Resumos
OBJETIVO: Investigar as relações entre trabalho e qualidade de vida de médicos e enfermeiros em unidades de terapia intensiva pediátrica e neonatal. MÉTODOS: Estudo transversal com 37 médicos e 20 enfermeiros. O Job Content Questionnarie (JCQ), Effort-Reward Imbalance (ERI) e World Health Organization Quality of Life (WHOQOL-100) foram utilizados. A correlação foi estimada através do coeficiente de correlação de Spearman. RESULTADOS: O esforço é inversamente correlacionado com os domínios: físico, psicológico, nível de independência, meio ambiente (p<0,01) e relação social (p<0,05). A recompensa é inversamente correlacionada com os domínios psicológico (p<0,05) e nível de independência (p<0,01). Controle sobre o trabalho é diretamente correlacionado com o domínio físico (p<0,05). A demanda psicológica é inversamente correlacionada com os domínios físico (p<0,05), psicológico (p<0,01) e nível de independência (p<0,05). A demanda física é inversamente correlacionada com os domínios físico, nível de independência, meio ambiente (p<0,01) e psicológico (p<0,05) . Insegurança no trabalho é inversamente correlacionada com os domínios psicológico, nível de independência (p<0,05) e meio ambiente (p<0,01). Suporte do supervisor é diretamente correlacionado com nível de independência (p<0,05). CONCLUSÃO: Médicos e enfermeiros apresentaram altos esforços, demandas psicológicas, físicas e insegurança no trabalho que repercutem na qualidade de vida.
Unidades de terapia intensiva pediátrica; Esgotamento profissional; Qualidade de vida; Satisfação no trabalho; Questionários
OBJECTIVE: To investigate the relationship between work and quality of life of doctors and nurses in pediatric intensive care units and neonatal. METHODS: Cross-sectional study with 37 doctors and 20 nurses. The Job Content Questionnarie (JCQ) e Effort-Reward Imbalance (ERI), and World Health Organization Quality of Life (WHOQOL-100) were used. The correlation was estimated by Spearman correlation coefficient. RESULTS: The effort is inversely correlated with the areas physical, psychological, level of independence, environment (p<0.01) and social relationship (p<0.05). The reward is inversely correlated with the areas and psychological (p<0.05) level of independence (p<0.01). Control over the work is directly correlated with the physical domain (p<0.05). The psychological demands are inversely correlated with the areas physical (p<0.05), psychological (p<0.01) and level of independence (p<0.01). The physical demand is inversely correlated with physical areas, level of independence, environmental (p<0.01) and psychological (p<0.05). Job insecurity is inversely correlated with the psychological fields, level of independence (p<0.05) and the environment (p<0.01). Support the supervisor is directly correlated with degree of independence (p <0.05). CONCLUSION: Doctors and nurses showed high efforts, demands psychological, physical and job insecurity that impact on quality of life.
Intensive care units, pediatric; Burnout, professional; Quality of life; Job satisfaction; Questionnaires
ARTIGO ORIGINAL
Estresse ocupacional e suas repercussões na qualidade de vida de médicos e enfermeiros intensivistas pediátricos e neonatais
Monalisa de Cássia FogaçaI; Werther Brunow de CarvalhoII; Paulo Cesar Koch NogueiraII; Luiz Antonio Nogueira MartinsII
IPsicóloga pela Universidade Metodista de São Paulo e Doutora pelo Departamento de Psiquiatria da UNIFESP São Paulo (SP), Brasil
IIProfessor Adjunto do Departamento de Pediatria da Universidade Federal de São Paulo UNIFESP São Paulo (SP), Brasil
Autor para correspondência Autor para correspondência: Werther Brunow de Carvalho Universidade Federal de São Paulo Escola Paulista de Medicina Departamento de Pediatria Rua Botucatu, 598 - Vila Clementino CEP: 04023-062 - São Paulo (SP), Brasil Fone/Fax: 55 (11) 3081-9877 E-mail: wertherbru.dped@epm.br; monalisa.cassia@uol.com.br
RESUMO
OBJETIVO: Investigar as relações entre trabalho e qualidade de vida de médicos e enfermeiros em unidades de terapia intensiva pediátrica e neonatal.
MÉTODOS: Estudo transversal com 37 médicos e 20 enfermeiros. O Job Content Questionnarie (JCQ), Effort-Reward Imbalance (ERI) e World Health Organization Quality of Life (WHOQOL-100) foram utilizados. A correlação foi estimada através do coeficiente de correlação de Spearman.
RESULTADOS: O esforço é inversamente correlacionado com os domínios: físico, psicológico, nível de independência, meio ambiente (p<0,01) e relação social (p<0,05). A recompensa é inversamente correlacionada com os domínios psicológico (p<0,05) e nível de independência (p<0,01). Controle sobre o trabalho é diretamente correlacionado com o domínio físico (p<0,05). A demanda psicológica é inversamente correlacionada com os domínios físico (p<0,05), psicológico (p<0,01) e nível de independência (p<0,05). A demanda física é inversamente correlacionada com os domínios físico, nível de independência, meio ambiente (p<0,01) e psicológico (p<0,05) . Insegurança no trabalho é inversamente correlacionada com os domínios psicológico, nível de independência (p<0,05) e meio ambiente (p<0,01). Suporte do supervisor é diretamente correlacionado com nível de independência (p<0,05).
CONCLUSÃO: Médicos e enfermeiros apresentaram altos esforços, demandas psicológicas, físicas e insegurança no trabalho que repercutem na qualidade de vida.
Descritores: Unidades de terapia intensiva pediátrica/recursos humanos; Esgotamento profissional; Qualidade de vida; Satisfação no trabalho; Questionários
INTRODUÇÃO
O conceito de qualidade de vida vem sendo utilizado nos campos da saúde e do trabalho, com o objetivo de verificar indicadores presentes em vários contextos sociais e que possam sofrer intervenções através das políticas de saúde ou de estratégias de gestão empresarial.(1)
A qualidade de vida no trabalho (QVT) tem sido uma preocupação do homem desde o início de sua existência. Com outros títulos em outros contextos, mas sempre voltada para facilitar ou trazer satisfação e bem-estar ao trabalhador na execução de sua tarefa.(2)
Para Lacaz,(3) são várias as definições da expressão QVT, ora associando-a as características intrínsecas das tecnologias introduzidas e ao seu impacto; ora a elementos econômicos como salário, incentivos, ou ainda a fatores ligados à saúde física, mental e à segurança e, em geral, ao bem-estar daqueles que trabalham.
Diante dessas assertivas, defende-se que dos elementos que explicitam a definição e a concretização da qualidade (de vida no) trabalho, é o controle - que engloba a autonomia e o poder que o trabalhador tem sobre os processos de trabalho, e a recompensa que é o elo crucial entre as funções auto-regulatórias, como auto-estima e auto-eficácia, e a estrutura de oportunidade social.(4)
Um dos fatores de desgaste físico e mental para os trabalhadores da área da saúde é o acumulo de dois ou mais vínculos empregatícios, submetendo-os a uma sobrecarga excessiva de trabalho.(5,6)
No ambiente das unidades de terapia intensiva (UTI), o processo de desgaste físico e mental, advindo da sobrecarga de trabalho, podem ser geradores de estresse, prejudicando as condições de trabalho e as relações organizacionais.
Diante dessa assertiva temos como exemplo alguns estudos,(7-13) que mostram as repercussões dos fatores organizações sobre a saúde mental e física, de médicos e enfermeiros que trabalham em UTI pediátrica e neonatal, tais como: burnout, alterações psicológicas gerando estresse profissional, alterações de cortisol e amilase salivar, em virtude de excessivos ruídos, dificuldades de relacionamento em equipe, com pacientes e familiares. Vale, também, ressaltar dois recentes estudos nacionais, que avaliaram enfermeiros e médicos intensivistas,(14,15) mostrando que a presença de estresse neste ambiente ocupacional, originou insatisfação com o trabalho, repercutiu na saúde física, mobilizou sentimentos de sofrimento advindos da relação com os pacientes e familiares, trabalho em equipe, rodízio de funcionários, absenteísmo e a alta tecnologia presente nestas unidades, além de alta prevalência de burnout em médicos.
Assim sendo, considerando que o trabalho é um dos fatores que pode influenciar a qualidade de vida de médicos e enfermeiros intensivistas pediátricos e neonatais, o objetivo do presente estudo foi investigar as relações entre as condições de trabalho, através dos instrumentos Job Content Questionnarie (JCQ) e Effort-Reward Imbalance (ERI), e suas repercussões na qualidade de vida (World Health Organization Quality of Life - WHOQOL-100).
MÉTODOS
Realizou-se um estudo transversal, que incluiu médicos e enfermeiros, que trabalhavam em UTI Pediátrica (35) e Neonatal (22), na Universidade Federal de São Paulo/Escola Paulista de Medicina (UNIFESP/EPM). Foram avaliados ao todo 25 médicos e 10 enfermeiros da UTI Pediátrica e 12 médicos e 10 enfermeiros da UTI Neonatal, constituindo-se a amostra total de 57 profissionais, que aceitaram participar espontaneamente do estudo. O critério de inclusão consistia em ser médico ou enfermeiro contratado para trabalho na UTI e médico-residente cursando o estágio de UTI. A distribuição de perda amostral está na tabela 1. A perda amostral (50%) deu-se pela não devolução dos instrumentos preenchidos.
O protocolo de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da UNIFESP/EPM (nº 1604/04) e todos os participantes assinaram o termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Os participantes responderam à versão brasileira do ERI, JCQ e WHOQOL-100. As unidades estudadas apresentavam as seguintes características na ocasião da aplicação dos instrumentos de avaliação (2005):
Unidade Pediátrica
Referência: cirurgia cardíaca cardiopatia congênita; neurocirurgia; cirurgia ortopédica e transplante hepático.
Número de leitos: 09
Composição da equipe médica:
- 02 médicos chefes de plantão diurno (total de 10 médicos);
- 01 diarista
- 02 médicos de plantão noturno, com alternância a cada 15 dias (total de 10 médicos)
- 01 coordenador de residência, especialização e graduação
- 01 chefe da UTIP
Carga horária da equipe médica:
- 20h/semanais: 12horas em assistência e 08 horas em produção científica;
Residentes
- Composição: 09 residentes
- Carga horária: 60 h/semanais;
Enfermeiros
Composição: 5 enfermeiros (1 encarregado, 2 matutino, 1 vespertino, 1 noturno: plantonista)
07 horas diárias de trabalho contratados pelo Hospital São Paulo
06 horas diárias de trabalho com vínculo empregatício pela Universidade Federal de São Paulo
Unidade Neonatal
Número de leitos: 20
Idade: prematuros e recém-nascidos
Composição da equipe médica
- Docentes: 06
- Assistentes: 14
- Estagiários do 4º ano: 06
- Estagiários do 3º ano: 07
- Plantonistas: 13
Carga horária da equipe médica
- Docentes 40h/semanais
- Assistentes alguns fazem 20h ou 40h/semanais
- Plantonistas 12horas.
- Enfermeiros:
Composição: 13 enfermeiros (3 matutino, 3 vespertino, 6 noturno, 1 enfermeira de Educação Continuada)
Carga horária: encarregados trabalham 07 horas; 06 horas de trabalho os demais enfermeiros e em regime de 12/36 h os enfermeiros do período noturno.
Effort-Reward Imbalance (ERI)
Traduzido e adaptado por Liliana Andolpho Guimarães (UNICAMP),(4) aplica-se a uma grande variedade de cenários ocupacionais. Descreve situações nas quais há falta de reciprocidade entre esforço e recompensa no trabalho, por exemplo, alto esforço/baixas condições de recompensa, que provocam continuamente reações ao nível emocional e fisiológico.
Para Siegrist,(16) duas são as fontes de esforços: extrínsecas (exigências do trabalho) e intrínsecas (motivações individuais do trabalhador frente às exigências), sendo esta última o mesmo conceito de "necessidade de controle", definido como um padrão para lidar com as exigências do trabalho, e que contém duas variáveis: vigor e imersão. O vigor é definido como esforço ativo, com alta probabilidade de retorno (feedback positivo), e a imersão como um estado de exaustiva competição.
O instrumento é composto por 46 itens, divididos em três partes: esforço (6 itens), recompensa (11 itens), e super-comprometimento (6 itens sobre a necessidade de aprovação, 6 itens sobre a competitividade, 8 itens sobre irritabilidade, e 9 itens sobre dificuldade de se desligar do ambiente de trabalho). A medida de resposta de cada item é avaliada em 4 níveis (1= não me incomoda; 2= incomoda-me pouco; 3= incomoda-me muito e 4= incomoda-me muitíssimo; ou 1= não estou nada de acordo; 2= não estou de acordo; 3= estou de acordo e 4= estou totalmente de acordo). O valor de alfa de Cronbach para esforço extrínseco é de 0,68, para recompensa no trabalho de 0,78 e supercomprometimento 0,78.(17) O equilíbrio entre esforço e recompensa é dado pelo índice (Σ E÷[Σ R x c]), sendo E = esforço extrínseco e R = recompensa multiplicada pelo fator de correção (c = 0,545455). Como resultado os valores menores ou iguais a 1, indicam equilíbrio entre esforço e recompensa, enquanto valores maiores que 1, indicam condições de desequilíbrio entre esforço e recompensa. Em relação à escala de super-comprometimento um valor acima de 19 pontos é indicativo de maior risco de desenvolvimento de estresse ocupacional.
Job Content Questionnarie (JCQ)
Elaborado por Robert Karasek*, composto de 49 questões.
As variáveis analisadas foram: controle sobre o trabalho (autoridade decisória e autoridade decisória no nível macro); demandas psicológicas do trabalho; esforço físico; carga isométrica física; demandas físicas do trabalho; insegurança no emprego; suporte social proveniente do supervisor; suporte social proveniente dos colegas de trabalho. A medida de resposta de cada item é avaliada em 4 níveis: 1 = discordo fortemente, 2 = discordo, 3 = concordo e 4 = concordo fortemente. O coeficiente de Alfa Cronbach geralmente aceito para mulher é 0,73 e para homem é 0,74.(18)
World Health Organization Quality of Life (WHOQOL-100)
Instrumento utilizado para avaliação de qualidade de vida. Baseia-se nos pressupostos de que a qualidade de vida é um conjunto subjetivo (percepção do indivíduo em questão), multidimensional e composto por dimensões positivas (por ex. mobilidade) e negativas (p ex. dor).
A versão em português do WHOQOL foi desenvolvida no Centro WHOQOL para o Brasil, no Departamento de Psiquiatria e Medicina Legal da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, sob a coordenação do Profº Dr. Marcelo Pio de Almeida Fleck.
Composto de cem perguntas que compreendem seis domínios: físico (I), psicológico (II), nível de independência (III), relação social (IV), meio ambiente (V) e espiritualidade/religiosidade/crenças pessoais (VI). Esses domínios são divididos em 24 facetas. Cada faceta é composta de quatro perguntas.
As respostas para as questões do WHOQOL são dadas em uma escala do tipo Likert. As perguntas são respondidas através de quatro tipos de escalas: intensidade (nada extremamente), capacidade (nada completamente), freqüência (nunca sempre) e avaliação (muito insatisfeito, muito satisfeito, muito ruim, muito bom). O escore para cada domínio pode ser transformado em uma escala que varia de 0-100, sendo zero o pior e 100 o melhor resultado.(19)
As médias e demais medidas de tendência central das variáveis que compõe os instrumentos ERI, JCQ E WHOQOL-100 foram apuradas. As associações foram medidas pelo coeficiente de correlação de Spearman.
RESULTADOS
Os médicos eram predominantemente do sexo feminino (76 %) com média de idade de 34,70 ± 7,11 anos, e trabalhavam em UTI, em média há 7,17 ± 6,89 anos. Os enfermeiros eram predominantemente do sexo feminino (95%), com média de idade de 31,55 ± 6,37 anos, e trabalhavam na UTI, em média, há 5,85 ± 4,40 anos.
Na análise do ERI os valores médios encontrados para esforço e recompensa foram: 8,07 ± 2,7 e 13,46 ± 2,89, respectivamente. No JCQ os valores médios para as variáveis foram: controle sobre o trabalho - 34,04 ± 6,37; demanda psicológica do trabalho - 34,32 ± 5,40; esforço físico - 6,56 ± 1,50; carga isométrica física - 4,88 ± 1,19; demanda física do trabalho - 11,44 ± 2,09; insegurança no trabalho - 5,77 ± 2,25; suporte do supervisor - 11,67 ± 5,65 e suporte dos colegas - 11,54 ± 1,09. Os valores médios encontrados nos domínios que compõem o WHOQOL-100 foram: físico - 13,45 ± 2,68; psicológico - 13,91 ± 2,41; nível de independência - 15,90 ± 2,67; relação social - 14,73 ± 2,84; meio ambiente- 13,15 ± 1,97 e espiritualidade/crenças pessoais/religiosidade (16,14 ± 2,80) (Tabela 2).
A correlação do ERI, JCQ e WHOQOL, avaliada através do coeficiente de correlação de Spearman, mostrou-se significativa em algumas variáveis dos respectivos questionários (Tabelas 3 e 4).
ERI: O esforço é inversamente correlacionado com os domínios: físico (r = - 0,57, p < 0,01); psicológico (r = - 0,54, p < 0,01); nível de independência (r = - 0,64, p < 0,01); relação social (r = - 0,32, p < 0,05) e meio ambiente (r = - 0,44, p < 0,01). A recompensa é inversamente correlacionada com os domínios: psicológico (r = - 0,32, p < 0,05) e nível de independência (r = - 0,40, p < 0,01).
JCQ: O controle sobre o trabalho é diretamente correlacionado com o domínio físico (r = 0,29, p < 0,05). A demanda psicológica do trabalho é inversamente correlacionada com os domínios: físico (r = - 0,31, p < 0,05); psicológico (r = - 0,36, p < 0,01) e nível de independência (r = - 0,30, p < 0,05). A demanda física no trabalho é inversamente correlacionada com os domínios: físico (r = - 0,39, p < 0,01); psicológico (r = - 0,30, p < 0,05); nível de independência (r = - 0,38, p < 0,01) e meio ambiente (r = - 0,35, p < 0,01). Insegurança no trabalho é inversamente correlacionada com os domínios: psicológico (r = - 0,33, p < 0,0 5); nível de independência (r = - 0,31, p < 0,05) e meio ambiente (r = - 0,46, p < 0,01). O suporte do supervisor é diretamente correlacionado com nível de independência (r = 0,28, p < 0,05).
DISCUSSÃO
A associação entre estresse ocupacional e qualidade de vida do trabalhador tem sido avaliada em diversos estudos.(20-24)
A qualidade de vida no trabalho de profissionais da área da saúde, principalmente, enfermagem, tem destaque na literatura atual,(25-27) mostrando que a saúde física e psicológica apresenta algum grau de comprometimento, tais como: dores crônicas, insatisfação como o sono, dependência de medicamentos, depressão entre outros, quando avaliados pelo WHOQOL-BREF e SF-36. Na população por nós avaliada observamos que o esforço despendido no trabalho interfere negativamente nos domínios: físico, psicológico, nível de independência, relação social e meio-ambiente. Em relação à demanda psicológica do trabalho verificaram-se correlações negativas em relação aos domínios: físico, psicológico e nível de independência dos sujeitos avaliados através do WHOQOL-100.
O estudo desenvolvido por Stansfeld,(21) demonstra que o estresse no trabalho a falta de recompensa e altas demandas têm impacto sobre a qualidade de vida do trabalhador. Tanto homens como mulheres que participaram do estudo de Stansfeld, apresentaram problemas de saúde física e mental, devido ao baixo controle sobre o trabalho e falta de apoio do supervisor. Em nosso estudo tanto a demanda psicológica como a física no trabalho repercutiram negativamente nos domínios avaliados pelo WHOQOL-100. A variável insegurança no trabalho apresentou também correlação negativa, em relação aos domínios: psicológico, nível de independência e meio-ambiente.
Na literatura encontramos estudos(20-24) de correlação entre JCQ, ERI e algum instrumento para avaliar a qualidade de vida (WHOQOL, SF-36, SF-12), que corroboram nossos dados; mostrando que menor controle sobre o trabalho, altas demandas psicológicas e baixo suporte social, tem impacto sobre a qualidade de vida do trabalhador.
Observamos que o suporte do supervisor esta correlacionado com maior nível de independência, o que também foi reconhecido por Probst,(24) onde verificou que profissionais com participação nas decisões tendem a menor rotatividade e comportamentos de indiferença.
Estudos recentes desenvolvidos por Rusli(28) e LaMontagne,(29) mostraram que altas demandas no trabalho está diretamente ligada ao estresse e que mulheres apresentam maior prevalência de estresse no trabalho e depressão.
Apesar de não verificarmos o nível de tensão e qualidade de vida no trabalho entre gêneros, a maioria da população estudada é composta do sexo feminino, e de certa forma, os estudos mencionados acima, podem servir de referência para comparação de nossa amostra.
Limitações do estudo
O presente estudo traz um delineamento descritivo, com o levantamento de freqüências, realizado em um único centro, e com pequeno número amostral. Cinqüenta por cento da amostra não devolveu o instrumento utilizado, o que pode ter comprometido os resultados.
CONCLUSÕES
As relações entre condições de trabalho e qualidade de vida dos médicos e enfermeiros intensivistas pediátricos e neonatais, avaliada neste estudo, mostra-se comprometida. Tanto médicos como enfermeiros apresentaram altos esforços, demandas psicológicas, físicas e insegurança no trabalho que repercutiram na qualidade de vida no trabalho.
Nosso estudo ressalta a necessidade de realizar estudos longitudinais a fim de avaliar as condições de trabalho e suas repercussões sobre a qualidade de vida de médicos e enfermeiros intensivistas pediátricos e neonatais.
Submetido em 1 de Dezembro de 2008
Aceito em 18 de Agosto de 2009
Recebido de Universidade Federal de São Paulo UNIFESP São Paulo (SP), Brasil.
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Autor para correspondência:
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
30 Out 2009 -
Data do Fascículo
Ago 2009
Histórico
-
Aceito
18 Ago 2009 -
Recebido
01 Dez 2008