RESUMO
Introdução: Há alta prevalência de jovens que não atendem ao critério de saúde para aptidão cardior- respiratória, o que os expõe a riscos relacionados à saúde metabólica, cardiovascular e mental. Dessa forma, é relevante investigar quais aspectos estão associados à aptidão cardiorrespiratória de jovens.
Objetivo: Analisar os fatores associados à aptidão cardiorrespiratória em escolares.
Métodos: Estudo transversal que envolveu 736 escolares (50,1% do sexo feminino) com idade entre 10 a 18 anos. Foram analisadas a condição socioeconômica, escolaridade paterna, número de irmãos, percepção de atividade física, atividade física moderada a vigorosa, participação nas aulas de educação física, prática esportiva, local para prática, transporte ativo e comportamento sedentário. Foram coletadas medidas de estatura, massa corporal e realizado um teste de aptidão cardiorrespiratória. Para estimar a razão de prevalência (RP) e os intervalos de confiança de 95% foi utilizada a regressão de Poisson.
Resultados: Para escolares com idade inferior a 14 anos, as variáveis que apresentaram associação com a aptidão cardiorrespiratória foram o sexo feminino (RP = 0,79, 0,68-0,91), sobrepeso (RP = 0,73, 0,61-0,89), percepção de atividade física igual às pessoas de mesma idade (RP = 1,26, 1,03-1,53), atividade física semanal de 3-6h (RP = 1,21, 1,05-1,38), participação nas aulas de educação física (RP = 1,35, 1,03-1,76) e comportamento sedentário ≥ 2h (RP = 0,82, 0,73-0,94). Com relação aos escolares com idade igual ou superior a 14 anos, o sexo feminino (RP = 0,35, 0,19-0,63), o sobrepeso (RP = 0,25, 0,09-0,66), praticar esportes algumas vezes (RP = 1,96, 1,00-3,81) e frequentemente (RP = 2,09, 1,01-4,31) apresentaram associação com a aptidão cardiorrespiratória.
Conclusão: Programas de intervenção com o objetivo de aumentar o atendimento ao critério de saúde para aptidão cardiorrespiratória de escolares devem promover a prática de atividade física moderada a vigorosa, prática esportiva, participação nas aulas de educação física e redução do sobrepeso.
Descritores: aptidão física; atividade motora; educação física e treinamento; sobrepeso; adolescente
ABSTRACT
Introduction: There is a high prevalence of youth that not meet the health criterion for cardiorespiratory fitness, which exposes them to risks related to metabolic, cardiovascular and mental health. Thus, it is relevant to investigate which aspects are associated with cardiorespiratory fitness in youth.
Objective: To analyze the factors associated with cardiorespiratory fitness in school students.
Methods: Cross-sectional study involving 736 students (50.1% female) with age between 10 and 18 years. The following has been analyzed: the socioeconomic condition, paternal education, number of siblings, physical activity perception, moderate to vigorous physical activity, participation in physical education classes, sport practice, place to practice, active transport and sedentary behavior. Height and body mass were measured and a cardiorespiratory fitness test was performed. Prevalence ratio (PR) and 95% confidence intervals were estimated using the Poisson regression.
Results: For students aged less than 14 years, variables that presented association with cardiorespiratory fitness were female sex (PR = 0.79, 0.68-0.91), overweight (PR = 0.73, 0.61-0.89), physical activity perception equal to persons of the same age (PR = 1.26, 1.03-1.53), weekly physical activity 3-6h (PR = 1.21, 1.05-1.38), participation in physical education classes (PR = 1.35, 1.03-1.76), and sedentary behavior ≥ 2h (RP = 0.82, 0.73-0.94). With respect to students aged 14 years or more, female sex (PR = 0.35, 0.19-0.63), overweight (PR = 0.25, 0.09-0.66), practicing sports a few times (PR = 1.96, 1.00-3.81) and frequently (PR =2.09, 1.01-4.31) presented association with cardiorespiratory fitness.
Conclusion: Intervention programs aiming at increasing health criterion requirement for cardiorespiratory fitness of students should promote moderate to vigorous physical activity, sport practice, participation in physical education classes and overweight reduction.
Keywords: physical fitness; motor activity; physical education and training; overweigh; adolescent.
RESUMEN
Introducción: Existe una alta prevalencia de jóvenes que no cumplen los criterios de salud para aptitud cardiorrespiratoria, que los expone a riesgos relacionados con la salud metabólica, cardiovascular y mental. De este modo, es importante investigar qué aspectos están asociados con la aptitud cardiorrespiratoria de los jóvenes.
Objetivo: Analizar los factores relacionados con la aptitud cardiorrespiratoria en escolares.
Métodos: Estudio transversal que implica 736 escolares (50,1% mujeres) de 10 a 18 años de edad. Fueron analizados el nivel socioeconómico, escolaridad paterna, número de hermanos, percepción de la actividad física, actividad física moderada a vigorosa, participación en las clases de educación física, práctica deportiva, lugar para práctica, transporte activo y el comportamiento sedentario. Fueron tomadas las medidas de talla, masa corporal y llevado a cabo una prueba de aptitud cardiorrespiratoria. Para estimar la razón de prevalencia (RP) y los intervalos de confianza de 95% se utilizó la regresión de Poisson.
Resultados: En los escolares menores de 14 años, las variables que se asociaron con la aptitud cardiorrespiratoria fueron el sexo femenino (RP = 0,79, 0,68 a 0,91), exceso de peso (RP = 0,73, 0,61-0,89), percepción de actividad física igual a las personas de la misma edad (RP = 1,26, 1,03-1.53), actividad física semanal 3-6h (RP = 1,21, 1,05-1,38), participación en las clases de educación física (RP = 1,35, 1,03-1,76) y el comportamiento sedentario ≥ 2h (RP = 0,82, 0,73-0,94). Con respecto a los escolares mayores de 14 años, el sexo femenino (RP = 0,35, 0,19-0,63), exceso de peso (RP = 0,25, 0,09-0,66), práctica de deportes algunas veces (RP = 1,96, 1,00-3,81) y frecuentemente (RP = 2,09, 1,01-4,31) se asociaron con la aptitud cardiorrespiratoria.
Conclusión: Los programas de intervención con el propósito de aumentar el cumplimiento de los criterios de salud para la aptitud cardiorrespiratoria en escolares deben promover la práctica de actividad física moderada a vigorosa, práctica deportiva, participación en las clases de educación física y la reducción del exceso de peso.
Descriptores: aptitud física; actividad motora; educación y entrenamiento físico; sobrepeso; adolescente.
INTRODUÇÃO
A aptidão cardiorrespiratória é um aspecto positivamente associado à saúde metabólica, cardiovascular1 e mental2 de adolescentes. Além disso, a aptidão cardiorrespiratória é melhor preditor do risco cardiovascular quando comparado à atividade física3,4, embora a associação possa ser mediada pelo percentual de gordura4.
No Brasil, a prevalência de atendimento ao critério de saúde para aptidão cardiorrespiratória em jovens já foi descrita e varia de 20 a 68.5%5-10. Devido a alta prevalência de aptidão cardiorrespiratória inadequada, estudos buscaram identificar os fatores associados em crianças e adolescentes brasileiros6-11. Três estudos analisaram apenas os fatores sociodemográficos em adolescentes de 14 a 19 anos6,7,9 e os outros analisaram fatores sociodemográficos e comportamentais em jovens de 6 a 18 anos8,10,11.
Estudos realizados no Brasil demonstraram que a aptidão cardiorrespiratória está associada ao sexo e idade6, condição socioeconômica, escolaridade dos pais, trabalho remunerado, transporte ativo, atividade física10,11, área de domicílio7,9, comportamento sedentário8,10 e sobrepeso12. Apesar disso, esses estudos possuem a limitação de não terem analisado em um mesmo modelo os fatores descritos além de outros que podem estar associados à aptidão cardiorrespiratória de escolares, tais como participação nas aulas de Educação Física, prática esportiva, disponibilidade de locais para prática de atividade física, percepção de atividade física e número de irmãos.
Do ponto de vista epidemiológico, identificar os fatores associados à aptidão cardiorrespiratória de escolares poderá fornecer informações relevantes para a implementação de políticas públicas junto às escolas e a comunidade com objetivo de aumentar a proporção de escolares que atendem aos critérios de saúde. Além disso, poderá nortear futuros estudos com objetivo de identificar outros fatores associados ou estudos de caráter experimental, com objetivo de analisar programas de intervenção visando a melhora da aptidão cardiorrespiratória de escolares. Dessa forma, o objetivo desse estudo foi analisar os fatores associados à aptidão cardiorrespiratória de escolares.
MÉTODOS
Estudo transversal realizado na rede estadual de ensino da cidade de Londrina-PR, Brasil no ano de 2012. Nesse ano havia 55.475 alunos matriculados na rede estadual de ensino do sexto ano do ensino fundamental ao terceiro ano do ensino médio. Os escolares estavam distribuídos nas regiões da cidade na seguinte proporção: Norte (20,5%), Sul (18%), Leste (17%), Oeste (15,5%) e Centro (29%). O método para a seleção amostral foi o probabilístico, utilizando conglomerados e estratificado por sexo e região da cidade (norte, sul, leste, oeste e centro), realizado em dois estágios. Primeiramente foi sorteado aleatoriamente uma escola de cada região da cidade e de cada escola foi avaliada a quantidade proporcional ao número de alunos da região, utilizando as salas de aulas completas.
O cálculo amostral foi realizado utilizando como parâmetros: população de 55,475 estudantes matriculados no ensino médio na cidade de Londrina-PR no ano de 2012, prevalência de atendimento ao critério de aptidão cardiorrespiratória utilizando os pontos de corte propostos pela FITNESSGRAM de 38%5, erro amostral de 5%, intervalo de confiança de 95%, efeito de delineamento de dois devido a amostragem complexa utilizada e acréscimo de 15% para possíveis perdas. Sendo assim o número necessário de participantes no estudo foi de 720 escolares. No presente estudo foram avaliados 965 escolares. No entanto, a amostra final foi constituída por 736 participantes, uma vez que foram analisados apenas os dados dos indivíduos que preencheram todas as questões e realizaram todos os procedimentos do estudo. Os critérios de inclusão foram: estar matriculado na rede estadual de ensino entre o 6º ano do Ensino Fundamental e 3º ano do Ensino Médio, ter entre 10 e 18 anos de idade e não possuir nenhuma limitação física/ortopédica que impedisse a realização dos procedimentos do estudo.
O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa envolvendo Seres Humanos da Universidade Estadual de Londrina-PR sob protocolo nº 312/2011, de acordo com a resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Todos os responsáveis pelos escolares que aceitaram participar do estudo assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, constando todos os procedimentos que seriam realizados e formas de contatos para esclarecimento de possíveis dúvidas.
Todos os procedimentos foram realizados na escola onde os alunos se encontravam matriculados. Em sala de aula os alunos responderam a um questionário, com objetivo de estimar a atividade física semanal13, transporte ativo13, percepção de atividade física13, prática esportiva13, escolaridade paterna14, comportamento sedentário, número de irmãos, local para a prática de atividade física e participação nas aulas de Educação Física15. As questões utilizadas são descritas no Quadro 1. No mesmo dia, os participantes realizaram medidas antropométricas e na quadra da escola o teste de aptidão cardiorrespiratória.
A condição socioeconômica foi estimada por meio dos Critérios de Classificação Econômica do Brasil14, que estabelece classificações para o nível socioeconômico de acordo com a estimativa de renda média familiar: A1 (R$ 11,480), A2 (R$ 8,295), B1 (R$ 4,754), B2 (R$ 2,656), C1 (R$ 1,459), C2 (R$ 962), D (R$ 680) e E (R$ 415). Para análise as categorias foram agrupadas em alta (A1 e A2), média (B1, B2) e baixa (C1, C2, D e E).
O estado nutricional foi estimado por meio do Índice de Massa Corporal, calculado por meio da equação massa corporal (kg)/estatura(m)2. A estatura foi medida por meio de uma fita métrica fixada na parede (Sanny, São Paulo, Brasil), com precisão de 1 mm e a massa corporal total por meio de uma balança eletrônica com precisão de 100 g e capacidade de 150 kg (Plenna, modelo MEA-03140, São Paulo, Brasil), de acordo com procedimentos já descritos18. Os escolares foram classificados com sobrepeso de acordo com International Obesity Task Force19.
A aptidão cardiorrespiratória foi avaliada por meio do teste PACER (Progressive Aerobic Cardiovascular Endurance Run)18. O critério de saúde utilizado foi o proposto pela FITNESSGRAM19, e os escolares foram classificados em atende (zona saudável de aptidão) e não atende (algum risco), de acordo com a faixa etária e sexo.
A reprodutibilidade do questionário utilizado no presente estudo foi testada em 70 escolares, no intervalo de sete dias. Para as variáveis categóricas, todas as questões apresentaram reprodutibilidade aceitável, com a concordância das questões testada por meio do índice Kappa variando de 65 a 100% entre os dois momentos. Para a questão com variável numérica discreta (número de irmãos) a reprodutibilidade foi alta, com coeficiente de correlação intraclasse = 0,964 (0,926-0,983).
A estatística descritiva foi realizada utilizando a frequência relativa. A reprodutibilidade das variáveis categóricas foi analisada utilizando o índice Kappa e para a variável numérica utilizou-se o coeficiente de correlação intraclasse de um fator aleatório. Para analisar a associação bivariada entre as variáveis independentes e o atendimento do critério para aptidão cardiorrespiratória foi utilizado o teste de Qui-quadrado. As variáveis que apresentaram p≤0,20 foram incluídas na análise multivariada, realizada por meio da regressão de Poisson com ajuste robusto de variância para estimar as razões de prevalências e os respectivos intervalos de confiança de 95%, sendo que a significância adotada foi de 5%.
RESULTADOS
As características descritivas dos participantes são apresentadas na Tabela 1.
A associação entre aptidão cardiorrespiratória e as variáveis independentes estudadas são descritas na Tabela 2 para os escolares com idade inferior a 14 anos. Na análise ajustada as variáveis sexo feminino (RP=0,79), sobrepeso (RP=0,73), percepção de atividade física igual as pessoas de mesma idade (RP=1,26), realizar 3 a 6h atividade física moderada a vigorosa semanal (RP=1,21), participação nas aulas de Educação Física (RP=1,35) e comportamento sedentário superior a duas horas semanais (RP=0,82) apresentaram associação significativa com o atendimento ao critério de saúde para aptidão cardiorrespiratória.
Os resultados referente aos escolares com idade igual ou superior a 14 anos são apresentados na Tabela 3. Após serem ajustadas para todas as variáveis do modelo, as variáveis sexo feminino (RP=0,35), sobrepeso (RP=0,25) e prática esportiva algumas vezes (RP=1,96) e frequentemente/sempre (RP=2,09) se mantiveram associadas ao atendimento do critério de saúde para aptidão cardiorrespiratória.
As variáveis condição socioeconômica (P=0,924 e P=0,989), transporte ativo (P=0,671 e 0,931) e comportamento sedentário no fim de semana (P=0,368 e 0,301), para escolares com idade inferior e igual ou superior a 14 anos respectivamente, não foram descritas nas Tabelas 2 e 3 por não apresentarem associação significativa na análise bivariada em ambas as faixas etárias.
DISCUSSÃO
Os principais resultados desse estudo foram que em escolares com idade inferior a 14 anos as variáveis sexo, sobrepeso, percepção de atividade física, atividade física moderada a vigorosa semanal, participação nas aulas de Educação Física e comportamento sedentário apresentaram associação significativa com a aptidão cardiorrespiratória. Para os escolares com idade igual ou superior a 14 anos, as variáveis significativamente associadas com o atendimento ao critério para aptidão cardiorrespiratória foram o sexo, sobrepeso e a prática esportiva.
Já foi descrito, em outro estudo utilizando método, instrumentos e pontos de corte semelhantes ao do presente, que a proporção do atendimento do critério para aptidão cardiorrespiratória é menor em escolares do sexo feminino11 e com o aumento dos anos a proporção de atendimento do critério também diminui5,6. Provavelmente a atividade física é um fator que se associa a essas alterações de acordo com o sexo e com a idade, haja vista que, como demonstrado em um estudo realizado com adolescentes da cidade de São Paulo20, há maior prevalência de inatividade física em escolares do sexo feminino e com maior idade. Outro aspecto relevante a ser apontado é que em ambos os sexos o comportamento sedentário aumenta com a idade, como demonstrado em um estudo longitudinal utilizando acelerometria em adolescentes do Reino Unido21, o que provavelmente também pode contribuir com o menor atendimento do critério para aptidão cardiorrespiratória apresentada pelos escolares mais velhos no presente estudo (70,4 vs 19,6).
Uma revisão sistemática descreveu que apesar do treinamento físico aumentar a aptidão cardiorrespiratória, a relação com a atividade física habitual ainda não é consenso na literatura22. No entanto, estudos recentes realizados nas cidades de Florianópolis-SC8, Montes Claros-MG11 e Curitiba-PR10, demonstraram associação positiva entre ser fisicamente ativo com a aptidão cardiorrespiratória em crianças e adolescentes. No presente estudo, a associação entre atividade física e aptidão cardiorrespiratória foi encontrada apenas para os escolares com idade inferior a 14 anos. Apesar de não ter sido investigado no presente estudo, adolescentes mais velhos se engajam em práticas corporais as quais não têm como objetivo aumentar a aptidão cardiorrespiratória, tais como treinamento de força23, fato que pode explicar a não associação encontrada. Isso se torna relevante pelo fato de que os tipos de atividades físicas realizadas não foram discriminadas pelo instrumento utilizado.
No presente estudo, ao contrário da atividade física, a prática esportiva apresentou associação significativa com a aptidão cardiorrespiratória dos escolares com idade igual ou superior a 14 anos. No Brasil, os esportes mais difundidos entre os escolares são os coletivos, futebol, futsal, basquetebol, handebol e voleibol. Com exceção do voleibol, são esportes que demandam intensidade moderada a vigorosa e são de longa duração, fato que beneficia a saúde de adolescentes como, por exemplo, resultando em aumento da aptidão cardiorrespiratória24. As informações disponíveis da literatura, somados com os encontrados no presente estudo, indicam a necessidade da prática de atividade física moderada à vigorosa e da prática esportiva com objetivo de prevenir os agravos à saúde relacionados à baixa aptidão cardiorrespiratória1,2.
Este foi o primeiro estudo a demonstrar associação positiva entre participação nas aulas de Educação Física com a aptidão cardiorrespiratória em escolares brasileiros. Já havia sido descrito associação positiva entre participação de 200 min em aulas de Educação física a cada 10 dias com o atendimento do critério para aptidão cardiorrespiratória em escolares americanos25. Em jovens da cidade de Curitiba-PR foram encontradas associações entre atividade física superior a 30 min por aula nos meninos com a aptidão cardiorrespiratória10. Em parte os resultados do presente estudo corroboram com os prévios10, uma vez que provavelmente os escolares que participam das aulas realizam maiores quantidades de atividade física comparados aos não participantes. No Brasil comumente são realizadas duas aulas semanais com duração de 50 min cada, e provavelmente, a realização do exercício físico de forma orientada pode ser responsável pela maior proporção do atendimento do critério para aptidão cardiorrespiratória em escolares que participam das aulas de Educação Física.
Escolares praticantes de atividade física, de esportes e que participam das aulas de Educação Física provavelmente possuem adaptações similares aos jovens submetidos ao treinamento aeróbio, como por exemplo, maior pico de consumo de oxigênio, maior volume de ejeção ventricular, cinética de consumo de oxigênio mais rápida nas alterações de intensidade do exercício, menor acúmulo de lactato em exercício submáximo e maior função oxidativa dos músculos treinados26. Tais adaptações ao treinamento favorecem o desempenho da tarefa imposta pelo teste utilizado (PACER), que é progressivo até a exaustão.
O sobrepeso apresentou associação negativa com a aptidão cardiorrespiratória independente da faixa etária. Jovens com sobrepeso possuem limitação para aumentar a demanda metabólica requerida para movimentar a maior massa corporal que possuem. Consequentemente, apresentam valores semelhantes de consumo de oxigênio, no limiar de lactato e no esforço máximo comparado a adolescentes eutróficos27. Este fato torna-se relevante, uma vez que o teste PACERutilizado no presente estudo é progressivo e máximo. Além disso, o mesmo estudo27 demonstrou que adolescentes com sobrepeso consomem maior quantidade relativa de oxigênio durante o exercício submáximo devido à maior massa corporal a ser movimentada, o que pode diminuir o tempo necessário para alcançar a exaustão. Além das características já citadas, jovens com sobrepeso também apresentam menor resposta da cinética do consumo de oxigênio em exercício moderado28.
Outro fator que apresentou associação com o atendimento do critério para aptidão cardiorrespiratória foi a percepção de atividade física igual às pessoas de mesma idade. A literatura apontou que aproximadamente 40% dos escolares britânicos superestimam sua atividade física habitual29. Provavelmente, por esse motivo, no presente estudo apenas os escolares que apresentaram percepção igual às pessoas de mesma idade apresentaram razão de prevalência superior quando comparada aos que apresentam baixa percepção de atividade física.
No presente estudo, o comportamento sedentário se associou inversamente com o atendimento ao critério de saúde para aptidão cardiorrespiratória nos escolares mais jovens. A associação entre comportamento sedentário e aptidão cardiorrespiratória já foi descrita por estudos recentes e a associação parece ser independente da atividade física8,10. Dessa forma, além de incentivar a prática de atividade física há necessidade de reduzir o comportamento sedentário há no máximo duas horas diárias.
Dentre as limitações do presente estudo destacam-se a utilização de questionário e teste indireto para estimativa da aptidão cardiorrespiratória. Ainda, não foram analisados os tipos de atividades físicas, conteúdos das aulas de Educação Física e os esportes que os escolares praticavam, fato que pode limitar a generalização dos resultados encontrados.
CONCLUSÃO
Pode-se concluir que para os escolares com idade inferior a 14 anos, o sexo feminino, sobrepeso, percepção de atividade física percepção de atividade física igual às pessoas de mesma idade, atividade física moderada a vigorosa de 3 a 6 horas semanais, participação nas aulas de Educação Física e comportamento sedentários superior a duas horas semanais são fatores associados à aptidão cardiorrespiratória. Para os adolescentes mais velhos os fatores que apresentaram associação com a aptidão cardiorrespiratória foram o sexo, sobrepeso e prática esportiva.
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
Jan-Feb 2016
Histórico
-
Recebido
10 Set 2014 -
Aceito
29 Out 2015