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Estudo transversal sobre os diferentes pontos de entrada na osteossíntese intramedular femoral anterógrada

Resumos

OBJETIVO: Analisar o grau de conhecimento dos profissionais que tratam essas fraturas com a técnica preconizada relacionando a haste ao ponto de entrada considerado apropriado. MÉTODOS: Foi desenvolvido um questionário no qual constavam cinco tipos de hastes e simulada uma fratura diafisária do fêmur transversa. RESULTADOS: Os pontos de entrada correspondentes à escolha do tipo de haste foram respondidos por 370 médicos ortopedistas que participaram do 41º Congresso Brasileiro de Ortopedia e Traumatologia. Constatou-se que somente 20% acertaram o ponto de entrada e que não houve diferença entre os profissionais que faziam a especialidade Traumatologia e os demais. CONCLUSÃO: Concluiu-se que a maioria dos médicos que frequentaram o congresso desconhece tal fato.

Fêmur; Fixação Intramedular de Fraturas; Diáfises


OBJECTIVE: To analyze the degree of knowledge among professionals who treat fractures using the recommended technique, with regard to correlating the nail with the entry point that is considered appropriate. METHODS: A questionnaire that presented five types of nail and simulated a transverse diaphyseal fracture of the femur was developed. RESULTS: Responses regarding the entry points corresponding to choosing the type of nail were obtained from 370 orthopedists who were participating in the 41st Brazilian Congress of Orthopedics and Traumatology. It was observed that only 20% correctly identified the entry point and that there was no difference between the professionals within the specialty of Traumatology and the others. CONCLUSION: It was concluded that the majority of the physicians attending the congress were unaware of the entry points.

Femur; Fracture Fixation, Intramedullary; Diaphyses


ARTIGO ORIGINAL

Estudo transversal sobre os diferentes pontos de entrada na osteossíntese intramedular femoral anterógrada

Cross-sectional study on different entry points for anterograde femoral intramedullary osteosynthesis

Michel KanasI; Andre WajnsztejnII; Danilo RoucourtI; Eduardo FiorentinoII; Hélio Jorge Alvachian FernandesIII; Fernando Baldy dos ReisIV

IMédico Residente do Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Unifesp/EPM - São Paulo, Brasil

IIMédico Membro do Setor de Traumatologia do Aparelho Locomotor da Disciplina de Traumatologia do Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Unifesp/EPM São Paulo, Brasil

IIIProfessor Adjunto Doutor em Medicina; Médico do Setor de Traumatologia do Aparelho Locomotor da Disciplina de Traumatologia do Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Unifesp/EPM - São Paulo, Brasil

IVProfessor Livre-Docente e Chefe do Setor de Traumatologia do Aparelho Locomotor da Disciplina de Traumatologia do Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Unifesp/EPM - São Paulo, Brasil

Correspondência Correspondência: Al. Joaquim Eugênio de Lima, 1.656, Apto. 141 01403-002 - São Paulo, SP. E-mail: michelkanas@hotmail.com

RESUMO

OBJETIVO: Analisar o grau de conhecimento dos profissionais que tratam essas fraturas com a técnica preconizada relacionando a haste ao ponto de entrada considerado apropriado.

MÉTODOS: Foi desenvolvido um questionário no qual constavam cinco tipos de hastes e simulada uma fratura diafisária do fêmur transversa.

RESULTADOS: Os pontos de entrada correspondentes à escolha do tipo de haste foram respondidos por 370 médicos ortopedistas que participaram do 41º Congresso Brasileiro de Ortopedia e Traumatologia. Constatou-se que somente 20% acertaram o ponto de entrada e que não houve diferença entre os profissionais que faziam a especialidade Traumatologia e os demais.

CONCLUSÃO: Concluiu-se que a maioria dos médicos que frequentaram o congresso desconhece tal fato.

Descritores: Fêmur; Fixação Intramedular de Fraturas; Diáfises

ABSTRACT

OBJECTIVE: To analyze the degree of knowledge among professionals who treat fractures using the recommended technique, with regard to correlating the nail with the entry point that is considered appropriate.

METHODS: A questionnaire that presented five types of nail and simulated a transverse diaphyseal fracture of the femur was developed.

RESULTS: Responses regarding the entry points corresponding to choosing the type of nail were obtained from 370 orthopedists who were participating in the 41st Brazilian Congress of Orthopedics and Traumatology. It was observed that only 20% correctly identified the entry point and that there was no difference between the professionals within the specialty of Traumatology and the others.

CONCLUSION: It was concluded that the majority of the physicians attending the congress were unaware of the entry points.

Keywords: Femur; Fracture Fixation, Intramedullary; Diaphyses

INTRODUÇÃO

A osteossíntese do fêmur com haste intramedular é considerada como padrão ouro no tratamento das fraturas diafisárias do fêmur, sendo considerada superior à fixação extramedular com placas e fixadores externos do ponto de vista biomecânico e clínico(1).

O desenvolvimento de diferentes implantes intramedulares propiciou mudanças no tradicional ponto de entrada da haste intramedular descrita inicialmente por Küntscher(2).

Atualmente, considera-se a escolha do ponto de entrada correto como um dos fatores mais importantes para o sucesso no tratamento de fraturas diafisárias do fêmur, e, para seu êxito, depende do conhecimento apurado da anatomia da região. Para cada modelo de haste existe um ponto de entrada preconizado que deve ser respeitado(3).

O objetivo deste trabalho foi analisar o grau de conhecimento dos profissionais que tratam as fraturas diafisárias do fêmur com a técnica preconizada, relacionando o tipo de haste ao ponto de entrada considerado apropriado.

MATERIAIS E MÉTODOS

Durante o 41º Congresso Brasileiro de Ortopedia, foram distribuídos a médicos ortopedistas e residentes de ortopedia, pessoalmente e de forma aleatória, 500 questionários (Anexo 1 Anexo 1 ), que continham dados referentes à identificação pelas iniciais, sexo, idade, ano de formatura, residente ou não residente, se opera o tipo de fratura simulada (uma fratura diafisária do fêmur transversa tipo A3), e, quando a resposta era positiva, qual é a quantidade de cirurgias anuais e a correlação entre cinco tipos de hastes apresentadas e o ponto de entrada das mesmas (Quadro 1).


Baseado nos livros texto e nos artigos publicados sobre o assunto, definiu-se como ponto de entrada correto a região indicada para cada tipo de haste(3-5) (Figura 1).


MÉTODOS ESTATÍSTICOS

Levando em conta a participação no congresso de 4.000 indivíduos, entre ortopedistas ou residentes de ortopedia, calculamos que 364 deveriam ser entrevistados para que obtivéssemos uma amostra representativa dessa população, admitindo-se um erro amostral de 5%.

RESULTADOS

Os questionários preenchidos por congressistas não médicos, estrangeiros, já respondidos anteriormente ou incompletos não foram considerados. Foram incluídos no estudo 370 participantes, pois 38 questionários foram preenchidos inadequadamente e 92 entrevistados afirmaram não realizar o procedimento em questão.

A idade média foi de 37,7 anos, variando de 27 a 85 anos, com desvio padrão de 9,5 anos.

Dos 370 participantes, 364 (98,4%) eram do sexo masculino e apenas seis (1,6%) eram do sexo feminino.

Na amostra selecionada, 92 (24,8%) indivíduos eram residentes em ortopedia e traumatologia e 278 (75,2%) eram médicos ortopedistas.

Cerca de 237 (64%) indivíduos eram especialistas, sendo 104 (28,1%) indivíduos especialistas em trauma e 133 (35,9%) em outras áreas.

Em relação à quantidade de hastes realizadas por ano, 87 (23,5%) afirmaram realizar menos de cinco hastes; 103 (27,8%) entre cinco e 10; 84 (22,7%) entre 10 e 20; 60 (16,2%) entre 20 e 40; 36 (9,8%) mais de 40 hastes por ano (Figura 2).


Ao serem interrogados sobre a haste de sua preferência, 40 (10,8%) escolheram a haste tipo 1; 161 (43,5%) tipo 2; 74 (20%) tipo 3; 38 (10,2%) tipo 4; 57 (15,5%) tipo 5 (Figura 3).


Correlacionando o tipo de haste utilizada com o ponto de entrada, foram obtidas 67 (18,1%) de respostas corretas e 303 (81,9%) de respostas erradas (Figura 4).


Especialistas em trauma x restante

Quando comparamos os indivíduos especialistas em trauma com o restante (especialistas em outras áreas e não especialistas), chegamos aos seguintes resultados:

Comparando o número de procedimentos realizados por ano, foi observado que os especialistas em trauma realizam mais hastes que os demais entrevistados. Entre esses traumatologistas, 14 (13,5%) realizam menos de cinco hastes por ano; 27 (26,0%) entre cinco e 10; 17 (16,3%) entre 10 e 20; 32 (30,7%) entre 20 e 40; 14 (13,5%) afirmaram fazer mais de 40 hastes por ano. No grupo restante, 73 (27,5%) realizam menos de cinco hastes por ano, 76 (28,6%) entre cinco e 10; 67 (25,2%) entre 10 e 20; 28 (10,5%) entre 20 e 40; 22 (8,2%) afirmaram realizar mais de 40 hastes por ano (Figura 5).


Correlacionando a preferência de haste entre os traumatologistas e os demais entrevistados, foi observada a preferência pela haste tipo 2 em ambos os grupos; no entanto, o primeiro grupo utiliza mais os outros tipos de hastes que o segundo. Dos especialistas em trauma, 19 (18,3%) preferem a haste tipo 1; 35 (33,6%), tipo 2; 20 (19,2%), tipo 3; 14 (13,5%), tipo 4; 16 (15,1%), tipo 5. No grupo restante, 21 (7,8%) preferem a haste tipo 1; 126 (47,3%), tipo 2; 54 (20,3%), tipo 3; 24 (9%), tipo 4; 41 (15,6%), tipo 5 (Figura 6).


Correlacionando os acertos no ponto de entrada dos especialistas em trauma com os demais entrevistados, foi observada uma semelhança entre os dois grupos (Figura 7).


Número de hastes/ano x acertos

Foram encontrados mais acertos entre os que realizam um maior número de procedimentos por ano (Figura 8).


DISCUSSÃO

A obtenção do correto ponto de entrada é um dos aspectos mais importantes na técnica cirúrgica da osteossíntese intramedular anterógrada do fêmur.

A realização incorreta do ponto de entrada pode levar a não união ou pseudartrose e até a novas fraturas iatrogênicas(6-8).

As hastes retas no plano coronal (frente) devem entrar em algum ponto que apresente uma continuidade com o centro do canal medular, ou seja, medialmente ao trocanter maior e no centro; já as hastes que apresentem alguma curvatura proximal nesse plano, têm o ponto de entrada mais lateral.

No plano sagital (perfil), as hastes retas devem ser inseridas na transição do colo do fêmur com a região trocantérica e no centro, enquanto aquelas que apresentem curvatura devem ser inseridas no terço posterior, pois tentam acompanhar o antecurvato do fêmur.

Em relação ao centro do canal medular, um dos locais que tomamos como referência é a fossa trocantérica, uma depressão extra-articular na superfície pósteromedial ao trocanter maior, local de inserção do músculo obturador externo, é também chamada de fossa digital. A fossa trocantérica é habitualmente confundida com a fossa piriforme, sendo a última localizada aproximadamente 2cm anterior à borda posterior do trocanter maior e, nela, se insere o tendão do piriforme(9).

Em um estudo transversal realizado por Kale, apenas 4% dos entrevistados conseguiram identificar em um desenho e nomear adequadamente a fossa piriforme e a trocantérica.

Labronici et al(10) realizaram um trabalho no qual foi projetado o centro do canal medular na região da fossa piriforme através da inserção retrógrada de um fio-guia.

No intuito de adequar o formato do implante à anatomia do fêmur, foram desenvolvidas hastes com curvatura anterior no plano sagital e seu ponto de entrada deve ser realizado na fossa trocantérica.

Em 1977, na mesma fábrica onde foram produzidas as hastes de Küntscher em Kiel, Groose e Kempf apud Bong et al.(11) voltaram a produzir hastes retas, pois facilitava a realização do bloqueio distal, diminuindo a necessidade do uso da radioscopia. Ela ficou conhecida como haste de Estrasburgo. Acreditamos que, por suas características, seu ponto de entrada ideal seja a fossa piriforme.

A ponta do trocanter maior não é colinear ao eixo do canal medular. As hastes inseridas nessa área devem ter um ângulo de aproximadamente 6° em relação ao canal medular. Esse ponto de entrada foi descrito por Küntscher, que usava uma haste vazada e, portanto, mais maleável, podendo sofrer certa deformação e adentrar o canal medular por esse ponto de entrada, mesmo sendo reta(12).

Recentemente surgiu o conceito de um ponto "careca" localizado na faceta lateral do trocanter maior, sendo uma área elíptica onde não há inserções tendíneas. Localiza-se 10° lateral ao centro medular, seu centro geométrico está a 11mm distal da ponta do trocanter maior e 5mm anterior(13).

CONCLUSÃO

Aproximadamente 80% dos entrevistados erraram o ponto de entrada a ser realizado para a haste previamente escolhida, o que sugere que a maioria dos ortopedistas não utiliza a técnica correta para realização do procedimento.

A haste preferida pela maioria dos entrevistados (43,5%), foi a tipo 2, reta no plano coronal e com raio de anteversão de 1.500mm.

Especialistas em trauma realizam mais hastes por ano que o restante dos entrevistados; no entanto, não houve diferença significativa na porcentagem de acerto desses dois grupos.

Não foi sempre que houve proporcionalidade direta entre a quantidade de hastes realizadas por ano e a porcentagem de acertos no ponto de entrada.

A osteossíntese com haste intramedular anterógrada é considerada padrão ouro no tratamento das fraturas diafisárias do fêmur, e, quando realizarmos esse procedimento, devemos ficar atentos à técnica correta.

Trabalho recebido para publicação: 15/03/2011

Aceito para publicação: 16/06/2011.

Trabalho realizado no Departamento de Ortopedia e Traumatologia do Hospital São Paulo, Escola Paulista de Medicina - Unifesp.

Os autores declaram inexistência de conflito de interesses na realização deste trabalho / The authors declare that there was no conflict of interest in conducting this work

Anexo 1

Anexo 1 - Clique para ampliar Anexo 1

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Anexo 1

  • Correspondência:
    Al. Joaquim Eugênio de Lima, 1.656, Apto. 141
    01403-002 - São Paulo, SP.
    E-mail:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      11 Jan 2012
    • Data do Fascículo
      Out 2011

    Histórico

    • Aceito
      16 Jun 2011
    • Recebido
      15 Mar 2011
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