Resumo
O processo de urbanização é o principal elemento transformador dos ambientes urbanos. Com a implantação das estruturas que compõe o ambiente urbano (ruas, avenidas, prédios, etc.) a arborização autóctone é indiscriminadamente suprimida em praticamente todas as cidades brasileiras, promovendo a perda de biodiversidade e alteração na qualidade de vida das pessoas que nestas habitam. O objetivo deste trabalho foi quantificar a arborização e avaliar sua composição e diversidade arbórea nas quadras urbanizadas da cidade de Palmas/TO. O inventário da vegetação ocorreu nas áreas verdes e em 50% das ruas de 33 quadras residenciais urbanizadas de Palmas, sendo coletados dados de todos os indivíduos arbóreos em cada um desses locais. Foram amostrados 16.294 indivíduos arbóreos de 200 espécies e 47 famílias botânicas nas quadras residenciais urbanizadas de Palmas. As espécies nativas do Cerrado foram as mais frequentes, com 51,28% dos indivíduos amostrados. A diversidade de espécies foi elevada (H’=4,046) e significativamente maior (t=12,364, p<0,001) nas áreas verdes (H’=3,892) em relação às ruas (H’=3,572). Comparado a outros centros urbanos, Palmas se destaca em termos de diversidade de espécies nativas do Cerrado, estando esse fator diretamente relacionado à presença de áreas verdes não edificantes em cada quadra residencial, devendo esses espaços ser conservados e incrementados com um maior número de espécies nativas, proporcionando a manutenção da biodiversidade e melhoria da qualidade de vida e bem estar dos moradores de cada local.
Palavras-chave: Arboricultura; Urbanização; Paisagem urbana; Biodiversidade
Abstract
The process of urbanization is the main transformational element of urban environments. Along with the implementation of structures that make up the urban environment (streets, avenues, buildings, etc.), natural stands of trees are indiscriminately removed in practically all Brazilian cities, promoting the loss of biodiversity and degrading the quality of life of the people living in these cities. The objective of this work was to evaluate the changes in vegetation and species diversity during the urbanization process of the city of Palmas, TO state. The vegetation inventory occurred in green areas and in 50% of the streets of 33 urban residential blocks, with data collected from all individual trees in each of these sites. A total of 16,294 trees were sampled in the urbanized residential blocks of Palmas, which came from 200 species and 47 botanical families. In general, the native species of the Cerrado biome were the most frequent ones, comprising 51.28% of the individuals. The species diversity was high (H'= 4.046) and it was statistically higher (t = 12.364, p <0.001) in green spaces (H' = 3.892) than in the streets (H'= 3.572). Compared to other urban centers, Palmas stands out in terms of the diversity of native tree species of Cerrado, with its diversity directly relating to the presence of empty green space in each residential block. These open spaces should be conserved and increased to promote a greater number of species that will maintain the biodiversity and improve the quality of life and well-being of the city inhabitants.
Keywords: Arboriculture; Urbanization; Urban landscape; Biodiversity
Introdução
A arborização é uma importante parte da infraestrutura urbana, provendo uma série de serviços ecossistêmicos fundamentais para o bem estar humano. Os benefícios associados à arborização urbana vão muito além dos estéticos e podem ser divididos em três categorias: ambientais, relacionados à melhoria do ar, redução das ilhas de calor, ou ao aumento da biodiversidade; sociais, reduzindo o estresse ou estimulando a convivência social; e econômicos, reduzindo o consumo de energia ou aumentado o valor da propriedade (MORGENROTH et al., 2016).
Em nosso país, o paisagismo urbano seguiu e, em muitos casos, ainda segue a escola europeia do século XIX, valorizando atributos estéticos e a introdução de muitas espécies exóticas (SANTOS; BERGALLO; ROCHA, 2008). Nesse sentido, a arborização das cidades brasileiras é muito similar entre si, havendo uma replicação de padrões e de espécies encontradas em cidades de norte a sul do país, independente de seu porte (SANTOS; BERGALLO; ROCHA, 2008; MORO; WESTERKAMP; ARAÚJO, 2014). Algo contraditório no país detentor da maior diversidade biológica global (LEWINSOHN; PRADO, 2002) e em função do amplo reconhecimento sobre os aspectos positivos relacionados às espécies nativas (MORO; WESTERKAMP; ARAÚJO, 2014), o que reforça a necessidade de reavaliar os modelos vigentes de paisagismo urbano adotados no país.
Um exemplo do modelo de paisagismo tradicional foi o implantado em Palmas-TO, a última cidade brasileira planejada, erguida a partir de 1989 em uma área de Cerrado preservado, para ser a capital do Estado do Tocantins. Segundo Teixeira (2009), a cidade foi planejada sob um ponto de vista humanístico e ecológico, sendo que a preservação ambiental foi um dos pilares para sua concepção, onde as áreas com vegetação nativa nos fundos de vale seriam protegidas durante sua implantação e cada quadra residencial seria composta por áreas verdes não edificantes, proporcionando um ambiente com temperatura mais amena e consequentemente melhor qualidade de vida para a população.
Bargos e Matias (2011) realizaram um estudo de revisão e proposta conceitual para as áreas verdes urbanas e a definiram como um espaço livre urbano composto por vegetação arbórea e arbustiva, com solo livre de edificações e superfícies impermeabilizantes, de acesso público ou não, e que exerçam funções ecológicas, estéticas e de lazer. Entretanto, o que se verificou durante o processo de implantação de Palmas-TO foi a supressão parcial ou total de extensas áreas de vegetação nativa do Cerrado e o plantio de espécies arbóreas exóticas ao Cerrado (ADORNO; FIGHERA, 2005). A cidade apresenta características singulares para avaliar as mudanças sofridas pela paisagem natural durante o processo de urbanização. Assim, neste estudo quantificamos a arborização e avaliamos sua composição e diversidade nas quadras residenciais urbanizadas de Palmas-TO e discutimos sobre a importância das áreas verdes não edificantes para a promoção do bem estar social e manutenção da biodiversidade local.
Material e método
Caracterização da área de estudo
Palmas-TO está localizada na região central do Estado do Tocantins, sob o paralelo 10°11’04” Sul e do meridiano 48°20’01” Oeste, tendo população estimada em 2018 de 291.855 habitantes (IBGE, 2010). A paisagem local é formada por vegetação típica do Cerrado, variando entre fitofisionomias florestais, campestres e savânicas. O clima é caracterizado por uma estação seca, entre os meses de maio a setembro; e outra chuvosa, entre os meses de outubro a abril. O índice pluviométrico varia de 1.500 a 1.900 mm/ano e a temperatura média anual é de 26 ºC, sendo a média mais quente de 36 ºC em setembro, e a mais fria em julho, com mínima de 15,5 ºC (PALMAS, 2015).
O modelo de ordenamento espacial de Palmas segue o exemplo de outras cidades planejadas, estando dividida em áreas industriais, comerciais e residenciais, estas últimas apresentam em média dimensões de 700x700m, planejamento interno distinto e capacidade para abrigar entre 8 a 12 mil habitantes (TEIXEIRA, 2009). Em geral, as quadras residenciais possuem escola, unidade básica de saúde, áreas comerciais, áreas para esporte e lazer e áreas verdes não edificantes (AVNE). As áreas verdes de Palmas são regidas pela Lei de Uso do Solo de Palmas- TO, Lei n. 386/1993, alterada pela Lei n. 1070/2001, art. 15, parágrafo 5º e definida como: “Zona de uso caracterizada pela otimização das condições ecológicas do meio ambiente, sendo admitido o desenvolvimento de atividades de lazer compatíveis com essas condições”.
Esquema do Plano Diretor de Palmas, TO, evidenciando as quadras amostradas
Figure 1
Scheme of the Master Plan of Palmas, TO state, showing the sampled blocks
Coleta e análise dos dados
Os dados foram coletados entre fevereiro e dezembro de 2015, nas áreas verdes e ruas de 33 das 63 quadras residenciais urbanizadas e asfaltadas das quatro regiões da cidade de Palmas-TO, selecionadas aleatoriamente: Área Residencial Sudoeste - ARSO: 205S, 207S, 303S, 403S, 405S, 505S, 603S, 1005S e 1105S; Área Residencial Sudeste - ARSE: 204S, 210S, 306S, 308S, 404S, 504S, 606S e 704S; Área Residencial Noroeste - ARNO: 105N, 303N, 305N, 403N, 405N e Área Residencial Nordeste - ARNE: 106N, 110N, 112N, 208N, 304N, 404N, 406N, 504N, 506N, 604N e 608N e incorporados em um coletor de dados Mesa Juniper System®.
Foram coletados dados de todos os indivíduos arbóreos relativos à espécie (nome científico e popular) e origem, sendo as espécies arbóreas classificadas em: nativas do cerrado, espécies autóctones ou com ocorrência comprovada no bioma cerrado, espécies nativas brasileiras, mas com ocorrência fora do bioma cerrado e espécies originárias de outros países. Técnicas analíticas descritivas foram utilizadas para organizar e investigar os dados, sendo obtidos dados referentes à riqueza e porcentagem de ocorrência (ni*100/N), para cada categoria. Para estimar e comparar a diversidade de espécies entre as áreas verdes e ruas das quadras urbanizadas, utilizou-se uma medida não paramétrica de diversidade (Equação 1), o Índice de Shannon (H’) (MAGURRAN, 2011). Para comparação estatística aplicou-se o teste “t” de Hutcheson (1970).
As espécies vegetais foram identificadas em campo, havendo dúvidas foram encaminhadas amostras ao Herbário da Universidade Federal do Tocantins, Campus de Porto Nacional. Informações taxonômicas das espécies brasileiras foram obtidas em Lorenzi (2002; 2014), na base de dados do Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JARDIM BOTÂNICO, 2018) e das espécies estrangeiras em The Plant List (2013).
Resultados
Nas quadras residenciais urbanizadas de Palmas foram amostrados 16.294 indivíduos arbóreos de 200 espécies e 47 famílias botânicas. Nas ruas foram contabilizados 4.763 indivíduos de 144 espécies e nas áreas verdes 11.531 indivíduos de 183 espécies.
As cinco espécies mais frequentes foram o cajú Anacardium occidentale L. com 1.512 indivíduos, o pequi Caryocar brasiliense Cambess. com 1.371, a manga Mangifera indica L. com 1.293, o oiti Licania tomentosa (Benth.) Fritsch com 1.243 e o ipê-roxo Handroanthus impetiginosus (Mart. ex DC.) Mattos com 832 indivíduos.
As espécies nativas do Cerrado foram as mais frequentes, correspondendo a 51,28% do total de indivíduos arbóreos, dos quais 89,36% estão situados nas áreas verdes e 10,64% nas ruas. As espécies exóticas estrangeiras contabilizaram 33,17% dos indivíduos, sendo 57,21% nas áreas verdes e 42,79% nas ruas, enquanto as espécies brasileiras exóticas ao Cerrado contabilizaram 15,55% dos indivíduos, sendo 38,40% nas áreas verdes e 61,60% nas ruas (Tabela 1).
Famílias, espécies, nome popular, origem e porcentagem de ocorrência das árvores encontradas nas ruas e áreas verdes das quadras urbanizadas de Palmas/TO
Table 1
Families, species, name, origin and percentage of occurrence of the trees found in the streets and green areas of the urbanized blocks of Palmas/TO state
A diversidade de espécies foi elevada (H’=4,046) e significativamente maior (t=12,364, p<0,001) nas áreas verdes (H’=3,892) em relação às ruas (H’=3,572).
Dentre as 10 espécies mais frequentes destaca-se o cajú Anacardium occidentale com 1.512 indivíduos, o pequi Caryocar brasiliense com 1.371, a manga Mangifera indica com 1.293, o oiti Licania tomentosa com 1.243 e o ipê-roxo Handroanthus impetiginosus com 832 indivíduos, sendo que dessas 10 espécies 4 são estrangeiras e 2 originárias de outros biomas brasileiros. Mais da metade do percentual total de indivíduos arbóreos das quadras analisadas estão incluídos nas 10 espécies mais abundantes (Figura 2).
Nas ruas das quadras urbanizadas, a maioria das espécies são exóticas ao Cerrado. O oiti Licania tomentosa foi a espécie mais frequente na arborização das ruas superando com ampla diferença as demais espécies. Nas áreas verdes, as árvores nativas foram as mais frequentes, com destaque para o pequi Caryocar brasiliense e o cajú Anacardium occidentale . Porém, a frequência de espécies exóticas nas áreas verdes foi elevada, incluindo espécies pouco recomendadas para arborização urbana como o eucalipto Corymbia sp. e o pinheiro Pinus sp. (Figura 2).
Esquema do Plano Diretor de Palmas, TO, evidenciando as quadras amostradas
Figure 2
Scheme of the Master Plan of Palmas, TO state, showing the sampled blocks
Discussão
A riqueza e a diversidade de espécies na arborização das quadras residenciais urbanizadas de Palmas-TO é considerável, principalmente nas áreas verdes que contêm 92,04% da riqueza específica das quadras urbanizadas e congrega mais de 70% das espécies arbóreas. Nessas áreas verdes a diversidade de espécies também é significativamente maior que nas ruas. As áreas verdes urbanas são responsáveis por múltiplas funções que promovem melhorias consideráveis no ambiente urbano, fornecendo benefícios ambientais, ecológicos, sociais, estéticos, recreativos e para a saúde (McPherson; VAN DOORN; GOEDE, 2016). Não obstante, a cobertura arbórea das áreas verdes de muitas quadras de Palmas foi total ou parcialmente suprimida devido a políticas públicas equivocadas (ADORNO; FIGHERA, 2005) e de queimadas recorrentes nesses ambientes (MOURA; FERNANDEZ, 2012).
Segundo o Diagnóstico da Arborização Urbana de Palmas-TO ((PALMAS, 2015)), existe um défict de aproximadamente 100 mil árvores nas AVNEs. A ausência de cobertura arbórea é um dos fatores responsáveis pelo desconforto térmico (ABREU-HARBICH; LABAKI; MATZARAKIS, 2015) e formação de ilhas de calor (SANUSI et al., 2017) em áreas urbanas, situações já encontradas em Palmas-TO (PAZ, 2010), apesar de ser uma cidade relativamente jovem, planejada visando a preservação de áreas verdes para mitigar os efeitos do calor.
Nas ruas das quadras urbanizadas o déficit de arborização também é elevado, sendo estimado em cerca de 53.760 árvores (PALMAS, 2015). A carência de arborização e uma diversidade inferior à encontrada nas áreas verdes corrobora o padrão encontrado em outras cidades brasileiras (SANTOS; BERGALLO; ROCHA, 2008) ou estrangeiras (KURUNERI-CHITEPO; SHACKLETON, 2011), que apresentam um predomínio de espécies arbóreas exóticas nas vias.
No entanto, Hitchmough (2011) argumenta que as espécies exóticas, à exceção daquelas consideradas invasivas ou problemáticas, podem desempenhar um importante papel socioambiental nas cidades. Em Palmas-TO, apesar da apreciável riqueza de espécies nas ruas das quadras urbanizadas, também há o predomínio de espécies exóticas ao Cerrado, incluindo algumas espécies estrangeiras muito frequentes e de alto valor estético, como é o caso da palmeira fênix Phoenix roebelenii , da areca-locuba Dypsis madagascariensis ou a cica Cycas circinalis e o sagu Cycas revoluta , mas que pouco ou nada contribuem com a melhoria bioclimática em uma das cidades mais quentes do país.
Dentre as exóticas estrangeiras mais frequentes nas ruas das quadras de Palmas-TO está a mangueira Mangifera indica , que possui muitos atributos socioambientais, produzindo ótima sombra e frutos comestíveis, contudo, não recomenda-se seu plantio em calçadas devido às possibilidades de conflito com o calçamento, rede elétrica, mobilidade, limpeza urbana ou pela atração de insetos indesejados (MILANO; DALCIN, 2000). Em Palmas-TO, essa espécie foi amplamente propagada, seja pelo poder público municipal que distribuia mudas ou pela população que a plantou deliberadamente.
Outro padrão amplamente evidenciado em outras áreas urbanas é a elevada frequência de umas poucas espécies que acabam dominando a paisagem urbana. Em Palmas-TO, as 10 espécies mais frequentes nas quadras residenciais detém mais da metade do percentual de árvores, no entanto, duas delas o pequi Caryocar brasiliense e a cachamorra Tachigali rubiginosa são espécies autóctones, sendo o pequi uma das espécies mais importantes do Cerrado, possuindo um alto valor sociocultural, ambiental, ecológico e econômico, e uma das espécies mais abundantes em Palmas-TO (PALMAS, 2015), entretanto, a produção de mudas para arborização urbana ainda é inexistente na cidade. Por outro lado, a espécie mais frequente nas quadras residenciais é o cajú Anacardium occidentale , de fácil propagação e amplamente cultivado por ser uma espécie perene, de rápido crescimento, copa ampla e fruto comestível de alto valor nutritivo.
Nas quadras residenciais de Palmas-TO, aproximadamente 15% de sua superfície foi planejada como área verde não edificante (AVNE) com o objetivo de amenizar as elevadas temperaturas locais. Essas áreas verdes têm cumprido um papel socioambiental que vai além daquele para a qual foi planejada, trazendo melhorias consideráveis para o entorno. A arborização das áreas verdes das quadras de Palmas-TO possui múltipla importância. Das 182 espécies inventariadas, 36,3% podem ser utilizadas para alimentação humana, 58,8% são úteis para a fauna de vertebrados e invertebrados e 70,3% consideradas medicinais, usadas como fitoterápicos ou remédios caseiros (PINHEIRO; MARCELINO; MOURA, 2018). O predomínio de espécies nativas nas áreas verdes é altamente positivo sob diversos aspectos, seja prevenindo a homogeneização biótica ou dando suporte a uma maior diversidade de espécies (MORGENROTH et al., 2016). Em Palmas-TO, foi demonstrado ainda que a arborização nativa influencia positivamente a riqueza de aves, enquanto que essa relação é negativa quando comparado com a presença de espécies arbóreas exóticas (REIS; LÓPEZ-IBORRA; PINHEIRO, 2012). O somatório de alguns fatores como o intenso processo de conversão antrópica do Cerrado pela agropecuária, que já alterou quase metade da cobertura vegetal do bioma e a taxa de urbanização que superou os 100% nas últimas duas décadas (AZEVEDO et al., 2011) contribuem para a perda da diversidade biológica. Palmas-TO, a capital brasileira com a maior taxa de crescimento geométrico do país (IBGE, 2010), demanda ações urgentes visando à conservação da sua diversidade biológica. Infelizmente, na cidade ainda é incipiente a percepção do valor dado à vegetação nativa do Cerrado, que no aspecto sociocultural e ecológico, desempenha serviços ecossistêmicos mais relevantes que as espécies exóticas (GOMES-BAGGETHUN; BARTON, 2013). Além disso, informações sobre a importância do verde urbano incrementando o valor da propriedade, da saúde e do bem estar humano, a redução do consumo de energia e da poluição do ar ou a atenuação das enchentes (ESCOBEDO; KROEGER; WAGNER, 2011) devem ser amplamente difundidas para a sociedade, formadores de opinião e tomadores de decisão.
Reforçar os valores culturais e de pertencimento vinculados às espécies nativas e ouvir a opinião dos residentes locais são práticas não aplicadas pelos gestores locais. Enquanto cidades ao redor do mundo como Barcelona, Espanha (BARÓ et al., 2014), Compenhagen e Dinamarca (SJÖMAN et al., 2012) buscam alternativas para diversificar o verde urbano, priorizando espécies autóctones mais resilientes, com o intuito de mitigar os efeitos das mudanças climáticas, em Palmas-TO, onde as temperaturas são extremamente elevadas e a umidade relativa do ar baixa em grande parte do ano, as políticas públicas têm caminhado na direção contrária, permitindo a supressão indiscriminada de árvores nativas e a realização de práticas de gestão insustentáveis. Para que as áreas verdes e a arborização urbana cumpram efetivamente seu papel socioambiental e atenda as demandas da sociedade, faz-se necessária a urgente adoção de políticas públicas que protejam as espécies nativas e promovam a restauração dos ambientes naturais degradados em ambientes urbanos.
Conclusão
Palmas-TO se diferencia dos padrões urbanos vigentes, possuindo uma elevada diversidade de espécies arbóreas nativas nas áreas residenciais quando comparada a outros centros urbanos, o que está diretamente relacionado à presença das áreas verdes não edificantes. Nas ruas das quadras urbanizadas observa-se um processo avançando de substituição das espécies arbóreas nativas do Cerrado por espécies de outros biomas do Brasil e do exterior.
A elevada diversidade de espécies nativas tende a incrementar a integridade ecológica, porém é importante considerar os benefícios associados ao plantio de algumas espécies não nativas nas áreas urbanas, principalmente aquelas associadas a aspectos de identidade com a população, em grande parcela proveniente de outras regiões do Brasil.
A arborização das quadras residenciais de Palmas deverá ser considerada como um recurso multifuncional, proporcionando melhorias sociais, ambientais e econômicas. O manejo deve buscar o incremento da biodiversidade, priorizando a preservação das espécies autóctones e nativas do Cerrado, principalmente nas áreas verdes não edificantes onde é possível promover o adensamento arbóreo, maximizando os serviços ambientais e ecológicos promovidos pela arborização urbana.
Agradecimentos
Agradecemos o apoio da Fundação de Apoio Científico e Tecnológico do Tocantins - FAPTO, a Fundação Municipal de Meio Ambiente - FMA de Palmas-TO e a Lojas Havan.
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
10 Jul 2020 -
Data do Fascículo
Apr-Jun 2020
Histórico
-
Recebido
03 Abr 2019 -
Aceito
07 Fev 2020 -
Publicado
04 Jun 2020