Open-access O CAPITAL PARA EDUCADORES: APRENDER E ENSINAR COM GOSTO A TEORIA CIENTÍFICA DO VALOR

THE CAPITAL FOR EDUCATORS: LEARNING AND TEACHING WITH PLEASURE THE SCIENTIFIC THEORY OF VALUE

O CAPITAL PARA EDUCADORES: APRENDER Y ENSEÑAR CON PLACER LA TEORÍA CIENTÍFICA DEL VALOR

Publicado pela editora Expressão Popular, em 2022, o livro de Vitor Henrique Paro, como se lê no “Manual de instruções”, que o introduz, é o resultado de mais de 40 anos “promovendo e facilitando a leitura d’O capital nos cursos de graduação e pós-graduação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e da Universidade de São Paulo” (Paro, 2022, p. 12), quando o autor viu confirmada a percepção que tivera, desde as primeiras leituras da obra, de que ela “é muito mais rica, mais densa e mais profunda do que tudo que usualmente se diz a seu respeito” (Paro, 2022, p. 12).

Entre os diversos livros que, em diferentes línguas, países e épocas, foram elaborados para facilitar a leitura e compreensão de O capital, de Karl Marx, e que tive a grande chance de ler e com eles muito aprender, o livro de Paro (2022) – dada a sua destinação para, de maneira especial, um público leitor específico, os educadores – é para mim, teórica e pedagogicamente, o mais apropriado ao público a que se destina.

Seus 18 capítulos, enriquecidos cada um por vídeos complementares (via QR code), que enfatizam alguns de seus aspectos essenciais – seguidos de um oportuno glossário remissivo, que define e explicita dezenas de conceitos fundamentais da economia política –, constituem o que poderíamos denominar de um verdadeiro curso intensivo sobre a teoria científica do valor, que tem em Marx seu elaborador mais reconhecido.

Para aquilatar a riqueza teórico-prática desse livro/curso, bastaria transcrever a nominata dos conceitos que são tratados ao longo de suas cerca de 200 páginas e retomados sumariamente nesse seu glossário remissivo: alienação; capital; capital constante e capital variável; capital industrial e capital financeiro; capital primitivo; composição orgânica do capital; cultura; democracia; dinheiro; divisão pormenorizada do trabalho; divisão social do trabalho; divisão técnica do trabalho; economia política; educação; estrutura e superestrutura; ética; exploração; fetichismo da mercadoria; força de trabalho; forças produtivas; forma social; história; homem; humano-histórico; ideologia; instrumentos de produção; instrumentos de trabalho; liberalismo; liberdade; lucro; mais-valia; mais-valia absoluta; mais-valia extraordinária; mais-valia relativa; partilha da mais-valia; matéria bruta; matéria-prima; meios de produção; meios de trabalho; mercadoria; modo de produção; natureza; necessidade; objeto; objeto de trabalho; poder; política; privado; público e privado; relações sociais de produção; riqueza; subordinação formal do trabalho ao capital; subordinação real do trabalho ao capital; sujeito; supérfluo como necessário; taxa de lucro; taxa de mais-valia; tempo de trabalho excedente; tempo de trabalho médio socialmente necessário; tempo de trabalho necessário; tempo de trabalho socialmente necessário; trabalho; trabalho abstrato; trabalho concreto; trabalho excedente; trabalho forçado; trabalho improdutivo; trabalho livre; trabalho necessário; trabalho produtivo e trabalho improdutivo; trabalho socialmente necessário; valor; valor de troca; valor de uso; valor excedente (Paro, 2022, p. 189-249).

Entre os muitos méritos dessa obra, além de seu rico e imprescindível conteúdo para a apreensão da realidade da economia política e do humano-histórico, cabe enfatizar o método de exposição adotado. Como destaca Vitor H. Paro (2022), no “Manual de instruções” para os leitores, o conteúdo do livro deve ser apreendido a “partir das incompreensões”. Isto é, a maioria dos primeiros capítulos tem seus títulos entre aspas e seguidos da sigla NEBA (não é bem assim). Antes de apresentar os conceitos e seu significado real, o autor expõe o que eles não são. “Essa regra parece encaixar-se como uma luva quando se trata de divulgar e fazer compreender o conteúdo d’O capital, devido à abundância de equívocos desse tipo que povoam o entendimento do senso comum a respeito” (Paro, 2022, p. 16).

A adoção desse método de exposição tem, como se verá, o mérito de alertar de imediato o leitor para as inúmeras deturpações conceituais de que tem sido objeto o marxismo ou a crítica da economia política. Entre tais distorções históricas, que interessam aos que se sentem contrariados em suas concepções liberais e neoliberais, podem ser arroladas aqui as que foram utilizadas pelo autor como título e objeto de exposição, principalmente dos capítulos iniciais do livro: Capítulo 1 “conhecimento econômico é coisa apenas para especialistas” (NEBA); Capítulo 2: “o comunismo é contra a propriedade privada” (NEBA); Capítulo 3: “a exploração do trabalho é resultado da maldade do capitalista” (NEBA); Capítulo 4: “no capitalismo, a função do salário é pagar o trabalho realizado” (NEBA); Capítulo 5: “o valor de uma mercadoria é tão somente resultado da concorrência” (NEBA); Capítulo 6: “trabalho abstrato é mera especulação marxista” (NEBA); Capítulo 7: “na teoria do valor-trabalho, é o tempo cronológico que mede a magnitude do valor” (NEBA); Capítulo 8: “a divisão social do trabalho é a causadora da desigualdade no capitalismo” (NEBA); Capítulo 9: “sob o capitalismo prevalece o trabalho livre” (NEBA); Capítulo 10: “é a divisão técnica do trabalho que provoca a alienação do trabalhador” (NEBA); Capítulo 14: “o liberalismo econômico é a favor da liberdade humana” (NEBA); Capítulo 15: “o fetichismo da mercadoria é apenas aparência” (NEBA).

A esse livro não faltam precisão conceitual nem linguagem clara, além desse conjunto de 18 pequenos vídeos a complementar cada capítulo, o que estimula o leitor a enfrentar a leitura de O capital e de outras obras de Marx e de seus mais ilustres seguidores e intérpretes.

Vale a pena destacar o cuidado editorial de ilustrar cada um dos 18 capítulos da obra com fotos (históricas) e telas/imagens representativas dos temas e conceitos analisados, a começar pela capa da primeira edição do primeiro volume de O capital, publicada em Hamburgo, Alemanha, no ano de 1867.

Com esse livro, o autor acrescenta mais uma excelente obra a sua já extensa produção intelectual, em que se destacam: Administração escolar: introdução crítica (17 edições, Cortez Editora); Gestão democrática da escola pública (quatro edições, Cortez Editora); Por dentro da escola pública (quatro edições, Cortez Editora); Educação como exercício do poder (três edições, Cortez Editora); e Professor: artesão ou operário? (Cortez Editora).

Não se poderia encerrar essa sucinta resenha sem reiterar que esse livro constitui um verdadeiro curso intensivo, especialmente para educadores, mas não só. É o próprio autor que, ao elaborar um conjunto de orientações para os leitores, vai logo alertando que a obra não se destina apenas a educadores profissionais, “mas para todos aqueles que queiram ter acesso a uma porta que leva ao conhecimento da realidade social de nosso tempo” (Paro, 2022, p. 11). Explicitando as razões do título – O capital para educadores –, o autor afirma que ele “decorre também do fato de O capital ser uma obra autenticamente pedagógica” (Paro, 2022, p. 11).

Références

  • PARO, V. H. O capital para educadores: aprender e ensinar com gosto a teoria científica do valor. São Paulo: Expressão Popular, 2022.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    11 Out 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    03 Set 2024
  • Aceito
    06 Set 2024
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