Resumo
Objetivo:
Mapear as evidências de pesquisa disponíveis para avaliação clínica da maturação da fístula arteriovenosa.
Métodos:
Estudo do tipo Scoping review, com busca realizada entre outubro a novembro de 2019 nas bases de dados JBI, Cochrane, Biblioteca Virtual em Saúde, PubMed, e CINAHL, sendo incluídos estudos com pacientes maiores de 18 anos, com doença renal crônica pré-dialítica ou já em hemodiálise, submetidos à cirurgia da fístula arteriovenosa; texto disponível; e idiomas inglês, espanhol ou português. Foram excluídos estudos relacionados a fase pós-operatória ou relacionados a cuidados com próteses/enxertos arteriovenosos.
Resultados:
Foram identificadas 1954 publicações elegíveis, dos quais 38 compuseram a amostra final. O estudo compreendeu publicações entre 1998 e 2018, com abrangência internacional do tema (94,7%). O profissional executor da avaliação foi predominantemente o enfermeiro ou equipe de enfermagem (47,4%), e a avaliação teve início no pós-cirúrgico imediato, até meses após a cirurgia. Dentre as técnicas de avaliação clínica, 23 estudos (60,5%) recomendaram o exame físico e 15 (39,5%) a combinação anamnese e exame físico.
Conclusão:
A presente revisão apresentou o mapeamento de evidências, nas quais a avaliação clínica da fístula arteriovenosa deve incluir anamnese e exame físico, sendo apresentados vários elementos ligados a permeabilidade e respostas vasculares do acesso. Houve a predominância do profissional enfermeiro como avaliador, sendo ressaltada a necessidade do treinamento para execução da avaliação, além de uma avaliação mais abrangente, com aplicação do Processo e Teorias de Enfermagem, e Linguagens Padronizadas, o que pode propiciar um novo campo de investigação e desenvolvimento na área.
Descritores
Fístula arteriovenosa; Diálise renal; Avaliação em saúde; Avaliação em enfermagem; Cuidados pós-operatórios
Resumen
Objetivo:
Mapear las evidencias de investigación disponibles para evaluación clínica de la maduración de la fístula arteriovenosa.
Métodos:
Estudio tipo scoping review, cuya búsqueda fue realizada entre octubre y noviembre de 2019 en las bases de datos JBI, Cochrane, Biblioteca Virtual em Saúde, PubMed y CINAHL. Se incluyeron estudios con pacientes mayores de 18 años, con enfermedad renal crónica predialítica o ya en hemodiálisis, sometidos a cirugía de fístula arteriovenosa y textos disponibles en inglés, español o portugués. Se excluyeron estudios relacionados con la fase posoperatoria o relacionados con cuidados de prótesis/injertos.
Resultados:
Se identificaron 1.954 publicaciones elegibles, de las cuales 38 formaron parte de la muestra final. El estudio comprendió publicaciones entre 1998 y 2018, con alcance internacional del tema (94,7 %). El profesional que ejecutó la evaluación fue predominantemente el enfermero o el equipo de enfermería (47,4 %) y la evaluación comenzó en el posoperatorio inmediato, hasta meses después de la cirugía. Entre las técnicas de evaluación clínica, 23 estudios (60,5 %) recomendaron el examen físico y 15 (39,5 %) la combinación entre anamnesis y examen físico.
Conclusión:
La revisión presentó el mapeo de evidencias, en las cuales la evaluación clínica de la fístula arteriovenosa debe incluir anamnesis y examen físico. También se presentaron varios elementos relacionados con la permeabilidad y respuestas vasculares del acceso. Hubo una predominancia del profesional enfermero como evaluador y se destaca la necesidad de entrenamiento para llevar a cabo la evaluación, además de una evaluación más abarcadora, con aplicación del proceso y teorías de enfermería y un lenguaje estandarizado, lo que puede proporcionar un nuevo campo de investigación y desarrollo del área.
Descriptores
Fístula arteriovenosa; Diálisis renal; Evaluación en salud; Cuidados posoperatorios
Abstract
Objective:
To map the available research evidence for arteriovenous fistula maturation clinical assessment.
Methods:
A scoping review, with a search conducted between October and November 2019 at JBI, Cochrane, Virtual Health Library, PubMed, and CINAHL. Studies with patients over 18 years old, with pre-dialysis chronic kidney disease or already under hemodialysis, who underwent arteriovenous fistula surgery were included; available text; and in English, Spanish, and Brazilian Portuguese. Studies related to the postoperative phase or related to care with prostheses/arteriovenous grafts were excluded.
Results:
One thousand nine hundred and fifty-four eligible studies were identified; 38 made up the final sample. The study comprised studies between 1998 and 2018, with an international scope of the theme (94.7%). The professional who performed the assessment was predominantly the nurse or nursing team (47.4%), and assessment started in the immediate post-surgical period, even months after surgery. Among the clinical assessment techniques, 23 studies (60.5%) recommended physical examination and 15 (39.5%) the combination of medical history and physical examination.
Conclusion:
This review presented the mapping of evidence, in which arteriovenous fistula clinical assessment must include medical history and physical examination. Several elements related to the permeability and vascular responses of the access were presented. There was a predominance of professional nurses as evaluators. There was need for training to carry out the assessment, in addition to a more comprehensive assessment, with the application of the Nursing Theory and Standardized Languages and Process, which may provide with a new field of research and development in the area.
Keywords
Arteriovenous fistula; Renal dialysis; Health evaluation; Postoperative care
Introdução
Dentre as modalidades de terapia de reposição renal para lidar com doença renal crônica (DRC), a hemodiálise é a principal, alcançando 70% a 90% dos pacientes, com todos necessitando de adequado acesso vascular.(11. Gesualdo GD, Zazzetta MS, Say KG, Orlandi FS. [Factors associated with the frailty of elderly people with chronic kidney disease on hemodialysis]. Cien Saude Colet. 2016;21(11):3493–8. Portuguese.,22. Arhuidese IJ, Orandi BJ, Nejim B, Malas M. Utilization, patency, and complications associated with vascular access for hemodialysis in the United States. J Vasc Surg. 2018;68(4):1166–74.) As alternativas são a Fístula Arteriovenosa (FAV) e os Cateteres Venosos Centrais (CVC), sendo a FAV considerada o padrão-ouro por melhores indicadores para risco de infecções, hospitalizações, ocorrência de estenose venosa central, mortalidade e custos do que o CVC.(33. Hamadneh SA, Nueirat SA, Qadoomi' J, Shurrab M, Qunibi WY, Hamdan Z. Vascular access mortality and hospitalization among hemodialysis patients in Palestine. Saudi J Kidney Dis Transpl. 2018;29(1):120–6.–77. Brown RS, Patibandla BK, Goldfarb-Rumyantzev AS. The survival benefit of “fistula first, catheter last” in hemodialysis is primarily due to patient factors. J Am Soc Nephrol. 2017;28(2):645–52.) Então, as estratégias de criação e acompanhamento da Fístula Arteriovenosa tornam-se relevantes.(22. Arhuidese IJ, Orandi BJ, Nejim B, Malas M. Utilization, patency, and complications associated with vascular access for hemodialysis in the United States. J Vasc Surg. 2018;68(4):1166–74.,88. Agarwal AK, Haddad NJ, Vachharajani TJ, Asif A. Innovations in vascular access for hemodialysis. Kidney Int. 2019;95(5):1053–63.,99. Jackson VE, Hurst H, Mitra S. Structured physical assessment of arteriovenous fistulae in haemodialysis access surveillance: A missed opportunity? J Vasc Access. 2018;19(3):221–9.)
A FAV é uma anastomose autógena entre uma artéria e uma veia. Após sua criação, um fluxo contínuo da artéria para veia inicia uma série de mudanças, alterando a estrutura da parede, gerando uma tensão de cisalhamento, e aumentando rapidamente o fluxo sanguíneo durante as primeiras 24 horas. Essas mudanças tornam a FAV adequada para suportar repetidas punções da terapia dialítica; devendo passar pela fase de maturação, que leva cerca de quatro a seis semanas, envolvendo mudanças como aumento do fluxo sanguíneo para 500ml/min, diâmetro mínimo de 4mm e facilidade de visualização.(77. Brown RS, Patibandla BK, Goldfarb-Rumyantzev AS. The survival benefit of “fistula first, catheter last” in hemodialysis is primarily due to patient factors. J Am Soc Nephrol. 2017;28(2):645–52.,1010. Schmidli J, Widmer MK, Basile C, de Donato G, Gallieni M, Gibbons CP, et al.; Esvs Guidelines Committee; Esvs Guidelines Reviewers. Editor's Choice - Vascular Access: 2018 Clinical Practice Guidelines of the European Society for Vascular Surgery (ESVS). Eur J Vasc Endovasc Surg. 2018;55(6):757–818.) No entanto, um quarto a um terço das fístulas nunca maturam adequadamente.(1111. Salimi F, Shahabi S, Talebzadeh H, Keshavarzian A, Pourfakharan M, Safaei M. Evaluation of diagnostic values of clinical assessment in determining the maturation of arteriovenous fistulas for satisfactory hemodialysis. Adv Biomed Res. 2017;6(1):18.) Estudo recente verificou que apenas 17,1% dos pacientes em hemodiálise utilizaram a fístula após dois meses e 54,7% após quatro meses de criação.(1212. Woodside KJ, Bell S, Mukhopadhyay P, Repeck KJ, Robinson IT, Eckard AR, et al. Arteriovenous fistula maturation in prevalent hemodialysis patients in the United States: A National Study. Am J Kidney Dis. 2018;71(6):793–801.)
A avaliação dessas mudanças deve envolver a observação e avaliação do acesso vascular por meio do exame físico; e a vigilância, que se refere à avaliação periódica utilizando testes que envolvem instrumentação especial, como uso do Ultrassom Doppler (USD) e angiografia.(1010. Schmidli J, Widmer MK, Basile C, de Donato G, Gallieni M, Gibbons CP, et al.; Esvs Guidelines Committee; Esvs Guidelines Reviewers. Editor's Choice - Vascular Access: 2018 Clinical Practice Guidelines of the European Society for Vascular Surgery (ESVS). Eur J Vasc Endovasc Surg. 2018;55(6):757–818.,1313. Kukita K, Ohira S, Amano I, Naito H, Azuma N, Ikeda K, et al.; Vascular Access Construction and Repair for Chronic Hemodialysis Guideline Working Group, Japanese Society for Dialysis Therapy. 2011 update Japanese Society for Dialysis Therapy Guidelines of Vascular Access Construction and Repair for Chronic Hemodialysis. Ther Apher Dial. 2015;19 Suppl 1:1–39.–1515. Ibeas J, Roca-Tey R, Vallespín J, Moreno T, Moñux G, Martí-Monrós A, et al.; por el Grupo Español Multidisciplinar del Acceso Vascular (GEMAV). Guía clínica española del acceso vascular para hemodiálisis. Nefrologia. 2017;37 Suppl 1:1–191.) No geral, ambas avaliações são complementares.(1616. Abreo K, Amin BM, Abreo AP. Physical examination of the hemodialysis arteriovenous fistula to detect early dysfunction. J Vasc Access. 2019;20(1):7–11.–1818. Robbin ML, Greene T, Allon M, Dember LM, Imrey PB, Cheung AK, et al.; Hemodialysis fistula maturation study group. prediction of arteriovenous fistula clinical maturation from postoperative ultrasound measurements: findings from the hemodialysis fistula maturation study. J Am Soc Nephrol. 2018;29(11):2735–44.)
A avaliação física do monitoramento de disfunção do acesso na fase de maturação, foco deste artigo, tem sido considerada conveniente, simples, econômica e de relevância.(1616. Abreo K, Amin BM, Abreo AP. Physical examination of the hemodialysis arteriovenous fistula to detect early dysfunction. J Vasc Access. 2019;20(1):7–11.) Estudo desenvolvido em uma unidade radiológica demonstrou que esta avaliação obteve altos valores de sensibilidade (82%) para detecção de estenose, sendo o exame físico uma ferramenta útil, especialmente quando aplicado em centros que não dispõem da ultrassonografia para vigilância.(1717. Maldonado-Cárceles AB, García-Medina J, Torres-Cantero AM. Performance of physical examination versus ultrasonography to detect stenosis in haemodialysis arteriovenous fistula. J Vasc Access. 2017;18(1):30–4.) Além disso, com menos limites de uso do que o USD, como custo e necessidade de operador habilitado.(99. Jackson VE, Hurst H, Mitra S. Structured physical assessment of arteriovenous fistulae in haemodialysis access surveillance: A missed opportunity? J Vasc Access. 2018;19(3):221–9.)
Revisão sistemática identificou o exame físico como ferramenta efetiva e acurada na detecção de disfunção na FAV, contudo, indicou sua inadequada realização. Concluiu que a assistência de enfermagem é mais próxima, regular e frequente aos pacientes com FAV, justificando a condução dessa avaliação pelos enfermeiros.(99. Jackson VE, Hurst H, Mitra S. Structured physical assessment of arteriovenous fistulae in haemodialysis access surveillance: A missed opportunity? J Vasc Access. 2018;19(3):221–9.) Estudo com enfermeiros portugueses de hemodiálise de oito centros especializados apontou fragilidade relacionada às habilidades e aos conhecimentos para realizar essa avaliação física.(1919. Sousa CN, Teles P, Dias VF, Apóstolo JL, Figueiredo MH, Martins MM. Physical examination of arteriovenous fistula: the influence of professional experience in the detection of complications. Hemodial Int. 2014;18(3):695–9.) Ademais, observam-se variações nas recomendações institucionais sobre elementos de avaliação da FAV com consequências sobre a delimitação das ações profissionais.
Diante das fragilidades apontadas, entende-se ser necessário o mapeamento das evidências disponíveis acerca dos elementos utilizados para a avaliação clínica e caracterizar as técnicas utilizadas pelos profissionais que a tem realizado, de forma a facilitar posteriores padronizações para as práticas profissionais e produzir melhores resultados no acompanhamento da maturação da FAV.
O objetivo do estudo foi mapear as evidências de pesquisa sobre a avaliação clínica da maturação da fístula arteriovenosa em pacientes com doença renal crônica.
Métodos
Estudo do tipo Scoping Review, com revisão sistemática, orientada pela metodologia do Joanna Briggs Institute (JBI) e Joanna Briggs Collaborating Centres.(2020. Joanna Briggs Institute (JBI). Methodology for JBI Scoping Reviews - Joanna Briggs 2015. [Internet]. Australia: JBI; c2015. [cited 2020 Jan 27]. Available from: http://joannabriggs.org/assets/docs/sumari/Reviewers-Manual_Methodology-for-JBI-Scoping-Reviews_2015_v2.pdf
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,2121. Peters MD, Godfrey CM, Khalil H, McInerney P, Parker D, Soares CB. Guidance for conducting systematic scoping reviews. Int J Evid-Based Healthc. 2015;13(3):141–6.) A seleção dessa estratégia de revisão baseou-se em suas finalidades de mapear o corpo de conhecimento em um tópico e incorporar uma amplitude de desenhos de estudo e metodologias de pesquisa.(2222. Munn Z, Peters MD, Stern C, Tufanaru C, McArthur A, Aromataris E. Systematic review or scoping review? Guidance for authors when choosing between a systematic or scoping review approach. BMC Med Res Methodol. 2018;18(1):143.)
As etapas realizadas foram: Definição e alinhamento dos objetivos e questões da revisão; Desenvolvimento e alinhamento dos critérios de inclusão com objetivos e questões; Descrição da abordagem planejada para seleção, extração e mapeamento das evidências de pesquisa; Busca pelas evidências; Seleção das evidências; Extração das evidências; Mapeamento das evidências; Sumarização das evidências em relação ao objetivo e a questão; Consulta a cientistas da informação, bibliotecários e/ou especialistas.
A pergunta da pesquisa usou a estratégia PCC, sendo Population– adultos com insuficiência renal crônica, Concept– elementos para avaliação clínica da maturação da FAV para hemodiálise e Context– período pós-operatório de confecção da FAV, em qualquer cenário hospitalar. Assim construída: “Quais são os elementos da maturação a serem avaliados clinicamente na FAV para hemodiálise no período pós-operatório de sua confecção em pacientes adultos com insuficiência renal crônica?”
Foram critérios de inclusão: estudos realizados com pacientes maiores de 18 anos, com DRC pré-dialítica ou em hemodiálise, submetidos à cirurgia da FAV; texto completo disponível; e nos idiomas inglês, espanhol ou português. Foram excluídas publicações não relacionadas à fase pós-operatória, relacionadas a cuidados com próteses/enxertos arteriovenosos e que não abordavam a avaliação clínica na fase de maturação.
A busca ocorreu em outubro e novembro de 2019, nas bases de dados: JBI; Cochrane; todas as bases de dados da Biblioteca Virtual em Saúde; PubMed e CINAHL. As evidências da gray literature foram buscadas no Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES, documentos em sites de órgãos oficiais, diretrizes e manuais de instituições internacionais e nacionais, e livros. Não houve limitação temporal para busca. Utilizou-se os descritores em Ciências da Saúde (DECS) e Medical Subject Headings (MeSH) ligados à pergunta da pesquisa (Quadro 1).
As citações identificadas foram coletadas e carregadas no Mendeley® e duplicadas removidas. A leitura exploratória de títulos e resumos foi realizada por pares de revisores de forma independente, julgando os estudos que tinham relações com a pergunta de pesquisa e atendiam critérios de inclusão de idioma e disponibilidade do texto completo. As discordâncias foram resolvidas por consensualização entre pares ou pela avaliação de um terceiro revisor, quando mantida a discordância. Então, os estudos pré-selecionados foram lidos na íntegra para avaliação do conteúdo quanto à sua contribuição na compreensão do fenômeno estudado e posterior síntese de dados. Posteriormente, a consulta às listas de referência dos artigos em busca de estudos adicionais resultou na inclusão de mais oito publicações. Todas as pesquisas, decisões e etapas foram documentadas e arquivadas pelo revisor principal.
A busca e seleção dos estudos seguiu as recomendações do JBI em relação a apresentação dos resultados com checklist adaptado do Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses (PRISMA).(2020. Joanna Briggs Institute (JBI). Methodology for JBI Scoping Reviews - Joanna Briggs 2015. [Internet]. Australia: JBI; c2015. [cited 2020 Jan 27]. Available from: http://joannabriggs.org/assets/docs/sumari/Reviewers-Manual_Methodology-for-JBI-Scoping-Reviews_2015_v2.pdf
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)
Do corpus final dos estudos incluídos, foram extraídos os dados com formulário específico para mapeamento do título do artigo; autoria; ano de publicação; país de origem; objetivo; população do estudo e tamanho da amostra (quando aplicável); métodos; desenho de estudo; profissional responsável pela avaliação clínica; duração da avaliação (se aplicável); e técnicas de avaliação. Posteriormente foram inseridos em planilha Excel®, da qual procedeu-se a caracterização dos estudos e agrupamento, síntese e descrição dos resultados a partir da questão de pesquisa.
Resultados
Foram identificadas 1954 publicações, dos quais 38 compuseram a amostra final. No fluxo do processo de busca (Figura 1), inicialmente foram encontradas 1940 correspondências. Outras quatorze foram adicionadas a partir de referências (n=8) e literatura cinza (n=6), removendo-se as duplicadas (n=4), obteve-se 1950 estudos para leitura dos títulos e resumos. Por não responderem à pergunta de pesquisa, 1831 foram excluídos. Os textos completos dos 119 restantes foram avaliados quanto à elegibilidade, e 81 foram excluídos. Trinta e oito estudos foram incluídos no processo final de extração e análise de dados.
O quadro 2 apresenta as publicações selecionadas conforme autoria/ano, título, desenho de estudo, objetivo, população/amostra e país de origem. Conforme observado, foram encontrados estudos publicados nos últimos 20 anos, entre 1998 e 2018. Dos tipos de publicações, 29 são artigos (76,3%), seis diretrizes clínicas (15,8%), dois manuais (5,3%), além de uma fonte de livro (2,6%). A maioria das publicações foi internacional (n=36; 94,7%), com prevalência de publicações dos Estados Unidos da América (EUA) (n=14; 36,8%).
Descrição das publicações quanto à autoria e ano de publicação, título, desenho de estudo e país
Os estudos apontaram que em relação aos profissionais responsáveis pela avaliação predominou o enfermeiro nefrologista ou equipe de enfermagem (n=18; 47,4%), seguida do médico nefrologista, intervencionista ou cirurgião vascular (n=16; 42,1%), e por fim, profissional ou equipe especializada/capacitada para lidar especificamente com a FAV (n=6; 15,8%).
O tempo de avaliação pós-cirúrgica da FAV variou desde as primeiras horas de pós-operatório até um ano. Duas publicações recomendaram a avaliação nas primeiras horas, inicialmente a cada meia hora, e depois com intervalos decrescentes até a alta.(3333. Thomas N. Renal rursing. 4th ed. England: Wiley-Blackwell; 2013.,4141. McCann M, Einarsdóttir H, Van Waeleghem JP, Murphy F, Sedgewick J. Vascular access management 1: an overview. J Ren Care. 2008;34(2):77–84.) A avaliação semanal pós-cirúrgica;(5555. Pereira OR, Fernandes J S, Menegaz TN. Evalution of the radiocephalic fistula maturation for hemodialysis access. ACM Arq Catarin Med. 2016;45(2):2–10.) no 1°, 10° e 30° dias pós-operatório;(4444. Neves Junior MA, Melo RC, Almeida CC de, Fernandes AR, Petnys A, Iwasaki ML, et al. Avaliação da perviedade precoce das fístulas arteriovenosas para hemodiálise. J Vasc Bras. 2011;10(2):105–9.) ou no 1° dia, 1ª semana e na 4ª semana,(4545. Ahmed GM, Mansour MO, Elfatih M, Khalid KE, Ahmed MI. Outcomes of arteriovenous fistula for hemodialysis in Sudanese patients: single-center experience. Saudi J Kidney Dis Transpl. 2012;23(1):152–7.); dentro das primeiras duas semanas;(3838. Ohira S, Naito H, Amano I, Azuma N, Ikeda K, Kukita K, et al.; Japanese Society for Dialysis Therapy. 2005 Japanese Society for Dialysis Therapy guidelines for vascular access construction and repair for chronic hemodialysis. Ther Apher Dial. 2006;10(5):449–62.) após duas semanas;(4747. Salimi F, Majd Nassiri G, Moradi M, Keshavarzian A, Farajzadegan Z, Saleki M, et al. Assessment of effects of upper extremity exercise with arm tourniquet on maturity of arteriovenous fistula in hemodialysis patients. J Vasc Access. 2013;14(3):239–44.,4949. Huang SG, Rowe VL, Weaver FA, Hwang F, Woo K. Compliance with surgical follow-up does not influence fistula maturation in a county hospital population. Ann Vasc Surg. 2014;28(8):1847–52.) após quatro semanas;(2828. Ferring M, Henderson J, Wilmink T. Accuracy of early postoperative clinical and ultrasound examination of arteriovenous fistulae to predict dialysis use. J Vasc Access. 2014;15(4):291–7.,5151. López Alonso MT, Lozano Moledo V, Yuguero Ortiz A, Fontseré Baldellou N. Influencia del ejercicio físico en el desarrollo de fístulas arteriovenosas nativas. Enferm Nefrol. 2015;18(3):168–73.) dentro de seis semanas;(3232. Parosotto ME, Pancirova J, editores. Canulação e cuidado do acesso vascular. Manual de boas práticas de enfermagem para a fístula arteriovenosa. 2a ed. Madrid: Tomás Hermannos; 2015.) de três a seis semanas(2525. McLafferty RB, Pryor RW 3rd, Johnson CM, Ramsey DE, Hodgson KJ. Outcome of a comprehensive follow-up program to enhance maturation of autogenous arteriovenous hemodialysis access. J Vasc Surg. 2007;45(5):981–5.) foram outros padrões evidenciados. Contudo, a maioria indicou avaliação da maturação dentro de quatro até seis semanas.(1010. Schmidli J, Widmer MK, Basile C, de Donato G, Gallieni M, Gibbons CP, et al.; Esvs Guidelines Committee; Esvs Guidelines Reviewers. Editor's Choice - Vascular Access: 2018 Clinical Practice Guidelines of the European Society for Vascular Surgery (ESVS). Eur J Vasc Endovasc Surg. 2018;55(6):757–818.,1414. Vascular Access 2006 Work Group. Clinical practice guidelines for vascular access. Am J Kidney Dis. 2006;48 Suppl 1:S176–247.,1515. Ibeas J, Roca-Tey R, Vallespín J, Moreno T, Moñux G, Martí-Monrós A, et al.; por el Grupo Español Multidisciplinar del Acceso Vascular (GEMAV). Guía clínica española del acceso vascular para hemodiálisis. Nefrologia. 2017;37 Suppl 1:1–191.,2626. Sidawy AN, Spergel LM, Besarab A, Allon M, Jennings WC, Padberg FT Jr, et al.; Society for Vascular Surgery. The Society for Vascular Surgery: clinical practice guidelines for the surgical placement and maintenance of arteriovenous hemodialysis access. J Vasc Surg. 2008;48(5 Suppl):2S–25S.,3131. George D. Beaumont Hospital. Guidelines on the management of arterio venous fistula and grafts [Internet]. Dublin: Beaumont Hospital; 2012. [cited 2020 Jun 16]. Available from: http://www.beaumont.ie/media/AVFguidelinefinalcopy1.pdf
http://www.beaumont.ie/media/AVFguidelin...
,3535. Beathard GA. An algorithm for the physical examination of early fistula failure. Semin Dial. 2005;18(4):331–5.,3737. Asif A, Roy-Chaudhury P, Beathard GA. Early arteriovenous fistula failure: a logical proposal for when and how to intervene. Clin J Am Soc Nephrol. 2006;1(2):332–9.,4343. Malovrh M. Non-matured arteriovenous fistulae for haemodialysis: diagnosis, endovascular and surgical treatment. Bosn J Basic Med Sci. 2010;10 Suppl 1:S13–7.,5252. Cheng Q, Zhao YJ. The reasons for the failure of the primary arteriovenous fistula surgery in patients with end-stage renal disease. J Vasc Access. 2015;16 Suppl 10:S74–7.)
Ainda foram verificados estudos apontando tempos superiores a seis semanas: entre quatro e oito semanas;(5656. Martinez L, Esteve V, Yeste M, Artigas V, Llagostera S. Neuromuscular electrostimulation: a new therapeutic option to improve radio-cephalic arteriovenous fistula maturation in end-stage chronic kidney disease patients. Int Urol Nephrol. 2017;49(9):1645–52.,5757. Rodrigues AT, Colugnati FA, Bastos MG. Evaluation of variables associated with the patency of arteriovenous fistulas for hemodialysis created by a nephrologist. J Bras Nefrol. 2018;40(4):326–32.) dentro de dois meses após o procedimento;(4040. Levine MI. A challenge for nephrologists-increasing fistula maturation rates, reducing fistula maturation time, and decreasing dialysis catheter prevalence in the United States. Semin Dial. 2008;21(3):280-4.) até dois a três meses;(3333. Thomas N. Renal rursing. 4th ed. England: Wiley-Blackwell; 2013.) dentro de quatro meses;(2929. Robbin ML, Chamberlain NE, Lockhart ME, Gallichio MH, Young CJ, Deierhoi MH, et al. Hemodialysis arteriovenous fistula maturity: US evaluation. Radiology. 2002;225(1):59–64.) em seis meses;(5454. Rosenberg JE, Yevzlin AS, Chan MR, Valliant AM, Astor BC. Prediction of Arteriovenous Fistula Dysfunction: can it be Taught? Semin Dial. 2015;28(5):544–7.) e outro que recomendou realizar a avaliação em duas semanas, seis semanas, três meses, seis meses e 12 meses do período pós-operatório.(5353. Mufty H, Claes K, Heye S, Fourneau I. Proactive surveillance approach to guarantee a functional arteriovenous fistula at first dialysis is worth. J Vasc Access. 2015;16(3):183–8.)
Dentre as técnicas de avaliação clínica, 23 estudos (60,5%) recomendaram o exame físico e 15 (39,5%) a combinação anamnese e exame físico. Os elementos clínicos sinalizados como necessários para avaliar a maturação estão sintetizados no quadro 3.
Discussão
Os resultados indicaram uma diversidade de elementos de avaliação para acompanhamento da maturação da FAV com predominância do exame físico como estratégia de avaliação.
A acurácia do exame físico na avaliação da maturação da FAV quando comparado ao Doppler ultrassonográfico(2828. Ferring M, Henderson J, Wilmink T. Accuracy of early postoperative clinical and ultrasound examination of arteriovenous fistulae to predict dialysis use. J Vasc Access. 2014;15(4):291–7.,2929. Robbin ML, Chamberlain NE, Lockhart ME, Gallichio MH, Young CJ, Deierhoi MH, et al. Hemodialysis arteriovenous fistula maturity: US evaluation. Radiology. 2002;225(1):59–64.) converge para os achados de estudo com pacientes de uma unidade de radiologia, no qual o exame físico superou o USD para diagnosticar estenose (62% versus 58% de detecção).(1818. Robbin ML, Greene T, Allon M, Dember LM, Imrey PB, Cheung AK, et al.; Hemodialysis fistula maturation study group. prediction of arteriovenous fistula clinical maturation from postoperative ultrasound measurements: findings from the hemodialysis fistula maturation study. J Am Soc Nephrol. 2018;29(11):2735–44.) De acordo com a Resolução COFEN n° 358/2009, que dispõe sobre as etapas do Processo de Enfermagem, o enfermeiro deve aplicar o Processo de Enfermagem em todo ambiente que ocorre o cuidado de enfermagem, sendo o exame físico técnica usada na etapa de coleta de dados de Enfermagem, fornecendo indicadores clínicos de relevância para tomada de decisão.
Condições particulares podem indicar necessidade de educação continuada de elementos ligados à semiotécnica, dentre eles a ausculta de sopros indicativos de estenose de vasos, o que pode exigir uso adequado do estetoscópio para correta interpretação dos sons verificados.
Quanto à anamnese, diferentes estudos apontaram para um foco em dados cirúrgicos e características do paciente referentes a dados sociodemográficos, clínicos e de estilo de vida.(1515. Ibeas J, Roca-Tey R, Vallespín J, Moreno T, Moñux G, Martí-Monrós A, et al.; por el Grupo Español Multidisciplinar del Acceso Vascular (GEMAV). Guía clínica española del acceso vascular para hemodiálisis. Nefrologia. 2017;37 Suppl 1:1–191.,3535. Beathard GA. An algorithm for the physical examination of early fistula failure. Semin Dial. 2005;18(4):331–5.,3838. Ohira S, Naito H, Amano I, Azuma N, Ikeda K, Kukita K, et al.; Japanese Society for Dialysis Therapy. 2005 Japanese Society for Dialysis Therapy guidelines for vascular access construction and repair for chronic hemodialysis. Ther Apher Dial. 2006;10(5):449–62.,4444. Neves Junior MA, Melo RC, Almeida CC de, Fernandes AR, Petnys A, Iwasaki ML, et al. Avaliação da perviedade precoce das fístulas arteriovenosas para hemodiálise. J Vasc Bras. 2011;10(2):105–9.,4949. Huang SG, Rowe VL, Weaver FA, Hwang F, Woo K. Compliance with surgical follow-up does not influence fistula maturation in a county hospital population. Ann Vasc Surg. 2014;28(8):1847–52.,5151. López Alonso MT, Lozano Moledo V, Yuguero Ortiz A, Fontseré Baldellou N. Influencia del ejercicio físico en el desarrollo de fístulas arteriovenosas nativas. Enferm Nefrol. 2015;18(3):168–73.–5353. Mufty H, Claes K, Heye S, Fourneau I. Proactive surveillance approach to guarantee a functional arteriovenous fistula at first dialysis is worth. J Vasc Access. 2015;16(3):183–8.,5656. Martinez L, Esteve V, Yeste M, Artigas V, Llagostera S. Neuromuscular electrostimulation: a new therapeutic option to improve radio-cephalic arteriovenous fistula maturation in end-stage chronic kidney disease patients. Int Urol Nephrol. 2017;49(9):1645–52.,5757. Rodrigues AT, Colugnati FA, Bastos MG. Evaluation of variables associated with the patency of arteriovenous fistulas for hemodialysis created by a nephrologist. J Bras Nefrol. 2018;40(4):326–32.) A relevância desses dados pode ser constatada em estudo que analisou a associação com as informações dos pacientes que estabeleceram FAV ao longo do período de um ano. Verificou-se associação de pacientes com idade avançada, sexo feminino, negros, apresentando comorbidades (doença cardiovascular, doença arterial periférica, diabetes, pacientes internados ou necessitando de assistência), em diálise há mais de um ano e utilizando cateter ou enxerto arteriovenoso com menor taxa de sucesso na maturação da FAV.(1212. Woodside KJ, Bell S, Mukhopadhyay P, Repeck KJ, Robinson IT, Eckard AR, et al. Arteriovenous fistula maturation in prevalent hemodialysis patients in the United States: A National Study. Am J Kidney Dis. 2018;71(6):793–801.)
Desta feita, os dados investigados na anamnese devem ser abrangentes e categorizados em: fatores humanos, como idade avançada e sexo; fatores relacionados a marcadores sanguíneos como distúrbios de coagulação, uso de anticoagulantes, dislipidemia, uremia e hipoalbuminemia; estilo de vida e comorbidades associadas, como por exemplo, diabetes, hipertensão, doença vascular periférica, tabagismo e obesidade,(44. Soleymanian T, Sheikh V, Tareh F, Argani H, Ossareh S. Hemodialysis vascular access and clinical outcomes: an observational multicenter study. J Vasc Access. 2017;18(1):35–42.) além de outros fatores mais diretamente ligados à fístula, como disfunção endotelial, diâmetro de veia e pacientes em diálise portando CVC.(5858. Siddiqui MA, Ashraff S, Carline T. Maturation of arteriovenous fistula: analysis of key factors. Kidney Res Clin Pract. 2017;36(4):318–28.)
Identificou-se nas publicações analisadas que a avaliação da FAV, por meio do exame físico, deve ser estruturada na inspeção, palpação e ausculta, que quando adequadamente combinadas, constituem parte fundamental no atendimento ao paciente com acesso vascular. Essa combinação produz informações cruciais que orientam a detecção de problemas e realização em tempo hábil de intervenções que previnam complicações graves, perda potencial do acesso e maus resultados.(5959. Vladimir F, Ahmad S, Shalhub S. Detecting pending hemodialysis access failure: the physical exam. In: Shalhub S, Dua A, Shin S, editors. Hemodialysis access. Cham: Springer; 2017. p. 183–90.)
Elementos da inspeção foram destacados na maioria das publicações com dezenas de critérios indicados. As informações desta etapa podem ser importantes na detecção de problemas como infecções, aneurismas, sangramentos, estenoses de segmento venoso e central e síndrome do roubo.(1616. Abreo K, Amin BM, Abreo AP. Physical examination of the hemodialysis arteriovenous fistula to detect early dysfunction. J Vasc Access. 2019;20(1):7–11.,5959. Vladimir F, Ahmad S, Shalhub S. Detecting pending hemodialysis access failure: the physical exam. In: Shalhub S, Dua A, Shin S, editors. Hemodialysis access. Cham: Springer; 2017. p. 183–90.)
A palpação foi a única etapa do exame físico presente em todas as publicações, com a maioria dessas indicando que as avaliações por meio da palpação devem ser direcionadas a interpretar dados de fluxo sanguíneo, alterações de diâmetro como estenose da luz do vaso e verificação de sinais de infecção. A ausculta também foi descrita em 21 publicações analisadas (55,2%), voltada à avaliação das características do sopro. Essas duas etapas são úteis para confirmar os achados da inspeção e fornecem informações adicionais, sendo o frêmito, pulso e sopro elementos importantes para achados de problemas relacionados ao fluxo sanguíneo no acesso.(1616. Abreo K, Amin BM, Abreo AP. Physical examination of the hemodialysis arteriovenous fistula to detect early dysfunction. J Vasc Access. 2019;20(1):7–11.)
Quanto ao período para avaliação pós-operatória, a variação abrangente indica que não há uma definição clara do período de avaliação. Esta falta de convergência sobre a regularidade do monitoramento do acesso pode ter como consequência postergar a identificação de problemas na maturação, alguns deles às vezes já irreversíveis. Isso pode requerer iniciativas de novas investigações com desenhos de síntese, como por exemplo metanálises. Estudo multicêntrico para investigar o desenvolvimento da FAV ao longo de seis semanas, verificou que em um dia a FAV já atinge 50% do fluxo sanguíneo adequado, e em duas semanas já alcança o diâmetro e fluxo esperado, sugerindo que a avaliação pós-operatória se inicie tão logo a FAV seja estabelecida, para identificação precoce de problemas de maturação, possibilitando o planejamento de alternativas para estabelecer o acesso, diminuindo a dependência do CVC.(6060. Robbin ML, Greene T, Cheung AK, Allon M, Berceli SA, Kaufman JS, et al.; Hemodialysis Fistula Maturation Study Group. Arteriovenous fistula development in the first 6 weeks after creation. Radiology. 2016;279(2):620–9.)
Um centro de diálise na Holanda avaliou os efeitos de um protocolo de avaliações pré e pós-operatórias da maturação da FAV nas taxas de sucesso na maturação do acesso por meio de um estudo caso-controle. No grupo um, foram realizadas 72 cirurgias de FAV, sem implementação do protocolo estabelecido. No grupo dois, foram realizadas 74 cirurgias, com implantação do protocolo proposto de avaliação pós-operatória: primeiramente procedeu-se com retorno do paciente para exame do acesso, remoção da sutura e educação uma semana após o procedimento; posteriormente, o paciente era submetido ao exame físico para investigação de sinais de trombose ou falha na maturação durante visitas na unidade três vezes na semana. O estudo demonstrou que com o acompanhamento realizado no grupo dois, houve aumento na taxa de sucesso dos acessos, sendo alcançadas taxas de permeabilidade primárias e secundárias significativamente mais altas, com aumento na patência primária de 36% para 49% e na secundária de 47% para 70%, com diminuição de intervenções cirúrgicas.(6161. Flu H, Breslau PJ, Krol-van Straaten JM, Hamming JF, Lardenoye JW. The effect of implementation of an optimized care protocol on the outcome of arteriovenous hemodialysis access surgery. J Vasc Surg. 2008;48(3):659–68.) Os resultados sugerem que mais estudos devem ser conduzidos para confirmar a hipótese de que a frequência de avaliação melhora o sucesso e duração dos acessos.
Estudo desenvolvido em um centro de diálise americano instituiu protocolo de conversão rápida de CVC para FAV, com avaliação duas semanas após a criação do acesso, nova avaliação após quatro semanas, e se a FAV não apresentasse sinais clínicos de maturação, um ultrassom era realizado no mesmo dia, se possível. A avaliação prosseguia até a FAV ser utilizada corretamente, e como resultado 99% dos cateteres foram convertidos em acesso arteriovenoso.(6262. Blessios GA, Park JM, Barone KM. Effect of a rapid clinical protocol to the conversion from central venous hemodialysis catheter to arteriovenous access. J Vasc Access. 2016;17(2):124–30.)
Em relação ao profissional responsável pela avaliação clínica, o enfermeiro foi o mais citado nos estudos. Os enfermeiros em diálise mantém contato regular e frequente com pacientes com FAV, logo, são os profissionais apropriados para execução da avaliação utilizando o exame físico.(99. Jackson VE, Hurst H, Mitra S. Structured physical assessment of arteriovenous fistulae in haemodialysis access surveillance: A missed opportunity? J Vasc Access. 2018;19(3):221–9.) Estudo desenvolvido com 212 pacientes em dois centros de diálise constatou que com estabelecimento de um protocolo implementado por enfermeiro, apoiado pela equipe multiprofissional, a taxa de uso de FAV aumentou de 45,0% para 64,3% e o uso de cateter diminuiu de 11,0% para 6,0%.(6363. Dwyer A, Shelton P, Brier M, Aronoff G. A vascular access coordinator improves the prevalent fistula rate. Semin Dial. 2012;25(2):239–43.)
O treinamento profissional é um componente importante para reconhecimento de potenciais incidentes na maturação e nas outras fases do processo. A experiência específica do profissional na realização da avaliação clínica é relevante, sendo que na ausência de um examinador experiente disponível, é preferível encaminhar o paciente para realizar USD.(1616. Abreo K, Amin BM, Abreo AP. Physical examination of the hemodialysis arteriovenous fistula to detect early dysfunction. J Vasc Access. 2019;20(1):7–11.) Apesar disso, o exame físico pode ser facilmente ensinado a profissionais de saúde num curto intervalo de tempo.(2424. Coentrão L, Faria B, Pestana M. Physical examination of dysfunctional arteriovenous fistulae by non-interventionalists: a skill worth teaching. Nephrol Dial Transplant. 2012;27(5):1993–6.,3030. Leon C, Asif A. Physical examination of arteriovenous fistulae by a renal fellow: does it compare favorably to an experienced interventionalist? Semin Dial. 2008;21(6):557–60.,5454. Rosenberg JE, Yevzlin AS, Chan MR, Valliant AM, Astor BC. Prediction of Arteriovenous Fistula Dysfunction: can it be Taught? Semin Dial. 2015;28(5):544–7.) Entretanto, anos de experiência profissional em geral não devem ser critérios presuntivos da qualidade do monitoramento, cabendo sempre execução de treinamentos focados nos elementos de relevância de avaliação, de forma a garantir um melhor resultado no monitoramento.(99. Jackson VE, Hurst H, Mitra S. Structured physical assessment of arteriovenous fistulae in haemodialysis access surveillance: A missed opportunity? J Vasc Access. 2018;19(3):221–9.,1717. Maldonado-Cárceles AB, García-Medina J, Torres-Cantero AM. Performance of physical examination versus ultrasonography to detect stenosis in haemodialysis arteriovenous fistula. J Vasc Access. 2017;18(1):30–4.)
Apesar do predomínio de avaliações por profissionais de enfermagem, os estudos não reportaram uma perspectiva abrangente orientada pelo processo de enfermagem, teoria ou sistema de classificação de enfermagem. Entende-se que tal perspectiva possa fornecer suporte para o cuidado prestado e contribuir para o fortalecimento científico da enfermagem, devendo contemplar todos os estágios do processo, com intuito de promover a qualidade de vida do paciente renal crônico submetido à hemodiálise.(6464. Frazão CM, Fernandes MI, Nunes MG, Sá JD de, Lopes MV, Lira AL. Components of a roy's adaptation model in patients undergoing hemodialysis. Rev Gaúcha Enferm. 2013;34(4):45–52.)
Apontam-se como limitações: o fato dos achados serem derivados de um grande número de estudos com mais de dez anos de publicação, o que nos remete a reflexão da necessidade de estudos atuais sobre a temática; a possibilidade de terem sido desconsiderados estudos publicados em outros idiomas; e também não ter sido avaliada a qualidade dos estudos como acontece nas revisões sistemáticas. Contudo, tratando-se de uma revisão de mapeamento da produção, tais limites são incontornáveis, e ainda mais não chegam a produzir problemas de interpretação frente aos objetivos da pesquisa.
Conclusão
A presente revisão mapeou evidências que destacaram o profissional enfermeiro como mais frequente avaliador da FAV, entretanto ainda é demandada uma sistematização do exame físico por meio da inspeção, palpação e ausculta. Variados elementos de avaliação ligados a permeabilidade do acesso e respostas vasculares foram apresentados. Também foi reportada a predominância em nível internacional da avaliação por enfermeiros, e a relevância do treinamento do profissional para uma interpretação acurada do amadurecimento. No entanto, destaca-se a ausência de uma abordagem de avaliação mais abrangente orientada pelo Processo e Teorias de Enfermagem e Linguagens Padronizadas o que pode indicar um novo campo de investigação e desenvolvimento do conhecimento na área. Dessa forma, estima-se que a melhor opção seja a incorporação de teorias, processo de enfermagem e terminologias padronizadas da profissão, além da construção e validação de protocolos para acompanhamento pós-operatório de pacientes com FAV, de forma a garantir o foco disciplinar de enfermagem na avaliação. Ainda com isso, contribuir com a sobrevida do paciente, cujo acesso é vital para seu tratamento. Para o trabalho do enfermeiro, uma avaliação acurada, implica em atenção mais especializada e segura; para os gestores em minimização de custos do cuidado e dispersão da carga de trabalho dos profissionais, e possivelmente contribuição para o sistema de saúde, com redução das complicações decorrentes dos acessos para hemodiálise e decréscimo das pressões sobre o sistema de cuidado como um todo.
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Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
05 Maio 2021 -
Data do Fascículo
2021
Histórico
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Recebido
08 Fev 2020 -
Aceito
17 Jun 2020