Resumos
O siringocistoadenoma papilífero é uma neoplasia anexial benigna rara, com frequente diferenciação apócrina. Localiza-se preferencialmente no couro cabeludo e está associado ao nevo sebáceo em 40% dos casos. Apesar da variabilidade clínica, a histologia é característica. Há relatos da dermatoscopia de tumores anexiais, como poroma écrino, hidradenoma e angio-histiocitoma; porém, até o momento, não há descrição da dermatoscopia do siringocistoadenoma. Apresentamos aspectos dermatoscópicos de um caso de siringocistoadenoma associado a nevo sebáceo, visualizando-se padrão vascular polimorfo e vasos em ferradura.
Avaliação; Dermoscopia; Diagnóstico; Neoplasias de anexos e de apêndices cutâneos; Neoplasias cutâneas
Syringocystadenoma papilliferum is a rare benign adnexal tumor that frequently shows apocrine differentiation. It usually develops on the scalp and is associated with a nevus sebaceus in 40% of cases. Although the clinical presentation may differ, its histology is characteristic. Reports have been made of dermoscopy used in cases of adnexal tumors such as eccrine poromas, hidradenomas and angiohistiocytomas; however, up to the present moment there have been no reports of dermoscopy in a case of syringocystadenoma. This paper describes the dermoscopic features found in a case of syringocystadenoma associated with a nevus sebaceus, revealing a polymorphous vascular pattern including a horseshoe-shaped arrangement of vessels.
Dermoscopy; Diagnosis; Evaluation; Neoplasms, adnexal and skin appendage; Skin neoplasms
IMAGENS EM DERMATOLOGIA
Aspectos dermatoscópicos do siringocistoadenoma papilífero associado a nevo sebáceo* * Trabalho realizado no Hospital Universitário de Brasília - Universidade de Brasília (HUB-UnB) - Brasília (DF), Brasil.
Carolina Barbosa BrunoI; Fernanda Nóbrega CordeiroI; Fernando do Espírito Santo SoaresII; Gustavo Henrique Soares TakanoIII; Larissa Sena Teixeira MendesIV
IPós-graduação. Médica residente de dermatologia do Hospital Universitário de Brasília - Universidade de Brasília (HUB-UnB) - Brasília (DF), Brasil
IIPós-graduação. Médico dermatologista do Hospital Universitário de Brasília - Universidade de Brasília (HUB-UnB) - Brasília (DF), Brasil
IIIProfessor de patologia da Universidade de Brasília (UnB) - Brasília (DF), Brasil
IVPós-graduação. Médica residente de patologia do Hospital Universitário de Brasília - Universidade de Brasília (HUB-UnB) - Brasília (DF), Brasil
Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Carolina Barbosa Bruno SGAN 604/605, Asa Norte 70840-050 Brasília, DF E-mail: carolina.bruno@gmail.com
RESUMO
O siringocistoadenoma papilífero é uma neoplasia anexial benigna rara, com frequente diferenciação apócrina. Localiza-se preferencialmente no couro cabeludo e está associado ao nevo sebáceo em 40% dos casos. Apesar da variabilidade clínica, a histologia é característica. Há relatos da dermatoscopia de tumores anexiais, como poroma écrino, hidradenoma e angio-histiocitoma; porém, até o momento, não há descrição da dermatoscopia do siringocistoadenoma. Apresentamos aspectos dermatoscópicos de um caso de siringocistoadenoma associado a nevo sebáceo, visualizando-se padrão vascular polimorfo e vasos em ferradura.
Palavras-chave: Avaliação; Dermoscopia; Diagnóstico; Neoplasias de anexos e de apêndices cutâneos; Neoplasias cutâneas
INTRODUÇÃO
O siringocistoadenoma papilífero é uma neoplasia anexial benigna incomum, presente em 50% dos casos ao nascimento e, em 15 a 30%, desenvolvida durante a puberdade.1,2 Localiza-se frequentemente no couro cabeludo e na face.3,4 Origina-se de células indiferenciadas com potencial de diferenciação apócrina e écrina, sendo mais comum a presença do componente apócrino.4,5,6 Na maioria dos casos, o siringocistoadenoma papilífero está associado a outras neoplasias benignas, das quais o nevo sebáceo participa em 40% dos casos.3,6 O siringocistoadenoma papilífero e o tricoblastoma são as neoplasias que mais se desenvolvem no nevo sebáceo, porém outras também podem ser encontradas: hidradenoma nodular, siringoma, epitelioma sebáceo, siringoma condroide, triquilemoma, tricoadenoma, carcinoma sebáceo, carcinoma basocelular, cisto triquilemal e proliferações epiteliais basaloides, as quais podem confundir-se com carcinoma basocelular.5
Clinicamente o siringocistoadenoma papilífero apresenta lesões variadas e inespecíficas. O diagnóstico deve ser confirmado por exame histopatológico, ferramenta segura, uma vez que apresenta histologia característica.5 A dermatoscopia, ou microscopia de superfície, é um método para visualização de estruturas localizadas abaixo do estrato córneo.7 Sua principal indicação é o diagnóstico e acompanhamento de lesões pigmentadas da pele, com o objetivo de detectar melanoma na sua fase inicial; entretanto, a sua utilização vem estendendo-se para o estudo de lesões não melanocíticas, patologias de couro cabeludo, unhas e para a avaliação do padrão vascular de neoplasias cutâneas.7 Autores relataram o padrão dermatoscópico de neoplasias anexiais como poroma écrino, hidrocistoma e angio-histiocistoma.8,9,10 Não há na literatura, até o momento, descrição da dermatoscopia do siringocistoadenoma papilífero. Relatamos a clínica, a dermatoscopia e a histopatologia de um caso de siringocistoadenoma papilífero associado a nevo sebáceo e siringoma em uma mulher de 50 anos.
RELATO DE CASO
Paciente feminina, 50 anos, fototipo III, funcionária pública, hígida, apresenta lesão assintomática no couro cabeludo desde o nascimento. Há 15 anos notou modificação da lesão com episódios ocasionais de sangramento após trauma ao escovar os cabelos. Ao exame clínico, placa papulosa alopécica e amareloalaranjada na região parietal esquerda do couro cabeludo. Na periferia dessa placa, evidenciava-se lesão eritematosa, lobular e exofítica, com superfície de aspecto úmido (Figuras 1 e 2).
O exame dermatoscópico da placa papulosa amarelo-alaranjada apresentava estruturas redondas e ovais, isoladas ou agrupadas, de diversos tamanhos e coloração amarelo-esbranquiçada (Figura 3). A dermatoscopia da lesão exofítica demonstrou fundo eritematoso aparentemente dividido por estruturas lineares esbranquiçadas, que delimitavam lóbulos de diferentes tamanhos e continham estruturas vasculares de diversas formas: vasos lineares irregulares, glomerulares, e alguns vasos formando imagem semelhante a uma ferradura (Figura 4). Realizada exérese de toda a lesão.
O exame histopatológico mostrou lesão hamartomatosa, caracterizada por acantose, papilomatose e várias glândulas sebáceas maduras superficializadas, compatível com diagnóstico de nevo sebáceo (Figura 5). Além disso, em área central da epiderme, a papilomatose era mais pronunciada, associando-se a invaginações e projeções papilares, cujo revestimento era cuboidal duplo. A camada luminal estava representada por células com núcleo oval, citoplasma eosinofílico e presença de secreção por decapitação, havendo evidência de debris celulares no lúmen. A camada externa consistia de células cuboidais com citoplasma claro e escasso. No estroma tumoral, presença de infiltrado plasmocitário discreto. Essas alterações caracterizam o siringocistoadenoma papilífero (Figuras 6 e 7). Por fim, foram visualizadas estruturas tubulares compostas por duas fileiras de células claras e com debris amorfos em seu lúmen, compatíveis com siringoma. Feito o diagnóstico de nevo sebáceo, siringocistoadenoma papilífero e siringoma em uma mesma lesão.
DISCUSSÃO
O uso da dermatoscopia para auxílio diagnóstico de tumores cutâneos não melanocíticos é relativamente novo se comparado à sua aplicação nas neoplasias cutâneas melanocíticas.10 Há poucos casos na literatura sobre a dermatoscopia de neoplasias anexiais, e os casos relatados referem-se à dermatoscopia de neoplasias anexiais como o poroma écrino, hidrocistoma e angio-histiocistoma.8,9,10 Entretanto, até o presente momento, não se sabe muito sobre a dermatoscopia do siringocistoadenoma papilífero e do novo sebáceo.
A dermatoscopia do nevo sebáceo mostra estruturas arredondadas com tom amarelo-esbranquiçado, agrupadas ou isoladas, que podem corresponder aos aglomerados de glândulas sebáceas maduras e superficializadas. A dermatoscopia do siringocistoadenoma chama a atenção para um padrão vascular polimorfo em um fundo rosa-leitoso. Esse padrão vascular polimorfo mostra vasos lineares, irregulares e glomerulares, sendo alguns envolvidos por um halo esbranquiçado e outros agrupados, formando o desenho de uma ferradura.
O dermatoscópio é uma ferramenta não invasiva que auxilia no diagnóstico e seguimento evolutivo de lesões dermatológicas, principalmente as melanocíticas.7 Diariamente aprendemos e definimos novos conceitos na dermatologia a partir da dermatoscopia. Não se sabe ainda o seu real valor no diagnóstico das neoplasias anexiais, que costumam ser incaracterísticas ao exame clínico; entretanto, no futuro, espera-se que possa contribuir para a identificação também desse grupo de lesões.
Recebido em 28.11.2010.
Aprovado pelo Conselho Consultivo e aceito para publicação em 24.03.11.
Conflito de interesse: Nenhum
Suporte financeiro: Nenhum
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
23 Jan 2012 -
Data do Fascículo
Dez 2011
Histórico
-
Recebido
28 Nov 2010 -
Aceito
24 Mar 2011