RESUMO
Introdução: A proteína da amêndoa do bacuri (Attalea phalerata Mart. Ex Spreng) e da whey protein (WP) têm quantidades relevantes de aminoácidos essenciais e são de boa digestibilidade, características que têm sido buscadas por atletas para auxílio para melhorar a composição corporal, particularmente quando associadas a exercícios.
Objetivo: Avaliar o efeito de dietas com teor proteico vegetal e animal sobre a composição corporal de ratos Wistar submetidos ao exercício resistido em escada.
Métodos: Quarenta ratos machos recém-desmamados foram submetidos a um período de adaptação com dieta comercial (4 semanas) e treinamento resistido durante oito semanas (três vezes por semana), recebendo dietas com farinha de bacuri e whey protein. Foram distribuídos randomicamente em seis grupos: G1 (bacuri sedentário), G2 (bacuri exercitado), G3 (WP sedentário), G4 (WP exercitado), G5 (controle sedentário) e G6 (controle exercitado). Avaliou-se consumo da dieta, peso corporal, comprimento, circunferências torácica e abdominal para calcular o índice de Lee e o índice de massa corporal; os sítios com gordura foram retirados após eutanásia. A análise estatística foi realizada por ANOVA e Teste de Tukey, considerando 5% de significância.
Resultados: O peso final do G3 (372 ± 8,86 g) foi superior ao do G2 (326,83 ± 15,03 g) e do G6 (316,75 ± 5,90 g); os grupos que receberam dieta com farinha de bacuri consumiram quantidade superior de dieta, porém, tiveram menor peso final; não diferiram no índice de Lee e no IMC, sítios com gordura e índice de adiposidade com relação aos grupos tratados com WP, apresentando valores inferiores das circunferências torácica e abdominal. Com relação às gorduras e índice de adiposidade, não houve diferença entre os grupos sedentários e exercitados.
Conclusão: A proteína da amêndoa de bacuri mostrou-se de boa qualidade quando comparada com a whey protein, havendo possibilidade de recomendação de seu uso na elaboração de suplementos nutricionais, como fonte vegetal alternativa e de baixo custo.
Descritores: proteínas; frutos; composição corporal; exercício
ABSTRACT
Introduction: The bacuri almond protein (Attalea phalerata Mart. Ex Spreng) and whey protein (WP) have significant amounts of essential amino acids and are of good digestibility, characteristics that have been sought by athletes to aid in improving body composition, particularly when associated with exercises.
Objective: To evaluate the effect of diets with vegetable and animal protein content on the body composition of Wistar rats submitted to resisted ladder exercise.
Methods: Forty male newly weaned rats were exposed to a period of adaptation to a commercial diet (4 weeks) and resistance training for eight weeks (three times a week), receiving diets with bacuri flour and whey protein. They were randomly assigned to 6 groups: G1 (sedentary bacuri), G2 (exercised bacuri), G3 (sedentary WP), G4 (exercised WP), G5 (sedentary control) and G6 (exercised control). Dietary intake, body weight, length, thoracic and abdominal circumferences were evaluated to calculate Lee index and body mass index; the fat sites were removed after euthanasia. Statistical analysis was performed by ANOVA and Tukey’s test, considering a 5% significance level.
Results: The final weight of G3 (372±8.86 g) was higher than those of G2 (326.83±15.03 g) and G6 (316.75±5.90 g); the groups that received diet with bacuri flour consumed higher amount of food, however, they had lower final weight, did not differ in the Lee index and BMI, fat sites and adiposity index in relation to the groups treated with WP, presenting lower values in the thoracic and abdominal circumferences. Regarding fat and adiposity index, there was no difference between the sedentary and exercised groups.
Conclusion: The bacuri almond protein showed good quality when compared to whey protein, and it is possible to recommend its use in the preparation of nutritional supplements as an alternative and low cost vegetable protein source.
Keywords: proteins; fruit; body composition; exercise
RESUMEN
Introducción: La proteína de la almendra del bacuri (Attalea phalerata Mart ex Spreng) y proteína del suero de la leche (whey protein - WP) tienen cantidades significativas de aminoácidos esenciales y son de buena digestibilidad, características que han sido buscadas por atletas para ayudar a mejorar de la composición corporal, especialmente cuando se asocian a ejercicios.
Objetivo: Evaluar el efecto de dietas con contenido proteico vegetal y animal sobre la composición corporal de ratas Wistar sometidas al ejercicio resistido en escalera.
Métodos: Cuarenta ratas machos recién destetadas se sometieron a un periodo de adaptación con dieta comercial (4 semanas) y entrenamiento de resistencia durante ocho semanas (tres veces por semana), recibiendo dietas con harina de bacuri y proteína del suero de la leche. Se distribuyeron aleatoriamente en 6 grupos: G1 (bacuri sedentario), G2 (bacuri ejercitado), G3 (WP sedentario), G4 (WP ejercitado), G5 (control sedentario) y G6 (control ejercitado). Se evaluó consumo de la dieta, peso corporal, longitud, circunferencias torácica y abdominal para calcular el índice de Lee y el índice de masa corporal; los sitios con grasa se retiraron después de la eutanasia. El análisis estadístico se realizó por ANOVA y prueba de Tukey, considerando el 5% de significación.
Resultados: El peso final del G3 (372 ± 8,86 g) fue superior al del G2 (326,83 ± 15,03 g) y del G6 (316,75 ± 5,90 g); los grupos que recibieron dieta con harina de bacuri consumieron una cantidad mayor de alimentos, sin embargo, tuvieron menor peso final; no difirieron en el índice de Lee y en el IMC, sitios con grasa y índice de adiposidad con relación a los grupos tratados con WP, presentando valores inferiores en las circunferencias torácica y abdominal. Con respecto a las grasas e índice de adiposidad, no hubo diferencia entre los grupos sedentarios y ejercitados.
Conclusión: a proteína de la almendra del bacuri se mostró de buena calidad en comparación con la proteína del suero de la leche, y existe la posibilidad de recomendar su uso en la preparación de suplementos nutricionales, como fuente de proteína vegetal alternativa e de bajo costo.
Descriptores: proteínas; fruta; la composición corporal; el ejercicio
INTRODUÇÃO
A prática de atividade física associada a uma dieta balanceada é mais eficaz para que ocorra uma modificação corporal benéfica sendo essencial na formação, reparação e reconstituição de tecidos corporais, mantendo a integridade funcional e estrutural do organismo1,2.
Estudos vêm demonstrando que modificações dietéticas podem beneficiar atletas e praticantes de atividades físicas por influenciar no seu desempenho3. Os suplementos alimentares mais utilizados possuem como base em sua formulação as proteínas e aminoácidos, e os principais motivos de seu consumo são ganho de massa magra, perda de gordura, perda de peso, aumento da resistência, e para compensar dietas inadequadas4.
O treinamento resistido tem se popularizado nos últimos tempos devido sua importância na melhoria da saúde, podendo ser praticado por pessoas de diferentes faixas etárias com ou sem doenças associadas5. Em pesquisa realizada com mulheres saudáveis submetidas a treinamento resistido de força, com alto número de repetições, os autores confirmaram aumento de força muscular e melhor potencial aeróbico6. Além disso, esse tipo de exercício também auxilia na hipertrofia muscular7,8 e na diminuição da gordura corporal5.
Pesquisando a prevalência do consumo de suplementos em diversas modalidades de atividade física, observou-se que os mais consumidos são os proteicos, como por exemplo, o whey protein em função do conhecimento de que a proteína é o nutriente capaz de aumentar a massa muscular, principal objetivo entre os atletas8. Segundo Sgarbieri9, whey protein é um conjunto de proteínas do soro do leite de fácil digestão e absorção, além de possuir um perfil de aminoácidos expressivo que favorece a síntese proteica após o exercício. O perfil dos aminoácidos presentes no whey protein é muito semelhante ao encontrado no músculo esquelético, sendo assim, auxilia na hipertrofia muscular10.
A busca de fontes alternativas de nutrientes, principalmente proteínas, é necessária à medida que há um constante aumento da demanda consumidora de suplementos proteicos. Nesse sentido, a utilização da amêndoa bacuri (Attalea phalerata Mart. Ex Spreng), pertencente à família Arecaceae, amplamente distribuído em Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, apresenta potencial por possuir grande quantidade de lipídios e de proteínas.
Conforme evidenciado em pesquisa recente, a amêndoa de bacuri apresenta bom perfil aminoacídico, comparado ao de whey protein concentrate (WPC), de whey protein isolate (WPI) e do padrão proposto para adultos da Food and Agriculture Organization e World Health Organization11-13. As quantidades de aminoácidos essenciais encontradas foram maiores que as recomendadas pela FAO/OMS, com digestibilidade melhor que os aminoácidos encontrados na soja. Avaliou-se também o valor nutricional desta proteína e sua digestibilidade in vitro, constatando que pode ser utilizada como fonte alternativa de proteína, pois não apresenta fatores antinutricionais e aminoácidos limitantes14.
Diante do exposto, o objetivo do presente trabalho foi analisar o efeito da dieta suplementada com proteína da amêndoa do bacuri e de whey protein sobre a composição corporal de ratos submetidos ao exercício físico.
MATERIAIS E MÉTODOS
Os frutos maduros de bacuri foram coletados em Campo Grande, MS, e regiões próximas, transportados aos laboratórios da Unidade de Tecnologia de Alimentos e Saúde Pública da UFMS, onde as amêndoas foram retiradas e processadas para elaboração da farinha desengordurada. O whey protein utilizado foi adquirido no comércio local após a verificação da marca mais indicada para realização do experimento, de acordo com o teor de proteínas.
A determinação de umidade foi realizada através de dessecação em estufa com temperatura a 105ºC, as cinzas determinadas por calcinação em mufla a 550ºC, as proteínas através do método micro-Kjeldahl, multiplicando o conteúdo de nitrogênio total (porcentagem) pelo fator de conversão (6,25). Os lipídios foram avaliados pelo método de extração direta com éter de petróleo em aparelho Soxhlet. Todos esses procedimentos foram realizados segundo as metodologias do Instituto Adolfo Lutz15. Os carboidratos foram determinados através do método de Fehling16. As análises foram realizadas em triplicata.
Protocolo experimental
O estudo foi realizado no Biotério Central da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, em Campo Grande - MS. Foram utilizados quarenta ratos machos da linhagem Wistar recém-desmamados (21 dias), mantidos em caixas coletivas, sala com temperatura controlada (22 ± 1ºC) e ciclo de 12 horas claro e escuro invertido, com dieta e água ad libitum.
Os animais receberam dieta comercial durante quatro semanas de adaptação para crescimento e treinamento resistido. Posteriormente, foram separados em diferentes grupos: G1 - Bacuri sedentário (n= 6), G2 - Bacuri exercitado (n=6), G3 - Whey sedentário (n=6), G4 - Whey exercitado (n=6), G5 - Dieta comercial sedentário (n=8), G6 - Dieta comercial exercitado (n=8)
A intervenção dietética ocorreu durante oito semanas e as dietas foram preparadas segundo as especificações da AIN-93 G17, exceto pela concentração de proteína que foi mantida em 15% (normoproteica) e a fonte proteica (farinha desengordurada de bacuri e whey, em substituição à caseína). A dieta comercial ofertada para os grupos controles era da marca Nuvital®. O controle da ingestão dietética foi realizado três vezes por semana.
Ao final do treinamento, os animais foram mantidos em repouso por 48 horas após a última sessão de exercícios e eutanasiados por exsanguinação. O experimento foi submetido à Comissão de Ética no Uso de Animais/CEUA da UFMS e aprovado com o protocolo nº 678/2015.
O treinamento resistido foi realizado no modelo de escalada em escada (110 cm de altura, 2 cm de espaço entre os degraus e 80 graus de inclinação) de acordo com Hornberger e Farrar18. No final do período de adaptação, durante cinco dias, os animais foram submetidos à familiarização ao exercício (sessão diária, com uma carga de resistência fixada à cauda na porção proximal com fita adesiva (tubo plástico de 50mL com carga correspondente a 10% do peso corporal). pós a adaptação, os animais foram submetidos ao um teste incremental para determinação da carga máxima de carregamento de acordo com protocolo de Hornberger e Farrar18. Os animais treinaram durante oito semanas com uma frequência de três vezes por semana em dias alternados.
O controle do ganho de peso foi realizado semanalmente e as medidas obtidas no início e final do experimento. O comprimento (cm) foi medido na distância entre o focinho e a base da cauda, a circunferência torácica (cm) medida logo após a pata dianteira e a abdominal aferida na parte anterior ao ante-pé. Os sítios de gorduras viscerais (omental, perirenal, epididimal, mesentérica e peritoneal) foram removidos e pesados em balança analítica após a eutanásia.
O Índice de Lee foi calculado pela relação entre a raiz quadrada de peso corporal (g) e o comprimento (cm) e o Índice de Massa Corporal (IMC) pela razão entre peso corporal (g) e comprimento2 (cm)19. O índice de adiposidade (IA%) foi calculado através da relação entre a gordura corporal total e o peso corporal final multiplicado por 10020.
Análise estatística
Os dados estão expressos como média e erro padrão da média (EPM). O teste de Kolmogorov-Smirnov foi utilizado para verificar a normalidade dos dados. Após a verificação da normalidade, a análise de variância de um fator (One-way ANOVA) foi utilizada para comparação das médias com a utilização do post hoc de Tukey. Foi adotado p < 0,05 como nível de significância. O software utilizado foi o GraphPad Prisma 5.
RESULTADOS
Ao avaliar a composição química das dietas experimentais (Tabela 1) observa-se que as três dietas diferiram significativamente entre si nos componentes cinzas, umidade, proteína e carboidrato. Na dieta bacuri, obteve-se um conteúdo lipídico superior às demais dietas, e o teor proteico da dieta whey foi de 14,13%, próximo ao planejado (15%), enquanto que a dieta bacuri apresentou 12,40%, ambas inferiores ao da dieta comercial.
Os dados de consumo da dieta por animal mostram que não houve diferença significativa nos grupos alimentados com dieta comercial (G5 e G6) e os grupos que receberam a amêndoa do bacuri (G1 e G2). Verificou-se consumo significativamente inferior para os grupos que receberam fonte proteica animal (G3 e G4) (Tabela 2).
A Figura 1 revela que todos os grupos tiveram aumento de peso ao longo experimento e que a prática do exercício resistido não induziu uma alteração no peso final dos animais. Comparando-se o ganho de peso corporal dos grupos que receberam a mesma fonte proteica, nota-se que entre os grupos G1 e G2 não houve diferença estatística entre sedentários e os exercitados, o mesmo foi observado entre G3 e G4 apesar de mostrar uma tendência de menor peso no grupo exercitado; porém nos grupos G5 e G6 houve diferença indicando a eficiência dos exercícios sobre o ganho de peso. Porém, quando comparados todos os grupos, independente de fonte proteica e treinamento, G3 obteve ganho de peso significativamente maior em relação ao G1, G2 e G6.
Peso corporal dos grupos experimentais submetidos à dieta normoproteica com bacuri e com whey (WP). G1 (bacuri sedentário); G2 (bacuri exercitado); G3 (WP sedentário); G4 (WP exercitado); G5 (controle sedentário) e G6 (controle exercitado). Letras maiúsculas comparam as médias de peso pré e pós-intervenção de cada grupo e letras minúsculas comparam os diferentes grupos entre si. Letras iguais, não diferem pelo Teste de variância ANOVA (p >0,05).
O comprimento, índice de Lee e IMC não apresentaram diferença estatística entre os grupos (p >0,05), já as circunferências torácica e abdominal diferiram significativamente (Tabela 3), porém, não influenciaram nos resultados da composição corporal final, como pode ser observado na Tabela 4.
Os resultados da composição corporal após oito semanas de protocolo de suplementação proteica e treinamento de força (Tabela 4) mostram que o comprimento dos animais foi significativamente maior no grupo whey sedentário em relação ao bacuri sedentário, bacuri exercitado e controle sedentário, indicando que a proteína de origem animal foi mais eficiente para promover o crescimento14.
As circunferências torácica e abdominal foram significativamente inferiores no grupo bacuri sedentário em relação aos demais grupos. Entretanto, o índice de Lee e o IMC foram superiores no bacuri sedentário em relação ao controle exercitado, os dois índices são determinantes de massa muscular e preditores de excesso de peso21.
Através da comparação das circunferências torácica e abdominal, índice de Lee e IMC nos períodos pré e pós-intervenção (Figura 2) verificou-se diferença estatística em todos esses parâmetros, os quais aumentaram após oito semanas de exercícios e suplementação sendo uma das razões, o esperado crescimento dos animais durante o estudo.
(a)- Circunferência torácica, (b)- Circunferência abdominal, (c) - Índice de Lee, (d) - Índice de Massa Corporal (IMC) dos grupos experimentais submetidos a dieta normoproteica com bacuri e/ou whey, sendo G1 (bacuri sedentário); G2 (bacuri exercitado); G3 (whey protein sedentário); G4 (whey protein exercitado); G5 (controle sedentário) e G6 (controle exercitado). Letras maiúsculas comparam as médias pré e pós-intervenção de cada grupo. Letras diferentes diferem entre si pelo Teste de variância ANOVA (p=0,0001).
A Tabela 5 apresenta os resultados dos sítios de gordura, gordura total e índice de adiposidade. Os dados indicam que não houve diferença significativa nos sítios de gordura, refletindo também na gordura corporal total entre os grupos experimentais estudados.
DISCUSSÃO
Embora os valores da composição das dietas tenham se mostrado diferentes estatisticamente com relação aos macronutrientes (lipídeos, proteínas e carboidratos), os resultados de VCT das mesmas foram próximos. A dieta comercial utilizada apresentou maior teor de proteínas (20,46/100g), porém inferior ao declarado pelo fabricante em sua embalagem (22,2g de proteína bruta/100g).
O menor consumo observado em animais dos grupos alimentados com dietas preparadas com whey protein pode indicar uma maior saciedade, pois segundo Melo e Bordonal22 essa é uma característica proporcionada por concentrados proteicos. O whey protein tem sido reconhecido pela sua capacidade de regular a glicose no sangue e manter o peso corporal através do aumento da saciedade e da consequente redução da ingestão de alimentos; assim como o rápido aumento de aminoácidos que estimulam hormônios gastrointestinais, como a colecistoquinina (CKK), e também pela presença de glicomacropeptídeos (GMP) que influenciam as funções gastrointestinais pela inibição da secreção gástrica23.
O efeito da proteína do champignon do Brasil (Agaricus brasiliensis) foi pesquisado em ratos, comparando com um grupo controle (caseína) e outro grupo de baixo teor proteico, verificou-se menor peso no grupo alimentado com proteína vegetal quando comparado ao controle24. No presente estudo os grupos alimentados com a proteína vegetal também tiverem menor ganho de peso, assim como o grupo controle exercitado que teve seu ganho reduzido provavelmente pelo efeito do exercício resistido.
Em relação ao treinamento resistido, estudo semelhante avaliou as reservas glicogênicas de músculos e parâmetros indicadores de ajustes metabólicos em relação ao protocolo de treinamento utilizando animais controle (sedentários) e experimental (exercitados), os quais também foram submetidos ao treinamento resistido com escada, e o grupo exercitado obteve menor peso em relação ao controle sedentário25. Embora os animais tenham apresentado aumento dos índices de Lee e de massa corporal em função do crescimento, esperava-se que nos grupos submetidos ao treinamento resistido estes aumentos fossem reduzidos quando comparados aos grupos sedentários. Porém, esses resultados também podem ser atribuídos ao treinamento resistido, que quando executado corretamente e continuamente pode gerar adaptações neurais e musculares26.
Estudo com ratas adultas citam que índice de Lee maior que 0,3 pode ser usado como indicador do excesso de gordura corporal27. Porém, no presente estudo, todos os grupos iniciaram o protocolo de treinamento e suplementação proteica com valores próximos a 0,6 aumentando para 0,8. Para Angéloco et al.28, o IMC pode estimar de forma confiável a gordura corporal em rato, sendo diretamente proporcional ao seu crescimento, já o índice de Lee é considerado menos sensível, pois animais com elevada quantidade de massa muscular podem apresentar elevado índice de Lee mesmo que a gordura corporal não seja excessiva19-21. No entanto, nessa pesquisa os resultados não evidenciaram grandes diferenças nesses parâmetros e não refletiram alterações substanciais da gordura total entre os grupos avaliados.
Pesquisa realizada com ratos mostrou que valores de IMC aumentaram até 90 dias de idade (0,45 para 0,68 g/cm2), mantendo-se constantes até 150 dias19. No presente trabalho, os valores variaram entre 0,30 a 0,40 g/cm2 (idade de 43 dias) e após oito semanas de treinamento anaeróbico resistido em escadas (idade de100 dias) variaram de 0,57 a 0,65 g/cm2, estando, portanto, dentro dos parâmetros de normalidade para ratos Wistar.
Nascimento et al.20 induziram a ingestão de dieta rica em gordura durante 30 semanas e compararam com um grupo controle de peso normal, ambos sem exercícios, e verificaram que o índice de adiposidade (%) variou de 4,28 ± 1,65% (grupo controle) a 5,96 ± 1,54% (grupo de ratos obesos). Na presente pesquisa não houve diferença significativa no índice de adiposidade entre os grupos experimentais, podendo-se apenas observar uma tendência de valores maiores para os grupos que receberam whey protein em relação aos grupos que receberam bacuri, mesmo essa dieta contendo maior teor lipídico.
Embora fosse esperado que os grupos de animais submetidos ao treinamento resistido apresentassem menor aumento dos índices avaliados em comparação aos sedentários, isto não ocorreu, possibilitando novos caminhos no estudo tanto da suplementação quanto do treinamento resistido, sugerindo novas formas de suplementação (quantidade, frequência, fontes) como na manipulação do treinamento (intensidade, volume, frequência).
CONCLUSÕES
Conclui-se que a proteína da amêndoa do bacuri é de boa qualidade quando comparada à proteína animal do whey protein, havendo possibilidade de recomendação para o seu uso na elaboração de suplementos nutricionais, como fonte vegetal alternativa e de baixo custo. Os animais que receberam bacuri consumiram quantidade superior de dieta, porém, tiveram menor peso final; não diferiram nos índices de Lee e IMC, nos sítios de gordura, gordura total e índice de adiposidade em relação aos grupos alimentados com whey, apresentando valores inferiores nas circunferências torácica e abdominal.
Verificou-se a necessidade em dar continuidade aos estudos avaliando o tempo de duração e a frequência do treinamento resistido.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e a Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia do Estado de Mato Grosso do Sul (FUNDECT) pelo apoio financeiro.
Todos os autores declararam não haver qualquer potencial conflito de interesses referente a este artigo.
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
Jul-Aug 2017
Histórico
-
Recebido
01 Dez 2016 -
Aceito
16 Fev 2017