Resumo
Introdução: A avaliação da qualidade de vida relacionada à saúde (QVRS) dos idosos é importante para a compreensão das condições de vida e saúde da população e o desenvolvimento de políticas voltadas para a saúde e o bem-estar dos mais velhos.
Objetivo: Avaliar se o suporte familiar, fatores sociodemográficos, comportamentos e condições de saúde estão associados à QVRS de idosos não institucionalizados residentes no município de São Paulo.
Método: Realizou-se estudo transversal com dados de idosos que participaram do "Estudo Saúde, Bem-Estar e Envelhecimento" (SABE) no ano de 2015. A variável dependente foi a QVRS, avaliada por meio dos componentes físico (CF) e mental (CM) do Medical Outcomes Study 12-Item Short-Form Health Survey (SF-12). Adotou-se como variáveis independentes fatores demográficos, sociodemográficos; comportamentos; e condição de saúde e suporte familiar. As análises estatísticas foram realizadas por meio da regressão de Poisson.
Resultados: Os fatores associados a menor prevalência de QVRS ruim relativa ao CF foram maior escolaridade RP=0,77), ausência de risco para alcoolismo (RP=0,84), prática de atividade física (RP=0,77) e ter família funcional (RP=0,82). Quanto ao CM, a prevalência de QVRS ruim foi menor nos grupos que praticavam atividade física (RP=0,80) e que tinham família funcional (RP=0,63).
Conclusão: A funcionalidade familiar é um fator importante para a compreensão da QVRS, além das condições sociodemográficas e de saúde.
Palavras-chave:
idoso; qualidade de vida; envelhecimento; relações familiares; apoio social
Abstract
Introduction: The study of health-related quality of life (HRQoL) of the elderly is of importance for understanding the living conditions and health of the population, as well as for the development of health-oriented policies and the well-being of the elderly.
Objective: Assess whether family support, sociodemographic factors, health behaviors, and health conditions are associated with the health-related quality of life of non-institutionalized older adults residing in São Paulo.
Method: This is a cross-sectional study carried out with data from elderly people from São Paulo in 2015, included in the Health, Well-Being and Aging Study. The dependent variable was the HRQoL, assessed through the physical (PC) and mental (MC) components the Medical Outcomes Study 12-Item Short-Form Health Survey (SF-12). Demographic, sociodemographic, behavior, health status and family support factors were adopted as independent variables. Statistical analyses were performed using Poisson regression.
Results: The factors associated with a lower prevalence of poor HRQoL relative to PC were higher education (PR=0.77), no risk of alcoholism (prevalence ratio — PR=0.84), physical activity (PR=0.77) and having a functional family (RP=0.82). As for the MC, the prevalence of poor HRQoL was lower in the groups that practiced physical activity (PR=0.80) and that had a functional family (PR=0.63).
Conclusion: Family functionality is an important factor for understanding the HRQoL, in addition to sociodemographic and health conditions.
Keywords:
aged; quality of life; aging; family relations; social support
INTRODUÇÃO
Diante do rápido envelhecimento populacional e do aumento da expectativa de vida, a maior prevalência de doenças crônico-degenerativas sinaliza uma importante mudança do perfil de morbimortalidade em todo o mundo1. Além disso, nos países em desenvolvimento, como o Brasil, onde a transição demográfica se dá de forma mais acelerada2, o envelhecimento populacional também ocorre em meio a economias frágeis, com níveis crescentes de pobreza e desigualdades socioeconômicas, repercutindo em efeitos não fisiológicos duradouros que afetam consideravelmente o estado de saúde dos indivíduos ao longo de toda a vida3. Nesse contexto, o estudo dos fatores associados à qualidade de vida relacionada à saúde (QVRS) é necessário para a melhor compreensão do processo de envelhecimento e para elaboração de alternativas políticas que visem a promoção de saúde e bem-estar dessa população.
A QVRS baseia-se em uma percepção multidimensional do indivíduo acerca de seu bem-estar, bem como no autorreconhecimento das vulnerabilidades de subgrupos e na autocompreensão do impacto das doenças na vida4.
A pior QVRS é considerada um importante preditor de mortalidade em idosos5 e tem sido associada a fatores demográficos e socioeconômicos, comportamentos de saúde e condições de saúde6,7. Além disso, evidências recentes têm chamado atenção para o impacto positivo do suporte social e das relações familiares8,9 na QVRS. Sabe-se que a família é uma fonte de suporte social significativa para o idoso, pois é o local onde vínculos duradouros, atenção, apoio e cuidado são construídos10-12. Dessa forma, contribui significativamente para a adaptação do idoso às novas realidades ao avançar da idade e frente a situações de estresse, assim como os auxilia no compartilhamento de decisões e responsabilidades11,12, sugerindo, assim, uma contribuição para melhor QVRS desses indivíduos8,9.
Porém, no Brasil, ainda são poucos os estudos que exploraram os fatores associados à QVRS, especialmente no que diz respeito ao suporte social e à funcionalidade familiar7,13,14. Diante disso, o objetivo do presente estudo foi investigar se o suporte familiar, juntamente com fatores sociodemográficos, comportamentos e condições de saúde, estão associados à QVRS de idosos não institucionalizados residentes no município de São Paulo.
METODOLOGIA
Fonte de dados e população do estudo
Foi realizado um estudo transversal, com dados do "Estudo Saúde, Bem-Estar e Envelhecimento" (SABE) do ano de 2015. O SABE foi iniciado em 2000 como uma pesquisa multicêntrica coordenada pela Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS/OMS), que teve por objetivo traçar o perfil das condições de vida e saúde de idosos na América Latina e no Caribe a fim de orientar a carga de demandas futuras da população15.
Em 2006, o SABE passou a ser um estudo de coorte apenas em São Paulo. Desde então, o estudo foi realizado em intervalos de 5 anos, usando uma amostra representativa probabilística de pessoas com 60 anos ou mais. Em cada onda, novos participantes de 60 a 64 anos foram incluídos para manter a representatividade dessa faixa etária. As informações detalhadas do estudo podem ser encontradas em publicação anterior15.
No presente estudo, incluímos 1.111 indivíduos de 2015. Somente indivíduos com informações completas para todas as variáveis foram incluídos na presente análise.
Considerações éticas
Contemplando as diretrizes de ética em pesquisa, o Estudo SABE foi submetido ao Comitê de Ética da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo e sempre obteve aprovação (parecer n.o 3.600.782). Os participantes da pesquisa assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Variáveis do estudo
Variáveis dependentes
A QVRS foi avaliada pelo Medical Outcomes Study 12-Item Short-Form Health Survey (SF-12). O SF-12 é composto por 12 itens distribuídos em 8 dimensões, e suas respostas foram sumarizadas em dois componentes, sendo um físico e o outro mental. O componente físico consiste na percepção dos indivíduos sobre as dimensões: capacidade funcional, aspectos físicos, dor e saúde geral. O componente mental considera as dimensões: vitalidade, aspectos sociais e aspectos emocionais e de saúde mental16. Os escores obtidos nos 2 componentes podem variar de 0 a 100, sendo que quanto maior o escore, melhor é a QVRS.
Para o presente estudo, as pontuações do componente físico e componente mental foram dicotomizadas pelo valor da mediana, conforme estudos prévios17,18. Assim, escores acima da mediana foram considerados como QVRS boa e escores abaixo da mediana foram considerados como QVRS ruim17,18.
Variáveis independentes
As variáveis independentes foram divididas em cinco grupos: demográfico (sexo [masculino, feminino] e idade [60-69 anos, 70-79 anos e 80 anos ou mais]), socioeconômico (escolaridade [0-3 anos, 4-7 anos e 8 anos ou mais] e renda), comportamentos de saúde (prática de atividade física, risco para alcoolismo e tabagismo), suporte familiar (funcionalidade familiar e arranjo familiar) e condição de saúde (multimorbidade). A autopercepção de adequação de renda foi avaliada perguntando: "Você acha que tem dinheiro suficiente para cobrir suas despesas diárias?" As opções de resposta eram "sim" e "não". A prática de atividade física foi avaliada por meio da versão reduzida do International Physical Activity Questionnaire (IPAQ)19. Esse instrumento tem por objetivo verificar quais tipos de atividade física as pessoas fazem como parte do seu dia a dia. As perguntas relacionam-se ao tempo gasto fazendo atividade física na última semana, incluindo as realizadas no trabalho, deslocando de um lugar a outro, por lazer, por esporte, por exercício ou como parte de suas atividades em casa ou no jardim. Foram considerados ativos os idosos que realizaram pelo menos 150 minutos semanais de atividade física com intensidade moderada, ou 75 minutos semanais de atividade vigorosa.
A variável "risco para alcoolismo" foi analisada por meio da questão: "Nos últimos três meses, em média, quantos dias por semana você bebeu álcool?" (por exemplo: cerveja, vinho, conhaque ou outras bebidas que contenham álcool) e por meio da versão geriátrica do Michigan Alcoholism Screening Test (MAST). O MAST é uma ferramenta de rastreamento do consumo excessivo/prejudicial de álcool desenvolvida por Selzer em 197120 e adaptada para a população geriátrica21. Os idosos que relataram beber álcool "menos de uma vez por semana" até "todos os dias da semana" foram subdivididos de acordo com o ponto de corte do MAST (<2 pontos=não alcoólico; >2 e <10 pontos=alcoólatra). A variável final foi categorizada em "não bebe"=0; "sem risco para alcoolismo"=1; "Em risco de alcoolismo"=2.
O atual status de tabagismo foi avaliado pela seguinte questão: "Você tem ou teve o hábito de fumar?" As opções de resposta eram: "atualmente fumo"; "fumei, mas não fumo mais"; "nunca fumei".
A funcionalidade da família foi avaliada usando o instrumento "Family APGAR", que consiste em cinco questões que permitem a medição da satisfação dos membros da família com cinco componentes considerados básicos na unidade e funcionalidade de qualquer família: adaptação, companheirismo, desenvolvimento, afetividade e capacidade de resolução. Sua pontuação varia de 0 a 20, e quanto maior a pontuação, melhor é a funcionalidade da família. O instrumento foi desenvolvido nos Estados Unidos22, sendo posteriormente traduzido e adaptado para ser aplicado a adultos mais velhos no Brasil23. Neste estudo, pontuações de 0 a 12 foram categorizadas como famílias disfuncionais e pontuações de 13 a 20, como famílias funcionais19.
O arranjo familiar foi avaliado pela junção das variáveis "estado civil" e "morando sozinho ou com outras pessoas" e classificado em sem companheiro e não mora só; sem companheiro e mora só.
A multimorbidade foi definida como a presença de duas ou mais doenças crônicas (versus uma ou nenhuma). As doenças foram avaliadas por meio da questão "Alguma vez um médico ou enfermeira disse que o(a) Sr(a). tinha [doença]?", abrangendo as doenças hipertensão, diabetes, doença crônica pulmonar, doença cardíaca, doença cerebrovascular, doença articular e osteoporose.
Análise estatística
Estatística descritiva (percentuais e IC95%) foi utilizada para descrever as características da amostra do estudo. As análises das associações entre as variáveis independentes e os desfechos foram baseadas em razões de prevalência e intervalos de confiança de 95% estimados por meio da regressão de Poisson univariada e multivariada. As variáveis independentes que apresentaram um p < 0,20 na análise não ajustada foram incluídas no modelo ajustado. As análises foram realizadas por meio do programa Stata 14.0 (Stata Corp., College Station, Estados Unidos), utilizando-se o comando svy, que permite considerar a estrutura complexa da amostra, inclusive com a atribuição de pesos amostrais.
RESULTADOS
Entre os 1.224 participantes do SABE no ano de 2015, 1.111 possuíam informações completas para todas as variáveis e foram incluídos na presente análise. Entre esses indivíduos, a prevalência de componente físico bom foi de 52%. A prevalência de componente mental bom foi de 51,4%. Verificou-se que a maioria dos participantes eram mulheres (56,4%) e possuíam idade entre 60 e 69 anos (56,1%). Quanto à escolaridade, 29,3% relataram possuir entre 0 e 3 anos de estudo; 38,2%, entre 4 e 7 anos de estudo; e 32,6%, 8 anos de estudo ou mais. Em relação aos comportamentos de saúde, 62,2% não eram fisicamente ativos, 67,4% não bebiam e 48% declararam nunca ter fumado. De acordo com as variáveis de suporte familiar, 13,6% possuíam família disfuncional e 55,7% declararam viver com companheiro. Por fim, em relação à condição de saúde, 41,5% declararam não ter multimorbidade (Tabela 1).
Características dos participantes do "Estudo Saúde, Bem-estar e Envelhecimento" (SABE), 2015
Os resultados da análise não ajustada (Tabela 2) mostram uma maior prevalência de QVRS ruim referente ao componente mental entre as mulheres quando comparadas aos homens, entre os grupos com idade igual ou maior a 80 anos quando comparados aos mais jovens e entre os indivíduos com multimorbidade. De maneira inversa, os indivíduos que praticam atividade física e tem uma família funcional apresentam menor prevalência de QVRS ruim no seu componente mental quando comparados àqueles que não praticam atividade física e têm uma família disfuncional, respectivamente.
Resultados da análise não ajustada dos fatores associados ao componente físico e mental da QVRS ruim de participantes do "Estudo Saúde, Bem-estar e Envelhecimento" (SABE), 2015
A Tabela 2 também mostra que a prevalência de QVRS ruim referente ao componente físico é maior entre as mulheres quando comparadas aos homens, entre os indivíduos com 70 anos ou mais quando comparados aos mais jovens e também entre os que declararam ter renda insuficiente, entre aqueles que não têm companheiros e não vivem só quando comparados aos que têm companheiros, e entre o grupo com multimorbidade. De maneira inversa, indivíduos com 4 anos ou mais de estudo, que praticam atividade física e que têm família funcional, apresentam menor prevalência de QVRS ruim no seu componente físico quando comparados aos indivíduos que têm de 0 a 3 anos de estudo, que não praticam atividade física e que têm família disfuncional, respectivamente.
Na Tabela 3, apresentam-se os resultados da análise ajustada dos fatores associados ao componente físico ruim da QVRS. Observou-se que a prevalência de QVRS ruim no seu componente físico é maior para o sexo feminino em comparação ao sexo masculino (RP=1,34), entre os indivíduos com 80 anos ou mais em comparação à faixa etária 60-69 anos de idade (RP=1,21), entre os que declararam renda insuficiente em comparação à renda suficiente (RP=1,24), e entre os que relataram a presença de multimorbidade em comparação à ausência de multimorbidade (RP=1,63).
Resultados da análise ajustada para os fatores associados ao componente físico e mental da QVRS ruim. "Estudo Saúde, Bem-Estar e Envelhecimento (SABE)", 2015
Apresentaram menor prevalência de QVRS ruim no componente físico os indivíduos que relataram ter 8 ou mais anos de escolaridade em comparação ao nível de 0 a 3 anos de escolaridade (RP=0,77), aqueles que praticam atividade física em comparação aos que não praticam (RP=0,77), os que relataram ausência de risco para o alcoolismo em comparação à presença de risco para alcoolismo (RP=0,84), e os que tinham família funcional em comparação aos que tinham família disfuncional (RP=0,82) (Tabela 3).
A Tabela 3 também mostra os resultados da análise ajustada dos fatores associados ao componente mental ruim da QVRS. Observou-se maior prevalência de QVRS ruim no componente mental no sexo feminino em comparação ao sexo masculino (RP=1,20) e entre os indivíduos que relataram a presença de multimorbidade em comparação à ausência de multimorbidade (RP=1,23). Além disso, observou-se menor prevalência de QVRS ruim no componente mental entre os grupos que praticavam atividade física quando comparados aos que não praticavam atividade física (RP=0,81) e entre os indivíduos que relataram ter família funcional em comparação aos que relataram ter família disfuncional (RP=0,63).
DISCUSSÃO
Os resultados do presente estudo sugerem que a funcionalidade familiar está associada a menor prevalência de QVRS ruim, tanto no seu componente físico quanto no mental. Além disso, fatores sociodemográficos, condição de saúde e fatores relativos ao estilo de vida também foram associados à QVRS ruim.
Este estudo chama a atenção para a importância das relações sociais para a QVRS dos idosos, corroborando achados prévios, especialmente em relação ao componente mental8,9,24,25. Estudo recente, realizado a partir de coorte de idosos brasileiros, verificou que a funcionalidade familiar atua como fator protetor; idosos inseridos em famílias funcionais apresentaram melhores avaliações no componente mental da QVRS9. Por meio da participação ativa e construção de redes sociais, as relações sociais podem prover a melhoria da saúde mental26. Assim, o suporte social proveniente da família, que é uma das principais fontes de suporte social do idoso, pode atuar como um possível fator de proteção contra as tensões geradas pelo cotidiano12,26, contribuindo para uma melhor percepção da QVRS.
A menor prevalência de QVRS ruim no componente físico e mental entre indivíduos que fazem atividade física, observada em outros estudos27,28, também reforça o papel das relações sociais para a melhoria da qualidade de vida. Entre as possíveis explicações para essa associação, pode-se destacar o impacto positivo da atividade física sobre a saúde mental29,30 e o seu efeito positivo sobre as redes sociais, o apoio social e a redução do isolamento social e do sentimento de solidão31-34. A prática de atividade física também tem efeitos significativos para a prevenção de doenças crônicas e limitações funcionais35, condições estas que estão relacionadas a melhor QVRS25,36.
Quanto aos fatores sociodemográficos, as evidências acerca da relação entre a idade e a QVRS ainda são inconsistentes36, porém as diferenças socioeconômicas têm sido consistentemente observadas6,7. Conforme achados prévios6,7,37, a prevalência de QVRS ruim no componente físico foi maior entre os indivíduos com maior idade. Porém, outros estudos não observaram associação entre idade e componente mental da QVRS ruim37,38. Essa ausência de associação pode ser atribuída a melhor aceitação das limitações físicas36, avaliação mais realista das próprias forças, limitações com melhores habilidades ou expectativas de enfrentamento37 e maior estabilidade emocional por parte dos idosos36.
No que se refere aos fatores socioeconômicos, conforme estudo prévio realizado no Brasil39, somente o componente físico da QVRS esteve associado à renda e escolaridade dos entrevistados. Essa associação pode estar relacionada ao fato de que as pessoas com piores condições socioeconômicas, geralmente, apresentam menor acesso aos serviços de saúde40 e maior prevalência de limitações funcionais41,42.
Como vantagens deste estudo, destaca-se o fato de terem sido utilizados dados de uma grande pesquisa de coorte domiciliar que representam os idosos da maior cidade do Brasil. Além disso, a QVRS foi medida usando um método amplamente utilizado na literatura, permitindo futuras comparações entre os estudos. Entre as limitações estão o uso de dados autorreferidos e o caráter transversal deste estudo, que não permite identificar uma relação causal entre a QVRS e as variáveis investigadas.
Este trabalho fornece informações relevantes sobre fatores associados à QVRS de idosos e ressalta o importante papel do suporte social e das desigualdades socioeconômicas para a manutenção da QVRS nesta população. Diante do rápido envelhecimento da população brasileira e aumento das iniquidades sociais, o suporte social fornecido pela família tem sido cada vez mais demandado frente ao cuidado para com a pessoa idosa. Nesse contexto, o papel e as necessidades da família devem ser avaliados pelos profissionais de saúde e suportados pelas políticas públicas voltadas para o cuidado e suporte social. Por fim, sugere-se que novos estudos investiguem quais tipos e intensidades de cuidados estão sendo ofertados aos idosos para garantir que envelheçam com QVRS.
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