Open-access Variações fenológicas das espécies do cerrado em Emas - Pirassununga, SP

Phenological variations of the cerrado species in Emas (Pirassununga, SP)

Resumos

Foi estudada a flora vascular de uma área de cerrado, situada no distrito de Emas, município de Pirassununga, Estado de São Paulo (aproximadamente, 22º02'S e 47º30'W). Entre abril de 1994 e abril de 1995, realizou-se um levantamento florístico, em que foram amostradas 358 espécies. A partir dos dados deste levantamento, estudaram-se as variações fenológicas das espécies, procurando analisá-las como estratégias adaptativas. Os componentes herbáceo-subarbustivo e arbustivoarbóreo comportaram-se de maneira distinta. As espécies arbustivo-arbóreas floresceram principalmente no início da estação chuvosa, enquanto que as herbáceo-subarbustivas produziram flores, de modo geral, apenas no final da estação úmida, após período de acúmulo de carboidratos. As espécies do componente herbáceo-subarbustivo tiveram pico de frutificação no final da estação chuvosa, qualquer que fosse a síndrome de dispersão de seus diásporos. Já as espécies do componente arbustivo-arbóreo apresentaram comportamentos distintos, conforme a síndrome de dispersão. As espécies zoocóricas frutificaram ao longo de toda estação úmida, enquanto que as anemocóricas e autocóricas produziram frutos, principalmente no início da estação seca.

cerrado; savana; Emas; fenologia


The vascular flora of the cerrado in Emas district, Pirassununga municipality, São Paulo State (approximately 22º02'S and 47º30'W) was studied. Between April 1994 and April 1995 a floristic survey was carried out, when 358 species, representing 227 genera and 78 families, were found. During this survey, the phenologycal variations were observed and analysed as adaptive strategies. The woody and herbaceous components had distinct behaviours. The woody species flowered mainly at the beginning of the rainy season, while the herbaceous ones produced flowers generally at the end of that season, after a period of carbohydrate accumulation. The herbaceous species produced fruits specially at the end of the rainy season whatever its dispersion syndrome was. The woody ones showed different patterns depending on its dispersion syndrome. The zoochorous species fruited along the whole rainy season, while the anemochorous and autochorous ones produced fruits principally at the beginning of the dry season.

cerrado; savanna; southeastern Brazil; phenology


Variações fenológicas das espécies do cerrado em Emas (Pirassununga, SP)

Phenological variations of the cerrado species in Emas - Pirassununga, SP

Marco Antonio BatalhaI,II; Sônia AragakiII; Waldir MantovaniII

IBolsa de Iniciação Científica, FAPESP, processo nº 94/0904-4

IIDepartamento de Ecologia Geral, Instituto de Biociências, Universidade de São Paulo, C.P. 11.461, CEP 05499-900, São Paulo, SP, Brasil

RESUMO

Foi estudada a flora vascular de uma área de cerrado, situada no distrito de Emas, município de Pirassununga, Estado de São Paulo (aproximadamente, 22º02'S e 47º30'W). Entre abril de 1994 e abril de 1995, realizou-se um levantamento florístico, em que foram amostradas 358 espécies. A partir dos dados deste levantamento, estudaram-se as variações fenológicas das espécies, procurando analisá-las como estratégias adaptativas. Os componentes herbáceo-subarbustivo e arbustivoarbóreo comportaram-se de maneira distinta. As espécies arbustivo-arbóreas floresceram principalmente no início da estação chuvosa, enquanto que as herbáceo-subarbustivas produziram flores, de modo geral, apenas no final da estação úmida, após período de acúmulo de carboidratos. As espécies do componente herbáceo-subarbustivo tiveram pico de frutificação no final da estação chuvosa, qualquer que fosse a síndrome de dispersão de seus diásporos. Já as espécies do componente arbustivo-arbóreo apresentaram comportamentos distintos, conforme a síndrome de dispersão. As espécies zoocóricas frutificaram ao longo de toda estação úmida, enquanto que as anemocóricas e autocóricas produziram frutos, principalmente no início da estação seca.

Palavras-chave: cerrado, savana, Emas, fenologia

ABSTRACT

The vascular flora of the cerrado in Emas district, Pirassununga municipality, São Paulo State (approximately 22º02'S and 47º30'W) was studied. Between April 1994 and April 1995 a floristic survey was carried out, when 358 species, representing 227 genera and 78 families, were found. During this survey, the phenologycal variations were observed and analysed as adaptive strategies. The woody and herbaceous components had distinct behaviours. The woody species flowered mainly at the beginning of the rainy season, while the herbaceous ones produced flowers generally at the end of that season, after a period of carbohydrate accumulation. The herbaceous species produced fruits specially at the end of the rainy season whatever its dispersion syndrome was. The woody ones showed different patterns depending on its dispersion syndrome. The zoochorous species fruited along the whole rainy season, while the anemochorous and autochorous ones produced fruits principally at the beginning of the dry season.

Key words: cerrado, savanna, southeastern Brazil, phenology

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text available only in PDF format.

Agradecimentos

À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, pela bolsa de iniciação científica concedida ao primeiro autor (Processo nº 94/0904-4); ao D.A.E.E., pelos dados climáticos; aos técnicos Celso Eduardo Batista, Eduardo Tadeu Mattos e Paulo César Fernandes, pelo auxílio nas coletas.

Enviado em 28/9/96.

Aceito em 26/6/97

Referências bibliográficas

  • Aoki, H. & Santos, J. R. 1980. Estudo da vegetação de cerrado na área do Distrito Federal, a partir de dados orbitais. Dissertação de Mestrado. Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, São José dos Campos.
  • Augspurger, C. K. & Franson, S. E. 1987. Wind dispersal of artificial fruits varying in mass, area and morphology. Ecology 68: 27-42.
  • Barradas, M. M. 1972. Informações sobre a floração, frutificação e dispersão do piqui Caryocar brasiliense Camb. (Caryocaraceae). Ciência e Cultura 24: 1063-1068.
  • Barros, M. A. G. E. & Caldas, L. S. 1980. Acompanhamento de eventos fenológicos apresentados por cinco gêneros nativos do cerrado (Brasília, DF). Brasil Florestal 10: 7-14.
  • Batalha, M. A.; Aragaki, S. & Mantovani, W. Florística do cerrado em Emas (Pirassununga, SP). Boletim de Botânica da Univiversidade de São Paulo. No prelo.
  • Bloom, A. J.; Chapin III, F. S. & Mooney, H. A. 1985. Resource limitation in plants - an economic analogy. Annual Review of Ecology Systematics 16: 363-392.
  • Cohen, D. 1976. The optimal timing of reproduction. American Naturalist 110: 801-807.
  • Coutinho, L. M. 1977. Aspectos ecológicos do fogo no cerrado. II - As queimadas e a dispersão de sementes em algumas espécies anemocóricas do estrato herbáceo-subarbustivo. Boletim de Botânica da Universidade de São Paulo 5: 57-64.
  • Coutinho, L. M. 1980. As queimadas e seu papel ecológico. Brasil Florestal 10: 15-23.
  • Ferri, M.G. 1944. Transpiração de plantas permanentes dos "cerrados". Boletim da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, Botânica 4: 155-224.
  • Figueiredo, R. C. L. & Dietrich, S. M. C. 1981. Variações estacionais nos compostos de reserva e no metabolismo do xilopódio de Ocimum nudicaule Benth. var. anisifolia Giul. (Labiatae). Revista Brasileira de Botânica 4: 73-82.
  • Fournier, L. A. 1969. Estudo preliminar sobre la floración en el Roble de sabana Tabebuia pentaphylla (L.) Hemsl. Revista de Biologia Tropical 15(2): 259-267.
  • Frankie, G. W.; Baker, H. G. & Opler, P. A. 1974. Comparative phenological studies of trees in tropical wet and dry forest in the lowlands Costa Rica. Journal of Ecology 62: 881-919.
  • Gerloff, G. 1976. Plant efficiencies in the use of nitrogen, phosphorus and potassium. In M. J. Wright (ed.) Plant adaptation to mineral stress in problem soils. New York: Ithaca, p. 161-169.
  • Gottsberger, G. & Silberbauer-Gottsberger, I. 1983. Dispersal and distribution in the cerrado vegetation of Brazil. Sonderbalnde des Naturwissenschaftlichen Vereins a Hamburg 7: 315-352.
  • Grise, B. M. 1971. Estudo comparativo do balanço hídrico de Ouratea spectabilis (Mart.) Engl. em diferentes condições ecológicas. Dissertação de Mestrado. Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo, São Paulo.
  • Janzen, D. H. 1980. Ecologia vegetal nos trópicos. São Paulo: EPU e EDUSP.
  • Kikuzawa, K. 1995. The basis for variation in leaf longevity of plants. Vegetatio 121: 89-100.
  • Köeppen, W. 1948. Climatologia. México: Fondo de Cultura Económica.
  • Labouriau, L. G. 1963. Problemas de fisiologia ecológica dos cerrados. In M. G. Ferri (coord.), I Simpósio sobre o cerrado. São Paulo: Edgard Blücher e EDUSP, p.237-276.
  • Lieth, H. 1974. Introduction to phenology and the modeling of seasonality. In H. Lieth, (ed.), Phenology and seasonality modeling. Berlin: Springer Verlag, p.3-19.
  • Mantovani, W. & Martins, F. R. 1988. Variações fenológicas das espécies do cerrado da Reserva Biológica de Moji Guaçu, Estado de São Paulo. Revista Brasileira de Botânica 11: 101-112.
  • Martins, F. R. 1982. O balanço hídrico seqüencial e o caráter semidecíduo da floresta do Parque Estadual de Vaçununga, Santa Rita do Passa Quatro (SP). Revista Brasileira de Estatística 43: 353-391.
  • Matthes, L. A. F.; Leitão-Filho, H. F. de & Martins, F.R. 1988. Bosque dos Jequitibás (Campinas, SP): Composição florística e estrutura do estrato arbóreo. Anais da Sociedade Botânica de São Paulo, Campinas, p.55-76.
  • Miranda, I. S. 1995. Fenologia do estrato arbóreo de uma comunidade de Alter-do-Chão, PA. Revista Brasileira de Botânica 18(2): 235-240.
  • Morais, H. C.; Diniz, I. R. & Baumgarten, L. 1995. Padrões de produções de folhas e sua utilização por larvas de Lepidoptera em um cerrado de Brasília. Revista Brasileira de Botânica 18(2): 163-170.
  • Morellato, L. P.; Rodrigues, R. R.; Leitão-Filho, H. F. de & Joly, C. A. 1989. Estudo comparativo da fenologia de espécies arbóreas de floresta de altitude e floresta mesófila semidecídua na Serra do Japi, Jundiaí, São Paulo. Revista Brasileira de Botânica 12: 85-98.
  • Nascimento, M. T.; Villela, D. M. & Lacerda, L. D. de. 1990. Foliar growth, longevity and herbivory in two "cerrado" species near Cuiabá, MT, Brazil. Revista Brasileira de Botânica 13: 27-32.
  • Oosting, H. J. 1956. The study of plant communities San Francisco: Freeman.
  • Pijl, L. van der. 1972. Principles of dispersion in higher plants Berlin: Springer Verlag.
  • Rachid, M. 1947. Transpiração e sistemas subterrâneos da vegetação de verão dos campos cerrados de Emas. Boletim da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, Botânica 5: 1-140.
  • Rachid-Edwards, M. 1956. Alguns dispositivos para proteção de plantas contra a seca e o fogo. Boletim da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, Botânica 13: 36-72.
  • Rathcke, B. & Lacey, E. P. 1985. Phenological patterns of terrestrial plants. Annual Review of Ecology Systematics 16: 179-214.
  • Raunkiaer, C. 1934. The life forms of flowering plants and statistical geography Oxford: Clarendon.
  • Rawitscher, F. 1942. Algumas noções sobre a transpiração e o balanço de água de plantas brasileiras. Anais da Academia Brasileira de Ciências 14: 7-36.
  • Ribeiro, J. R. & Castro, L. H. R. 1986. Método quantitativo para avaliar características fenológicas em árvores. Revista Brasileira de Botânica 9: 7-11.
  • Rizzini, C. T. 1976. Influência da temperatura sobre a germinação de diásporas do cerrado. Rodriguésia 28: 341-83.
  • Rizzini, C. T. 1979. Tratado de fitogeografia do Brasil: aspectos ecológicos. São Paulo: HUCITEC e EDUSP.
  • Rizzo, J. A.; Centeno, A. J.; Santos-Lousa, J. & Filgueiras, T. S. 1971. Levantamento de dados em áreas do cerrado e da floresta caducifolia tropical do planalto centro-oeste. In FERRI, M. G. (coord.) III Simpósio sobre o cerrado, São Paulo: Edgard Blücher e EDUSP, p. 103-109.
  • Salisbury, F. B. & Ross, C. W. 1992. Plant physiology Belmont: Wadsworth.
  • Schaik, C. P. van; Terborgh, J. W. & Wright, S. J. 1993. The phenology of tropical forests: adaptative significance and consequences for primary consumers. Annual Review of Ecology Systematics 24: 353-377.
  • Tenório, E. C. 1969. Fenologia de gramíneas. 1969. Anais. Sociedade de Botânica do Brasil, Goiânia, p.231-241.
  • Thornthwaite, C.W. & Mather, J.R. 1955. The water balance. Climatology 8:104.
  • Válio, I. F. M. 1979. Reprodução em plantas superiores. In: FERRI, M. G. (coord.) Fisiologia Vegetal São Paulo: EPU e EDUSP, p.218-312.
  • Walter, H. 1986. Vegetação e zonas climáticas São Paulo, EPU.
  • White, R. 1972. Studies on mineral ion absorption by plants. I. The absortion and utilization of phosphate by Stylosanthes humilis, Phaseolus atropurpureus and Desmodium intortum. Plant and Soil 36: 427-447.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    03 Jun 2011
  • Data do Fascículo
    Jul 1997

Histórico

  • Aceito
    26 Jun 1997
  • Recebido
    28 Set 1996
location_on
Sociedade Botânica do Brasil SCLN 307 - Bloco B - Sala 218 - Ed. Constrol Center Asa Norte CEP: 70746-520 Brasília/DF. - Alta Floresta - MT - Brazil
E-mail: acta@botanica.org.br
rss_feed Acompanhe os números deste periódico no seu leitor de RSS
Acessibilidade / Reportar erro