Open-access Infância, ciência e desenvolvimento: representações sociais na Revista Pais & Filhos

Childhood, science and development: social representations in the 'Pais & Filhos' magazine

Resumos

Este artigo traz parte dos resultados de uma pesquisa de mestrado que tratou da relação entre infância e desenvolvimento a partir da análise das representações sociais da infância na revista Pais & Filhos. A revista é pensada como um meio de tornar acessíveis às famílias os conhecimentos advindos de ciências que têm como objeto de estudo a criança, haja vista que apresenta discursos de diversos especialistas, principalmente os vinculados à medicina e à psicologia. O trabalho objetiva analisar as representações sobre desenvolvimento infantil presentes na revista e a sua legitimação por meio do discurso dos especialistas. Considera a presença e a legitimidade dos diferentes discursos nessa publicação: dos especialistas, dos pais e das crianças e trata do tema do desenvolvimento, um dos pilares das representações da infância na Pais & Filhos. Por fim, discute os resultados, enfocando o tema da infância como objeto de especialistas, a partir de uma racionalidade moderna.

Infância; Desenvolvimento; Representações Sociais


This paper presents part of the results from a master's degree research addressing the relationship between childhood and development, based on the analysis of social representations of childhood in the 'Pais & Filhos' magazine. The magazine is conceived as a means of making accessible to families the scientific knowledge that has the study of children as its object, given that features speeches from many experts, especially those related to medicine and psychology. This study aims to analyze the representations of child development present in the magazine and its legitimation through the discourse of experts. It considers the presence and legitimacy of different discourses in this publication: by experts, parents and children, and addresses the issue of development, one of the pillars of childhood representation in the 'Pais & Filhos' magazine. Finally, it discusses the results, focusing on the theme of childhood as the target of experts, as from a modern rationality.

Childhood; Development; Social Representations


ARTIGOS ARTICLES

Infância, ciência e desenvolvimento: representações sociais na Revista Pais & Filhos

Childhood, science and development: social representations in the 'Pais & Filhos' magazine

Cristiane Queiroz de Souza AssunçãoI; Raquel Martins de AssisII; Regina Helena de Freitas CamposIII

IMestre em Educação pela da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Professora de Educação Física da Rede Particular de Ensino de Belo Horizonte. E-mail: crisqsa@gmail.com

IIDoutora em Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFMG. E-mail: raamart@yahoo.com.br

IIIDoutora em Educação pela Stanford University e Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). E-mail: regihfc@terra.com.br

Endereço para correspondência Contato: Universidade Federal de Minas Gerais Faculdade de Educação Av. Antônio Carlos, 6627, Pampulha CEP 31270-901 Belo Horizonte, MG Brasil

RESUMO

Este artigo traz parte dos resultados de uma pesquisa de mestrado que tratou da relação entre infância e desenvolvimento a partir da análise das representações sociais da infância na revista Pais & Filhos. A revista é pensada como um meio de tornar acessíveis às famílias os conhecimentos advindos de ciências que têm como objeto de estudo a criança, haja vista que apresenta discursos de diversos especialistas, principalmente os vinculados à medicina e à psicologia. O trabalho objetiva analisar as representações sobre desenvolvimento infantil presentes na revista e a sua legitimação por meio do discurso dos especialistas. Considera a presença e a legitimidade dos diferentes discursos nessa publicação: dos especialistas, dos pais e das crianças e trata do tema do desenvolvimento, um dos pilares das representações da infância na Pais & Filhos. Por fim, discute os resultados, enfocando o tema da infância como objeto de especialistas, a partir de uma racionalidade moderna.

Palavras-chave: Infância; Desenvolvimento; Representações Sociais.

ABSTRACT

This paper presents part of the results from a master's degree research addressing the relationship between childhood and development, based on the analysis of social representations of childhood in the 'Pais & Filhos' magazine. The magazine is conceived as a means of making accessible to families the scientific knowledge that has the study of children as its object, given that features speeches from many experts, especially those related to medicine and psychology. This study aims to analyze the representations of child development present in the magazine and its legitimation through the discourse of experts. It considers the presence and legitimacy of different discourses in this publication: by experts, parents and children, and addresses the issue of development, one of the pillars of childhood representation in the 'Pais & Filhos' magazine. Finally, it discusses the results, focusing on the theme of childhood as the target of experts, as from a modern rationality.

Keywords: Childhood; Development; Social Representations.

INTRODUÇÃO

Este artigo apresenta parte dos resultados de uma pesquisa de mestrado em que se tratou da relação entre infância e desenvolvimento, a partir da análise das representações sociais da infância na revista Pais & Filhos1. Trazemos aqui as discussões acerca de duas etapas dessa pesquisa: a primeira consistiu em uma análise mais geral da Pais & Filhos entre 1968 e 1998 – primeiros 30 anos da publicação, quando era editada pela Editora Bloch – na qual procuramos investigar as principais características da revista; a segunda tratou da análise das representações sociais dos corpos infantis na publicação entre 1968 e 1977, quando Pais & Filhos se intitulava "a revista mensal da família moderna"2.

A revista Pais & Filhos é, dentre as revistas sobre cuidados e educação das crianças em circulação atualmente, a mais antiga. Sua distribuição e tiragem eram expressivas: as seções com participação dos leitores traziam cartas de vários estados brasileiros e até do exterior; sua tiragem variou entre 130 e 300 mil exemplares no período estudado.

A teoria das representações sociais foi utilizada como principal referencial para as análises realizadas, interessando-nos especialmente duas das funções das representações sociais: tornar acessíveis os conhecimentos da ciência, transferindo-os de um universo reificado para um universo consensual, e contribuir para os processos de "[...] formação de condutas e de orientação das comunicações sociais [...]" (MOSCOVICI, 1978, p. 77). Moscovici (2003) nos auxilia a compreender as representações sociais como dotadas de grande importância na construção de um senso comum que, segundo o autor, nada mais é do que a ciência tornada comum.

No âmbito das representações sociais, a revista Pais & Filhos pode ser pensada como um meio de tornar acessíveis às famílias os conhecimentos advindos das ciências que têm como objeto de estudo a criança, haja vista que ela apresenta discursos de especialistas vinculados à medicina e à psicologia3. Assim, ela constrói e veicula representações sociais da infância que, por sua vez, circulam na sociedade e se tornam referência nos processos subjetivos de apropriação do conhecimento e de tomada de decisão. As representações sociais não apenas refletem a realidade mas participam da sua construção conforme o entendimento de Moscovici, que não as considera "[...] como 'opiniões sobre' ou 'imagens de', mas como 'teorias', 'ciências coletivas' sui generis, destinadas à interpretação e elaboração do real [...]" (MOSCOVICI, 1978, p. 50), formando uma modalidade particular de conhecimento.

Sobre as formas de reprodução realizadas pela representação social em sua relação com a realidade, Moscovici (1978) afirma:

Ela reproduz, é certo. Mas essa reprodução implica um remanejamento das estruturas, uma remodelação dos elementos, uma verdadeira reconstrução do dado no contexto dos valores, das noções e das regras, de que ele se torna doravante solidário. Aliás, o dado externo jamais é algo acabado e unívoco; ele deixa muita liberdade de jogo à atividade mental que se empenha em apreendê-lo [...] (MOSCOVICI, 1978, p. 26).

A linguagem, de acordo com o autor, é instrumento central desse jogo de construção de novas modalidades de conhecimento, pois captura o dado da realidade, circunscrevendo-o, impregnando-o de metáforas e projetando-o no campo do simbólico (MOSCOVICI, 1978). Portanto, justifica-se a análise das representações sociais da infância na revista à medida que essas não apenas possibilitam a aproximação do contexto de sua produção mas, principalmente, elucidam intenções e projetos de construção da realidade da infância, ao orientar as famílias no cuidado e educação das crianças. Essas orientações são apresentadas no tratamento de diversos assuntos, tais como saúde, comportamento, educação, moda, literatura, lazer etc., por pessoas autorizadas a fazê-lo.

O presente texto apresentará as representações sobre desenvolvimento infantil presentes na revista e a sua legitimação por meio do discurso dos especialistas. Assim, o artigo se organizará da seguinte forma: em primeiro lugar analisaremos a presença e a legitimidade dos diferentes discursos na publicação: dos especialistas, dos pais e da criança; em seguida trataremos do tema do desenvolvimento, um dos pilares das representações da infância na revista; por fim faremos uma discussão desses resultados, enfocando o tema da infância como objeto de especialistas, a partir de uma racionalidade moderna.

A REVISTA PAIS & FILHOS: DISCURSOS LEGITIMADOS

Pais & Filhos se propõe a tratar de diversos aspectos do universo familiar, apoiando-se em conhecimentos científicos, principalmente os advindos da medicina e da psicologia. Procura traduzi-los para uma linguagem simples e direta, mais acessível aos leitores. Nesse sentido, não se trata de um periódico de divulgação científica, mas de uma revista que ao apropriar-se do discurso científico inaugura novos discursos marcados pela presença de inúmeras representações. Os representantes da ciência – os especialistas – e os divulgadores – a mídia – produzem e transmitem essas representações, ao passo que elas se transformam no processo de apropriação e passam a constituir uma realidade sui generis (MOSCOVICI, 2003).

Assim, a Pais & Filhos traz suas representações sociais e, concomitantemente, media o processo de construção das representações de seus leitores. O artigo em comemoração ao aniversário de 15 anos da revista exemplifica bem esse aspecto:

Cada repórter ou redator é sempre um orientador preciso que apura a informação até eliminar todas as dúvidas, transformando a árida linguagem científica em leitura simples e agradável, colocando sempre boa dose de carinho ao leitor [...] (PAIS..., 1983, p. 48).

A dose de carinho referida na citação insere-se em um clima de cumplicidade com o leitor, fator presente em vários discursos sobre os objetivos da revista, anunciados por expressões como "lado a lado", "diálogo com os pais", "viver com", "apoiar", "ajudar", "colaborar", dentre outras.

Por outro lado, apesar dessa parceria, a revista advoga como papel principal ser uma referência em assuntos relacionados à família, ser autoridade no assunto, o que se expressa em verbos tais como: "analisar", "contrapor", "discutir", "explicar", "esclarecer", "orientar", "informar", "prestar serviço", "desvendar", "revelar", "formar opinião", "comentar", "solucionar", "conduzir", "criar", "inovar", "divulgar", "apontar"... Pais & Filhos acredita no seu papel formador e transformador da realidade: "[...] sempre esteve ao lado dos pais na tarefa de trazer uma vida ao mundo e de guiá-la, passo a passo, no caminho do crescimento e na certeza de um futuro melhor [...]" (PAIS..., 1988, p. 67). Esse papel é justificado pelo periódico por meio do argumento de que a criança – principal objeto da revista – é o futuro da sociedade. Cuidar da criança é cuidar, sobretudo, de uma garantia de futuro e de continuidade do mundo, como mostram as passagens:

"Estamos certos de colaborarmos em grande parte para a criação de um mundo melhor. Afinal, lidamos com o esteio de tudo [...]" (NOSSOS..., 1985, p. 49) e "[...] a saída para um mundo melhor começa pelo carinho, respeito e cuidado com a saúde de nossas crianças [...]" (PAIS..., 1988, p. 68).

A idéia de continuidade e de criação de um mundo melhor

[...] supõe a pretensão de projetar, planificar e fabricar o futuro, ainda que para isso tenha de antecipar e produzir, também, as pessoas que viverão no futuro, de modo que a continuidade do mundo permaneça garantida [...] (LARROSA, 2006, p. 190).

Dessa forma, como afirma Kohan (2008, p. 45), a infância tem sido vista, ao longo da história, de uma forma muito particular, isto é, como "[...] o material das utopias, dos sonhos políticos dos filósofos e dos educadores [...]". Sempre existe, portanto, a pretensão de educar a criança rumo a um modelo de ser humano ideal, sendo que poucas vezes a criança é tratada como criação e não como algo a ser criado (KOHAN, 2008). Entretanto, a pretensão de guiar todos os passos das crianças, de orientá-las em direção a um futuro já planejado pode impedir a ascensão da novidade e da possibilidade de mudança que o nascimento de cada criança traz em si (LARROSA, 2006). Essa pretensão, por outro lado, está associada à própria emergência da preocupação com a criança como alguém diferente do adulto, que se deu a partir da introdução moderna da ideia de contingência da vida, que acarretou a percepção para o humano de sua própria finitude (CORAZZA, 2000).

A partir dessa preocupação, as crianças passam a ter seu corpo e sua vida calculadas pelos campos de controle do saber e de intervenção do poder, os quais se deixarão implicar em sua saúde, alimentação, condições de existência, necessidades, interesses, desejos, identidade (CORAZZA, 2000). Nesse sentido, a ideia de continuidade do mundo está associada ao ideal moderno de civilização. Veiga (2006) identifica um ideal de infância adequado a uma nação que se pretendia civilizada, forjado a partir da interferência da ciência nas famílias, principalmente pelos conhecimentos da medicina e do higienismo, a partir de uma ampliação da circulação de produções escritas destinadas às mães com orientações a respeito da criação dos filhos já no século XVII. Gouvêa e Bahiense também se referem à curiosidade pela infância (2011) presente na literatura e na vida cotidiana dos séculos XIX e XX, por meio da produção de diários sobre o desenvolvimento das crianças feitos por mães, pais e educadores.

Na Pais & Filhos, mesmo que frequentemente através de uma perspectiva de preocupação com o futuro, pode-se considerar que a criança está no centro dos objetivos da revista. A presença de imagens de crianças nuas – mais frequentes até o final da década de 1970, mas presentes durante todo o período analisado, embora em menor número e cada vez de forma mais discreta – ilustra a perspectiva da infância como objeto natural a ser desvendado pela revista. Se a presença da nudez infantil é prontamente associada a um contexto de intensas mudanças sociais, a presença de imagens de crianças nuas durante todo o período – mesmo que de forma cada vez mais velada – talvez possa sugerir que, além desse sentido, a nudez apareça na Pais & Filhos como uma metáfora de "conhecer", "descobrir". Os artigos escritos de forma mais didática costumam estar acompanhados dessas imagens, como é o caso de Consulte e Depois Chame um Médico (CONSULTE..., 1969), que traz um encarte com uma foto de uma criança nua com linhas que ligam várias partes do seu corpo a explicações sobre a saúde delas. Além disso, a presença dessas fotos logo na capa da publicação parece anunciar a pretensão de desnudar não apenas os corpos infantis mas tudo que envolve o ser criança. Um exemplo bastante claro disso é a capa da edição de janeiro de 1970 (Figura 1), em que se vê a imagem de um menino e uma menina totalmente despidos – a não ser pelo laço cor-de-rosa que a menina traz atado à perna (a marca cultural que complementa a diferenciação anatômica dos sexos e reafirma as características associadas ao gênero) – segurados por mãos adultas. Essas podem representar as mãos dos pais, ou mesmo as dos especialistas.


Essa centralidade da criança na publicação se desdobra em uma gama de orientações em relação a seu cuidado e sua educação, referenciada principalmente nos conhecimentos científicos a respeito da infância. Os especialistas da infância, nesse sentido, são os principais porta-vozes dessas prescrições e o conhecimento especializado sobre a criança se configura como o conhecimento legitimado pela Pais & Filhos.

As matérias publicadas geralmente levam a assinatura de três tipos de profissionais: redatores, fotógrafos e consultores científicos. A presença dos consultores científicos é marcante na revista, sendo valorizada por ela e anunciada como um dos fatores responsáveis por sua credibilidade.

Pais & Filhos traz em todas as edições uma lista de seu corpo de consultores, na qual predomina a presença da medicina e suas diversas especialidades. A presença da psicologia e da psicanálise também é marcante, embora em menor número. Esta configuração prevalece em todo o período da análise, mas outras especialidades frequentam o rol de consultores, como nutrição, direito, pedagogia, odontologia, dentre outras.

A relação da revista com os especialistas parece ser bem próxima e em uma via de mão dupla: da mesma forma que a publicação busca valorizar seu conteúdo através do aval da ciência, os consultores também parecem acreditar na revista como um veículo de divulgação da ciência e de educação da população. Essa relação pode ser percebida na passagem seguinte, em que se relata uma matéria escrita a partir do convite de um consultor:

A redação ainda estava no ritmo das festas de fim de ano quando recebemos um telefonema do neurocirurgião Luiz Cláudio M. Rocha [...], nosso consultor, para que fotografássemos uma operação que seria realizada horas depois pela equipe do Hospital Jesus, no Rio de Janeiro. [...] A repórter Simone Fernandes e o fotógrafo Carlos Hungria assistiram à operação e fizeram a matéria que está na página 42 [...] (JORGE, 1981, p. 4).

Em várias passagens, Pais & Filhos faz referência a eventos científicos. No editorial de dezembro de 1988, por exemplo, a editora relata que a redação da revista ainda está "[...] vivendo sob o clima do XII Congresso Mundial de Ginecologia e Obstetrícia que se realizou recentemente no Rio de Janeiro, reunindo centenas de especialistas famosos [...]" (LEAL, 1988, p. 3). Nesse sentido, é significativa a proximidade que a publicação procura manter com as atividades científicas, fator que acentua o seu papel de divulgação da ciência.

O trabalho dos consultores descrito no depoimento do ginecologista e obstetra dr. Fernando Estellita Lins na edição comemorativa de 21 anos da publicação demonstra outra faceta da relação com a ciência – a sua vulgarização, ou seja, o processo de transformação ocorrido nos discursos e o processo de construção de novas representações ao se realizar a popularização dos conhecimentos:

O papo com o jornalista é simples, longo, descontraído. Às vezes levamos horas conversando. Tento usar uma linguagem coloquial, evitando jargões científicos e técnicos, ou seja, o famoso mediquês. Sobre o que foi dito, o redator ainda faz o miraculoso trabalho de síntese, adaptando tudo à linguagem da revista. Mais tarde, o texto volta às minhas mãos para ser avaliado, revisto e até corrigido, quando é o caso [...] (PAIS..., 1988, p. 68).

Além desse trabalho de consultoria, os especialistas frequentam as páginas da Pais & Filhos também através de entrevistas e de matérias a seu respeito. Isto ocorre tanto com consultores da revista quanto com outros profissionais, muitas vezes referências importantes em sua área de conhecimento. Um exemplo de entrevista é encontrado na edição de setembro de 1988, com a presença de especialistas de várias áreas. O título do artigo é bem sugestivo dos papéis atribuídos aos consultores e aos leitores nessa relação: Pergunte a Quem Entende do Assunto.

Alguns consultores se constituem como importantes destaques na revista através de seções próprias presentes durante praticamente todo o período analisado. Um exemplo é o dr. Rinaldo De Lamare4, autor da seção Os Conselhos do Dr. De Lamare, que tem início em 1971 e permanece durante todo o restante do período analisado. Na seção, o pediatra trata de assuntos diversos relativos ao cuidado e à educação das crianças. Além de sua coluna, ele frequenta sempre as páginas da revista, seja em entrevistas, artigos ou através de anúncios publicitários do seu livro. Em junho de 1989, quando a Pais & Filhos lança a seção Gente Grande, composta por entrevistas "[...] com pessoas que vêm se destacando, com seus trabalhos, no universo infantil [...]" (MOURA, 1989, p. 33), é o dr. De Lamare que estreia a seção, juntamente com o obstetra Simão Colovsky, com quem publicou um livro. Já em junho de 1991, a Pais & Filhos publica uma entrevista resultante de uma mesa-redonda com o dr. De Lamare, que contava então 81 anos e na ocasião comemorava 50 anos de seu livro A Vida do Bebê, publicado pela Editora Bloch e então em sua 38ª edição.

Nesse contexto observamos que a presença do discurso dos pais é menor em relação ao dos especialistas. Ao longo do período analisado, os leitores participam da revista por meio de diversas seções. A seção destinada à publicação de cartas enviadas existe desde os primeiros números. No início intitulava-se Pais e Filhos Escrevem e era destinada a divulgar elogios, críticas, comentários e dúvidas. Algumas questões demandavam consulta aos especialistas, mas a revista se limitava a pedir que o leitor endereçasse a carta a um de seus consultores, quando se tratava de uma questão mais individual, ou a responder de forma breve, sem entrar muito em detalhes. Além das cartas, a partir de 1972 a seção passa a publicar fotos de crianças em preto e branco enviadas por seus leitores. A partir de 1975, a seção começa a se chamar simplesmente Cartas e a responder dúvidas enviadas aos consultores com maior frequência. O número de fotos publicadas também aumenta. De 1980 a 1990, a seção recebe o nome de Caixa Postal 285 e é dividida por especialidades: pediatria, psicologia, ginecologia, dentre outras, além de "redação" – destinada a questões sobre a revista – e das fotos das crianças.

Entretanto, a partir de março de 1982, as fotos passam a não ser mais publicadas junto à seção de cartas mas, coloridas, a constituir a seção Galeria do Mês. Em agosto de 1990, a seção de cartas passa a se chamar P & F Responde e, acompanhando o novo layout da revista, torna-se mais colorida. A Galeria do Mês continua presente até 1995. Mas, em 1997, a mesma seção volta com um novo nome: Olha Eu Aqui.

Além das acima citadas, outras seções são destinadas a responder as dúvidas dos leitores. Advogado de Família, entre 1972 e 1991, responde os questionamentos dos leitores sobre direito de família. Já Consultório Alimentar, entre 1979 a 1989, traz respostas para perguntas relativas a nutrição e alimentação.

Além disso, a Pais & Filhos conta esporadicamente com seções organizadas a partir de dúvidas de seus leitores. É o caso de Os Problemas de Pais e Filhos, publicada até 1971 e configurada como uma consulta por parte de um leitor a um especialista da revista que, por sua vez, trata do tema pedido em, geralmente, duas páginas. Em meados da década de 1980, uma seção similar é algumas vezes publicada, mas com o nome Pais e Filhos Responde e, eventualmente, com uma maior quantidade de texto a respeito do assunto.

Se na maior parte das vezes a participação dos leitores ocorre por meio de uma consulta a um especialista através da revista, por outro lado os depoimentos também se configuram como uma prática comum da publicação. A seção Casos que Servem de Exemplo, publicada algumas vezes na década de 1970, valoriza essa contribuição:

A sua experiência de mãe tem mais importância do que você imagina. Ela poderá ser útil a outras famílias, que por vezes vivem problemas idênticos aos seus. Muitas mães não conseguem resolvê-los porque não conhecem como outras mulheres iguais a elas puderam superá-los. [...] Se você teve um problema dessa natureza e conseguiu que tudo terminasse bem, conte sua experiência através de PAIS & FILHOS [...] Nós sabemos que podemos contar com você. E as mães também: elas querem conhecer e aproveitar o exemplo de gente como elas [...] (CASOS..., 1971, p. 50).

Esta seção traz histórias contando a experiência de suas leitoras na educação dos filhos. Entretanto, tais narrações não são feitas em voz ativa: os casos não são reproduzidos tais como enviados mas narrados na terceira pessoa. Esporadicamente, algumas matérias trazem depoimentos dos leitores. O editorial de junho de 1985 anuncia um desses artigos:

Este mês, uma leitora nos dá o seu emocionante depoimento sobre a luta que travou durante dez anos e em toda uma gravidez difícil para realizar o sonho de ser mãe. Esta é PAIS & FILHOS, nova em seus quase dezoito anos. Mais do que nunca preocupada em abordar os temas de seu interesse e em ouvir suas experiências, ajudando-a também a esclarecer as dúvidas que sempre surgem no caminho [...] (LEAL, 1985, p. 3).

A passagem acima exemplifica a relação existente na revista entre orientação aos leitores e valorização da experiência deles. Na maioria das vezes prevalece o tom de ensinamento nas matérias, embora a consideração dos saberes das mães também esteja presente em menor escala. Às vezes, a valorização da experiência dos pais adquire um tom sentimental em que se valorizam os atributos de amar e cuidar da criança, como no editorial de novembro de 1986:

[...] Ensinamentos valem, sim. Para isto, aqui estamos nós neste número, cheio de dicas tão úteis. Mas, acima de todas as normas, de todos os conselhos, existe este seu coração cheio de ternura, a mão que embala o berço e afasta os perigos do mundo. Assim, você vai descobrir os caminhos para cuidar de seu bebê. Fique certa disso, mamãe [...] (LEAL, 1986, p. 3).

Assim, ao representar a infância, Pais & Filhos assume uma atitude moderna: elege como principais referenciais os conhecimentos científicos e como interlocutores privilegiados os especialistas. Os pais, por seu turno, pedem conselhos e preocupam-se em se colocar diante das prescrições, sendo sua experiência considerada, embora minoritariamente. A criança – o infans, ou seja, o etimologicamente significado, em sua expressão política e normativa, como "incapazes de falar" (KOHAN, 2008) – assume o lugar de objeto do discurso de especialistas e pais.

Nesse sentido, em relação ao discurso sobre a infância, a revista assume diversas estratégias. Na maioria das vezes, ela o profere do seu lugar de especialista, tratando a criança como seu objeto, como no caso do artigo Criança para Principiante (SILVA, 1969), que cita informações diversas sobre o modo de ser das crianças e traz uma ilustração que configura bem o entendimento da criança como o diferente, o primitivo a ser entendido e domesticado: uma criança ao lado de chimpanzés (Figura 2).


Em casos frequentes, a Pais & Filhos se coloca no lugar da criança, assumindo a sua fala, a partir de um discurso idealizador de um modelo de infância, como exemplifica a matéria publicada em junho de 1972 intitulada Protesto!: "Estamos aqui representando a Liga dos Bebês. Queremos mostrar aos adultos o que consideramos nossos direitos, explicando, em 10 itens, o que esperamos deles [...]" (PROTESTO, 1972, p. 20). Outros exemplos podem ser dados: Diário de um Bebê Dentro do Útero (MENDONÇA, 1982), que traz a história de um bebê no ventre materno contada na voz dele mesmo ou Se Recém-Nascido Falasse... (BOECHAT, 1998), que conta as primeiras sensações de um recém-nascido da mesma forma. Essa apropriação da fala infantil pode ser uma estratégia para sensibilizar os pais através da emotividade.

Embora não seja uma revista voltada para o público infantil, em algumas oportunidades a revista traz a fala das crianças. Os artigos A Realidade do Sonho no Mundo Infantil (FERNANDES, 1981), que publica uma entrevista com quatro crianças, e O Vencedor é... (O VENCEDOR..., 1994), que relata uma pesquisa realizada com 1.400 crianças sobre os melhores do ano em várias categorias, como cinema, esporte, televisão, música, teatro, literatura etc., são alguns dos escassos exemplos. A seção Criança Diz Cada Uma, presente durante quase todo o período analisado, apresenta as crianças em uma configuração humorística, na qual o adulto traz a sua representação do universo infantil recortando falas de crianças aparentemente desprovidas de sentido ou vistas como engraçadas.

Em outros casos, a revista publica a fala ou a expressão da criança mas procura traduzi-la, como nos vários artigos sobre grafologia5 publicados ao longo do período ou na matéria Um Recado Para Mamãe (FERREIRA, 1997), cujo assunto são as respostas de várias crianças quando perguntadas sobre o que gostariam de dizer à sua mãe e a interpretação das mesmas por uma psicóloga.

A publicação, ao apresentar a opinião de especialistas, os conhecimentos da ciência e os saberes e práticas relativos à infância vigentes nos variados contextos, orienta os pais em relação aos cuidados e educação de seus filhos mesmo em questões aparentemente subjetivas, como é o caso da felicidade. Em fevereiro de 1981, publica o artigo Como Seu Filho Pode Ser Feliz (GONZALEZ, 1981), que enumera as condições necessárias para a felicidade de uma criança. Já em agosto de 1998, publica o teste Seu Filho É Feliz? (SEU FILHO..., 1998), que auxilia os pais, a partir de respostas a perguntas selecionadas, a diagnosticar o nível de felicidade de seus filhos.

A revista Pais & Filhos, idealizada para auxiliar no projeto de construção de um modo de ser moderno através da orientação das famílias, contribuiu para a construção de representações ideais da criança. Nesse sentido, participou de um processo de normatização da infância em que uma das facetas mais marcantes é a identificação da infância como um tempo de desenvolvimento e o estabelecimento de uma sequência "normal" a ser percorrida pelas crianças.

INFÂNCIA E DESENVOLVIMENTO

A representação da infância por meio da palavra desenvolvimento é muito frequente na Pais & Filhos. Vários artigos sobre o comportamento – motor, social, psíquico – esperado para cada idade são publicados ao longo de todo o período analisado. Descrições mês a mês da gravidez ou do primeiro ano do bebê são muito comuns. Assim, os tempos da vida se configuram na revista como bem demarcados e portadores de características específicas. Matérias inteiras sobre tempos particulares são habituais (1º mês de gravidez, 1ª semana do bebê, criança aos 2 anos, bebê de 0 a 3 meses etc.). A própria revista, em suas primeiras edições (até início de 1970), após listar as matérias no sumário, traz um pequeno guia com uma divisão delas por etapas da vida:

Se você espera um bebê, leia nas páginas 4, 44 e 149. Se você já tem um bebê, não deixe de ler as páginas [...] Se seu filho tem menos de 10 anos, veja as páginas [...] Se você tem um filho adolescente, páginas [...] E mais, matérias de interesse geral, páginas [...] (PAIS & FILHOS, 1969, p. 3).

Matérias especiais sobre o assunto também são publicadas pela revista, como o especial O 1º Ano do Bebê (ALVARENGA; COUTINHO; VENTURA, 1990), publicado em fevereiro de 1990, e também O Desenvolvimento de Seu Filho de 0 a 15 Anos (EM QUATRO..., 1981), publicado em quatro fascículos para encadernar, em 1981, que aborda vários aspectos do desenvolvimento motor, social e psíquico, além de conter um espaço para anotações dos pais e para fotos de seus filhos. A apresentação da coleção, que acompanha o primeiro fascículo, ilustra bem o discurso desenvolvimentista que caracteriza a criança como "menor" – significação à qual está atrelado um juízo de valor: "Ele [o álbum da coleção] se tornará, num futuro não muito longínquo, um documento precioso sobre essa sua hoje querida coisinha que, logo, logo vai transformar-se num belo rapaz ou numa linda moça [...]" (EM QUATRO, 1981, p. 58). Assim, como já discutimos anteriormente, a infância é valorizada como idade de preparação para o futuro adulto.

Nesse contexto em que a criança é objetivada como desenvolvimento, Pais & Filhos publica testes de desenvolvimento para os pais realizarem com seus filhos. Dividido em duas edições – a primeira tratando do desenvolvimento mental e motor e a segunda dos aspectos de linguagem, socialização e conquista da independência – o teste publicado em agosto e setembro de 1989 traz a seguinte nota:

Observar as primeiras conquistas do bebê é uma experiência realmente deslumbrante. Mas, ao lado do prazer de acompanhar o desenvolvimento do filho, existe também a preocupação de saber se seus progressos estão de acordo com a idade que tem. Para tirar as dúvidas, faça o teste e veja como o bebê está progredindo [...] (MORAES, 1989, p. 73).

Além disso, em toda a revista predomina o discurso sobre uma criança marcada por etapas do desenvolvimento, sendo frequentes as expressões como "fase do não", "idade dos porquês", "fase egoísta", dentre outras. Vários outros assuntos são tratados tendo como referência as palavras fases, faixas, idades ou etapas da vida, como o brincar, que aparece, por exemplo, nas matérias Brinquedos – Uma Escolha Levada a Sério (FERNANDES, 1984), que apresenta brinquedos adequados a cada faixa etária, e Hora de Brincar (CASTILHO, 1997), que também divide os brinquedos por faixas de idade, mas as atrela a etapas de desenvolvimento: "a fase do fazer e desfazer", "do desenvolvimento motor", "a idade dos porquês", "a lógica passa a operar". O tema saúde também aparece vinculado às idades, como no artigo Receita de Saúde (BOECHAT, 1997), que trata da saúde da mulher de 0 a 59 anos. Outro exemplo é a seção Seu Filho e Você, publicada desde 1982 até o final do período estudado, que traz os mais diversos assuntos, tratados de forma rápida, considerados específicos de cada etapa, que vão da gravidez à adolescência.

A análise das representações dos corpos infantis também permite vislumbrar como o tema é central na revista. A diferenciação entre corpos normais e anormais é uma das representações mais recorrentes na Pais & Filhos. O corpo normal assume dois significados principais: a) o que não possui deformações físicas; b) o que se desenvolve conforme o esperado.

O corpo normal oposto ao corpo deformado ou disforme está relacionado à aparência física. Entretanto, a principal referência, para classificar o corpo como normal é o desenvolvimento. Nesse caso, o corpo normal é o que cresce e se desenvolve conforme o esperado.

O corpo em desenvolvimento é localizado no tempo. A infância é dividida e não se configura mais como uma idade homogênea: não se fala sobre a criança, mas sobre a criança de 5 anos, de 7 anos, o bebê de 3 meses. Essa especialização é um prolongamento do desenvolvimento do que Ariès chama de moderno sentimento da infância, que substitui um estado no qual a infância nem mesmo se configurava como uma idade distinta da adulta. A vida já foi dividida de acordo com o número de planetas, os meses do ano ou os signos do zodíaco (ARIÈS, 1981). Entretanto, é a partir da modernidade, com o crescente interesse pela educação e o investimento médico na infância, que se forja uma racionalidade que, sem desconsiderar um percurso traduzido pelas idades da vida, se deteve na infância para delimitar fases ainda mais específicas, no intuito de guiar essas intervenções (FERREIRA; GONDRA, 2006). Vários artigos da Pais & Filhos trazem essa divisão por idades, mesmo os que não tratam especificamente do desenvolvimento, enfatizando que há formas de cuidar da criança distintas de acordo com a idade. Assim, os corpos infantis também passam por estágios, fases ou etapas.

Em cada período de tempo – ou estágio – são esperados determinados comportamentos das crianças e são criadas expectativas em relação às suas características. Na revista, isso se expressa primordialmente a partir das famosas tabelas de desenvolvimento, que descrevem os diversos aspectos do desenvolvimento (motores, psicológicos, sociais) ao longo do tempo.

Luz (1988) considera que foi a construção de toda uma tecnologia de artefatos e automatismos, a partir do século XII, na Europa, que deu origem às imagens e metáforas mecânicas no Renascimento, que por sua vez influenciaram a concepção mecanicista do século XVII e as teorias científicas dos dois séculos que se seguiram. Entre esses artefatos, a autora destaca o relógio mecânico. A sua invenção ocasiona uma mutação considerável na percepção social do tempo, que antes era regulado pela natureza – pelas estações, pelo sol – e passa a impor um ritmo mecânico à passagem do tempo, fragmentado em horas, minutos, segundos.

As teorias do desenvolvimento operam com essa concepção mecânica do tempo, fragmentando a vida dos sujeitos em etapas. O tempo da infância incorpora também a ideia da produção industrial: os corpos das crianças devem adquirir habilidades, força, dentre outras características, rumo ao produto final: o adulto. Na Pais & Filhos, as representações sobre a criança aparecem objetivadas pela imagem da fábrica e da produção fabril:

Do momento do nascimento em diante, quando entram em pleno funcionamento todos os órgãos, o bebê passa a ser uma minifábrica, que se especializa e se torna diferente dos pais a cada dia (COUTINHO, 1970, p. 28).

Nesse sentido, o desenvolvimento infantil assume o sentido de previsibilidade, na medida em que os desempenhos e as características das crianças passam a ter uma ordem determinada. A ciência moderna, por sua vez, deve prever os movimentos dos objetos que tematiza e se antecipar a tais movimentos (LUZ, 1988). A criança é avaliada como normal quando amadurece e se comporta da forma esperada para sua idade. Há certa flexibilidade no período de tempo no qual ela precisa adquirir determinadas habilidades ou comportamentos, embora muito reduzida:

Assim, cada bebê aprende a agarrar entre o 4º e o 5º mês, mais ou menos com oito meses começa a engatinhar e, dois ou três meses mais tarde, poderá erguer-se segurando a grade de sua cama (DEIXE..., 1969, p. 12).

A ideia de evolução também se faz presente nas representações da revista. A partir da publicação de A origem das espécies, por Charles Darwin, em 1859, que causou um grande impacto na época, conceitos advindos do campo da biologia como "evolução" e "hereditariedade" passam a ser apropriados por vários ramos do conhecimento, como nos estudos do desenvolvimento infantil (SCHWARCZ, 1993; GOUVEA; GERKEN, 2010).

O próprio Darwin parte de observações de seu filho com o objetivo de relacionar o desenvolvimento do indivíduo (ontogênese) e a história da espécie (filogênese) (VASCONCELOS, 2008). O fragmento a seguir, ao comparar o desenvolvimento intrauterino do bebê ao desenvolvimento da espécie humana ao longo dos tempos, exemplifica essa ancoragem presente na revista:

Entre o momento em que está imerso no líquido amniótico e os três, quatro anos de idade, o bebê refaz, por etapas, todo o desenvolvimento do homem. Como um peixe, ele movimenta-se inicialmente através de movimentos ondulatórios, arrastando-se depois como um réptil, para enfim engatinhar como um mamífero antes de adotar a posição vertical típica dos bípedes, que ele assume através de um modelo, da mesma maneira que assume a linguagem [...] (NORÕES, 1977, p. 28).

A passagem acima é um exemplo claro de concepção do desenvolvimento humano tomando como base a Teoria da Recapitulação, que está dentre as teorias mais influentes do século XIX. Naquele contexto, após a Teoria de Darwin, os estudiosos se voltam para a reconstrução das linhagens evolutivas da espécie humana. Essa teoria, então, postula que a ontogenia recapitula a filogenia (GOULD, 1999). Essa ideia fica clara na descrição que a Pais & Filhos elabora do desenvolvimento embrionário.

Assim, observando as representações sobre a criança normal, que se encontra em desenvolvimento durante a infância, é possível perceber que o desenvolvimento assume também o ideal de progresso, que se configura como uma das marcas do projeto da modernidade. Este se apoiou na crença no aperfeiçoamento do indivíduo e da espécie ao longo do contínuo temporal (CASTRO, 1998).

Desse modo, a infância incorpora o sentido de uma fase preparatória, analisada pelos especialistas a partir de critérios de desenvolvimento e encarada, sobretudo, a partir da noção de possibilidade. "Para uns e para outros, a criança é fundamentalmente o que pode vir a ser ou mesmo o que deve vir a ser [...]" (FERREIRA; GONDRA, 2006, p. 154). Assim, a criança adquire o sentido do que ainda não é, e o corpo infantil representa o imaturo:

Todos vêm ao mundo imaturos, inacabados, desamparados. É que nosso cérebro não estava bastante desenvolvido. Isso é óbvio. Mas há 100 anos os médicos ainda não sabiam como proceder em relação ao "despreparo" dos recém-nascidos. Hoje já se tem a medida exata de como agir diante das possibilidades, lesões e deficiências do cérebro do bebê, antes que ele atinja a maturidade [...] (PINHO, 1968, p. 8).

Enfim, a classificação da infância como normal ou anormal pela Pais & Filhos toma como referência um padrão de desenvolvimento estabelecido pela ciência, forjado a partir da média de comportamento das crianças, seja em relação ao desenvolvimento mental, ao motor ou ao crescimento. O tempo é um fator imprescindível nesse processo, já que a infância é datada e é preciso desenvolver o sujeito produtivo o mais rápido possível. Tanto que uma das formas de se referir ao anormal é como "retardado", numa clara alusão ao fator tempo. Nessa construção de padrões, os diferentes, ou seja, os que escapam ao padrão ou tardam a atingi-lo ganham o status de anormais.

A ESPECIALIZAÇÃO DA INFÂNCIA

Pensar a infância hoje enquanto objeto de conhecimento significa resgatar as representações construídas sobre ela a partir da modernidade, quando surge a preocupação em criar uma ciência e um saber sobre a criança fundamentado na visão dos especialistas sobre a infância. O projeto da modernidade teve como característica a necessidade de controlar a natureza através da razão e, consequentemente, a valorização da ciência, a quem coube explicar, organizar e racionalizar o "real" e o "ser" na sua totalidade.

A infância assume o significado de objeto digno de ser investigado, representada como uma etapa a ser trabalhada a partir de seus atributos específicos e indicadores temporais (JOBIM E SOUZA; PEREIRA, 1997; VASCONCELOS, 2008; GONDRA, 2010). Nessa representação da vida em etapas, historicamente é possível encontrar uma separação entre "[...] o tempo da razão ou discernimento – próprio do mundo adulto – e o tempo da infância, tempo de ausência ou de fraqueza da razão [...]" (GONDRA, 2010, p. 198). Por outro lado, ao tornar a infância um objeto legítimo de estudo, surgem trabalhos de diversos cientistas em que se procura valorizar o status da inteligência e o da moralidade infantil, buscando compreendê-los dentro de sua lógica específica (CAMPOS, 2010).

Assim, desde o século XIX os saberes capazes de compreender e sistematizar o desenvolvimento humano de maneira científica e rigorosa adquirem especial relevância, entre eles a medicina, a psicologia e a biologia. Particularmente a psicologia – especialmente a psicologia do desenvolvimento – foi concebida como ciência capaz de conferir status científico às práticas e teorias pedagógicas, apropriando-se de forma preponderante das investigações sobre o sujeito infantil e configurando um campo próprio de estudos (SARMENTO; GOUVEA, 2008; GOUVEA; BAHIENSE, 2011; GOUVEA; GERKEN, 2010).

Castro (1998) trata dos saberes relacionados ao desenvolvimento humano engendrados pela psicologia do desenvolvimento à luz do projeto da modernidade ao afirmar que, em suas origens, o estudo do desenvolvimento humano no âmbito da psicologia esteve associado à classificação e mensuração das condutas, atendendo a necessidade de organização das crianças dentro do sistema escolar, que se tornava obrigatório. A partir dessa necessidade, estabeleceu-se a classificação de comportamentos normais de acordo com a idade. Nesse sentido, a noção de "criança normal" se refere à construção de um conceito cuja função se insere na demanda do projeto de escolarização da infância iniciado na modernidade.

Nesse contexto, o desenvolvimento da psicologia científica teve forte conexão com a expansão dos modernos sistemas de ensino de massa (CAMPOS, 2003). Dois movimentos ocorridos a partir do final do século XIX vieram se reunir no início do século XX na área da psicologia educacional: em primeiro lugar, o próprio desenvolvimento da psicologia científica, nascida nos laboratórios universitários da Europa, que visava compreender a mente humana através de dados objetivos; concomitantemente, a organização do saber médico no movimento da higiene mental, que visava desenvolver dispositivos de prevenção dos distúrbios mentais e difundi-los amplamente para as modernas populações urbanas (CAMPOS, 2003).

Assim, observa-se a preocupação com a difusão e a aplicação desses saberes nas diversas instituições educativas, como a escola e a família. A infância se constituiu como o principal alvo de um projeto moderno de construção da civilização ou, como aponta Kohan (2008), de um mundo melhor.

Caldana e Alves (1996), ao pesquisarem as concepções sobre educação de filhos divulgadas pela revista Família Cristã no período de 1935 a 1988 constataram que os porta-vozes dos saberes sobre a educação da infância mudaram ao longo do período estudado. Se, na primeira metade do século XX, esses conhecimentos vinham diretamente da sabedoria popular, após esse período eles começaram a emanar da fala de diversos especialistas. Nesse sentido, passaram a ser enfatizadas as orientações técnicas ligadas à puericultura e à psicologia, baseadas em estudos sobre o desenvolvimento infantil, que eram bastante divulgados nessa época.

De acordo com Jobim e Souza (1996), a Psicologia do Desenvolvimento, inserida no projeto da modernidade, ao formular ideais para o desenvolvimento e inspirar caminhos para atingi-los, contribui para a construção, no imaginário social, do que é ser criança, o que é ser adulto, o que é ser "normal". Assim, as representações sobre a infância "carregam" um ideal dessa etapa de vida, do ponto de vista do adulto, que culmina na necessidade de controlar a infância a fim de que ela atinja tal ideal. A infância foi naturalizada através das práticas sociais modernas voltadas para ela: ser criança é ir à escola, é brincar, é não ter responsabilidades, é morar com sua família. Essa infância natural, confinada em tempos e espaços previsíveis, pode ser controlada mais facilmente (CASTRO, 1998, p. 2002).

As autoras Jobim e Souza e Pereira (1997) afirmam que essa pretensão de revelar e controlar a infância característica da modernidade acarretou a transferência da autoridade dos pais sobre a educação dos filhos para os especialistas da infância:

Como um desdobramento da máxima que a ciência é o critério da verdade, ao especialista é conferida a autoridade da produção de "verdades" sobre a educação da criança na época moderna. Portanto, o psicólogo, o psicopedagogo, o fonoaudiólogo, o psicomotricista, o pediatra e até mesmo os profissionais da mídia assumem a função de caracterizar a criança e suas necessidades, definindo metas para sua educação e seu desenvolvimento. À família resta a insegurança e a incerteza, cada dia maior, do seu papel frente à orientação da educação dos filhos [...] (JOBIM E SOUZA; PEREIRA, 1997, p. 6, destaque nosso).

A apropriação da infância pelos especialistas data do século XIX no Brasil e ocorre a partir do movimento médico-higienista, em estreita relação com o desenvolvimento urbano e a formação do Estado nacional. O alto índice de mortalidade infantil – preocupante por influenciar negativamente na política demográfica que começava a ser adotada – é explicado pelos médicos utilizando a ideia de nocividade do meio familiar, o que se torna o seu maior trunfo na luta pela hegemonia educativa das crianças (COSTA, 2004).

Diante da valorização do conhecimento especializado e respaldado pelos métodos científicos, os conhecimentos tradicionais como os das parteiras e das mães começam a ser desvalorizados e questionados como saberes realmente válidos sobre a infância. A grande quantidade de revistas especializadas circulantes atualmente que abordam questões relacionadas aos cuidados com bebês, crianças e adolescentes parece demonstrar que, cada vez mais, os pais buscam auxílio especializado para criar os filhos. O desejo de ter filhos é acompanhado de dúvidas e ansiedade em relação a vários aspectos, a começar pelo parto, passando pela amamentação, além das atitudes em relação ao comportamento do bebê e da melhor forma de educar as crianças e lidar com as mudanças da adolescência (MARTINS, 2008).

Assim, a infância que conhecemos atualmente foi apropriada por seus estudiosos, que a partir da modernidade se tornaram seus porta-vozes, através da legitimidade que o saber especializado lhes confere. Os saberes construídos por estes especialistas no âmbito das diferentes áreas do conhecimento muitas vezes se transformam em prescrições, no sentido de orientar as famílias na educação dos filhos. Eles chegam ao imaginário social de diversas formas, dentre elas através da mídia impressa.

Oliveira (2003) atenta para a importância da dimensão da representação pública da ciência que, segundo o autor, foi geralmente vista como algo exterior à atividade científica, mas que tem tanta importância quanto a argumentação teórica e a demonstração experimental no seu processo de produção. Nesse importante processo para a legitimação das ciências, a questão da divulgação científica é essencial. Assim, destaca-se a importância de estudar os veículos de vulgarização científica no intuito de compreender quais conhecimentos são divulgados, ou melhor, que discursos são apropriados, legitimados e fazem-se ouvir. O próprio autor destaca a possibilidade de fazê-lo tendo como fundamento o conceito de representação social, que pode ser pesquisado enquanto princípio gerador de tomadas de posição. Assim, as representações sociais da infância veiculadas pela revista Pais & Filhos, bem como de qualquer meio de divulgação impressa, podem ser compreendidas como discursos carregados de intencionalidade em guiar as ações e, nesse sentido, construir e/ou transformar a realidade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A análise das representações da infância na revista Pais & Filhos possibilitou vislumbrar a relação entre a moderna especialização da infância e o atrelamento dela à ideia de desenvolvimento e progresso. As representações identificadas carregam marcas da racionalidade moderna.

Em primeiro lugar se destaca a autoridade do discurso científico, principalmente dos saberes da medicina e da psicologia, no tratamento das questões referentes à infância. A presença de um grande rol de consultores científicos, com a participação de profissionais de renome, como o Dr. Rinaldo De Lamare, é a maior expressão dessa centralidade.

A ciência moderna, entendida como um modo de produção de verdades, possui um sentido construtivista: não apenas explica a realidade, mas modela-a. Para tal, intervém nela, classificando-a e ordenando-a. Isso também se expressa nas representações sociais da revista. O corpo infantil obedece aos critérios de ordenação e de classificação: tem o seu comportamento ordenado em uma sequência lógica ao longo do contínuo temporal. Além disso, a infância compreendida como tempo de desenvolvimento tem na ideia moderna de progresso sua principal ancoragem, no sentido de que a criança evolui continuamente com vistas a alcançar seu objetivo final: o futuro adulto, imagem de um ideal civilizado.

A noção de modernidade como o novo, o que vem para superar o tradicional, também se constitui como um significado do adjetivo "moderna" associado à revista. A novidade é representada principalmente pelo diálogo com a ciência, autoridade maior, que vem para substituir as práticas ultrapassadas de mães, avós e parteiras, por exemplo. Entretanto, o moderno dialoga com o tradicional exercendo a função de regulação cultural. Assim, embora menos valorizado, o discurso leigo está presente na publicação através de cartas e depoimentos.

Ao divulgar um modelo de infância, a revista Pais & Filhos expressa o ideal do que deve ser a criança e a infância, operando com a ideia de vida dividida por marcos que delimitam o começo e o término de diferentes fases e constituindo nesse sentido um gradiente de idades evolutivo e linear.

Para Ferreira e Gondra (2006), estamos sujeitos a uma "ditadura da cronologia". Essa divisão da infância em fases universais, por um lado corre o risco de desconsiderar as experiências dos sujeitos concretos, mas por outro resulta num amplo movimento de busca de compreensão da infância a partir de suas particularidades, marcado por uma mudança de racionalidade, que se torna mais sofisticada e derivada de uma maior atenção às crianças. Tal mudança está associada à emergência da preocupação legítima de compreensão da criança como alguém diferente do adulto e que possui especificidades próprias. Historicamente, esse processo foi fundamental para a organização de cuidados de saúde e educação que tem marcado a qualidade de vida da população contemporânea.

Mesmo considerando a existência de múltiplas formas de se viver a infância e entendendo a criança como um sujeito ativo no processo de socialização, acreditamos que o conjunto de práticas e discursos que se dirigem a ela forma um imaginário sobre a infância e produz modelos de gestos, hábitos e comportamentos que se tornam referências na formação das diferentes crianças, com maior ou menor intensidade. É justamente a partir desse ponto que se torna importante o estudo do discurso dos especialistas da infância, no sentido de problematizá-lo.

Recebido: 04/04/2012

Aprovado: 22/11/2012

NOTAS

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  • VEIGA, C. G. Cultura Escrita e Educação: representações de criança e imaginário de infância, Brasil, século XIX. In: FERNANDES, R.; LOPES, A.; FARIA FILHO, L. M. (Orgs.). Para a Compreensão Histórica da Infância Porto: Campo das Letras, 2006. p. 43-78.
  • Contato:
    Universidade Federal de Minas Gerais
    Faculdade de Educação
    Av. Antônio Carlos, 6627, Pampulha
    CEP 31270-901
    Belo Horizonte, MG
    Brasil
  • 1
    A dissertação de mestrado intitulada Belos, Sadios e Normais: as representações sociais dos corpos infantis modernos na revista
    Pais &
    Filhos (1968-1977), foi defendida na Faculdade de Educação da UFMG em agosto de 2010.
  • 2
    Na primeira etapa citada analisamos todas as revistas do período. Na segunda, elencamos 10 revistas – sendo uma por ano – do período analisado. Os procedimentos de análise dos dados foram os seguintes: a) seleção de artigos que descreviam explicitamente os corpos infantis; b) seleção de trechos e imagens dentro dos artigos e categorização dos mesmos, tendo como principal referencial de análise a teoria das representações sociais, de Serge Moscovici.
  • 3
    A revista conta com consultores principalmente ligados a essas duas áreas, mas também de outras especialidades: nutrição, direito, odontologia, dentre outras.
  • 4
    Rinaldo de Lamare (1910-2002) foi um dos principais consultores da
    Pais &
    Filhos. Médico pediatra, presidiu a Sociedade Brasileira de Pediatria e atuou no Departamento Nacional da Criança. Seu livro –
    A Vida do Bebê, publicado em 1941 – é o mais famoso manual de puericultura brasileiro, circulando até hoje, já com mais de 40 edições.
  • 5
    Grafologia é o estudo da personalidade através da análise da escrita.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      17 Jan 2013
    • Data do Fascículo
      Dez 2012

    Histórico

    • Recebido
      04 Abr 2012
    • Aceito
      22 Nov 2012
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