RESUMO
Este estudo explora como trajetórias e ideologias influenciam o ativismo internacional de sindicatos de metalúrgicos brasileiros da Volkswagen do Brasil entre 1999 e 2022. Analisamos cinco sindicatos usando entrevistas e documentos. O Sindicato dos Metalúrgicos do ABC destaca-se na internacionalização; outros têm níveis variados, refletindo suas histórias e ideais, conforme previsto pela teoria do confronto político.
PALAVRAS-CHAVE: ação coletiva transnacional; sindicalismo; globalização; comparação; Volkswagen
ABSTRACT
This study investigates how trajectories and ideologies shape the international trade union activism among Volkswagen of Brazil metalworkers from 1999 to 2022. We analyzed five unions through interviews and documents. The Metalworkers Union of ABC stood out in internationalization, while others exhibited different levels according to their histories and ideals, such as highlighted by the political confrontation theory.
KEYWORDS: transnational collective action; trade unionism; globalization; comparison; Volkswagen
INTRODUÇÃO
As últimas décadas testemunharam mudanças centrais no mundo do trabalho. O trabalho fabril, historicamente organizado em sindicatos, passou a ser cada vez mais ditado por empresas transnacionais. Estas se utilizam da configuração global dos mercados, por exemplo, para pressionar e cortar custos laborais, implementar novas políticas trabalhistas, dentre outras medidas. Como resposta, trabalhadores e sindicatos também passaram a construir organizações globais. No entanto, tal articulação é evidentemente complexa e aberta a diferentes caminhos. Organizar-se ou não em termos internacionais, e em que medida, torna-se cada vez mais um problema de primeira ordem para trabalhadores e sindicatos (Anner, 2003).
Visando enriquecer o diálogo acadêmico subjacente, o presente artigo se alinha à temática dos determinantes da ação sindical em escala transnacional, sondando os elementos que condicionam e viabilizam a coordenação internacional da classe trabalhadora. A indagação primordial deste estudo pode ser articulada da seguinte forma: qual o impacto das variadas trajetórias - compreendidas como a experiência pregressa de trabalhadores e entidades sindicais - e ideologias no grau de ativismo sindical internacional de uma determinada entidade sindical de origem essencialmente nacional?
Para elucidar essa questão, concebemos uma investigação histórico-comparativa concernente aos elementos que conduziram distintas entidades sindicais a variados patamares de internacionalização. A análise focou as entidades que representam os sindicatos brasileiros associados à Volkswagen (VW) do Brasil e sua respectiva mobilização em escala global ao longo do tempo.
Como hipótese norteadora, sustentamos que os sindicatos brasileiros associados à VW frequentemente se engajam (ou não) em mobilizações sindicais transnacionais em função das diferentes trajetórias e ideologias construídas ao longo do tempo em cada organização sindical. Postulamos também duas hipóteses mais específicas: 1) a propensão à ação em escala global é diretamente proporcional à extensão com que a trajetória de uma entidade sindical se associa a atores internacionais ou agentes nacionais com experiência em coordenação transnacional; e 2) analogamente, convicções ou paradigmas mais cosmopolitas, que compreendem a internacionalização como componente da prática sindical, induzem a uma maior propensão à mobilização em âmbito internacional.
Além da introdução, este texto se estrutura em quatro seções. A seguir, na seção teórica, discutimos em detalhes o debate acadêmico que informa o artigo, explicitando nossa escolha por uma abordagem calcada em trajetórias e ideologias. Colocado o problema e a teoria, na seção metodológica expomos nossa concepção comparativa e o desenho da pesquisa, bem como nossos métodos de coleta e análise dos dados. A seção empírica que se segue reconstitui como os cinco sindicatos vinculados à VW do Brasil negociaram com a empresa nos últimos anos com ênfase em seus esforços coletivos transnacionais. Na última seção, discutimos os achados comparativamente. Na conclusão, oferecemos uma síntese do artigo à luz do enquadramento adotado e refletimos sobre a sua contribuição para esse debate teórico de fundo.
OS DETERMINANTES DA AÇÃO TRANSNACIONAL
Desde a década de 1980, estudiosos no domínio da sociologia do trabalho têm empenhado esforços analíticos para elucidar os impactos da globalização econômica sobre a classe trabalhadora. Notavelmente, uma considerável parcela da literatura acadêmica concentra-se nos efeitos decorrentes da reconfiguração espacial da produção, sobretudo quando promovida por corporações de caráter transnacional. Esses estudos evidenciam que os mecanismos convencionais de ação coletiva, que antes se limitavam predominantemente ao território dos Estados-nação e, por conseguinte, a certas regiões específicas, têm passado por transformações (Piore; Sabel, 1986; Evans, 2010).
Nessa conjuntura, alguns acadêmicos têm se debruçado sobre a capacidade intrínseca dos trabalhadores de potencializar a amplitude de sua mobilização coletiva, migrando para estruturas organizacionais e normativas de caráter transnacional mais adequadas às exigências do capitalismo contemporâneo. Concomitantemente, é perceptível uma articulação crescente de trabalhadores e entidades sindicais em direção a mecanismos inovadores de representação, como denotam a instauração de redes sindicais de amplitude internacional, Conselhos de Empresa Europeus (CEEs), Comitês Mundiais de Trabalhadores (CMTs) e a consolidação de sindicatos globais (Ramalho, 2014; Ford; Gillan, 2015).
Além desse escopo investigativo mais amplo, há uma literatura nascente que versa sobre os determinantes específicos que catalisam a mobilização sindical em um espectro transnacional. De maneira geral, esse diálogo acadêmico é pautado por distintas interpretações sobre a natureza da ação coletiva. Uma das correntes prevalentes postula que a ação dos trabalhadores é permeada por uma lógica intrinsecamente racionalista, em que predomina a avaliação da disponibilidade de recursos e do contexto exógeno, objetivando a maximização dos benefícios resultantes de suas intervenções e a mitigação dos custos associados1 (D’Amours, 2010; Hennebert; Dufour-Poirier, 2013).
Uma segunda corrente teórica se distingue da primeira ao postular que a ação laboral é permeada por experiências de classe idiossincráticas que configuram as perspectivas e análises sobre a imperatividade de articulações em uma dimensão transnacional (Thompson, 2012). Sob essa ótica, a mobilização internacional deveria ser interpretada à luz dos repertórios culturais inerentes aos trabalhadores, transcendendo uma abordagem estritamente racionalista. Dessa forma, enquanto a primeira escola teórica se ancora em “teorias racionais da ação”, a segunda adota perspectivas de ação de caráter “orientacional cultural”2 (Hamdan, 2023, p. 43).
Posicionando-nos no arcabouço teórico da segunda corrente supracitada, destacamos a relevância das trajetórias e ideologias, adotando o conceito de quadros interpretativos dos atores sociais (Tarrow, 2009). Estes são compreendidos como agrupamentos de significados e interpretações consensualmente aceitos pelos indivíduos, em correlação tanto com a ideologia quanto com a vivência dos atores. Por conseguinte, tais quadros estão intrinsecamente ligados ao acervo prático acumulado ao longo da trajetória de indivíduos e organizações, bem como ao entendimento consensual entre os atores. Estes, além de serem simbolicamente construídos, são mobilizados para endossar uma determinada ordem política ou mobilização coletiva.
Observa-se uma heterogeneidade na aderência a essa internacionalização entre as distintas entidades. Conforme o arcabouço teórico eleito e, neste estudo, postulado como premissa, tal variabilidade deve ser elucidada considerando-se as distintas trajetórias e convicções ideológicas dos sindicatos. Concisamente, essas duas condições (trajetória e ideologia) são abordadas no presente trabalho como elementos constitutivos dos quadros interpretativos mobilizados por entidades e indivíduos, ou seja, sindicalistas e suas respectivas entidades representativas de classe. Assim, acreditamos que essa seja uma forma mais adequada para estudar as transformações recentes do sindicalismo transnacional.
METODOLOGIA
Nesta pesquisa adotamos um desenho histórico comparativo. Estudos dessa natureza são sugeridos quando se busca entender causas e mecanismos operantes por trás de processos sociais complexos ao longo do tempo. Inspirados pelo clássico artigo de Theda Skocpol e Margaret Somers (1980), optamos pela lógica comparativa padrão, mais especificamente por uma leitura calcada nas diferenças. Controlando a variável empresa, afinal todas as observações dizem respeito a sindicatos vinculados à VW do Brasil, enfatizamos as diferenças substanciais entre os casos, em particular de trajetória e ideologia dos sindicatos, como fatores explicativos essenciais para a ocorrência de ações transnacionais, bem como do tipo de cada ação.
De acordo com John Gerring (2016), essa abordagem metodológica se caracteriza por uma preocupação diacrônica, que busca traçar o desenvolvimento histórico do fenômeno em análise. Nós incorporamos essa perspectiva ao traçar o desenvolvimento das ações transnacionais ao longo do tempo, observando diferenças significativas entre os sindicatos. Essas diferenças derivam de variações nos agentes e em seus territórios que, por sua vez, estão associadas aos desenvolvimentos desiguais em cada região onde a empresa se estabeleceu.
O recorte empírico da pesquisa compreende o setor automotivo e, mais especificamente, a VW do Brasil. O setor automotivo é interessante para estudos comparativos pois é caracterizado, sobretudo, por diversas fábricas espalhadas pelo mundo. Esse arranjo proporciona aos sindicatos de diferentes países a oportunidade de aprendizado mútuo e a realização de ações transnacionais conjuntas. A VW foi selecionada para este estudo por ser uma das montadoras pioneiras na fabricação de veículos no Brasil, além de ser líder em vários segmentos do mercado automotivo nas últimas décadas. Por fim, a empresa apresenta um parque industrial diversificado e uma tradição institucional que oferece um ponto de partida apropriado para o estudo da transnacionalização sindical.
A pesquisa adotou os sindicatos como unidade de análise3 e incluiu todo o universo de casos relativos à empresa, isto é, os cinco casos de sindicatos com trabalhadores vinculados à VW no Brasil que representam os trabalhadores do país. Em virtude dos diferentes tempos de negociação com a VW, e de modo a facilitar o esforço comparativo, julgamos necessário delimitar um período em que a corporação já houvesse se consolidado nas cinco regiões do país. Dessa maneira, o ano 1999 foi escolhido como o ano inicial da análise, visto que foi a última data em que a empresa abriu uma nova unidade produtiva no Brasil. Para além disso, 1999 é também um marco importante para a transnacionalização da ação coletiva dos trabalhadores, uma vez que naquele ano se institucionalizou o CMT da VW. O Quadro 1 a seguir resume informações centrais sobre os sindicatos.
Os dados utilizados advêm de fontes primárias e secundárias. Os dados primários foram obtidos a partir de doze entrevistas semiestruturadas realizadas por nós4 com representantes dos sindicatos envolvidos no estudo. Três entrevistas nos foram cedidas por outros pesquisadores.5 A maioria dos entrevistados ocupou (ou ocupa) cargos nas comissões de fábrica das plantas da VW. Em consonância com a abordagem qualitativa adotada, a seleção dos entrevistados não foi orientada pela construção de uma amostra representativa da opinião média da categoria ou grupo social. Em vez disso, foram selecionados intencionalmente (purposeful sampling) (Merriam; Tisdell, 2015) aqueles que possuíam experiência na participação das representações internas no CMT.
Para realizar as entrevistas, foram utilizadas, em parte, as redes de contato constituídas pelo grupo de pesquisa do qual fazemos parte,6 bem como redes desenvolvidas7 por pesquisadores mais experientes na área de estudo em questão. Além disso, estabelecemos contato direto com os sindicatos e trabalhadores, utilizando o e-mail como meio principal de comunicação. Após rodadas de conversas exploratórias com os trabalhadores de cada região, estes nos indicaram indivíduos para serem entrevistados, seguindo uma abordagem de amostragem por indicação (ou bola de neve) (Merriam; Tisdell, 2015). Tais procedimentos foram adotados com o intuito de ampliar a diversidade de perspectivas e experiências abarcadas pelo estudo, bem como garantir uma maior representatividade dos participantes entrevistados.
Já os dados secundários foram reunidos principalmente a partir de jornais sindicais, publicações úteis para identificar ações coletivas transnacionais dos atores em questão. Ademais, foram consultados documentos como os Acordos Marco Globais (AMGs), além daqueles referentes ao CMT e ao CEE, coletados a partir do website da empresa e da base de dados da Comissão Europeia.8
Por fim, no que diz respeito à análise, empregamos a abordagem qualitativa, padrão para estudos comparativos, realizada durante (e não somente após) o processo de coleta e leitura dos documentos e das entrevistas (Merriam; Tisdell, 2015). Conforme Maria Cecília Minayo (2002), a abordagem qualitativa é particularmente adequada para a compreensão de significados, motivos e atitudes subjacentes às ações dos indivíduos. A abordagem empregada permitiu identificar tais diferenças e contextualizá-las no processo de desenvolvimento histórico dos sindicatos que representam trabalhadores da VW no Brasil.
Para auxiliar a análise, utilizamos o software NVivo para codificar temas relevantes identificados nas entrevistas. O processo de classificação foi conduzido de forma indutiva, após leituras flutuantes das entrevistas transcritas e dos dados advindos de fontes secundárias. Assim, foi possível identificar tanto os tipos de ação sindical transnacional utilizados pelos sindicatos quanto os motivos pelos quais tais organizações os empregaram (ou não).
Em uma última nota, ressaltamos que as escolhas metodológicas nesta pesquisa se assemelham às utilizadas pelo campo que se dedica a investigar a temática da ação sindical transnacional. Assim, tanto a coleta quanto a análise dos dados foram embasadas na literatura que fundamenta este trabalho (Fichter; Stevis; Helfen, 2012; Hennebert; Dufour-Poirier, 2013; Soul, 2019).
OS REPERTÓRIOS TRANSNACIONAIS USADOS ENTRE 1999 E 2022
Os meios pelos quais trabalhadores e sindicatos se engajam em ações transnacionais são notadamente variados, seja por setor, seja por empresa, dentro de um mesmo setor. Retraçar as trajetórias e as ideologias, assim como as ações e repertórios (e motivações subjacentes) empreendidos ao longo do tempo, mostrou-se crucial para responder às perguntas deste trabalho. Uma descrição detalhada seria recomendada, mas é inviável no espaço de um artigo. Assim, optamos por oferecer a comparação a partir dos repertórios adotados pelos sindicatos, sem deixar de lado a trajetória destes últimos.
Tanto nas entrevistas quanto na codificação dos dados secundários de nosso estudo, identificamos três grandes repertórios utilizados pelos sindicatos brasileiros vinculados à VW do Brasil para dar conta de ações dessa monta. São eles: o Comitê Mundial de Trabalhadores (CMT), os Acordos Marco Globais (AMGs) e as redes sindicais (formais e informais) entre sindicalistas brasileiros e estrangeiros. Iniciamos com uma breve mas necessária explicação da natureza de cada repertório. Em seguida, apresentamos e comparamos como cada sindicato recorreu (ou não) a tais instrumentos de ação coletiva. Na seção seguinte, discutimos esses achados à luz das trajetórias e da ideologia identificada em cada observação.
Comitê Mundial de Trabalhadores
Inspirado no modelo de cogestão alemão, o CMT é constituído pelos coordenadores das comissões de fábrica de todas as unidades produtivas da VW - com exceção da planta de Chattanooga, no Tennessee (Estados Unidos). O comitê é composto por 27 membros, dos quais 11 são da Alemanha, 4 do Brasil e 3 da Espanha. Os demais países têm um membro cada (Arruda, 2010, p. 128; Araujo, 2021, p. 8).
Além das reuniões que incluem todos os coordenadores, o CMT dispõe de um subcomitê ou comitê menor, composto por um representante trabalhista de cada país ou região, denominados vice-presidentes pela empresa. Em comparação com a Assembleia Geral, esse subcomitê reúne-se com maior frequência ao longo do ano, mantendo contato contínuo.
Vale destacar a estrutura hierárquica dentro do CMT. Os cargos de presidente e secretário-geral são exclusivamente preenchidos por trabalhadores de Wolfsburg, planta matriz da empresa na Alemanha. Além disso, essas posições são dotadas de assentos no Conselho de Supervisão (CS) da empresa, conferindo-lhes autoridade para intervir em matérias cruciais. A peculiaridade de ter representantes simultaneamente no CMT e no CS distingue a estrutura da VW de outras corporações. Embora o CMT desempenhe, em grande medida, um papel consultivo, a presença de membros seus no CS confere a ele uma influência trabalhista mais significativa.
Com a instauração do CMT, trabalhadores brasileiros que formaram comissões em suas unidades obtiveram representação na entidade, ou seja, o direito a participarem da organização (E. Silva, 2022). Contudo, em razão das fusões no grupo VW e a aquisição da Scania, a empresa optou por bifurcar os comitês: um voltado para automóveis e outro para caminhões e ônibus (Kondylopoulos, 2022). Essa reestruturação impactou a coordenação sindical no âmbito nacional. No Brasil, a Volkswagen Caminhões e Ônibus de Resende integra, evidentemente, o CMT de Caminhões e Ônibus, enquanto a unidade localizada no ABC integra o da planta matriz; as unidades localizadas nas demais cidades paulistas (Taubaté e São Carlos) e a planta de Curitiba fazem parte do comitê original, rebatizado de CMT de automóveis.
Consequentemente, há uma disparidade na representação dos dois CMTs. No segmento de automóveis, o Brasil possui um vice-presidente que participa ativamente das articulações internacionais. Por outro lado, no setor de caminhões e ônibus, essa figura não é evidente, consistindo o CMT apenas de representantes das fábricas brasileiras que se encontram anualmente na Alemanha.
A principal distinção entre o comitê geral e o subcomitê, conforme explicaram os sindicalistas entrevistados, reside em sua capacidade de atuação. O primeiro é primordialmente informativo e consultivo, enquanto o último é incumbido de intervenção e decisão. Os sindicalistas percebem o vice-presidente como a figura mais apta para representar os interesses nacionais, visto que ele está imerso tanto na estratégia global quanto nas nuances regionais da empresa (Larocca, 2022).
Como o CMT institucionaliza a ação internacional, o mais comum é que os dirigentes sindicais o usem como meio de obter informações e realizar consultas. No entanto, ele também foi utilizado ao longo do tempo para diminuir os efeitos da reestruturação produtiva conduzida pela empresa e preservar empregos. A seguir, relatamos alguns casos.
Na primeira década do século XXI, o SMABC, em diversas ocasiões, buscou a colaboração do CMT para contestar decisões tomadas pela VW relativas a dispensas e possíveis desativações de instalações. Em 2001, por exemplo, Luiz Marinho, então presidente do SMABC, juntamente com Mario Barbosa, representante do sindicato no CMT, foram à Alemanha para dialogar com a direção central da VW e tentar revogar 1.500 demissões, alcançando sucesso nesse intento (Anner, 2003).
No mês de julho de 2003, os operários da VW no Brasil enfrentaram um plano de reestruturação que previa o desligamento de, no total, 3.933 trabalhadores do ABC paulista e de Taubaté (C. Batista, 2022). Adicionalmente, a empresa propôs implementar o projeto Autovisão em ambas as regiões (Ramalho, 2010). Em contraposição, o sindicato organizou quinze dias de manifestações e conquistou o apoio dos trabalhadores alemães no CMT.
Naquele mesmo ano, o SMABC foi confrontado com um iminente encerramento da unidade Anchieta. Houve uma mobilização vigorosa dos trabalhadores, visando assegurar a continuidade operacional da unidade. Durante uma assembleia do CMT, a companhia apresentou a ideia de produção de um novo modelo, denominado Projeto Tupi Europa9 (Rodriguez, 2022). A produção seria distribuída nas unidades de Anchieta e São José dos Pinhais, e também em fábricas europeias da VW, como em Portugal, Eslováquia e Espanha. Em tal conjuntura, o SMABC, uma vez mais, fez valer sua influência dentro do CMT para garantir que o investimento fosse canalizado para a sua unidade de origem, salvaguardando, assim, a planta de um possível encerramento.
Em 2006, a VW sinalizou novamente a possibilidade de desativar a unidade Anchieta, além de suprimir 5 mil postos de trabalho naquela região. Em resposta, os sindicalistas do SMABC buscaram intervir via CMT. Foi cogitada uma paralisação que abrangeria as 47 plantas da VW em 19 países, totalizando uma mobilização de aproximadamente 250 mil empregados (Arruda, 2010, p. 37). No entanto, apesar da solicitação do SMABC, o CMT decidiu não tomar partido (Damasceno, 2022). Embora o resultado não tenha sido favorável, esse caso ilustra a inclinação do sindicato localizado no ABC a buscar soluções que transcendem fronteiras nacionais.
Em 2015, diante da crise que assolava o setor automotivo nacional, decorrente do desaquecimento do mercado interno brasileiro, a VW sinalizou uma vez mais que faria reduções no quadro de pessoal. Diante de tal cenário, o SMC recorreu ao CMT. Segundo declarações de um dirigente sindical, o objetivo era solicitar uma ampliação do prazo, proporcionando, assim, um tempo adequado para que os representantes dos trabalhadores pudessem negociar um acordo mais propício com a direção da empresa.
No mesmo ano, o SMSF recorreu ao CMT contra a tentativa da corporação de otimizar custos, propondo redução de turnos de trabalho, desligamentos, reduções salariais e afastamentos temporários (lay-offs), entre outras coisas. Diante desse cenário, os líderes da comissão de fábrica apelaram para o CMT para debater a viabilidade de introduzir um novo produto na região. Como ressaltou o líder da comissão de fábrica do consórcio modular (Ferreira, 2022), a produção de um novo veículo foi crucial para impedir a diminuição dos turnos de trabalho.
Ainda em 2015, o SMSC recorreu ao CMT como estratégia para negociar a captura de novos investimentos. Dada a especialização da fábrica de São Carlos na produção de motores, uma grande preocupação do sindicato é a captação de investimentos para assegurar a sustentabilidade e a continuidade de sua unidade. Conforme indicado por um dirigente local, o sindicato conseguiu persuadir a empresa a realizar um aporte financeiro na unidade de R$ 460 milhões, acompanhado da introdução de um inovador motor turbo (Neto, 2015). Tal circunstância foi descrita da seguinte maneira por um dos líderes regionais:
Hoje a gente pauta muito investimento. Estamos discutindo no CMT , foi no CMT que a gente descobriu, inclusive, que essa geração de motores - que hoje é a única que está sobrando -, que é [sic] os motores turbo, os motores três cilindros, os motores de ação direta, foi no CMT que a gente entendeu que ia estar se construindo um conjunto de fábricas para o novo modelo de motor, que ia ter Alemanha, Hungria, China e México, e não tinha São Carlos no horizonte, aí a gente foi pautar. (J. Silva, 2022)
Mais recentemente, em 2020, dada a crise econômica no Brasil decorrente da pandemia de Covid-19, a VW teve de adotar medidas restritivas. Uma das medidas anunciadas foi a redução de 35% da força laboral; houve rumores de encerramento das atividades da fábrica de Taubaté. Nesse contexto, mesmo sem intervenção direta do CMT, os trabalhadores brasileiros do SMABC, SMT, SMC, SMSC valeram-se dele para colher informações sobre a estratégia da matriz (Damasceno, 2022). O resultado foi uma negociação, mediante pacto entre as quatro plantas produtivas e a direção nacional, para que fosse introduzido um novo produto na região com o objetivo de preservar a unidade. Conforme informações fornecidas pelo sindicato, ficou decidido que a fábrica de Taubaté iniciaria a produção do modelo Polo Track, compartilhando com a planta Anchieta a manufatura do Polo. Adicionalmente, firmou-se um compromisso de diálogo com os colaboradores para a introdução de novas versões dos modelos Gol e Voyage (Kutney, 2020), que viriam a ser descontinuados nos anos seguintes.
Complementando o cenário, além da atração de novos investimentos e da garantia de estabilidade laboral por um período de cinco anos, o acordo previa, como contrapartida, a implementação de um Programa de Demissão Voluntária, o prolongamento por dez meses do período de lay-off, bem como dispositivos para a diminuição da carga horária e salarial (Kutney, 2020).
Acordos Marco Globais
Os Acordos Marco Globais (AMGs) são instrumentos de relevância nas relações trabalhistas transnacionais: permitem que sindicatos e empresas multinacionais estabeleçam diretrizes comuns em diferentes países, assegurando assim melhores condições de trabalho. No caso da VW do Brasil, três documentos são particularmente relevantes: a Carta Social, a Carta de Relações Laborais e a Carta de Educação Profissional e Treinamento.
A primeira visa a assegurar que a companhia obedeça rigorosamente aos princípios básicos estabelecidos pela Organização Internacional do Trabalho, bem como às normativas nacionais vigentes (Volkswagen, 2002; Freire, 2013). Já a segunda, que obteve adesão parcial dos sindicatos brasileiros, almeja a institucionalização das atribuições das comissões de fábrica em suas respectivas unidades produtivas (Volkswagen, 2009; 2019). Por fim, mas não menos importante, a Carta de Educação Profissional e Treinamento regula a contratação e o processo de aprendizagem na empresa (Volkswagen, 2015).
Embora exista um apelo manifesto a favor desses compromissos, há diversos níveis de adesão dos sindicatos. Enquanto o SMABC adota os três, o SMT, o SMC e o SMSC utilizam apenas os dois primeiros; em contraste, o SMSF não utiliza nenhum.
No que tange à aplicação da Carta Social por parte do SMABC, SMT, SMC e SMSC, destacam-se, entre outras coisas, a regulamentação dos trabalhadores terceirizados da VW e o cumprimento da legislação nacional. A fala a seguir, de um dirigente do SMC, é representativa da postura dos quatro sindicatos:
em diversas vezes, aqui, a gente acionou a empresa com relação a empregados terceiro [sic], empresas terceiras. Que, ao nosso ver, não estava sendo cumprida a legislação, e nós dissemos pra VW: “Ó, você tem um compromisso aqui, do Acordo Marco Internacional, que é preciso cumprir, cumprir com o terceiro, tem que respeitar a legislação. Ou vocês exigem do terceiro fazer isso, ou nós vamos cobrar da Alemanha que não estão respeitando aqui, certo?!”. Então, várias vezes tem acontecido isso da gente ver empresa terceira pagando salário menor que o salário mínimo regional, e a gente fazer a denúncia e, imediatamente, a VW cobrar e fazer cumprir aí, pelo menos o mínimo da legislação tem que ser cumprido. (Dávilla, 2022)
Outro exemplo é dado por uma reunião do CMT em 2007, quando o então vice-presidente da organização indicou o não cumprimento por parte da empresa dos acordos que garantem a sindicalização dos trabalhadores categorizados como pessoa jurídica (PJ). A declaração afirmava: “A empresa não cumpre acordos nessas questões. As PJs hoje representam uma terceirização, a Carta Social garante a sindicalização de companheiros de prestadoras de serviço, o que muitas vezes não ocorre” (SMABC, 2007).
Em comparação, no que se refere à implementação da Carta de Relações Laborais, os sindicalistas sublinham que o propósito do documento era, primordialmente, formalizar um relacionamento que já estava estabelecido. Tal perspectiva é corroborada por um dirigente de São Carlos. Em sua leitura, as “Cartas Laborais […] são um modo de oficializar essa representatividade da comissão de fábrica dentro das plantas” (Larocca, 2022). Assim, elas não modificaram a dinâmica de interação entre os trabalhadores e a administração. Isso ocorreu porque, embora a carta previsse originalmente as funções de consulta, informação e cogestão das representações nos locais de trabalho, os sindicatos brasileiros assinaram parcialmente o documento e regulamentaram apenas as duas primeiras, que já estavam em prática (Volkswagen, 2019).
Por fim, no âmbito do segmento de automóveis, o SMABC se destaca como a única entidade que adota a Carta de Educação Profissional e Treinamento. A origem desse instrumento está intrinsecamente ligada à trajetória do sindicalismo juvenil na região. O acordo foi obtido após a realização do Congresso Internacional da Juventude Metalúrgica. Esse evento, uma iniciativa da IndustriALL Global Union, em colaboração com a Fundação Friedrich Ebert e o IG Metall,10 teve a participação de jovens operários da VW da Alemanha. De acordo com os líderes sindicais da região, a Carta de Educação Profissional e Treinamento é responsável pela regularização do procedimento de aprendizagem na empresa, estabelecendo os principais padrões das condições laborais e os critérios para a efetiva integração dos aprendizes (Damasceno, 2022). Em termos mais específicos, o instrumento estipula um salário base para os aprendizes, bem como os pré-requisitos para a sua integração efetiva na empresa (Volkswagen, 2015).
Até aqui discutimos a adesão de quatro dos cinco sindicatos estudados aos AMGs. Em contraposição, o não uso desses acordos por parte do SMSF, segundo os dirigentes, é porque compete ao RH da empresa estabelecer os acordos de natureza social e laboral, e não ao sindicato, em seu modus operandi, nem às esferas representativas internas (Kondylopoulos, 2022). Embora exista uma comissão de fábrica incumbida de supervisionar a aplicação da Carta de Relações Laborais, a postura do presidente da comissão oscila entre o desconhecimento completo do documento e a visão de que se trata de mero trâmite burocrático, destituído de impacto concreto na atividade sindical.
Redes sindicais formais
O papel social exercido por rede é bastante conhecido na literatura sociológica (Granovetter, 2007). Não por acaso, o último repertório de ação coletiva identificado foram as redes sindicais. Entre as redes formais, aquelas aqui identificadas como formadas explicitamente por agentes e instituições, estão a Rede Sindical Alemã-Ibero-Americana e o sindicato global IndustriALL Global Union. A primeira foi estabelecida no começo dos anos 2000 em Buenos Aires, mas, segundo apuramos, não está mais em funcionamento (SMABC, 2005; C. Batista, 2022). Contrapondo-se ao CMT, que reúne os coordenadores das comissões de fábrica e um delegado dos trabalhadores por região, essa rede tinha como objetivo articular, além das comissões de fábrica, os sindicatos nos principais locais onde a VW opera.
A reunião inaugural resultou na “Declaração de Puebla”, que estabelece compromissos para a articulação global dos empregados da VW. O SMABC representou os trabalhadores brasileiros naquela ocasião (não há referência à presença de outros sindicatos). A convenção de 2010, realizada em Buenos Aires, centrou-se na Carta de Relações Laborais proposta pela companhia no ano anterior no cmt. Segundo o jornal dos metalúrgicos do SMC, estavam presentes os representantes de Taubaté, São Carlos e Curitiba, além do sindicato do ABC (Simec, 2010). Durante esse encontro, os trabalhadores brasileiros expressaram reservas sobre a Carta de Relações Laborais. Já em 2011, a reunião teve como foco os investimentos da empresa, dado que a VW pretendia ampliar sua produção na América Latina e, primordialmente, na China. Todos os sindicatos mencionados anteriormente marcaram presença. No entanto, conforme relataram os entrevistados (E. Silva, 2022), essa rede teve vida efêmera, desarticulando-se em etapas posteriores.
Observa-se que a rede estava vinculada a atores-chave, em particular o representante do IG Metall de Wolfsburg. A organização dependia dos laços pessoais e apresentava um baixo grau de institucionalização, visto tratar-se de uma organização voluntária. Com a saída do representante do IG Metall, a rede acabou. Um exemplo da importância dos laços pessoais é que os dirigentes sindicais mais novos desconhecem a existência dessa rede. Adicionalmente, para os dirigentes sindicais, o desaparecimento dessa rede pode ser associado à sua capacidade limitada de intervenção e resolução de problemas, especialmente em comparação com o CMT (G. Batista, 2022).
Relativamente à IndustriALL, identificamos apenas uma única - porém significativa - intervenção: uma carta redigida por Jorge Almeida, então secretário regional da IndustriALL para a América Latina. Escrita em 2015, era um protesto dirigido ao vice-presidente do cmt contra a demissão de cem trabalhadores da unidade de Taubaté, feita sem consulta ao sindicato. Segundo Almeida: “A IndustriALL Global Union condena energicamente a ação da empresa Volkswagen do Brasil, que, ao invés de negociar para chegar a um consenso entre as partes, anunciou de maneira irresponsável a demissão de 100 trabalhadores” (Almeida, 2015).
Redes sindicais informais
O trânsito e a comunicação de trabalhadores e sindicalistas em nível global também se dão, evidentemente, por redes informais, i.e., não mediadas por instituições e organizações específicas. Em relação às redes sindicais informais constituídas pelos sindicalistas brasileiros, é notória a vinculação estabelecida por tais dirigentes com os trabalhadores alemães filiados ao IG Metall, bem como com os estadunidense associados à United Auto Workers (UAW). Quando consideramos os sindicatos do ABC, Taubaté, Curitiba e São Carlos, percebemos que a aliança com esses interlocutores internacionais é vista como vital para a garantia dos direitos trabalhistas. A primeira rede, obviamente, é uma consequência da origem alemã da VW. Sob essa ótica, a assistência do IG Metall oferece aos brasileiros insights relevantes acerca das táticas da empresa e potencializa a pressão sobre a corporação quando se trata de evitar o desrespeito dos direitos dos trabalhadores.
Sobre as redes sindicais informais do SMSF, não identificamos nas entrevistas com os dirigentes uma conexão transnacional com as lideranças alemãs. Tal fenômeno parece decorrer da opção estratégica do SMSF de se engajar predominantemente em negociações de âmbito local, promovendo interações com os trabalhadores brasileiros de preferência aos internacionais. Dessa forma, a trajetória da organização não a habilitou a gozar dos benefícios das conexões substanciais estabelecidas pelas outras entidades sindicais.
Um quadro similar é visto na ligação entre os sindicalistas brasileiros e os estadunidense: de um lado, temos SMABC, SMT, SMC e SMSC e, de outro, o SMSF. No primeiro grupo, observamos uma significativa reciprocidade entre os sindicalistas brasileiros e a UAW. Diversos elementos justificam tal relação, entre os quais os desafios dos trabalhadores estadunidense, o desrespeito das normativas laborais pela VW estadunidense, a transferência de Pablo Di Si do Brasil para os Estados Unidos (Dávilla, 2022). Adicionalmente, é imperativo ressaltar que a fábrica localizada em Chattanooga, por ter direito a fazer parte do mesmo comitê de trabalhadores que os sindicatos do ABC, Taubaté, São Carlos e Curitiba - embora não o exerça -, fomenta a relação bilateral com a UAW local. Uma evidência dessa interação é a visita dos representantes sindicais brasileiros à planta estadunidense a fim de consolidar uma representação interna e fomentar a sindicalização dos trabalhadores locais da VW.
Quanto ao SMSF, a reciprocidade entre Brasil e Estados Unidos é limitada. De acordo com entrevistados, o contato com a UAW se deve principalmente à aliança da organização estadunidense com a Força Sindical e a presença de um sindicalista de ascendência brasileira em posição proeminente na entidade estadunidense. O primeiro ponto é esboçado pelo ex-coordenador da comissão de fábrica: “Hoje, o nosso sindicato, aqui, ele é da bandeira da Força Sindical. E a UAW tem uma ligação muito forte com a Força Sindical, onde nós temos estrutura para qualquer tipo de evento” (Kondylopoulos, 2022). Já a importância dos vínculos pessoais é mencionada pelo coordenador do Consórcio Modular: “A gente conversava muito com o Rafael, que era do sindicato da UAW, lá de Chattanooga […]. Na realidade, ele tinha mais acesso junto com o nosso presidente” (Ferreira, 2022). No entanto, no que se refere à VW, os líderes do SMSF não têm interações constantes com os sindicalistas que negociam com a empresa em território estadunidense. Uma das razões é a filiação a segmentos e comitês distintos, não havendo necessidade, portanto, de interação com trabalhadores da planta de Chattanooga.
TRAJETÓRIAS E IDEOLOGIAS COMO DETERMINANTES
No campo da internacionalização da atuação sindical, as diferenças observadas podem ser atribuídas às trajetórias e ideologias divergentes dos atores envolvidos. Estas são compreendidas, conforme a teoria do confronto político, como “quadros interpretativos” (Tarrow, 2009) que modulam a adesão dos trabalhadores à ação em escala global. Tais quadros são instrumentos culturais que capacitam os atores a desencadear e legitimar ações coletivas. A trajetória de cada sindicato mostra o acúmulo de experiências dos dirigentes sindicais com determinados repertórios de ação coletiva, enquanto a ideologia fornece insights sobre a percepção dessas pessoas acerca das modalidades transnacionais de organização. Assim, uma trajetória fortemente vinculada a agentes internacionais ou nacionais experientes em repertórios de ação global sugere uma maior familiaridade da organização com tais práticas. Analogamente, uma visão marcadamente internacionalista por parte dos dirigentes potencializa a adesão de repertórios transnacionais pelos trabalhadores.
No que tange à trajetória, o histórico do SMABC evidencia uma longeva capacidade de transnacionalização, fruto do estabelecimento de conexões com trabalhadores alemães desde as décadas de 1970 e 1980. Nesse período, o sindicato se beneficiou do apoio dos trabalhadores alemães do IG Metall e da Federação Internacional dos Trabalhadores Metalúrgicos (Fitim). Os primeiros contatos tiveram como objetivo estabelecer relações duradouras entre os agentes e denunciar as condições de trabalho no Brasil.11 Desse momento em diante, o contato entre o sindicato alemão e o SMABC foi constante (Barbosa, 2003, p. 109; 2004; Costa, 2022). Em retrospectiva, podemos dizer que a instauração do CMT em 1999 apenas catalisou o já emergente processo de internacionalização da entidade. É pertinente enfatizar a posição proeminente do SMABC no CMT, no qual tem duas representações significativas, o que lhe confere um papel central nas articulações transnacionais.
O SMABC é o líder brasileiro no CMT não somente devido à sua extensa experiência de negociação com a VW e suas contrapartes alemãs, mas também ao fato de ser considerado a “matriz brasileira”, de ser reconhecido como o núcleo decisório primordial quando se trata de resolver os desafios enfrentados pelos trabalhadores da VW no Brasil (Santana, 2013). Outro fator que mostra a importância do SMABC é que os sindicatos do segmento de automóveis decidiram que a entidade presidiria não só o CMT, mas também o Comitê Nacional dos Trabalhadores (CNT), fazendo com que as duas entidades estejam profundamente conectadas.
Finalmente, é imperativo destacar aspectos locais que favoreceram a internacionalização. Em primeiro lugar, a configuração de quadros sindicais com atuação transnacional no SMABC, que, ao longo de sua história, estabeleceu conexões transnacionais significativas, essenciais nas negociações com a VW. Em segundo lugar, a concepção sindical, que enxerga a transnacionalização como um vetor essencial para a salvaguarda dos direitos locais. Essa perspectiva é corroborada pelas declarações dos líderes do SMABC acerca da importância do CMT e de outras formas de articulação, como a parceria com o IG Metall. Contudo, é crucial discernir a natureza específica dessa visão transnacional. A postura do SMABC pode ser descrita como um “transnacionalismo enraizado”, análogo ao “cosmopolitismo enraizado”12 de Sidney Tarrow (2005), que incorpora repertórios internacionais de ação com o objetivo de garantir benefícios locais, sem necessariamente consolidar identidades globais. Essa dinâmica é evidente nas declarações dos líderes regionais, que reconhecem a valia de diversos repertórios de ação, mas enfatizam relações estreitas com contrapartes de outros países, em especial com os líderes alemães do IG Metall:
Outra coisa é a gente respaldar o modelo do CMT como ele é hoje, porque ele é extremamente importante e estratégico para o Brasil. Muitas decisões que poderiam colocar em risco muitos empregos, ou a própria viabilidade de uma planta ou outra aqui no Brasil, ou mesmo respaldar acordos de longo prazo que nós fizemos, eles aconteceram por conta do nosso peso, participação, e a participação brasileira sempre foi muito forte no CMT. (Damasceno, 2022)
A nossa relação, particularmente [dos] metalúrgicos do ABC, com o IG Metall, […] é muito boa, ela precede as representações sindicais. A construção e a conquista das comissões de fábrica no Brasil se deram muito pelos laços que foram criados com os sindicalistas alemães e pela força que eles nos deram […]. Então, a relação é uma relação muito sólida, de novo, ela é pré-1982, remonta a uma época que no Brasil ainda era ditadura militar, que estávamos organizando os trabalhadores, os sindicatos estavam organizando as resistências contra a ditadura, para o aumento do salário, aquela questão toda que a história já nos remete. E ela, ao longo do tempo, foi se constituindo. (Damasceno, 2022)
Com base em uma análise aprofundada da teoria do confronto político, observamos que o SMABC, ao longo de sua evolução histórica, acumulou experiências significativas que lhe permitiram estruturar repertórios de ação coletiva, refletindo aprendizados adquiridos durante o percurso de seus dirigentes. É imperativo mencionar a interação estabelecida com os trabalhadores alemães a partir da década de 1970, bem como a proeminente posição do SMABC no CMT e sua notável presença internacional, fatores que moldaram sua propensão à transnacionalização. Tal predisposição se traduziu, ao longo do tempo, em uma expertise prática que habilitou a entidade a optar por modelos de organização de caráter internacional. Em paralelo, mas não menos importante, a orientação ideológica dos líderes da entidade corroborou e fomentou o engajamento dos trabalhadores na transnacionalização como uma ferramenta de ação.
Em comparação, observamos que os sindicatos de Taubaté, Curitiba e São Carlos manifestaram um interesse relativamente tardio pela transnacionalização, inserindo-se nessa esfera no fim dos anos 1990, por intermédio de sua participação no CMT de automóveis. Em um contexto global, o CMT amplificou a habilidade de transnacionalizar-se do SMABC. Contudo, para os demais sindicatos, o CMT serviu como um mecanismo institucionalizador da transnacionalização da ação coletiva, consolidando, assim, como um repertório passível de mobilização pelos trabalhadores. Nesse sentido, acreditamos que o CMT atuou (e atua) como um vetor primordial na socialização dos trabalhadores, habilitando-os a desempenhar papéis na esfera transnacional. Um entrevistado, ao se referir ao CMT, comparou a organização a uma “escola de sindicalismo” (G. Batista, 2022) e enfatizou seu papel crucial na propagação de repertórios de ação coletiva transnacional, de facilitador da interação entre distintos interlocutores internacionais.
Em âmbito nacional, é relevante sublinhar a interação recíproca entre os sindicatos de Curitiba, São Carlos e Taubaté com o SMABC, sobretudo por meio do CNT e da infraestrutura nacional do CMT. Essas entidades foram determinantes para a assimilação de repertórios atinentes a articulações de cunho internacional, pois funcionam como fóruns de compartilhamento de experiências para os trabalhadores das várias unidades da VW, notadamente em relação ao SMABC, que já ostentava uma trajetória consolidada em ações transnacionais. Tais elementos culminaram na consolidação de uma percepção valorativa do sindicalismo transnacional, sobretudo quando orientado para a salvaguarda de direitos locais.
Analogamente ao SMABC, parece-nos que a orientação ideológica desses sindicatos pode ser enquadrada como “transnacionalismo enraizado”. Seus representantes sublinham não somente a relevância do CMT, mas também a pertinência das AMGs e a importância de se estabelecer laços com trabalhadores de outros países para assegurar condições mais propícias aos trabalhadores brasileiros. De acordo com um líder do SMC - que ilustra bem o comportamento observado nos sindicatos de Taubaté e São Carlos -, a preponderância do CMT e do IG Metall no que tange à garantia de direitos locais é bastante significativa:
E o CMT, foi isso pelo menos o que aprendi deles, e foi assim que eu entendi, ele se presta ao trabalho de disseminar informação. Então, é o CMT que mostra para a gente como trabalhar isso na nossa realidade aqui […], o CMT faz esse translado de informação que acaba ensinando a gente, é a nossa escola de sindicalismo, é a nossa escola de atuação. (G. Batista, 2022)
a gente já organizou manifestações juntos, tanto da nossa parte para auxiliar eles, como [d]eles para auxiliar a gente. Aqui em Curitiba existia um boato de que a fábrica ia ser vendida para a Mitsubishi, que, na verdade, eram as maquinações que a Porsche estava fazendo; então, estavam oferecendo a Volkswagen para um monte de gente. Nós fizemos aqui passeatas, a gente organizou aqui alguns eventos para defender os próprios trabalhadores da Volkswagen […]. E recebemos representantes do IG Metall, por exemplo […]. Então, muitas ações que a gente tomou, tanto aqui quanto na Alemanha, partiu [sic] dessa organização, partiu [sic] da troca de informações com os sindicatos da Alemanha. (G. Batista, 2022)
A exemplo do SMABC, os sindicatos mencionados configuraram seus repertórios de ação coletiva à medida que evoluíam. A atuação no CMT e a interação com o sindicato do ABC foram determinantes para moldar certa inclinação à transnacionalização. Da mesma maneira, a orientação ideológica que concebe a transnacionalização sob a ótica dos benefícios locais não apenas legitimou, como também impulsionou os trabalhadores a mobilizar a internacionalização da ação como um instrumento de mobilização.
Neste ponto é necessário comparar e, sobretudo, contrastar a atuação das organizações mencionadas com a posição marginalmente internacionalizada do SMSF. Apesar de apresentar semelhanças históricas com os trabalhadores de Curitiba e São Carlos, o SMSF se destaca por certas nuances. No começo de sua trajetória, o sindicato sul-fluminense estava integrado ao mesmo CMT que os sindicatos supracitados. Contudo, com a criação do grupo Traton (filial da VW), o SMSF passou a fazer parte do comitê mundial de caminhões e ônibus, ao lado de marcas como MAN, Navistar e Scania. Ao contrário do que acontece no segmento de automóveis, os representantes brasileiros não têm uma posição relevante no CMT, o que implica um poder decisório menor, e o comitê acaba tendo uma função primordialmente informativa.
Adicionalmente, o SMSF estabeleceu interações apenas esporádicas com sindicatos de comprovada expertise transnacional, tal como o SMABC. De fato, o SMSF optou até mesmo por desvincular-se de iniciativas de organização em âmbito nacional, como o CNT. Após a aquisição da Scania pela VW, não foi constatada a formação de estruturas organizacionais entre o SMSF e o SMABC - sendo este último o representante da Scania no Brasil.
É crucial enfatizar que, além de uma trajetória distinta em relação aos outros sindicatos, o SMSF manifesta uma inclinação pela colaboração e o diálogo construtivo com os empregadores em esfera local. Essa perspectiva foi robustecida pela interação com um CMT de atividade moderada e pela decisão de se abster de alianças nacionais com outros sindicatos, em particular com o CNT. Como resultado, não houve assimilação e incorporação de repertórios transnacionais. A ênfase na cooperação local e a relutância à transnacionalização são perceptíveis na forma como os líderes enunciam a relevância dos repertórios de ação (Ferreira, 2022). Embora façam menção à participação dos sindicalistas no CMT, os dirigentes do SMSF não reconhecem que outras modalidades (como os AMGs ou, ainda, as interações com trabalhadores de outras nações) possuem significância para a atuação sindical, como ilustra esta fala de um dos representantes do sindicato:
Não lançamos mão de nada, como lhe disse, essa relação nossa aqui na região é uma relação que a gente procura exercer de maneira bem balanceada […], tudo dentro do seu limite, ou melhor dizendo, sem politicagem. Estamos aqui para exercer a função de dirigente sindical, porque é uma função, não é uma profissão. A gente se especializa dentro da área, se aprende muita coisa, e nunca vai aprender tudo. Mas eu procuro sempre não misturar, politizar demais a coisa, aí você perde um pouco o respeito, a referência do negócio, também porque, como eu te falei, os trabalhadores hoje são outros, né? Ninguém gosta de bagunça, todo mundo gosta de coisa que dê resultado, agora, sem a coisa da bagunça, né? (Kondylopoulos, 2022)
Em suma, a afiliação a um CMT diferente e com menos poder de intervenção, somada à decisão de não se engajar em articulações nacionais com o SMABC e outros sindicatos, explica a baixa adesão do SMSF aos instrumentos sindicais transnacionais. Adicionalmente, a orientação ideológica focada na cooperação local restringiu a mobilização de repertórios de organização internacional, uma vez que tais repertórios são percebidos pelos líderes sindicais como supérfluos ou, ainda, contaminados pela esfera política, no contexto de uma atividade sindical convencional, entendida como pautada por resultados práticos para os trabalhadores. O Quadro 2 consolida a discussão e elenca as variáveis preponderantes em análise.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As mudanças no mundo do trabalho globalizado têm colocado dificuldades diversas a trabalhadores e sindicatos, dentre as quais a perspectiva da transnacionalização de atividades sindicais. Neste artigo problematizamos uma interpretação tipicamente racionalista da ação social coletiva a partir do estudo comparativo dos sindicatos que representam os trabalhadores da Volkswagen do Brasil nos últimos vinte anos. Os resultados discutidos na seção anterior sugerem que trajetórias e ideologias são cruciais para explicar o tipo e o grau de internacionalização do sindicato. Mais especificamente, o contato com agentes já experimentados em práticas internacionalizadas, assim como uma organização de viés cosmopolita favorecem a adesão de sindicatos a repertórios transnacionais.
Apesar de limitada a uma empresa de um setor econômico específico, acreditamos que nossa contribuição para a literatura é robusta. Aqui reiteramos o desenho da nossa pesquisa. Como vimos ao longo do texto, todos os sindicatos apresentam experiência prévia, isto é, são organizações antigas e consolidadas em suas regiões. Assim, não acreditamos que o fator temporal seja um bom indicativo para explicar as diferenças observadas nos últimos vinte anos. O segmento de ônibus e caminhões, que a princípio fragiliza o desenho do método comparativo planejado, mostrou-se uma condição insuficiente para explicar o baixo engajamento do SMSF. Como demonstramos na seção de discussão, a trajetória e a ideologia do sindicato explicam melhor o seu pouco interesse pela temática transnacional.13 Como evidência, sugerimos o contraste com o caso da Scania, também fabricante de caminhões do grupo Volkswagen, mas representada pelo SMABC.
Em suma, ao controlar variáveis que poderiam contribuir para confundir os elos explicativos, como a experiência prévia e o segmento produtivo, oferecemos um exame com validade interna capaz de suscitar novos estudos similares. Sobretudo, uma leitura racionalista dos casos aqui estudados comparativamente perderia de vista aqueles fatores que talvez sejam preponderantes na discussão dos determinantes da transnacionalização sindical. Assim sendo, sugerimos que demais pesquisadora(e)s adotem desenhos de pesquisa comparativa-qualitativa como o empregado aqui. No que diz respeito a uma possível agenda de pesquisa, novas comparações, entre outras empresas e outros setores, também seriam bem-vindas. Essas investigações certamente poderão elaborar os achados aqui encontrados e indicar novos desenvolvimentos teóricos de relevância para a compreensão de importantes mudanças no mundo do trabalho contemporâneo.
Agradecimentos
Os autores agradecem às agências financiadoras que apoiaram a realização da investigação que deu origem ao artigo, em particular à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) e à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Os autores expressam também sua gratidão aos professores José Ricardo Ramalho e Rodrigo Salles Pereira dos Santos pela orientação e co-orientação durante o curso da pesquisa. Agradecemos, finalmente, à equipe editorial da revista Novos Estudos Cebrap e aos pareceristas anônimos que contribuíram para o aprimoramento do artigo.
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Embora essa corrente seja mais concisa do que a racionalista, destacamos duas abordagens significativas: o marxismo da vertente thompsoniana (Nastovski, 2022) e o estruturalismo genético (Rombaldi; Tomizaki, 2017). Apesar de suas diferenças, ambas enfocam a maneira pela qual as trajetórias individuais moldam a capacidade de transnacionalização. No âmbito do estruturalismo genético, especial atenção é concedida ao capital adquirido pelos indivíduos, o qual lhes possibilita atuar no cenário internacional.
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O sindicato justifica-se como unidade de análise por constituir o núcleo de coordenação das ações coletivas dos trabalhadores na Volkswagen. Apesar de algumas formas de ação internacional serem conduzidas pelas comissões de fábrica (e.g., o CMT) e não diretamente pelo sindicato, nossa pesquisa revelou que as primeiras estão subordinadas às diretrizes deste último. Um exemplo ilustrativo dessa dinâmica de comando é o fato de todos os coordenadores sindicais entrevistados pertencerem a sindicatos.
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As entrevistas foram transcritas e estão em acervo pessoal.
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O estudo se baseou em Hamdan (2023).
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Grupo Desenvolvimento, Trabalho e Ambiente (DTA), liderado pelos professores José Ricardo Ramalho e Rodrigo Salles Pereira dos Santos, ambos do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGSA-UFRJ).
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Os professores Iram Jácome Rodrigues e Helio da Costa foram fundamentais para a obtenção de algumas entrevistas.
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Para mais informações, ver o site da Comissão Europeia, disponível em: <https://ec.europa.eu/social/main.jsp?catId=978&langId=en&company=&hdCountryId=0&companySize=0§orId=0&year=0&esp=0&geoScope=0&refStandard=&keyword=&mode=advancedSearchSubmit>. Acesso em: 21/5/2024.
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Tal projeto resultaria no VW Fox (Volkswagen do Brasil, [s. d.]).
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Sindicato nacional alemão que representa os trabalhadores dos setores: metalúrgico e elétrico, ferro e aço, têxteis e vestuário, madeira e plásticos, artesanato e serviços, tecnologia da informação e comunicação. Atualmente, possui 2,2 milhões de afiliados (Redaktion IG Metall, [s. d.]).
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O primeiro encontro ocorreu entre 12 e 14 de junho de 1979, em Wolfsburg, na Alemanha, e contou com a participação de trabalhadores da VW da África do Sul, América do Norte, Bélgica e Iugoslávia.
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Ao empregar o termo “cosmopolitismo enraizado”, Tarrow alude à influência da origem dos ativistas sobre o processo de transnacionalização. Nesse contexto, mesmo que os indivíduos desenvolvam estratégias de organização em âmbito internacional, seu local de origem impacta significativamente diversas facetas de sua vida. Isso inclui os recursos disponíveis para atuação internacional, os quadros interpretativos utilizados para a compreensão da realidade e, primordialmente, os objetivos, que são delineados de acordo com as realidades locais específicas (Tarrow, 2005, p. 42).
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Um aspecto que não pudemos elaborar no artigo, mas apresenta--se como relevante para futuras pesquisas é o papel do setor siderúrgico na trajetória do SMSF. Considerada a sua história de negociações em um setor tipicamente nacional e de origem estatal, este setor pode ter desempenhado um papel significativo como inibidor do emprego de ações transnacionais no sindicato (Morel, 2001).
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
28 Out 2024 -
Data do Fascículo
May-Aug 2024
Histórico
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Recebido
02 Dez 2023 -
Aceito
07 Jun 2024