Resumo
As startups são empresas que apresentam modelos de negócios marcados pela inovação, rapidez, flexibilidade e alta capacidade de adaptação aos mercados. Atuando em diferentes setores socioeconômicos, elas prometem criar e transformar produtos e serviços. A emergência e disseminação dessas empresas ocorrem em um momento histórico de mudanças iniciadas a partir de 1970 e marcadas pelas crises geradas com o esgotamento do paradigma da sociedade urbano industrial. No Brasil, o número desse modelo de negócio apresentou uma expansão expressiva, alcançando a marca de 13.374 nos últimos cinco anos. Atento a esse cenário, o objetivo desta pesquisa consistiu em compreender como sujeitos, grupos e instituições atribuem sentidos à experiência de trabalho nas chamadas startups. Na parte teórica, as condições sociais e econômicas que possibilitaram a emergência e disseminação das startups são analisadas em uma perspectiva crítica. A parte empírica, por sua vez, apresenta depoimentos de empreendedores relatando o contexto geral de atuação nas startups. Ao final deste artigo, conclui-se que há uma instrumentalização capitalística de componentes subjetivos específicos selecionados e colocados em circulação para fortalecer o modo de produção capitalista financeirizado.
Palavras-chave: Startup; Capitalismo; Subjetividade; Trabalho; Psicologia Social
Abstract
Startups are companies that have business models characterized by innovation, speed, flexibility, and a high capacity to adapt to markets. Operating in different socioeconomic sectors, they promise to create and transform products and services. The emergence and dissemination of these companies occur at a historical moment of changes that began from 1970 and are marked by the crises generated by the exhaustion of the paradigm of industrial urban society. In Brazil, the number of businesses in this model showed a significant expansion, reaching 13,374 companies in the last five years. Attentive to this scenario, the objective of this research was to understand how subjects, groups, and institutions attribute meanings to the work experience in so-called startups. In the theoretical part, the social and economic conditions that enabled the emergence and dissemination of startups are analyzed in a critical perspective. The empirical part presents entrepreneurs reporting the general context of action in startups. At the end of this article, it is concluded that there is a capitalistic instrumentalization of specific subjective components that are selected and put into circulation to strengthen the financed capitalist production.
Keywords: Startup; Capitalism; Subjectivity; Work; Social Psychology
Resumen
Las startups son empresas que tienen modelos de negocio marcados por la innovación, la velocidad, la flexibilidad y una alta capacidad de adaptación a los mercados. Desde diferentes sectores socioeconómicos, las startups prometen crear y transformar productos y servicios. La aparición y difusión de estas empresas se produce en un momento histórico de cambios que comenzó a partir de 1970 y que está marcado por crisis generadas por el agotamiento del paradigma de la sociedad urbana industrial. En Brasil, estas empresas se expandieron significativamente alcanzando la marca de 13.374 empresas en los últimos cinco años. En este escenario, el objetivo de esta investigación fue entender cómo los sujetos, grupos e instituciones atribuyen significados a la experiencia laboral en las startups. En la parte teórica, se analizan las condiciones sociales y económicas que permitieron el surgimiento y la difusión de las startups en una perspectiva crítica. La parte empírica presenta testimonios de emprendedores que informan sobre el trabajo en startups. La investigación concluye que hay una instrumentalización capitalista de componentes subjetivos específicos que se seleccionan y ponen en circulación para fortalecer el modo de producción capitalista financiero.
Palabras clave: Startup; Capitalismo; Subjetividad; Trabajo; Psicología Social
Introdução
As startups estão no epicentro das narrativas sobre o capitalismo contemporâneo como as mais novas tendências de mercado. De maneira veloz, essas empresas têm se inserido na economia do mundo e do Brasil, ganhando espaço entre modelos de negócio que prometem inovar e transformar diferentes setores da economia, por exemplo, indústrias, bancos, serviços, agroindústria e saúde. A imagem que a maioria das pessoas tem delas envolve características de inovação, criatividade, flexibilidade e liberdade de ações. Seus agentes, estruturas e práticas são descritos como jovens, inovadores, flexíveis, vibrantes, criativos e disruptivos, o que remete a qualificativos amplamente idealizados. Com essa descrição, elas criam mercados, produtos e serviços, disseminando, também, maneiras específicas de agir no mundo (Faria, 2018).
A história de disseminação dessas empresas pode ser considerada relativamente recente. Os primeiros passos ocorreram em 1957, nos Estados Unidos. No Brasil, sua chegada remonta à década de 1990, com as chamadas empresas denominadas pontocom. Embora as primeiras iniciativas de startups no Brasil datem dessa época, até 2012 o termo quase não era citado na mídia brasileira. Foi em 2013 que o número começou a crescer e, em pouco tempo, já ocupava diferentes manchetes das mídias de negócios (Maia, 2016). Entre 2015 e 2020, o número desse modelo de negócio passou de 4.151 para 13.374, um aumento de 322% (Abstartups, 2020).
Apesar do número ter crescido no país, uma pesquisa realizada pelo Núcleo de Inovação e Empreendedorismo da Fundação Dom Cabral (Nogueira & Oliveira, 2015), mostra que a taxa de mortalidade dessas empresas é alta. Segundo a pesquisa, 25% delas fecham após um ano de abertura, e 50% delas com tempo menor ou igual a quatro anos. Ao comparar com os dados de pequenas empresas apresentados pelo Serviço de Apoio a Pequenas e Médias Empresas (Sebrae), o risco se mostra maior entre as startups. Enquanto 38% das pequenas empresas sobrevivem aos cinco primeiros anos, nas startups, a porcentagem é de 25% para o mesmo intervalo de tempo.
Em termos de definição, a mais aceita é a de Blank e Dorf (Santos, 2016). Para Blank e Dorf: “uma startup é uma organização temporária em busca de um modelo de negócio escalável, repetível e lucrativo” (2014, p. 19). A escalabilidade refere-se ao rápido crescimento em clientes e faturamento sem aumento de recursos. Já a repetibilidade é a possibilidade de entregar o mesmo produto ou serviço inúmeras vezes. Cabe dizer que esse tipo de empreendimento não está relacionado ao tamanho da empresa, à atividade ou ao setor econômico. Assim, até mesmo empresas já consolidadas, que conseguiram personificar seus negócios, valendo-se de novidades, rapidez, flexibilidade e alta capacidade de adaptação às contingências dos mercados; podem ser consideradas startups (Faria, 2018).
Tomando esse cenário em análise, algumas questões deram forma a esta pesquisa: De que maneira as startups conseguem acumular dívidas e prejuízos e, ao mesmo tempo, atrair investimentos gigantescos sem qualquer garantia de lucro? Quais as características desse novo trabalhador que adere a esse modo de empreender? Quais novos contornos as startups estão desenhando no cenário produtivo? Assim, o objetivo deste artigo consistiu em compreender como sujeitos, grupos e instituições atribuem qualidades e sentidos à experiência de trabalho nas chamadas startups. Estruturamos o percurso desta análise em duas partes: teórica e empírica. Na parte teórica, denominada: A organização capitalista e as startups como novas promessas do mercado, são analisadas as condições sociais e econômicas que tornaram o atual contexto econômico fértil para essas empresas crescerem e se disseminarem, assim como, as configurações do trabalho que ganharam forma nesse contexto. A parte empírica, chamada: O capitalismo e a produção de subjetividades, dedica-se a apresentar depoimentos de trabalhadores de startups e analisar a produção do sujeito empreendedor nesse cenário.
Na conclusão, esta pesquisa mostrou que há uma instrumentalização capitalística de sujeitos, grupos e instituições pautada por componentes subjetivos que circulam e disseminam a idealização da juventude, do apreço pelo risco e da flexibilidade à revelia dos complexos problemas sociais e econômicos enfrentados em escala mundial, os quais são responsáveis por gerar uma série de exclusões.
Percurso metodológico
Primeiramente, cabe esclarecer o percurso metodológico trilhado neste artigo. A parte teórica foi elaborada com o aporte da psicologia social em diálogo com a economia, a sociologia, a filosofia e a administração. Buscou-se acompanhar a emergência histórica das startups para, assim, compreender tanto alguns elementos contemporâneos relacionados à produção de subjetividades dos jovens empreendedores quanto às transformações nos modos mais conhecidos de empreender o trabalho. Nessa parte, articulamos as noções de capitalismo financeiro e especulativo, conforme analisado por Maurizio Lazzarato (2017) e Robert Kurz (2000 a ), a subjetividade capitalística estudada por Félix Guattari e Suely Rolnik (1986) e o empreendedor de si na figura do Você/SA delineada por André Gorz (2005).
Na parte empírica, recorremos à abordagem qualitativa para efetuar a coleta, a organização e a análise de dados. A abordagem qualitativa implica um posicionamento teórico, político e metodológico do pesquisador que privilegia o contexto social e a subjetividade em constante transformação. As pesquisas qualitativas, portanto, “ocupam-se de problematizar os acontecimentos em sua emergência histórica” (Mansano, 2014, p. 5). Como estratégia de pesquisa, foi utilizado o estudo de caso, a fim de compreender os processos sociais implicados na história das startups e seus efeitos no cotidiano dos trabalhadores.
Como instrumentos para coleta de dados, foram utilizadas entrevistas semiestruturadas e análise de documentos. As entrevistas semiestruturadas “são adequadas quando o pesquisador deseja apreender a compreensão do mundo do entrevistado e as elaborações que ele usa para fundamentar suas opiniões e crenças” (Godoy, 2010, p. 134). Já os documentos de domínio público utilizados envolveram sites, redes sociais e eventos relacionados a empreendedores e startups que foram citadas pelos participantes como suas referências de sucesso.
O estudo de caso aqui proposto delimitou como unidades de análise duas startups localizadas no interior do estado do Paraná, residentes em uma incubadora vinculada a uma universidade federal. Os critérios de participação foram: funcionamento efetivo por pelo menos seis meses e, no mínimo, dois sócios. Ao total foram entrevistados seis empreendedores. A fim de ampliar as informações coletadas, foram entrevistadas, também, duas pessoas que trabalhavam na incubadora e eram responsáveis por prestar apoio e suporte direto às unidades de análise deste artigo.
Por se tratar de uma pesquisa envolvendo seres humanos, foi observado o disposto na resolução Nº 466/2012, iniciando a coleta de dados somente depois da aprovação do projeto de pesquisa no Comitê de Ética. Além disso, as entrevistas foram realizadas após os esclarecimentos aos participantes quanto à pesquisa, elucidando seus objetivos, metodologia, inserção do sujeito e cuidados éticos. Para preservar o sigilo dos dados, foram utilizados nomes fictícios para os participantes e para as unidades de análise, conforme apresentado na Figura 1, a seguir:
A organização capitalista e as startups como novas promessas de mercado
A emergência das empresas startups ocorre em um momento histórico de mudanças na maneira como profissionais conectam-se ao trabalho, à produção e à geração de renda. Essas mudanças iniciaram-se a partir de 1970 com as crises geradas pelo esgotamento do paradigma da sociedade urbano industrial e a consequente diminuição de postos de trabalho formalizados. Com esse esgotamento, houve uma reconfiguração no dinamismo econômico do capitalismo policentrista e a ascensão de corporações transnacionais sob a dominância financeira (Pochmann, 2016). Logo, por conta da instalação da finança no coração da acumulação capitalista, a especulação financeira passou a ser o motor da economia (Lazzarato, 2017).
Entrou em franca ascensão, desse modo, a globalização da economia e a formação do mercado mundial. Essa nova forma global de economia, que Negri e Hardt (2001) denominam Império, caracteriza-se pela ausência de um centro territorial de poder. Seu exercício acontece de maneira quase ilimitada, sem fronteiras e barreiras fixas. Assim, seus limites são geograficamente abertos e em expansão, incorporando os diversos locais do globo. Para os autores, o conceito de Império:
Postula um regime que efetivamente abrange a totalidade do espaço, ou que de fato governa todo o mundo civilizado... O Império não só administra um território com sua população, mas também cria o próprio mundo que ele habita. Não apenas regula as interações humanas como procura reger diretamente a natureza humana. O objeto do seu governo é a vida social como um todo (Negri & Hardt, 2001, p. 14-15).
No contexto dessa nova economia global e financeira, Kurz (2000a) analisa o papel das empresas da internet que têm criado um absurdo econômico, na qual empresas virtuais com poucos trabalhadores atingem valor de mercado igual ou até mesmo superior a grandes empresas. Conforme afirma o autor, o desenvolvimento tecnológico não cria uma economia e sim funciona e atende ao capitalismo-cassino marcado pela especulação. Ao analisar essas empresas, ele ressalta que “as inúmeras pequenas empresas de Internet, que nos últimos dois anos entraram na bolsa, jamais terão lucros reais. O capital é apenas queimado para obter lucros com a elevação especulativa das cotações das ações” (Kurz, 2000b, s. p.).
Dessa forma, as startups acabam contribuindo para a construção e disseminação desse cenário econômico especulativo. Por serem modelos de negócios considerados escaláveis, as startups não retêm o dinheiro, o serviço ou a empresa em nenhum território. Dessa maneira, a escalabilidade serve aos objetivos especulativos do capitalismo financeiro. Temos, assim, um exemplo sobre como a especulação financeira passou a ser o motor da economia (Lazzarato, 2017).
As empresas da internet, conforme afirma Kurz (2000 a), tornaram-se um segmento do mercado acionário que prolonga o crescimento do capital fictício. Em um contexto econômico pautado na especulação, mesmo que o negócio não apresente lucros e acumule dívidas, ele poderá receber investimentos. Com isso, as startups são impulsionadas pelo capital especulativo. Ao mesmo tempo que mantém aquecido o motor especulativo financeiro, essas tecnologias, consoante analisa Kurz (2000a, p. 2) “dificilmente têm condições de sustentar a prosperidade econômica de toda a sociedade”. Os softwares e hardwares desenvolvidos para internet respondem apenas por uma parcela desse mercado e, mesmo que se considere a inserção no e-commerce e no setor financeiro, isso, segundo Kurz (2000a), mais diminuiu empregos do que fomentou novas vagas. Nesse contexto, o autor levanta o questionamento de como fica o uso do trabalho humano. Um dos desdobramentos dessa situação é que se coloca em curso um distanciamento progressivo entre o trabalho e a proteção social, esta última conquistada por meio de lutas históricas desgastantes e difíceis. Nas palavras de Lazzarato:
Durante muito tempo, ser assalariado era justamente dispor da segurança da condição salarial, o risco era deixado aos empresários que, em contrapartida, tinham a possibilidade de enriquecer. O capitalismo contemporâneo inverteu esta equação. Doravante é o assalariado que está exposto aos riscos da indústria e é o empresário, o acionista, quem está protegido (Lazzarato, 2011, p. 36).
E é precisamente esse distanciamento entre trabalho e direitos sociais que, na análise de Woodcock (2017), tem favorecido a disseminação das startups. Tal qual analisa o autor, essas empresas, apoiadas pelo capital especulativo, têm contribuído com a formação da gig economy ou economia de bico. A gig economy é definida como “uma nova maneira de gerir as empresas pela eficaz terceirização da mão de obra necessária para o trabalho. Essa terceirização é feita mediante classificação errônea, alegando que os trabalhadores na verdade seriam empreiteiros autônomos e independentes” (Woodcock, 2017, p. 18).
Ao conectar prestadores de serviços a usuários, forma-se o que vem sendo chamado de uberização do trabalho, tal qual apresentado por Abílio (2017). Essa nova organização tem em seus principais elementos a ausência dos direitos trabalhistas, a eliminação do vínculo empregatício, bem como a flexibilização da jornada de trabalho e da remuneração. Segundo explica Abílio, na uberização o “trabalhador passa a ser definido como um microempreendedor, que tem liberdade sobre seu próprio trabalho, que não tem patrão, que administra sua própria vida para sobreviver” (2017, p. 22). Embora a empresa tente se legitimar apenas como uma mediadora, responsável por fornecer a infraestrutura para que seus parceiros atuem sem necessidade de vínculo empregatício, vale lembrar, como aponta Abílio, que, nessa mediação, são as empresas que “definem os ganhos do trabalhador, definem e detêm os instrumentos de avaliação sobre o seu trabalho, criam regras e formas de estímulo ao trabalho que se confundem e operam como controles da produtividade do trabalhador” (2017, p. 21).
A liberdade e a flexibilidade que são atribuídas aos trabalhadores atendem apenas ao fortalecimento do capital especulativo. O uso das plataformas on-line implica trabalhadores sem garantias trabalhistas e proteção social, fato que atrai os investidores, porque:
mantém os trabalhadores fora dos livros da empresa e permite que a empresa transfira o risco da demanda para os trabalhadores, ao invés de arcar com esse risco . . . A ascensão dessas empresas tem sido apoiada por um excesso de dinheiro disponível para investimento, o qual precisa ser aplicado, e a “economia do biscate” tornou-se um local para investir, embora a maioria das plataformas ainda esteja por apresentar lucro ou retorno sério (Woodcock, 2017, p. 18).
Assim, no contexto do capitalismo financeiro e com o apoio das startups, é estabelecida uma nova relação entre o capital e o trabalho que “já não se funda no emprego, na redistribuição dos ganhos de produtividade e na proteção social” (Lazzarato, 2011, p. 40). Funda-se, ao contrário, na responsabilização individual pelo próprio sucesso ou fracasso na sobrevivência cotidiana diante das supostas oportunidades lançadas pelo mercado.
A promessa de desenvolvimento econômico e social mostra-se uma saída idealizada, na qual a inovação passa a servir exclusivamente aos investidores e seus ganhos. A presença de investidores no contexto do capitalismo financeiro e do capital especulativo tem um objetivo claro: acumular significativas somas de dinheiro em paraísos fiscais (Lazzarato, 2017; Pochmann, 2018). Diante da ditadura da cifra, consoante afirma Gaulejac (2007), o efeito inevitável é a crise política na qual a democracia, o bem-estar comum e a própria existência humana, ou não, perdem espaço para os debates e para a priorização de interesses financeiros.
Outro elemento importante nessa reorganização da economia foi a mudança no modelo de paradigma da produção serializada (em linhas produtivas) para um modelo de rede (comunicacional). Como analisa Rifkin (2001), as tecnologias modernas, advindas, sobretudo, da internet, tornaram possível uma nova forma de conduzir os negócios, trazendo uma abordagem de conexão de rede instantânea à economia. As redes são mais flexíveis e, portanto, mais adequadas às características voláteis e efêmeras da nova economia financeira. Nessa abordagem, a inovação tecnológica acelerada dita as regras da nova economia em um processo exigente e incansável cujos equipamentos, bens e serviços se tornam obsoletos rapidamente, não fazendo sentido sua propriedade em longo prazo. A principal mudança está na forma de relacionarmos com a propriedade e com o objeto que se almeja acessar. O vínculo com a propriedade, tão presente na era industrial, está começando a enfraquecer para dar espaço à manifestação de outras dimensões, tal qual, o uso e descarte rápido de serviços. A propriedade de um carro, uma casa e outros bens materiais, torna-se cada vez menos importante. Essa nova economia mostra, portanto, uma transição de mercados (propriedades) para redes (acesso flexível) o que possibilitou o nascimento da era do acesso (Rifkin, 2001).
O efeito da abordagem de rede sobre a economia é que o sistema capitalista passa da configuração da posse de bens para uma economia “do acesso a serviços e experiências” (Rifkin, 2001, p. 63). Nesse contexto, a ordem econômica é pensada em termos de contratação temporária de serviços e de experiências que permitam desfrutar de um determinado modo de vida “menos delimitado e mais fluido” (Rifkin, 2001, p. 154). É nessa transformação que as startups encontram seu espaço. O trabalho delas está voltado para proporcionar, por meio de seus serviços, uma melhor experiência para seus usuários. A denominada used experience, conceito advindo da área do design e explorado com frequência no contexto do empreendedorismo de startup, refere-se a todos os aspectos de interação dos usuários com a empresa, seus produtos e serviços, a fim de proporcionar aos usuários experiências tidas como positivas. Na definição de Jacob Nielsen e Don Norman:
O primeiro requisito para uma experiência de usuário exemplar é atender às necessidades exatas do cliente, sem confusão ou incômodo. Em seguida, vem a simplicidade e a elegância que produzem produtos que são uma alegria para possuir, uma alegria para usar (Jacob Nielsen & Don Norman, 2013, p. 1).
Considerando esse cenário, cabe perguntar qual experiência as startups podem oferecer dentro dessa reorganização do modo de produção que prima pela financeirização? Qual o espaço que cabe à experimentação de fato, já que tudo está definido e moldado pelo capital antecipadamente?
Consideramos, neste artigo, que é evocada uma noção de experiência reduzida ao consumo. Sobre isso, Crary (2016) analisa que, no contexto do que denomina capitalismo 24/7, trabalho e consumo devem ocorrer de maneira contínua, ocupando 24 horas por dia nos sete dias da semana e todas as facetas de experiências de vida estão, nesse cenário, devidamente compatíveis e alinhadas às exigências do mercado. Como o autor alerta, o regime 24/7 “é uma zona de insensibilidade, de amnésia, de tudo que impede a possibilidade de experiência” (Crary, 2016, p. 26). Trata-se de um regime que solicita investimento sem prazo, incompleto, incompatível com a vida, levando a experiências empobrecidas e homogeneizadas.
Assim, com a financeirização da economia, a mudança do paradigma de produção para rede e a disseminação do regime 24/7, foi tecido um contexto econômico fértil para as startups crescerem e se disseminarem. Em uma lógica econômica pautada pela especulação financeira, as startups tornam-se grandes apostas especulativas. Elas apoiam-se e se sustentam no mercado financeiro especulativo pelos investimentos de alto risco que apostam em projetos que poderão, no futuro, render dinheiro e se valorizar, tornando-se o mais novo unicórnio, termo amplamente utilizado no contexto das startups para designar empresas que atingem o valor de um bilhão de dólares no mercado de ações.
O capitalismo, no contexto financeirizado acima descrito, também é colocado para participar da produção e controle de subjetividades (Lazzarato, 2017). Na relação entre capital e subjetividade, os agentes que colocam em ação os valores do capitalismo anexam-se cada vez mais às suas práticas e metas. Guattari e Rolnik (1986) compreendem a subjetividade como uma produção social e histórica que ocorre sem cessar e que conta com os mais variados agentes, valores e dispositivos. Segundo eles: “A subjetividade está em circulação nos conjuntos sociais de diferentes tamanhos: ela é essencialmente social, e assumida e vivida por indivíduos em suas existências particulares” (Guattari & Rolnik, 1986, p. 33). Contrariando as concepções de subjetividade como algo natural, essencialista e fixado, bem como se opondo às tradições identitárias, esses autores colocam em evidência o movimento nas suas produções analíticas.
Temos, portanto, uma produção de subjetividades complexa e plural, que ocorre no entrecruzamento de diferentes componentes de subjetivação em circulação na sociedade. Como estamos problematizando as relações contemporâneas de trabalho, cabe salientar que, para Guattari e Rolnik (1986), a produção econômica não se contrapõe às relações de produção subjetiva. A fim de garantir sua expansão, o capitalismo se instala na própria produção de subjetividades, apropriando-se dela. Dessa forma, há nessas reflexões a produção de uma subjetividade capitalística que: fabrica a relação com a produção, com a natureza, com os fatos, com o movimento, com o corpo, com a alimentação, com o presente, com o passado e com o futuro - em suma ela fabrica a relação do homem com o mundo e consigo mesmo.
Rolnik (2003, 2006) vai além e considera que a concretização de um regime depende das relações que se estabelecem com a subjetividade. Para a autora, no caso do capitalismo, a própria necessidade, inerente ao seu funcionamento, de criar esferas de mercado, implica também a produção de novas formas de vida. Assim, para que esse regime continue a ganhar existência e se concretize, é preciso que a produção refinada de componentes de subjetivação esteja concatenada com o mercado (Rolnik, 2003, 2006).
Desde o final do século XX, as mudanças pelas quais o capitalismo passou engendraram a produção de um novo trabalhador. No contexto do capitalismo financeirizado, estar na incerteza, assumir riscos e adotar a flexibilização passam a ser atitudes assumidas como naturais e cotidianas (Richard Sennett, 2006). Desenham-se, assim, pressões para promover a incorporação desses componentes subjetivos que supostamente serão capazes de fomentar a inovação. Quais são, porém, os efeitos concretos sobre a vinculação dos trabalhadores a esse tipo de atividade? É isso que será apresentado na seção seguinte, em que será possível acompanhar os depoimentos de quem já está inserido nesse setor produtivo.
O capitalismo e a produção de subjetividades empreendedoras
Para levar adiante seus negócios, pautados no modo de subjetivação capitalístico, a flexibilidade deve ser assumida cotidianamente nas startups, modelando as ações no trabalho e nas suas redes de apoio. Utilizando como metáfora o efeito dos ventos sobre as árvores, Sennett (2012) explica que a flexibilidade é a “capacidade de ceder e recuperar-se da árvore, o teste e restauração de sua forma. Em termos ideais, o comportamento humano flexível deve ter a mesma força tênsil: ser adaptável a circunstâncias variáveis, mas não quebrados por elas” (2012, p. 51).
Nas startups, as atitudes flexíveis são mais valorizadas do que os conhecimentos técnicos, conforme relata Alfa (startup Tebas, 2020): “Precisa ser adaptável. Adaptável. Muito mais do que habilidade técnica, ser bom tecnicamente em algumas coisas ... Se você não tem esta capacidade de se adaptar e de mudar rápido você morre na praia”. E, indissociável da flexibilidade, está a ampla valorização da juventude. No modo de produção capitalista, para Sennett, “flexibilidade equivale à juventude; rigidez, a idade” (2012, p. 105). Tal valor se vê na fala de Beta (startup, Tebas, 2020), que considera a juventude “como essência da empresa”.
A flexibilidade da juventude, contrapondo-se a uma suposta rigidez de valores trazida pelo avanço da idade, os torna mais maleáveis para assumir riscos e abrir mão de direitos, o que possibilita a emergência de outros requisitos subjetivos, segundo relata Zeta (Incubadora, 2020): “O empreendedor de startup . . . Não que o outro não tenha, mas ele precisa ter mais fé. O empreendedor de startup acredita muito no negócio de risco”. Tal fé divide espaço com o risco que, junto da incerteza, são componentes amplamente valorizados nas startups e servem para diferenciar esse tipo de empreendedor dos tradicionais executivos. Nas palavras de Blank e Dorf, as “startups exigem executivos que se sintam à vontade em meio ao caos, incerteza e as mudanças” (2014, p. 64). Sobre esse empenho em contexto de caos e incerteza, Zeta explica que os empreendedores de startup:
Acreditam muito naquilo de maneira que ele está disposto a fazer qualquer coisa. Abrir mão de todas as outras coisas da vida dele. A pirâmide de Maslow é só alimentação e depois a startup tá logo ali em cima... Eles dedicam 100%, 120% do tempo deles com isso... Aquele conceito do herói de abrir mão das próprias necessidades em prol de uma ideia, de um objetivo (Zeta, 2020).
As mídias de negócios contribuem para colocar em circulação essas características do empreendedorismo, valorizando sua imagem. Ao analisar as principais mídias relacionadas a esse tema, Costa, Barros e Martins (2012) mostram como o empreendedor tem sido celebrado como um herói global. Os textos e imagens veiculados favorecem essa exaltação ao sugerirem que “os empreendedores são donos do seu destino e controlam as incertezas e imprevisibilidades da vida” (2012, p. 371).
O heroísmo assume sua forma dominante na figura do empreendedor. Conforme analisa Ehrenberg (2010), o empreendedor é o modelo do herói à medida que “resume um estilo de vida que põe no comando a tomada de riscos” (2010, p. 13). A celebração do empreendedor como herói emerge dentro de um contexto social e econômico de valorização do homem livre e criativo, em que todos podem ser mestres dos seus próprios destinos (Enriquez, 1997a). Segundo o autor: “Pede-se a cada indivíduo que ele se transforme um combatente, um herói, um radar, capaz de se adaptar a todas as circunstâncias” (Enriquez, 1997b, p. 8). Nos discursos de transformação do empreendedor em herói são construídos itinerários que se aproximam e tornam o universo heroico uma aventura (Erhenberg, 2010). Tal aventura é apresentada como possível e acessível a todos, desde que se tenha vontade de ganhar e se esforcem para tanto. Esse é o entendimento de Gama: “o fundamental é todos os sócios estarem empenhados e com o interesse de fazer aquilo ali crescer. Depois você consegue o resto. Que com interesse você consegue aprender tecnologia, você consegue aprender o financeiro, administração, jurídico” (startup Troia, 2020).
Conforme evidenciado nos enunciados acima, o empreendedor de startup é aquele que se conduz por si mesmo, assumindo riscos, investindo em conhecimentos e valendo-se da flexibilidade para se adaptar a todas as circunstâncias no caminho da inovação e da promessa de mudar o mundo. Os componentes subjetivos em circulação na produção desse sujeito são a coragem de assumir riscos, a afeição pela busca de informações e a flexibilidade. Cabe salientar que a emergência e disseminação desses componentes subjetivos são indissociáveis de uma política neoliberal que tem como escopo “essa multiplicação da forma empresa no interior do corpo social” (Michel Foucault, 2008, p. 203).
O ideal desejado e disseminado volta-se ao empreendedor de si mesmo que “deve agir, pensar e se comportar como uma empresa” (Lazzarato, 2017, p. 67). Pode-se dizer, assim, que, com a incorporação dos valores financeiros nos modos de existência, não há mais exterioridade entre empresa e indivíduo. Delineia-se o empreendedor de si mesmo, a produção do Você S/A (Gorz, 2005). Segundo analisa o autor, a produção do Você S/A coloca em cena uma “visão neoliberal do futuro do trabalho: abolição do regime salarial, auto empreendimento generalizado, subsunção de toda pessoa, de toda vida pelo capital, com o qual cada um se identificará inteiramente” (Gorz, 2005, p. 25). Nas startups isso é visto como um diferencial:
Numa startup você consegue ter um reconhecimento maior... a parte de você sentir a empresa em si. Mesmo que eu tire que empresa é minha, que eu sou sócio. Mas eu vi isso nas pessoas que trabalham para outras startups, mesmo elas sendo funcionárias. Ela se sente como se fosse a empresa. Então, isso é muito bom porque elas vendem o produto, porque elas realmente amam aquele produto. E não por ser obrigadas a estar lá (Gama, startup Troia, 2020).
Conforme defende Lazzarato (2017), o empreendedor de si mesmo é quem melhor exprime as condições de subjetivação do capitalismo financeirizado e contemporâneo. Os valores disseminados pelo empreendedorismo acabam sendo vendidos como ideais a serem consumidas, uma vez que servirão, sob seu ponto de vista, para salvar a humanidade e o planeta. Como forma de garantir sua expansão, os defensores do capitalismo introduziram seus valores na própria produção de subjetividades, fazendo um amplo exercício de apropriação dessa e colocando em circulação elementos subjetivos capitalísticos (Guattari & Rolnik, 1986). Sua instalação hegemônica utiliza como estratégia a produção serializada, padronizada e normalizada de componentes de subjetivação idealizados, disseminando imagens universais e glamourizadas de referência e sucesso (Guattari & Rolnik, 1986). Há assim, uma tentativa de processar a conformação das subjetividades em perfis padrão e identidades globalizadas flexíveis que supostamente alcançam o sucesso, uma vez que mudam seus objetivos e práticas conforme as reações do mercado (Rolnik, 1997). Para atender a mobilidade e velocidade do capital, ocorre, assim, a “produção de kits de perfis-padrão de acordo com cada órbita do mercado, para serem consumidos pelas subjetividades, independentemente de contexto geográfico, nacional, cultural” (Rolnik, 1997, p. 19). Consoante diz a autora:
o capitalismo financeirizado necessita de subjetividades flexíveis e “criativas” que se amoldem, tanto na produção quanto no consumo, aos novos cenários que o mercado não para de introduzir. Em outras palavras, em sua nova dobra o regime necessita produzir subjetividades que tenham suficiente maleabilidade para circular por vários lugares e funções, acompanhando a velocidade dos deslocamentos contínuos e infinitesimais de capital e informação (Rolnik, 2018, p. 85).
Tais imagens estão presentes nos depoimentos quando os participantes evocam os itinerários heroicos dos empreendedores como fontes de inspiração e fascínio. Entre as inspirações citadas estão os Chief Executive Officers (CEO) de outras startups, por exemplo, Elon Musk, bem como, startups de sucesso, tal qual a de delivery Aiqfome. Elon Musk, fundador da Tesla, atua na construção de carros elétricos e da SpaceX, que tem como meta colonizar o espaço. Para os que se aventuram no empreendedorismo, Musk recomenda trabalhar até 100 horas por semana, já que “ninguém conseguiu mudar o mundo com 40 horas de trabalho por semana” (André Langer, 2018). A admiração por Elon Musk fundamenta-se, para Alfa (startup Tebas, 2020), na crença de que “todas as ações da empresa dele tão relacionadas ao propósito da empresa. . . . Não é uma coisa mais voltada para o lucro, mais ao propósito: tem lucro se tiver um propósito bem definido”.
Outra referência empreendedora mencionada nas entrevistas é a startup de delivery Aiqfome. Ômega (startup Tebas, 2020) vê nessa empresa um exemplo de sucesso empreendedor: “Eles trabalham basicamente com a experiência. E eles têm uma equipe muito divertida. Eu gosto do jeito que eles se comunicam. Eu acho uma forma legal deles trabalharem”. A startup tem como uma de suas pretensões ser lembrada como “aquela empresa que te faz acreditar em um mundo melhor!” (startup Tebas, 2020) e convida os internautas, na apresentação do seu site, a entrar no: “Território sagrado dos desajustados: aqueles que nunca tiveram espaço em empresas tradicionais. Talvez por pensar muito, criticar muito, criar muito, idealizar muito, automatizar muito, planejar muito e querer muito mudar o jeito como as coisas são feitas lá fora” (startup Tebas, 2020).
Conforme podemos perceber nos relatos dos participantes e nos registros das empresas em documentos de domínio público, as referências e inspirações com contornos idealizados pelo sucesso são disseminadas como modelo a serem consumidos. Os sujeitos identificados com esses ideais recorrem à imagens prontas que lhe são colocadas à disposição para organizar-se. São as “figuras prêt-à-porter”, consoante descreve Rolnik (1997, p. 21), que se fazem e desfazem, guiadas pelo mercado globalizado. Essa flexibilidade subjetiva, segundo a autora, não segue o caminho da criação e da produção do novo:
O fato de estas identidades globais mudarem de figura numa velocidade que acompanha as mudanças de mercado não implica forçosamente o abandono da referência identitária. As subjetividades continuam, como em sua figura moderna, a ignorar as forças que as constituem e as desestabilizam por todos os lados, para organizar-se em torno de uma representação de si dada a priori, mesmo que, na atualidade, não seja sempre a mesma esta representação (Rolnik, 1997, p. 20).
Tal como argumentado até aqui, a produção de subjetividades tornou-se central nas configurações de trabalho contemporâneo. Trata-se de uma produção multifacetada e complexa que agrega múltiplos componentes de subjetivação que, nas startups, já estão ganhando visibilidade: idealização, juventude, apreço pelo risco e flexibilidade. A produção de sujeitos empreendedores, amplamente idealizada e desconectada dos campos político, ético e social, alimenta uma indústria de produção do que Gorz (2005, p. 10) chama de “Eu S/A”. A subjetividade capitalística, individualizada e conectada à máquina produtiva como uma peça dessa complexa engrenagem, encontra-se, em nosso entendimento, no auge de sua produção e deixa entrever que seu sucesso é inquestionável por aqueles que a assumem de maneira naturalizada e desejante.
Considerações finais
A disseminação social das startups está provocando transformações sociais, afetivas e políticas, cujos efeitos já começam a ser notados, mas que estão longe de sua compreensão crítica, tomando em consideração a realidade social das organizações, a vinculação geral dos trabalhadores com suas atividades e a dinâmica política das mudanças em curso. O desmantelamento dos direitos dos trabalhadores e da proteção social, ambos conquistados por muitas lutas, estão entre os efeitos mais preocupantes.
A emergência do sujeito empreendedor, disseminada de maneira ampla e idealizada, atende a um projeto político de transformar cada indivíduo em um empreendedor de si mesmo, fortalecendo o modo de produção financeirizado (Lazzarato, 2017). O que se percebe, assim, é um esvaziamento da dimensão processual e multifacetada da produção de subjetividades. Em seu lugar, instala-se a instrumentalização capitalística de componentes subjetivos específicos, que são selecionados e colocados em circulação para fortalecer o modo de produção capitalista financeirizado. Nesse processo, o que é empreendido é a própria vida reduzida ao capital, resultando, portanto, no empobrecimento subjetivo, afetivo e relacional.
Tais mudanças, apesar de estarem em curso desde o final do século XX, ainda são pouco conhecidas em seus efeitos éticos e políticos. Consideramos, então, que novas pesquisas sobre o funcionamento e articulação das startups em uma perspectiva crítica são urgentes e demandam ampliação. Afinal, quais são os novos elementos subjetivos que estão sendo experimentados no cotidiano desse trabalho? Quais os efeitos desses elementos em médio e longo prazo? A que interesses trabalhadores estão sendo chamados a servir? Quais possibilidades políticas e coletivas são precipitadas nesse cenário? Que tipo de vida e relação eles atualizam? Neste artigo, avançamos no mapeamento dos componentes subjetivos que foram utilizados como base para a instalação desse modo de produção. Além disso, diante da amplitude e gravidade de tais questões, apontamos a relevância de gerar novas pesquisas quanto ao tema em psicologia social, capazes de olhar aquilo que tais agentes estão pensando, desejando e disseminando no campo social, de modo sensível, contextualizado e político.
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
09 Jun 2023 -
Data do Fascículo
2023
Histórico
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Recebido
04 Jun 2021 -
Aceito
25 Abr 2022