EDITORIAL
Professor titular
Head Professor
Acino Lázaro da Silva
Professor de Cirurgia e Emérito, UFMG
A Cátedra se foi com a reforma universitária e cada catedrático despediu-se com uma das duas condutas que adotava. Na primeira, havia um comandante que usava do poder conferido pelo concurso e não permitia que os subordinados progredissem, se titulassem e atendessem às suas expectativas ou sonhos. Com relação a esse, a reforma beneficiou a comunidade universitária, liberando-a do pseudointelectual. Na segunda conduta, a comunidade perdeu um grande valor que era o professor real e autêntico, criador de seguidores competentes e progressistas. Usava do poder para fazer crescer os subordinados, sem medo de substituição ou quebra da hierarquia. Com o seu desaparecimento perdeu muito a comunidade universitária. O professor, o mestre!
A reforma, desorientada, substituiu a cátedra pela titularidade. Criou o professor titular, sem defini-lo corretamente, como um substituto que não adquiria poder mas deveria cultivar a liderança natural e intelectual. Todos os titulares se vincularam aos departamentos, numa cópia mal inspirada nos do exterior e com uma característica político-administrativa, superior à intelectual ou facilitadora da criação de oportunidade para o crescimento de todos. Professor sem poder e sem a completa formação para fazer outros crescerem. O voto no departamento passou a imperar e substituir a necessária e indispensável hierarquia de competência.
A consequência foi dar aos mais jovens, aos oportunistas, ou aos menos competentes, o direito de votar e ser votado o que os levou a candidatar-se às chefias de departamentos colocando o titular no patamar horizontal e bloqueando os que eram e são os formadores de outros professores qualificados.
Os jovens não cresceram como deviam e os titulares se desmotivaram na formação de pessoal. A sorte da universidade brasileira foi a pós-graduação, uma grande tábua de salvação, em que se possibilitou o refúgio do titular para ela e a oportunidade dos bons se qualificarem e propiciar o crescimento de seguidores.
Nesse emaranhado de voto, demagogia, qualidade e hierarquia sobreviveram os autênticos, remanescendo os formadores de opinião e pessoal e os que possuem criatividade para imperar com o intelecto.
Julgo-me intrometido em fazer uma sequência de qualidades que o professor titular deve ter para preservar a universidade, na caminhada em busca da formação de pessoal e crescimento universitário. Substituir o poder pela hierarquia de competência.
Professor Titular é aquele que se diferencia dos seguidores ou orientandos pela competência, pelo caráter, pelo progresso profissional e pelo compromisso institucional. Enfim, usa o passado, dinamiza o presente e arquiteta o futuro.
O Titular deve aprender, exercitar e transferir: competência, equilíbrio, brio, moral ilibada e humildade para ter ascendência sobre colegas em formação.
Só consegue agregar seguidores aquele que cultiva qualidades que, no mínimo, estejam no mesmo nível do grupo dirigido.
Quais são essas qualidades, entre outras?
Saber para convencer
Moral para exemplificar-se
Saúde para enfrentar os trabalhos
Compostura para evitar críticas
Trajar-se discretamente para uniformizar-se ao grupo
Falar pouco para reservar-se
Admoestar em particular para não desvalorizar o par
Conter-se nas atividades físicas para cultivar o equilíbrio
Refletir ininterruptamente para estimular o mesmo nos pares
Ser cavalheiro para desenvolver o trato pessoal
Investigar continuamente para instigar
Polidez para humanizar o relacionamento médico-paciente
Organizar-se para progredir
Amar a instituição para o culto pátrio às atividades e ao patrimônio público
Cultivar a bondade para estimular o sentimento caridoso
Em sendo caridoso, tornar-se um benfeitor
Em fazendo o bem, ser um Médico
Três verbos fazem parte do seu trabalho: Ser, Ter e Dever
Enfim, há que possuir o Dom
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
26 Jul 2010 -
Data do Fascículo
Jun 2010