A pandemia pelo novo coronavirus (COVID-19) desvelou a importância inegável do sistema de saúde brasileiro. Entretanto, também destacou suas vulnerabilidades, especialmente a distribuição geográfica desigual dos profissionais de saúde e do acesso da população aos serviços de saúde de média e alta complexidade.
Passados quase dois anos da pandemia, o balanço não é muito animador. Além da tragédia expressa pelos mais de seiscentos mil mortos no Brasil, a pandemia desencadeou ou expôs deficiências em áreas que tinham sido percebidas historicamente como fundamentais do SUS (Sistema Único de Saúde) e da saúde pública brasileira, como a vigilância epidemiológica e a rede de unidades de saúde familiar e de agentes de saúde comunitários. A única exceção parece se encontrar no relativo sucesso da vacinação, descontados a demora, os problemas e conflitos para a aquisição e distribuição das vacinas pelo Governo Federal, através do Ministério da Saúde.
E esta situação não parece ter perspectivas de melhora, dado que a falta de liderança e coordenação federal e a resposta desconexa à pandemia estão relacionadas à crise política e financeira exacerbadas pela pandemia, representando desafios significativos para o futuro do Sistema Único de Saúde. Já existem sinais de um agravamento da crise de saúde, incluindo o agravamento de doenças não transmissíveis e outros problemas de saúde na população e reduções substanciais na cobertura vacinal e outras provisões sanitárias básicas.
O mais grave é a inexistência de testagem em massa da população e de grupos sensíveis, como profissionais de saúde e da educação, impedindo o monitoramento adequado da pandemia e do impacto das medidas de flexibilização das atividades econômicas e mobilidade da população. Uma consequência desse problema é a discussão, com decisões contraditórias, sobre a permanência ou não das medidas não-farmacológicas para o controle epidemiológico, como o uso de máscaras e o retorno às atividades presenciais.
O Ministério da Saúde não harmonizou esse processo, perdendo credibilidade e capacidade de liderança. Há Estados brigando com outros Estados ou municípios.
Aqui no Rio de Janeiro, como em outros estados, faltou e continua a faltar a articulação entre os diversos entes públicos, tanto nas medidas de controle não-farmacológicas, como nos esquemas de vacinação.
Essa resposta insuficiente e tardia para o enfrentamento da covid-19 foi surpreendente em função de uma trajetória anterior que demonstrava a capacidade brasileira de acionar políticas e programas efetivos, com relativo sucesso e eficácia no controle de determinados riscos e agravos como HIV/AIDS, tabagismo e, mais recentemente, Zica. Em todos estes casos, ficou demonstrada a potencialidade e o impacto positivo sobre a saúde das populações afetadas, quando à determinação política dos 3 níveis do SUS, governos federal e estadual e municipal, se associava o envolvimento dos cientistas de diferentes disciplinas e o engajamento das comunidades e famílias, numa abordagem coletiva sobre os problemas e suas consequências potencialmente devastadoras.
A omissão de um grande número das sociedades médicas foi decisiva para a disseminação de terapêuticas sem comprovação cientifica, com a notável exceção dos infectologistas e das associações de saúde pública.
Desde o início da pandemia até os dias atuais as tensões se mantêm e não dão sinais de arrefecimento. Podemos afirmar que o país teria como organizar uma resposta muito mais efetiva, mas isso não ocorreu.
Um aspecto que merece ser destacado é o papel das entidades representativas da sociedade civil, sociedades médicas, instituições acadêmicas e centros de pesquisa brasileiros, especialmente das instituições públicas de pesquisa, que compõem o sistema brasileiro de ciência, tecnologia e inovação. Apesar de enfrentar a crise mais grave de sua história devido ao corte radical de seus recursos financeiros, mas também devido aos ataques sistemáticos originados pelo governo federal, as instituições de pesquisa científica e tecnológica no Brasil tem produzido estudos essenciais para compreender o complexo e multifacetado processo da pandemia, além de participarem de projeto, nacionais e internacionais, em busca de produtos que se mostrem seguros e eficazes, com ênfase no desenvolvimento e teste de vacinas.
Docentes, pesquisadores e alunos do campo da saúde coletiva, dentre as quais se inclui o Instituto de Medicina Social, tem desenvolvido diversas iniciativas e atividades desde o início da pandemia pelo novo coronavirus, em 2020, com o fornecimento de informações, estudos, pesquisas, estatísticas, projetos, planos de ação, estratégias, opiniões técnicas e todos os demais instrumentos e ferramentas, para o enfrentamento das diferentes etapas da pandemia, incluindo sua difusão e comunicação junto à população.
Aproveitamos o último número de 2021 para enfatizar o caráter também coletivo das publicações científicas e agradecer a colaboração dos pareceristas que generosamente contribuíram com seu tempo e sua expertise para viabilizar as edições publicadas neste ano e cujos nomes vêm abaixo em ordem alfabética.
Adriana Coser
Adriana Kelly Santos
Adriana Leão
Aisllan Asis
Alan Silva
Alberto de Araujo
Alexander Ramalho
Aline Cavaca
Alzira de Oliveria Jorge
Amanda Ornela
Ana Carolina Feldenheimer
Ana Luiza Ferrer
Ana María Rico
Ana Paula Melo
Ana Paula Remmi
Ana Silva
André Neves
Anneliese Wysocki
Beatriz Chagas
Berenice Temoteo da Silva
Bianca Leandro
Bianca Sophia
Catarina Resende
Cecília Soares
Charles Tesser
Cinira Magali Fortuna
Claudia Kessler
Claudia Miliauskas
Cristiane Silvestre de Paula
Cristiane Simões
Daniel Vazquez
Daniela Biscarde
Edna Aparecida de Castro
Eliane Mazzuco dos Santos
Emanuele Marques
Erika Tomaz
Fabiana Pires
Fatima Cecchetto
Fatima Roquete
Fernanda Loureiro
Fernando Carneiro
Flávia Araújo
Flavia Freire
Fran Demétrio
Francini Guizardi
Frederico Policarpo
Helena Maria David
Helvécio Magalhães Júnior
Jane Sayd
João Cavalcante
João Marcos Bittencourt
José Ricardo Ayres
Juliana Rodrigues
Julyanne Felipette Lima
Kalline de Souza
Karla Giacomin
Kênia Silva
Laís Barbosa
Larissa Hermes Thomas Tombini
Laura Murray
Laura Sacchetti
Leila Maia
Lenita Claro
Liliana Angel
Lucas Tramontano
Luciana Caliman
Luciana Oliveira
Luciana Surjus
Luciane Guerra
Luiz Augusto Souza
Luiz Fernando Chazan
Luiza Costa
Manuela Muller
Marcia Agostini
Márcia Alves
Marcia Barçante Ladvocat
Marcilio Dantas Brandão
Marcos Senna
Marcos Vinicius Soares Pedrosa
Maria Claudia Carvalho
Maria Cristina Couto
Maria Cristina Ribeiro Furlan
Maria Eduarda Moraes
Maria Inês Moreira
Maria Lúcia Bosi
Maria Marta Amorim
Maria Stella Castro Lobo
Mariana Bteshe
Mariana Setubal
Marina Peduzzi
Mário Pereira Borba
Mayla Monteiro
Michele Cecille
Mirella Alves de Brito
Murilo Galvão Amancio Cruz
Nazareth Salutto
Neuma Chaveiro
Pablo Rocon
Patrícia Araújo
Patrícia Tavares Ribeiro
Patty Fidélis
Paula Cerqueira
Paula Gaudenzi
Paula Land
Paulo Fagundes
Rafael Agostini
Renarde Freire Nobre
Rodrigo Toniol
Rogerio Azize
Ronaldo Teodoro
Rosa Rocha
Sabrina Calil-Elias
Sandra Fagundes
Sara Sousa
Shirley Prado
Silva Jardim
Sílvia Lüdorf
Suelen Rocha
Suzana Canez
Taisa Cortes
Thiago Pinheiro
Valéria Romano
Valeska Zanello
Vanessa Costa
Vanessa Rangel
Vivian Pizzinga
Wagner Camargo
Washington Castilhos
Wecisley Ribeiro Espírito Santo
Yana Tamara Tomasi
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Errata
No Editorial “Dois anos de pandemia: um balanço”, com número de DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0103-73312021310400 publicado no periódico Physis: Revista de Saúde Coletiva, v. 31, n. 4, e310400, na página 1, erro do email do autor:ONDE SE LÊ:Instituto de Medicina Social - Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro-RJ, Brasil (dalpoz@uerj.br). ORCID: 0000-0002-3005-3280.LEIA-SE:Instituto de Medicina Social - Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro-RJ, Brasil (dalpozm@uerj.br). ORCID: 0000-0002-3005-3280.
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
06 Dez 2021 -
Data do Fascículo
2021