Open-access Produção e atividades científicas de egressos de doutorado de um programa de pós-graduação em enfermagem

Producción y actividades científicas de egresados de doctorado de un programa de posgrado en Enfermería

Resumo

Objetivo  Caracterizar os egressos do curso de doutorado de um programa de pós-graduação em enfermagem, e descrever indicadores de produção e atividade científica.

Métodos  Estudo documental, descritivo e de natureza quantitativa. A amostra foi constituída por 217 (96,9%) egressos que defenderam teses de doutorado na Escola Paulista de Enfermagem, período de 1986 a 2016. Os dados foram coletados do Sistema de Informações Universitárias da Universidade Federal de São Paulo; Plataforma Lattes e Diretório dos Grupos de Pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico; e, Plataforma Sucupira. Foi realizada a análise estatística descritiva.

Resultados  Os egressos, majoritariamente, são enfermeiros (89,4%); sexo feminino (90,8%); média de idade de 43 anos e atuavam na docência (85,7%). Considerável maioria (84,3%) dos doutores egressos, desenvolveram atividades de orientação, predominantemente na graduação (4566), sendo descrita orientação de 3087 alunos de Lato Sensu e 609 de Stricto Sensu ; 22,6% atuavam como responsáveis por grupo de pesquisa. No período identificou-se publicação de 1.869 artigos, sendo 57,5% nos estratos superiores do Qualis-Capes 2016; 194 livros e 860 capítulos de livro. Foram registradas três produções de patentes.

Conclusão  A maioria dos egressos exerce atividade profissional na área acadêmica, com atividade de orientação de graduandos e pós-graduandos. Verificou-se aumento de projetos financiados e publicações em periódicos de boa qualificação, com menor número de depósitos de patentes.

Educação de pós-graduação em enfermagem; Programas de pós-graduação em saúde; Pesquisa em enfermagem; Indicadores de produção científica

Resumen

Objetivo  Caracterizar a los egresados de la carrera de doctorado de un programa de posgrado en Enfermería y describir indicadores de producción y actividad científica.

Métodos  Estudio documental, descriptivo y de naturaleza cuantitativa. La muestra fue formada por 217 (96,9%) egresados que defendieron tesis de doctorado en la Escola Paulista de Enfermagem, en el período de 1986 a 2016. Los datos fueron recolectados del Sistema de Información Universitaria de la Universidad Federal de São Paulo; de la plataforma Lattes y directorio de los Grupos de Investigación del Consejo Nacional de Desarrollo Científico y Tecnológico; y de la plataforma Sucupira. Se realizó un análisis estadístico descriptivo.

Resultados  Los egresados son mayormente enfermeros (89,4%), de sexo femenino (90,8%), con edad promedio de 43 años y ejercían la docencia (85,7%). Una mayoría considerable (84,3%) de los doctores egresados desarrollaron actividades de orientación, principalmente en carreras universitarias (4.566), que se describieron como orientación de 3.087 alumnos de lato sensu y 609 de stricto sensu ; 22,6% actuaban como responsables de grupos de investigación. Durante el período, se identificó la publicación de 1.869 artículos, de los cuales el 57,5% era de estratos superiores del sistema Qualis-Capes 2016; 194 libros y 860 capítulos de libro. Se registraron tres producciones de patentes.

Conclusión  La mayoría de los egresados ejerce actividad profesional en el área académica, con actividad de orientación de estudiantes universitarios y de posgrado. Se verificó un aumento de proyectos financiados y publicaciones en revistas especializadas bien calificadas, con menor número de depósitos de patentes.

Educación de posgrado en enfermería; Programas de posgrado en salud; Investigación en enfermeira; Indicadores de producción científica

Abstract

Objective  To characterize the students of the doctoral nursing program and describe indicators of production and scientific activity.

Methods  This is a documental, descriptive and quantitative study. The sample was composed of 217 (96.9%) graduates who defended PhD thesis at the Paulista Nursing School between 1986 and 2016. Data were collected from the University Information System of the Federal University of São Paulo; Lattes Platform and Directory of Research Groups of the National Council for Scientific and Technological Development; and Sucupira Platform. Descriptive statistical analysis was carried out.

Results  The graduates were mostly nurses (89.4%); female (90.8%); with mean age of 43 years and working as professors (85.7%). Most of the PhD graduates (84.3%) performed supervision and mentoring, predominantly of undergraduate students (4,566), followed by 3,087 Lato Sensu students supervision and 609 Stricto Sensu students supervision ; 22.6% of them were leaders for research groups. In the period, a total of 1,869 articles were published, 57.5% of these in the upper strata of Qualis-Capes 2016, a total number of 194 books and 860 book chapters. Three patents were registered.

Conclusion  Most graduates work as academics, advising undergraduates and graduates. There was an increase in funded projects and publications in well-qualified journals whereas the number of patents is restricted.

Education, nursing, graduate; Health postgraduate programs; Nursing research; Scientific publication indicators

Introdução

Promover a saúde e o bem-estar do ser humano, por meio do desenvolvimento e disseminação de conhecimentos científicos, caracteriza-se como uma das funções sociais da enfermagem. A trajetória de alcance deste pressuposto alia-se a relevante expansão dos cursos de doutorado em enfermagem no Brasil e no mundo.( 1 - 3 )

Apesar de ainda haver demanda global de aumento do número de doutores em enfermagem, a expansão quantitativa deve ser acompanhada de avaliação permanente da qualidade destes cursos, no intuito de atingir metas de formação qualificada de pesquisadores, capazes de produzir e disseminar conhecimento novo e que promova o avanço do cuidado de enfermagem e da área da saúde.( 2 , 4 , 5 )

A pesquisa em enfermagem desenvolvida nos cursos de doutorado caracteriza-se como um dos meios mais profícuos para o desenvolvimento do conhecimento científico. O conhecimento produzido e disseminado é fruto da pesquisa e deve ser amplamente apreendido por indicadores de produção e atividade científica de programas de doutorado, no intuito de fornecer informações da contribuição da pesquisa para o avanço da ciência e da prática de enfermagem no país.( 6 , 7 )

Dentre os inúmeros indicadores utilizados para avaliação do ensino de pós-graduação, destaca-se a capacidade de inovação, de nucleação e de disseminação do conhecimento produzido, em especial, em periódicos científicos qualificados.( 3 )

O Programa de Pós-graduação em Enfermagem (PPGE) da Escola Paulista de Enfermagem (EPE) teve início em 1978 com a criação do Curso de Mestrado. Em 1986 foi aprovada a abertura do Curso de Doutorado em Enfermagem Materno-Infantil, tendo sido transformado em Doutorado em Enfermagem em 1994.( 8 )A partir de 2005, todos os programas da Universidade Federal de São Paulo passaram conferir títulos de mestre ou doutor em ciências da saúde, especificando em sua titulação a sua área de conhecimento, o que promoveu no Programa aumento da interdiciplinaridade.( 9 )

Em 2008, o PPGE da EPE foi reestruturado em uma única área de concentração e quatro linhas de pesquisa, configuração esta que se encontra até os dias atuais.( 10 ) Ao completar 30 anos de criação em 2016, iniciaram-se estudos de avaliação de egressos do curso, com vistas a descrever indicadores de produção e atividade científica que forneçam subsídios para a promoção da melhoria da formação de doutores no Programa.( 11 )

Frente a isso e ao considerar estudo publicado recentemente que analisou as áreas de atuação dos egressos do curso de doutorado em enfermagem do PPGE da EPE,( 10 ) evidenciando que a pós-graduação possibilita o desenvolvimento de pesquisadores e de pesquisas, ampliando a construção do conhecimento, e que as linhas de pesquisa são um dos eixos norteadores destas atividades,( 12 ) surgiu o seguinte questionamento: qual a produção e atividade científica dos egressos do curso de doutorado da EPE?

Neste contexto, o objetivo deste estudo foi caracterizar os egressos do curso de doutorado de um programa de pós-graduação em enfermagem, no período de 1986 a 2016, e descrever sua produção e atividade científica.

Métodos

Trata-se de estudo documental, descritivo e de natureza quantitativa. A amostra foi constituída por egressos que defenderam teses de doutorado no Programa de Pós-Graduação da Escola Paulista de Enfermagem no período de 1986 a junho de 2016. Foi selecionado este período, pois reflete o início do programa até os trinta anos de sua formação.

As variáveis de caracterização foram: década da defesa da tese, categorizada em primeira década (entre 1986 e 1995), segunda década (de 1996 a 2005) e terceira década (de 2006 a junho de 2016); sexo; idade; região de atuação; área de formação da graduação; área de atuação profissional.

Foram elencadas as seguintes variáveis referentes à produção e atividades científicas: orientação de estudantes de iniciação científica; de cursos de Lato Sensu e Stricto Sensu; liderança e/ou participação em grupo de pesquisa; número de projetos de pesquisa; número de artigos publicados; classificação Qualis-Capes dos periódicos de publicação dos artigos; número de livros publicados; número de capítulos de livros publicados; número de patentes registradas. Não foi possível incluir a atuação dos egressos em cargos de gestão institucional ou política, uma vez que os dados foram coletados da plataforma lattes e, muitas vezes, encontravam-se desatualizados ou não continham esta informação.

Os meios utilizados para a coleta de dados foram: Sistema de Informações Universitárias (SIU) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) para identificação dos alunos e suas respectivas teses; Plataforma Lattes do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), para caracterização dos egressos e suas contribuições, que foram compilados por meio do programa scriptLattes V08;( 13 ) Plataforma Sucupira, que é referência do Sistema Nacional de Pós-Graduação (SNPG), em Qualis Periódicos - quadriênio 2013-2016, Área da Enfermagem, para consulta da classificação dos periódicos; e o Diretório dos Grupos de Pesquisa do CNPq, por meio da Plataforma Lattes, para a verificação da liderança de grupo de pesquisa.

Os dados obtidos foram armazenados em planilhas do programa Microsoft Excel® e realizada a análise estatística descritiva.

Resultados

O Programa de Pós-Graduação em Enfermagem titulou 224 doutores e a amostra foi constituída por 217 (96,9%) egressos, devido à ausência de cadastro na Plataforma Lattes. Destes, 10 (4,6%) defenderam as teses na primeira década, 64 (29,5%) na segunda e 143 (65,9%) na terceira.

Verificou-se que 197 (90,8%) eram do sexo feminino e a média de idade foi de 43 + 13,4 anos, variando de 28 a 65 anos.

Com relação à área de formação na graduação, 194 (89,4%) eram enfermeiros, e a partir da segunda década verificaram-se egressos de outros cursos como farmácia e bioquímica, fisioterapia, psicologia, medicina, arquivologia, musicoterapia, economia, pedagogia, nutrição e educação física.

Observou-se que o local de atuação dos doutores se concentrou nas regiões Sudeste e Sul nas três décadas. A partir da segunda, houve atuação de egressos no Centro Oeste e Nordeste e na terceira década na região Norte.

Quanto à área de atuação, 186 (85,7%) eram docentes, 18 (8,3%) trabalhavam na assistência e 13 (5,8%) atuavam em outras áreas.

Do total, 183 (84,3%) desenvolveram atividades de orientação, sendo 10 (5,5%) egressos da primeira década, 64 (35,0%) da segunda e 109 (59,5) da terceira.

Na tabela 1 verifica-se predominância das atividades de orientação acadêmica na graduação, seguidas pelo Lato S ensu e Stricto Sensu . No Stricto Sensu as orientações de doutorado representam menor frequência.

Tabela 1
Orientações de trabalhos realizadas pelos egressos por nível de formação e apresentados por década

Em relação à liderança de grupos de pesquisa, 49 (22,6%) egressos atuavam como responsáveis por um grupo, sendo cinco (10,2%) da primeira década, 20 (40,8%) da segunda e 24 (49%) da terceira.

No período avaliado verificou-se que 933 projetos de pesquisa tiveram a participação de egressos, 422 (59,3%) estavam sob sua coordenação e destes, 236 (55,9%) com financiamento. Os financiamentos advieram do CNPq (43,6%), Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES (6,8%), fundações de auxílio à pesquisa (23,7%), instituições de ensino (13,5%), instituições de saúde (5,6%) e por outros locais como empresas privadas (6,8%).

Averiguou-se, também, o número de publicações e a maioria ocorreu em periódicos brasileiros (n=1.869), constatando-se 307 (16,4%) na primeira década, 1.018 (54,5%) na segunda e 544 (29,1%) na terceira. Identificou-se 490 publicações em periódicos estrangeiros.

Quanto à classificação do periódico, independente do país de publicação, 1.155 (57,5%) foram no estrato A1, A2 e B1, verificando-se 231 (20%) na primeira década, 599 (51,9%) na segunda e 325 (28,1%) na terceira. O restante estava distribuído entre os estrados B2 a B5, C e periódicos não classificados.

No que concerne à publicação de livros e capítulos de livros, os egressos publicaram 194 livros, distribuídos em 15 (7,7%) na primeira década, 137 (70,6%) na segunda e 42 (21,7%) na terceira; 860 capítulos de livro, verificando-se 54 (6,3%) na primeira década, 591 (68,7%) na segunda e 215 (25%) na terceira.

Com relação às patentes, observou-se que foram registradas três produções de patentes com a participação de três egressos formados em 2005, 2006 e 2012, relacionadas a softwares educativos, régua para mensuração de ângulos de elevação de cabeceira de cama hospitalar e instrumentos para avaliação de competências profissionais.

Discussão

O curso de doutorado da Escola Paulista de Enfermagem tem muito a comemorar ao analisar a formação de 217 egressos e, também, a refletir sobre os caminhos já trilhados, com vistas à construção de novas metas de crescimento e expansão. Desde sua criação contribui com o programa de pós-graduação Stricto Sensu na área de Enfermagem, cujos pesquisadores e orientadores não mediram esforços para sua aprovação e manutenção pela CAPES.( 14 )

A formação de doutores ainda é pequena tendo em vista o número de enfermeiros com doutorado no país que, segundo o Conselho Federal de Enfermagem, é de 19.539 e corresponde a 4,7% dos enfermeiros em atividade.( 15 )As primeiras formações de doutores na área de Enfermagem ocorreram em cursos ligados a Faculdade de Medicina na região Sudeste nos anos de 1970, e até o ano de 1984, ainda existiam poucos doutores na área.( 16 ) Com a política de expansão no Sistema Nacional de Pós-Graduação, o número de doutores na Enfermagem aumentou significativamente durante a década de 1990, sendo que houve o maior aumento dos cursos de doutorado na área de Ciências da Saúde no período entre 1996 a 2004.( 16 )

Atualmente, existem 38 cursos de doutorado acadêmico em Enfermagem reconhecidos no Brasil.( 17 ) Ao se analisar o crescimento contínuo do número de egressos na EPE, refletido nas décadas estudadas e estes, por sua vez, trabalhando na formação de outros doutores, destaca-se a importância do curso e sua influência na visibilidade na pós-graduação da enfermagem brasileira. Por ser tratar de uma escola pública, é relevante pensar no retorno à sociedade em ações acadêmicas, promovendo a formação de alunos, a atuação como coordenadores e a dedicação a produção científica entre docentes/orientadores ao longo dos anos.( 14 )

Neste estudo, a maioria dos egressos é do sexo feminino, corroborando com o perfil da enfermagem no Brasil em que 86,2% dos enfermeiros são do sexo feminino e 66,6% possuem até 40 anos. Tal achado é esperado e reflete a representatividade da profissão, além de encontrar convergência com resultados de estudo sobre a produção de conhecimentos de pesquisadores da enfermagem com bolsas de produtividade.( 15 , 18 ) Segundo a CAPES, as mulheres são maioria na pós-graduação brasileira e não se verifica um impacto na realidade social do país, considerando a necessidade de igualdade de gêneros, diminuição da violência e equiparação de rendimentos monetários.( 19 )Assim, o curso de doutorado, por formar um maior contingente feminino, contribui para a necessidade de mudanças, visibilidade e novas configurações da sociedade.

A inserção de profissionais de outras áreas que não a Enfermagem, reflete a determinação da Unifesp, a partir de 2005, para que todos os Programas de Pós Graduação S tricto Sensu contemplassem a formação multiprofissional, unificando, assim, a titulação de Doutor ou Mestre em Ciências.( 20 )

Ainda que os doutores atuem essencialmente na região Sudeste, explicado por ser a região em que a Escola está sediada, evidencia-se expansão de atuação em outras regiões do Brasil.( 21 )Este achado reflete a valorização dos programas interinstitucionais, como o Mestrado e o Doutorado Interinstitucional (Minter/Dinter), que formam alunos provenientes de outras regiões do território brasileiro, afastados de centros consolidados em ensino e pesquisa.( 7 , 22 )Esta colaboração favorece também a criação de novos programas nestas regiões, tendo o Programa realizado seis programas nessa modalidade. Na avaliação da Capes de 2013-2016, não havia programa na região Norte e, atualmente, dos 38 programas de doutorado reconhecidos no Brasil, 15 estão sediados nas regiões Norte e Centro-Oeste. Ressalta-se que o PPGE da EPE formou 14 mestres em 2014 e titulará 16 docentes da Universidade Federal do Acre com o Programa Interinstitucional – DINTER até 2020.

No que concerne à área de atuação, ela é majoritariamente acadêmica corroborando com dados do CNPq, que 61,5% dos doutores brasileiros atuam no ensino e pesquisa e 38,5% na área técnica e administrativa.( 23 )E atuar no universo acadêmico, como doutor, é um requerimento para a composição do quadro de docente das Instituições de Ensino Superior. Entretanto, seguir a carreira acadêmica pode ser motivada não somente pelo desejo de atuar na docência ou desenvolver pesquisas, mas pelo esgotamento da atividade assistencial e a necessidade de valorização profissional e melhoria salarial.( 24 )

Embora seja vital a atividade no ensino, a atuação do doutor em meio acadêmico implica em desenvolver pesquisa científica e tecnológica para a solução de problemas críticos que afetam as práticas em saúde, trazendo benefícios para a sociedade brasileira. Na atualidade, o desenvolvimento tecnológico permite que uma descoberta científica acarrete benefício social e econômico em curto espaço de tempo, espaço este, possível dentro das universidades.( 25 , 26 )

Por outro lado, a atuação de um doutor em área assistencial ainda é um desafio dentro das instituições de assistência à saúde no Brasil. No estudo não foi possível saber no que consiste esta atuação, no entanto, países como os Estados Unidos da América, trabalham com o enfermeiro titulado como Doctor of Nursing Practice , cuja atuação é a educação de enfermeiros em suas áreas de trabalho, permitindo seu desenvolvimento em diagnósticos, práticas avançadas e tratamento, tornando-os profissionais autônomos do ponto da perspectiva clínica.( 27 )

Em estudo realizado na mesma Instituição, com 135 egressos do total de 224 doutores titulados, a maior parte dos egressos trabalhava em instituições federais, e atua no ensino majoritariamente em nível de graduação e pós-graduação Lato Sensu . A maioria encontra-se desenvolvendo pesquisas com alunos de graduação e pós-graduação s Lato Sensu e S tricto Sensu .( 10 )

Em relação às orientações, os achados evidenciam o envolvimento dos egressos com o desenvolvimento de pesquisa, ainda que em maior número no nível de graduação, seguida do nível Lato Sensu como o início da vocação profissional do novo doutor. Realizar orientações implica em contribuir com o processo de ensino-aprendizagem, além de participar da formação de pessoas. Estudo ressalta a importância da formação do especialista, que busca o domínio amplo e profundo em uma determinada área de conhecimento, como uma forma de realizar avanços científicos e tecnológicos.( 25 )

Em contrapartida, o anseio de progredir na carreira universitária adentrando a programas de pós-graduação, faz parte das metas profissionais dos doutores, embora o sistema de organização e funcionamento da CAPES, baseado em exigências e metas de produtividade traga angustias e insatisfação para muitos profissionais.( 24 )

A formação de grupos de pesquisa promove o fortalecimento das linhas de pesquisa. Destaca-se, para tanto, a importância da inclusão de estudantes desde o período da graduação, com o desenvolvimento dos trabalhos de conclusão ou de iniciação científica, favorecendo desta maneira, sua inserção em programas de pós-graduação.( 24 )

O Diretório dos Grupos de Pesquisa no Brasil do CNPq apresenta um inventário dos grupos de pesquisa científica e tecnológica que desenvolvem atividades permanentes em uma instituição, principalmente em universidades, instituições de ensino superior com cursos de graduação Stricto Sensu , institutos de pesquisa científica e tecnológicos.( 28 )No último censo realizado em 2016, evidenciou-se aumento de 149% no número de grupos cadastrados com relação ao censo de 2002, totalizando 37.640 grupos, com 199.566 pesquisadores, sendo 129.929 doutores. A participação de doutores nos grupos cadastrados apresentou crescimento de 278%, reforçando a importância da formação destes profissionais pelos programas de pós-graduação e o impacto no desenvolvimento de atividades científicas e tecnológicas.( 28 )

A divulgação dos resultados das pesquisas dos egressos foi predominantemente realizada em periódicos indexados nas bases de dados, com predomínio dos estratos A1 a B1 e em periódicos nacionais. Segundo a Plataforma Sucupira, na classificação realizada no quadriênio 2013 a 2016, na área de avaliação Enfermagem, verifica-se um periódico brasileiro no estrato A1, quatro no estrato A2 e sete no estrato B1.( 29 )Além da qualidade do periódico, a acessibilidade do público em geral, com Open Access , disponibilizados por meio eletrônico em língua portuguesa, favorece o consumo das pesquisas pelos profissionais.

A elaboração de livros e capítulos pelos egressos demonstra outra modalidade de divulgação da produção científica desenvolvida em programas de pós-graduação, embora sua avaliação apresente singularidades, face aos periódicos. Constituem referência para a construção do conhecimento básico das profissões, escolas de pensamento, referenciais teóricos, dentre outros aspectos que detalham e aprofundam questões que contribuam para o desenvolvimento das ciências da enfermagem.( 26 ) O estudo apresenta queda da produção de livros e capítulos evidenciada na terceira década, podendo estar relacionada à falta de valorização deste tipo de produção, aspecto que está sendo revisto pela CAPES.( 30 )

Com relação ao desenvolvimento de produtos que permitam o registro de patentes pelos egressos, verificou-se reduzido número, frente à produção intelectual. Tal achado converge com resultados de um estudo desenvolvido para avaliar o desempenho da produção científica, geração de patentes e formação de recursos humanos de pesquisadores com bolsa de produtividade do CNPq da área de enfermagem, em que foi demonstrada produção restrita de patentes, reforçando a ideia do distanciamento entre a produção científica e tecnológica. O Brasil e a enfermagem brasileira não contam com condições técnico-científicas que favoreçam o desenvolvimento de tecnologias, área ainda com ampla possibilidade de evolução.( 18 )

Conclusão

O estudo permitiu analisar a trajetória dos egressos do curso de doutorado da Escola Paulista de Enfermagem, no período de 1986 a 2016, elencando suas principais atividades. A maioria dos egressos exerce atividade profissional na área acadêmica, especificamente em nível de graduação e também na orientação de trabalhos de conclusão de cursos de pós-graduação. Verificou-se aumento de projetos financiados e publicações em periódicos de boa qualificação, como respostas aos indicadores estabelecidos pela CAPES para avaliação dos programas de pós-graduação Stricto Sensu . Por outro lado, ainda existe pequena produção no número de patentes, indicando a necessidade de investir em parcerias com áreas tecnológicas. O programa de doutorado da EPE tem contribuído para a formação de profissionais qualificados e líderes nas áreas acadêmicas, da saúde, política e educacional da enfermagem brasileira.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    28 Ago 2020
  • Data do Fascículo
    2020

Histórico

  • Recebido
    27 Maio 2019
  • Aceito
    11 Nov 2019
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