RESUMO
Este artigo discute a problemática da heterogeneidade e seus efeitos no Interacionismo em Aquisição de Linguagem e na Clínica de Linguagem, campos em que ela adquire o estatuto de proposição problemática. Está em questão a não-coincidência de um falante com a própria fala, dessa fala com a da massa falante e, também, entre falas de crianças e falas sintomáticas. Articula-se, neste quadro, o par heterogeneidade-singularidade, que impõe o afastamento ao recurso das descrições categoriais. Distingue-se singularidade de diferenças individuais que frequentam as Psicologias e campo das Ciências Humanas em geral. O pano de fundo teórico que movimenta a argumentação decorre de uma articulação particular entre Estruturalismo Europeu e Psicanálise. Saussure e Jakobson representam uma saída das descrições em favor de uma explicação sobre o movimento que subjaz os enunciados erráticos ou sintomáticos. A Psicanálise introduz a ideia de cisão subjetiva, que suspende a de sujeito epistêmico.
Palavras-chave: Heterogeneidade; Singularidade; Diferenças Individuais; Interacionismo; Clínica de Linguagem
ABSTRACT
This article discusses the problem of heterogeneity and its effects on Interactionism in Language Acquisition and Language Clinic, in which it acquires the status of problematic proposition. The focus is on the non-coincidence between the speaker and his/her own speech, between a speaker and other speakers of a speech community and, also, between children’s speech and symptomatic speech. It is argued that according such perspective, the heterogeneity-singularity opposition is enlightened, which raises obstacles to approach the speakers’s utterances in grammatical terms. The singularity notion is distinguished from individual differences which is deeply incorporated in the field of Psychology and the all Human Sciences, as well. The theoretical background that sustain the argumentative direction developed in this study articulates in a particular way the European Structuralism and Psychoanalysis. Saussure and Jakobson represent a departure from descriptions in favor of explanations concerning the movement that underlies the erratic or symptomatic utterances. Psychoanalysis introduces the notion of split subjective, which suspends that of epistemic subject.
Keywords: Heterogeneity; Singularity; Individual Differences; Interactionism; Language Clinic
1. Introdução
Este trabalho discute a problemática da heterogeneidade e a questão da singularidade que a define de forma precisa e impõe direções argumentativas originais no campo da Aquisição de Linguagem, das Patologias e Clínica de Linguagem4. De fato, tanto do ponto de vista empírico quanto teórico estas são noções essenciais com desdobramentos particulares. Nos campos acima mencionados, o traço marcante da heterogeneidade ganha expressão na não coincidência entre falas de adultos e de crianças, ainda que, como veremos, haja distância entre as manifestações insólitas e claudicantes da criança e aquelas que são designadas como sintomáticas ou patológicas. Não menos surpreendente é a distância que separa falas ou escritas ditas patológicas de adultos daquela de sua comunidade linguística, ou melhor, que circunscreve o mal-estar de um falante na sua língua materna. (Desinano, 2008, 2009, Lier-DeVitto, 2015)
De forma sucinta, colocar em discussão a heterogeneidade é dar destaque à diferença, ao não-idêntico e às consequências que decorrem de seu enfrentamento, o que implica dar voz ao singular, àquilo que é irredutível à semelhança, que resiste a um raciocínio analógico; àquilo que não faz classe. (Lier-DeVitto e Arantes, 2016) Não é sem razão, portanto, que as consequências teóricas, metodológicas e clínicas da heterogeneidade e singularidade só possam ser pensadas por aqueles que a elevam a condição de proposição problemática. (Milner, 1989).
É oportuno assinalar, de início, que é no Interacionismo, conforme proposto e desenvolvido por De Lemos (1982, 1992, 2002) no Projeto Aquisição de Linguagem na UNICAMP,5 que a heterogeneidade é elevada à posição de motor teórico. Esta proposta é distinta das demais visadas Sociointeracionistas6, na medida em que no Campo da Aquisição, ainda que admitida, a diferença entre a falas de crianças e de adultos é obliterada, encoberta. Isso porque o toque na fala da criança se realiza, via de regra, por meio de instrumentos gramaticais (fonético-fonológico, morfológico, sintático, semântico, pragmático-discursivo) que “higienizam” (De Lemos,1982) a característica essencial dessa fala, uma vez que delas restam expressões e segmentos se ajustam aos parâmetros gramaticais. Nestes termos, faz sentido dizer, com Teresa Lemos (2002), que a área de Aquisição da Linguagem faz complemento à Linguística e, neste passo, volta as costas para falas de crianças que são insólitas, elípticas e permeadas por composições não ajustáveis a categorias gramaticais. Fiquemos aqui com as palavras De Lemos: “o investigador que, não vendo alternativa à descrição categorial dos enunciados da criança, está impedido de atender à diacronia do processo de aquisição de linguagem, sobrepondo, através da descrição, os pontos de partida e de chegada” (De Lemos, 2002, p.49), ou seja a eliminação da heterogeneidade marcante entre falas de crianças e de adultos.
A marca diferencial do Interacionismo reside, então, na construção de uma empiria que inclui os erros, tropeços no trajeto do infante na direção de falante (Figueira, 2004; Carvalho,2005;Lier De-Vitto e Andrade, 2011), em outras palavras, tal empiria reintroduz a diferença inequívoca entre falas de crianças e adultos, ilumina a natureza própria dos enunciados infantis. A heterogeneidade é, assim, instituída como proposição problemática que exclui a possibilidade de regularização de falas de crianças, esta é, como efeito, constituída como manifestação interrogante. No Interacionismo, “erros” são “dados de eleição”7.
O enfrentamento da heterogeneidade e a adoção de uma perspectiva estrutural cria uma dissonância entre a proposta de De Lemos e às demais propostas interacionistas da área de Aquisição da Linguagem “em que o apelo ao social suplanta o linguístico”. (Lier-DeVitto e Carvalho, 2008). Tais propostas encontram um limite na abordagem dos “erros” e na explicação sobre as mudanças que são operadas na fala da criança, privilegia-se a dinâmica intersubjetiva, as assimetrias entre os participantes da interação, entretanto, as falas são abordadas por instrumentos gramaticais. Por esta razão a de fala de crianças é, também aqui, dissecada.
Questões semelhantes fazem presença na Clínica de Linguagem, o encontro com as falas sintomáticas, ocorrências também marginalizadas nos estudos linguísticos, introduz impasses da mesma natureza daqueles encontrados no Campo da Aquisição. Mas o sintoma, que abre a porta da clínica, presentifica a face mais radical da singularidade e não pode ser assimilado aos “erros” com os quais lida o investigador da aquisição. Como afirma Lier-DeVitto, o sintoma introduz uma diferença na fala que afeta o próprio sujeito e o “isola [...] dos outros falantes de uma língua” (Lier- De Vitto, 2006), ele aprofunda a dissimetria dialógica/interacional, introduz ali um estranho que perturba a esperada identificação entre falantes de uma mesma língua. A Clínica de Linguagem é espaço de acolhimento da queixa de um sujeito que sofre sob efeito de sua fala. Por isso é que se pode afirmar que só há clínica do singular, ou melhor, só mereceria o título de “clínica” aquela que tivesse como ponto de partida um “não saber antes” do encontro imprevisível do acontecimento da queixa e de uma fala sintomática.
2. Singularidade e diferenças individuais
No campo da Aquisição de Linguagem, via de regra, a heterogeneidade, quando abordada, é reconhecida em trabalhos que tecem considerações referentes às diferenças no ritmo e no estilo do desenvolvimento. Neste caso, o foco da heterogeneidade é deslocado da diferença entre falas de adultos e de crianças e alocado na diferença entre crianças no processo de Aquisição Linguagem. Trabalhos voltados para diferenças individuais não escondem sua adesão a um pensamento desenvolvimentista nem, portanto, sua vinculação ao campo das Psicologias: é, sem dúvida, de “desenvolvimento” que se trata quando se faz menção a diferenças individuais.
Importa sublinhar aqui a vinculação da expressão ao campo da Psicologia, muito antes dele comparecer na área de Aquisição da Linguagem ou das Patologias da Linguagem. O livro de Binet e Henri (1895), A Psicologia Individual, é apontado como marco de nascimento de uma subárea, desde então designada como Psicologia Diferencial que, por definição, “estuda a natureza e o alcance das diferenças individuais nos processos psicológicos”. A meta é chegar a uma “classificação de traços (sinais) e discutir suas funções básicas” (Portela e Pires, 2007). Também Alfred Adler, que se tornou conhecido por sua relação com Freud, é apontado como marco desse nascimento. É preciso dizer que Adler nunca aderiu às ideias de Freud, já que ele buscava estabelecer as bases orgânicas da neurose. Lê-se, em Roudinesco e Plon (1998), que Freud rejeitou o conjunto das ideias de Adler porque, segundo Freud, elas estavam “aderidas a um ponto de vista biológico” e criticou, ainda, o fato dele, Adler, “utilizar a diferença de sexos num sentido estritamente social” (Roudinesco e Plon, 1998, p.7). Digamos que a Psicologia Individual de Adler se desenvolveu como antítese à teoria freudiana. Expressão disso é que o enfrentamento entre Freud e Adler foi violento e virulento - perdurou durante toda a vida de ambos.
Desse antagonismo teórico, podemos retirar que, na base, Psicologia e Psicanálise não se compatibilizam e nem trabalham na mesma direção. Certamente, portanto, a constatação de que a questão das diferenças individuais nasça e se solidifique no domínio das Psicologias não é desprovido de importância para quem reconhece a “hipótese do inconsciente”, caso do Interacionismo e da Clínica de Linguagem.
Relevante, a este respeito é, também, o nó górdio que o psicólogo Stern (1900)8 ata entre individual e social. Stern introduz ao lado das diferenças entre indivíduos, a investigação de diferenças entre grupos (diferenças entre sexos, entre grupos raciais ou sociais). O que unifica as duas vertentes da Psicologia Diferencial é a adesão ao mesmo método, qual seja: acumulação de dados passíveis de serem classificados e que possam ser submetidos a tratamento estatístico e a comparações entre indivíduos ou grupos. Esse estudo empírico, experimental, das diferenças entre indivíduos ou entre grupos é motivado pela heterogeneidade e está voltado para a variabilidade observável - variabilidades que devem ser tornadas estáveis e previsíveis ao serem classificadas e tratadas estatisticamente. A diferença encontrada adquire a qualidade de dado particular, exemplar - “o particular faz classe, ou melhor, subclasse: é espécie em relação a algo mais amplo que a contém” (Fernandes, 2015, p. 2). Pois bem, nas Psicologias o tratamento do heterogêneo faz da diferença um “exemplar”, nesse cenário a Psicologia Diferencial cumpre seu destino como Ciência Humana, que foi tão bem qualificado por Paul Henry (1992), qual seja: o de não escapar a um jogo de complementaridade. Ele diz: “nas ciências humanas, o que não é da ordem do individual é social e vice-versa”( Paul Henry,1992, p.114). Diferenças entre indivíduos ou entre grupos articulam-se sem conflito, como dissemos: particular e classe caminham de mão dadas. Deveria interessar a quem se ocupa de linguagem, aquilo que Paul Henry diz na sequência desse enunciado: “nessa dinâmica de complementaridade, não há lugar para um terceiro - para a Língua9” ( Paul Henry,1992, p.114)e suas consequências.
Implicar este terceiro, a Língua, é invocar Saussure ([1916]1969), o que leva a interrogar em que medida introdução de la langue favorece a teorização sobre o par heterogeneidade/singularidade. A resposta imediata é que o que se valoriza em Saussure é a possibilidade de afastamento das descrições em favor da explicação de toda e qualquer manifestação linguística seja ela de criança, seja ela de falas patológicas em geral, nas palavras de Lier DeVitto “la langue e seu funcionamento na fala são implicados na abordagem das falas imprevisíveis e altamente heterogêneas da criança (De Lemos,1992, 2002). Falas que resistem às tentativas de descrições por aparatos gramaticais” (Lier-DeVitto, 2013, p.120).
A direção tomada por Jakobson ([1954]1969; [1960]1975) é nesse sentido admirável, ele pode ao articular a esfera da Língua à esfera da fala mergulhar nesse espaço de acontecimentos heterogêneos e incluir no escopo de sua reflexão as afasias, as falas de criança e a poesia gesto que indica o ponto de encontro entre aquisição e patologia.
3. Sobre a opção por uma certa Linguística e pela hipótese do inconsciente
Há soluções diversas para o encontro com a heterogeneidade, como procuramos indicar: tudo depende do ponto de vista sobre a linguagem e sobre o falante. O Interacionismo, reformulado por De Lemos, em 1992, deu reconhecimento à ordem própria da Língua e à hipótese do inconsciente (De Lemos, 2002). Com efeito, tem-se a declarada opção pelo Estruturalismo Europeu e a aproximação à Psicanálise. Foram mobilizadas as “leis de referência interna da linguagem” para “descrever e explicar falas de crianças”, i.e., falas “... indeterminadas do ponto de vista categorial, heterogêneas, resistentes à depreensão de suas regularidades...” (De Lemos, 2002, p.51). Sublinhamos, com esta citação, o afastamento definitivo, explicito do Interacionismo em relação à Psicologia do Desenvolvimento e das abordagens gramaticais.
O efeito mais expressivo no Interacionismo é aquele que advém do enfrentamento da heterogeneidade cambiante que move falas de crianças e, consequentemente, o que leva a admitir e sustentar que heterogeneidade é diferença pura, e, por isso, resistente, não-classificável - ela é cambiante e imprevisível. Ela é surpresa na fala de cada criança. Então, o Interacionismo ao resistir a aplicações de aparatos gramaticais e à higienização do que se apresenta como enigmático nas falas, assume posição especial e difícil no campo da Aquisição da Linguagem. Vemos que a importância da heterogeneidade não favoreceu a aproximação ao tema das “diferenças individuais”. A filiação ao estruturalismo aprofundou e deu contorno ao distanciamento da Psicologia, conforme assinalamos, e de suas questões
Incluir enunciados insólitos e fragmentários como empiria central, ou seja, matéria essencial, é sustentar a sua diferença radical. O termo “enigma” qualifica bem esta situação, ele não constitui uma categoria, não descreve claramente uma situação, mas nomeia um efeito e transforma o fenômeno da heterogeneidade em objeto teórico que reflete acontecimentos que resistem à sistematização. A história do Interacionismo diz de uma insistência, de um compromisso de Cláudia Lemos com a fala truncada, claudicante da criança na construção de um modelo teórico que lhe permitisse apreender transformações marcantes na relação da criança com a linguagem, sem desprezar singularidades e cortes indicativos de mudanças. Assim, a partir da leitura que Jacques Lacan faz de Saussure ([1916]1969) em que o psicanalista da destaque a questão do valor Linguístico, o Interacionismo define sua direção teórica: implica leis de funcionamento interno da linguagem no toque da fala de crianças e dá um passo congruente na direção do reconhecimento da hipótese do inconsciente ao sustentar afirmação da não coincidência entre falantes ou de um falante na própria fala. Para refletir sobre a mudança e a relação da criança com linguagem no seu caminho de passagem de infante a falante, De Lemos (2002) declara, então, que “aproximação a Saussure e a um pensamento estrutural com a introdução de “la langue” “pressionou teoricamente a articulação, na proposta de “um sujeito (...) mais compatível com a concepção de língua na teorização da Linguística”” (De Lemos, 2002:p. 54).
O investimento teórico na psicanálise lacaniana produziu um deslocamento fundamental na concepção de criança, interação e de mudança. A criança é abordada enquanto vir-a-ser-falante que é falado pelo outro-falante, como instância da língua constituída. A Língua aparece como um terceiro elemento na relação criança-outro. A interação passa a ser entendida como triádica (Mota, 1995), lê-se em Lacan (1953-54, p.20): “não há two-bodies’ psychology sem que intervenha um terceiro elemento”.
Pode-se assumir, assim, que a interação é sempre dissimétrica, isto é, não há coincidência entre falas, há em qualquer interação dissimetria insuperável, distância entre o que se diz e o que se quis dizer, assim como entre o que se diz e o que o outro recolhe do dito. Em outras palavras, entende-se aqui “que não há homogeneidade ou simetria em qualquer interação e que é exatamente por comportar heterogeneidade insuperável entre falantes, que um sujeito se dirige a outro”. (Lier DeVitto, 2004, p. 51).
Desse modo, a objetivação da linguagem é trabalhada como solidária à estruturação subjetiva, caracterizada como um processo de captura do ser pela linguagem (De Lemos, 2007). No que diz respeito a mudança, ela é definida em termos de deslocamento de posição numa estrutura10 de três polos: relação à fala do outro, à língua e à própria fala (De Lemos, 1998). De Lemos propõe três posições no modo de relação criança com a língua para explicar a mudança, são tempos lógicos da aquisição em se pode reconhecer em cada um deles a dissimetria entre a fala da criança e do adulto, entre fala e escuta do falante consigo próprio, respectivamente (De Lemos, 2002).
Há, no primeiro tempo, a dominância da fala do outro na voz da criança, nela fragmentos são incorporados da fala do adulto, mas não há coincidência entre elas, não se trata de reprodução, mas de repetição com diferença. Há um jogo de espelhamento que articula, na estrutura dialógica, a criança e o outro, articula a diferença entre um falante a advir e um já falante. Neste tempo, predomina o processo metonímico11 que coloca em contiguidade a fala do outro e os segmentos incorporado pela criança: “a alienação como dimensão constitutiva [...] está na base de todas as transformações simbólicas que sua fala opera” (T.Lemos, 2002, p.144 e 2006). A criança fala a fala do outro, ou melhor, é falada pelo outro.
A segunda posição é marcada pela dominância do funcionamento da língua na fala da criança. Ela é falada pela língua, os fragmentos antes incorporados metonimicamente são trabalhados pela incidência do processo metafórico que faz emergir estruturas paralelísticas12 e erros de diversos tipos; produtos de relações entre cadeias que se cruzam produzindo substituições, tempo marcado pela impermeabilidade da criança à correção. Ela não escuta o desarranjo no seu dizer e nem pode, logicamente, escutar “acertos” supostos ao enunciado do outro. Permanecemos, portanto, sob a égide da não coincidência.
Finalmente, na terceira posição há dominância da relação da criança com a sua própria fala, momento estrutural empiricamente assinalado por hesitações, pausas, reformulações e autocorreções que anunciam a emergência da escuta da criança para a própria fala, em outras palavras, ela pode escutar-se e, consequentemente, reconhecer a diferença entre sua fala e a do outro, ponto de cisão constitutiva que ilumina a não coincidência do sujeito consigo mesmo, por certo, aquele que erra não coincide com aquele que reformula, condição característica de um falante identificado com a língua constituída. As três posições estruturais respondem por tempos que levam a conquista de uma posição de falante na língua materna. Há fracassos, contudo, e são estes que convocam um Clínico de Linguagem.(Desinano, 2001, 2003; Lier-DeVitto, 2006, 2011)
Se é possível afirmar que falas de crianças e falas sintomáticas partilham muitas características - são heterogêneas, faltosas e imprevisíveis -, é inegável, entretanto, que os efeitos que elas produzem são radicalmente distintos (Lier-DeVitto, 2011). Em artigo de 1998, Lier-DeVitto e Arantes focalizaram a distância que separa erro e sintoma. Elas deram destaque a um corte que o ouvinte opera, qual seja, o de distinguir entre “normal” e “patológico”. Corte que traz à tona a escuta sensível e refinada do outro que não é indiferente àquilo que numa fala faz presença como diferença. A partição “normal” e “patológico”, dizem elas, não é equivalente ou paráfrase de dicotomias gramaticais apresentada pelos pares “correto vs. incorreto”, “certo vs. errado” e mesmo “possível vs. impossível”13.
O efeito patológico reflete o reconhecimento do já-falante de um não aceitável que se estabiliza e fere o corpo de uma fala, que fere e que ameaçam dizeres na direção de uma não língua Vorcaro (2000). Entende-se por que o Psicanalista Jean Allouch (1995), na esfera das psicopatologias, afirma que o sintoma é expressão daquilo que “não passa a outra coisa” e mantem o sujeito num descompasso, numa desarmonia - manifestação de sofrimento. Se erros em falas de crianças são chistosos tendem a produzir encantamento, no caso de sintoma o resultado é perplexidade, dificuldade, ele introduz um mal-estar na relação criança-outro. O sintoma diz de uma “prisão do sujeito numa falta ou falha”. Acompanhando Lier-DeVitto e Andrade(2011),
“sintoma difere de erro: ele é manifestação de um impacto no processo de captura pela linguagem, impacto que deixa sua marca impressa na relação criança-língua[...] Enquanto manifestação, as diferenças inscritas em falas sintomáticas de crianças são inequívocas, ainda que possam ser abarcadas por um mesmo quadro teórico” (Lier-DeVitto e Andrade, 2011s.p.)
Colocamos aqui lado a lado o Interacionismo e a Clínica de Linguagem como saída teórica que envolve o Estruturalismo Europeu e a Psicanálise sem deixar com isso de distinguir o campo da Ciência e o da Patologia. Assim, mesmo que se possa apreender em falas patológicas a presença das três posições estruturais, elas se embaralham ou se cristalizam de modo extraordinário o que exige um esforço teórico-clínico particular.
Se o espelhamento da fala do adulto, na aquisição, é considerada “porta de entrada” da criança na linguagem, é imperativo ressaltar que ela faz presença em quadros clínicos complexos envolvendo crianças que ali ficam paralisadas, que não passam a outra coisa, caso clássico das ecolalias (Oliveira, 2006) expressão de aprisionamento radical à fala do outro. Um processo pode, então, impulsionar a criança na direção da língua constituída ou retê-la num quadro clínico (Arantes, 2001). A relação que poderia ser constitutiva torna-se impeditiva do caminho da criança na linguagem.
Há, também, crianças que falam muito, mas que ficam presas num movimento anômalo com falas desorganizadas, com aglutinações enigmáticas que complicam a entrada do outro14. São crianças que ocupam posição no diálogo, mas suas falas insistem em substituições paralisantes, índice da incidência de um processo metafórico que não atinge a cadeia e a fala se perde em uma deriva inesperada. Insistência e deriva que barram o caminho da criança para a escuta da própria fala, que, como dissemos, a impulsionaria na direção de um falante pleno, sempre capaz de manter-se no intervalo entre fala e escuta.
A variabilidade dos acontecimentos clínicos é extensa, há singularidades, mas a diversidade manifesta na clínica é abarcável pela lógica dos tempos da aquisição, em outras palavras, as leis de funcionamento da língua dão conta dos problemas envolvidos na captura do ser pela linguagem, esta é uma lição recolhida de Jakobson ([1954]1969) que condensa as manifestações afásicas em dois modos de funcionamento da linguagem, uma lição que rendeu e rende frutos nos trabalhos da Clínica de Linguagem com adultos e crianças sempre que há sintomas na fala, mas a clínica, nos dois casos, testemunha mais. Nas Afasias e demências há enxugamento das possibilidades linguísticas e o manejo clínico exige que se ultrapasse as restrições orgânicas em favor das manifestações simbólicas. (Catrini, 2019; Fonseca, 2002 Marcolino-Galli, 2013). Há crianças que não falam e não falam de modos diversos (Arantes et al, 2001), mas que têm discursividade motora (jogos simbólicos), crianças no campo das psicopatologias que levantam indagações sobre o processo de estruturação subjetiva, que estão na linguagem, mas fora do discurso.
Abordamos neste artigo a questão da heterogeneidade suas múltiplas faces: - a da não- coincidência de uma fala com ela mesma, ou seja, de um falante com a própria fala; a da não-coincidência dessa fala com a da massa falante; a da não-coincidência entre falas de crianças e falas sintomáticas de crianças; a da não-coincidência entre falas sintomáticas num mesmo quadro de linguagem. Colocar-se ao lado da heterogeneidade sob égide da singularidade significa abandonar o recurso a descrições e reduções a diferença a classes ou categorias. Insistimos na natureza imprevisível e não calculável, mas tangível pelo viés explicativo quando se toma partido do par heterogeneidade-singularidade. Interacionismo e Clínica de linguagem convivem com a imprevisibilidade enigmática da não coincidência, do não idêntico, como anunciamos no início deste texto
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Clínica de Linguagem é expressão que nomeia uma proposta iniciada por Maria Francisca Lier-DeVitto, no Programa de Estudos Pós-Graduados em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem, desde 1997 (LAEL-PUCSP).
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O Projeto de Aquisição da Linguagem da UNICAMP (1976) foi proposto por Cláudia de Lemos e coordenado por ela até o final dos anos noventa. Depois de Cláudia de Lemos, o Projeto de Aquisição da Linguagem prosseguiu coordenado por Maria Fausta Pereira de Castro e Rosa Attié Figueira. Ambas fizeram parte do primeiro grupo de pesquisadoras do Interacionismo. Além delas, Ester Scarpa, Maria Cecília Perroni e, posteriormente, Glória Carvalho, Maria Francisca Lier-DeVitto.
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Ver Pereira de Castro e Attié (2006): as autoras afirmam que interacionismo é termo que faz referência a diferentes vertentes teóricas.
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Essa expressão foi utilizada por Rosa Attié Figueira, em título de artigo de 1996. Ver também Figueira (2004).
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Compreende-se por que Stern seja referência no campo da Linguística de Corpus.
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Neste artigo quando escrevemos Língua com maiúscula nos referimos ao objeto da Linguística conforme introduzido por Saussure. Convém lembrar que a Língua (la langue), não faz série, é objeto teórico e não comporta singular ou plural. Já, as línguas, pertencem ao domínio do sensível, ficam do lado da “fala” - podem ser contadas enquanto “realidades”: podem ser indicadas no singular (uma língua) e no plural (as línguas, aquelas línguas). Sobre isso, ver Milner (1978/2012).
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Note-se que o raciocínio espacial (estrutural) suplanta raciocínio temporal (desenvolvimentista) que vige na aquisição da linguagem.
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Conforme assinala De Lemos (2002, p. 51-52) o texto de “Jakobson(1963[1956]) sobre os processos metafóricos e metonímicos, [...reinterpreta] as relações associativas e as relações sintagmáticas de Saussure [...] a partir das figuras de linguagem_ a metáfora e a metonímia [..]Esses processos, definidos o primeiro pela substituição, em uma estrutura, de um termo por outro, e o segundo pela combinação ou contiguidade na relação de um termo a outro, ao serem nomeados como “metafóricos” e “metonímicos”, remetem ao efeito da substituição e da combinação/contiguidade, isto é, à produção de um terceiro (cf.Milner 1989: 390-391).”
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A polaridade possível/impossível polaridade foi introduzida por Chomsky (1957) ao sustentar que uma língua não é um corpus, alinhado. Que sempre esteve à ciência Galileana que opera com a noção de infinito e não de fato ou “dado”.
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Trataremos como exemplar um diálogo entre terapeuta e paciente:T: Você foi, foi, foi com quem no casamento?P: Eu, meu pai, o João, pai dele, né? A Ana, minha mãe, e o meu irmão e o primo do meu irmão, o Elton, né? Que se chama e eu.T: Quem é o João? E a Ana?P: Ana? Eles dois, ahn ... fi ... o Elton ... a mãe, a Ana, é a mãe do Elton. O pai, é ... o pai do Elton.Aí minha mãe é meu pai do meu irmão, né?Só, aí e a Ana e o João, ó. Eles têm um filho, né? Um filho, o Elton. Aí são ele mermo..
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
02 Nov 2020 -
Data do Fascículo
2020
Histórico
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Recebido
10 Jul 2020 -
Aceito
15 Ago 2020