Resumos
Este trabalho defende a idéia de que há uma relação entre dialogismo, relações intergenéricas e análise indiciária e de que essa relação pode constituir-se em proveitoso recurso metodológico para o estudo de textos escritos. Com base em exemplos extraídos de uma amostra de 363 respostas dissertativas do Provão 2001, investiga-se, por meio da exploração (positiva) da noção de "ruína" de gêneros discursivos, a diversidade de saberes que um texto-base (atribuído a uma menina de 10 anos) e textos de formandos em Letras mobilizam em seus processos de textualização.
gênero discursivo; análise indiciária; letramento.
This paper defends the idea of a relationship between dialogism, intergeneric relationships and analysis of indication; and also that these relationships may be a fruitful methodology resource for the study of written texts. Based on examples extracted from a sample of 363 argumentative answers questions of Provão 2001 _ a test that assesses the quality of College Education in Brazil _, it is investigated, by (positively) exploring the notion of the "ruin" of discursive genres, the diversity of knowledge that a base-text (whose supposed author is a ten years old girl), and texts made by the undergraduate students of Letras, engender in their textualization process.
discursive genre; analysis of indication; literacy
ARTIGOS
Relações intergenéricas na análise indiciária de textos escritos* * Este trabalho foi apresentado no VII Congresso Brasileiro de Lingüística Aplicada, na PUC (SP), em 14/10/2004 como parte da Sessão de Comunicação Temática Investigando, a partir de indícios, o percurso de sujeitos escreventes, coordenada pela professora doutora Maria Bernadete Marques Abaurre. Agradeço, pela oportunidade de discussão, aos participantes dessa sessão, que, além da coordenadora, contou com a presença dos professores Raquel Salek Fiad e Lourenço Chacon Jurado Filho. Agradeço também, pelas discussões em torno do material do Provão, aos participantes do grupo de pesquisa Práticas de leitura e escrita em português língua materna (USP). 1 Os Projetos de Lei de autoria do deputado Aldo Rebelo, o de nº 1676 de 1999, que dispõe sobre a promoção, a proteção, a defesa e o uso da língua portuguesa e dá outras providências, e o de nº 4681 de 2001, que dispõe sobre a dublagem de filmes estrangeiros importados para exibição através de radiodifusão de sons e imagens (televisão) por assinatura e fitas ou discos para vídeo, são exemplos recentes de intervenções na política lingüística do país e motivaram parte das atuais discussões dos lingüistas. 2 Para maiores determinações sobre como entendo a dicotomia oral/escrito quando tomada como recurso metodológico, conferir CORRÊA (2004, p. 2-9). 3 Como se vê, a instabilidade dos objetos de discurso, representados, no caso do material analisado, por retomadas não explícitas de outros gêneros discursivos, mantém-se presente também em gêneros discursivos escritos, fato que coloca um problema para uma certa visão da inscrição [aí incluída a escrita] como processo de estabilização, defendida por MONDADA & DUBOIS (2003). Segundo as autoras, à mobilidade das inscrições, que podem circular em amplas redes, corresponderia, ao mesmo tempo, a sua imobilidade, uma vez que elas seriam fixas e não se [transformariam] em seu movimento ( op.cit., p. 47). Com esse argumento, dirigem-se para uma conclusão que assume que, uma vez assim estabilizados pelos textos e pelas inscrições visuais, os fatos resistirão às desestabilizações possíveis da controvérsia, terminando por se impor como sendo evidente e tornar-se referentes estáveis da ciência (idem, p. 48). Parece-me que as autoras deixam em segundo plano, nesta visão de escrita, o papel da intersubjetividade (relação entre escrevente/leitor, por exemplo) e da própria concepção de sujeito que elas tão bem defendem: um sujeito `envolvido', social e culturalmente ancorado (idem, p. 49 e passim). Para uma tal concepção de sujeito e tendo em vista a relação escrevente/leitor, não se poderia deixar de considerar o papel instável e não linear das representações que orientam também as produções escritas, como é o caso das retomadas não explícitas de outros gêneros discursivos nos textos analisados. 4 Queixas e justificativas são freqüentes a esse respeito: "o vocabulário do aluno é restrito por falta de diálogo em casa"; "há falta de contato com a escrita, pois, na melhor das hipóteses, as pessoas assistem a programas de tevê" (desconsiderando-se, neste último caso, qualquer influência do contato indireto com a escrita em função da presença massificada da própria tevê), entre tantas outras. Argumentos como esses costumam vir associados a motivos de variadas ordens: socioeconômica, de convicção religiosa ou da ordem do desarranjo ou, mesmo, esfacelamento da vida conjugal dos pais dos alunos. É, pois, muito comum atribuir à família _ com, mas, também, em muitos casos, sem fundamento _ a responsabilidade pelas dificuldades de aprendizagem dos alunos, modo de justificar essa importante réplica do aluno. 5 Texto adaptado para o exame do Provão/2001 a partir da versão original, tal como publicada em Marcuschi (2001a) _ cf. Anexo. 6 Comparar a versão do texto-base editado para a prova com a da fonte (Marcuschi, 2001a) de que foi extraído - cf. Anexo. 7 Cf. TOMACHEVSKI (1983). Agradeço ao professor Arnaldo Franco Junior pelos comentários e sugestões bibliográficas a respeito deste assunto. 8 Sobre retextualização, cf. MARCUSCHI, 2001b. 9 Não se trata, naturalmente, de observar o estilo pela quantidade de informação fornecida. Trata-se, ao contrário, de atentar para duas impossibilidades: a de se dizer tudo sobre um dado conteúdo temático e a de dizê-lo fora das restrições das formas. Na formulação de um dado gênero, o saber sobre "quanto dizer" joga sempre com o par escolha/exclusão, pondo o falante/escrevente, ao mesmo tempo, diante das escolhas _ paradigmáticas (arranjo dos signos por "concorrência") e do encadeamento (arranjo por "concatenação" _ cf. JAKOBSON, 1975, p. 40) _ e das exclusões a que essas possibilidades de arranjo dos signos da língua se submetem quando consideradas as restrições do seu uso concreto (cf. CORRÊA, 2003, pp. 45 e segs.), ligadas não só ao tema mas também às representações sobre o interlocutor (ouvinte ou leitor) esperado na composição daquele gênero. Agradeço a Isa Maria Aparecida Spanghero Stoeber pelo apontamento da dúvida que a formulação original lhe suscitou. 10 Sobre a relação oral/escrito, cf. CHACON (1998), MARCUSCHI (2001b). Sobre a noção de letramento, cf. STREET (1984), TFOUNI (1988, 1994), ROJO (1998), KLEIMAN (1999), SOARES (2001), SIGNORINI (2001). 12 Cf., também nesse Anexo, a versão original do texto, tal como publicada em MARCUSCHI (2001).
Manoel Luiz Gonçalves Corrêa
USP
RESUMO
Este trabalho defende a idéia de que há uma relação entre dialogismo, relações intergenéricas e análise indiciária e de que essa relação pode constituir-se em proveitoso recurso metodológico para o estudo de textos escritos. Com base em exemplos extraídos de uma amostra de 363 respostas dissertativas do Provão 2001, investiga-se, por meio da exploração (positiva) da noção de "ruína" de gêneros discursivos, a diversidade de saberes que um texto-base (atribuído a uma menina de 10 anos) e textos de formandos em Letras mobilizam em seus processos de textualização.
Palavras-chave: gênero discursivo; análise indiciária; letramento.
ABSTRACT
This paper defends the idea of a relationship between dialogism, intergeneric relationships and analysis of indication; and also that these relationships may be a fruitful methodology resource for the study of written texts. Based on examples extracted from a sample of 363 argumentative answers questions of Provão 2001 _ a test that assesses the quality of College Education in Brazil _, it is investigated, by (positively) exploring the notion of the "ruin" of discursive genres, the diversity of knowledge that a base-text (whose supposed author is a ten years old girl), and texts made by the undergraduate students of Letras, engender in their textualization process.
Key-words: discursive genre; analysis of indication; literacy.
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Anexo
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
18 Out 2013 -
Data do Fascículo
Dez 2006