Open-access Es ist am regnen - Es tut regnen: investigação do processo de replicação funcional no Hunsrückisch como fenômeno linguístico-contatual

[Es ist am regnen - Es tut regnen: Investigating the process of functional replication in Hunsrückisch as a contact linguistic phenomenon]

Resumo

Este artigo tem por objetivo apresentar os resultados iniciais da possível influência da perífrase estar+gerúndio, do português, sobre a realização da progressividade no Hunsrückisch. Embora os processos de mudança e variação linguística não se limitem àqueles causados por situações de contato linguístico, este estudo enfoca processos motivados, pelo menos em parte, pelo contato linguístico, em particular, o processo de realização da progressividade. Ao mesmo tempo, pretende-se proporcionar um panorama das construções mais utilizadas pelos falantes de Hunsrückisch contemporâneo no Brasil para a realização da progressividade nessa variedade linguística: o tun-progressivo e o am-progressivo, argumentando a favor da hipótese de que o uso mais frequente dessas construções tem, entre suas motivações, o contato linguístico com o português local bem como a situação de bilinguismo decorrente desse contato e a possível influência da perífrase estar+gerúndio - que teria suas funções replicadas pelos falantes dessa variedade dialetal da língua alemã. Essa replicação de funções sintáticas pode ser explicada através do processo de replicação funcional, baseado no conceito de construções-réplica (Replika-Konstruktionen) proposto por Heine & Kuteva (2005) e no processo de pattern replication, proposto por Matras (2020). Para verificar essa hipótese, parte-se da análise do uso atual do tun-progressivo e do am-progressivo por falantes de Hunsrückisch bem como da análise do uso dessas construções em cartas pessoais escritas por imigrantes alemães e seus descendentes nos séculos XIX e XX, a partir de dados orais e escritos do projeto ALMA-H e do subprojeto ALMA-Histórico. Este artigo representa, assim, uma contribuição para os estudos do plurilinguismo e dos contatos linguísticos no âmbito do projeto ALMA-H.

Palavras-chave: contato linguístico português-alemão; perífrase estar+gerúndio; am-progressivo; tun-progressivo; replicação funcional

Abstract

This paper aims to present the initial results on the possible influence of the Portuguese periphrasis estar+gerúndio on the realization of progressivity in Hunsrückisch. Although the processes of linguistic change and variation are not limited to those caused by language contact situations, this study focuses on processes motivated, at least in part, by language contact, in particular, the process of realizing progressivity. At the same time, we intend to provide an overview of the constructions most frequently used by speakers of Hunsrückisch currently spoken in Brazil for the realization of progressivity in this linguistic variety: the tun- and the am-progressive. We argue in favor of the hypothesis that the more frequent use of these constructions is motivated, among other things, by linguistic contact with local Portuguese, as well as by the bilingual situation resulting from this contact and the possible influence of the periphrasis estar+gerúndio - which would have its functions replicated by speakers of Hunsrückisch. We then proceed to explain the replication of syntactic functions through the process of functional replication, based on the theoretical reflections on replication-constructions (Replika-Konstruktionen) proposed by Heine & Kuteva (2005) and the process of pattern replication, proposed by Matras (2020). To verify this hypothesis, we analyze the current use of tun- and am-progressive by speakers of Hunsrückisch as well as the use of these constructions in personal letters written by German immigrants and their descendants in the 19th and 20th centuries, based on oral and written data from the ALMA-H project and the ALMA-Historical subproject. This article thus represents a contribution to the studies of plurilingualism and language contact within the framework of the ALMA-H project.

Keywords: German-Portuguese language contact; periphrasis estar+gerúndio; am-progressive; tun-progressive; functional replication

1 Introdução

Os resultados apresentados ao longo do presente artigo representam uma parcela inicial da pesquisa que vem sendo desenvolvida no âmbito do doutorado sobre o papel de processos tradutórios na variação e mudança do Hunsrückisch em contato com o português no Brasil.

O objetivo deste artigo é apresentar resultados iniciais da possível influência da perífrase estar+gerúndio, do português, sobre a realização da progressividade no Hunsrückisch, feita através das construções com o auxiliar tun e com am+Infinitiv. Embora os processos de mudança e variação linguística não se limitem àqueles causados por situações de contato linguístico, este estudo enfoca processos motivados, pelo menos em parte, pelo contato linguístico, em particular, o processo de realização da progressividade. Não se pode negar a intrínseca relação entre as normas sociolinguísticas de uma comunidade de fala, a intensidade dos contatos culturais, sociais e linguísticos e os resultados dessa relação nos processos de variação e mudança linguística (Thomason 2001). Parte-se, assim, de uma configuração teórica baseada em perspectivas sociolinguístico-contatuais bem como no princípio da pluridimensionalidade (Altenhofen 1996, 2019; Thun 1998, 2010), objetivando retratar o uso de línguas em situações de contato, levando em conta tanto variáveis sociais quanto linguísticas. Busca-se, por conseguinte, fundamentar a hipótese de que o uso mais frequente das construções em questão tem, entre suas motivações, o contato linguístico com o português local bem como a situação de bilinguismo decorrente desse contato e, por consequência, a possível influência da perífrase estar+gerúndio - que teria suas funções replicadas pelos falantes dessa variedade dialetal da língua alemã. Ao mesmo tempo, pretende-se proporcionar um panorama das construções mais utilizadas pelos falantes do Hunsrückisch falado atualmente no Brasil para a realização da progressividade nessa variedade linguística: o tun-progressivo e o am-progressivo.

Para verificar tal hipótese, o estudo se baseia na análise do uso atual do tun-progressivo e do am-progressivo feito pelos falantes de Hunsrückisch e na análise de cartas pessoais escritas por imigrantes alemães e seus descendentes entre os séculos XIX e XX, a partir dos dados orais e escritos que compõem o projeto ALMA-H (Atlas linguístico-contatual das minorias alemãs na bacia do Prata: Hunsrückisch)1 e o subprojeto ALMA-Histórico.

A análise enfoca as construções com o auxiliar tun [como verbo auxiliar geralmente tem a função de enfatizar o verbo principal] e com am+Infinitiv [am+infinitivo] por estas representarem, juntamente com o Präsens [presente do indicativo], as estruturas eleitas pelos falantes de Hunsrückisch no momento de replicar a função da perífrase gerundiva do português nessa variedade dialetal da língua alemã. Embora, assim como no inglês e no português, a progressividade se faça presente em outros tempos verbais também no alemão e no Hunsrückisch, o presente artigo se concentra apenas no tempo presente porque os dados orais analisados estão nesse tempo verbal.

Através do mecanismo de replicação funcional, baseado no conceito de construções-réplica [Replika-Konstruktionen], proposto por Heine & Kuteva (2005) e no processo de replicação estrutural [pattern replication], proposto por Matras (2020), busca-se demonstrar que o falante bilíngue português-Hunsrückisch identifica uma estrutura na língua modelo, o português, e atribui função semelhante a uma estrutura presente na língua réplica, o Hunsrückisch.

Nas próximas seções, serão tratadas as seguintes temáticas: línguas teuto-brasileiras e o Hunsrückisch; referencial teórico e questões terminológico-conceituais; marcação da progressividade no português brasileiro e nas variedades de língua alemã; metodologia da pesquisa e apresentação dos corpora; descrição e análise das construções encontradas nos dados pesquisados; discussão e considerações finais sobre os resultados verificados.

2 Línguas teuto-brasileiras e o Hunsrückisch

Diferentes variedades de língua alemã têm contato entre si e com o português local já desde o período inicial da imigração alemã no Brasil. A Alemanha, como país politicamente unificado, só viria a existir a partir de 1871, até então, tratava-se de uma região de pequenos reinos, independentes uns dos outros. Por isso é grande, até hoje, a diversidade de variedades do alemão faladas naquele país e que, consequentemente, migraram para o Brasil com seus falantes.

Segundo Altenhofen (2019), atualmente é possível identificar pelo menos 14 variedades de línguas teuto-brasileiras - o que, de certa forma, representa o resultado da lealdade dos imigrantes alemães e seus descendentes às variedades linguísticas da matriz de origem. Ainda que as variedades alemãs atuais não devam “necessariamente ser entendidas como a “língua de origem”, mas sim como “o alemão de hoje do respectivo grupo de imigrantes” [...], ou seja, o resultado do que “sobrou” após uma longa história de migração e contato” (Altenhofen 2019: 535).

O Hunsrückisch é a variedade de língua alemã mais falada no Brasil e pode ser definido como uma variedade que se formou através do contato e nivelamento linguístico de variedades dialetais trazidas para o Brasil, no século XIX, por imigrantes da região do Hunsrück e do Palatinado. Essa variedade dialetal representa um continuum entre o francônio renano e o francônio moselano, apresentando regularidades que se distanciam ou se aproximam, em grau variável, do alemão padrão e do português bem como de outras línguas em contato no seu entorno (Altenhofen 1996).

Trata-se, assim, de uma coiné ou complexo varietal resultante do contato e da (i)migração de diferentes variedades no continuum francônio moselano (marcas mais dialetais) + francônio renano (marcas intermediárias) + alemão padrão + variedades regionais do português em contato (Altenhofen 1996). Essa peculiaridade confere ao Hunsrückisch o papel de língua mediadora [Mittelfeldsprache], ocupando, por vezes, a função de língua comum [Gemeinsprache], sobretudo na ausência da norma padrão do alemão (Altenhofen 2019).

Nas próximas seções, pretende-se examinar em mais detalhes um dos frutos da história do contato entre o português e o Hunsrückisch.

3 Referencial teórico e questões terminológico-conceituais

Esta seção apresenta as perspectivas teóricas nas quais o estudo se baseia bem como questões terminológico-conceituais, relacionadas aos conceitos teóricos abordados ao longo do artigo.

3.1 Progressividade

Neste artigo, a progressividade é considerada como a expressão de uma ação ou de um evento que é descrito como estando em curso, ou seja, o desenrolar de uma situação no momento de referência - quer se trate ou não de uma situação que se estende por um período de tempo mais longo ou que é recorrente (cf. Riehl 2018). Nesse conceito, pretende-se compreender, assim, a realização iterativa e habitual, cuja distinção nem sempre é evidente, visto que podem ser percebidas como um continuum entre uma atividade consciente e intencional (iteratividade) e inconsciente e automática (habitualidade) (Travaglia 2016).

3.2 Pattern Replication

O processo de pattern replication, segundo Matras (2020), consiste em identificar uma função pivotal de uma determinada construção da língua tomada como modelo e encontrar um pivô correspondente na língua réplica, replicando as características do modelo. Matras denomina esse mecanismo de pivot-matching. Segundo Matras (2020), o pivot-matching é essencialmente uma estratégia oportunista, que permite ao falante fazer uso de seu repertório linguístico em sua totalidade, ao mesmo tempo em que se adapta às expectativas de seleção de elementos em uma dada interação comunicacional. Trata-se, assim, de uma mudança baseada em um modelo externo, mas que envolve a reorganização de material linguístico interno.

Ainda que nem sempre essas construções levem à mudança linguística, elas podem sim - quando repetidas e propagadas dentro da comunidade de falantes, durante um período de tempo - conduzir a uma mudança induzida pelo contato linguístico (Matras 2020).

3.3 Construção réplica

No português, a perífrase formada por estar+gerúndio marca o curso de uma ação ou de um evento. O mesmo mecanismo existe, por exemplo, no inglês, através da construção to be + -ing. Riehl (2018) observa que o contato linguístico com o inglês faz com que o am-progressivo - que é uma construção existente em variedades linguísticas do alemão, mas usada apenas opcionalmente para marcar a progressividade - tenha se tornado uma construção gramaticalizada, cujo uso é amplamente aceito entre os falantes do Pennsylvaniadeutsch. Heine & Kuteva (2005) denominam esse tipo de replicação gramatical de “construção-réplica” e ressaltam que, embora em muitas variedades linguísticas essas construções ainda não estejam totalmente gramaticalizadas, é apenas uma questão de tempo para que isso venha a acontecer.

Riehl (2018) verifica que outras variedades de língua alemã em contato com o inglês não apresentam o am-progressivo, o que provavelmente se deve ao fato de que os falantes de Pennsylvaniadeutsch, assim como os de Hunsrückisch, trouxeram essa construção consigo ao imigrarem. Essas estruturas, portanto, já existem e são utilizadas para marcar a progressividade no Hunsrückisch bem como em outras variedades da língua alemã. Sua frequência, porém, parece ser bem maior quando em contato com uma língua na qual a progressividade é gramaticalizada.

3.4 Replicação funcional

Com base nos dois mecanismos anteriores, propõe-se o mecanismo de replicação funcional, no qual - a partir do exemplo das línguas tratadas neste artigo - o falante bilíngue português-Hunsrückisch identifica uma estrutura que desempenha função pivotal na língua modelo, o português, e atribui função semelhante a uma estrutura presente no Hunsrückisch (língua réplica). O falante, então, produz uma construção com material linguístico já existente em Hunsrückisch, baseado na função de uma construção do português. A função pivotal, a qual se faz referência neste caso, é a função de progressividade desempenhada, em português, pela perífrase estar+gerúndio.

Como será demonstrado adiante, essas estruturas existem - com valor de progressividade - em múltiplas variedades da língua alemã. Sua frequência, contudo, parece ser bem maior quando em contato com uma língua na qual a progressividade é gramaticalizada. A replicação de estruturas é mais provável quando já se verifica um grau de bilinguismo bem desenvolvido entre os falantes da língua réplica e quando o contato já se estende por um longo período (Heine & Kuteva 2005), como é o caso do Hunsrückisch no Brasil.

Nota-se que, no processo de replicação funcional, a agência não está na língua doadora, mas na língua receptora, razão pela qual rejeita-se a noção de interferência linguística. Além disso, fenômenos contatuais, sob essa perspectiva, são fenômenos que viabilizam a comunicação e não que interferem nela. Por isso, o conceito de interferência é inadequado na esfera desta pesquisa.

Trata-se, assim, de uma mudança funcional, que pode resultar do contato linguístico e que se manifesta através da expansão do uso de material linguístico de uma língua, inspirada em um modelo externo. Essa expansão, segundo Heine & Kuteva (2005), é uma das mudanças tipicamente estimuladas pelo contato linguístico.

A principal diferença do termo adotado neste artigo, em relação ao mecanismo de pattern replication proposto por Matras, é que neste último o falante procura reproduzir uma determinada construção da língua modelo com estruturas que considera equivalentes em sua língua. Tome-se como exemplo uma das construções que será analisada nos capítulos seguintes:

(1) a. Ainda está chovendo

A replicação dessa estrutura no Hunsrückisch, segundo o mecanismo do pattern replication, proposto por Matras ficaria:

(1) b. Noch ist es regnend

Ou seja, o falante reproduz em sua língua, com estruturas que considera equivalentes àquelas do português, uma determinada construção da língua modelo.

Embora esse tipo de mecanismo possa ser verificado no Hunsrückisch, não será tratado neste artigo, pois não foi utilizado pelos falantes como solução para replicar a construção do português local.

O mecanismo verificado no estudo apresentado neste artigo se dá através das construções com am+Infinitiv e com o auxiliar tun. As construções em si são próprias do Hunsrückisch e não reproduzem a forma progressiva do português, mas sim sua função.

3.5 Perspectivas sociolinguístico-contatuais

Este artigo se ocupa de falantes que dispõem de um repertório linguístico composto por elementos de diferentes variedades linguísticas com as quais estão em contato e do qual fazem uso em suas interações plurilíngues. Isso significa que falam mais de uma variedade linguística e “como seu repertório linguístico compreende diversas línguas e variedades, eles dispõem de competências que lhes possibilitam, na comunicação local, cambiar de uma língua e variedade a outra” (Altenhofen 2019: 6, tradução minha).2

A análise proposta neste artigo toma por base tanto o uso atual das construções com am+Infinitiv e com o auxiliar tun por falantes de Hunsrückisch quanto a análise do uso dessas construções em cartas pessoais de imigrantes e seus descendentes. Estas retratam quase todo o período desde a chegada dos imigrantes até o passado recente, possibilitando uma perspectiva sobre o contato linguístico ao longo de cinco gerações (Steffen 2016).

Como mostram diversos estudos no âmbito do projeto ALMA (Habel 2022; Prediger 2019), a aquisição das variedades de alemão, tanto por falantes de gerações mais velhas quanto mais jovens, antecede a do português, aprendido apenas na escola. Os falantes apresentam, portanto, um repertório linguístico que pode ser caracterizado como um complexo de variedades [Varietätenbündel] (Altenhofen 2019: 8), cada variedade associada a diferentes funções e graus de domínio. Embora se verifique um processo de substituição linguística [Language shift], trata-se de um processo gradual e lento. Assim, o contato com o português e com outras variedades de língua alemã passa a fazer parte do repertório desses falantes, sendo que o nível de conhecimento dessas variedades pode ser bastante irregular, com uma variedade predominando sobre outra(s). Levando em conta as entrevistas que compõem o banco de dados do ALMA-H, pode-se argumentar que a língua dominante, para os falantes das gerações mais velhas neste estudo, ainda seja o alemão, enquanto para os falantes das gerações mais jovens, já seja o português (Altenhofen 2016).

3.6 Referencial teórico complementar

A hipótese apresentada neste artigo apoia-se ainda em alguns dos resultados das pesquisas de Emmel (2005) e Maselko (2013). Emmel (2005) trata em sua pesquisa da realização progressiva na variedade dialetal do alemão falada em Pomerode, Santa Catarina. Embora o enfoque de sua pesquisa seja a formação do progressivo com a partícula bei(m), a autora traz uma seção sobre o tun perifrástico como marcador de progressividade também na variedade linguística falada em Pomerode. Em comparação com os estudos de Langer (2001) e Schwarz (2004), cujos resultados apontam para a não ocorrência de tun como marcador de progressividade em variedades do alemão europeu, Emmel (2005) assinala “a reiterada aparição do tun, como solução de tradução de contextos progressivos dados no input [...]” (Emmel 2005: 225), afirmando que o tun perifrástico foi utilizado por alguns falantes nos mesmos contextos em que outros falantes utilizaram a construção com bei(m). Por exemplo, ao solicitar que um falante explicasse qual seria a diferença entre (i) “João lê jornal” e (ii) “João está lendo jornal”, obteve como resposta para (i): der João liest jornal, e para (ii): der tut diesen moment lesen (Emmel 2005: 226).

Maselko (2013), em sua pesquisa sobre o sistema modo-temporal do Hunsrückisch riograndense, traz uma seção sobre o aspecto progressivo e observa que tanto o am-progressivo quanto o tun-progressivo são utilizados com destaque no Hunrückisch para especificar mais detalhadamente eventos que estão em curso. Em seus dados, o Präsens aparece com menos frequência: “[e]m comparação com essas duas construções, a utilização do Präsens simples é claramente inferior” (Maselko 2013: 111 - tradução minha)3, e conclui que, “no sistema gramatical do Hunsrückisch riograndense, a construção progressiva é considerada correta e portanto arquetípica para descrever o curso de um processo” (Maselko 2013: 149 - tradução minha).4

4 A marcação da progressividade

Nesta seção, analisa-se a marcação da progressividade no português brasileiro e nas variedades de língua alemã.

4.1 Marcação da progressividade no português brasileiro

Neste artigo, o foco recai sobre a função progressiva da perífrase estar+gerúndio, no português brasileiro, e sua possível influência sobre a realização da progressividade no Hunsrückisch.

Essa perífrase tem como característica principal a realização da progressividade, ou seja, a função de veicular o desenrolar de uma situação no momento de referência.

A produtividade da perífrase estar+gerúndio no português brasileiro é um dos fatores essenciais para o escopo deste artigo. Tal produtividade se mostra em constante expansão, como se pode perceber, por exemplo, através do seu uso com verbos estativos, como “saber” e “poder” (Bertinetto 2008).

Nesse sentido, é plausível explicar a maior ocorrência da marcação da progressividade, através das construções com o auxiliar tun e com am+infinitiv no Hunsrückisch, através da influência de estar+gerúndio, uma vez que, em situações de contato linguístico, por meio do mecanismo de replicação funcional, as estruturas de uma língua podem influenciar as estruturas de outra, levando à ampliação das funções de determinadas estruturas de uma língua, inspirada em um modelo de outra.

4.2 Marcação da progressividade nas variedades de língua alemã

O alemão padrão não exige o uso de um marcador gramatical para expressar progressividade, ainda que existam várias maneiras de fazê-lo. No alemão padrão, a progressividade é geralmente implícita ou expressa lexicamente através de um modificador adverbial como gerade [agora, neste momento] (Flick; Kuhmichel 2013; Riehl 2018). As variedades dialetais da língua alemã, como o Hunsrückisch, oferecem várias construções para expressar a progressividade, tais como as construções com am+Infinitiv e com o auxiliar tun.

Essa ampla variedade de construções traz implicações quando os falantes precisam traduzir a progressividade do português para o alemão. Não só não existe uma tradução simples e direta - a tradução nunca é simples e direta -, mas, como já mencionado anteriormente, existe uma variedade de construções que expressam um sentido semelhante ao sentido do progressivo no português. Assim, surge a questão: como os falantes de Hunsrückisch traduzem a progressividade do português para a sua variedade linguística?

Na próxima seção, discute-se a realização da progressividade no Hunsrückisch falado atualmente no Brasil através do Präsens, do am-progressivo e do tun-progressivo. Embora existam outras formas progressivas em variedades dialetais de língua alemã, como beim-progressivo: sein + beim + V Inf: Er ist beim Arbeiten [Ele está trabalhando] (cf. Emmel 2005), e dabei zu-progressivo: sein + dabei + etwas + zu + V Inf: Der älteste der Jungen war dabei, die Maschine zu betreiben [O menino mais velho estava operando a máquina] (cf. Van Pottelberge 2004), elas não são tratadas neste artigo por não aparecerem nos dados pesquisados.

5 Metodologia da pesquisa e apresentação dos corpora

Um dos objetivos da pesquisa de doutorado que baseia este artigo é fazer uso do banco de dados do projeto ALMA-H, que conta com mais de 800 horas de gravação de entrevistas com falantes de Hunsrückisch, sendo a duração média de cada entrevista entre 4 e 5 horas (Altenhofen 2016).

Em função disso, não se criou um questionário específico para o estudo da progressividade no Hunsrückisch, esta vem sendo pesquisada nos dados já presentes no ALMA-H. Esse procedimento, embora valorize o extenso e laborioso trabalho já realizado por todos os envolvidos na coleta dos dados que hoje compõem o ALMA-H, dificulta a organização de um corpus exclusivo para a análise da realização da progressividade no Hunsrückisch.

O ALMA-H adota, em seus estudos, o princípio da pluridimensionalidade, princípio básico do modelo teórico da dialetologia pluridimensional e relacional, que leva em conta tanto variáveis sociais quanto linguísticas (Thun 1998, 2010) e reúne enfoques da dialetologia tradicional e da sociolinguística. As entrevistas, portanto, foram realizadas com grupos de falantes (enfoque sociolinguístico), em pontos físico-geográficos diversos (enfoque dialetológico-tradicional).

Os grupos de falantes constituíram-se de jovens (GI = 18 a 36 anos) e velhos (GII = acima de 55 anos), com escolaridade até o ensino médio (Cb) e com ensino superior (Ca), em uma rede de 44 localidades de pesquisa, que compreende os estados RS, SC, PR, ES e MT, no Brasil, e os países vizinhos AR (Argentina) e PY (Paraguai). Em cada um desses pontos foram realizadas até quatro entrevistas, com base em um mesmo questionário, possibilitando, assim, o compartilhamento e a comparabilidade entre os dados de toda a rede de pontos bem como o posterior mapeamento das variáveis identificadas (Altenhofen 2016).

Como já mencionado, pretende-se verificar a hipótese de que o uso mais frequente das construções com o auxiliar tun e com am+Infinitiv no Hunsrückisch falado atualmente no Brasil - na função de marcadores da progressividade - tem, entre suas motivações, o contato linguístico com o português local bem como a situação de bilinguismo decorrente desse contato e a possível influência da perífrase estar+gerúndio. Para isso, parte-se da análise do uso atual das construções com am+Infinitiv e com o auxiliar tun por falantes de Hunsrückisch bem como da análise do uso dessas construções em cartas pessoais escritas por imigrantes alemães e seus descendentes nos séculos XIX e XX, utilizando-se os dados orais e escritos que compõem o ALMA-H e o ALMA-Histórico, subprojeto do ALMA-H.

5.1 A progressividade no Hunsrückisch falado atualmente

Para analisar o uso atual que falantes de Hunsrückisch fazem das construções com o auxiliar tun e com am+Infinitiv, na função de progressividade, foram analisadas as traduções propostas por esses falantes para a primeira parte da frase “Ainda está chovendo, é melhor levar um guarda-chuva” (CgramII_07). Essa frase integra a seção CgramII do questionário do ALMA-H, que trata de variantes morfossintáticas obtidas através da tradução de frases, neste caso, do português para a variedade de alemão dos falantes.

Todos os áudios referentes à tradução dessa frase foram transcritos com base no ESCRITHU - sistema de escrita do Hunsrückisch, criado por pesquisadores da UFRGS, que parte das regras do alemão padrão, considerando a história e a tradição escrita da comunidade de falantes de Hunsrückisch. As pausas e hesitações foram marcadas - o que auxiliou a análise posterior dos dados. Assim, a partir da transcrição dos dados, foi possível determinar as variantes utilizadas e verificar como os falantes replicam as funções próprias da perífrase estar+gerúndio no Hunsrückisch.

É importante ressaltar que, embora as transcrições tenham sido feitas em Hunsrückisch, as mesmas são apresentadas neste artigo em alemão padrão, em função das grandes variações, sobretudo fonológicas, na reprodução das frases pelos falantes: es/das/dat reent/rechnet/regnet, es ist am/om/an reene, etc. Como o foco deste artigo é a variação sintática, optou-se pelo uso do alemão padrão.

Em relação aos dados orais - que representam o uso atual do Hunsrückisch -, acredita-se que, ainda que em termos quantitativos os resultados não sejam tão expressivos, eles possibilitam uma boa perspectiva em relação à resposta de diferentes falantes a um mesmo estímulo: a tradução da primeira parte da frase “Ainda está chovendo, é melhor levar um guarda-chuva” (CgramII_07), especialmente quando esses resultados são comparados aos resultados dos estudos de Emmel (2005) e Maselko (2013), mencionados anteriormente.

Em relação à atividade de tradução, na qual se baseia a análise do Hunsrückisch contemporâneo, parte-se da premissa de que as soluções apresentadas pelos falantes sejam aceitáveis dentro de suas respectivas comunidades de fala. No entanto, como observa Emmel (2005), é possível que os falantes, em certos momentos, apresentem uma solução que não apresentariam em uma conversa natural, deixando-se influenciar pelo que pensam que o entrevistador “quer ouvir”.

Vale notar que a tradução da variedade padrão do alemão para a variedade dialetal dos falantes pode provocar o processo de decalque sintático: “o método de traduzir as frases dadas na língua padrão para o dialeto conduz inevitavelmente a decalques sintáticos, que distorcem as formas da língua coloquial vernácula [...]” (Schirmunski 1956 apud Kakhro 2005 - tradução minha).5 Assim, uma construção já dada na variedade padrão do alemão pode interferir na tradução realizada pelos informantes para a sua variedade dialetal e mascarar os resultados. Isso não ocorre no mesmo grau quando a tradução é feita do português para o Hunsrückisch. A tradução do português para a variedade dialetal dos falantes da frase “Ainda está chovendo...” não sofre esse mesmo tipo de interferência, uma vez que nas variedades alemãs não há perífrases gerunditivas. Nesse caso, a tradução representa uma excelente oportunidade de compreender como os falantes replicam a construção encontrada na língua modelo.

Embora não se trate de uma conversa natural, o questionário do ALMA-H foi conduzido de modo a estabelecer um vínculo de informalidade entre os falantes e o entrevistador: as perguntas foram contextualizadas e esclarecidas, e o termo “tradução” não foi utilizado, o questionário foi iniciado sempre com a pergunta wie sagt man das auf Hunsrückisch? [Como se diz isso em Hunsrückisch?] ou wie sagst du das auf Hunsrückisch? [como você diz isso em Hunsrückisch?]. Além disso, as entrevistas são entrecortadas por conversas espontâneas e os entrevistadores são igualmente falantes de Hunsrückisch, conduzindo as entrevistas na variedade linguística dos informantes e reforçando, assim, o vínculo de informalidade mencionado acima.

5.2 A progressividade na correspondência trocada entre imigrantes alemães e seus descendentes nos séculos XIX e XX

Para a análise dos usos das construções formadas com o auxiliar tun e com am+Infinitiv nos séculos XIX e XX, parte-se de dados escritos do ALMA-Histórico - subprojeto do ALMA-H -, mais precisamente de um acervo de cerca de mil cartas particulares, escritas em comunidades de língua alemã em diferentes períodos históricos desde 1824, quando se iniciou a imigração no sul do Brasil (Altenhofen, Morello 2018; Altenhofen, Steffen, Thun 2018; Steffen 2016).6

A correspondência pessoal, por se encontrar próxima do pólo comunicativo (cf. Koch & Oesterreicher 1985), contém elementos da oralidade, permitindo, assim, uma visão sobre o contato linguístico entre as variedades de alemão faladas pelos imigrantes e a língua portuguesa local desde o século XIX. Steffen (2016), além de observar que a correspondência pessoal recebe grande influência da língua oral, chama atenção para um fato bastante relevante: as cartas que compõem o ALMA-Histórico foram escritas ao longo dos séculos XIX e XX, compreendendo um período de quase 200 anos, o que permite rastrear “nas cartas pessoais dos imigrantes, todo o processo de aproximação linguística com o português ao longo de cerca de cinco gerações” (Steffen 2016: 138 - tradução minha).7

Como mencionado anteriormente, esta pesquisa se encontra em seu estágio inicial. Do corpus de cerca de mil cartas, foram analisadas, até o momento, 130. Isso se deve, em grande parte, à necessidade de transliteração das cartas, escritas em Kurrentschrift - forma de escrita alemã, que se desenvolveu no início do século XVI a partir da Bastarda, pertencente ao grupo das escritas góticas (Schneider 2014). Essa escrita era ainda utilizada no século XIX, e mesmo nas décadas iniciais do século XX, pelos imigrantes alemães e seus descendentes no Brasil. Além disso, por se tratar de um material antigo, muitas dessas cartas, infelizmente, estão bastante deterioradas, o que dificulta ainda mais sua leitura e seu tratamento.

Após a transliteração das cartas, procedeu-se à identificação e análise das ocorrências das construções com o auxiliar tun e com am+Infinitiv para determinar sua função e sua produtividade no corpus em questão, como será demonstrado em seguida.

6 Descrição e análise da realização da progressividade nos dados pesquisados

Como mencionado anteriormente, os dados apresentados neste artigo são provenientes do banco de dados do projeto ALMA-H e ALMA-Histórico, um subprojeto do ALMA-H. O ALMA-H tem por base entrevistas realizadas em 44 localidades de pesquisa. Essas entrevistas contêm, entre outros aspectos, atividades de tradução de palavras, frases, etc. do português para o Hunsrückisch. O ALMA-Histórico conta com um acervo de cerca de mil cartas particulares, escritas em comunidades de língua alemã em diferentes períodos históricos desde 1824, quando se iniciou a imigração no sul do Brasil (Altenhofen, Morello 2018; Altenhofen, Steffen, Thun 2018; Steffen 2016). A partir desse acervo, faz-se a análise dos usos do tun- e do am-progressivo nos séculos XIX e XX. Os dados orais representam as realizações atuais da progressividade no Hunsrückisch, enquanto os dados escritos são utilizados para se tentar comparar o estado atual da língua com aquele dos séculos XIX e XX.

6.1 Dados orais - estado atual do Hunsrückisch

Para verificar a hipótese proposta neste artigo, de que a realização da progressividade no Hunsrückisch falado atualmente no Brasil pode ser motivada pelo contato linguístico com o português local bem como pela situação de bilinguismo decorrente desse contato e pela possível influência de estar+gerúndio, foram levadas em conta as traduções da parte inicial da frase “Ainda está chovendo, é melhor levar um guarda-chuva” para o Hunsrückisch, ou seja, as traduções propostas pelos falantes para “Ainda está chovendo”. Realizou-se, então, um levantamento de quantas traduções foram feitas com a utilização do Präsens - es regnet -, do tun-progressivo - es tut regnen -, ou do am-progressivo - es ist am regnen.

No total, foram propostas 231 soluções tradutórias. Destas, registraram-se 65 ocorrências de es regnet, 54 ocorrências de es tut regnen e 112 ocorrências de es ist am regnen. Além disso, fez-se uma análise da utilização de modificadores adverbiais junto às construções mencionadas acima e realizou-se a distribuição das ocorrências por grupos de falantes (GI = 18 a 36 anos e GII = acima de 55 anos), a fim de identificar possíveis diferenças na realização da progressividade entre esses dois grupos geracionais. Essa distribuição será abordada em detalhes na seção 7, na qual serão discutidos os resultados deste estudo.

A tabela a seguir apresenta um panorama geral das formas utilizadas para expressão da progressividade no Hunsrückisch e sua distribuição nos dados orais do ALMA-H.

Tabela 1:
formas progressivas utilizadas pelos falantes de Hunsrückisch nos dados orais do ALMA-H

Depois dessa breve introdução aos dados, inicia-se a análise pela construção mais utilizada pelos falantes entrevistados, o am-progressivo.

6.1.1 O am-progressivo

O am-progressivo é a forma mais utilizada na realização da progressividade nos dados orais analisados: foram 112 ocorrências, perfazendo 48,5% do total de traduções. O am-progressivo, muitas vezes, aparece acompanhado por um modificador adverbial (Flick & Kuhmichel 2013). O advérbio que aparece com mais frequência nos dados orais apresentados neste estudo é noch [ainda], seguido pela locução immer noch [ainda] - o que se deve provavelmente à presença do advérbio “ainda” na frase traduzida do português pelos falantes de Hunsrückisch.

Tabela 2:
Realização da progressividade com o am-progressivo, conforme os dados das traduções do ALMA-H

Os valores apresentados na tabela acima indicam, além do uso do am-progressivo, a frequência do uso de advérbios de intensidade em combinação com essa construção. O uso de noch e immer noch, como já mencionado, era esperado, em função do advérbio “ainda” presente na frase em português e comumente traduzido para o alemão como noch. Ainda assim, esse uso pode ser interpretado como uma forma suplementar de replicação funcional, o que será discutido em mais detalhes a seguir.

6.1.2 O Präsens

No alemão padrão, a progressividade é geralmente implícita ou expressa lexicalmente através de modificadores adverbiais opcionais como gerade (Flick & Kuhmichel 2013; Riehl 2018):

(2) Er arbeitet gerade [Ele trabalha no momento] (cf. Riehl 2018: 42).

Flick & Kuhmichel observam, entretanto, que quando se faz uso do advérbio gerade, por exemplo, não é o curso da ação ou do evento que é focado, mas sim um momento específico no tempo, fixado pelo advérbio temporal, “semelhante a uma espécie de fotografia linguística” (flick & kuhmichel 2013: 55).8

Assim como no alemão padrão, o Präsens é bastante utilizado para expressar progressividade no Hunsrückisch, aparecendo como a segunda opção mais produtiva na tradução da frase proposta. Do total de 231 traduções, 65 (28,1%) foram feitas com o Präsens, acompanhado de modificadores adverbiais, como ilustra a tabela abaixo:

Tabela 3:
Realização da progressividade através do Präsens, conforme os dados das traduções do ALMA-H

Segundo os dados apresentados na tabela 3, apenas dois informantes utilizaram a opção es regnet, sem o acompanhamento adverbial. Note-se que esses dois informantes pertencem à geração mais velha (GII). É interessante notar que o uso da locução immer noch pode funcionar como um elemento desambiguador, pois, assim como no alemão padrão, também no Hunsrückisch o contexto se mostra essencial para a desambiguação no uso do Präsens com valor de progressividade.

As soluções apresentadas pelos falantes para replicar a frase do português no Hunsrückisch mostram que o Präsens continua sendo bastante usado na realização da progressividade.

6.1.3 O tun-progressivo

O auxiliar tun se destaca por sua polifuncionalidade (Elspaß 2005; Fischer 2013). Elspaβ e Fischer destacam, entre suas funções: a topicalização verbal, a formação do subjuntivo e a reprodução do discurso indireto; a marcação do aspecto cursivo e habitual:9

(3) Verspreche tut e viel, awer es is keh Verlaβ uffn [Ele promete muito, mas não se pode contar com ele] (topicalização verbal)

(4) tätse mer net kinne e paar Mark Gald borng? [Não poderia me emprestar algum dinheiro?] (formação do subjuntivo).

(5) ihr werdets euch wohl nicht gedacht haben daß ich Waschen thu aber in Amerika darf man sich nicht schämen wenn mann arbeitet, wenn mann in Amerika nicht arbeitet u. nicht spart u. so hatt man auch nichts [Vocês provavelmente não pensavam que eu estaria lavando roupa, mas na América você não pode se envergonhar de trabalhar, na América se você não trabalha e não economiza não tem nada] (aspecto habitual).

(6) Euren Brief habe ich den 30 Oktober Abens richtig erhalten aber ich habe nicht zu Nacht könne Essen vor Freude, und daraus ersehen daß Ihr noch Alle recht Gesund seid welches mich von Herzen freuen thut [Recebi sua carta na noite de 30 de outubro. Nem pude comer à noite de tanta alegria, e vejo que todos vocês continuam com muita saúde, o que me deixa muito feliz. (aspecto cursivo).

Maselko (2013) argumenta que a construção com o auxiliar tun é usada com mais frequência na realização da habitualidade. Também Ebert (2000) faz observação semelhante ao referir-se ao uso da construção com o auxiliar tun no alemão padrão. Para a presente discussão, cabe lembrar que o conceito de progressividade inclui o de habitualidade, pois representa a expressão de uma ação ou de um evento, descrito como estando em curso, ou seja, o desenrolar de uma situação no momento de referência - independente da duração ou recorrência dessa situação.

A construção com o auxiliar tun se inclui neste estudo por ser a terceira opção mais utilizada pelos falantes de Hunsrückisch nos dados analisados. Assim como o am-progressivo e o Präsens, o tun-progressivo também pode vir acompanhado de marcadores adverbiais. As realizações com o tun-progressivo nos dados do ALMA-H são ilustradas na tabela a seguir.

Tabela 4:
Realização da progressividade através do tun-progressivo, conforme os dados das traduções do ALMA-H

A preferência dos falantes pelo uso da locução adverbial immer noch - utilizada em mais de 70% das traduções -, intensificando a continuidade do evento fica bem evidente nessa alternativa. A opção es tut regnen foi utilizada por um único informante, também do grupo GII. Parece haver - no caso do uso de construções com o auxiliar tun, que, como demostrado anteriormente, distingue-se por sua polifuncionalidade - uma necessidade de refinar a expressão com o auxílio de modificadores adverbiais. Assim, a utilização de immer noch confere uma precisão adicional à expressão com o auxiliar tun.

O levantamento realizado nesta etapa mostra que, em mais de 70% das traduções, os falantes optam pelo uso do am-progressivo (48,5%) ou do tun-progressivo (23,4%) para expressar a progressividade próprio da perífrase estar+gerúndio presente na frase proposta para tradução, ainda que o Präsens seja bastante utilizado. Isso parece indicar para a consciência dos falantes bilíngues de que o tempo presente (Präsens) não cobre plenamente a função de oferecer uma perspectiva do desenrolar de uma situação no momento de referência - como também verificaram Emmel (2005) e Maselko (2013) - e da sua consequente tentativa de buscar uma estrutura no Hunsrückisch para replicar a função da estrutura da frase proposta em português.

É interessante notar ainda que, das 231 traduções propostas, 225 apresentam os modificadores adverbiais noch e immer noch. O que, por um lado, pode estar relacionado à presença do advérbio “ainda” na frase proposta para tradução; mas, por outro, pode representar outra forma de replicar a função da progressividade própria da construção estar+gerúndio no português local.

A seguir, são analisadas as construções formadas com am+Infinitiv e com o auxiliar tun em cartas pessoais escritas por imigrantes alemães e seus descendentes entre os séculos XIX e XX para, juntamente com os dados apresentados nesta seção, legitimar a plausibilidade da hipótese apresentada.

6.2 Análise das construções progressivas nas cartas que integram o ALMA-Histórico

Até o momento, foram analisadas 130 cartas, que integram um acervo de cerca de mil cartas escritas ao longo dos séculos XIX e XX, compreendendo um período de quase 200 anos. Nas 130 cartas analisadas, foram encontradas 47 ocorrências de construções com o auxiliar tun e 7 ocorrências de construções com am+Infinitiv. Das ocorrências om o auxiliar tun, apenas uma pode ser interpretada como realização de progressividade. Em relação às ocorrências com a construção am+Infinitiv, 5 referem-se à realização da progressividade. Em ambos os casos, as construções interpretadas como realização de progressividade ocorreram já no século XX. Assim, embora o aspecto quantitativo ainda não seja muito expressivo, o corpus possibilita algumas inferências em relação às construções analisadas neste artigo que corroboram a hipótese apresentada.

6.2.1 Análise das ocorrências do auxiliar tun

Como previamente abordado, o tun perifrástico se destaca por sua polifuncionalidade (Elspaß 2005; Fischer 2013), incluindo: formação do subjuntivo, fraseologismo, topicalização verbal. Todas essas funções são amplamente verificadas nas cartas escritas ao longo do século XIX, como mostra o exemplo a seguir, retirado de uma carta escrita por um descendente de imigrantes alemães que serviu como soldado na Guerra do Paraguai (1864-1870). Nota-se que não se trata de um escritor experiente, o que torna suas cartas ainda mais interessantes, pois oferecem uma visão sobre o estado da língua de pessoas comuns daquela época (Elspaß 2005):

(7) Soh Sah ich mich ge zwungen am 15 den Tach Unser Alde Dokdor Schnab aufzusugen welger ain Fürdel Stunde emd Fernd ist im Hospital mit aller mihe Langte ich Bai Schnab an we l ger Mier Soh Glaich Mittel gab und mier Sohgar Geld anbot wedas [wenn das] Mainige nicht Raigendet [reichen tät] [Assim, no dia 15 fui obrigado a ir consultar nosso velho médico Schnab, que se encontra a um quarto de hora de distância. No hospital, com grande dificuldade, cheguei ao Schnab, que imediatamente me medicou e até me ofereceu dinheiro se o meu não fosse suficiente] (1866).

O tun perifrástico, na formação do subjuntivo, mostrou-se a ocorrência mais frequente no corpus analisado - 54,3% do total. Essa produtividade é igualmente atestada em outras pesquisas sobre esse fenômeno (Ebert 2000; Elspaß 2005; Fischer 2013). No século XIX, uma das perífrases mais utilizadas para a marcação do discurso indireto era justamente aquela formada com o auxiliar tun, altamente estigmatizada (Elspaß 2005). Essa produtividade de formas perifrásticas se deve, ao menos em parte, à insegurança relativa às formas pouco frequentes do subjuntivo no uso linguístico regular desses falantes. Assim, o princípio de evitar formas difíceis ou pouco conhecidas, reduzindo o esforço cognitivo, poderia ser considerado como parte do princípio da economia linguística (Elspaß 2005; Fischer 2013).

O próximo excerto ilustra um fraseologismo, bastante comum em cartas escritas no século XIX. Assim, encontram-se expressões iniciais, como ich ergreife die Feder, Deinen Brief habe ich erhalten [Eu pego a pena, eu recebi sua carta]; expressões de fechamento: ich will/muss (mein Schreiben) schließen, ich hoffe auf baldige Antwort/ich tue auf baldige Antwort hoffen [Eu quero/preciso encerrar (minha carta), eu espero uma resposta rápida]; bem como expressões que introduzem a parte narrativa ou informativa do texto, entre as quais está a expressão dich/euch zu wissen tun [contar-lhe(s)/informá-lo(s) (Elspaß 2005). No corpus analisado, a expressão dich/euch zu wissen tun representa mais de 20% das ocorrências com o auxiliar tun.

(8) Zum Schlus wil ich Euch noch zu wisen Tun welge Drai Bur sche waren die aufs grigschüf kamen nemlig die desendir waren [Por fim, quero contar-lhes quais foram os três jovens que foram para o navio de guerra, ou seja, aqueles que haviam desertado] (1865).

Elspaβ (2005) observa ainda que, em muitas ocasiões, os autores se utilizam de expressões como esta para guiar seu caminho ao longo da escrita, como um recurso para atenuar a insegurança em relação ao texto escrito. Esse exemplo confirma a asserção de Elspaβ (2005), de que esses fraseologismos ajudavam autores menos experientes a avançar na escrita das cartas.

Não foi possível, entretanto, verificar a realização da progressividade, o “estar em curso” de um evento ou uma ação, em nenhuma das cartas do século XIX. Até o momento, encontrou-se apenas um exemplo, retirado de uma carta escrita apenas em meados do século XX, que poderia ser interpretado como realização de progressividade:

(9) Regnen tut es jetz oft, aber nicht sehr viel [Chove com frequência no momento, mas não muito] (1948).

Este excerto provém de uma carta escrita em 1948 - meados do século XX - por dois jovens colonos já nascidos no Brasil. Nele, aparece claramente uma das funções mais frequentes do tun perifrástico: a topicalização do verbo principal. Contudo, se essa frase fosse traduzida para o português, seria possível fazê-lo usando uma perífrase gerunditiva: “Está chovendo agora com frequência, mas não muito”, o que permite incluir esse excerto em nosso inventário de realizações progressivas.

6.2.2 Análise das ocorrências do am-progressivo

Nas 130 cartas analisadas, o am-progressivo ocorre apenas cinco vezes e, dessas ocorrências, três aparecem na mesma carta. As cinco ocorrências dessa construção, expressando progressividade, foram registradas em cartas escritas na segunda década do século XX:

(10) die Olg[a] ist fleisig am Nähen u. ich am Klavier üben, u am Nam[o]riren [Olg[a] está costurando com afinco e eu estou praticando o piano e namorando].

(11) Der liebe Gott Lohne es ihm die Schule hat nicht‘s gekostet wäre ein Junge nur mal gesehen worden am rauchen, [unötig?] Geld ausgeben u. was [nichts?] [O bom Deus lhe recompensa, a escola não custava nada. Se um menino fosse visto fumando, gastando dinheiro [desnecessariamente] e tudo mais].

(12) Jetzt bin ich am Walt hauen für Milhe [Agora estou derrubando a floresta para o milho].

Assim, a favor da hipótese de que a progressividade expressa no português através da perífrase estar+gerúndio tem influência na maior frequência do am-progressivo no Hunsrückisch está o fato de que todas as ocorrências registradas realizaram-se a partir da segunda década do século XX, ou seja, 100 anos após a primeira grande onda imigratória de falantes de variedades de língua alemã no Brasil. Além disso, é importante lembrar da proibição do uso e do ensino do alemão padrão imposta pela campanha de nacionalização do governo Vargas a partir de 1938, que teve por consequência a substituição da língua-teto [Dachsprachenwechsel] em favor do português (Altenhofen 2016, 2019). Essa proibição acelerou o distanciamento cada vez maior do Hunsrückisch em relação às normas do alemão padrão, substituído pelo português como língua de referência em situações formais entre os falantes de Hunsrückisch, ou seja, os falantes de Hunsrückisch perderam o contato formal com a variedade padrão do alemão, ficando sujeitos às normas da língua portuguesa como língua-teto.

O excerto a seguir, também escrito nos anos 20 do século XX, não foi incluído na relação das amostras da perífrase com a construção am+Infinitiv:

(13) jetzt bin ich fleisig an der Arbeit Bohnen und Kartoffel hab ich geflanzt [Agora estou trabalhando com afinco. Platei feijão e batata].

Porém, talvez se trate de uma forma de expressar progressividade, aliada à tentativa de aproximar a construção do alemão padrão [verhochdeutschen], como comenta Elspaβ (2005: 269) ao apresentar o seguinte caso:

(14) Wir sind jetzt an der Baumwolle zu bearbeiten, und können den Herbst schon einen schönen Ertrag ernten [Agora estamos trabalhando no algodão, e já podemos colher uma boa safra no outono].

Registrou-se ainda uma ocorrência do fraseologismo am Leben sein:10

(15) Daß es auch mich interessiert wie es bei euch draußen geht und wer noch von meinen wenigen Freunden und Bekannten am Leben ist, brauche dir nicht weiter anführen, denke aber daß du nach Erhalt dieser Zeilen, meinem Wunsche nachkommen werdest [Não preciso dizer que também estou interessado em saber como as coisas estão indo lá fora com vocês e quem, entre meus poucos amigos e conhecidos, ainda está vivo, mas acho que depois de receber estas linhas você atenderá ao meu desejo].

A análise das cartas aponta para um uso incipiente, se houver, do am-progressivo pelos falantes de Hunsrückisch no século XIX. Até o momento, os primeiros registros verificados dessa função ocorrem em torno de 100 anos após a primeira grande onda imigratória de alemães no Brasil.

7 Discussão

Nesta seção apresenta-se uma discussão mais detalhada dos resultados apresentados até o momento.

A tabela a seguir ilustra a distribuição das formas progressivas utilizadas no Hunsrückisch, incluindo a distribuição geracional.

Tabela 5:
Distribuição das formas progressivas no Hunsrückisch nos dados orais do ALMA-H

Enquanto as realizações da progressividade no Präsens se distribuem de forma mais proporcional entre GII e GI, o uso do am-progressivo e do tun-progressivo apresenta diferenças mais pronunciadas: o tun-progressivo é mais utilizado pelos falantes mais velhos (GII) e o am-progressivo, pelos falantes mais jovens (GI).

O uso do Präsens pela geração mais velha era esperado, visto que se trata da forma mais usada no alemão padrão, com o qual a geração mais velha talvez ainda tenha tido contato, principalmente através da imprensa, do ensino formal em língua alemã e das atividades religiosas na variedade padrão da língua, que, em algumas regiões, mantiveram forte presença até os anos 70 do século XX (altenhofen 2016).

Pode-se conjecturar que a alta frequência do Präsens na geração mais jovem esteja relacionada à aprendizagem do alemão padrão como língua estrangeira (DAF), situação cada vez mais comum em países da América Latina, nos quais se encontram comunidades de falantes de variedades da língua alemã. É comum que as gerações mais jovens tenham interesse pela herança cultural alemã, mas não tenham mais a mesma fluência que as gerações anteriores na língua, buscando preencher essa carência no aprendizado da língua alemã padrão como língua estrangeira (cf. Wolf-Farré et al. 2021).

Vale lembrar, como já mencionado anteriormente, que, embora a língua dominante das gerações mais jovens seja o português, os falantes de Hunsrückisch apresentam algum grau de domínio do alemão padrão (Altenhofen 2016). O que se verifica também em relação à vitalidade linguística do Hunsrückisch, que varia de acordo com a organização social de suas comunidades de fala e do contato com outras variedades em seu entorno (Altenhofen & Thun 2016).

A alta frequência do uso do tun-progressivo pelos falantes da geração mais velha pode ser resultado da polifuncionalidade do auxiliar tun, atestada já no século XIX, nas cartas analisadas. Levando em conta o processo de replicação funcional, pode-se inferir que a construção com o auxiliar tun, passou a ser usada pelos falantes de Hunsrückisch na função de marcador da progressividade, replicando a função da perífrase estar+gerúndio do português através dessa estrutura já conhecida pelos falantes de Hunsrückisch. A menor frequência no uso do tun-progressivo pela geração mais jovem pode estar relacionada à estigmatização dessa construção por falantes do alemão padrão, como observa Elspaß (2005). Nesse sentido, é interessante fazer um paralelo entre a menor frequência no uso do tun-progressivo e a frequência considerável no uso do Präsens pela geração mais jovem, cujos membros talvez tenham contato com o alemão padrão como língua estrangeira.

A alta frequência do am-progressivo, também verificada nas pesquisas de Maselko (2013) sobre o Hunsrückisch riograndense, era esperada, e se manifesta tanto na geração mais velha quanto na mais nova - nesta com ainda mais intensidade. Nesse sentido, vale observar que a construção com am+Infiniv não sofre a mesma estigmatização que as construções com o auxiliar tun (Elspaß 2005). Isso pode explicar porque é considerada adequada pelos falantes, especialmente os mais jovens, para replicar a função de estar+gerúndio.

Tanto o maior uso do tun-progressivo quanto a alta frequência do am-progressivo nos dados do Hunsrückisch contemporâneo - sobretudo em comparação com a baixa frequência dessas construções nas cartas analisadas - apontam para a validação da hipótese de que a realização da progressividade no Hunsrückisch pode ser motivada pelo contato linguístico com o português local bem como pela situação de bilinguismo decorrente desse contato, pela possível influência de estar+gerúndio e a consequente necessidade de replicar a função dessa estrutura no Hunsrückisch.

8 Considerações finais

Neste artigo, foram analisadas as construções formadas com am+Infinitiv e com o auxiliar tun nas traduções da parte inicial da frase CgramII_07 “Ainda está chovendo, é melhor levar um guarda-chuva” para o Hunsrückisch falado atualmente no Brasil e em cartas pessoais escritas por imigrantes alemães e seus descendentes entre os séculos XIX e XX. Buscou-se com isso legitimar a plausibilidade da hipótese de que a realização da progressividade no Hunsrückisch pode ser motivada pelo contato linguístico com o português local bem como pela situação de bilinguismo decorrente desse contato e pela possível influência de estar+gerúndio.

Buscou-se mostrar, ainda, quais as formas mais utilizadas na realização da progressividade no Hunsrückisch contemporâneo e como se relacionam com aquelas utilizadas ao longo dos séculos XIX e XX, respondendo à pergunta: como os falantes de Hunsrückisch traduzem o progressivo do português para a sua variedade linguística?

Pode-se inferir, a partir dos resultados obtidos até o momento, que a consciência bilíngue dos falantes leva-os a reconhecer, por exemplo, que o tempo presente do indicativo (Präsens) no Hunsrückisch não cobre plenamente a função de oferecer uma perspectiva do desenrolar de uma situação no momento de referência. Embora a frequência de uso dessa forma seja de quase 30%, em grande parte das ocorrências ela aparece acompanhada de um modificador adverbial de intensidade. Esses próprios modificadores adverbiais podem ser considerados como replicadores da função da progressividade que marca a frase proposta para tradução: “ainda está chovendo [...].”

Nas cartas analisadas, foi registrada apenas uma ocorrência do tun perifrástico que poderia ser interpretada como realização da progressividade em uma carta escrita em 1948. O uso do am-progressivo só aparece a partir da segunda década do século XX. Já nos dados orais do Hunsrückisch contemporâneo, foi possível verificar que o uso do am-progressivo é bem mais frequente, principalmente entre os falantes mais jovens (GI). Assim, os resultados iniciais parecem favorecer a hipótese apresentada.

A influência linguística entre línguas que compartilham um intenso contato - areal e linguístico - é inquestionável, e a função da marcação da progressividade, que é uma característica bem estabelecida no português pode ter colaborado para promover ou fortalecer a expansão do am- e do tun-progressivo no Hunsrückisch. O mesmo pode ter acontecido ainda na Europa, através do contato das variedades de alemão com línguas vizinhas dotadas de progressividade: o continuous, do inglês; o etre en train de + infinitivo, do francês; o stare + gerúndio, do italiano (Van Pottelberge 2004).

Muitas questões ainda precisam ser tratadas. Pretende-se, por exemplo, analisar o acervo de cartas dos séculos passados em busca de registros de progressividade para além do am- e do tun-progressivo: através do Präsens, da utilização de modificadores adverbiais de tempo, de intensidade, etc. Planeja-se também explorar o banco de dados orais do ALMA-H em busca de outros exemplos da realização da progressividade no Hunsrückisch contemporâneo, para produzir comparações complementares ao estudo apresentado neste artigo. Espera-se que os futuros levantamentos e as análises posteriores dos dados do ALMA-H auxiliem nas respostas a essas questões e no aprofundamento da pesquisa acerca dessa temática.

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  • Wolf-Farré, Patrick et al. Sprachkontrast und Mehrsprachigkeit. Linguistische Grundlagen, didaktische Implikationen und Desiderata. Tübingen: Narr (MLT - Multilingualism and Language Teaching), 2021.
  • 1
    O projeto ALMA-H é coordenado pelo Prof. Dr. Cléo Vilson Altenhofen e pelo Prof. Dr. Harald Thun e contou, entre 2008 e 2012, com o apoio financeiro da Fundação Alexander von Humboldt. Trata-se de uma parceria interinstitucinal entre o Instituto de Letras/Setor de alemão da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e o Instituto de Romanística da Universidade de Kiel. O projeto tem por objetivo descrever a variação e a mudança linguística do Hunsrückisch bem como das demais variedades do alemão em contato com o português e demais línguas na Bacia do Prata, a partir de uma perspectiva macrolinguística e pluridimensional, considerando diferentes dimensões de análise, entre as quais as dimensões diatópica, diastrática, diageracional, diassexual e diarreligiosa.
  • 2
    Do alemão: „Da ihr Sprachrepertoire mehrere Sprachen und Varietäten umfasst, verfügen sie über Kompetenzen, die ihnen ermöglichen, in der lokalen Kommunikation von einer Sprache und Varietät zur anderen zu wechseln.“
  • 3
    Do alemão: “Im Vergleich zu diesen beiden Konstruktionen ist der Gebrauch des einfachen Präsens eindeutig niedriger.“
  • 4
    Do alemão: “im Grammatiksystem des Hunsrückischen [gilt] die Progressivkonstruktion als richtig und somit archetypisch für die Beschreibung des Prozessverlaufs.“
  • 5
    Do alemão: “die Methode, die in der Hochsprache vorgegebenen Sätze in den Dialekt zu übersetzen, führt unvermeidlich zu syntaktischen Kalkierungen, die die Formen der […] volkstümlichen Umgangssprache verdrehen."
  • 6
    Algumas das cartas analisada ao longo deste artigo jã foram publicadas, em 2018, no livro Cartas de imigrantes de fala alemã: pontes de papel dos hunsriqueanos no Brasil, organizado por Cléo Altenhofen, Joachim Steffen e Harald Thun.
  • 7
    Do alemão: “der gesamte Prozess der sprachlichen Annäherung an das Portugiesische [ist] über ca. fünf Generationen einschließlich des Sprachwechsels in den Privatbriefen der Siedler nachvollziehbar.“
  • 8
    Do alemão: “gleich einer Art sprachlicher Momentaufnahme.“
  • 9
    Exemplos retirados de Elspaβ (2005: 263) e Fischer (2013: 139-140).
  • 10
    Outra ocorrência semelhante, mas que não foi registrada nos exemplos foi : [sie] sind auch noch alle beim beim Leben und verheiratet alle in guten Verhältnissen.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    01 Maio 2023
  • Data do Fascículo
    May-Aug 2023

Histórico

  • Recebido
    20 Mar 2022
  • Aceito
    30 Maio 2022
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