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Partícula interrogativa e pitch-accent frasal nas perguntas polares em fa d’Ambô

Resumo

Apresentamos os recursos linguísticos para a realização de perguntas polares em fa d’Ambô (FA), a partir de um corpus formado por dados obtidos na Guiné Equatorial. Discutimos o (i) uso da partícula interrogativa final a; e a (ii) associação de pitch-accent frasal à última mora da palavra prosódica final da sentença, com alteração do acento da palavra e elevação da entonação, padrão linguístico não documentado, embora previsto por Gordon (2014). A interrogativa faculta o uso da partícula a para perguntas polares, porém seu uso não é licenciado em perguntas-QU. Trabalhos anteriores não abordaram essa questão (Barrena, 1957; Post, 1995; Zamora, 2010) ou afirmaram que as interrogativas polares eram construídas como as declarativas (Post, 1995). Argumentamos que, em FA, palavras acentuadas ao final da sentença interrogativa polar diferem daquelas que ocorrem em outras posições e que o pitch-accent é atraído ao limite direito da sentença, padrão não documentado em uma língua de sistema top-down (Gordon, 2014). Destacando o fato de a partícula final a ocorrer em FA e em outros crioulos de base portuguesa do Golfo da Guiné, oferecemos evidências para sua presença no Proto-Crioulo do Golfo da Guiné, bem como da influência das línguas do substrato Níger-Congo, sobretudo aquelas do cinturão sudanês.

Palavras-chave
Partículas; Fa d’Ambô; Perguntas polares; Línguas crioulas; Fonologia; Sintaxe

Abstract

Here we present linguistic strategies for asking polar questions in Fa d’Ambô (FA). We discuss the use of the final interrogative particle a, as well as the association between phrasal pitch-accent and the last mora of the final prosodic word of the sentence, with a possible change in word accent and rising intonation. The interrogative permits use of the particle a for polar questions, but it cannot be used in WH-questions. Previous studies have not addressed this question (Barrena, 1957; Post, 1995; Zamora, 2010), or have stated that polar interrogatives are constructed as declarative sentences (Post, 1995). We also maintain that in FA, stressed words at the end of a polar question differ from those in other positions, and that the pitch-accent is attracted to the right edge of the sentence, which has not yet been documented in a top-down language (Gordon, 2014). Additionally, we offer further evidence of the presence of this phenomenon in the Proto-Creole of the Gulf of Guinea (PGG), as well as influence from Niger-Congo substrate languages (especially from the Sudanic belt) in the Gulf, since this is an area-related feature of this group.

Keywords
Particles; Fa d'Ambô; Polar Questions; Creole Languages; Phonology; Syntax

INTRODUÇÃO

O fa d’Ambô1 1 Os dados do fa d’Ambô foram coletados por Ana Lívia Agostinho e Alfredo Christofoletti Silveira, em trabalho de campo realizado em Annobón e Bioko, em 2011, e os do lung’Ie, na ilha do Príncipe, por Ana Lívia Agostinho em 2010. Em ambos os casos, os dados foram coletados com falantes nativos, por meio de elicitação de sentenças previamente preparadas. Os dados de outros autores estão indicados. (FA) (código ISO 639-3: FAB) é uma língua falada na ilha de Ano Bom (doravante, AB), na República da Guiné Equatorial (RGE). Contando com cerca de 5 mil falantes em AB, a língua possui também um número desconhecido de usuários na capital, Malabo, e na diáspora equato-guineense. Atualmente, o FA é a língua materna de todos os anobonenses, sendo seu principal veículo de comunicação. Ao lado do espanhol, língua oficial da RGE, o FA está em uma situação de diglossia: a maioria da população é bilíngue ou multilíngue. Contudo, falantes monolíngues estão restritos ao grupo de idosos com faixa etária superior a 80 anos.

A província de Ano Bom se situa na Costa do Gabão, a 160 km ao sudoeste da ilha de São Tomé (Figura 1). Dessa forma, a ilha de AB encontra-se isolada do território político da RGE, ao qual pertence. Do ponto de vista geográfico, pertence à Linha Vulcânica dos Camarões, da qual também fazem parte as ilhas de Bioko, Príncipe e São Tomé.

Figura 1
O Golfo da Guiné. Fonte: National Geographic (1996)NATIONAL GEOGRAPHIC. MapMarker Interactive. 1996. Disponível em: http://mapmaker.nationalgeographic.org/. Acesso em: 2 nov. 2018.
http://mapmaker.nationalgeographic.org/...
.

Tendo sido uma colônia portuguesa desde sua descoberta, em 1543, até o ano de 1778, Ano Bom passou à Espanha, resultado do acordo no Tratado de El Pardo2 2 Com base nos termos do tratado, a rainha de Portugal Maria I cedeu as ilhas de Ano Bom, Formosa e a costa do Golfo da Guiné para o rei Carlos III da Espanha. Em troca desses territórios, Portugal adquiria faixas de territórios na América do Sul para o Brasil (Genuino, 2018, p. 25). , assim permanecendo até 1968, ocasião da fundação da RGE. Sendo uma ilha de apenas 17,5 km2, e longe das principais rotas de navegação seiscentistas, AB teve uma colonização irregular iniciada logo no seu descobrimento (Caldeira, 2004CALDEIRA, Arlindo. Rebelião e outras formas de resistência à escravatura nas ilhas do Golfo da Guiné (séculos XVI-XVIII). Studia Africana, Porto, n. 7, p. 101-136, 2004., 2006CALDEIRA, Arlindo. Uma ilha quase desconhecida: notas para a história de Ano Bom. Studia Africana, Porto, n. 17, p. 99-109, 2006., 2010CALDEIRA, Arlindo. La leyenda de Lodã, o de cómo Rolando, compañero del emperador Carlomagno, defendió la isla de Annobón de una invasión terrible. Oráfrica, Providència, n. 6, p. 89-114, abr. 2010.; Araujo et al., 2013ARAUJO, Gabriel Antunes de; HAGEMEIJER, Tjerk. Dicionário livre santome/português. São Paulo: Hedra, 2013.). Ademais, sua modesta extensão territorial jamais sustentou um modelo agroindustrial colonial de produção de cana-de-açúcar. Ao mesmo tempo, sua ocupação, basicamente, limitou-se a pessoas escravizadas, em geral, que haviam passado um período em São Tomé, tendo, portanto, levado consigo a língua falada nessa colônia, bem como uma versão da cultura católica portuguesa (Araujo et al., 2013ARAUJO, Gabriel Antunes de; SILVEIRA, Alfredo Christofoletti; AGOSTINHO, Ana Lívia; MENEZES, Manuele Bandeira; FREITAS, Shirley. Fa d’Ambô: língua crioula de base portuguesa de Ano Bom. Cadernos de Estudos Linguísticos, Campinas, v. 55, n. 2, p. 25-44, jul./dez. 2013.). Tanto a língua como os aspectos culturais anoboneses refletem sua ligação histórica com São Tomé e com o mundo português. Dessa forma, a gênese e o desenvolvimento do FA e a ocupação da ilha estão intimamente ligados ao processo de colonização português, alimentado pelo sequestro e deslocamento dos habitantes do continente africano para fins de exploração de mão de obra nas ilhas do Golfo da Guiné e além.

Há quatro línguas crioulas de base portuguesa autóctones e geneticamente relacionadas no Golfo da Guiné: o santome (ou forro, código ISO 639-3 CRI), o angolar (AOA), o lung’Ie (PRI) e o FA, sendo as três primeiras faladas em São Tomé e Príncipe (Schuchardt, 1888SCHUCHARDT, Hugo. Ueber das Negerportugiesische von Annobom. Sitzungsberichte der kaiserlichen Akademie der Wissenschaften zu Wien, [S. l.], v. 116, n. 1, p. 193-226, 1888. Sobre o português falado pelos negros de Ano Bom. Tradução Mario Eduardo Viaro, USP.; Günther, 1973GÜNTHER, Wilfried. Das portugiesische Kreolisch der Ilha do Príncipe. Marburg an der Lahn: Im Selbstverlag, 1973.; Ferraz, 1979FERRAZ, Luiz Ivens. The Creole of S. Thomé. Johannesburg: University of the Witwatersrand Press, 1979.; Maurer, 2009MAURER, Philippe. Principense. Londres: Battlebridge Publications, 2009.; Hagemeijer, 2009HAGEMEIJER, Tjerk. Initial vowel agglutination in the Gulf of Guinea creoles. In: ABOH, Enoch O.; SMITH, Norval (ed.). Complex processes in new languages. Amsterdam: John Benjamins Publishing Company, 2009. p. 29-50. (Creole Language Library, v. 35).; Bandeira, 2017BANDEIRA, Manuele. Reconstrução fonológica e lexical do protocrioulo do Golfo da Guiné. 2017. Tese (Doutorado em Filologia e Língua Portuguesa) – Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2017.). Dessa forma, partimos do pressuposto segundo o qual o FA teve sua origem no protocrioulo do Golfo da Guiné (PGG) falado na ilha de São Tomé, assim como as demais línguas crioulas de base portuguesa da região, no início do século XVI3 3 Ver Ferraz (1974, 1979), Garfield (1992), Maurer (1997, 2009), Post (1992, 1997), Hagemeijer (2003, 2009), Caldeira (2004), Seibert (2007), Araujo (2011), Bandeira (2017), Bandeira et al. (2019), entre outros. . As quatro línguas, embora aparentadas, são atualmente ininteligíveis entre si. Ao lado do FA, o lung’Ie (LI) e o santome (ST) possuem partículas interrogativas finais, como apontado no Quadro 1. Não há partícula interrogativa similar para o angolar, doravante AN4 4 Em nosso trabalho, não utilizamos a sigla AOA para se referir à língua angolar como é apontado na norma técnica ISO 639, que institui para as línguas diversos códigos para seus respectivos nomes. Assim, optamos por utilizar um código mais intuitivo (AN) para o angolar, a exemplo do que utilizamos para nos referirmos ao português brasileiro (PB), por exemplo. (Maurer, 1995MAURER, Philippe. L’angolar: un créole afro-portugais parlé à São Tomé: notes de grammaire, textes, vocabulaires. Hamburg: Helmut Buske Verlag, 1995. (href="https://searchworks.stanford.edu/catalog?q=%22Kreolische+Bibliothek%22&search_field=search_series"> Kreolische Bibliothek, Bd. 16).
https://searchworks.stanford.edu/catalog...
). De acordo com Martins (2016)MARTINS, Ana Maria. O sistema responsivo: padrões de respostas a interrogativas polares e a asserções. In: MARTINS, Ana Maria; CARRILHO, Ernestina (ed.). Manual de linguística portuguesa. Berlin: De Gruyter, 2016. p. 581-609., a sintaxe das orações interrogativas é objeto de uma vasta investigação linguística, principalmente em relação às propriedades do sistema responsivo, contudo, ainda faltam estudos que se debrucem sobre a forma como essas perguntas são respondidas e também o modo como diferentes línguas realizam suas respostas em contextos de interrogativas.

Quadro 1
Partícula interrogativa a/an nas línguas do Golfo da Guiné.

Este trabalho está organizado da seguinte forma: na seção “Perguntas polares”, apresentamos uma breve definição das perguntas polares e de suas características gerais; na seção “As interrogativas polares no fa d’Ambô”, retomamos os trabalhos que descreveram as sentenças interrogativas em FA e apresentamos a existência de uma estratégia que emprega uma partícula interrogativa polar final, associada a comportamentos que revelam traços da interface fonologia-sintaxe. Ainda nessa seção, mostramos o comportamento não documentado anteriormente do padrão pitch-accent em interrogativas finais no FA. Na seção “Partículas interrogativas no Golfo da Guiné e no substrato africano”, mostramos a ligação entre a partícula interrogativa polar final, o protocrioulo do Golfo da Guiné e as línguas do substrato Níger-Congo, caracterizando, portanto, a existência da partícula interrogativa final no FA como um traço areal nígero-congolês do cinturão sudanês. Na última seção, apresentamos nossas considerações finais.

PERGUNTAS POLARES

As frases interrogativas, de acordo com Brito et al. (2003, p. 460)BRITO, Ana Maria; DUARTE, Inês; MATOS, Gabriela. Estrutura da frase simples e tipos de frases. In: MATEUS, Maria Helena Mira; BRITO, Ana Maria; DUARTE, Inês; FARIA, Isabel Hub; FROTA, Sônia; MATOS, Gabriela; OLIVEIRA, Fátima; VIGÁRIO, Marina; VILLALVA, Alina. Gramática da língua portuguesa. Lisboa: Editorial Caminho, 2003. p. 433-506., “[...] constituem a expressão de um acto ilocutório directivo, através do qual o locutor pede ao seu alocutário que lhe forneça verbalmente uma informação de que não dispõe”. Há dois tipos de sentenças interrogativas, de acordo com as respostas que lhe são dadas: interrogativas-QU e interrogativas polares:

a) As interrogativas-QU são assim chamadas porque possuem um pronome-QU (que, quem, qual, o que, onde, quando, como, quanto) introduzindo a interrogativa-QU matriz (Braga et al., 2009BRAGA, Maria Luiza; KATO, Mary; MIOTO, Carlos. As construções-Q no português brasileiro falado. In: KATO, Mary; NASCIMENTO, Milton do (org.). A construção da sentença: gramática do português culto falado no Brasil. Campinas: Editora da Unicamp, 2009. v. II, p. 241-289.), como nos exemplos a seguir:

(1a) Quem comeu o bolo? (1b) Onde será realizada a prova de sintaxe? (1c) Quanto custa esse manual de fonologia?

Segundo Braga et al. (2009)BRAGA, Maria Luiza; KATO, Mary; MIOTO, Carlos. As construções-Q no português brasileiro falado. In: KATO, Mary; NASCIMENTO, Milton do (org.). A construção da sentença: gramática do português culto falado no Brasil. Campinas: Editora da Unicamp, 2009. v. II, p. 241-289., as respostas que se esperam em (1) são induzidas pelo tipo de pronome-QU que constituem essas interrogativas. Assim, em (1a), uma resposta esperada é a identificação de uma pessoa; em (1b), há a expectativa da nomeação de algum lugar; e em (1c) a especificação de um valor. A pressuposição que caracteriza semanticamente uma interrogativa-QU, ou as sentenças de (1), pode ser expressa a partir da fórmula adaptada de Braga et al. (2009, p. 265)BRAGA, Maria Luiza; KATO, Mary; MIOTO, Carlos. As construções-Q no português brasileiro falado. In: KATO, Mary; NASCIMENTO, Milton do (org.). A construção da sentença: gramática do português culto falado no Brasil. Campinas: Editora da Unicamp, 2009. v. II, p. 241-289.:

(2a) existe um x que é pessoa em (1a), que é um local em (1b), que é um valor em (1c). (2b) para qual x é verdade que x é uma pessoa que comeu o bolo em (1a), que x é um local de realização da prova de sintaxe em (1b), que x é o valor de um manual de fonologia em (1c).

b) As interrogativas polares, também conhecidas como perguntas sim/não ou interrogativas diretas, são empregadas pelos falantes quando o objetivo é valorar o enunciado a partir de seu valor de verdade, ou seja, se indaga acerca da verdade-falsidade que há na relação entre o sujeito e o predicado, como em (3):

(3) Você revisou o artigo para publicação? (3a) Sim. (3b) Não.

Ao indagarmos nosso interlocutor em (3), as respostas esperadas podem ser o que vemos em (3a), ‘sim’, que caracterizaria o conteúdo como verdadeiro, ou esperamos obter (3b), ‘não’, que caracterizaria o conteúdo como falso.

Em termos fonológicos, uma sentença interrogativa polar pode, em algumas línguas, também ser diferenciada de sua equivalente declarativa pela sua curva de entonação específica, considerando que, na maioria dos casos, a ordem dos constituintes nesses dois tipos de sentenças é igual. No português brasileiro, por exemplo, a realização de uma sentença declarativa, como ‘Amanhã vai faltar água’, é diferenciada pela curva entonacional de sua correspondente interrogativa (Figura 2).

Ao analisarmos a Figura 2, a curva entonacional para a sentença afirmativa mostra-se decrescente, com um pico maior no primeiro termo da afirmação. Para a sentença interrogativa, a curva entonacional alcança seu pico justamente ao final da produção, caracterizando a melodia específica das interrogativas do português brasileiro. As interrogativas-QU, no português brasileiro, também apresentam curva entonacional específica como as interrogativas polares, mas diferenciam-se pela presença dos pronomes-QU como apontado anteriormente.

Figura 2
Curva entonacional para ‘Amanhã vai faltar água’ afirmativa e interrogativa.

No FA, por exemplo, há a possibilidade do emprego de uma partícula na realização de perguntas polares associada às mudanças em alguns traços prosódicos, além da presença dos pronomes-QU e do recurso entonacional, conforme abordado na próxima seção.

AS INTERROGATIVAS POLARES NO FA D’AMBÔ

A tarefa de incluir as partículas no espectro tradicional de categorias gramaticais não pode ser considerada trivial (Zwicky, 1985ZWICKY, Arnold M. Clitics and particles. Language, New York, v. 61, n. 2, p. 283-305, June 1985.; Radford, 1997RADFORD, Andrew. Syntax: a minimalist introduction. Cambridge: Cambridge University Press, 1997.). Dessa forma, aqui classificamos as partículas como itens invariáveis que apresentam funções gramaticais específicas, distribuição idiossincrática e semanticamente associáveis a itens funcionais, ao invés de itens de conteúdo, corroborando Zwicky (1985, p. 291)ZWICKY, Arnold M. Clitics and particles. Language, New York, v. 61, n. 2, p. 283-305, June 1985.. Assim, a partícula interrogativa do FA apresenta independência fonológica, um dos fatores que distingue as partículas dos clíticos, e ordem fixa de realização: ao final da sentença interrogativa polar. Essa ordem fixa das partículas, por exemplo, a diferencia de outras classes gramaticais que possuem mobilidade sentencial, como os advérbios. Além disso, seu uso restringe-se a um tipo específico de sentença, a interrogativa polar, contribuindo para a discussão teórica acerca do estatuto das partículas nas línguas do mundo.

O emprego de uma partícula interrogativa final como estratégia de construção de sentenças interrogativas não foi objeto de investigação na história do FA (Barrena, 1957BARRENA, Natalio. Gramática annobonesa. Madrid: Consejo Superior de Investigaciones Científicas, 1957.; Post, 1995POST, Marike. Fa d’Ambu. In: ARENDS, Jacques; MUYSKEN, Pieter; SMITH, Norval (ed.). Pidgins and Creoles: an introduction. Amsterdam: John Benjamins Publishing Company, 1995. p. 191-204.; Zamora, 2010ZAMORA, Armando. Gramática Descriptiva del Fá d’Ambô. Guiné Equatorial: Ceiba Ediciones: Centros Culturales Españoles, 2010.). A gramática descritiva de Barrena (1957)BARRENA, Natalio. Gramática annobonesa. Madrid: Consejo Superior de Investigaciones Científicas, 1957., elaborada ao final do século XIX e publicada em 1957, não menciona estratégias para se formular interrogativas, exceto com o uso de pronomes interrogativos-QU. Nos seus poucos exemplos de sentenças interrogativas, contudo, não há menção ao emprego de partículas. Post (1995)POST, Marike. Fa d’Ambu. In: ARENDS, Jacques; MUYSKEN, Pieter; SMITH, Norval (ed.). Pidgins and Creoles: an introduction. Amsterdam: John Benjamins Publishing Company, 1995. p. 191-204., por sua vez, afirma que as interrogativas polares são construídas sem mudança na ordem dos elementos da sentença, ou seja, da mesma forma que as sentenças declarativas. Adicionalmente, observa que pronomes-QU sempre aparecem na primeira posição da sentença interrogativa. A autora afirma, ainda, que a interrogativa de sentenças principais é expressa com uma entonação no final da sentença. Todavia, não especifica a natureza da entonação e não diferencia a entonação da sentença com e sem pronomes-QU, além de não apresentar dados com a partícula interrogativa. Zamora (2010)ZAMORA, Armando. Gramática Descriptiva del Fá d’Ambô. Guiné Equatorial: Ceiba Ediciones: Centros Culturales Españoles, 2010. mostra que a entonação é essencial em FA para a construção de sentenças interrogativas, fornecendo exemplos com entonação decrescente e crescente. Podemos observar os exemplos de Zamora (2010)ZAMORA, Armando. Gramática Descriptiva del Fá d’Ambô. Guiné Equatorial: Ceiba Ediciones: Centros Culturales Españoles, 2010. em (4), onde a ortografia e transcrição fonética foram mantidas como no original. O exemplo (4a) não traz a curva entonacional e os exemplos (4b) e (4c) não são transcritos foneticamente no original. Zamora (2010)ZAMORA, Armando. Gramática Descriptiva del Fá d’Ambô. Guiné Equatorial: Ceiba Ediciones: Centros Culturales Españoles, 2010.não apresenta exemplos de interrogativas polares com curva entonacional:

(4a) Quê juá bô falà?   ['kɘxwa 'bͻfala ↓]   ‘O que você disse?’5 (Zamora, 2010, p. 106, tradução nossa)     (4b) A fà Zuã bì onte?     ‘Disseram que João veio ontem?’6(Zamora, 2010, p. 107, tradução nossa)     (4c) A fà Zuã bì onte.     ‘Disseram que João veio ontem.’7 (Zamora, 2010, p. 107, tradução nossa)
(5a)     L       |   [bo ˈbe a ↓]?   2SG ver q   ‘Você viu?’
(5b) [bo ˈbe ↑]?   2SG ver   ‘Você viu?’

Os exemplos em (4) mostram sentenças interrogativas com entonação decrescente – (4a) –, quando há uma partícula-QU. O exemplo (4b) possui entonação crescente, pois a interrogativa é polar. Em (4c), a entonação decrescente é padrão nas sentenças declarativas. Ao mesmo tempo, Zamora (2010, p. 536, tradução nossa) observa que a entonação crescente ocorre “[...] pela ausência de marcadores léxicos próprios das orações interrogativas”8 8 No original: “[...] por la ausencia de marcadores léxicos propios de las oraciones interrogativas” (Zamora, 2010, p. 536). em interrogativas absolutas. Entretanto, o FA possui outras estratégias para a construção de perguntas polares, que serão discutidas neste artigo: (a) emprego da partícula interrogativa a, associada a uma entonação decrescente, e (b) entonação crescente com acentuação na última mora, provocando alteração no padrão acentual da última palavra prosódica do enunciado9 9 Parcialmente descrito por Zamora (2010, p. 527). pela realização de um pitch-accent frasal à direita.

PARTÍCULA a

O emprego da partícula interrogativa a, para se construir sentenças polares, pode ser observado em (5a). Seu emprego está associado, necessariamente, a um tom baixo (low - L) e a uma entonação descendente, marcada na sentença com o símbolo ↓. A entonação ascendente, marcada com o símbolo ↑, por sua vez, é compulsória quando a partícula não é empregada, como em (5b):

(6a) [bo be piˈʃɔxɔ̥ ↓]   2SG ver pixor10   ‘Você viu o pixor’.
(6b) [bo be piʃɔˈxɔ ↑]?   2SG ver pixor   ‘Você viu o pixor?’
(6c) [bo be piʃɔˈxɔ a ↓]?   2SG ver pixor.q   ‘Você viu o pixor?’
(6d) [bo be piʃɔˈxa ↓]?   2SG ver pixor.q   ‘Você viu o pixor?’

Em (6a) podemos observar a sentença declarativa com a última palavra prosódica terminada em vogal átona desvozeada e acento paroxítono. Nesse caso, o acento é fonologicamente paroxítono, mas foneticamente oxítono pelo desvozeamento da vogal final. Em (6b), podemos observar a estratégia da alteração do acento sendo aplicada, o que gera vozeamento da vogal [ɔ], antes desvozeada. A estratégia de mudança de acento será discutida na seção “Acento final”. Quando a última palavra prosódica da interrogativa termina com uma vogal fonologicamente átona, pode ocorrer um processo opcional de sândi vocálico externo, no qual há o apagamento da vogal átona desvozeada e a adjunção da partícula a à palavra prosódica final. Já em (6c), há o emprego da partícula interrogativa sem o processo de sândi e, em (6d), a mesma ocorre juntamente com o processo de sândi vocálico, ou seja, temos [piˈʃɔxɔº] + [a] → [piʃɔˈxɔ a] → [piʃɔˈxa].

(7a) [bo ˈbe a↓]?   2SG ver Q   ‘Você viu?’
(7b) *[bo ˈba ↑]?
(8a) [ˈkenge sa ˈbo ↑]?   quem COP 2SG   ‘Quem é você?’
(8b) *[ˈkenge sa ˈbo a ↑]?

O processo de sândi vocálico externo, contudo, não é aplicado quando a última palavra do enunciado é terminada em uma sílaba acentuada, ou seja, ele só pode ocorrer com vogais finais átonas desvozeadas, seguidas de palavra iniciada por vogal. O bloqueio de sândi vocálico externo por conta de acento em determinados contextos prosódicos também ocorre no português (Tenani, 2007TENANI, Lucinai Ester. Acento e processos de sândi vocálico no Português. In: ARAÚJO, Gabriel Antunes de (org.). O acento em Português: abordagens fonológicas. São Paulo: Parábola, 2007. p. 135-156.) e no LI (Agostinho, 2015AGOSTINHO, Ana Lívia. Fonologia e método pedagógico do lung’Ie. 2015. Tese (Doutorado em Filologia e Língua Portuguesa) - Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015.).

(8c) *[ˈkenge sa ˈba ↑]?
(9a) [bo kum piˈʃɔxɔ̥ ↓]   2SG comer pixor   ‘Você comeu pixor.’

Em sentenças com partículas-QU, como em (8a), a realização da partícula interrogativa a é agramatical, como vemos em (8b) e (8c):

      H*       |   (9b) [bo kum piʃɔˈxɔ ↑]?   2SG comer pixor   ‘Você comeu pixor?’
(10a) [bo be ho'saj ↓]   2SG ver aquilo   ‘Você viu aquilo.’
      H * | (10b) [bo be hosa'i ↑]?   2SG ver aquilo   ‘Você viu aquilo?’

A sintaxe das perguntas polares pode lançar luzes sobre a questão da palavra prosódica e evidenciar uma sentença como interrogativa. Na estratégia da mudança de acento para a margem da palavra prosódica, a interrogativa polar recebe entonação crescente concomitante à mudança de acento. Se a palavra terminar com vogal desvozeada, a mudança de acento acarreta seu vozeamento; e se terminar em glide, este recebe o traço [+silábico], sendo realizado como uma vogal. Dessa maneira, podemos observar que essa estratégia evidencia a vogal desvozeada na forma fonológica subjacente, como em /piˈʃɔxɔ/, cujo output pode ser [piˈʃɔxɔº] ou [piˈʃɔx]. Portanto, trata-se de uma evidência que sustenta o estatuto fonético dos glides, ou seja, as formas subjacentes de [ho'saj] e ['baj] são /ho'sai/ e /'bai/, respectivamente. Portanto, os glides, como proposto por Araujo e Agostinho (2014)ARAUJO, Gabriel Antunes de; AGOSTINHO, Ana Lívia. Fa do Vesu: a language game of Fa d’Ambô. PAPIA, São Paulo, v. 24, n. 2, p. 265-281, jul./dez. 2014., se comportam como consoantes na forma fonética.

As interrogativas-QU e as interrogativas polares com a partícula a têm entonação decrescente, ao passo que interrogativas polares sem a apresentam entonação crescente. Assim, quando há alguma indicação morfossintática de que a sentença possa ser interrogativa, no caso, com o uso de um pronome-QU ou da partícula a, a entonação é a mesma da frase declarativa, ou seja, decrescente. Quando não há evidência morfossintática de que a sentença seja interrogativa, a entonação crescente e a mudança de acento são utilizadas para diferenciá-la da sentença declarativa. Isso corrobora dados de outras línguas, como o inglês, por exemplo. Segundo Gordon (2014, p. 3, tradução nossa), “A maioria das línguas realiza seus enunciados declarativos não marcados com uma queda terminal de pitch11 11 No original: “Most languages realize their unmarked declarative utterances with a terminal pitch fall” (Gordon, 2014, p. 3). e “Perguntas sim-não em inglês, caracteristicamente, são realizadas com um pitch crescente, distinguindo-as entonacionalmente de declarativas e de perguntas-QU”12 12 No original: “For example, yes/no questions in English characteristically are realized with a final rise in pitch, thereby distinguishing them intonationally from declaratives and wh-questions” (Gordon, 2014, p. 3). . Nesse sentido, o emprego da partícula a associada à entonação decrescente apresenta uma característica interessante para questões de tipologia linguística e de línguas africanas, pois revela aspectos da interação fonologia-sintaxe, bem como a transmissão de traços areais na gênese das línguas crioulas.

ACENTO FINAL

A segunda estratégia de construção de perguntas polares em FA é a acentuação da última mora fonética (vogal ou glide) da palavra prosódica final do enunciado associada a uma entonação crescente, sendo analisada aqui como uma consequência de um pitch-accent13 13 Entendemos pitch-accent aqui como adotado em estudos autossegmentais de entonação (Hulst, 2011). frasal ligado à última mora da sentença. Esse pitch-accent final contribui para a entonação crescente verificada nessas sentenças. O padrão de acentuação na mora final se revela quando o acento14 14 Entendemos acento como uma categoria abstrata de proeminência no nível lexical (Hulst, 2011), que tem potencial para receber um pitch-accent (Bolinger, 1958 apud Gussenhoven, 2004). Não trataremos neste trabalho do tom lexical do fa d’Ambô, categoria ainda pouco descrita nesta língua. Post (2013) afirma que, apesar de algumas palavras apresentarem distinção por tom (high e low - H e L), o fa d’Ambô parece não ser mais uma língua tonal. Zamora (2010) considera o FA como uma língua de padrão acentual (stress-accent), apesar de observar a altura como um correlato acústico distintivo na língua. pré-final de um item lexical nas sentenças declarativas é realizado como final pela associação do pitch-accent (high - H*) à direita, como pode ser observado nos exemplos (9) e (10). Em (9a), uma sentença declarativa neutra, o acento recai na sílaba [ˈʃɔ] da última palavra prosódica do enunciado. Contudo, na sentença interrogativa com os mesmos elementos lexicais, como em (9b), o acento final frasal recai na sílaba ['xɔ]. Em (9a), a vogal final era desvozeada por ser átona final. Em (9b) devido à mudança de acento, a vogal final deixa de ser desvozeada.

(11a) [mɛnɛ 'baj ↓]   Manuel ir   ‘Manuel foi.’
    H * |               (11b) [mɛnɛ ba'i ↑]?   Manuel ir   ‘Manuel foi embora?’15 (Zamora, 2010, p. 537, tradução nossa)

Em (10a) e (11a), por sua vez, a última palavra prosódica da sentença declarativa neutra termina com um glide. Já nas contrapartes interrogativas (10b) e (11b), o acento obriga que o elemento final seja realizado como [i], desfazendo o ditongo da forma fonética e transformando o glide em vogal, ou seja, no único elemento de uma sílaba sem onset.

Essa estratégia é particularmente interessante porque o acento frasal final não é comumente realizado na última sílaba ou mora, como proposto por Gordon (2014)GORDON, Matthew. Disentangling stress and pitch-accent: a typology of prominence at different prosodic levels. In: Hulst, Harry van der (ed.). Word Stress: theoretical and typological issues. Cambridge: Cambridge University Press, 2014. p. 83-118.. Segundo o autor, a maioria das línguas do mundo associa o pitch-accent frasal a sílabas tônicas, o que configura um sistema de pitch-accent do tipo bottom-up. De acordo com essa tipologia, o FA seria uma língua de pitch-accent top-down, uma vez que o acento lexical em palavras em final de sentença pode ser diferente do que ocorre em outras posições (Gordon, 2014GORDON, Matthew. Disentangling stress and pitch-accent: a typology of prominence at different prosodic levels. In: Hulst, Harry van der (ed.). Word Stress: theoretical and typological issues. Cambridge: Cambridge University Press, 2014. p. 83-118.), como mostrado. Ou seja, o pitch-accent frasal pode ser associado a uma sílaba átona. Todas as línguas desse padrão analisadas por Gordon (2014)GORDON, Matthew. Disentangling stress and pitch-accent: a typology of prominence at different prosodic levels. In: Hulst, Harry van der (ed.). Word Stress: theoretical and typological issues. Cambridge: Cambridge University Press, 2014. p. 83-118. repelem o acento final na borda direita da sentença, ocorrendo normalmente na penúltima ou antepenúltima sílaba. Nesse sentido, o FA se distancia do padrão, uma vez que o acento frasal se dá na última mora à direita. Gordon (2014, p. 96, tradução nossa)GORDON, Matthew. Disentangling stress and pitch-accent: a typology of prominence at different prosodic levels. In: Hulst, Harry van der (ed.). Word Stress: theoretical and typological issues. Cambridge: Cambridge University Press, 2014. p. 83-118. sugere que:

Curiosamente, outro sistema logicamente possível, que parece ser muito menos atestado, se é que já o tenha sido, é o inverso dos padrões em que o pitch-accent é atraído ao invés de repelido pela borda direita. Neste tipo de sistema, o acento lexical de palavra cairia sobre uma sílaba pré-final, mas o acento frasal pitch-accent seria realizado em uma sílaba final16 16 No original: “Interestingly, another logically possible system that appears to be far less widely attested, if at all, is the inverse of these patterns in which the pitch accent is attracted to rather than repulsed by the right edge. In this type of system, word-level stress would fall on a pre-final syllable but the phrasal pitch accent docks on a final syllable” (Gordon, 2014, p. 96). .

Dessa forma, o FA contribui para a comprovação da existência desse tipo de sistema, que, segundo Gordon (2014)GORDON, Matthew. Disentangling stress and pitch-accent: a typology of prominence at different prosodic levels. In: Hulst, Harry van der (ed.). Word Stress: theoretical and typological issues. Cambridge: Cambridge University Press, 2014. p. 83-118., era logicamente possível, mas não havia sido atestado.

PARTÍCULAS INTERROGATIVAS NO GOLFO DA GUINÉ E NO SUBSTRATO AFRICANO

Após a formação do protocrioulo do Golfo da Guiné, ocorreu a separação geográfica de seus falantes, que contribuiu com a especiação das quatro línguas, ST, AN, LI e FA (Ferraz, 1979FERRAZ, Luiz Ivens. The Creole of S. Thomé. Johannesburg: University of the Witwatersrand Press, 1979.; Bandeira, 2017BANDEIRA, Manuele. Reconstrução fonológica e lexical do protocrioulo do Golfo da Guiné. 2017. Tese (Doutorado em Filologia e Língua Portuguesa) – Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2017.). O LI apresenta estratégias de formação de interrogativas similares, que incluem a realização da partícula interrogativa final a (Maurer, 2009MAURER, Philippe. Principense. Londres: Battlebridge Publications, 2009.; Agostinho, 2015AGOSTINHO, Ana Lívia. Fonologia e método pedagógico do lung’Ie. 2015. Tese (Doutorado em Filologia e Língua Portuguesa) - Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015.). Nos exemplos em (12), podemos observar a partícula a no LI. Em (12a), ela é empregada em uma pergunta polar com entonação decrescente. Contudo, diferentemente do FA, a partícula a pode ser realizada concomitante às palavras-QU, como em (12b) e (12c), mas sua realização é agramatical em sentenças semelhantes no FA. Em relação ao processo de sândi17 17 Para maiores detalhes, veja Agostinho et al. (2012). , este ocorre quando a palavra anterior à partícula é terminada em [a], resultando em uma vogal longa [a:]18 18 Em lung’Ie, a duração vocálica é fonológica (Günther, 1973; Maurer, 2009; Agostinho, 2015, 2016). , como podemos notar em (12c). O processo de sândi pode ocorrer, opcionalmente, quando há outras vogais precedendo a, como podemos observar em (12d), onde as palavras ve ‘ver’ e wɛ ‘ir’ terminam em uma vogal média.

(12a) [tʃi meˈse a ↓]?   2SG querer Q   ‘O que você quer?’19
(12b) [ˈkwa tʃi meˈse a ↓]?   o.que 2SG querer Q   ‘O que você quer?’20
(12c) [kuˈmin ʃiˈkɔla sa ˈta: ↓]?   onde escola COP ficar.Q     ‘Onde fica a escola?’21
(12d) [kumin tʃi wa ↓]? (wɛ + a ➔ wa)   onde 2SG ir.Q     ‘Onde você foi?’ (informação verbal)22

Além disso, o fato de a partícula a ocorrer em FA e LI, assim como an em ST, conforme vemos em (13), evidencia que esta partícula, ou uma variante, provavelmente estava presente no PGG, uma vez que as três línguas coirmãs foram isoladas geograficamente e, portanto, seria improvável um desenvolvimento independente por acaso.

(13) Bô tendê an?   2SG entender q   ‘Compreendeste?’ (Araujo; Hagemeijer, 2013, p. 24)

O FA, assim como as outras línguas do Golfo da Guiné, possui substrato Níger-Congo, mais especificadamente de línguas Edoides (que fazem parte do grupo Benue-Congo Oeste), Bantu e Kwa (Hagemeijer, 2011HAGEMEIJER, Tjerk. The Gulf of Guinea creoles: genetic and typological relations. Journal of Pidgin and Creole Languages, Amsterdam, v. 26, n. 1, p. 111-154, 2011.). Línguas Benue-Congo do grupo Bantu, como o kikongo e o quimbundo, contudo, não apresentam partículas interrogativas (Chatelain, 1888CHATELAIN, Heli. Grammatica elementar do kimbundu ou Lingua de Angola. Genebra: Typ. de Charles Schuchardt, 1888.; Nzwanga, 2007NZWANGA, Mazemba A. Beto Tuba Kikongo: a multidimensional approach to the teaching and learning of Kikongo as a foreign language. Madison: National African Language Resource Center Press, 2007.). Segundo Nzwanga (2007)NZWANGA, Mazemba A. Beto Tuba Kikongo: a multidimensional approach to the teaching and learning of Kikongo as a foreign language. Madison: National African Language Resource Center Press, 2007., perguntas sim/não em kikongo são realizadas com entonação crescente, enquanto que perguntas-QU são descritas como sendo realizadas ‘com ou sem entonação’, o que nos parece significar que há a possibilidade de entonação crescente para perguntas-QU. Línguas Volta-Niger podem apresentar partículas interrogativas, como ocorre em bini, edo e ewe (Dryer, 2013DRYER, Matthew S.; HASPELMATH, Martin (ed.). The World Atlas of Language Structures Online. Leipzig: Max Planck Institute for Evolutionary Anthropology, 2013. Disponível em: https://wals.info/feature/116A#3/4.21/-13.97. Acesso em: 27 jul. 2019.
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a, 2013bDRYER, Matthew S. Position of Polar Question Particles. In: DRYER, Matthew S; HASPELMATH, Martin (ed.). The World Atlas of Language Structures Online. Leipzig: Max Planck Institute for Evolutionary Anthropology, 2013b. Disponível em: https://wals.info/chapter/92. Acesso em: 27 jul. 2019.
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). A Figura 3 apresenta as estratégias interrogativas, em geral, em um número considerável de línguas africanas. De forma estrita, partículas interrogativas são comuns na região atlântica da África Central, embora ocorram também fora dessa região.

Figura 3
Perguntas polares na África. Fonte: Dryer e Haspelmath (2013)DRYER, Matthew S.; HASPELMATH, Martin (ed.). The World Atlas of Language Structures Online. Leipzig: Max Planck Institute for Evolutionary Anthropology, 2013. Disponível em: https://wals.info/feature/116A#3/4.21/-13.97. Acesso em: 27 jul. 2019.
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Contudo, a Figura 4 apresenta as línguas que possuem partículas finais para perguntas sim/não. Podemos observar uma concentração de línguas com partícula de perguntas polares final na região próxima do Delta do Níger, ao norte do Golfo da Guiné. Hagemeijer (2009)HAGEMEIJER, Tjerk. Initial vowel agglutination in the Gulf of Guinea creoles. In: ABOH, Enoch O.; SMITH, Norval (ed.). Complex processes in new languages. Amsterdam: John Benjamins Publishing Company, 2009. p. 29-50. (Creole Language Library, v. 35). demonstra que as línguas da região do Delta do Níger estiveram presentes na formação do protocrioulo do Golfo da Guiné. Contudo, suas influências poderiam ser notadas de forma mais evidente no LI. Entretanto, ao consideramos a influência areal, a presença das línguas do substrato parece ter tido um papel também no protocrioulo e no FA, a valer pela existência de partículas polares finais nessas línguas. Dessa forma, os dados linguísticos aqui apresentados reforçam a hipótese da presença do substrato das línguas da região do Delta do Níger na formação das línguas crioulas de base portuguesa, posto que a partícula interrogativa para perguntas polares finais pode ser associada a um traço areal.

Figura 4
Partículas finais de perguntas polares. Fonte: Dryer e Haspelmath (2013)DRYER, Matthew S. Polar Questions. In: DRYER, Matthew S.; HASPELMATH, Martin (ed.). The World Atlas of Language Structures Online. Leipzig: Max Planck Institute for Evolutionary Anthropology, 2013a. Disponível em: https://wals.info/chapter/92. Acesso em: 27 jul. 2019.
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Ao mesmo tempo, a maioria das línguas usa uma entonação crescente para perguntas sim/não, o que não é o caso do FA. Clements e Rialland (2007, p. 75, tradução nossa)CLEMENTS, G. N.; RIALLAND, Annie. Africa as a phonological area. In: HEINE, Bernd; NUERSE, Derek (ed.). A linguistic geography of Africa. Cambridge: Cambridge University Press, 2007.23 23 No original: “While many of the question markers found in Africa are commonly used elsewhere in the world, one type appears to be unique, or near-unique, to this continent: this consists of markers that do not involve high pitch or pitch raising. No less than thirty-four languages in our sample – almost half – are reported to have question markers of this type” (Clements; Rialland, 2007, p. 75). apontam que:

Enquanto muitas das marcações de perguntas encontradas em África são comumente usadas em outras partes do mundo, um tipo parece ser único, ou quase-único, para esse continente: consiste na marcação que não envolve high pitch ou pitch crescente. Não menos que trinta e quatro línguas em nosso recorte – quase metade – são registradas como tendo esse tipo de marcação para perguntas.

Os autores encontraram uma entonação decrescente ou um tom decrescente em línguas do cinturão sudanês, incluindo as línguas kwa e edoide. Este traço não foi encontrado em nenhuma língua bantu, o que pode estar relacionado às limitações dos bancos de dados analisados. Uma vogal aberta, normalmente [a], marcadora de pergunta, foi encontrada em línguas kwa (línguas gbe, ewe, fon, gun etc.) e edoide (Engenni). Podemos observar a distribuição de diferentes marcadores com vogais baixas24 24 “O conjunto de propriedades observadas – vogais abertas, tons baixos (L), entonação final decrescente e alongamento, frequentemente em combinação – constituem uma síndrome do que poderia ser chamado de características ‘relaxadas’, uma vez que são acompanhadas de um relaxamento das cordas vocais, trazendo um pitch baixo e a presença de vogais baixas, carregando tons baixos foneticamente” (Clements; Rialland, 2007, p. 79, tradução nossa). No original: “The cluster of properties just reviewed – open vowels, L tones, sentence-final falling intonation, and lengthening, often in combination – constitutes a syndrome of what might be called lax features, centering around a relaxation of the vocal cords inducing pitch lowering and the presence of low vowels, bearing intrinsically low phonetic pitch” (Clements; Rialland, 2007, p. 79). de perguntas sim/não no cinturão sudanês na Figura 5.

Figura 5
Distribuição de marcadores prosódicos de perguntas ‘relaxadas’, que ocorrem em 41 entre amostragem de 75 línguas africanas para as quais foram encontradas informações relevantes. Fonte: Clements e Rialland (2007, p. 79, mapa 3.7, no original).

Parece haver correlação entre a entonação decrescente e o [a] marcado com tom baixo encontrado nessas línguas e o encontrado em FA e LI. Outra vez, esses marcadores não ocorrem em nenhuma língua bantu do banco de dados, embora os autores aleguem que isso possa ter ocorrido devido à limitação dessa fonte e porque esses recursos possam estar presentes ou ser até mesmo comuns nessas línguas (Clements; Rialland, 2007CLEMENTS, G. N.; RIALLAND, Annie. Africa as a phonological area. In: HEINE, Bernd; NUERSE, Derek (ed.). A linguistic geography of Africa. Cambridge: Cambridge University Press, 2007., p. 79).

Em suma, propomos que a partícula interrogativa a já estivesse presente no protocrioulo do Golfo da Guiné com a mesma função, baseados nos reflexos encontrados no FA, LI e ST, e que se trata de um traço areal do cinturão sudanês. Além disso, o fato de esses tipos de marcadores serem apenas encontrados em África evidencia a influência das línguas de substrato nos crioulos de base portuguesa do Golfo da Guiné.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente artigo teve como objetivo apresentar dados inéditos da língua FA que podem contribuir para os estudos das partículas a partir das propriedades fonológicas e sintáticas das perguntas polares. Como esperado, o comportamento heterogêneo dessa classe gramatical também é manifestado no FA. Foi mostrado que a ocorrência da partícula a no FA é umas das estratégias de construção de interrogativas polares. Assim, a forma fonética da partícula também pode ser associada a elementos prosódicos e sintáticos. Portanto, a manifestação mesma da partícula se dá na posição na sentença, na interação entre pitch-accent, acento tradicional e entonação. Desse modo, os dados apresentados do FA, em relação às interrogativas polares, apontam para uma interface, evidenciando as relações entre a fonologia, a prosódia e a sintaxe dessa língua, explicitando um padrão de pitch-accent sequer documentado, embora previsto por Gordon (2014)GORDON, Matthew. Disentangling stress and pitch-accent: a typology of prominence at different prosodic levels. In: Hulst, Harry van der (ed.). Word Stress: theoretical and typological issues. Cambridge: Cambridge University Press, 2014. p. 83-118.. Ressalte-se também que a partícula a presente nessas interrogativas polares pode estar ligada à influência do substrato das línguas Níger-Congo, especialmente as do cinturão sudanês, e que já se fazia presente no protocrioulo do Golfo da Guiné com a mesma função.

  • 1
    Os dados do fa d’Ambô foram coletados por Ana Lívia Agostinho e Alfredo Christofoletti Silveira, em trabalho de campo realizado em Annobón e Bioko, em 2011, e os do lung’Ie, na ilha do Príncipe, por Ana Lívia Agostinho em 2010. Em ambos os casos, os dados foram coletados com falantes nativos, por meio de elicitação de sentenças previamente preparadas. Os dados de outros autores estão indicados.
  • 2
    Com base nos termos do tratado, a rainha de Portugal Maria I cedeu as ilhas de Ano Bom, Formosa e a costa do Golfo da Guiné para o rei Carlos III da Espanha. Em troca desses territórios, Portugal adquiria faixas de territórios na América do Sul para o Brasil (Genuino, 2018GENUINO, Daniel. Marco do Jauru: arquivo, monumento e memória. Cáceres, MT: Clube dos Autores, 2018., p. 25).
  • 3
    Ver Ferraz (1974FERRAZ, Luiz Ivens. A linguistic appraisal of Angolar. In: IN MEMORIAM Antonio Jorge Dias. Lisbon: Instituto de Alta Cultura: Junta de Investigações Científicas do Ultramar, 1974. v. 2, p. 117-186., 1979)GARFIELD, Robert. A history of São Tomé Island (1470-1655): the key to Guinea. San Francisco: Mellen Research University Press, 1992., Garfield (1992)GARFIELD, Robert. A history of São Tomé Island (1470-1655): the key to Guinea. San Francisco: Mellen Research University Press, 1992., Maurer (1997MAURER, Philippe. Tense-Aspect-Mood in Principense. In: SPEARS, Arthur K.; WINFORD, Donald (ed.). The structure and status of pidgins and creoles. Amsterdam: John Benjamins Publishing Company, 1997. p. 415-435. (Creole Language Library, v. 19)., 2009)MAURER, Philippe. Principense. Londres: Battlebridge Publications, 2009., Post (1992POST, Marike. The serial verb construction in Fa d’Ambu. In: D’Andrade, E.; KIHM, Alain (org.). Actas do Colóquio sobre Crioulos de Base Lexical Portuguesa. Lisboa: Colibri, 1992. p. 153-169. (Coleção Actas e Colóquios, v. 3)., 1997), Hagemeijer (2003HAGEMEIJER, Tjerk. A negação nos crioulos do Golfo da Guiné: aspectos sincrónicos e diacrónicos. Revista Internacional de Lingüística Iberoamericana, Madrid, v. 1, n. 2, p. 151-78, oct. 2003., 2009)HAGEMEIJER, Tjerk. Initial vowel agglutination in the Gulf of Guinea creoles. In: ABOH, Enoch O.; SMITH, Norval (ed.). Complex processes in new languages. Amsterdam: John Benjamins Publishing Company, 2009. p. 29-50. (Creole Language Library, v. 35)., Caldeira (2004)CALDEIRA, Arlindo. Rebelião e outras formas de resistência à escravatura nas ilhas do Golfo da Guiné (séculos XVI-XVIII). Studia Africana, Porto, n. 7, p. 101-136, 2004., Seibert (2007)SEIBERT, Gerhard. Castaways, Autochthons, or Marrons? The debate on the Angolares of São Tomé Island. In: HAVIK, Philip J.; NEWITT, Malyn (ed.). Creole societies in the Portuguese colonial empire. Bristol: Bristol University Press, 2007. p. 82-101., Araujo (2011)ARAUJO, Gabriel Antunes de. Consoantes com dupla articulação e onsets complexos nas línguas crioulas do Golfo da Guiné. Estudos Linguísticos, São Paulo, v. 40, n. 1, p. 316-325, jan./abr. 2011., Bandeira (2017)BANDEIRA, Manuele. Reconstrução fonológica e lexical do protocrioulo do Golfo da Guiné. 2017. Tese (Doutorado em Filologia e Língua Portuguesa) – Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2017., Bandeira et al. (2019)BANDEIRA, Manuele; ARAUJO, Gabriel Antunes de; FINBOW, Thomas. Liquids in the Proto-Creole of the Gulf of Guinea and in its daughter languages. 2019. Inédito., entre outros.
  • 4
    Em nosso trabalho, não utilizamos a sigla AOA para se referir à língua angolar como é apontado na norma técnica ISO 639, que institui para as línguas diversos códigos para seus respectivos nomes. Assim, optamos por utilizar um código mais intuitivo (AN) para o angolar, a exemplo do que utilizamos para nos referirmos ao português brasileiro (PB), por exemplo.
  • 5
    No original: ‘¿Qué has dicho?’ (Zamora, 2010ZAMORA, Armando. Gramática Descriptiva del Fá d’Ambô. Guiné Equatorial: Ceiba Ediciones: Centros Culturales Españoles, 2010., p. 106).
  • 6
    No original: ‘¿Dicen que Juan vino ayer?’ (Zamora, 2010ZAMORA, Armando. Gramática Descriptiva del Fá d’Ambô. Guiné Equatorial: Ceiba Ediciones: Centros Culturales Españoles, 2010., p. 107).
  • 7
    No original: ‘Dicen que Juan vino ayer.’ (Zamora, 2010ZAMORA, Armando. Gramática Descriptiva del Fá d’Ambô. Guiné Equatorial: Ceiba Ediciones: Centros Culturales Españoles, 2010., p. 107).
  • 8
    No original: “[...] por la ausencia de marcadores léxicos propios de las oraciones interrogativas” (Zamora, 2010ZAMORA, Armando. Gramática Descriptiva del Fá d’Ambô. Guiné Equatorial: Ceiba Ediciones: Centros Culturales Españoles, 2010., p. 536).
  • 9
    Parcialmente descrito por Zamora (2010, p. 527)ZAMORA, Armando. Gramática Descriptiva del Fá d’Ambô. Guiné Equatorial: Ceiba Ediciones: Centros Culturales Españoles, 2010..
  • 10
    Um tipo tradicional de pão.
  • 11
    No original: “Most languages realize their unmarked declarative utterances with a terminal pitch fall” (Gordon, 2014GORDON, Matthew. Disentangling stress and pitch-accent: a typology of prominence at different prosodic levels. In: Hulst, Harry van der (ed.). Word Stress: theoretical and typological issues. Cambridge: Cambridge University Press, 2014. p. 83-118., p. 3).
  • 12
    No original: “For example, yes/no questions in English characteristically are realized with a final rise in pitch, thereby distinguishing them intonationally from declaratives and wh-questions” (Gordon, 2014GORDON, Matthew. Disentangling stress and pitch-accent: a typology of prominence at different prosodic levels. In: Hulst, Harry van der (ed.). Word Stress: theoretical and typological issues. Cambridge: Cambridge University Press, 2014. p. 83-118., p. 3).
  • 13
    Entendemos pitch-accent aqui como adotado em estudos autossegmentais de entonação (Hulst, 2011HULST, Harry van der (ed.). Word Stress: theoretical and typological issues. Cambridge: Cambridge University Press, 2011.).
  • 14
    Entendemos acento como uma categoria abstrata de proeminência no nível lexical (Hulst, 2011HULST, Harry van der (ed.). Word Stress: theoretical and typological issues. Cambridge: Cambridge University Press, 2011.), que tem potencial para receber um pitch-accent (Bolinger, 1958BOLINGER, Dwight L. A theory of pitch accent in English. Word, Londres, v. 14, n. 2-3, p. 109-149, Aug./Dec. 1958. DOI: https://doi.org/10.1080/00437956.1958.11659660.
    https://doi.org/10.1080/00437956.1958.11...
    apud Gussenhoven, 2004GUSSENHOVEN, Carlos. The Phonology of Tone and Intonation. Cambridge: Cambridge University Press, 2004.). Não trataremos neste trabalho do tom lexical do fa d’Ambô, categoria ainda pouco descrita nesta língua. Post (2013)POST, Marike. Fa d’Ambo. In: MICHAELIS, Susanne Maria; MAURER, Philippe; HASPELMATH, Martin; HUBER, Magnus (ed.). The survey of pidgin and Creoles language: Portuguese-based, Spanish-based, and French-based Languages. Oxford: Oxford University Press, 2013. v. II, p. 81-89. afirma que, apesar de algumas palavras apresentarem distinção por tom (high e low - H e L), o fa d’Ambô parece não ser mais uma língua tonal. Zamora (2010)ZAMORA, Armando. Gramática Descriptiva del Fá d’Ambô. Guiné Equatorial: Ceiba Ediciones: Centros Culturales Españoles, 2010. considera o FA como uma língua de padrão acentual (stress-accent), apesar de observar a altura como um correlato acústico distintivo na língua.
  • 15
    No original: “¿Se fue Manuel?” (Zamora, 2010ZAMORA, Armando. Gramática Descriptiva del Fá d’Ambô. Guiné Equatorial: Ceiba Ediciones: Centros Culturales Españoles, 2010., p. 537).
  • 16
    No original: “Interestingly, another logically possible system that appears to be far less widely attested, if at all, is the inverse of these patterns in which the pitch accent is attracted to rather than repulsed by the right edge. In this type of system, word-level stress would fall on a pre-final syllable but the phrasal pitch accent docks on a final syllable” (Gordon, 2014GORDON, Matthew. Disentangling stress and pitch-accent: a typology of prominence at different prosodic levels. In: Hulst, Harry van der (ed.). Word Stress: theoretical and typological issues. Cambridge: Cambridge University Press, 2014. p. 83-118., p. 96).
  • 17
    Para maiores detalhes, veja Agostinho et al. (2012)AGOSTINHO, Ana Lívia; ARAUJO, Gabriel Antunes de; FREITAS, Shirley. Resolução de hiato externo em Principense. PAPIA, São Paulo, v. 22, n. 2, p. 295-305, jul./dez. 2012..
  • 18
    Em lung’Ie, a duração vocálica é fonológica (Günther, 1973GÜNTHER, Wilfried. Das portugiesische Kreolisch der Ilha do Príncipe. Marburg an der Lahn: Im Selbstverlag, 1973.; Maurer, 2009MAURER, Philippe. Principense. Londres: Battlebridge Publications, 2009.; Agostinho, 2015AGOSTINHO, Ana Lívia. Fonologia e método pedagógico do lung’Ie. 2015. Tese (Doutorado em Filologia e Língua Portuguesa) - Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015., 2016).
  • 19
    Os dados foram coletados por Ana Lívia Agostinho, em trabalho de campo realizado na ilha do Príncipe, no ano de 2010.
  • 20
    Os dados foram coletados por Ana Lívia Agostinho, em trabalho de campo realizado na ilha do Príncipe, no ano de 2010.
  • 21
    Os dados foram coletados por Ana Lívia Agostinho, em trabalho de campo realizado na ilha do Príncipe, no ano de 2010.
  • 22
    Trabalho de campo realizado por Ana Lívia Agostinho em São Tomé e Princípe, no ano de 2019.
  • 23
    No original: “While many of the question markers found in Africa are commonly used elsewhere in the world, one type appears to be unique, or near-unique, to this continent: this consists of markers that do not involve high pitch or pitch raising. No less than thirty-four languages in our sample – almost half – are reported to have question markers of this type” (Clements; Rialland, 2007CLEMENTS, G. N.; RIALLAND, Annie. Africa as a phonological area. In: HEINE, Bernd; NUERSE, Derek (ed.). A linguistic geography of Africa. Cambridge: Cambridge University Press, 2007., p. 75).
  • 24
    “O conjunto de propriedades observadas – vogais abertas, tons baixos (L), entonação final decrescente e alongamento, frequentemente em combinação – constituem uma síndrome do que poderia ser chamado de características ‘relaxadas’, uma vez que são acompanhadas de um relaxamento das cordas vocais, trazendo um pitch baixo e a presença de vogais baixas, carregando tons baixos foneticamente” (Clements; Rialland, 2007CLEMENTS, G. N.; RIALLAND, Annie. Africa as a phonological area. In: HEINE, Bernd; NUERSE, Derek (ed.). A linguistic geography of Africa. Cambridge: Cambridge University Press, 2007., p. 79, tradução nossa). No original: “The cluster of properties just reviewed – open vowels, L tones, sentence-final falling intonation, and lengthening, often in combination – constitutes a syndrome of what might be called lax features, centering around a relaxation of the vocal cords inducing pitch lowering and the presence of low vowels, bearing intrinsically low phonetic pitch” (Clements; Rialland, 2007CLEMENTS, G. N.; RIALLAND, Annie. Africa as a phonological area. In: HEINE, Bernd; NUERSE, Derek (ed.). A linguistic geography of Africa. Cambridge: Cambridge University Press, 2007., p. 79).

ABREVIATURAS

AGRADECIMENTOS

Agradecemos ao editor e a dois revisores anônimos, pelos comentários em uma versão anterior deste texto. Gabriel Antunes de Araujo agradece ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pela bolsa de produtividade nº 310463/2016-5.

REFERÊNCIAS

REFERÊNCIAS
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  • AGOSTINHO, Ana Lívia. Fonologia e método pedagógico do lung’Ie 2015. Tese (Doutorado em Filologia e Língua Portuguesa) - Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015.
  • AGOSTINHO, Ana Lívia; ARAUJO, Gabriel Antunes de; FREITAS, Shirley. Resolução de hiato externo em Principense. PAPIA, São Paulo, v. 22, n. 2, p. 295-305, jul./dez. 2012.
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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    02 Dez 2019
  • Data do Fascículo
    Sep-Dec 2019

Histórico

  • Recebido
    12 Mar 2019
  • Aceito
    17 Set 2019
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