Open-access A terapia ocupacional reduzindo sintomas ansiosos em uma clínica psiquiátrica

The occupational therapy reducing anxious symptoms in a psychiatric clinic

CARTA AOS EDITORES

A terapia ocupacional reduzindo sintomas ansiosos em uma clínica psiquiátrica

The occupational therapy reducing anxious symptoms in a psychiatric clinic

Sr. Editor,

A terapia ocupacional (TO) é uma profissão da área da saúde voltada para a promoção e/ou reabilitação das habilidades físicas, cognitivas e sociais de indivíduos com disfunções diversas por meio da utilização de técnicas e recursos terapêuticos específicos.

O terapeuta ocupacional, atuando como agente de saúde, colabora com outros profissionais nos locais onde ocorre o tratamento. Os pacientes se beneficiam das perspectivas e serviços oferecidos por múltiplos profissionais.1,2

Nos últimos anos, a importância da TO na saúde mental tem se destacado no atendimento integral ao portador de sofrimento mental.2-4 Dessa forma, no intuito de avaliar o efeito da TO na rotina de uma clínica psiquiátrica, foi observado o número de solicitações de atendimento do psiquiatra de plantão em uma clínica particular em dias com atividades da TO e dias sem as mesmas. Os pacientes foram informados e assinaram termo de consentimento. O estudo foi aprovado pelo comitê de ética da instituição.

O plantão avaliado, com 12 horas de duração, ocorreu sempre em um mesmo dia da semana. Como o serviço de TO acontece, neste dia especificamente, a cada 14 dias, foram averiguados os pedidos para atendimento em 16 semanas com a presença da TO (duas horas seguidas) e 16 semanas sem nenhuma atividade relacionada durante o dia, perfazendo um total de oito meses de acompanhamento.

Dentre as semanas sem e com atendimento, as médias de consultas foram de 5,18 (dp = 1,93; Mínimo = 2; máximo = 9; mediana = 5) e 3,43 (dp = 1,36; Mínimo = 0; máximo = 5; mediana = 4), respectivamente. Através de teste paramétrico (t de Student), constatou-se diferença estatisticamente significativa (p = 0,0040).

Em ambos os grupos, as três principais queixas foram: ansiedade e/ou angústia, cefaléia e insônia, com maior proporção de atendimentos por ansiedade e/ou angústia nos dias sem atendimento da TO (Tabela 1).

Ressalta-se que este é um de poucos estudos quantitativos brasileiros que avaliam a efetividade da TO na saúde mental, fato extremamente preocupante por mostrar a escassez de estudos nesta área e/ou o desconhecimento dos benefícios desta parceria médico/terapeuta.

Apesar de não terem sido controlados os achados de acordo com variáveis como diagnóstico psiquiátrico, sexo e o número de vezes que um mesmo interno requisitava atendimento pelo médico de plantão, algumas considerações podem ser feitas.

A demanda expressiva de atendimento por cefaléia pode ser secundária à realização de eletroconvulsoterapia, procedimento realizado toda terça-feira na parte da manhã, já que este é um dos principais efeitos colaterais do procedimento em questão.5

As constantes queixas de angústia e/ou ansiedade poderiam também, dentre outros fatores, estar relacionadas ao fato de os pacientes estarem em regime de internação, vendo-se destituídos de seus papéis ocupacionais (esposo, pai, trabalhador, dentre outros), projetos de vida e atividades que lhes são significativas, assim como do convívio de seus entes familiares.

Neste sentido, as intervenções da TO proporcionam aos pacientes, principalmente, oportunidades de autoconhecimento, (re)experimentação da autonomia e mudança de atitude. Tais ganhos, aliados a reorganização do cotidiano, satisfação de sentir-se capaz novamente e pertencer a um grupo (embora restrito), conseqüentemente conduzem a um aumento da auto-estima e maior envolvimento com o tratamento.1-3

Naira Vassalo Lage, Beatriz Arruda Pereira Galvão

Departamento de Terapia Ocupacional,

Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG),

Belo Horizonte (MG), Brasil

Humberto Correa

Serviço de Psiquiatria, Hospital das Clínicas,

Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG),

Belo Horizonte (MG), Brasil

Departamento de Farmacologia, Instituto de Ciências Biológicas,

Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG),

Belo Horizonte (MG), Brasil

Felipe Filardi da Rocha

Serviço de Psiquiatria, Hospital das Clínicas,

Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG),

Belo Horizonte (MG), Brasil

Departamento de Farmacologia, Instituto de Ciências Biológicas,

Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG),

Belo Horizonte (MG), Brasil

Financiamento: Inexistente

Conflitos de Interesse: Inexistente

Referências bibliográficas

  • 1. Steultjens EM, Dekker J, Bouter LM, Leemrijse CJ, van den Ende CH Evidence of the efficacy of occupational therapy in different conditions: an overview of systematic reviews. Clin Rehabil 2005;19(3):247-54.
  • 2. Kirsh B, Cockburn L, Gewurtz R. Best practice in occupational therapy: program characteristics that influence vocational outcomes for people with serious mental illnesses. Can J Occup Ther 2005;72(5):265-79.
  • 3. Wikeby M, Pierre BL, Archenholtz B. Occupational therapists reflection on practice within psychiatric care: a Delphi study. Scand J Occup Ther. 2006;13(3):151-9.
  • 4. Graff MJ, Vernooij-Dassen MJ, Thijssen M, Dekker J, Hoefnagels WH, Olderikkert MG. Effects of community occupational therapy on quality of life, mood, and health status in dementia patients and their caregivers: a randomized controlled trial. J Gerontol A Biol Sci Med Sci 2007;62(9):1002-9.
  • 5. Salleh MA, Papakostas I, Zervas I, Christodoulou G. Eletroconvulsoterapia: critérios e recomendações da Associação Mundial de Psiquiatria. Rev Psiq Clin. 2006;33(5):262-7.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    20 Mar 2008
  • Data do Fascículo
    Mar 2008
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