Open-access Encontros nas quadras de grama: as mulheres e o tênis no Brasil do século XIX

Meetings on Lawn Tennis Courts: Women and Tennis in 19th Century Brazil

Encuentros en las canchas de césped: mujeres y tenis en el Brasil del siglo XIX

Resumo:

Considerando que, no cenário internacional, as iniciativas organizadas ao redor do tênis sempre foram marcadas por contar com o intenso envolvimento de mulheres, este artigo objetiva discutir a participação feminina nas primeiras experiências da modalidade estruturadas no Brasil, especificamente as promovidas nas duas décadas finais do século XIX, em cidades nas quais havia ativa presença de britânicos. Como fontes, fez-se uso de periódicos, notadamente do The Rio News. Mais do que refletir sobre a formação de uma cultura esportiva, o intuito é lançar um olhar sobre o aumento da visibilidade feminina na sociedade brasileira. Argumenta-se que a prática do tênis foi uma estratégia de subjetivação que se articulou com o processo de distensão das considerações acerca do papel social das mulheres.

Palavras-chave: gênero; história do esporte; tênis

Abstract:

Considering that, in the international scenario, the initiatives organized around tennis have always been marked by the strong involvement of women, this article aims to discuss the female participation in the first experiences of this sport structured in Brazil, specifically those promoted in the last two decades of the nineteenth century, in cities in which there was an active presence of Briton. As sources, newspapers were used, notably The Rio News. More than thinking about the formation of a sporting culture, the intention is to take a look at the increase of female visibility in the Brazilian society. It is argued that the practice of tennis was a strategy of subjectivation that was articulated with the process of considerations about the social role of women.

Keywords: Genre; Sport History; Tennis

Resumen:

Teniendo en cuenta que, en el escenario internacional, las iniciativas organizadas alrededor del tenis siempre han estado marcadas por contar con la intensa participación de las mujeres, este artículo tiene el objetivo de discutir la participación femenina en las primeras experiencias de esto deporte estructuradas en Brasil, específicamente las promovidas en las dos últimas décadas del siglo XIX, en ciudades en la cuales hubo una activa presencia británica. Como fuentes, se utilizaron publicaciones periódicas, en particular The Rio News. Más que reflexionar sobre la formación de una cultura deportiva, el objetivo es lanzar una mirada para el aumento de la visibilidad de las mujeres en la sociedad brasileña. Se argumenta que la práctica del tenis fue una estrategia de subjetivación que se articuló con el proceso de distensión de las consideraciones sobre el rol social de la mujer.

Palabras-clave: género; historia del deporte; tenis

Introdução

O lawn tennis - tênis de grama, em tradução livre - foi criado, em 1873, por Walter Clopton Wingfield, um major do exército britânico. Tratou-se de uma adequação de antigos jogos de raquetes aos novos parâmetros que assumira o esporte no cenário da modernidade. Adaptada aos campos de croquet (prática de taco e bola, na ocasião muito apreciada pelas elites), a modalidade foi concebida como uma diversão saudável e estratégia de congraçamento social. Rapidamente, foi adotada por gente da aristocracia e da burguesia do Reino Unido, bem como se espraiou para outros países, tais como Estados Unidos, Alemanha e França (Heiner GILLMEISTER, 1998; Bernardino MARTÍNEZ, 2013).

No seu processo de estruturação e difusão, o tênis foi um dos esportes que mais rigidamente desenvolveu um código de conduta, causa e consequência de duas importantes ocorrências articuladas. Uma delas é sua manutenção como uma modalidade restrita à aristocracia e alta classe média. Tal prática se tornou um indicador de status e distinção, um requisito para aqueles que desejavam demonstrar superioridade social ao exibir comportamentos que se diferenciavam daqueles adotados pelos inferiores, do ponto de vista econômico (Robert LAKE, 2011).

A outra ocorrência é o fato de que tal rigidez comportamental estava relacionada à maior participação feminina, algo que interferiu na dinâmica das relações nos espaços e iniciativas da modalidade:

Ao contrário do futebol e do rúgbi, que exigiam força bruta e, às vezes, violência, o tênis de grama endossava um estilo diferente de masculinidade. […] A inclusão de mulheres teve implicações importantes nas noções de masculinidade representadas pelos jogadores, principalmente para reforçar a importância do autocontrole comportamental e emocional por meio de demonstrações cavalheirescas de deferência (LAKE, 2011, p. 882, tradução nossa).

De fato, o tênis foi um dos esportes nos quais mais rápida e intensamente se observou o envolvimento de mulheres como jogadoras, disputando partidas entre si, em proporção quase igual aos homens, mas também integrando as duplas mistas, pioneiras ocasiões em que os dois sexos competiam em conjunto, interferindo diretamente no resultado (LAKE, 2012).

Se a constante presença feminina gerava exigências comportamentais para os homens, interferia também na dinâmica do jogo, estabelecendo-se, pelo menos a princípio, limites de desempenho, adotados a partir da ideia de que as mulheres eram menos habilidosas e pouco preparadas para a prática do esporte. Perceba-se que, para elas, sem dúvida, a possibilidade de jogar tênis foi uma conquista, e as quadras figuravam um espaço de maior liberdade. Todavia, seguiam determinados enquadramentos e continuavam sendo consideradas submissas e subordinadas ao mundo masculino.

Não se deve considerar, no entanto, que as iniciativas ao redor do tênis foram apenas fóruns de emancipação feminina. Ainda que também assim o fosse, no âmbito da modalidade persistiram limitações no tocante à participação de mulheres em provas esportivas, algo que não foi aceito passivamente pelas tenistas, desencadeando-se negociações e conflitos mais ou menos aparentes (LAKE, 2012).

Esse processo segue até os dias de hoje, fortalecido desde que um grupo de jogadoras reivindicou que a premiação dos grandes torneios fosse a mesma oferecida aos homens (Elizabeth WILSON, 2016). Na fase mais recente, as lutas por igualdade começaram nos anos 1970, lideradas, entre outras, por Billie Jean King (Angelina CHAPIN, 2017).

Vale lembrar que o tênis foi uma das primeiras modalidades nas quais mulheres competiram nos Jogos Olímpicos, na edição de verão de 1900 (Paris), à revelia de Pierre de Coubertin, que não considerava adequada a exposição pública feminina em festivais esportivos (Fabiano DEVIDE, 2005; Silvana GOELLNER, 2016). Trata-se de mais um exemplo de como as tenistas foram rompendo os limites impostos pelo mundo masculino. Esse esporte foi um fórum de luta no qual forjaram uma subjetividade divergente e deram repercussão pública a novos comportamentos.

Note-se o quanto as ocorrências do tênis nos permitem pensar nas relações de gênero a partir do que sugere a historiadora Joan Scott, em seu texto publicado originalmente em 1986.1 Sua compreensão conceitual considera duas dimensões articuladas: a) trata-se de um definidor das relações sociais que se estruturam numa concepção de diferença entre os sexos; b) está profundamente articulado com relações de poder.

Para a autora, historiadores(as) devem investigar e discutir: “que representações simbólicas são invocadas, como, e em quais contextos?” (SCOTT, 1995, p. 86); “a natureza do debate ou da repressão que leva à aparência de uma permanência intemporal na representação binária do gênero” (SCOTT, 1995, p. 87); “as formas pelas quais as identidades generificadas são substantivamente construídas, [relacionando] seus achados com toda uma série de atividades, de organizações e representações sociais historicamente específicas” (SCOTT, 1995, p. 88). No entanto, deve-se sempre ter em conta que “o gênero é construído através do parentesco, mas não exclusivamente; ele é construído igualmente na economia e na organização política, que, pelo menos em nossa sociedade, operam atualmente de maneira amplamente independente do parentesco” (SCOTT, 1995, p. 87).

Até mesmo por tamanha peculiaridade no que se refere aos encontros de homens e mulheres em um momento em que o campo esportivo se estruturava (o século XIX), o tênis já chamou a atenção de muitos pesquisadores do cenário internacional (LAKE, 2012). No Brasil, todavia, praticamente não há estudos sobre seus primeiros momentos, e ainda menos com relação à participação feminina naquele período.

Um dos poucos estudos que tocam no período é um artigo recém-publicado, de um conjunto de pesquisadores (Gabriel GONÇALVES et al., 2018). Todavia, no que concerne ao século XIX, trata-se de uma abordagem mais informativa. O tema também chamou a atenção de outro pesquisador (Wilson GAMBETA, 2015), de um olhar mais analítico, inclusive no tocante à participação feminina. Esse autor, contudo, se restringe a discutir brevemente as ocorrências de São Paulo, nas décadas iniciais do século XX. Vale citar ainda que o assunto é abordado, também sumariamente, no artigo de Mônica Schpun (1997) e, diretamente, de forma absolutamente distinta do que pretende este artigo, no livro de Odir Cunha (1989).

Tendo em conta esse debate inicial, este artigo objetiva discutir a participação feminina nas primeiras experiências estruturadas ao redor do tênis no Brasil, especificamente as promovidas nas duas décadas finais do século XIX, no Rio de Janeiro, Niterói, Recife, São Paulo e Santos, cidades nas quais havia ativa presença de britânicos, protagonistas no desenvolvimento desse esporte. A modalidade pode ser considerada “um ‘terreno contestado’, no qual noções de atividades físicas ‘apropriadas para mulheres’ foram desafiadas e reforçadas por meio de demonstração, diálogo e debate” (LAKE, 2012, p. 691, tradução nossa).

Devem-se assumir as dificuldades de aprofundar o debate em função da escassez de evidências das iniciativas com o tênis promovidas nesse período, pois praticamente não há documentação sobre tais experiências. Mais ainda, em função das características de organização dos britânicos,2 reservados e pouco integrados às sociedades locais, suas atividades não chegavam usualmente aos periódicos de maior circulação.

Para sanar tais limitações, fizemos uso de um periódico editado em inglês, dedicado aos anglófonos estabelecidos no país.3 O The Rio News foi publicado entre 1874 e 1901, informando sobre as iniciativas esportivas dos britânicos, notadamente a partir do momento em que assumiu a editoria Andrews Jackson Lamoureux, um adepto do críquete e habituée das atividades dos clubes (Antonio ROCHA, 2007).4 Mesmo que sediado no Rio de Janeiro, circulava em outras cidades, noticiando seus principais acontecimentos, porém, nunca no mesmo patamar que os fatos ocorridos na capital nacional.

Ainda que com os limites assumidos, pareceu importante dar conta das análises/interpretações possíveis com o que se pôde encontrar. Entendemos que as experiências com o tênis foram dotadas de peculiaridades num momento em que, no Brasil, havia poucas mulheres participando como competidoras das iniciativas esportivas, ainda mais disputando provas/partidas em conjunto com homens.

Assim, ao nos debruçarmos sobre a primordial estruturação do tênis no século XIX, pretendemos chamar a atenção para uma modalidade pouco estudada, entendendo-a como mais uma expressão de uma cultura esportiva que estava em construção, articulada com o conjunto de mudanças da sociedade brasileira na centúria, especialmente no que tange à adesão a ideias de civilização e progresso, iniciativas de adoção do ideário e imaginário da modernidade a partir de uma leitura local.

Todavia, nosso interesse maior é lançar um olhar sobre o aumento da visibilidade de mulheres na sociedade brasileira, algo que, no caso abordado, se articulou com trânsitos culturais promovidos a partir das ações de estrangeiros estabelecidos aqui, outro tema a ser discutido a partir da chave do desenvolvimento esportivo. Argumenta-se que a prática do tênis foi uma estratégia de subjetivação que se articulou com o processo de distensão das considerações acerca do papel social das mulheres.

Tênis: encontros na cena pública

Nas cidades investigadas, a quase totalidade das iniciativas relacionadas ao tênis foram promovidas em clubes esportivos da colônia britânica. Devemos considerar a particularidade desse grupo, no Brasil estabelecido desde 1808, em função de terem sido protagonistas na vinda dos monarcas lusitanos para o Rio de Janeiro, uma decorrência das guerras napoleônicas. Ocuparam papéis importantes na burocracia portuguesa que na capital se instalou, uma influência que se manteve nas décadas iniciais da independência por terem negociado uma série de privilégios comerciais e cotidianos (Jorge CALDEIRA, 2011).

Mesmo quando tais privilégios se encerraram, os britânicos continuaram a ser um grupo social importante por terem sido protagonistas de iniciativas econômicas diversas: dinamização do comércio exterior, implantação de fábricas, construção de ferrovias, atuação no setor financeiro, instalação de serviços urbanos (transportes, iluminação, saneamento, entre outros) (Richard GRAHAM, 1973).

Ainda que se tratasse de um grupo marcado pela transitoriedade, por ocuparem postos nos múltiplos negócios espalhados por cidades de todo o mundo, muitos começaram a se estabelecer no Brasil, criando agremiações que tinham em conta reproduzir e celebrar parâmetros de vida usuais no Reino Unido, espaços onde também se fortaleciam alianças políticas e de negócios (Victor MELO, 2017).

Se, a princípio, os britânicos eram um grupo restrito, com pouca disposição de contato com as sociedades locais, encarado mesmo com estranheza pelos brasileiros, com o decorrer do tempo houve uma expansão de seus círculos sociais, algo que foi importante no sentido de potencializar trânsitos culturais, influências que ajudaram a forjar novos costumes em nosso país (Gilberto FREYRE, 1977).

Entre suas principais contribuições culturais, podemos citar a conformação dos esportes, manifestação que, em seu sentido moderno, se estruturou na Inglaterra do século XVIII (Richard HOLT, 1989). Os britânicos estiveram entre os responsáveis por organizar as primeiras corridas de cavalo e regatas em várias cidades brasileiras, bem como fundaram clubes esportivos diversos, com destaque para aqueles dedicados ao críquete (MELO, 2017). Foi nessas agremiações que o tênis começou a ser praticado no país.

Uma primeira referência à modalidade, ocorrida poucos anos depois de o jogo ter sido inventado na Inglaterra, se deu quando uma das pioneiras agremiações esportivas de anglófonos, o Rio Cricket Club, se deslocou, em 1880, de um modesto espaço localizado no bairro de Botafogo para um terreno maior situado nas esquinas das ruas Paissandu e Guanabara, bairro das Laranjeiras, defronte ao palácio da princesa Isabel. A nova sede foi preparada não só para acolher partidas de críquete, como também atividades de outras práticas tipicamente britânicas, como os sports athleticos (primórdios do atletismo) e o lawn tennis.

Destaca-se que a primeira citação da prática do jogo das raquetes por aqui já o tenha relacionado à participação feminina. Segundo um cronista, a construção de quadras de tênis na nova sede tinha em conta atender o interesse que havia entre as mulheres da colônia de britânicos, proporcionando “diversão ativa ao Belo Sexo” (THE ANGLO-BRAZILIAN TIMES, 09/01/1880, p. 2), um termo que já expressava os limites estabelecidos pelo mundo masculino: sua principal função social seria a de embelezar o espetáculo.

Na mesma publicação, afirma-se que “várias jovens já se manifestaram não apenas dispostas, mas ansiosas” para tomar parte nos jogos. Os dirigentes do clube, homens importantes da colônia, demonstravam certa simpatia e sensibilidade com o avanço da presença de mulheres na cena pública, atendendo a reivindicações de suas filhas e esposas. De outro lado, isso as mantinha em espaço controlado, o que não reduz a relevância da conquista feminina no tocante à distensão dos costumes. Importante identificar a sintonia da comunidade britânica no Rio de Janeiro estabelecida com o que se passava na Grã-Bretanha.

É verdade que, naquele momento, com a mudança de sede, estava apenas começando uma maior integração dos britânicos com a sociedade fluminense. Assim sendo, essas ações de reconhecimento da possibilidade de maior participação pública de mulheres podem ter tido impacto restrito. De outro lado, as posturas avançadas de algumas europeias chegavam aos brasileiros por outras vias, como as Cartas Portuguesas de Ramalho Ortigão, publicadas na seção “Folhetim” da Gazeta de Notícias.

Em 1882, o notório literato lusitano, sempre empenhado em defender os movimentos de modernização, informou que, em alguns países europeus, as mulheres já estavam “a remar, a nadar, e a jogar lawn tennis para lhe espanar a cabeça e para lhe renovar o juízo” (GAZETA DE NOTÍCIAS, 09/06/1882, p. 1). Noutro jornal, um cronista sugeriu que, no velho continente, entre elas, o tênis estava rapidamente a substituir o críquete (CORREIO DA MANHÃ, 19/09/1885, p. 2). Percebe-se um enquadramento masculino no enfoque; porém, reconhece-se a pertinência da prática feminina de alguns esportes.

Era mesmo corrente nos jornais fluminenses a identificação do esporte das raquetes com os britânicos, considerado um traço de sua identidade (ver, por exemplo, GAZETA DE NOTÍCIAS, 17/06/1883, p. 1). Em uma coluna dedicada a exaltar os “aspectos da vida e da civilização inglesa”, Ramalho Ortigão comentou o envolvimento dos anglófonos com diversas modalidades, destinando ao tênis muitas palavras elogiosas. Tratar-se-ia de “um jogo harmônico, perfeitamente compensado, movimentando todo sistema muscular” (GAZETA DE PETRÓPOLIS, 03/05/1893, p. 2).5 Isso apontava, desde um olhar masculino, para uma maior aceitabilidade do envolvimento feminino. As mulheres estavam por trás do reconhecimento dessa possibilidade com sua força de reivindicação e negociação.

De outro lado, até mesmo por essa representação de suavidade, havia críticos a esses novos costumes esportivos. Para outro cronista, o “efeminado tênis” e o ciclismo, que estavam a substituir a caça e os exercícios com cavalos, eram sinais da decadência do Império Britânico (JORNAL DO COMÉRCIO, 20/03/1899, p. 1). Perceba-se como o esporte das raquetes era relacionado ao ethos feminino a partir de certa visão de masculinidade.

De fato, independentemente dos britânicos, no Rio de Janeiro já se percebia maior presença das mulheres na cena pública, inclusive no âmbito esportivo. O diferencial no caso do Rio Cricket Club era a aceitação explícita de que elas poderiam se envolver como competidoras, não somente como público.

Na sociedade fluminense da época, tal envolvimento não era aceito com tranquilidade, pois havia muitas ressalvas à participação de mulheres nos esportes. Em um jornal, veiculou-se uma preocupação com o que se chamou de “terceiro sexo”, “raparigas que, desde a mais tenra idade, abusaram da bicyclette, dos remos, do lawn tennis e de outras recreações masculinas” (CIDADE DO RIO, 12/09/1896, p. 1). Os esportes, nesse discurso, eram encarados como terreno dos homens, sendo, portanto, prejudiciais ao desenvolvimento dos corpos das mulheres.

Quais seriam os possíveis problemas, então? Segundo o cronista, braços e pernas ficariam muito fortes, ferindo a graciosidade que caracterizaria a “beleza feminina”. Isso prejudicaria até mesmo o cumprimento de sua função fundamental, a maternidade, além de a desviar de seus fins sociais, especialmente os cuidados com o lar.6 Assim sendo, o periodista alerta que os homens deveriam tomar cuidado com essas mulheres, bem como com aquelas que desejam votar, uma clara referência depreciativa ao movimento sufragista. A prática dos esportes, portanto, compunha um novo perfil feminino que incomodava a muitos.

Mesmo que tenhamos poucas informações sobre a prática do tênis na primeira metade dos anos 1880, há indícios de que se espraiou por alguns setores do Rio de Janeiro, especialmente entre os estrangeiros. A Companhia Continental de Caoutchouc e Borracha anunciou no notório Almanak Laemmert (1884, p. 406) a venda de bolas para a modalidade, um indício de que havia algum mercado para tal. O Allen’s Hotel, localizado no Largo dos Leões (Humaitá), informou, num anúncio em inglês, que dispunha de uma quadra para os hóspedes (THE RIO NEWS, 15/11/1885, p. 1).

No Rio Cricket estavam disponíveis três quadras, sinal de que havia interesse cotidiano entre os associados. Os torneios eram disputados com frequência, inclusive em datas comemorativas. Além disso, organizavam-se jogos com diretores de empresas de capital inglês, bem como, algo já usual no caso do críquete, com oficiais de embarcações britânicas ancoradas na Baía de Guanabara. Essas eram consideradas ocasiões especiais: tratava-se de uma celebração mais intensa do ‘modo britânico de ser’, encaradas as tripulações como embaixadas da Grã-Bretanha a circular pelo mundo.

Constantemente, as mulheres tomavam parte nesses eventos, em partidas de simples ou de duplas mistas, sendo inclusive convidadas a se associar ao Rio Cricket em função da modalidade: “Senhoritas que desejam se tornar sócias, para o tênis, devem também requisitar enviando seus nomes” (THE RIO NEWS, 17/01/1893, p. 5). Paulatinamente, o esporte das raquetes tornava-se mesmo um atrativo para o maior envolvimento delas. Trata-se de uma diferença notável: elas eram bem-vindas e não repelidas, como usual no que tange a outras práticas. O enquadramento era masculino, mas abriu espaços para uma maior manifestação pública do chamado ‘belo sexo’.

Entre 1880 e 1895, portanto, no Rio de Janeiro, estruturaram-se as pioneiras iniciativas de tênis, já contando com a participação feminina como jogadoras. Nesse mesmo período, em Recife, cidade que viu aumentar sua colônia de britânicos em função de movimentos de reforma urbana e de industrialização, também se fundaram clubes esportivos liderados por anglófonos. Naquele cenário, surgiram as primeiras experiências com a modalidade.

É possível que jogos de tênis, dentro ou não dos clubes de críquete, estivessem sendo disputados desde pelo menos meados dos anos 1880. Um indicador interessante é um anúncio de uma loja de roupas que vendia flanela branca e sapatos para a prática da modalidade (DIÁRIO DE PERNAMBUCO, 20/08/1886, p. 5). Isto é, deveria já haver alguma demanda para que tais produtos tenham sido oferecidos. Outros indícios são as partidas organizadas no Clube de Regatas Pernambucano, criado em 1885 (Leone NASCIMENTO; Joanna SILVA, 2011), também dinamizado por associados britânicos (JORNAL DO RECIFE, 25/12/1886, p. 1).

Esse mesmo grupo, em 1887, publicou, em inglês, anúncios convidando os interessados a se reunirem para disputar partidas na quadra particular de Thomaz Fellows, um dos líderes das iniciativas, ocasiões nas quais se discutiu o regulamento do Pernambuco Lawn Tennis Club (DIÁRIO DE PERNAMBUCO, 16/10/1889, p. 6), instalado no Beco do Padre Inglês, no bairro da Boa Vista, onde vivia boa parte da colônia britânica.

Essa agremiação manteve-se ativa pelo menos até 1901. Todavia, pouco sabemos sobre suas atividades, praticamente não difundidas pelos jornais locais, bem à moda dos britânicos, sempre reservados em suas iniciativas. Somente se encontram anúncios de suas assembleias anuais, publicados em inglês. Mais informações apenas quando algo era noticiado no The Rio News, nada muito extenso.

Todos os envolvidos eram da colônia de britânicos. No tocante às mulheres, não encontramos indícios de partidas de simples ou duplas femininas, mas sim de duplas mistas (THE RIO NEWS, 26/02/1901, p. 3). Podemos especular que tenha havido muitos jogos entre as associadas no cotidiano do clube, tendo em conta o que ocorria na Grã-Bretanha, no Rio de Janeiro e em São Paulo, outro estado no qual se estruturou a prática do tênis nos anos 1890.

Santos e São Paulo são cidades paulistas nas quais, na transição dos séculos XIX e XX, também cresceu o número de anglófonos em função dos interesses ligados à agricultura cafeeira (comércio exterior), movimentos de industrialização e reformas urbanas. Como usual, nesses municípios foram criadas agremiações esportivas protagonizadas por britânicos.

Em 1889, foi fundado o Santos Athletic Club, uma iniciativa de funcionários da São Paulo Railway (empresa ferroviária) e da The City of Santos Improvements Company (responsável por serviços urbanos diversos). Organizando suas atividades nas areias da praia ou em propriedades particulares até a inauguração de sua sede, em 1899, no bairro José Menino, logo tornou-se um importante dinamizador do esporte naquela cidade, especialmente no que se refere aos jogos de críquete, mas também no tocante às provas de sports athleticos e partidas de lawn tennis (Marina VIEIRA, 2010). Já em 1892, eram promovidos torneios dessa modalidade, disputas de simples e duplas masculinas, sempre com participação exclusiva de britânicos (THE RIO NEWS, 19/01/1892, p. 3).

Assim como nas outras agremiações de britânicos, no decorrer do tempo mais e mais mulheres participavam. Uma observação de um cronista, contudo, nos permite ver uma comum ocorrência, um sinal de que se tratava de um avanço, mas também de um enquadramento: “É com satisfação que constatamos que as mulheres de Santos que se interessam por tênis e críquete organizaram o chá na maioria dos dias de jogos e esperamos que o chá da tarde se torne uma característica social do clube” (THE RIO NEWS, 23/05/1899, p. 4). Celebrava-se seu envolvimento com os jogos, mas ressaltava-se que deveriam também cumprir um papel social tradicional destinado à mulher.

Na capital do estado, São Paulo, houve outra iniciativa notável. Em 1893, foi criado o Club Lawn Tennis Paulistano, que possuía também instalações para o croquet e o tiro com arco, modalidades que, na Inglaterra, contavam com maior presença feminina. Segundo um cronista, na sua fundação o clube contava com cento e cinquenta associados, metade deles eram brasileiros (THE RIO NEWS, 23/05/1893, p. 3).

No torneio inaugural houve partidas de simples e duplas masculinas, mas também de simples femininas (final entre Mrs. Fox e Miss N. Madeley), de duplas femininas (final entre Mrs. Fox/D. Rosana de Barros e N. Madeley/D. Otilia de Barros) e duplas mistas (final entre D. Otilia de Barros/Dr. Strain e Miss N. Madeley/Mr. C. Inge) (THE RIO NEWS, 23/05/1893, p. 3).

Não conseguimos muitas informações sobre essas brasileiras tenistas. Provavelmente, eram parte da elite paulistana. Devemos lembrar que Barros era uma família influente na São Paulo do século XIX, ainda que não tenhamos certeza de que as jogadoras eram a ela ligadas. De toda forma, no caso desse clube, deve-se destacar tanto a maior participação feminina quanto a convivência mais intensa entre nacionais e britânicos, algo que certamente potencializou os trânsitos culturais, processo importante na difusão de novos costumes, não apenas no que se refere à maior presença das mulheres na cena pública, mas também no tocante aos hábitos esportivos. Não era somente mais uma agremiação de anglófonos, pois brasileiros(as) já tomavam parte ativa nas contendas.

Com relação à prática do tênis na capital paulista, destaca-se ainda a importância do São Paulo Athletic Club, fundado em 1888, no bairro Bom Retiro. Dinamizado por britânicos, foi um dos que mais se abriu ao contato com a sociedade local, sendo peça importante na divulgação da prática esportiva. Seus festivais de diferentes modalidades se tornaram ocasiões célebres e valorizadas, ainda mais quando havia disputas com o Santos Athletic Club, uma rivalidade que foi fértil propaganda do esporte (Matthew BROWN; Gloria LANCI, 2015).

Além disso, foi seu associado um dos primeiros ídolos esportivos da cidade, Charles Miller, que se tornou mais conhecido por suas iniciativas de estruturação do futebol, mas esteve envolvido com as mais diferentes modalidades, inclusive o tênis (John MILLS, 2005). Em 1900, houve um grande incremento na prática desse esporte no São Paulo Athletic Club em função de sua junção com o Club Lawn Tennis Paulistano (THE RIO NEWS, 26/06/1900, p. 4).

Com isso, aumentou ainda mais o protagonismo feminino no jogo das raquetes. Progressivamente, tornava-se comum encontrar mulheres praticando o tênis, ainda que seguissem as limitações, restrições e estranhamentos com esse novo perfil.

Nessa transição de séculos, a prática da modalidade deu também importantes passos no Rio de Janeiro. Na verdade, ainda mais na cidade de Niterói, onde foi fundado, em 1897, no bairro de Icaraí, o Rio Cricket and Athletic Association, fruto de uma dissidência no antigo Rio Cricket Club.

Nas instalações da antiga agremiação, fora fundado, em 1893, o Club Brazileiro de Cricket, que deixou de existir dando origem, em 1899, ao Paissandu Cricket Club (MELO, 2017). Nesses dois clubes, estruturou-se também a prática do tênis, ocorrendo algo similar ao que se passara no Clube Lawn Tennis Paulistano: maior trânsito cultural por serem integrados por brasileiros e britânicos.

Já a sociedade esportiva de Niterói era formada majoritariamente por britânicos. Sua sede, inaugurada em 1898, destacou-se pelo conforto e possibilidade de prática de muitas modalidades, entre as quais o esporte das raquetes. Claramente, desde o início, esperava-se “que as senhoras [estariam] presentes para cuidar do tênis na grama e das xícaras de chá” (THE RIO NEWS, 07/06/1898, p. 7). Perceba-se que, a exemplo do que ocorreu com a agremiação de Santos, de um lado, dava-se sequência ao processo de ampliação da participação social de mulheres, de outro, reforçavam-se papéis sociais tradicionais.

O tênis não era o principal esporte da nova agremiação, mas tinha sempre seu espaço garantido, integrando, inclusive, o calendário anual de atividades. Pelas páginas do The Rio News, identifica-se a boa quantidade de jogos e campeonatos disputados entre os associados, com tenistas de clubes fluminenses, bem como com funcionários de empresas de capital britânico, como o London and Brazilian Bank e a The Western Brazilian Telegraph. As partidas eram disputadas nas sedes de Icaraí (Rio Cricket and Athletic) e de Laranjeiras (Paissandu), mas também em Copacabana, onde viviam muitos britânicos.

Vale citar que o esporte era também praticado por diretores de indústrias têxteis, muitas fundadas na virada do século. Destaca-se a Companhia Progresso Industrial do Brasil, cujos funcionários, em 1904, criaram o Bangu Athletic Club, no qual se praticava o críquete, o futebol e o tênis. Mesmo fugindo ao recorte de nosso estudo, vale a referência por ter levado a modalidade para os subúrbios do Rio de Janeiro (Nei SANTOS JUNIOR, 2017).

Em todas essas iniciativas, partidas femininas eram usuais e, em muitas ocasiões, citadas como exemplo do crescimento generalizado da atenção dada ao esporte. Numa competição promovida pelo Paissandu, uma saudação especial foi prestada às mulheres “pelo impulso dado e pelo aumento do interesse no tênis na grama ocasionado em grande parte pela sua presença constante, tanto como jogadoras quanto como espectadoras” (THE RIO NEWS, 24/10/1899, p. 3). Não é uma referência menor. Trata-se de um reconhecimento explícito não somente de sua possibilidade de participação, como também de sua importância.

Os torneios, cada vez mais estruturados, sempre tinham disputas de simples femininas e duplas mistas. Um balanço das partidas disputadas apenas no Paissandu, no ano de 1899, nos permite ter um indicador de como a prática entre as mulheres se desenvolvera. Contando apenas os torneios ‘oficiais’ relatados no The Rio News, isto é, desconsiderando os jogos do cotidiano (estes certamente foram em número bem maior), realizaram-se vinte e seis partidas de simples masculinas, oito de simples femininas, dezessete de duplas masculinas e oito de duplas femininas, isso sem mencionar as duplas mistas, que não foram informadas (THE RIO NEWS, 01/08/1899, p. 5).

As competidoras tinham em comum o fato de que suas famílias - pais, irmãos, cônjuges - estavam também envolvidas com a prática do tênis ou outras modalidades. Ainda grassavam os sobrenomes britânicos. Mudanças, todavia, estavam em curso. Em algumas ocasiões, podiam participar das competições apenas associados(as). Em outras, a inscrição era aberta a qualquer um que pagasse uma taxa (THE RIO NEWS, 27/09/1898, p. 4). Nesse cenário, cada vez mais brasileiros(as) começaram a tomar parte nas competições.

Há de se ter em conta que ainda era um grupo limitado, inclusive no que concerne à classe social: mulheres das elites participando das celebrações específicas desse estrato. De toda maneira, é digna de nota a ampliação de sua possibilidade de participação e envolvimento esportivo. Como bem salientado, algo que bem se aplica ao caso do tênis:

A emancipação feminina foi, durante essa época, iniciada e mesmo quase inteiramente restrita ao estrato médio e - em forma diferente - aos estratos superiores da sociedade estatisticamente menos significativos. […] era ainda bastante modesta a essa altura, mesmo tendo o período produzido um pequeno - mas sem precedentes - número de mulheres ativas em campos até então restritos exclusivamente aos homens e onde de fato elas se distinguiam notavelmente (Eric HOBSBAWM, 1988, p. 272).

Naquela transição de séculos, vemos o tênis sendo praticado em agremiações não majoritariamente integradas por britânicos. Um exemplo interessante é um evento organizado, em 1900, pelo Cycle Club do Brasil.7 Na programação, houve não apenas três partidas femininas de tênis, como também uma prova de corridas de bicicletas para mulheres (GAZETA DE PETRÓPOLIS, 12/04/1900, p. 4).

No decorrer da primeira década do século XX, a modalidade se espraiou, sempre mantendo um perfil mais elitista, praticada quase que exclusivamente nos clubes esportivos das elites. De fato, não há que menosprezar sua importância no que tange à promoção de encontros entre homens e mulheres na cena pública. Em conjunto com outros esportes e iniciativas de outros âmbitos, foi sinal de que se ampliava a visibilidade social feminina, sempre com negociações e conflitos. As mudanças no campo esportivo ainda foram sutis, como o citado processo de maior aceitabilidade e mesmo convite a sua associação aos clubes. Isso não significa que tenham sido intervenções pouco importantes na mesma proporção em que abriram espaços para relevantes alterações futuras.

A prática de tênis foi, efetivamente, mais uma das estratégias mobilizadas pelas mulheres no sentido de afirmar uma subjetividade divergente dos enquadramentos masculinos, ainda que também tivessem esses em conta nos processos de negociação e conquista de novos espaços. Nesse cenário, estava em disputa uma nova possibilidade de exposição corporal, aspecto que ficava claro nos debates sobre as vestimentas adequadas para o exercício do esporte das raquetes.

A questão da vestimenta

O debate sobre o uso de vestimentas adequadas bem expressou as conquistas, limites e tensões que cercaram a participação de mulheres no mundo do tênis. De início, tinha-se mais em conta um papel a elas concebido de embelezar o espetáculo, bem como preocupações com sua exibição corporal. As roupas deveriam ressaltar sua graciosidade sem ferir o pudor. Tais concepções “reforçaram as ideias populares biológico-deterministas sobre a inadequação geral das mulheres ao esporte em função de sua fragilidade inerente e inferioridade física” (LAKE, 2012, p. 695, tradução nossa).

As jogadoras, todavia, passaram a reivindicar roupas mais adequadas tendo em vista sua performance na quadra. Se a princípio, o tênis era uma atividade de lazer pouco engajada, com o passar do tempo, muitas mulheres começaram a melhorar seu desempenho, não desejando mais que as vestimentas limitassem seus movimentos (Hilary MARLAND, 2017). Por vezes, isso significou a adoção de trajes masculinos, o que em si se constituiu em uma atitude transgressora que chocava parte do público (Keith RATHBONE, 2019).

Não sem tensão, até mesmo porque alguns denunciaram o excesso de competitividade feminina, as jogadoras conseguiram algumas distensões já nos anos iniciais do século XX, mesmo que o mundo do tênis, inclusive por seu ethos de classe, sempre tenha se mantido muito cerimonioso no que diz respeito aos trajes (LAKE, 2012).8

Na verdade, o envolvimento com as práticas esportivas foi um dos fatores que contribuiu para a simplificação e maior conforto de tais roupas, algo flagrante no caso do tênis e no andar de bicicletas. A liberdade de movimentos necessária tornava-se incompatível com certos costumes que ainda persistiam, como o do uso do espartilho (Victor MELO, André SCHETINO, 2009). Foi, inclusive, graças ao jogo das raquetes que essa parte do vestuário se tornou independente da saia (MORAIS-ALEXANDRE, 2010).

De fato, paulatinamente, a moda masculina e feminina foi sendo influenciada pelo esporte. Basta lembrar que o tênis, um dos calçados mais utilizados atualmente no mundo, nas mais distintas ocasiões e com os mais diferentes fins, foi originalmente desenvolvido para a prática da modalidade. Vale citar que a relação entre esporte, moda e vestimentas foi abordada por Denise Sant’anna (2000) e Carmen Soares (2011).

Os debates sobre a adequação das vestimentas eram cada vez mais intensos no decorrer do século XX, conforme, inclusive, as mulheres esportistas tornavam-se símbolos de modernidade. Para Rathbone (2019, p. 307): “As roupas que as atletas usavam agiam como um símbolo visual dos debates gerados pelo atleticismo feminino, porque o corpo é o espaço simbólico em que ocorre o drama da socialização. O vestuário esportivo feminino mudou drasticamente […]” (tradução nossa).

No Brasil, percebem-se repercussões desses debates. De fato, o tema já fora abordado no que tange a outras modalidades esportivas, entre as quais a natação e a patinação. Uma das revistas que mais dedicava atenção ao assunto era A Estação, periódico que tinha a moda como assunto principal (Luís CRESTANI, 2008). Em outubro de 1888, na capa, foram apresentadas duas vestimentas femininas para a prática do tênis (Figura 1).

Figura 1
Vestimentas femininas para a prática de tênis

Ainda que talvez dentro dos padrões de elegância da época, tais vestes traziam muita rigorosidade e pouca funcionalidade em termos esportivos. Além disso, o corpo das mulheres não poderia estar exposto. A descrição minuciosa de como confeccionar os trajes dava conta de todas as exigências de estilo e pudor. Tal tendência ainda se manteria assim por alguns anos.

Na década final do século XIX, contudo, alguns periódicos brasileiros começaram a dar conta de que, no cenário internacional, se discutia a adequação das vestimentas femininas exatamente porque “as mulheres da alta sociedade costumam hoje montar cavalo, andar em bicicleta, jogar o lawn tennis e o cricket, remar, subir as montanhas, entregar-se a muitas outras espécies de esporte” (COMÉRCIO DE PORTUGAL, 08/08/1894, p. 2). Pensava-se, assim, em sugerir distensões no vestuário, como a adoção de calças (distintas das usadas pelos homens) em vez das saias. A funcionalidade começava a se apresentar como uma questão relevante.

A proposta demoraria alguns anos para avançar, mesmo no que se refere às vestimentas infantis. Uma curiosa imagem de crianças praticando vários esportes, publicada em 1897, é um indicador da manutenção de antigos pressupostos. Destaca-se a expressão pouco animada dos representados, o que dá ainda mais um ar de armadura às roupas (Figura 2).

Figura 2
Crianças na prática de tênis e outros esportes

Enquanto avançava vagarosamente o padrão das vestimentas esportivas, na imagem a seguir podemos ver outra ocorrência interessante já citada, os esportes influenciando a moda, inclusive denominando trajes e produtos. O vestido representado, ainda muito rigoroso, já era confeccionado com uma flanela lawn tennis, tecido mais leve que começou a ser indicado para roupas do cotidiano (Figura 3).

Figura 3
Vestimenta ‘feminina’ (fim do século XIX)

Numa coluna dedicada a comentar os avanços da moda mundial, publicada em 1901, percebe-se já alguns pequenos avanços nos trajes esportivos, como o uso de tecidos mais leves e padrões de cores mais claros, mesmo que o comprimento ainda fosse longo (Figura 4). Segundo a cronista, “o tênis é um esporte, por excelência, muito higiênico, desenvolve a musculatura, e por isso o vestuário para ele deve ser leve e folgado. Costuma ser feito de flanela, sarja branca, de linho ou de lã clara e leve” (JORNAL DO BRASIL, 08/09/1901, p. 5).

Trata-se de um posicionamento sensivelmente distinto, em que a funcionalidade e o conforto são claramente considerados. Mais ainda, há dois aspectos que merecem destaque: o fato de que era uma cronista mulher a comentar sobre as roupas e a ênfase no desenvolvimento muscular, não mais na ideia de graciosidade.

Figura 4
Tipos de vestes esportivas

Em um número de A Estação de 1903, vemos essa tendência confirmada. Depois de vencido o debate sobre a leveza dos tecidos, se iniciaria a discussão sobre seu comprimento e formato. Paulatinamente, atendiam-se as novas reivindicações femininas, ainda que demorassem muitos anos para que esses aspectos fossem mais bem considerados (Figura 5).

Figura 5
Vestimenta para a prática de tênis

Vale citar que até os dias de hoje há tensões ao redor do tema. Em 2018, no tradicional Torneio de Roland Garros, Serena Williams foi criticada por jogar com um macacão preto, vestimenta que tinha relação com problemas decorrentes da sua gravidez. Para ironizar tal contestação, no torneio seguinte, o US Open, outra importante competição do Grand Slam, a tenista usou uma saia que lembrava o tutu das bailarinas.

Nesse mesmo ano e torneio (US Open, de 2019), a francesa Alizé Cornet foi advertida por rapidamente trocar a camisa em quadra, postura usual e aceita entre os homens. O fato desencadeou grande debate público e muitas críticas às restrições que ainda pendem sob as mulheres (Roberta NINA, 2018).

O importante é perceber que, nos periódicos nacionais do século XIX, se não houve tantos debates sobre a adequação das roupas femininas para a prática do tênis, o tema não deixou de se apresentar, uma vez que também fez parte das negociações e conflitos que cercaram a participação das mulheres no esporte de raquetes, tendo repercussão em outros âmbitos sociais.

Além disso, foi uma expressão das estratégias de subjetivação entabuladas pelas pioneiras que acabaram abrindo espaço no campo esportivo, um território que era, a princípio, bastante árido e nunca deixou de ter uma primazia dos olhares masculinos em sua concepção, estruturação, direção.

Considerações finais

Em 1902, na seção “Folhetim”, um jornal importante da cidade de Niterói, publicou-se a crônica Minha Nora, de autoria de Danielle D’Arthez, pseudônimo da romancista francesa Mathilde Gautier. O escrito aborda a surpresa que ainda causava a nova postura pública feminina, algo para o qual contribuiu a prática de esportes.

Uma senhora estranhava que algumas mulheres adotassem comportamentos ditos masculinos, entre os quais certos hábitos esportivos. Mais ainda, para ela, as jovens não se contentavam em assumir essas posturas nas arquibancadas, tornando-se praticantes de diversas modalidades. Sua neta, todavia, ponderou: “- Vovó, eu sou pela educação física e inglesa… Pela manhã, depois de um banho de imersão, uma corrida a cavalo, um pouco de ginástica, uma partida de tênis, exercício de esgrima… eis o que desenvolve os músculos!” (D’ARTHEZ, 1902, p. 2).

Entre esses esportes citados, com os quais o envolvimento delineava um novo perfil feminino, o tênis tinha como particularidade a mais intensa participação de mulheres, bem como o fato de que partilhavam mais amiúde experiências com os homens. No Brasil, sua estruturação se deu a partir de trânsitos culturais promovidos por britânicos, protagonistas das primeiras experiências. Em alguns anos, as brasileiras começaram a participar das iniciativas da modalidade.

Com relação à tal participação, a despeito dos limites de interpretação encontrados em função das características das fontes, é possível afirmar que houve similaridades com o que se passou no continente europeu. O envolvimento com a modalidade expressou alguns avanços e conquistas no que tange à aceitação de uma maior visibilidade pública das mulheres, mas também resistências e enquadramentos a partir de compreensões tradicionais acerca dos seus papéis sociais, ressalvas vindas de gente de fora dos clubes, mas também de associados envolvidos com as competições.

Nesses debates se manifestavam sobretudo temas relacionados às vestimentas. Os modelos apresentados, a princípio, primavam mais pela elegância e pudor do que pelo conforto e funcionalidade. Com o decorrer do tempo, graças às intervenções femininas, também esses costumes se distenderiam, assim como ocorreu em outros esportes e no cotidiano como um todo.

A prática do tênis, portanto, foi mais uma das estratégias que as mulheres mobilizaram para conquistar maior espaço social, ampliar seu protagonismo, fazer valer seus desejos e ressignificar as experiências públicas de gênero. A modalidade apresentou a um público cada vez maior novas possibilidades de uso e exposição corporal.

Há de se ter em conta que em outras esferas da cidade, inclusive e notadamente no âmbito do entretenimento, já se percebia maior presença delas: “intensidade e rapidez das transformações urbanas na virada do século XX deu novo impulso à dinâmica familiar, neutralizando a supremacia do poder masculino, diversificando as formas de socialização da mulher” (Rosa ARAÚJO, 1993, p. 58).

Enfatiza-se, nesse sentido, a importância dos espaços de lazer no que concerne às novas posturas públicas de mulheres:

o lazer é responsável por uma invasão feminina dos espaços da cidade. Trata-se de um novo domínio, oriundo em grande parte do desenvolvimento urbano, no qual a mulher que a sociedade conservadora oitocentista segregara nas dimensões do privado, retorna às ruas para nelas despender seu tempo livre nas lojas, nos parques, nas casas de espetáculos, nos campos de esportes, nos salões dos clubes recreativos ( Etelvina TRINDADE, 1996, p. 112).

Os avanços eram paulatinos, durante muito tempo enquadrados também pelos interesses masculinos. Um exemplo é o fato de que recorrentemente seriam associadas às mulheres as ideias de ornamento e beleza frágil, manifestas em uma série de limitações estabelecidas no que tange à aparência, ao corpo e ao vestuário.

No decorrer do século XX, as mulheres seguiram encarando os limites, negociando concessões, derrubando barreiras, cada vez mais ocupando espaços nas quadras, piscinas, pistas e campos. No tênis, houve, inclusive, uma grande jogadora brasileira internacionalmente reconhecida, Maria Esther Bueno, que teve uma vitoriosa carreira, sagrando-se campeã nos principais torneios mundiais.

Os preconceitos, estereótipos e desigualdades estão longe de se extinguir, mas devem-se reconhecer os avanços. Nesse sentido, é importante registrar a ação daquelas pioneiras do século XIX que, aproveitando uma série de ocorrências contextuais, começaram a praticar o tênis, apresentar suas reivindicações e ampliar seu espaço de participação, subjetivando aquelas práticas de forma distinta - dos homens. Mais do que expressão de uma cultura esportiva em construção, trata-se de um indicador de que as lutas feministas começavam a melhor se estruturar na sociedade brasileira e, inclusive, nos esportes.

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  • 1
    No Brasil, a versão mais utilizada desse artigo foi publicada em 1995.
  • 2
    A colônia de britânicos era integrada pelos que nasceram no Reino Unido, mas também pelos descendentes natos nos países nos quais estavam estabelecidos, entre os quais o Brasil, normalmente em função de diferentes negócios. O grupo cultivava valores e manifestações da cultura oriunda da Grã-Bretanha.
  • 3
    Os jornais e revistas foram acessados na Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional, consultados pela ocorrência da palavras-chave ‘tênis’ nos períodos do recorte temporal estipulado.
  • 4
    Outro jornal publicado em inglês também foi consultado, o The Brazilian Review, editado por Joseph Phillip Wileman. Especializado em temas econômicos, a partir de certo momento dedicou atenção ao esporte em função da popularidade do assunto na colônia britânica, que teve um aumento significativo na virada dos séculos XIX e XX, especialmente devido a um impulso no movimento de industrialização observável em algumas cidades.
  • 5
    Em várias outras ocasiões, especialmente em suas crônicas publicadas na coluna “As Farpas”, o literato elogiou o tênis, inclusive exaltando sua pertinência para as mulheres.
  • 6
    Estudiosos de gênero demonstram que, historicamente, esse é um discurso usual no que tange ao envolvimento de mulheres com as práticas esportivas (DEVIDE, 2005; GOELLNER, 2016).
  • 7
    Fundado em 1898, foi uma agremiação que reuniu pessoas das elites que moravam ou tinham casa na cidade de Petrópolis.
  • 8
    Para um panorama das mudanças das vestimentas femininas de tênis, ver Paulo MORAIS-ALEXANDRE (2010).
  • Como citar este artigo de acordo com as normas da revista:
    MELO, Victor Andrade de. “Encontros nas quadras de grama: as mulheres e o tênis no Brasil do século XIX”. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 29, n. 2, e79300, 2021
  • Financiamento:
    Grant/Bolsa CNPq - Bolsista de Produtividade em Pesquisa; Faperj - Auxílio “Cientista de nosso Estado”
  • Consentimento de uso de imagens:
    Imagens de uso livre: Hemeroteca Digital Brasileira/Biblioteca Nacional
  • Aprovação do comitê de ética em pesquisa:
    Não se aplica

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    16 Ago 2021
  • Data do Fascículo
    May-Aug 2021

Histórico

  • Recebido
    03 Fev 2021
  • Aceito
    12 Maio 2021
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