Monitoria de metodologia científica: relato de experiência em um componente curricular de saúde coletiva

RESUMO

Introdução:

A monitoria acadêmica é uma ferramenta complementar à construção do conhecimento dos discentes do ensino superior. Apresenta-se como mecanismo de auxílio e de orientação para os monitorados ao mesmo tempo que desenvolve as habilidades comunicacionais para além dos saberes essenciais do monitor. O presente trabalho tem como objetivo relatar uma experiência de monitoria com diferentes estratégias de ensino e de avaliação por meio de metodologias ativas, aplicando atividades teóricas e práticas interdisciplinares para estudantes de Medicina.

Relato de experiência:

Este relato de monitoria, realizado em um componente curricular de saúde coletiva da graduação em Medicina de uma universidade pública federal do Rio Grande do Sul, apresenta dados quantitativos e discute os conhecimentos adquiridos com a aplicação das atividades do projeto de ensino.

Discussão:

Analisaram-se quatro semestres, em que se compararam registros realizados em formulários on-line sem identificação dos respondentes referentes à participação das monitorias de caráter teórico e prático, sendo a maior adesão de participantes nas atividades práticas (42,31% versus 25,55%). Depreenderam-se as principais motivações dos discentes para buscar a monitoria, sendo a elucidação de uma etapa da simulação de pesquisa a mais requisitada. Houve predominância dos valores próximos ao máximo em monitorias práticas em relação às teóricas na avaliação geral delas, sendo considerados três aspectos: importância da atividade; clareza e didática da monitora; esclarecimento de dúvidas. Percebeu-se que o tempo destinado aos encontros variou de forma considerável, sendo mais frequente destinar 60 minutos às atividades teóricas e 30 minutos às atividades práticas. A comparação da proposta de atividades práticas e teóricas aplicadas por meio de metodologias ativas no projeto de monitoria evidenciou o quanto o discente, monitor ou monitorando, beneficia-se do processo de ensino-aprendizagem quando inserido como responsável principal pela própria educação.

Conclusão:

Na perspectiva da monitora, houve um fortalecimento das próprias competências relacionadas ao saber científico, assim como se observaram um nivelamento da turma em relação aos conteúdos de base e a progressão gradual da aquisição de um raciocínio crítico do estudante da área da saúde.

Palavras-chave:
Monitoria; Metodologia Científica; Medicina; Saúde Coletiva; Educação Médica

ABSTRACT

Introduction:

Academic monitoring is used as a complementary tool for knowledge construction among higher education students. It works as a mechanism to aid and guide the students, as well as to develop the communication skills beyond the essential knowledge of the monitor. This study aims to report a monitoring experience using different teaching and evaluation strategies through active forms of learning, applying interdisciplinary theoretical and practical activities for medical students.

Experience report:

This experience report, developed in a public health curricular component of a medical undergraduate course at a federal public university in Rio Grande do Sul, Brazil, presents quantitative data and debates the knowledge acquired through the implementation of education project activities.

Discussion:

Four semesters were analyzed, comparing records obtained from online forms without identification of the respondents related to the participation of the theoretical and practical monitoring sessions, with a higher participation rate in practical activities (42.31% vs. 25.55%). The main motivations for students looking for monitoring meetings were identified, with explanation of a research simulation stage being the most requested one. Practical monitoring sessions received higher evaluations compared to theoretical ones, considering three aspects: activity importance, clarity and didactics of the monitor, and elucidation of doubts. It was observed a relevant variation in the time assigned to the meetings, with a more frequent duration session of 60 minutes for theoretical activities and 30 minutes for practical activities. The comparison of the proposed practical and theoretical activities implemented through active forms of learning in the monitoring project evidenced the knowledge addition for both students, monitor or monitored, in the teaching-learning process when they are actively engaged in their own education.

Conclusion:

From the monitor’s perspective, there was a strengthening of their own competencies related to scientific knowledge. Furthermore, a leveling of the class was observed regarding the basic content and a gradual progression towards critical thinking among health area students.

Keywords:
Monitoring; Epidemiologic Methods; Medicine; Public Health; Medical Education

INTRODUÇÃO

A monitoria acadêmica atua como complementação da disciplina, oportunizando a construção contínua do conhecimento ao adotar diferentes abordagens de ensino, sendo possível produzir novas formas de aquisição da informação+ por meio de estudo autodirigido. Devido à importância da monitoria acadêmica, desde 1968², por meio do artigo 41 da Lei Federal nº 5.540 e posteriormente pela Lei Darcy Ribeiro³, ela está inserida no ensino superior promovendo e ampliando a rede de construção do saber, sendo o monitor um facilitador desse processo⁴. Compreende-se o monitor como a figura catalisadora no processo de ensino e aprendizado do binômio discente-docente. Já o monitorado é o discente cursista do componente curricular a quem os serviços do monitor se destinam, recebendo apoio, suporte e orientação para melhor desempenho.

O monitor beneficia-se ao ser mais exposto ao conteúdo em questão, necessitando dominá-lo para a construção das atividades administradas⁴. Aos monitorandos, as vantagens são ainda mais evidentes, uma vez que criar um espaço no qual o aluno possa interrogar, praticar e revisar os conceitos com um menor grau de receio⁵ é propiciado principalmente a quem possa se sentir desmotivado a procurar o docente tanto pela complexidade do conteúdo quanto pelo conhecimento superior do tema que esse docente possa dominar⁴. Assim, a inserção da monitoria em uma graduação em Medicina estruturada em metodologia ativa visa à potencialização do aprendizado de todos os envolvidos, indo de encontro ao perfil de discente mais passivo visto nas metodologias tradicionais^6),(7.

A monitoria, aqui apresentada, surge na circunstância de distanciamento discente-docente, tanto pelo contexto acadêmico devido às relações não horizontais, possíveis causadoras de desconfortos⁴, quanto pelo cenário da pandemia de COVID-19, responsável por um isolamento físico. Por esses motivos, criaram-se estratégias para mitigar os distanciamentos a fim de formar uma ponte para o aprofundamento do conhecimento adquirido^7),(8. No processo de transição do ensino remoto para o presencial, as tecnologias implementadas, beneficiadoras do processo de educação, permaneceram como ferramentas de ensino⁶. Nesse sentido, já não se trabalhava apenas com a redução da distância aluno-professor devido às aulas remotas, mas com a melhora da assistência educacional de forma contínua.

Muito além dos instrumentos de melhoria, oportunizou-se espaço para desenvolver outros aspectos, como liderança, organização e capacidade de resolução de problemas, habilidades das soft skills⁹ necessárias na formação do profissional de saúde contemporâneo e limitadas pela grade curricular obrigatória¹⁰. O componente curricular dessa monitoria integra verticalmente as habilidades técnicas, hard skills, ao conectar o domínio do raciocínio científico acadêmico com a aplicação na clínica¹⁰, de modo a fundamentar a importância da forma como as descobertas das pesquisas acadêmicas orientam as condutas clínicas de um profissional crítico¹¹.

O monitorado ativa a visão crítica e reflexiva¹² ao criar, implementar, exercer e avaliar ações que o afastam da transmissão mecânica de informações^12),(13. Simultaneamente, o monitor experiencia habilidades de docência e de criatividade estimuladas pela necessidade de produção de materiais, organização de atividades e abordagem aos discentes do componente. Logo, ao transgredir a aquisição de conhecimento técnico, formam-se médicos capazes de estruturar plano individualizado de cuidados com as melhores evidências atuais¹⁰.

Este artigo tem como principal objetivo relatar uma experiência de monitoria na graduação em Medicina, no componente curricular de saúde coletiva, de uma universidade pública federal do Rio Grande do Sul (RS), com diferentes estratégias de ensino e de avaliação por meio de metodologias ativas, aplicando atividades teóricas e práticas interdisciplinares.

RELATO DE EXPERIÊNCIA

Trata-se de um relato de experiência de caráter descritivo, a partir da vivência da discente monitora, com a finalidade de discutir qualitativa e quantitativamente os conhecimentos adquiridos com a aplicação das atividades de monitoria do componente curricular Saúde Coletiva III no período de junho de 2021 a fevereiro de 2023, referente aos semestres de 2021 e 2022 das turmas de graduação em Medicina. Esse projeto de ensino esteve vinculado a uma universidade pública federal do RS, resultado de uma política de expansão e renovação das instituições federais de educação superior¹⁴, prevendo ampliar a produção científica em áreas interiorizadas no país³. Esse serviço pedagógico permite ao acadêmico monitor desenvolver mecanismos didáticos para melhor aproveitamento da disciplina pelos discentes⁵, tendo como importante incentivador da construção científica o Projeto de Desenvolvimento Acadêmico (PDA), uma política de fomento a projetos internos da faculdade¹⁵.

Essa disciplina, ministrada para acadêmicos do terceiro semestre, contém carga horária (CH) total de 120 horas distribuídas em 90 horas de CH teórica e 30 horas de CH prática. Objetiva-se apresentar as metodologias de pesquisa quantitativa e qualitativa; demonstrar a importância da epidemiologia e da bioestatística na análise da situação de saúde da população; ilustrar o processo de transição demográfica das últimas décadas correlacionando o impacto no perfil epidemiológico dessas populações aos principais agravos em saúde; ensinar a análise de dados estatísticos e informações ao articular aspectos biológicos, psicológicos, socioeconômicos e culturais relacionados ao adoecimento; entre outros. A organização da monitoria estruturou-se com o desenvolvimento de um planejamento prévio para que dialogasse diretamente com as aulas no plano de ensino, propondo o formato da atividade mais adequado para o objetivo a ser alcançado.

Essas monitorias foram classificadas em dois tipos: teóricas e práticas (Figura 1). As atividades teóricas abordaram a construção de seminários sobre perfil de saúde da população brasileira e dúvidas sobre o material de leitura. Já as atividades práticas contemplaram monitorias relacionadas à simulação da pesquisa desenvolvida pelo pequeno grupo ao qual o discente estava vinculado. Essas atividades passaram por três momentos principais: definições e delimitações iniciais (temática e objetivos), levantamento de dados e, por fim, desenvolvimento e conclusão. No geral, a abordagem de aprendizagem variou, ocorrendo ora monitorias para toda a turma (discussão de dúvidas, debates da literatura acadêmica indicada e revisões gerais), ora agendamentos de horários para os grupos de trabalho (quatro equipes definidas no início do semestre que atuam na elaboração dos seminários e no desenvolvimento da simulação de pesquisa). Ademais, os encontros não tinham caráter obrigatório ou influência direta, vinculada à presença, na nota final do componente.

Figura 1
Estruturação das monitorias teóricas e práticas de Saúde Coletiva III com a respectiva temática trabalhada na atividade, correlacionando a adesão percentual dos discentes às atividades em todos os semestres.

Agruparam-se todas as monitorias comuns aos quatro semestres mencionados, sendo enumeradas de acordo com a temática (Figura 1). Dentre as de caráter teórico, as monitorias 1 e 8 foram de esclarecimento sobre textos indicados como base do conteúdo; a monitoria 5 orientou a busca por materiais complementares; e a monitoria 7 auxiliou na estruturação dos seminários. Da mesma forma, quando agrupadas as monitorias de caráter prático, a monitoria 2 orientou para a definição do tema e formulação das hipóteses; a monitoria 3 visou à construção do instrumento de coleta de dados; a monitoria 4 abordou as estratégias de divulgação do questionário; a monitoria 6 propôs monitoramento dos dados coletados; a monitoria 9 objetivou a análise dos dados; a monitoria 10 trabalhou a interpretação dos achados; e, por fim, a monitoria 11 orientou a redação do relatório final a ser entregue.

Para a organização e comunicação monitora-aluno, utilizou-se a plataforma Google Classroom para registro e repositório de materiais. Realizaram-se apenas encontros de forma remota (on-line) por meio da plataforma Google Meet, sendo o cronograma previamente divulgado. Para a construção de materiais de revisão e de diálogos mais expositivos, utilizou-se a plataforma de design Canva. Para a avaliação das atividades de monitoria, a plataforma Google Formulários foi elencada a fim de criar instrumentos organizados e de fácil acesso a todos. O instrumento foi organizado com perguntas objetivas relacionadas à avaliação do conteúdo abordado na monitoria, ao comportamento da monitora e à monitoria no geral. As respostas foram estruturadas na escala Likert de 9 pontos (de 1 a 9), sendo atribuídas as maiores pontuações às avaliações mais positivas do parâmetro.

A avaliação das atividades pela monitora foi realizada a partir da análise das respostas para compreender as experiências dos discentes e gerar uma devolutiva para aprimoramento de ações futuras da monitoria. Enquadrando-se, assim, no item VIII do artigo 1º da Resolução nº 510, de 7 de abril de 2016, do Conselho Nacional de Saúde. As informações coletadas não possuíam dados identificatórios dos sujeitos que participavam da atividade, os quais eram convidados, ao final da atividade, a responder voluntariamente às questões enviadas pelo link por meio do chat do Google Meet. Além disso, os e-mails institucionais e as mensagens pela rede social WhatsApp serviram como meios de comunicação mais direta e individualizada tanto para lembretes de atividade e recado quanto para espaço de esclarecimentos de dúvidas.

Utilizou-se o software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) como ferramenta para análise dos dados coletados nas simulações de pesquisa do componente e para as discussões nas monitorias práticas. Além de ter sido uma ferramenta de ensino aos monitorados, o software foi utilizado para o estudo dos achados deste manuscrito. Analisaram-se os resultados por frequências simples e relativa (porcentagem), assim como para as variáveis numéricas com distribuição normal apresentaram-se a média e o desvio padrão. Testes estatísticos para demonstrar os resultados alinhados com os objetivos predeterminados não foram necessários.

Além desses encontros pré-agendados, também se ofertaram monitorias assíncronas em que os discentes tinham um período para enviar ao monitor os materiais produzidos a serem avaliados antes de o docente o fazer. Objetivou-se auxiliar na construção dos textos e dos instrumentos de simulação de pesquisa com orientações de melhorias e sugestões de mudanças a fim de tornar os encontros mais eficientes. Como essas oportunidades assíncronas não tinham avaliação de satisfação da monitoria, não foram contempladas nas discussões.

Além dos encontros, os estudantes acessaram materiais de resumo das explicações, construídos pela monitora, referentes aos conteúdos trabalhados em aula e aplicados na prática das análises dos dados. Ademais, em atividades extras também eram estimulados por vídeos tutoriais produzidos pelo docente para orientá-los quanto aos recursos do software usado. Esses materiais eram usados para consultas e estudos posteriores. Todos esses mecanismos foram estruturados a fim de reexposição ao conteúdo de diferentes formas.

DISCUSSÃO

No geral, em relação à quantidade total de discentes ativos em cada semestre do componente, foram 25 alunos no semestre 2021/1 e 24 no semestre 2021/2, 25 em 2022/1 e 20 em 2022/2. Em relação às monitorias, contabilizaram-se 11 atividades comuns a todos os semestres analisados, nomeadas de acordo com a temática abordada.

Quando agrupadas todas as monitorias de caráter teórico comuns aos quatro semestres discutidos, destaca-se a porcentagem de participação (Figura 1) dos discentes com menor adesão (15,96%) na monitoria 5 para orientação na busca por materiais complementares e de maior presença (40,58%) na monitoria 7 com a finalidade de auxiliar na estruturação dos seminários. Da mesma forma, quando analisadas as monitorias de caráter prático comuns, salientam-se a maior participação (65,31%) na monitoria 4 referente à abordagem de estratégia de divulgação do questionário e a menor adesão (26,53%) na monitoria 6 que propôs monitoramento dos dados coletados.

As monitorias com caráter teórico apresentaram um percentual médio de 25,55% em relação à participação, expressamente menor quando comparadas às de caráter prático com percentual médio de 42,31%. Assim, o maior quórum de monitoria de cunho prático vai ao encontro da necessidade do monitorando por auxílios em atividades mais dependentes da aplicação do conhecimento em um processo que refletem diretamente no produto final a ser avaliado¹⁶ em detrimento de atividades de caráter teórico.

Independentemente de ser prática ou teórica, a maior motivação da monitora era contribuir para formação de um profissional de saúde hábil em aplicar de forma crítica a teoria apresentada em pesquisas científicas no contexto da população em que estiver inserido. Nesse sentido, o formato da monitoria guiou-se nos fundamentos da metodologia ativa que a graduação em Medicina desse curso preconiza. A continuidade do processo de ensino-aprendizagem de estudantes que assumem o papel de instituidor do próprio conhecimento e não apenas receptor de informações¹² vai ao encontro das reformas em educação de saúde discutidas para as áreas de formação de profissionais da saúde como previsto nas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN)¹⁷.

A estratégia de problematização a fim de motivar o discente a analisar, refletir e decidir sobre determinada situação apresentando envolvimento ativo no processo de formação prevê maior autonomia e mais controle do monitorado diante da aquisição de conhecimento^13),(18. Além disso, as diferentes formas de apresentação do conteúdo ofertadas também pretendiam consolidar esse aspecto. Diante disso, a construção de materiais visou estimular a leitura como forma complementar de estudo a fim de aumentar a frequência da exposição, visto que em aula do componente priorizava-se desenvolvimento cognitivo por meio, principalmente, da audição e da visão do próprio conteúdo¹⁹.

É relevante pontuar como a oferta da atividade no formato remoto facilitou o atendimento e o desenvolvimento desse serviço pedagógico. A maioria das propostas pautava-se pela análise de dados e informações coletados em registros digitais, e, assim, o compartilhamento de telas para mostrar materiais entre monitor-aluno foi facilitado por esse formato. A princípio, essa decisão decorrente da necessidade de afastamento social devido à pandemia forneceu mais assistência nos semestres de 2021, mas o formato se manteve pela adequação, adesão e efetividade. Além disso, dois outros fatores que contribuíram para o processo foram o não deslocamento para os espaços físicos acadêmicos, dispensando gastos financeiros, e a adequação mais flexível às agendas dos discentes, por suprimir tempo de deslocamentos.

No desenvolvimento das demandas de monitoria, os resultados dos formulários de avaliação dos momentos síncronos guiavam as possíveis mudanças entre semestres, sendo um dos pontos para compreensão das maiores necessidades dos monitorados o aspecto relacionado aos motivadores para a adesão às atividades. Foram elencados seis aspectos (Tabela 1), destacando-se como principais: 48,7% de elucidação de uma etapa da simulação de pesquisa; 21,7% de dúvidas sobre o texto indicado; 9,7% de orientação na redação do relatório final de simulação de pesquisa.

Tabela 1
Maiores motivações indicadas pelos monitorados para participação nas monitorias teóricas e práticas de Saúde Coletiva III em todos os semestres.

Tipo de monitoria	Motivadores	Frequência	Porcentagem
Prática	Elucidar uma etapa da simulação de pesquisa	110	48,7
Teórica	Dúvidas sobre o texto indicado	49	21,7
Prática	Redação do relatório da simulação de pesquisa	22	9,7
Teórica	Compreensão do material didático	14	6,2
Prática	Apropriação de ferramentas para pesquisa	11	4,9
Teórica	Explicação mais didática	11	4,9
Teórica ou prática	Outros	8	3,9

• Fonte: Elaborada pelos autores.

As reuniões remotas entre docente e monitor visavam às mudanças na atividade de ensino de acordo com as necessidades das turmas, sendo pautadas nos feedbacks dos monitorados e na análise do compilado de respostas dos formulários. Por exemplo, as dúvidas apresentadas nas monitorias variavam do não entendimento completo de orientações fornecidas em aula ao uso das ferramentas para a análise de dados. A frequência com que os discentes questionavam as etapas das atividades a serem cumpridas e que já haviam sido explicitadas repetidas vezes em aula foi um ponto recorrente, sendo pauta de discussão no planejamento docente-monitor²⁰. Quando detectado esse déficit, suspeitou-se primeiro de falha dos comunicadores (docente e monitora), porém percebeu-se que ambos repetiam as informações sem ruído de mensagem considerável, sendo uma das possibilidades a falta de atenção dos discentes.

Ainda que aulas e monitorias baseadas em metodologia ativa demandem maior participação dos discentes, há um limite na captura de atenção deles às atividades, independentemente de elas serem presenciais ou remotas²¹. Por esse motivo, a monitoria adotou atendimentos mais curtos, de 30 minutos para cada grupo de trabalho. Nota-se que a maioria dos atendimentos das atividades práticas (46,8%) foi realizada nos 30 minutos propostos, e a variação de dez minutos a mais ou a menos contemplou a maior parte das outras atividades práticas propostas (Gráfico 1). Quanto às teóricas, por serem ofertadas para realização síncrona com a turma completa, observa-se maior porcentagem de atendimentos mais longos, sendo o de 60 minutos com maior frequência (24%).

Gráfico 1
Comparativo da frequência das categorias de tempo de duração das monitorias teóricas e práticas do componente curricular Saúde Coletiva III em todos os semestres.

Em relação à avaliação de cada atividade de monitoria síncrona, os monitorados foram questionados sobre três pontos considerados fundamentais para as mudanças de conduta da monitora: 1. a importância da atividade para o aprendizado, 2. a clareza e didática da monitora, e 3. a colaboração da monitoria para sanar dúvidas (Tabela 2). A fim de compreender a relevância desses pilares para as atividades, agruparam-se as avaliações obtidas nos dois grandes grupos. Para as monitorias teóricas (N = 50), a importância da atividade para o aprendizado teve média 8,82 (DP = 0,56); para a clareza e didática da monitora, a média foi de 8,88 (DP = 0,627); e, para a colaboração da monitora para sanar dúvidas, a média foi de 8,88 (DP = 0,627). Quanto às monitorias práticas (N = 222), a importância da atividade para o aprendizado teve média 8,89 (DP = 0,422); para a clareza e didática da monitora, a média foi de 8,96 (DP = 0,299); e, para a colaboração da monitora para sanar dúvidas a média foi de 8,93 (DP = 0,397).

Tabela 2
Avaliação pelos monitorados de aspectos gerais das monitorias teóricas e práticas de Saúde Coletiva III em todos os semestres.

		Importância da atividade para o aprendizado	Clareza e didática da monitora	Colaboração da monitoria para sanar dúvidas
Monitoria teórica	N	50	50	50
	MÉDIA	8,82	8,88	8,88
	DP	0,56	0,627	0,627
Monitoria prática	N	222	222	222
	MÉDIA	8,89	8,96	8,93
	DP	0,422	0,299	0,397

• N: amostra; DP: desvio padrão.
• Fonte: Elaborada pelos autores.

Quando essas avaliações são comparadas entre as atividades práticas e teóricas, percebe-se que a satisfação atribuída à importância da atividade para o aprendizado e à clareza e didática da monitoria é maior nas atividades práticas (Gráfico 2). Já o quesito colaboração da monitoria para esclarecer dúvidas foi mais bem pontuado nas atividades teóricas.

Gráfico 2.
Avaliação das atividades práticas e teóricas da monitoria de Saúde Coletiva III pelos monitorados em todos os semestres.

Essas demonstrações permitem inferir o quanto o aspecto prático mostrou-se mais relevante (Tabela 1) como demonstrado pela frequência dos discentes nesse tipo de atividade (Gráfico 1) que recebeu as maiores pontuações nas avaliações (Tabela 2), evidenciando o aspecto de maior relevância, importância e atratividade para as necessidades dos monitorados (Gráfico 2). Com a experiência dessas atividades, compreendeu-se quão fundamental é centralizar o discente no cenário do próprio aprendizado, já que ele é a principal peça para a construção da própria formação profissional²².

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Percebeu-se, por parte da monitora, um fortalecimento das próprias competências relativas ao raciocínio da produção de pesquisa e aos aspectos de análise de informações em saúde, consolidando ainda mais a construção do saber científico. Ademais, podem-se desenvolver habilidades comunicacionais ao explicar o conteúdo, ao treinar a gestão para solucionar eventuais intercorrências, ao estimular novos contatos pessoais com futuros colegas de profissão, de modo a desenvolver as soft skills. A monitoria foi além das habilidades da graduação à medida que se conquistou aprendizado significativo no exercício de ensinar.

Em relação ao monitorando, tanto a oferta de ferramenta para desenvolver o conhecimento da turma referente a esses conteúdos de base quanto a colaboração para estimular a construção de um conhecimento interdisciplinar no que concerne à interface entre as áreas de epidemiologia, bioestatística, metodologia de pesquisa, análise de dados e vigilância em saúde foram abrangidas nessa atividade de ensino. Esse investimento na progressão gradual de desenvolvimento de caráter crítico do estudante da área da saúde consolida uma formação generalista, humanista e reflexiva da atuação de um futuro profissional capaz de utilizar as ferramentas fornecidas pela universidade para desempenhar uma função social pautada em bases científicas.

AGRADECIMENTO

Agradecemos à Fundação Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA).

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• FINANCIAMENTO

  A monitora foi bolsista do Projeto de Desenvolvimento Acadêmico (PDA) vinculado à Fundação Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA) com registro SAP 2022.EN.UR.831.

Editado por

Editora-chefe: Rosiane Viana Zuza Diniz. Editora associada: Cristiane Barelli.

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  14 Jun 2024
• Data do Fascículo
  2024

Histórico

• Recebido
  19 Jul 2023
• Aceito
  01 Abr 2024