Extratos aquosos de Annona spp. e Croton heliotropiifolius sobre Scutellonema bradys e prospecção química dos compostos

Uma alternativa de controle de fitonematoides é a utilização de extratos vegetais. Croton spp. e Annona spp. se destacam pelos tipos de metabólidos secundários (³, ⁷). O trabalho teve por objetivos avaliar o efeito nematicida in vitro dos extratos aquosos de folhas e caule de velame (C. heliotropiifolius Kunth.); de folhas e casca do caule de soncoya (A. purpurea Moc. & Sesse); e de folhas de araticum-do-brejo (A. glabra L.), de pinha (A. squamosa L.) e de biribá (A. mucosa Jacq.) sobre Scutellonema bradys (Steiner & LeHew) Andrássy e identificar os compostos secundários nesses extratos.

A coleta de C. heliotropiifolius foi realizada em Arapiraca, AL, e uma amostra foi depositada no MAC Herbário do Instituto do Meio Ambiente de Alagoas (nº 54392); as anonáceas foram colhidas no CECA/UFAL. Os extratos foram obtidos conforme Ferris & Zeng (⁴). Em cavidades de placas de Kline foram colocados 200 µL do extrato e 20 nematoides juvenis e adultos, extraídos de rizóforos de Dioscorea sp. Água destilada foi usada como controle. Três experimentos foram conduzidos em delineamento inteiramente casualizado, e em cinco repetições sendo a parcela formada por uma cavidade da placa. O primeiro consisitiu de um fatorial 5 x 5 (cinco espécies vegetais e cinco concentrações: 0, 25%, 50%, 75% e 100%), no componente folha. O segundo, caule de C. heliotropiifolius, e o terceiro, casca do caule de A. purpurea, nas mesmas concentrações. Após 24 horas, foi feita a contagem dos nematoides imobilizados em microscópio de objetiva invertida. Espécimes imóveis foram transferidos para água destilada, considerado-se mortos os nematoides que não recuperaram o movimento após 24 horas. Apenas os dados dos experimentos 1 e 3 foram submetidos à análise de variância, uma vez que no segundo ensaio, os valores para as duas variáveis aleatórias foram iguais a zero. Foram aplicados o teste de Tukey (P<0,05) e análise de regressão. A prospecção fitoquímica foi efetuada conforme Matos & Matos (⁶).

Tabela 1
Imobilidade e mortalidade de espécimes de Scutellonema bradys após 24 horas de exposição a extratos aquosos obtidos de folhas de cinco espécies vegetais, seguido de incubação em água.

Extratos	Imobilidade (%)	Mortalidade (%)
Biriba	64,40 c	23,24 c
Araticum-do-brejo	68,84 cb	66,04 a
Soncoya	77,16 ba	67,36 a
Velame	79,80 a	60,36 a
Pinha	79,80 a	40,68 b
	Equações	R2
Extratos oriundos de folhas
Imobilidade	Velame: -LINHAEQ01#$$\mathrm{y}=-0,0227{\mathrm{x}}^2+3,0783\mathrm{x}+11,171$$	0,8628
	Araticum-do-brejo:-LINHAEQ02#$$\mathrm{y}=-0,0161{\mathrm{x}}^2+2,4749\mathrm{x}+5,3543$$	0,9605
	Soncoya: -LINHAEQ03#$$\mathrm{y}=-0,0212{\mathrm{x}}^2+2,9802\mathrm{x}+7,7771$$	0,9290
	Biribá: -LINHAEQ04#$$\mathrm{y}=-0,0136{\mathrm{x}}^2+2,4376\mathrm{x}-6,48$$	0,9299
	Pinha: -LINHAEQ05#$$\mathrm{y}=-0,0227{\mathrm{x}}^2+3,0783\mathrm{x}+11,171$$	0,8628
Mortalidade	Velame: -LINHAEQ06#$$\mathrm{y}=-0,0103{\mathrm{x}}^2+1,9501\mathrm{x}+1,5143$$	0,9964
	Araticum-do-brejo: -LINHAEQ07#$$\mathrm{y}=-0,0138{\mathrm{x}}^2+2,2509\mathrm{x}+5,3543$$	0,9581
	Soncoya: -LINHAEQ08#$$\mathrm{y}=-0,0152{\mathrm{x}}^2+2,4038\mathrm{x}+4,3429$$	0,9722
	Biribá: -LINHAEQ09#$$\mathrm{y}=-0,0064{\mathrm{x}}^2+0,8399\mathrm{x}+5,3314$$	0,9774
	Pinha: -LINHAEQ10#$$\mathrm{y}=-0,0094{\mathrm{x}}^2+1,5096\mathrm{x}+0,6$$	0,9938
Extrato obtido de casca do caule de soncoya
Imobilidade	-LINHAEQ11#$$\mathrm{y}=-0,0131{\mathrm{x}}^2+2,4368\mathrm{x}-9,28$$	0,8952
Mortalidade	-LINHAEQ12#$$\mathrm{y}=1,0368\mathrm{x}+0,52$$	0,9203

• Médias seguidas de letras iguais, nas colunas, não diferem entre si pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade.

Observou-se significância quanto à imobilidade e mortalidade de S. bradys (Tabela 1). A prospecção química demonstrou a presença de taninos flobafênicos (exceto em caule de C. heliotropiifolius); flavonas, flavonóis e xantonas (exceto em A. purpurea); flavononois (apenas em A. purpurea); catequinas (exceto em caule de C. heliotropiifolius); flavononas (apenas em A. purpurea); triterpenoides (apenas em folha de A. mucosa) e saponinas (em todos os materiais testados). Segundo Hoste et al. (⁵) o efeito anti-helmíntico de taninos pode ser atribuído à sua capacidade de ligação com proteínas da cutícula do nematoide, alterando suas propriedades física e química. Atividade anti-helmíntica já foi comprovada em flavonoides e flavonas (¹, ⁸) e em triterpenoides e seus derivados (²).

REFERÊNCIAS

• ¹
  Ayers, S.; Zink, D.L.; Mohn, K.; Powell, J.S.; Brown, C.M.; Murphy, T.; Brand, R.; Pretorius, S.; Stevenson, D.; Thompson, D.; Singh, S.B. Flavones from Struthiola argentea with anthelmintic activity in vitro. Phytochemistry, Nantes, v.69, n.2, p.541-545, 2008.
• ²
  Begum, S.; Ayub, A.; Siddiqui, B.S.; Fayyaz, S.; Kazi, F. Nematicidal triterpenoids from Lantana camara Chemistry & Biodiversity, Zurich, v.12, n.9, p.1435-1442, 2015.
• ³
  Camurça-Vasconcelos, A.L.F.; Bevilaqua, C.M.L.; Morais, S.M.; Maciel, M.V.; Costa, C.T.C.; Macedo, I.T.F.; Oliveira, L.M.B.; Braga, R.R.; Silva, R.A.; Vieira, L.S. Anthelmintic activity of Croton zehntneri and Lippia sidoides essential oils. Veterinary Parasitology, Amsterdam, v.148, n.3/4, p.288-294, 2007.
• ⁴
  Ferris, H.; Zheng, L. Plant sources of Chinese herbal remedies: effects on Pratylenchus vulnus and Meloidogyne javanica Journal of Nematology, Lawrence, v.31, n.3, p.241-63, 1999.
• ⁵
  Hoste, H.; Jackson, F.; Athanasiadou, S.; Thamsborg, S.M.; Hoskin, S.O. The effects of tannin-rich plants on parasitic nematodes in ruminants. Trends in Parasitology, Cambridge, v.22, p.253-261, 2006.
• ⁶
  Matos, J.M.D.; Matos, M.E.O. Farmacognosia: curso teórico – prático. Fortaleza: Edições UFC, 1989. 245p.
• ⁷
  Santos, L.A.R.; Pimenta, L.P.S.; Boaventura, M.A.D. Acetogeninas de anonáceas bioativas isoladas das sementes de Annona cornifolia A. St. Hil. Revista Brasileira de Plantas Medicinais, Botucatu, v.9, n.3, p.48-51, 2007.
• ⁸
  Silva, V.C.; Carvalho, M.G.; Borba, H.R.; Silva, S.L.C. Atividade anti-helmíntica dos flavonoides isolados das raízes de Andira anthelmia (Leguminosae). Revista Brasileira de Farmacognosia, Curitiba, v.18, n.4, p.573-576, 2008.

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  10 Jul 2019
• Data do Fascículo
  Apr-Jun 2019

Histórico

• Recebido
  15 Maio 2017
• Aceito
  29 Abr 2018