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composições... palavras... imagens... costuras...

composiciones... palabras... imágenes... costuras...

compositions... words... images... stitching...

Resumos

Este exercício de composição é construído com: textos, tecidos, linhas, alfinetes, tesouras, livros e site de artistas, fotografias, programas de editoração, e uma conexão entre os participantes deste trabalho. Elementos que dão forma ao processo de criação gerado nos encontros para mobilização de desejos e ideias, experimentações e produção de audiovisual para apresentação do texto de fechamento do XV Congress of the World Federation of Occupational Therapists, realizado no ano de 2010, no Chile.

Formação crítica; Pensamento crítico; Linguagens; Arte/produção; Recepção estética; Terapia Ocupacional/tendências


Este ejercicio de composición se basa en textos, telas, hilos, alfileres, tijeras, libros y páginas web de artistas, fotografías, programas de edición y una conexión entre los participantes en este estudio. Elementos que conforman el proceso de creación generado en los encuentros para movilización de los deseos y las ideas, la experimentación y la producción audiovisual para la presentación del texto de clausura del XV Congreso de la Federación Mundial de Terapeutas Ocupacionales, en Chile en 2010.

Formación crítica; Pensamiento crítico; Lenguajes; Arte/producción; Recepción estética; Terapia Ocupacional/tendencias


This exercise in composition was constructed using texts, fabric, thread, pins, scissors, books, artists' websites, photographs, editing software and connections between the participants in this work. These elements gave shape to the creative process that was generated in meetings, in order to mobilize desires, ideas, experimentation and audiovisual production for the presentation of the closing keynote address of the 15th Congress of the World Federation of Occupational Therapists, in Chile in 2010.

Critical training; Critical thought; Languages; Art/production; Esthetic reception; Occupational Therapy/trends


CRIAÇÃO

composições... palavras... imagens... costuras...

compositions... words... images... stitching...

composiciones... palabras... imágenes... costuras...

Eliane Dias de Castro; Nara Mitiru de Tani Isoda; Renan Tobias Duarte; Sandra Maria Galheigo; Eduardo Augusto Alves de Almeida

Curso de Terapia Ocupacional, Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional, Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo (USP). Rua Cipotânea, 51, Cidade Universitária. São Paulo, SP, Brasil. 05360-000. elidca@usp.br

Laboratório de estudos e pesquisa Arte, Corpo e Terapia Ocupacional, USP

RESUMO

Este exercício de composição é construído com: textos, tecidos, linhas, alfinetes, tesouras, livros e site de artistas, fotografias, programas de editoração, e uma conexão entre os participantes deste trabalho. Elementos que dão forma ao processo de criação gerado nos encontros para mobilização de desejos e ideias, experimentações e produção de audiovisual para apresentação do texto de fechamento do XV Congress of the World Federation of Occupational Therapists, realizado no ano de 2010, no Chile.

Palavras-chave: Formação crítica. Pensamento crítico. Linguagens. Arte/produção. Recepção estética. Terapia Ocupacional/tendências.

ABSTRACT

This exercise in composition was constructed using texts, fabric, thread, pins, scissors, books, artists' websites, photographs, editing software and connections between the participants in this work. These elements gave shape to the creative process that was generated in meetings, in order to mobilize desires, ideas, experimentation and audiovisual production for the presentation of the closing keynote address of the 15th Congress of the World Federation of Occupational Therapists, in Chile in 2010.

Key words: Critical training. Critical thought. Languages. Art/production. Esthetic reception. Occupational Therapy/trends.

RESUMEN

Este ejercicio de composición se basa en textos, telas, hilos, alfileres, tijeras, libros y páginas web de artistas, fotografías, programas de edición y una conexión entre los participantes en este estudio. Elementos que conforman el proceso de creación generado en los encuentros para movilización de los deseos y las ideas, la experimentación y la producción audiovisual para la presentación del texto de clausura del XV Congreso de la Federación Mundial de Terapeutas Ocupacionales, en Chile en 2010.

Palabras clave: Formación crítica. Pensamiento crítico. Lenguajes. Arte/producción. Recepción estética. Terapia Ocupacional/tendencias.

Agenciamento e criação ou bastidores da composição de imagens

Evento raro ocorreu quando uma terapeuta ocupacional brasileira, professora e colega de trabalho na USP, foi convidada para fazer uma fala de fechamento no Congresso Mundial de Terapia Ocupacional (XV Congress of the World Federation of Occupational Therapists), em maio de 2010, no Chile. Raro porque congressos como esse são, frequentemente, organizados pelas associações mundiais de profissionais e, no contexto da Terapia Ocupacional, como em tantos outros, a América Latina, e em especial o Brasil, configuram uma experiência à margem do pensamento e produção que orienta e afirma o cenário científico. Entretanto, para nossa surpresa, novas forças de composição mobilizaram uma variação e ocuparam um espaço-tempo naquela organização.

A chegada de seu texto e sua vontade de que alguma arte fosse criada para essa apresentação, ativou-nos, terapeutas ocupacionais da interface arte e saúde, para um mergulho nessa implicação. Encontros e conversas foram preparando um plano de sensibilidade, adensado pela leitura: tensões do pensamento e da experiência latino-americana engendraram práticas e reflexões sobre a necessidade de constituição de uma forma de se compreender e fazer Terapia Ocupacional, de abrangência crítica e social, preocupada com a construção dos direitos humanos e com a condição de pobreza da população.

O QUE TEM QUE SER FEITO...

O texto apresentou uma narrativa construída em cinco partes:

> A construção de uma perspectiva ético-política na Terapia Ocupacional brasileira dos anos 1980;

> Os caminhos da Terapia Ocupacional na América Latina;

> As epistemologias do Sul: educação em Terapia Ocupacional, alfabetização política, interdisciplinaridade e interprofissionalidade;

> A invisibilidade social enquanto estratégia de opressão: diálogos para o acesso a direitos;

> Sobre territórios e fronteiras; construção de redes e diálogos na Terapia Ocupacional

(Galheigo, 2011)

Esse 'tônus' inscreveu a necessidade de uma discussão e responsabilização ética e política dos terapeutas ocupacionais da América Latina, pois, ao problematizarmos a história social e política desse território, confrontamos, nas práticas e no desenvolvimento da formação dos estudantes, as marcas dessa realidade e seu impacto na saúde e na vida da maioria de sua população. Agregar às práticas e à formação profissional a 'alfabetização política' e o enfrentamento da invisibilidade deflagra um movimento que tem, na construção da participação social e do poder contratual da população atendida, sua diferença, sua crítica e sua força. O texto aponta, também, a importância da apresentação e costura de experiências que propiciassem a construção de conceitos e estratégias para abrir diálogos, cruzar fronteiras, criar redes e despertar a força dos encontros e das relações de cooperação, agregando resiliência política ao trabalho com as vidas frágeis atendidas.

Uma epistemologia do Sul

assenta em três orientações:

aprender que existe o Sul;

aprender a ir para o Sul;

aprender a partir do Sul e com o Sul.

(Santos, 1995, p.508)

Leituras sucessivas, seleção de passagens e pesquisa de artistas foram alinhavando ideias e produzindo uma afinação de camadas sensíveis para observar as principais ressonâncias disparadas pelo acontecimento. O impulso dessa dimensão criativa registra, também, a memória imaterial do corpo, memória física e emocional da sensação do acompanhamento das vidas nos complexos cenários que percorrem os profissionais de Terapia Ocupacional, nos mais variados contextos de sua intervenção. A dimensão ética e política do acontecimento foi desentranhada aos poucos e sutilmente, e, no refazer das formas, deu presença à dimensão poética.

Escuta... reflexão crítica... compromisso ético-político...

Adotar uma abordagem ética é necessariamente tomar um posicionamento político, na medida em que os saberes e as práticas devem se preocupar com a melhoria da condição humana em uma perspectiva ampliada

(Galheigo, 2011)

Repressão política, democratização, cidadania: trilhando caminhos na América Latina

Com o fim dos regimes autoritários e a reorganização da sociedade civil, o conceito de cidadania tornou-se o eixo central do processo de mudança social e política. [...] Os terapeutas ocupacionais envolvidos nesses processos tiveram que repensar suas práticas, experimentar novas estratégias de ação e se confrontar com novas escolhas éticas e epistemológicas

(Galheigo, 2011)

Epistemologias do Sul: alfabetização política, interdisciplinaridade e interprofissionalidade

[...] Exemplos do que tem sido feito e pode ser feito para que os estudantes compreendam as complexidades das realidades de seus países e as necessidades da população vulnerável, desafiando visões de mundo associadas à classe social e preconceitos étnicos. Assim, o papel da educação é contribuir para a alfabetização política

(Galheigo, 2011)

quem enxerga e não vê,

quem escuta e não ouve,

quem está vivo e não vive,

quem quer e não pede,

quem gosta e não faz,

quem tem e não usa.

(Leonilson, 1991, p.70)

Instigados pela necessidade de inscrever a experiência de um fazer precário na apresentação que acompanharia a conferência, efetivado com parcos recursos, e, também, pela vontade de instaurar ressonâncias sensíveis ao trabalho de terapia ocupacional construído no Brasil, selecionamos modos de produção artística que dialogam com o texto e com as maneiras de sentir e agir produzidas nas vivências práticas dos profissionais, estabelecendo linhas de conexão que possibilitassem uma comunicação peculiar.

Leonilson (2006) foi o primeiro artista que nos veio à mente pela simplicidade lúdica dos gestos, pelas costuras expostas e pela delicadeza de execução das peças. Sua linguagem intimista, seus diários bordados, imperativos formais conectados às condições éticas da vida contemporânea, operaram como tarefa-síntese da inspiração e conectaram algumas sensações vitais que o trabalho instaurava.

Paula Scher (2010), designer americana, trata do impacto emocional e da dinamização das paisagens urbanas na fusão de uma geografia impressionista, sulcando sensações que brotam do contato com os ambientes que as cidades contemporâneas produzem. Seus mapas operam uma experiência de invenção,cheios de interferências cromáticas que formam texturas e tramas variadas sobre aquilo que ela vê; com irreverência, agem como antídoto artístico para a compreensão das cartografias do presente, e essa tensão expressiva orienta um viés da composição.

...maps to invent my own complicated narrative about the way I see and feel about the world. list what I know about the world from memory, from impressions, from media, and from general information overload. These are paintings of distortions.

(Paula Scher, 2011)

Na pesquisa que inspirou a produção das imagens, o repertório artístico desses artistas alinhavava uma possível composição entre processos criativos, projetos estéticos instaurados nas vidas construídas no hemisfério sul e algumas situações vivenciadas ao norte, depreendendo, por um instante, a possibilidade de produção de novos modos de sentir e de dar um sentido ativo a conexões raras no contexto dos congressos científicos.

Mobilizados por essas informações, a produção de imagens foi uma aventura percorrida nas diferentes texturas dos tecidos; no trabalho de cortar, juntar, sobrepor, costurar, formar e, por fim, fotografar e selecionar retalhos de imagens-textos. Essas ações conjugaram séries que dialogam com reflexões sobressaltadas no texto, numa combinação plástica que aciona sínteses. Às vezes, um conjunto de palavras, outras vezes, frases ou, ainda, parágrafos inteiros iam direcionando a operação expressiva. Queríamos que as imagens produzidas ligassem os ouvintes às palavras, e que o fluxo de visualidade transmitisse gestos e formações sensíveis, simplificadas e implicadas, reinventando uma linguagem para intensificar o momento em que as narrativas do trabalho vivo do pensamento disparavam memórias, associações, relações, conexões e reflexões. Ao aguçar sensibilidades por meio da escuta da leitura e do acompanhamento das imagens, procurou-se aprofundar aquilo que seria transmitido, intensificando a desestabilização e apresentando a vontade de uma configuração social mais justa.

Invisibilidade social enquanto estratégia de opressão: diálogos para o acesso a direitos

A produção da invisibilidade social tem sido uma das estratégias políticas de opressão mais bem sucedidas, variando conforme o tempo, o lugar e a cultura. Nos dias de hoje, abordar a questão das necessidades e direitos é considerado improdutivo pela agenda neoliberal. O neoliberalismo se alimenta da invisibilidade social que produz.

(Galheigo, 2011, p.64)

Territórios e fronteiras, construção de redes e diálogos na Terapia Ocupacional

Diferenças pessoais e regionais, interesses, escolhas epistemológicas, posições políticas e visões de mundo podem nos aproximar ou afastar. Irá depender da nossa habilidade em construir relacionamentos que levem em conta os processos históricos que dão forma tanto às realidades que enfrentamos como às perspectivas que sustentamos.

(Galheigo, 2011, p.65)

A trajetória de finalização foi intensa. Horas de um fluxo de produção e acabamento. Numa experimentação precária, criamos uma ambientação que intensificou a vida do texto e a expressão do pensamento. Sem ensaio prévio, a apresentação da conferência foi entremeada pelo potencial inventivo das grandes imagens projetadas no escuro auditório do congresso, formando a ambiência necessária para perturbar experiências, desintoxicar territórios acadêmicos e intensificar trocas e comunicações sensíveis.

Colaboradores

Sandra Galheigo realizou o texto disparador para o Congresso. Eliane Castro, Nara Isoda e Renan Duarte conceberam e produziram as imagens. Eliane Castro e Sandra Galheigo produziram o presente texto. Eduardo Almeida trabalhou no projeto de editoração final.

Recebido em 20/08/13

Aprovado em 25/08/13

  • GALHEIGO, S.M. What needs to be done? Occupational therapy responsibilities and challenges regarding human rights. Aust. Occup. Ther. J., v.58, n.2, p.60-6, 2011.
  • LEONILSON, J. Leonilson: use, é lindo, eu garanto. São Paulo: Cosac Naify, 2006.
  • RANCIÈRE, J. A partilha do sensível São Paulo: Exus Experimental, Ed. 34, 2005.
  • ROLNIK, S. Desentranhando futuros. Rev. Eletr. Jorn. Cient., 2008. Disponível em: <http://www.comciencia.br/comciencia/?section=8&edicao=3>. Acesso em: 19 out. 2012.
  • SANTOS, B.S. Toward a new common sense: law, science and politics in the paradigmatic transition. Nova Iorque: Routeledge, 1995.
  • SCHER, P. Maps. Disponível em: <http://www.brainpickings.org/index.php/paula-scher-maps/>. Acesso em: 1 maio 2010.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    15 Out 2013
  • Data do Fascículo
    Set 2013

Histórico

  • Recebido
    20 Ago 2013
  • Aceito
    25 Ago 2013
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