Ao Editor
A Formação de médicos generalistas tem absorvido importante atenção das autoridades do ensino médico em nosso país. De fato, parece ter alcançado o consenso a orientação de criar condições e oportunidades para o preparo de profissionais capazes de enfrentar com desembaraço e eficiência a rotina do atendimento clínico geral de uma população cuja clientela é constituída de crianças, mulheres grávidas, pacientes cirúrgicos e da clínica geral. Para atender a uma comunidade desta natureza, idealizou-se o médico generalista a quem se proporcionaram conhecimentos nas áreas da pediatria, ginecologia-obstetrícia, cirurgia geral e clínica médica. Entretanto, nossas autoridades do ensino médico não se aperceberam ou não dispensaram a devida importância ao fato de que, em cada 100 pessoas que procuram o médico generalista, 10 por cento apresentam alguma forma de incapacidade física, carecendo de cuidados e de tratamento fisiátrico.
Ora, é preciso que se entenda que a formação do médico generalista exclusivamente nas áreas da pediatria, ginecologia-obstetrícia, cirurgia e clínica geral, tal como é recomendada hoje - não é suficiente para seu adequado desempenho profissional na atual realidade brasileira.
Por causa do contingente de pessoas sofrendo deficiências físicas produzidas por doenças reumáticas, neurológicas, pneumológicas, ortopédicas, cardíacas e outras, torna-se necessário que o médico generalista receba também noções práticas gerais sobre como proceder em relação a uma criança deficiente física ou a um adulto incapacitado por doença ou trauma.
Entre nós, é muito conhecida a freqüência das encefalopatias crônicas da infância, de certas afecções paralíticas, de desvios posturais que afetam a população infantil. Igualmente não escapa ao conhecimento de todos a existência de grande número de pacientes neurológicos, reumáticos, ortopédicos que procuram o médico para tratamento de suas deficiências motoras incapacitantes.
Segundo a Organização Mundial da Saúde e a Rehabilitation International, são 12 milhões de brasileiros nessas condições, vivendo em maioria sem o atendimento apropriado. Seria, portanto, extremamente recomendável que as faculdades de medicina incluíssem em seus currículos escolares um programa mínimo de aulas prático-teóricas sobre o tratamento fisiátrico das incapacidades físicas mais comuns na infância e na idade adulta. Tal programa de aulas poderia ser administrado através de um curso compacto constituído pelos seguintes temas:
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Exame do paciente incapacitado com vistas a um programa de reabilitação. Elegibilidade para tratamento. Noções gerais sobre um programa de reabilitação;
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Noções gerais sobre os agentes físicos e seu emprego no tratamento das doenças. Efeitos, técnicas de tratamento e indicações;
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Semiologia fisiátrica geral. Teste muscular manual, Goniometria, Exame de Postura, Diagnóstico elétrico clássico;
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Noções gerais sobre Massoterapia e sobre Exercícios terapêuticos;
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Noções gerais sobre próteses, órteses, cadeiras de rodas, bengalas, muletas e outras ajudas mecânicas;
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Noções gerais sobre métodos especiais de tratamento;
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Fisiatria na paralisia cerebral e na deficiência mental;
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Fisiatria aplicada ao paciente reumático;
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Fisiatria aplicada ao paciente traumato-ortopédico;
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Fisiatria aplicada ao paciente neurológico;
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Noçôes sobre estimulação essencial;
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Enfermagem de reabilitação.
O programa supracitado seria administrado de forma intensa e teria um caráter eminentemente prático-teórico oferecendo o máximo de aproveitamento para o jovem futuro médico.
Tratando-se de um programa compacto, teria a virtude de não sobrecarregar em demasia o currículo escolar da Faculdade de Medicina. Por outro lado, considerando que a formação do médico generalista estaria mais completa, ter-se-ia a certeza de assim estar melhor atendendo às necessidades reais da população.
R.E. de Araujo Leitão
Docente Livre e Professor Adjunto de Medicina Física e Reabilitação da UFRJ
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
28 Jul 2021 -
Data do Fascículo
Jan-Apr 1984