...
também verificaram que o biocarvão
promoveu a estabilização de C recém adicionado ao solo. Os mecanismos envolvidos no aumento
da retenção do C no solo pela adição do xisto retortado não são claros e podem envolver
modificações na atividade da população microbiana ou características de superfície do xisto
retortado (Liang et al., 2010LIANG, B.Q.; LEHMANN, J.; SOHI, S.P.; THIES, J.E.; O'NEILL, B.;
TRUJILLO, L.; GAUNT, J.; SOLOMON, D.; GROSSMAN, J.; NEVES, E.G.; LUIZÃO, F.J. Black
carbon affects the cycling of non-black carbon in soil. Organic Geochemistry, v.41,
p.206-213, 2010. DOI: 10.1016/j.orggeochem.2009.09.007.
https://doi.org/10.1016/j.orggeochem.200...
; Doumer et al., 2011DOUMER, M.E.; GIACOMINI, S.J.; SILVEIRA, C.A.P.; WEILER, D.A.; BASTOS,
L.M.; FREITAS, L.L. de. Atividade microbiana e enzimática em solo após a aplicação de
xisto retortado. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.46, p.1538-1546, 2011. DOI:
10.1590/S0100-204X2011001100016.
https://doi.org/10.1590/S0100-204X201100...
; Jones et al.,
2011JONES, D.L.; MURPHY, D.V.; KHALID, M.; AHMAD, W.; EDWARDS-JONES, G.;
DELUCA, T.H. Short-term biochar-induced increase in soil CO2 release is both
biotically and abiotically mediated. Soil Biology and Biochemistry, v.43,
p.1723-1731, 2011. DOI: 10.1016/j.soilbio.2011.04.018.
https://doi.org/10.1016/j.soilbio.2011.0...
). Contudo, é importante destacar que os resultados do presente trabalho
foram obtidos em laboratório, onde a decomposição dos materiais orgânicos ocorre em
condições ótimas de temperatura e umidade. Por isso, é importante intensificar os estudos
relativos à avaliação do potencial do xisto retortado em promover o sequestro de C no solo,
em condições de campo e em diferentes tipos de solos.
Agradecimentos
À Unidade de Industrialização do Xisto (Petrobras-SIX), à Embrapa Clima Temperado e à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg), pelo apoio financeiro.
- AITA, C.; CHIAPINOTTO, I.C.; GIACOMINI, S.J.; HÜBNER, A.P.; MARQUES, M.G. Decomposição de palha de aveia preta e dejetos de suínos em solo sob plantio direto. Revista Brasileira de Ciência do Solo, v.30, p.149-161, 2006. DOI: 10.1590/S0100-06832006000100015.
» https://doi.org/10.1590/S0100-06832006000100015. - CAMBARDELLA, C.A.; ELLIOT, E.T. Particulate soil organic matter changes across a grassland cultivation sequence. Soil Science Society of America Journal, v.56, p.777-783, 1992. DOI: 10.2136/sssaj1992.03615995005600030017x.
» https://doi.org/10.2136/sssaj1992.03615995005600030017x. - COTRUFO, M.F.; WALLENSTEIN, M.D.; BOOT, C.M.; DENEF, K.; PAUL, E. The Microbial Efficiency-Matrix Stabilization (MEMS) framework integrates plant litter decomposition with soil organic matter stabilization: do labile plant inputs form stable soil organic matter? Global Change Biology, v.19, p.988-995, 2013. DOI: 10.1111/gcb.12113.
» https://doi.org/10.1111/gcb.12113. - DOUMER, M.E.; GIACOMINI, S.J.; SILVEIRA, C.A.P.; WEILER, D.A.; BASTOS, L.M.; FREITAS, L.L. de. Atividade microbiana e enzimática em solo após a aplicação de xisto retortado. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.46, p.1538-1546, 2011. DOI: 10.1590/S0100-204X2011001100016.
» https://doi.org/10.1590/S0100-204X2011001100016. - JONES, D.L.; MURPHY, D.V.; KHALID, M.; AHMAD, W.; EDWARDS-JONES, G.; DELUCA, T.H. Short-term biochar-induced increase in soil CO2 release is both biotically and abiotically mediated. Soil Biology and Biochemistry, v.43, p.1723-1731, 2011. DOI: 10.1016/j.soilbio.2011.04.018.
» https://doi.org/10.1016/j.soilbio.2011.04.018. - LIANG, B.Q.; LEHMANN, J.; SOHI, S.P.; THIES, J.E.; O'NEILL, B.; TRUJILLO, L.; GAUNT, J.; SOLOMON, D.; GROSSMAN, J.; NEVES, E.G.; LUIZÃO, F.J. Black carbon affects the cycling of non-black carbon in soil. Organic Geochemistry, v.41, p.206-213, 2010. DOI: 10.1016/j.orggeochem.2009.09.007.
» https://doi.org/10.1016/j.orggeochem.2009.09.007. - PEREIRA, H.S.; VITTI, G.C. Efeito do uso do xisto em características químicas do solo e nutrição do tomateiro. Horticultura Brasileira, v.22, p.317-322, 2004. DOI: 10.1590/S0102-05362004000200031.
» https://doi.org/10.1590/S0102-05362004000200031. - PIMENTEL, P.M.; SILVA JUNIOR, C.N.; MELO, D.M.A.; MELO, M.A.F.; MALDONADO, G.; HENRIQUE, D.M. Caracterização e uso de xisto para adsorção de chumbo (II) em solução. Cerâmica, v.52, p.194-199, 2006. DOI: 10.1590/S0366-69132006000300013.
» https://doi.org/10.1590/S0366-69132006000300013. - PRAYOGO, C.; JONES, J.E.; BAEYENS, J.; BENDING, G.D. Impact of biochar on mineralisation of C and N from soil and willow litter and its relationship with microbial community biomass and structure. Biology Fertility and Soils, v.50, p.695-702, 2014. DOI: 10.1007/s00374-013-0884-5.
» https://doi.org/10.1007/s00374-013-0884-5. - SANGSTER, A.; KNIGHT, D.; FARRELL, R.; BEDARD-HAUGHN, A. Repeat-pulse 13CO2 labeling of canola and field pea: implications for soil organic matter studies. Rapid Communications in Mass Spectrometry, v.24, p.2791-2798, 2010. DOI: 10.1002/rcm.4699.
» https://doi.org/10.1002/rcm.4699.
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
Out 2014
Histórico
-
Recebido
27 Fev 2014 -
Aceito
22 Set 2014