Acessibilidade / Reportar erro

Dessecação do campo nativo para semeadura direta da cultura da soja

Native pasture desiccation for no-till soybeans seeding

Resumos

Para avaliar doses do herbicida glyphosate, isolado ou misturado com 2,4-D, na dessecação do campo nativo para semeadura direta de soja, foi conduzido um experimento no compus da UFSM. Os tratamentos foram: glyphosate a 360, 720 e 1080g ha-1 de equivalente ácido, isolado ou em mistura com 200g ha-1 de 2,4-D éster, aspergidos em dois volumes de calda (50 e 200l ha-1), além de testemunha sem controle. A aspersão dos herbicidas ocorreu em 30/10/95 e a semeadura da soja em 27/12/95. Das 57 espécies presentes no campo nativo, as principais foram: Paspalum notatum var. notatum biótipos "C" e "D", Vernonia polyanthes, Vernonia nudiflora, Eryngium horridum e Baccharis trimera. Os resultados mostram que o uso de 2,4-D e a redução do volume de calda de 200 para 50l ha-1 não melhoraram a eficácia de controle do glyphosate, que mostrou controle geral de 48, 73 e 90% para as doses de 360, 720 e 1080g ha-1. O glyphosate mostrou controle ineficiente de V. polyanthes, V. nudiflora e E. horridum, independente da dose ou mistura com 2,4-D, sendo eficiente para B. trimera à 720 e 1080g ha-1. Houve controle do Paspalum de 54, 79 e 93% para o glyphosate à 360, 720 e 1080g ha-1 . O rendimento médio de grãos de soja foi de 1762, 2502, 2690 e 2793 kg ha-1, para testemunha e glyphosate a 360, 720 e 1080g ha-1. Conclui-se que, para semeadura direta de soja sobre campo nativo, a dose de 1080g ha-1 de glyphosate é adequada.

glyphosate; 2,4-D; volume de calda


The objective of this study was to evaluate rates of glyphosate herbicide applyed alone or in mixture with 2,4-D ester herbicide, to control nativo pasture before planting soybeans in a no-till system. The following treatments were tested: glyphosate at 360, 720, and 1080g ha-1 of acid equivalent, alone or in mixture with 200g ha-1 of 2,4-D, sprayed at two volumes (50 and 200l ha-1), and unsprayed control. Herbicides were sprayed in 10/30/95 and soybean was seeded in 12/27/95 in study carried out at the Federal University of Santa Maria campus. Santa Maria, RS, Brazil. The main plant species out of the 57 identified were Paspalum notatum var. notatum biotypes "C" and "D", Vernonia nudiflora, Vernonia polyanthes, Eryngium horridum e Baccharis trimera. The reduction in the spray volume from 200 to 50l ha-1 and mixing with 2,4-D did not affect the efficacy of glyphosate, which showed general control of 48, 73, and 90% using 360, 720. and 1080g ha-1. respectively. Glyphosate did not control V. nudiflora, V. polyanthes and E. horridum, but controlled B. trimera at rates of 720 and 1080g ha-1. There were 54, 79, and 93% control of Paspalum spp. using 360, 720, and l080g ha-1 of glyphosate, respectively. Soybeans yields were 1762, 2502, 2690, and 2793 kg ha-1 for unsprayed and 360, 720, and 1080g ha-1 of glyphosate, respectively. It is concluded that for soybean seeding over native pasture, the rate of 1080g ha-1 of glyphosate is adequate.

glyphosate; 2,4-D; diluent volume


DESSECAÇÃO DO CAMPO NATIVO PARA SEMEADURA DIRETA DA CULTURA DA SOJA1 1 Parte da dissertação de mestrado apresentada pelo primeiro autor como requisito parcial para obtenção do título de Mestre junto ao Curso de Pós-graduação em Agronomia, Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Projeto parcialmente financiado pela FAPERGS.

NATIVE PASTURE DESICCATION FOR NO-TILL SOYBEANS SEEDING

Miguel Vicente Weiss Ferri2 1 Parte da dissertação de mestrado apresentada pelo primeiro autor como requisito parcial para obtenção do título de Mestre junto ao Curso de Pós-graduação em Agronomia, Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Projeto parcialmente financiado pela FAPERGS. FIávio Luiz Foletto Eltz3 1 Parte da dissertação de mestrado apresentada pelo primeiro autor como requisito parcial para obtenção do título de Mestre junto ao Curso de Pós-graduação em Agronomia, Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Projeto parcialmente financiado pela FAPERGS. Nelson Diehl Kruse4 1 Parte da dissertação de mestrado apresentada pelo primeiro autor como requisito parcial para obtenção do título de Mestre junto ao Curso de Pós-graduação em Agronomia, Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Projeto parcialmente financiado pela FAPERGS.

RESUMO

Para avaliar doses do herbicida glyphosate, isolado ou misturado com 2,4-D, na dessecação do campo nativo para semeadura direta de soja, foi conduzido um experimento no compus da UFSM. Os tratamentos foram: glyphosate a 360, 720 e 1080g ha-1 de equivalente ácido, isolado ou em mistura com 200g ha-1 de 2,4-D éster, aspergidos em dois volumes de calda (50 e 200l ha-1), além de testemunha sem controle. A aspersão dos herbicidas ocorreu em 30/10/95 e a semeadura da soja em 27/12/95. Das 57 espécies presentes no campo nativo, as principais foram: Paspalum notatum var. notatum biótipos "C" e "D", Vernonia polyanthes, Vernonia nudiflora, Eryngium horridum e Baccharis trimera. Os resultados mostram que o uso de 2,4-D e a redução do volume de calda de 200 para 50l ha-1 não melhoraram a eficácia de controle do glyphosate, que mostrou controle geral de 48, 73 e 90% para as doses de 360, 720 e 1080g ha-1. O glyphosate mostrou controle ineficiente de V. polyanthes, V. nudiflora e E. horridum, independente da dose ou mistura com 2,4-D, sendo eficiente para B. trimera à 720 e 1080g ha-1. Houve controle do Paspalum de 54, 79 e 93% para o glyphosate à 360, 720 e 1080g ha-1 . O rendimento médio de grãos de soja foi de 1762, 2502, 2690 e 2793 kg ha-1, para testemunha e glyphosate a 360, 720 e 1080g ha-1. Conclui-se que, para semeadura direta de soja sobre campo nativo, a dose de 1080g ha-1 de glyphosate é adequada.

Palavras-chave: glyphosate, 2,4-D, volume de calda.

SUMMARY

The objective of this study was to evaluate rates of glyphosate herbicide applyed alone or in mixture with 2,4-D ester herbicide, to control nativo pasture before planting soybeans in a no-till system. The following treatments were tested: glyphosate at 360, 720, and 1080g ha-1 of acid equivalent, alone or in mixture with 200g ha-1 of 2,4-D, sprayed at two volumes (50 and 200l ha-1), and unsprayed control. Herbicides were sprayed in 10/30/95 and soybean was seeded in 12/27/95 in study carried out at the Federal University of Santa Maria campus. Santa Maria, RS, Brazil. The main plant species out of the 57 identified were Paspalum notatum var. notatum biotypes "C" and "D", Vernonia nudiflora, Vernonia polyanthes, Eryngium horridum e Baccharis trimera. The reduction in the spray volume from 200 to 50l ha-1 and mixing with 2,4-D did not affect the efficacy of glyphosate, which showed general control of 48, 73, and 90% using 360, 720. and 1080g ha-1. respectively. Glyphosate did not control V. nudiflora, V. polyanthes and E. horridum, but controlled B. trimera at rates of 720 and 1080g ha-1. There were 54, 79, and 93% control of Paspalum spp. using 360, 720, and l080g ha-1 of glyphosate, respectively. Soybeans yields were 1762, 2502, 2690, and 2793 kg ha-1 for unsprayed and 360, 720, and 1080g ha-1 of glyphosate, respectively. It is concluded that for soybean seeding over native pasture, the rate of 1080g ha-1 of glyphosate is adequate.

Key words: glyphosate, 2,4-D, diluent volume.

INTRODUÇÃO

A semeadura direta em solo não revolvido sobre os resíduos de culturas anteriores ou de plantas mortas por herbicidas dessecantes, torna-se dependente do uso de herbicidas que controlem com eficiência as plantas daninhas (ALMEIDA, 1991). A eliminação das plantas daninhas é uma prática importante na condução de uma cultura, pois elas interferem na produção provocando redução qualitativa e quantitativa no rendimento, além de aumentar os custos de produção (DURIGAN et al, 1983). Um importante requisito necessário à viabilização da semeadura direta é a redução na densidade ou eliminação de plantas daninhas anuais e, principalmente, perenes. As plantas daninhas perenes podem apresentar reprodução assexuada por meio de órgãos vegetativos tais como rizomas, tubérculos e estolões (KIGEL & KOLLER, 1987). A presença destes órgãos de reprodução, além de propiciar crescimento vigoroso desde as fases iniciais de desenvolvimento e de ampliar a possibilidade de disseminação, atuam como órgãos de armazenamento de reservas, tornando estas plantas, além de agressivas e competitivas, de difícil controle (DEUBER, 1992).

O glyphosate é um herbicida não seletivo, do grupo dos derivados da glicina, que controla um amplo espectro de plantas daninhas anuais. Devido a sua translocação pelo floema para regiões meristemáticas das folhas e raízes, ele controla muitas plantas daninhas perenes de reprodução vegetativa (SPRANKLE et al, 1975). A mistura do 2,4-D ao glyphosate é utilizada com o objetivo de aumentar a eficiência de controle do glyphosate sobre plantas daninhas dicotiledôneas tolerantes a este herbicida. O glyphosate é indicado como mais eficaz no controle de plantas daninhas quando aspergido em volumes de calda mais baixos (SANDBERG et al, 1978; BUHLER & BURNSIDE, 1983).

Os campos nativos apresentam uma grande diversidade de espécies, com predomínio das rizomatosas e estoloníferas, segundo MOHRDIECK (1980). A vegetação predominante em cada área varia em função de condições edafo-climáticas, alterando as espécies que predominam em cada local (PILLAR et al, 1992). A adequação do campo nativo ao sistema produtivo de grãos, via semeadura direta, reduz a possibilidade de erosão nestas áreas. Entretanto, são escassas as informações sobre o comportamento do glyphosate sobre as espécies presentes em campo nativo. O objetivo do presente trabalho foi estudar doses do herbicida glyphosate, isolado ou em mistura com 2,4-D éster, na dessecação do campo nativo.

MATERIAIS E MÉTODOS

O presente estudo foi conduzido no ano agrícola de 1995/96, em área pertencente ao Departamento de Defesa Fitossanitária, Campus da Universidade Federal de Santa Maria, em solo classificado como Podzólico Vermelho-Amarelo. Os tratamentos foram representados por aspersões do herbicida glyphosate, à 360, 720 e 1080g ha-1 de equivalente ácido, correspondente a dose de 1,2 e 3l ha-1 do produto comercial, isolado ou em mistura com a dose 200g ha-1 de equivalente ácido do herbicida 2,4-D éster, aplicadas nos volumes de calda 50 e 200 ha-1, além de testemunha sem controle. O preparo da área iniciou-se pela roçada e aplicação de 4,0t ha-1 de calcário dolomítico em superfície. A semeadura da soja ocorreu no dia 27 de dezembro de 1995, com espaçamento entre linhas de 0,5m e 28 sementes por metro linear, utilizando-se a cultivar RS-7 Jacuí, cujas sementes foram inoculadas com Rhizobium específico. A adubação empregada foi de 300kg ha-1 da fórmula 4-28-18, distribuída nos sulcos de semeadura.

A aspersão dos herbicidas foi realizada dia 30/10/95, utilizando-se pulverizador costal pressurizado a CO2, munido de cinco pontas distanciadas em 0,50m, jato em forma de leque, marca Teejet, tipo 110.01 VS à pressão constante de 103kPa e XR Teejet 110.03 à pressão de 240kPa, para os volumes de calda de 50 e 200l ha-1, respectivamente. A temperatura média durante a aplicação foi de 17°C, a umidade relativa do ar de 73% e a velocidade do vento de 9km h-1. O solo encontrava-se umido e as plantas sem orvalho. A precipitação pluviométrica próxima da aplicação dos tratamentos foi de 63mm2 dias antes e 10mm 10 dias após a aspersão dos herbicidas. O delineamento experimental foi de blocos ao acaso, com esquema bifatorial, arranjados em parcelas subdivididas, com quatro repetições. Os valores de controle geral e controle de Paspalum spp., Vemonia nudiflora, Vernonia polyanthes, Eryngium horridum e Baccharis trimera sofreram a transformação arco seno √X/100 ao serem submetidos à análise de variância. Para o fator volume de calda foi ajustado equação polinomial e para fator herbicida foi utilizado teste de Duncan a 5%.

As parcelas mediram 2,5m x 12m e as subparcelas 2,5m x 6m. A freqüência e a densidade das espécies antes da aplicação dos tratamentos foi determinada através do uso de um quadrado de 0,5m x 0,5m colocado na região central da parcela, com número de amostras (quadrados) baseada na curva espécie/área, preconizada por BRAUN-BLANQUET (1932). A cobertura proporcionada pelo paspalum foi estimada visualmente, utilizando-se a escala quantitativa preconizada por BRALTN - BLANQUET (1932). Para as espécies Vernonia nudiflora (Alecrim), Vernonia polyanthes (Assa-peixe), Eryngium horridum (Caraguatá) e Baccharis trimera (Carqueja), adotou-se o método quantitativo baseado na densidade das espécies.

O efeito dos tratamentos sobre as plantas presentes no campo nativo foi avaliado através das variáveis controle geral e rendimento de grãos de soja. A variável controle geral foi determinada adotando-se o método qualitativo, caracterizado por avaliações visuais e baseado em escalas arbitrárias preconizadas por BURRILL et al. (1976), com leituras diretas a campo, onde o efeito dos tratamentos foi expresso em porcentagem de controle, usando-se como referência, para análise do efeito dos tratamentos, a testemunha sem controle. Após, as porcentagens de controle encontradas foram comparadas com a tabela de eficiência adotada pela Comissão de Controle de Plantas Daninhas (REUNIÃO DE PESQUISA DA SOJA DA REGIÃO SUL, 1994/95), que indica: C = controle acima de 80%, CM = controle médio de 60 a 80%, NC=controle inferior a 60% e SI = sem informação de controle.

Foram realizadas avaliações aos 7, 14, 21 e 30 dias da aplicação, esta ultima utilizada para análise estatística. O efeito dos tratamentos sobre Paspalum spp. foi avaliado pela metodologia adotada para o controle geral, baseada em observações visuais, descrita acima, em avaliações aos 7, 14, 21 e 30 dias após a aplicação dos tratamentos, sendo a última avaliação utilizada na análise estatística. Para V. polyanthes, V. nudiflora e E. horridum, o efeito, dos tratamentos foi analisado comparando-se a densidade das plantas antes e 195 dias após a aplicação dos tratamentos, seguido da conversão da redução de densidade, em porcentagem de controle. Para B. trimera, as densidades foram comparadas antes e 30 dias após a aplicação dos tratamentos, também transformando a redução de densidade em porcentagem de controle.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A área do experimento antes da aspersão dos herbicidas apresentava 57 espécies, com maior abundância de plantas da família poaceae, com 11 gêneros, entre eles, Andropogon. Axonopus, Panicum e, principalmente, Paspalum. A aspersão dos herbicidas, a condição climática e a cobertura proporcionada pela soja eliminaram 68% das espécies. As espécies menos sensíveis ao manejo adotado foram Eryngium horridum, Eryngium ciliatum, Oxalis sp., Elephantopus mollis, Orthopappus scaber, Vernonia nudiflora, Desmodium incanum, Vernonia polyanthes, Paspalum spp. e Hypoxis decumbens.

Com exceção de Vernonia polyanthes (Assa-peixe), a análise dos dados acusou efeito significativo dos herbicidas, dentro de suas doses e misturas, para todas as variáveis estudadas. Foi significativo o efeito da interação herbicida x volume de calda para Paspalum spp. (Paspalum) e o efeito individual do volume de calda para Vernonia nudiflora (Alecrim). As demais causas de variação não exerceram efeito significativo para nenhuma das variáveis estudadas (Tabela 1). A Tabela 2 apresenta a resposta das variáveis estudadas aos efeitos dos tratamentos.

A adição do 2,4-D ao glyphosate (Tabela 2) e a redução no volume de calda de 200 para 50l ha-1 (Tabela 1), não contribuíram para melhorar a eficiência de controle do glyphosate e, desta forma, proporcionar condições para um melhor rendimento da cultura dá soja. A maior presença de poaceas na área, as baixas doses de 2,4-D usadas e a baixa eficiência de controle do glyphosate isolado ou em mistura com 2,4-D sobre algumas plantas, como V. nudiflora, V. polyanthes e E. horridum, provavelmente sejam algumas da causas que expliquem porque a adição do 2,4-D não contribuiu para incrementar o eficiência de controle do glyphosate.

Apesar do glyphosate ser indicado como mais eficaz quando aspergido em volumes de calda mais baixos, segundo SANDBERG (1978) e BUHLER & BURNSIDE (1983), o grande número de espécies, a distribuição heterogênea das mesmas e o controle diferenciado de algumas espécies, provavelmente sejam os fatores que comprometam a manifestação dos efeitos da redução do volume de calda. A prova disso é demonstrada em condições específicas, como para Paspalum spp. e Vernonia nudiflora, onde foi observado melhores controles para o volume de calda de 50l ha-1 (Tabela 2).

O glyphosate à 1080g ha-1, isolado ou em mistura com 2,4-D, foi estatisticamente mais eficiente no controle das plantas presentes no campo nativo, com controle médio de 90%, diferindo de 720g ha-1 com controle médio de 73%, sendo ambas as doses mais eficientes que 360g ha-1 com 48% de controle (Tabela 2).

O rendimento médio de grãos variou de 1762 a 2795 kg ha-1. O uso dos herbicidas possibilitou incrementos na produtividade de grãos, em relação à testemunha sem controle, de 42, 53 e 59% para glyphosate a 360, 720 e 1080g ha-1 respectivamente, nas médias entre a aspersão com ou sem 2,4-D (Tabela 2). A resposta da cultura aos efeitos dos tratamentos, pode ser explicada pela seqüência de eventos ocorridos após a aspersão dos herbicidas. A ocorrência de estiagem, com efeitos sobre a vegetação local a partir de 35-40 dias da aspersão, a recuperação lenta da vegetação após a normalização das condições climáticas, principalmente do paspalum, e o efeito da cobertura proporcionada pela soja, podem ter contribuído para a manifestação destes resultados.

A comparação dos níveis de controle observados com a escala de eficiência adotada pela Comissão de Controle de Plantas Daninhas (REUNIÃO DE PESQUISA DA SOJA DA REGIÃO SUL, 1994/95) e o rendimento de grãos obtido, permitem indicar o glyphosate à 1080g ha-1, como suficiente para adequação do campo nativo ao sistema de semeadura direta, nas condições de condução deste trabalho.

O gênero Paspalum apresentou maior abundância entre as espécies estudadas, com área de cobertura de 75%. Foram identificadas as espécies Paspalum pumilum e Paspalum notatum var notatum biótipos "C" e "D". A análise dos dados indicou que o nível de controle do Paspalum spp. variou significativamente com as doses do glyphosate e com o volume de calda, resultando nas equações Y=14,65 + 46.24X - 6,91 X2 e Y=11,18 + 48,03X - 7,09X2, para expressar os níveis de controle do Paspalum spp. pelo glyphosate para os volume de calda de 50 e 200l ha-1 utilizados (Figura 1), onde X é a dose de glyphosate em l ha-1 de produto comercial.


As curvas ilustradas na Figura 1 indicam a dose de 1188g ha-1 como a dose de máxima eficiência de controle (95%) do Paspalum spp. para o volume de calda de 50l ha-1 e a dose de 1224g ha-1 como a dose de máxima eficiência de controle (92,5%) para o volume de calda de 200l ha-1. O glyphosate a 360 e 720g ha-1 apresentou níveis de controle superiores ao ser aspergido no volume de calda de 50l ha-1 em relação a 200l ha-1, o contrário ocorrendo para 1080g ha-1. O aumento da concentração do glyphosate à calda aspergida, pode ser a causa do melhor controle para o volume de calda de 50l ha-1 nas doses de 360 e 720g ha-1.

A Tabela 2 apresenta os resultados do efeito dos herbicidas glyphosate e 2,4-D sobre as espécies V. nudiflora, V. polyanthes, B. trimera e E. horridum. A importância destas espécies como invasoras de pastagens e o possível efeito na adequação do campo nativo à semeadura direta, determinaram as observações sobre o efeito do glyphosate e 2,4-D sobre estas espécies.

No momento da aspersão dos herbicidas, Vernonia nudiflora apresentava densidade média de onze plantas/parcela, cada planta apresentando quatro a seis ramos por xilopódio e altura de 30-35cm. Os herbicidas paralisaram o crescimento das plantas por 25-30 dias, seguido de rebrota após este período, com intensidade decrescente em relação ao aumento da dose. Os efeitos maiores sobre V. nudiflora foram observados para o glyphosate à 1080g ha-1, isolado ou na mistura com 2,4-D, a qual provocou maior redução no número de ramos por xilopódio, sem contudo eliminar totalmente a maioria das plantas. Para as doses mais baixas do glyphosate, 360 e 720g ha-1, a maioria das plantas encontravam-se florescidas no momento da colheita da soja.

Para V. nudiflora, a análise estatística demonstrou ser significativo o efeito dos herbicidas e do volume de calda (Tabela 1 ), sendo o volume de 50l ha-1 significativamente superior ao volume de calda de 200l ha-1 (Tabela 2). O aumento na concentração do glyphosate no volume de calda de 50l ha-1, em relação ao volume de calda de 200l ha-1 pode ser uma explicação para melhor eficiência de controle do primeiro, já que a reduzida área foliar, constituída por folhas estreitas, com 0,5 a 2,0mm de largura, proporciona menor interceptação de gotas, valorizando assim a importância de cada gota como veículo do ingrediente ativo. Os níveis de controle observados neste trabalho, permitem indicar ser insatisfatória a eficiência de controle do glyphosate sobre V. nudiflora, independente da dose, volume de calda e mistura com 2,4-D. A presença de xilopódios, como estrutura de armazenamento de substâncias de reserva e a reduzida área foliar, dificultando a interceptação e retenção adequada da calda herbicida, podem ter contribuído para manifestação deste resultado.

No momento da aspersão dos herbicidas, Vernonia polyanthes apresentava densidade média de sete plantas/parcela, cada planta correspondendo a uma touceira com seis a oito ramos e altura de 25 a 30cm. Os herbicidas paralisaram o crescimento destas plantas entre 25 e 30 dias, com inicio de rebrota após este período. V. polyanthes demostrou ser tolerante aos efeitos dos herbicidas, da estiagem e do sombreamento proporcionado pela cultura, estando totalmente florescida na colheita da soja. O glyphosate, independente da dose, da mistura com o 2,4-D e do volume de calda, não controlou o V. polyanthes (Tabela 2).

No momento da aspersão dos herbicidas Baccharis trimera apresentava densidade média de quinze plantas/parcela. Esta planta demonstrou ser sensível ao glyphosate e a sua mistura com 2,4-D, apresentando para glyphosate à 1080g ha-1 controle de 100% das plantas, independente de ser ou não misturado com 2,4-D, na avaliação realizada aos 30 dias da aplicação dos tratamentos. Para dose de 720g ha-1, o glyphosate foi mais eficiente quando aspergido com 2,4-D do que isolado, com 94 e 85% de controle, respectivamente. O glyphosate a 360g ha-1 mostrou controle inferior as demais doses, não apresentando diferenças entre a aspersão isolada ou em mistura com 2,4-D (Tabela 2).

A espécie Eryngium horridum, no momento da aspersão dos herbicidas, apresentava densidade média de treze plantas/parcela e encontrava-se com cinco a sete folhas. Os sintomas iniciais de ação dos herbicidas consistiram de clorose generalizada, principalmente nas folhas mais jovens, inclusive com necrose nestas folhas em algumas plantas, com maior intensidade com o aumento das doses. E. horridum apresentou comportamento particular, apresentando paralisação no crescimento no período compreendido entre a aspersão dos herbicidas e a maturação da soja para a maioria das plantas, sendo difícil isolar o efeito do herbicida da influência da estiagem e da cobertura proporcionada pela cultura da soja, uma vez que as plantas ainda não haviam demonstrado sinais de recuperação quando se intensificou a estiagem. Os níveis de controle apresentados na Tabela 2, permite indicar ser insatisfatório o controle de E. horridum pelo glyphosate, independente da mistura com 2,4-D e do volume de calda utilizado.

Apesar do controle geral proporcionado pelo glyphosate à 1080g ha-1 ser considerado como suficiente para a introdução do sistema de semeadura direta no campo nativo, a grande diversidade de espécies possíveis de ocorrer em áreas de campo nativo e a baixa eficiência de controle observada para V. nudiflora, V. polyanthes e E. horridum, sugere a necessidade de novos estudos com doses mais altas, tanto para o glyphosate quanto para o 2,4-D, buscando-se controle mais efetivo das plantas presentes em campo nativo. Os resultados obtidos para o glyphosate aspergido no volume de calda de 50l ha-1, permitem indicar a possibilidade de uso deste volume de calda, objetivando não só melhores níveis de controle para algumas espécies, como menor custo operacional durante a pulverização deste herbicida.

CONCLUSÕES

A adição de 200g ha-1 de 2,4-D e a redução no volume de calda de 200 para 50l ha-1 não contribui para melhorar a eficiência geral de controle com a utilização de 360 a 1080g ha-1 de glyphosate. Há aumento da eficiência de controle geral de plantas presentes em campo nativo e de Paspalum spp com a utilização de doses entre 360 a 1080g ha-1 de glyphosate.

As plantas de Eryngium horridum, Vernonia nudiflora e Vernonia polyanthes, não são controladas com doses de 360 a 1080g ha-1 de glyphosate, independente de estar ou não misturado a 200g ha-1 de 2,4-D.

A dosagem de 720 e 1080g ha-1 de glyphosate, isolado ou mistura com 200g ha-1 de 2,4-D, é eficiente no controle das plantas de Baccharis trimera.

2 Engenheiro Agrônomo, MSc., Coronel Vivida, PR.

3 Engenheiro Agrônomo, PhD.. Professor Titular, Departamento de Solos, Centro de Ciências Rurais (CCR)- UFSM. 97119-900, Santa Maria, RS. Autor para correspondência.

4 Engenheiro Agrônomo, MSc., Professor Assistente, Departamento de Defesa Fitossanitária, CCR-UFSM.

Recebido para publicação em 30.06.97. Aprovado em 15.10.97

  • ALMEIDA, F.S. Controle de plantas daninhas em plantio direto Londrina: IAPAR, 1991. 34 p. Circular Técnica, 67.
  • BRAUN-BLANQUET, J. Plant sociology: The study of plant communities New York, McGraw-Hill Books Company. 1932. 451 p.
  • BUHLER, D., BURNSIDE O. C. Effect of water quality, carrier volume, and acid on glyphosate phytotoxicity. Weed Science, Champaing, v. 31., p. 163-169. 1983.
  • BURRIL, O. C., CARDENAS, J. C.. LOCATELLI, E. Field manual for weed control research Corvallis, International Plant Protetion Center: Oregon State University, 1976. 59 p.
  • DEUBER, R. Ciência das plantas daninhas: Fundamentos Jaboticabal: FUNEP, v. l, 1992. 431 p.
  • DURIGAN, J. C., VICTORIA FILHO, R., MATUO, T. et al Períodos de matocompetição na cultura da soja (Glycine max (L.) Merrill), cultivares Santa Rosa e IAC-2.1 - Efeitos sobre os parâmetros de produção. Planta Daninha, Piracicaba, v. 2, p.86-100.1983.
  • KIGEL, J., KOLLER, D. Asexual reproduction of weeds. In: Weed physiology 3° ed. Boca Raton: CRC Press, 1987. p. 65-100.
  • MOHRDIECK, K. H. Formação campestre do Rio Grande do Sul. In: SEMINÁRIO SOBRE PASTAGENS "DE QUE PASTAGENS NECESSITAMOS"., 1980, Porto Alegre, RS. Anais... Porto Alegre, FARSUL, 1980, p. 18-73.
  • PILLAR, V. de P., JACQUES. A. V. A., BOLDRINI, I.I. Fatores de ambiente relacionados à variação da vegetação de um campo natural. Pesq Agropec Bras Brasília, v. 27, n.8, p. 1089-1101, 1992.
  • REUNIÃO DE PESQUISA DE SOJA DA REGIÃO SUL, 22,1994. Cruz Alta. Recomendações técnicas para a cultura da soja no Rio Grande do Sul e Santa Catarina Safra 1994/95. Cruz Alta: FUNDACEP/FECOTRIGO, 1994. 66 p.
  • SANDBERG, C. L., MEGGITT, W. F., PENNER, D. Effect of volume and calcium on glyphosate phytotoxicity. Weed Science, Champaing, v. 26, p. 476-479, 1978.
  • SPRANKLE, P., MEGGIT, W. F., PENNER, D. Absorption and translocation of glyphosate. Weed Science, Champaing, v. 23, p.235-240, 1975.
  • 1
    Parte da dissertação de mestrado apresentada pelo primeiro autor como requisito parcial para obtenção do título de Mestre junto ao Curso de Pós-graduação em Agronomia, Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Projeto parcialmente financiado pela FAPERGS.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      15 Out 2007
    • Data do Fascículo
      Jun 1998

    Histórico

    • Aceito
      15 Out 1997
    • Recebido
      30 Jun 1997
    Universidade Federal de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria, Centro de Ciências Rurais , 97105-900 Santa Maria RS Brazil , Tel.: +55 55 3220-8698 , Fax: +55 55 3220-8695 - Santa Maria - RS - Brazil
    E-mail: cienciarural@mail.ufsm.br