Resumos
O maracujazeiro-doce (Passiflora alata Curtis) é uma espécie nativa da América do Sul, especialmente do Brasil, cujo cultivo tem se expandido em função do preço alcançado pelos frutos. Vários trabalhos de pesquisa foram realizados com esta espécie, quase todos com imprecisões na citação do nome científico. Com o objetivo de avaliar a extensão desses equívocos e identificar a forma cientificamente correta de citar a espécie, foram investigados o autor e a data de publicação do nome científico do maracujá-doce, em estudos taxonômicos. Concluiu-se que a espécie deve ser citada como Passiflora alata Curtis, conforme publicado originalmente em 1788, no periódico Botanical Magazine.
maracujá-doce; Passiflora alata; Passifloraceae; nomenclatura; nome científico
The author, data and publication of the scientific name of the sweet passion-fruit had been investigated. A series of mistakes occurred in relation to the correct citation of the species. The aim of the present paper was to evaluate the problems and identify the scientific correct form of Passiflora alata nomenclature. The species must be cited as Passiflora alata Curtis and was published originally in 1788, in the Botanical Magazine.
maracujá; Passiflora alata; Passifloraceae; passion-fruit; nomenclature; scientific name
COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA
Maracujá-doce: o autor, a obra e a data da publicação de Passiflora alata (Passifloraceae)1 1 (Trabalho 165/2002).
Sweet-passion-fruit: the autor, data and publication of the scientific name of Passiflora alata (Passifloraceae)
Luís Carlos BernacciI; Laura Maria Molina MelettiII; Marta Dias Soares-ScottIII
IBiólogo, Dr., Pesquisador Científico, Centro de Recursos Genéticos, IAC. Cx. Postal 28. CEP:13.001-970. Campinas, SP. Fone: (19) 3231-5422; bernacci@iac.sp.gov.br
IIEng. Agr., Dr., Pesquisador Científico, Centro de Fruticultura, IAC. lmmm@ iac.sp.gov.br.Fone: (19) 3241-9910
IIIBióloga, M.Sc., Pesquisador Científico, Centro de Recursos Genéticos, IAC. scott@ iac.sp.gov.brFone: (19) 3241-5188.
RESUMO
O maracujazeiro-doce (Passiflora alata Curtis) é uma espécie nativa da América do Sul, especialmente do Brasil, cujo cultivo tem se expandido em função do preço alcançado pelos frutos. Vários trabalhos de pesquisa foram realizados com esta espécie, quase todos com imprecisões na citação do nome científico. Com o objetivo de avaliar a extensão desses equívocos e identificar a forma cientificamente correta de citar a espécie, foram investigados o autor e a data de publicação do nome científico do maracujá-doce, em estudos taxonômicos. Concluiu-se que a espécie deve ser citada como Passiflora alata Curtis, conforme publicado originalmente em 1788, no periódico Botanical Magazine.
Termos para indexação: maracujá-doce; Passiflora alata; Passifloraceae, nomenclatura, nome científico
ABSTRACT
The author, data and publication of the scientific name of the sweet passion-fruit had been investigated. A series of mistakes occurred in relation to the correct citation of the species. The aim of the present paper was to evaluate the problems and identify the scientific correct form of Passiflora alata nomenclature. The species must be cited as Passiflora alata Curtis and was published originally in 1788, in the Botanical Magazine.
Index terms: maracujá, Passiflora alata, Passifloraceae, passion-fruit, nomenclature, scientific name.
O maracujazeiro-doce (Passiflora alata Curtis) é uma espécie nativa da América do Sul, especialmente do Brasil, mas encontrada também no Peru, Paraguai e Argentina (Killip 1938), ainda desconhecida da maioria da população. Os pomares têm se expandido em função do preço do produto comercial. É cultivada também para fins medicinais, porque produz passiflorina, um calmante natural (Meletti & Maia, 1999). Seu valor ornamental está associado às flores, coloridas e perfumadas.
Os pomares de maracujá surgiram como atividade econômica no final da década de 80, embora várias espécies já fossem cultivadas desde o período colonial (Meletti & Maia, 1999). Iniciativas de expansão do cultivo do maracujá-doce estão sendo observadas. A seleção realizada por produtores tecnificados possibilitou obter plantas produtivas e frutos com mais de 350 g, ovais, amarelo-alaranjados, de sabor e aroma agradáveis (Silva, 1998).
O maracujá-amarelo, Passiflora edulis Sims, tem maior importância devido à qualidade dos frutos, à divulgação junto aos consumidores e ao incentivo da agroindústria. Ele representa 95% dos pomares brasileiros. O maracujá-doce (Passiflora alata), apesar da menor representatividade, atinge preços unitários mais expressivos no segmento das frutas frescas. No entanto, a expansão dos pomares tem sido limitada pela dificuldade de convivência com a bacteriose causada por Xanthomonas axonopodis pv. passiflorae Gonçalves & Rosato 2000. Uma crescente demanda por informações técnicas tem levado à ampliação dos estudos da família Passifloraceae, visando conhecer os recursos genéticos disponíveis e diferentes aspectos da tecnologia de produção.
Em relação à taxonomia de P. alata, existem amplas controvérsias quanto à autoria, obra e ano da publicação. O Código de Nomenclatura Botânica (Greuter et al., 1994) estabelece, nos artigos 11 e 12, que só pode existir um único nome válido para uma espécie e deve ser aquele que primeiro foi publicado. O autor (ou autores) é quem publicou validamente o nome e a descrição da espécie pela primeira vez (artigo 46.2). A referência, com o número da página a partir da qual a espécie foi descrita, é chamada de "obra príncipes" (a referência primordial).
Estudos taxonômicos (Masters, 1872; Killip, 1938) e obras de referência (Jackson, 1895; Stafleu, 1976) foram consultados para determinar o verdadeiro autor da espécie, o ano e a obra da publicação, de acordo com as normas do Código de Nomenclatura (Greuter et al., 1994). Para avaliar a forma como têm sido feitas as citações do nome científico da espécie, foram consultados 72 trabalhos (de 1988 a 2000), incluindo teses, monografias e artigos apresentados nos Congressos Brasileiros de Fruticultura (de 1994 a 1998) ou publicados na Revista Brasileira de Fruticultura (de 1998 a 2001).
Pela análise, observou-se que Masters (1872) atribuiu P. alata a W. Aiton (abreviado como Ait.), e a "obra principes" seria: Hort. Kew. III. 306. No Index Kewensis (Jackson, 1895), obra seriada de referência e registro das novas espécies, a publicação de P. alata é indicada como [Dryand. in] Ait. Hort. Kew. ed I. iii. 306. Killip (1938) considerou que J.C. Dryander (abreviado como Dryand.) foi o autor da espécie e a publicou em Bot. Mag. 1: 66, 1781.
A obra Hortus Kewensis, em 3 volumes na primeira edição (Stafleu & Cowan, 1976), foi coordenada por W. Aiton. Nos volumes 1 e 2, o descritor da maioria das espécies foi D.C. Solander (Sol.). No volume 3, J.C. Dryander foi editor e descritor principal das espécies. Outro colaborador foi R. Brown (R.Br.). No artigo 46.6, o Código de Nomenclatura Botânica (Greuter et al., 1994) estabelece que uma espécie deve ser atribuída ao autor da obra em que foi publicada originalmente, a não ser que exista uma indicação, na própria obra, de que a descrição foi realizada por ou com a colaboração de outro(s) autor(es). Assim P. alata poderia ser atribuída a Aiton, Dryand. ou ainda Sol. ou R.Br., em função de como a descrição tivesse sido indicada.
Entretanto, examinando-se "Hortus Kewensis" (Dryander, 1789), verificou-se que P. alata é apenas mencionada, com a indicação do autor como W. Curtis, primeira publicação no periódico Botanical Magazine e do ano de 1788. Consultando-se a obra, constatou-se que P. alata realmente foi descrita por Curtis (1788), no v. 2, conforme as normas (Greutter et al., 1994).
A avaliação de como a espécie foi citada nos trabalhos, teses e monografias mais recentes, principalmente nas áreas de fitotecnia e tecnologia de sementes, revela que apenas Ait. ou Dryand. são indicados como o autor, sendo o primeiro mais citado nos trabalhos anteriores a 1990. Posteriormente, a segunda forma predomina, embora tenha sido constatado que as citações imprecisas em relação ao autor da espécie têm sido repetidas em função de trabalhos anteriores. Por falta de especialistas em taxonomia que apontassem o equívoco, a referência de um trabalho segue para o seguinte, multiplicando a imprecisão nominativa.
Uma série de equívocos foi cometida em relação ao autor de P. alata (tabela 1), desde as obras taxonômicas mais antigas. Apenas recentemente os equívocos foram corrigidos (Bernacci & Vitta, 1999; Nunes et al., 2001). Estas obras foram as únicas que mencionaram P. alata corretamente, de um total de 72 trabalhos consultados, em relação ao autor, ao ano e à "obra principes": Passiflora alata Curtis, Bot. Mag. 2: pl. 66. 1788.
Concluiu-se, assim, que a citação do nome científico do maracujá-doce tem sido bastante imprecisa, fazendo-se necessário divulgar a forma correta (Passiflora alata Curtis) entre os pesquisadores que trabalham com maracujá, utilizando-se das reuniões temáticas entre os pesquisadores da cultura, congressos afins e publicações especializadas.
Agradecimentos: Ao Dr. Clóvis T. Pizza Jr. por motivar discussões preliminares que despertaram o interesse pela autoria de P. alata e levaram à realização do presente estudo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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STAFLEU, F.A.; COWAN, R.S. Taxonomic literature. Regnum vegetabile, Utrecht, v. 94, p. 1-1136, 1976.
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Recebido: 30/10/2002
Aceito para publicação: 30/04/2003
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
20 Out 2003 -
Data do Fascículo
Ago 2003
Histórico
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Aceito
30 Abr 2003 -
Recebido
30 Out 2002