Open-access ALTURA DE VÔO DAS ABELHAS AFRICANIZADAS (Apis mellifera L.) PARA COLETA DE ALIMENTOS

Resumos

O presente trabalho foi realizado com o objetivo de verificar até que altura as abelhas africanizadas deslocam-se para a coleta de alimentos e se existe preferência destas abelhas por alguma altura. Instalou-se, num eucalipto de mais de 30m, um sistema de roldana que possibilitava a colocação de armadilhas a diferentes alturas, para a captura dos insetos que ali fossem se alimentar. As médias do número de abelhas coletadas em sete alturas (de 0 a 30m) decresceram com o aumento da altura e o melhor ajuste foi o de um polinômio linear. No detalhamento da primeira altura (0-5m), que apresentou a maior concentração de abelhas, o melhor ajuste foi o de um polinômio de segundo grau, com um máximo entre 1 e 2m, apesar da maior media observada corresponder à altura de 3m. Não ocorreram diferenças (P>0,05) entre as médias do número de abelhas coletadas nos períodos da manhã e da tarde.

abelhas africanizadas; Apis mellifera; altura de vôo; coleta de alimentos


The present work was carried out to study the maximum flight height that Africanized bees reach in order to collect their food, and if there is preference for a particular height. In an eucaliptus tree, more than 30m tall, a pulley system was fixed which permitted to hang traps at different heights in order to catch insects that fly there looking for food. The mean number of bees caught at seven different heights (from zero to 30m) decreased with height and the best fit obtained was for a linear polinomial. The details of the first height (0-5m), which presented the highest bee concentration, presented a best fit using a second degree polinomial, with a maximum between 1 and 2m, although the greatest observed value corresponded to the height of 3m. There was no difference (P>0.05) between the number of bees caught in the morning and in the afternoon.

africanized honey bees; Apis mellifera; flight height; food collection


ALTURA DE VÔO DAS ABELHAS AFRICANIZADAS (Apis mellifera L.) PARA COLETA DE ALIMENTOS

A.C. de C.C. MORETI1,3; L.C. MARCHINI2

1Instituto de Zootecnia, C.P. 60, CEP: 13460-000 - Nova Odessa, SP.

2Depto. de Entomologia-ESALQ/USP, C.P. 9, CEP: 13418-900 - Piracicaba, SP.

3Bolsista do CNPq.

RESUMO: O presente trabalho foi realizado com o objetivo de verificar até que altura as abelhas africanizadas deslocam-se para a coleta de alimentos e se existe preferência destas abelhas por alguma altura. Instalou-se, num eucalipto de mais de 30m, um sistema de roldana que possibilitava a colocação de armadilhas a diferentes alturas, para a captura dos insetos que ali fossem se alimentar. As médias do número de abelhas coletadas em sete alturas (de 0 a 30m) decresceram com o aumento da altura e o melhor ajuste foi o de um polinômio linear. No detalhamento da primeira altura (0-5m), que apresentou a maior concentração de abelhas, o melhor ajuste foi o de um polinômio de segundo grau, com um máximo entre 1 e 2m, apesar da maior media observada corresponder à altura de 3m. Não ocorreram diferenças (P>0,05) entre as médias do número de abelhas coletadas nos períodos da manhã e da tarde.

Descritores: abelhas africanizadas, Apis mellifera, altura de vôo, coleta de alimentos

FLIGHT HEIGHT OF AFRICANIZED HONEY BEES

(Apis mellifera L.) FOR FOOD COLLECTION

ABSTRACT: The present work was carried out to study the maximum flight height that Africanized bees reach in order to collect their food, and if there is preference for a particular height. In an eucaliptus tree, more than 30m tall, a pulley system was fixed which permitted to hang traps at different heights in order to catch insects that fly there looking for food. The mean number of bees caught at seven different heights (from zero to 30m) decreased with height and the best fit obtained was for a linear polinomial. The details of the first height (0-5m), which presented the highest bee concentration, presented a best fit using a second degree polinomial, with a maximum between 1 and 2m, although the greatest observed value corresponded to the height of 3m. There was no difference (P>0.05) between the number of bees caught in the morning and in the afternoon.

Key Words: africanized honey bees, Apis mellifera, flight height, food collection

INTRODUÇÃO

Um bom número de informações a respeito da transmissão de mensagens sobre a direção das fontes e sobre as distâncias percorridas pelas abelhas em vôos para coleta de alimentos, podem ser encontradas na literatura, por outro lado, obtêm-se poucos dados à respeito da altura desses vôos.

As operárias normalmente voam entre 5 e 10m de altura (Jean-Prost, 1985) e poucas vezes sobrepujam os 8m, voando o mais baixo possível, para se resguardarem do vento (Rootner, citado por Root, 1990).

Desde que Frisch et al. (1953) concluíram que as abelhas não eram capazes de comunicar a altura da fonte de alimento poucos autores pesquisa-ram este assunto. Levin & Kerster (1973) e Faulkner (1976) observaram a influência da altura das flores sobre as visitas das abelhas e Wellington & Cmiralova (1979) demonstraram que a abelha Apis mellifera ligustica era capaz de determinar e comu-nicar a altura das fontes de alimento, com a mesma precisão que podia estimar a direção desta fonte.

O presente trabalho teve como objetivo verificar até que altura as abelhas africanizadas deslocam-se para coletar alimentos e se existe preferência por alguma altura.

MATERIAL E MÉTODOS

O trabalho foi realizado nas dependências do Departamento de Entomologia da ESALQ/USP, em Piracicaba, SP, onde mantém-se um apiário, havendo, portanto, grande concentração de abelhas Apis mellifera (africanizadas) na área.

Instalou-se, num eucalipto de mais de 30m, um sistema de roldana que possibilitava a colocação de armadilhas, contendo solução 50% de mel e água (Figura 1) a diferentes alturas, para captura dos insetos que ali fossem se alimentar.

Figura 1
- Armadilha usada na coleta de insetos.

Durante o período em que foi realizado o trabalho o eucaliptal não se encontrava em florescimento, havendo, no entanto, algumas fontes de alimento como o cambará (Gochnatia polymorpha), fora da área do eucaliptal e uma série de plantas consideradas como invasoras, dentro da área do eucaliptal, cujo porte variava desde plantas rasteiras até pequenos arbustos (até 1,5m).

Após um treinamento das abelhas para que visitassem pequenos frascos contendo mel, foram instaladas as armadilhas em sete diferentes alturas (0 (em nível do solo) 5,10,15,20,25 e 30m) (1º ensaio). Após um período de duas horas, os insetos coletados nas armadilhas foram identificados e contados. As abelhas foram identificadas por comparação com material coletado no mesmo local e identificado pelo Prof. João A.F. de Camargo da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto/USP.

Todas as coletas foram realizadas em dias claros e secos, sem ventos fortes e temperatura entre 25 e 30ºC, portanto, em condições ambientais, teoricamente, ideais às atividades das abelhas Apis mellifera.

O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente ao acaso com sete tratamentos (7 alturas: 0,5,10,15,20,25 e 30m) e 6 repetições. Os graus de liberdade para altura foram decompostos em polinômios ortogonais para a análise de regressão, sendo os dados transformados em log x.

Após a realização do 1º ensaio, no qual pode-se verificar uma maior concentração de abelhas nas armadilhas localizadas nas menores alturas, foram programados outros dois ensaios, nos quais procurou-se identificar, dentro do primeiro intervalo utilizado no 1º ensaio (0 a 5m) qual a altura preferida para coleta.

Numa segunda fase, foram instaladas armadilhas de 0 a 5m (0 (ao nível do solo) 1,2,3,4 e 5m) (2º ensaio). Duas horas após instalação das armadilhas, os insetos capturados foram identificados e contados.

O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente ao acaso com seis tratamentos (6 alturas: 0,1,2,3,4 e 5m) e 6 repetições. Os graus de liberdade para altura foram decompostos em polinômios ortogonais para a análise de regressão, sendo os dados transformados em log x.

Posteriormente, num terceiro ensaio, foram colocadas armadilhas em seis alturas de 0 a 5m, como no ensaio anterior, porém em dois diferentes horários (manhã: das 9h30 às 10h30 e tarde: das 16h30 às 17h30) (3º ensaio). Em seguida os insetos capturados foram identificados e contados.

O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente ao acaso, em esquema fatorial 6X2 (6 alturas: 0,1,2,3,4 e 5m e 2 horários: manhã e tarde) com 3 repetições. Os graus de liberdade para altura foram decompostos em polinômios ortogonais para a análise de regressão, sendo os dados transformados em log x. As médias referentes ao número de abelhas coletadas nos dois diferentes horários foram comparadas pelo teste F.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Observou-se que as médias do número de abelhas coletadas nas armadilhas instaladas de 0 a 30m de altura (1º ensaio) decresceram linearmente com a altura; 442,9 + 240,5 (5,9579); 249,2 + 159,3 (5,3613); 187,2 + 124,6 (5,0892); 183,6 + 74,4 (5,1506); 112,4 + 82,7 (4,5542); 103,4 + 85,3 (4,4013) e 92,2 + 69,8 (4,2658), onde os números entre parênteses representam as médias transformadas em log x. Estas médias de coleta podem ser representadas pela equação Y = 5,7755 - 5,3793X (R2 = 0,934**, P = 0,00011), onde Y é o número de abelhas coletadas e X, a altura (m) em que as armadilhas foram instaladas (Figura 2).

Figura 2
- Número médio de abelhas coletadas em função da altura (de 0 a 30m) (1º ensaio).

Quando as armadilhas foram colocadas de 0 a 5m (2º ensaio), verificou-se que as médias do número de abelhas coletadas (271,7 + 153,9 (5,4683); 255,0 + 53,6 (5,5261); 250,2 + 51,9 (5,5050); 365,2 + 144,4 (5,8510); 140,7 + 65,0 (4,8469) e 103,2 + 50,5 (4,5427), onde os números entre parênteses representam as médias transformadas em log x, podiam ser representadas pela equação: Y = 5,3996 + 0,3321X - 0,1025X2 (R2 = 0,800**, P = 0,01034), onde Y é o número de abelhas coletadas e X, a altura (m) em que as armadilhas foram instaladas. Por meio desta equação pode ser calculado o ponto de máxima coleta de abelhas que é 1,62m (Figura 3).

Figura 3
- Número médio de abelhas coletadas em função da altura (de 0 a 5m) (2º ensaio).

As médias obtidas no 3º ensaio, quando as armadilhas foram colocadas de 0 a 5m de altura, em dois horários (manhã e tarde), decresceram linearmente com o aumento da altura, 542,3 + 202,6 (6,2432); 420,7 + 89,3 (6,0218); 485,2 + 172,7 (6,0958); 399,2 + 90,4 (5,9661); 276,5 + 121,9 (5,5415) e 289,3 + 178,4 (5,4848), onde os números entre parênteses representam as médias transformadas em log x. Estas médias de coleta podem ser representadas pela equação: Y = 6,2752 - 0,1532X (R2 = 0,863**, P = 0,00115), onde Y é o número de abelhas coletadas e X, a altura (m) em que as armadilhas foram instaladas. (Figura 4).

Figura 4
- Número médio de abelhas coletadas em função da altura (de 0 a 5m)(3o. ensaio).

Não ocorreram diferenças significativas, pelo teste F (P = 0,1430), entre as médias do número de abelhas coletadas nos horários da manhã, média 436,56 + 161,5 (5,9954a) e tarde, 367,83 + 174,1 (5,7890a), onde os números entre parênteses representam as médias transformadas em log x, com d.m.s. 5% = 0,2839.

Nos três ensaios a abelha Apis mellifera representou de 98 a 100% dos insetos capturados. Foram coletadas ainda as abelhas Plebeia droryana e Trigona spinipes até nas armadilhas instaladas a 30m de altura. Observou-se, ainda, que mesmo após a retirada das armadilhas, por algum tempo, as abelhas visitavam os locais onde estavam instaladas, à procura de alimento.

Wellington & Cmiralova (1979) demons-traram que estudando fontes de alimento com mesma concentração de açúcares, mesma distância e direção das colméias, porém a 0 e 1,70 m de altura, eram diferenciadas pela A.m. ligustica e mantinham-se fiéis a elas. Já para as abelhas africanizadas observamos que elas podem localizar e visitar fontes de alimento instaladas a até 30m, embora o maior número de visitas concentre-se entre 0 e 5m, faixa de altura em que se encontra o maior número de árvores e arbustos que produzem flores.

Pode perceber que, havendo necessidade de coleta de alimento, as abelhas deslocam-se a alturas bem superiores às citadas por Jean-Prost (1985) e Rootner citado por Root (1990). Este fato tem importância e deve ser levado em conta se for necessário isolar determinadas áreas, para evitar a visita de abelhas.

Recebido para publicação em 06.11.97

Aceito para publicação em 16.03.98

Referências bibliográficas

  • FAULKNER, G.J. Honey bee behaviour as affected by plant height and flower colour in brussel sprouts. Journal of Apicultural Research, v.15, n.1, p.15-18, 1976.
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  • JEAN-PROST, P. Apicultura. 2. ed. Madrid: Ediciones Mundi-Prensa, 1985. 573p.
  • LEVIN, D.A.; KERSTER, H.W. Assortative pollination for stature in Lythrum salicaria. Evolution, v.27, p.144-152, 1973.
  • ROOT, E.R. ABC y XYZ de la apicultura. 5. ed. Buenos Aires: Editorial Hemisferio Sur,1990. 723p.
  • WELLINGTON, W.G.; CMIRALOVA, D. Communication of height by foraging honey bees Apis mellifera ligustica (Hymenoptera, Apidae). Annals of the Entomological Society of American v.72, n.1, p.167-170, 1979.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    04 Fev 1999
  • Data do Fascículo
    Maio 1998

Histórico

  • Recebido
    06 Nov 1997
  • Aceito
    16 Mar 1998
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