OBITUÁRIO OBITUARY
Maria Angélica Figueiredo
1939 2012
Maria Angélica Figueiredo, Professora Titular aposentada da Universidade Federal do Ceará, faleceu no primeiro dia do mês de junho deste ano, deixando um importante legado como professora e pesquisadora. Graduada em Geografia pela Universidade Federal do Ceará UFC (1971) mudou-se com a família para o Recife para obtenção do Mestrado em Botânica, na Universidade Federal Rural de Pernambuco (1976), como orientanda do saudoso Prof. Dárdano de Andrade Lima. Foi como colega de Mestrado que eu a conheci Angélica logo se destacou pela dedicação ao trabalho que realizava, na área da Fitogeografia.
Voltando ao Ceará, esteve sempre envolvida com a formação de recursos humanos, orientando inúmeros alunos que hoje atuam na Botânica em diversos estados do Nordeste, e participando em inúmeros projetos. Na UFC, ministrou as disciplinas: Biogeografia, Ecologia e Botânica nos cursos de Graduação em Biologia e Geografia, e Fitogeografia no curso de Agronomia e também no Mestrado/Prodema. Era membro do Conselho da Associação Caatinga, que ajudou a criar em Fortaleza, em 1998, com o apoio do Fundo para Conservação da Caatinga. Foi bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq. No início dos anos 1980, colaborou com o Dr. Dárdano Andrade Lima na seleção de uma área para preservação de Caatinga Arbórea, a Estação Ecológica de Aiuaba, onde atuou por vários anos. Também desenvolveu pesquisas na microrregião salineira do Rio Grande do Norte e Sertão dos Inhamuns, no Ceará, cujos resultados foram publicados na Coleção Mossoroense. Dedicou-se ainda a estudos na Floresta Nacional do Araripe e na Reserva Serra das Almas e por vários anos trabalhou na Serra de Baturité e em áreas do litoral/cerrado.
Segundo depoimento da Dra. Francisca Soares de Araújo, sua ex-aluna e depois colega na UFC, Angélica procurava sempre coletar nos diversos tipos de vegetação do Ceará e fazia questão de, a cada feriado prolongado, viajar para algum local novo para conhecer e coletar diversas plantas; além disso, mesmo quando saia a passeio, tinha o cuidado de colocar uma prensa na mala do carro, de modo a aproveitar as oportunidades para novas coletas. Segundo informações do Dr. Simon Mayo, Angélica foi uma pessoa chave na implementação do Programa Plantas do Nordeste, uma colaboração entre o Royal Botanic Gardens, Kew (Inglaterra), e várias instituições brasileiras, com uma série de ações de larga escala em Botânica aplicada no Nordeste do Brasil. A partir da primeira reunião do grupo de pesquisadores binacionais, em 1990, Angélica colaborou com Bob Allkin, que liderou a equipe britânica no Brasil, e junto a outros colegas do Nordeste ajudou a formar o primeiro comitê do PNE, e depois a ONG Associação PNE, esta última em 1995. Ainda segundo Simon Mayo, "Angélica e o marido Paulo lideraram esta primeira fase da institucionalização do PNE e no âmbito do projeto visitaram várias vezes o Kew, impressionando a todos pela dedicação e pelo desempenho." Para Bob Allkin, Angélica compreendeu e se comprometeu com os objetivos estratégicos do PNE: investir na pesquisa no NE do Brasil, torná-la mais relevante às necessidades da sociedade e ampliar o seu impacto, por meio de maior integração regional, de colaborações e da troca de informações entre as instituições da região. Angélica se dedicou ao programa intensamente durante muitos anos. Na mensagem que nos enviou, Bob registrou a sua "enorme admiração pela Angélica, pelo seu compromisso em criar uma equipe jovem e multidisciplinar na UFC e por investir sempre na formação da próxima geração: vou sempre lembrar dela rodeada de estudantes". Esses depoimentos mostram o compromisso de Angélica com a ciência e a formação de recursos humanos.
Como sócia da SBB, Angélica foi membro atuante, participando do Conselho Superior e colaborando com as atividades desenvolvidas pela Sociedade, especialmente as Reuniões Nordestinas de Botânica.
Nos últimos anos, sobretudo após o falecimento do marido, em 1999, Angélica distanciou-se do trabalho na UFC, mas continuou de certa forma atuando em prol da Botânica, tanto que participava de várias iniciativas, tais como a Associação Caatinga, e ultimamente havia manifestado o desejo de voltar à pesquisa, colaborando com Francisca Araújo em projeto recém-aprovado pelo CNPq/ICMBio para estudos em Aiuaba e Ubajara.
Angélica deixou um importante legado científico e se destacou pela seriedade e compromisso com a Botânica. Além de competente profissional, também foi esposa, mãe e avó exemplar sendo lembrada com carinho e saudade por todos que a conheceram.
Leonor Costa Maia
Universidade Federal de Pernambuco
Publication Dates
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Publication in this collection
13 July 2012 -
Date of issue
June 2012