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AS RAÍZES ITALIANAS DO TÊNIS DE MESA PAULISTANO (1916-1933)

THE ITALIAN ROOTS OF TABLE TENNIS IN SÃO PAULO (1916-1933)

LAS RAÍCES ITALIANAS DEL TENIS DE MESA EN SÃO PAULO (1916- 1933)

Resumo

O tênis de mesa é uma modalidade esportiva que chegou a São Paulo durante o início do século XX. Atualmente, é comum associar o seu desenvolvimento à colônia japonesa, pouco se falando dos imigrantes e descendentes de outras nacionalidades que estiveram por trás de importantes avanços para a modalidade em seu formato competitivo. Esta pesquisa de caráter historiográfico objetivou estruturar as raízes italianas no tênis de mesa paulistano, a partir de uma abordagem qualitativa e exploratória na literatura pertinente ao tema, aliada a análises documentais em jornais da época disponíveis no website da Hemeroteca Digital. Constatou-se que, entre as décadas de 1910 a 1930, agremiações, dirigentes e jogadores da colônia italiana ocuparam posições de destaque nos círculos esportivos, além de terem sido importantes para o processo de democratização da modalidade. Frente aos achados desta pesquisa, espera-se não apenas contribuir com as discussões sobre o associativismo e o protagonismo dos imigrantes italianos na esfera esportiva, como também somar aos incipientes estudos históricos do tênis de mesa brasileiro.

Palavras-chave
Tênis de mesa; História; Imigração Italiana; São Paulo

Abstract

Table tennis is a sport that arrived in São Paulo at the beginning of the 20th century. Currently, it is common to associate its development with the Japanese colony, perhaps there are two immigrants and descendants of other nationalities who are behind important advances in the practice of rackets in their competitive format. This historiographical research aims to structure the Italian roots of table tennis in São Paulo, based on a qualitative and exploratory approach to the literature relevant to the topic, combined with documentary analyzes of the days of the period available on the Digital Library of Newspapers website. It is confirmed that between the decades of 1910 and 1930, unions, managers and players from the Italian colony occupied prominent positions in sports circles, in addition to being important for the process of democratization of the sport. After years of this research, it is expected that it will not only contribute to discussions about associations and the protagonism of Italian immigrants in the sporting sphere but also contribute to the incipient historical studies of Brazilian table tennis.

Keywords
Postgraduate Education; History; Italian immigration; São Paulo

Resumen

El tenis de mesa es un deporte que llegó a São Paulo a principios del siglo XX. Actualmente es común asociar su desarrollo con la colonia japonesa, quizás sean dos inmigrantes y descendientes de otras nacionalidades los que están detrás de importantes avances en la práctica de las raquetas en su formato competitivo. Esta investigación historiográfica tiene como objetivo estructurar las raíces italianas del tenis de mesa en São Paulo, a partir de un enfoque cualitativo y exploratorio de la literatura relevante al tema, combinado con análisis documentales de los días del período disponibles en el sitio web de la Biblioteca Digital de Periódicos. Se constata que, entre las décadas de 1910 y 1930, sindicatos, directivos y jugadores de la colonia italiana ocuparon posiciones destacadas en los círculos deportivos, además de ser importantes para el proceso de democratización del deporte. Después de años de esta investigación, se espera que contribuya no sólo a las discusiones sobre el asociacionismo y el protagonismo de los inmigrantes italianos en el ámbito deportivo, sino también a los incipientes estudios históricos del tenis de mesa brasileño.

Palabras clave
Tenis de mesa; Historia; Inmigración italiana; San Pablo

1 INTRODUÇÃO

Durante o último quartel do século XIX e início do século XX, intensas transformações políticas, sociais e culturais contribuíram para a fixação e popularização dos esportes modernos no Brasil. Segundo a definição tradicional, estes consistiam em atividades físicas secularizadas, nas quais havia igualdade de chances, especialização dos papéis, racionalização, burocratização, quantificação e busca do recorde (Guttmann, 2004GUTTMANN, Allen. From ritual to record: the nature of modern sports. New York: Columbia University Press, 2004.). Importados do exterior, os esportes modernos foram ressignificados de acordo com as especificidades locais e nem sempre carregaram tais características. Embora num primeiro momento estivessem atrelados às elites dirigentes, gradualmente passaram a ser meios de sociabilidade que expressavam identidades entre diferentes segmentos da sociedade, inclusive para os imigrantes (Lesser, 2015LESSER, Jeffrey. A invenção da brasilidade: identidade nacional, etnicidade e políticas de imigração. São Paulo: Editora Unesp, 2015.). Tema pouco estudado na literatura é a trajetória do tênis de mesa brasileiro, modalidade que hoje reúne cerca de 12 milhões de adeptos recreativos (Vinhas; Azevedo; 2006VINHAS, Ivan; AZEVEDO, Alaor. Tênis de mesa. In: DACOSTA, Lamartine (org.). Atlas do Esporte no Brasil. Rio de Janeiro: CONFEF, 2006. p. 285-288.), mas cujo passado permanece cheio de lacunas a serem preenchidas.

Sabe-se que, durante os anos iniciais do século XX, o tênis de mesa desembarcou na cidade de São Paulo, primeiro estado brasileiro a recebê-lo (Almeida; Yokota, 2023aALMEIDA, Marco Bettine; YOKOTA, Gustavo Kenzo. A chegada do tênis de mesa ao Brasil: origem e significados do ping-pong enquanto prática civilizada (1902-1909). Revista Brasileira de Estudos do Lazer, v. 10, n. 1, p. 42-62, 2023a. Disponível em: https://periodicos.ufmg.br/index.php/rbel/article/view/40142. Acesso em: 7 nov. 2023.
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). Tratava-se de um jogo originalmente inglês, inspirado no Lawn Tennis, que estava em voga na Europa (Uzorinac, 2001UZORINAC, Zdenko. ITTF 1926 - 2001: table tennis legends. Lausanne: International Table Tennis Federation, 2001. Disponível em: https://digital.la84.org/digital/collection/p17103coll23/id/202. Acesso em: 22 mar. 2022.
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).1 1 O tênis de grama era chamado de Lawn Tennis, posto que esse era o piso mais utilizado na época. Desde o final do século XIX, a sua prática havia se popularizado também nos acampamentos do exército britânico instalados na Índia (Mousset; Violette; Épron, 2021MOUSSET, Kilian; VIOLETTE, Louis; ÉPRON, Aurélie. The ITTF and Olympic recognition of table tennis: from pure amateurism to the Asian markets (1926-1988). Sport in History, v. 41, n. 4, p. 578–595, 2021. DOI: https://doi.org/10.1080/17460263.2021.1919187
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). Antes da nomenclatura atual, diferentes patentes com formato semelhante foram comercializadas e divulgadas pelos jornais paulistas, tais como Whiff-Whaff, Ping-Pong e pingue-pongue, tendo se consolidado esta última adaptada à língua portuguesa.2 2 O nome Ping-Pong, com iniciais maiúsculas, designava uma patente de jogo/sport comercializada nos anos 1900 e 1910. Já o nome tênis de mesa, enquanto uma modalidade esportiva regulamentada, só passaria a ser oficialmente adotado no Brasil a partir de 1942 (CBTM, 2023). Nesse meio tempo, pingue-pongue foi a nomenclatura cunhada pelos principais jornais paulistas. As competições pioneiras de pingue-pongue no Brasil datam de 1910, quando uma entidade regulamentadora reuniu as seguintes agremiações: São Paulo Football Club, Associação Cristã de Moços, Victoria Athletic Club, o Sport Club Internacional, o Villa Buarque e o Victoria A.C.3 3 PING-PONG. O Estado de São Paulo, São Paulo, p. 5, 30 de abril de 1910.

O pingue-pongue foi exclusivamente praticado por pessoas endinheiradas durante os anos 1900 (Almeida; Yokota, 2023aALMEIDA, Marco Bettine; YOKOTA, Gustavo Kenzo. A chegada do tênis de mesa ao Brasil: origem e significados do ping-pong enquanto prática civilizada (1902-1909). Revista Brasileira de Estudos do Lazer, v. 10, n. 1, p. 42-62, 2023a. Disponível em: https://periodicos.ufmg.br/index.php/rbel/article/view/40142. Acesso em: 7 nov. 2023.
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), mas com a entrada dos anos 1910 também seria incluído de maneira gradual na programação social de clubes com diferentes composições étnicas e perfis socioeconômicos. Diante disso, pode-se dizer que desaparecia o "fantasma" de outros esportes tipicamente ingleses, tais como o cricket,4 4 O cricket, ou críquete em português, é um esporte inglês que chegou ao Brasil pelas mãos de imigrantes dessa nacionalidade, os quais ocupavam cargos importantes no governo ou atuavam em iniciativas empresárias (Melo, 2007). que dificultavam a participação direta dos paulistanos e não teriam projeção graças ao elitismo dos seus círculos (Melo; Gomes, 2019MELO, Victor Andrade de; GOMES, Eduardo Souza. Os britânicos e os clubes de cricket na São Paulo do século XIX (anos 1870-1890). Revista de Históriajournal, n. 178, p. a07417, 2019. Disponível em: https://www.redalyc.org/journal/2850/285061378050/movil/. Acesso em: 18 jul. 2023.
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).

Por demandar pouco espaço, além de investimentos baixos para a manutenção dos salões que abrigavam suas mesas, o pingue-pongue tornou-se amplamente difundido pelos clubes da capital paulista durante as décadas de 1920 e 1930. Isto pode ser exemplificado por uma notícia d'O Estado de São Paulo:

Está tomando grande desenvolvimento, entre nós, o esporte de pingue-pongue, jogo de salão que encontra grande acolhida no seio das famílias, tanto nas grandes capitais, como em afastadas cidades do interior. Pouco dispendioso, ele é mantido nas sedes das sociedades esportivas, por modestas que sejam, e constitui o grande atrativo das mesmas. Aliás, é ele de grande vantagem para a educação da vista, sendo um verdadeiro treino para pulsos, braços e pernas.5 5 CAMPEONATO promovido pelo Diário da Noite. O Estado de São Paulo, São Paulo, p. 6, 10 de novembro de 1925.

Atualmente, é muito comum associar o seu desenvolvimento à colônia japonesa, dada a influência exercida sobre a modalidade ao longo da história. Segundo o Guia do Tênis de Mesa, por exemplo, desde 1988, ano de sua estreia nos Jogos Olímpicos, dezoito atletas brasileiros disputaram a competição como titulares, dos quais treze eram descendentes de japoneses (72,2%); ademais, desde 1983, ano de estreia da modalidade em Jogos Pan-Americanos, vinte e seis atletas brasileiros conquistaram medalhas, dos quais dezessete eram descendentes de japoneses (65,3%) (CBTM, 2021aCBTM. Guia do Tênis de Mesa. Confederação Brasileira de Tênis de Mesa, 2021a. Disponível em: https://static.blocks-cms.com/cbtm/upload/download/d959c7aea87942978a6d355717406cb6.pdf. Acesso em: 31 out. 2023.
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). Ao recuarmos no tempo para tentarmos encontrar as origens de tamanha influência no cenário competitivo da modalidade, tem-se que, a partir da década de 1950, o esporte sempre esteve ligado à comunidade nipônica, uma de suas principais difusoras pelo estado de São Paulo (CBTM, 2021bCBTM. Com forte influência japonesa, tênis de mesa do Brasil vai viver Olimpíada especial em Tóquio. Confederação Brasileira de Tênis de Mesa, 2021b. Disponível em: https://www.cbtm.org.br/noticia/detalhe/98364/com-forte-influencia-japonesa-tenis-de-mesa-do-brasil-vai-viver-olimpiada-especial-em-toquio. Acesso em: 31 out. 2023.
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). Entretanto, pouco se fala do engajamento de outras nacionalidades que também contribuíram com a sua popularização antes da década de 1950. A nacionalidade que mais se destacou no período proposto por este artigo certamente foi a italiana, pois diversas agremiações ou personalidades dessa origem protagonizaram importantes momentos durante os primórdios da modalidade em São Paulo.

Diante do que foi exposto nos parágrafos anteriores, este artigo objetiva estruturar as raízes italianas do tênis de mesa praticado em São Paulo. Tem-se como hipótese que, no período que vai de 1916 a 1933, italianos e seus descendentes contribuíram para a estruturação da modalidade, posto que ocuparam posições de destaque nas entidades dirigentes, além de somarem numerosos adeptos nos endereços onde a modalidade mais se difundiu - notadamente em bairros operários. Cabe dizer que tal recorte temporal justifica-se por abranger desde os primeiros registros encontrados sobre agremiações italianas adeptas da prática de raquetes, até a extinção da Liga Paulista de Pingue-Pongue. A partir de então, tem-se início uma nova fase na trajetória da modalidade em São Paulo, com outra entidade dirigente à frente das competições realizadas e um processo cada vez mais evidente de integração dos imigrantes italianos e seus descendentes à sociedade local. A italianidade perde centralidade na abordagem das notícias e os jogadores da comunidade passam a defender clubes de origem multicultural, cujas características demandam um estudo específico.

Sendo assim, este artigo consiste em uma pesquisa de caráter historiográfico, de abordagem qualitativa e exploratória com discussões norteadas pela literatura pertinente ao tema, aliada a análises documentais em jornais da época, cujos acervos encontram-se disponíveis no website da Hemeroteca Digital. Os periódicos escolhidos foram O Estado de São Paulo, A Gazeta, A Tribuna, Correio Paulistano e Correio de São Paulo, aqueles que mais dispunham de notícias relacionadas ao pingue-pongue em suas seções esportivas. O processo de análise começou em julho de 2023, e as palavras-chave utilizadas para a coleta de informações na Hemeroteca Digital foram "pingue-pongue", "ping-pong" e "Liga Paulista de Pingue-Pongue". A partir desse filtro, foram selecionadas e organizadas as ocorrências relacionadas à comunidade italiana em ordem cronológica.

Por fim, frente aos achados desta pesquisa, espera-se não apenas contribuir com as discussões sobre o associativismo e o protagonismo dos imigrantes italianos na esfera esportiva, como também somar aos incipientes estudos históricos do tênis de mesa brasileiro. Nesse sentido, ao passo em que o presente artigo atenta-se à trajetória dessa parcela de adeptos, busca-se também abordar outros acontecimentos e características da modalidade ainda desconhecidos pela literatura especializada.

2 BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO DA IMIGRAÇÃO ITALIANA

As motivações do fenômeno conhecido como Grande Imigração no Brasil remetem ao processo de abolição da escravatura, iniciado com a Lei Eusébio de Queirós (1850) e concluído institucionalmente com a Lei Áurea (1888).6 6 O período que foi de 1887 a 1910 ficou conhecido como "grande imigração", pois houve uma entrada massiva de imigrantes para cobrir a demanda de mão de obra barata, sobretudo, nos cafezais paulistas. Tal processo gerou uma preocupante escassez de mão de obra às elites dirigentes, posto que os antigos escravizados de origem africana eram tidos como trabalhadores indesejáveis ao projeto racial e moral que norteava o país desde a proclamação da República (1889). Em paralelo a isso, a Europa experienciava instabilidades socioeconômicas, em grande parte geradas pelo exacerbado crescimento demográfico que, junto com os avanços tecnológicos nas áreas de produção e com o desenvolvimento de meios de transporte mais eficientes, fez surgir um excedente de força de trabalho à disposição do mercado (Soares et al., 2011SOARES, Weber et al. Italianos no Brasil: síntese histórica e predileções territoriais. Fronteiras, v. 13, n. 23, p. 171-199, 2011. Disponível em: https://ojs.ufgd.edu.br/index.php/FRONTEIRAS/article/view/1423. Acesso em: 18 jul. 2023.
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).

Frente à abundância de terras desocupadas e à ascensão do café em São Paulo, matéria-prima que projetou novamente o Brasil no comércio internacional, estimulou-se a entrada, por vezes subsidiada, de imigrantes com experiência de trabalho nas grandes fazendas. Teorias eugenistas sustentavam que o progresso da nação só seria concretizado com um embranquecimento do povo brasileiro, portanto, dado o cenário propício para tal, a mão de obra europeia rapidamente virou uma opção para os empregadores nacionais. Durante esse período, São Paulo emerge enquanto um importante sustentáculo da economia brasileira, tendo encampado diversos projetos de modernização, seja na arquitetura dos cartões-postais, nos costumes ou nos meios de sociabilidade reproduzidos pelas elites dirigentes. Ainda que não fossem os preferidos dos fazendeiros, italianos, portugueses e espanhóis foram aqueles que mais desembarcaram no estado por motivos de conveniência. A chegada desses contingentes alterou profundamente a dinâmica de São Paulo, de tal modo que a população total passou de 31.385 habitantes em 1872, para 239.820 habitantes em 1900, fazendo do imigrante presença indissociável do dia a dia local (Guedes, Zieff, Negreiros; 2006GUEDES, Cláudia; ZIEFF, Susan; NEGREIROS, Plínio. Clubes de imigrantes em São Paulo - SP. In: DACOSTA, Lamartine. Atlas do esporte no Brasil. Rio de Janeiro: CONFEF, 2006. p. 624-726.).

Cabe destacar a representatividade dos italianos, pois, entre 1870 a 1920, 70% de todas as pessoas dessa origem que migraram ao Brasil escolheram São Paulo como destino (Soares et al., 2011SOARES, Weber et al. Italianos no Brasil: síntese histórica e predileções territoriais. Fronteiras, v. 13, n. 23, p. 171-199, 2011. Disponível em: https://ojs.ufgd.edu.br/index.php/FRONTEIRAS/article/view/1423. Acesso em: 18 jul. 2023.
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). Inicialmente alocados nas fazendas cafeeiras, à medida que a industrialização ganhava força, uma parcela dos imigrantes se deslocou às áreas urbanas em busca de melhores condições de trabalho. Sobre as especificidades desses imigrantes, sabe-se que a posse de terra era um desejo mais presente entre os vênetos, enquanto um considerável número de peninsulares, sobretudo meridionais, ambicionavam viver em áreas urbanas (Calvim, 1999CALVIM, Zuleika. O Brasil italiano (1880-1920). In: FAUSTO, Boris (org.). Fazer a América: a imigração em massa para a América Latina. São Paulo: Edusp, 1999.). Alguns terminavam nas fábricas como operários, outros tentavam a sorte no comércio, mas fato é que muitos deles se estabeleceram na capital paulista, onde constituíram um mercado consumidor significativo à disposição das elites dirigentes (Soares et al., 2011SOARES, Weber et al. Italianos no Brasil: síntese histórica e predileções territoriais. Fronteiras, v. 13, n. 23, p. 171-199, 2011. Disponível em: https://ojs.ufgd.edu.br/index.php/FRONTEIRAS/article/view/1423. Acesso em: 18 jul. 2023.
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).

Ao se estabelecerem em São Paulo, apesar das diferenças regionais entre si - afinal, a Itália foi unificada apenas em 1870 -, italianos e seus descendentes uniram forças para (re)criar algumas referências capazes de sustentar a sua memória coletiva, ocorrida:

[...] através de um conjunto variado de práticas, como escolas, festas, homenagens e atividades de lazer em geral, usualmente cimentadas sob o sentimento pátrio, ofereceram, num primeiro momento, mesmo com os imigrantes se encontrando fragmentados em diversos níveis sociais, uma união que aparecia como necessidade para fazer frente às condições adversas da sociedade de adoção. As associações de socorro mútuo analisadas situaram-se dentro do processo de desenvolvimento dos núcleos urbanos formados no decorrer da economia cafeeira, com vistas a consolidar um conjunto de estratégias em resposta às diversas contingências produzidas naquele contexto. Aliás, estratégia é a expressão adequada para situar as variadas ações dessas organizações, pois se o assistencialismo significou a construção dos meios práticos para o provisionamento da existência de uma população fronteiriça, imigrante, as ações em favor do desenvolvimento de um sentimento identitário igualmente lançaram mão de tantos outros mecanismos de sobrevivência no interior da sociedade de adoção.

(Furlanetto, 2011FURLANETTO, Patrícia Gomes. Estratégias Sócio-Culturais no associativismo de imigrantes italianos no estado de São Paulo (1890-1920). In: SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA, 26, São Paulo, 2011. Anais... São Paulo: ANPUH, 2011. Disponível em: http://www.snh2011.anpuh.org/resources/anais/14/1300034482_ARQUIVO_textoanpuh_2011_furlanetto.pdf. Acesso em: 18 jul. 2023.
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, p. 2).

Vale dizer que associações do tipo não eram desconhecidas entre aqueles advindos da península itálica, pois desde o fim do século XIX já possuíam uma rede de ajuda mútua que envolvia manifestações culturais, artísticas e práticas recreativas (Silva, 2013SILVA, Diana Mendes M. A Associação Atlética Anhanguera e o futebol de várzea na cidade de São Paulo (1928-1950). 2013. Dissertação (Mestrado em História) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, 2013. Disponível em: https://teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8138/tde-29102013-113153/publico/2013_DianaMendesMachadoDaSilva_VCorr.pdf. Acesso em: 18 jul. 2023.
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). Com o passar do tempo, tais imigrantes e seus descendentes tornaram-se influentes em diversos setores da sociedade. Para além de desenvolverem e implementarem o associativismo, protagonizaram movimentos sociais e foram mediadores e agentes culturais (Moura, 2016MOURA, Rodrigo Caldeira. Se vencer o Palestra, vence a “bella” e “legendária” pátria italiana: uma história comparada dos Palestras Itália de São Paulo e de Belo Horizonte (1914- 1933). 2016. Tese (Doutorado em História Comparada). - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2016.). Em uma velocidade jamais imaginada pelos antigos moradores de São Paulo, tamanho foi o impacto gerado pela comunidade italiana que o conhecimento da sua língua passou a ser necessário para as relações sociais e comerciais da cidade (Guedes, Zieff, Negreiros; 2006GUEDES, Cláudia; ZIEFF, Susan; NEGREIROS, Plínio. Clubes de imigrantes em São Paulo - SP. In: DACOSTA, Lamartine. Atlas do esporte no Brasil. Rio de Janeiro: CONFEF, 2006. p. 624-726.). No que se refere ao campo esportivo, fundaram inúmeros clubes com o objetivo de reunir os seus compatriotas em torno de atividades físicas e meios de sociabilidade, tais como o futebol. Alguns desses clubes, em atividade até os dias atuais, foram o Palestra Itália (chamado de Sociedade Esportiva Palmeiras desde 1942), o Esperia e o Clube Atlético Juventus, onde, por outro lado, modalidades pouco discutidas na literatura também conquistaram a preferência dos italianos e seus descendentes. Este foi o caso do tênis de mesa, conhecido à época como pingue-pongue.

3 AS PRIMEIRAS AGREMIAÇÕES ITALIANAS A PROMOVEREM O PINGUE-PONGUE (1916 a 1926)

O primeiro clube de origem italiana a se interessar pelo pingue-pongue parece ter sido o Palestra Itália, cuja fundação se deu em 1914, graças à vinda dos times de futebol Pro Vercelli e Torino a São Paulo. Estes disputaram partidas que motivaram a comunidade italiana a criar uma agremiação com identidade própria no esporte bretão. Foi assim que, cerca de 46 pessoas, em sua maioria compatriotas, se reuniram no extinto salão Alhambra, próximo à Praça da Sé, para fundar uma nova sociedade esportiva, recreativa e dramática de italianos e seus descendentes (Cervo, 2012CERVO, Luigi. Início da vida palestrina. In: GALUPPO, Fernando Razzo. Morre líder, nasce campeão!: 1942: arrancada heroica palmeirense. São Paulo: Ed. BB, 2012. p 14-23.). Apesar de ter como prioridade o desenvolvimento do futebol, o Palestra Itália também tinha a finalidade de promover outras modalidades. Em 1916, por exemplo, uniu-se ao Braz Club, Allumny, Victoria Ideal Club e G. D. Almeida Garret para tentar fundar uma nova entidade regulamentadora do pingue-pongue na capital paulista.7 7 ASSOCIAÇÃO Paulista de Ping-Pong. O Estado de São Paulo, São Paulo, p. 6, 25 de junho de 1916. Embora tenham fixado uma taxa de inscrição, escolhido uma sede social oficial e eleito uma diretoria, o objetivo dos clubes envolvidos não se concretizou e nenhum campeonato foi organizado. Cabe destacar que o palestrino Alessandro Grazzini tinha sido escolhido para ocupar a vice-presidência, o que indica o interesse de seu clube em engajar-se na estruturação do pingue-pongue. Apesar da entidade regulamentadora não ter vingado, o Palestra Itália continuou promovendo amistosos internos e atividades recreativas em torno da prática.

Ao que tudo indica, outros clubes de composição étnica semelhante abriram as portas por influência do Pro Vercelli e do Torino. Este foi o caso do Touring F.C., que tinha entre seus fundadores diversas pessoas com nomes e sobrenomes italianos (Streapco, 2016STREAPCO, João Paulo F. Cego é aquele que só vê a bola. O futebol paulistano e a formação de Corinthians, Palmeiras e São Paulo. São Paulo: Edusp, 2016.). Tal como o Palestra Itália, o Touring F.C., originalmente dedicado ao futebol, também iria se interessar pelo pingue-pongue, tendo marcado presença em diferentes iniciativas de estruturação da modalidade. Um exemplo foi a sua filiação à Confederação Paulista de Pingue-Pongue em 1917, entidade que organizava campeonatos com a participação do Sport Club Germânia, da Legião do São Pedro, do Centro Operário Católico do Braz, do Grupo Ypiranguinha, da Ponte Grande, do Clube Atlético Ypiranga e da Associação Atlética de São Paulo.8 8 CONFEDERAÇÃO Paulista de Ping-Pong. O Estado de São Paulo, São Paulo, p. 5, 21 de março de 1917. A Confederação Paulista de Pingue-Pongue manteve-se ativa entre 1914 a 1918, tendo entrado em declínio depois disso por conta da crise da Gripe Espanhola, a qual forçou o interrompimento de suas atividades.

De maneira gradual, os jornais indicam que o pingue-pongue foi se espraiando para diferentes bairros, tais como Sé, Bom Retiro, Penha, Centro, Mooca e Liberdade, crescendo a sua popularidade na cidade de São Paulo. Apesar de ter sido inicialmente atrelado aos padrões europeus, portanto utilizado pelas elites dirigentes enquanto meio de distinção social, ao final da segunda metade da década apresentava um perfil menos restritivo de adeptos. Segundo O Estado de São Paulo, o "belo esporte de salão" já era "cultivado em quase todas as associações esportivas e recreativas, assim como na casa de muitas famílias". 9 9 CONFEDERAÇÃO Paulista de Ping-Pong. O Estado de São Paulo, São Paulo, p. 7, 9 de outubro de 1917.

Com a entrada dos anos 1920, tal popularidade tornar-se-ia ainda mais evidente nos círculos esportivos. Conhecidos como os "anos loucos",10 10 A década de 1920 ficou conhecida como o período dos "anos loucos", assim chamados por conta das significativas transformações nos costumes, na moda, no entretenimento e na cultura da sociedade ocidental pós-guerra, sob forte influência dos Estados Unidos da América. Foi também um período de novas possibilidades de sociabilidade para as mulheres, as quais conquistaram diferentes espaços e adotaram novos comportamentos até então considerados inapropriados à figura feminina. tratava-se de um período em que o corpo humano passava a ser considerado, assim como a sociedade, uma máquina passível de ser aperfeiçoada (Sevcenko, 1992SEVCENKO, Nicolau. Orfeu extático na metrópole: São Paulo, sociedade e cultura nos frementes anos 20. São Paulo: Cia. das Letras, 1992.). Modalidades como o pingue-pongue encontraram um contexto que favorecia a sua popularização em diversos segmentos que não apenas as elites. Consequentemente, o ganho de visibilidade e importância na capital paulista se deve, também, a um maior esclarecimento e aceitação de representações utilitárias, estas fomentadas por parte de médicos higienistas e educadores que pretendiam associar certas práticas esportivas a uma dimensão educativa (Medeiros; Dalben; Soares, 2022MEDEIROS, Daniele C. C. de; DALBEN, André; SOARES, Carmen Lúcia. . Educação pelo esporte na cidade de São Paulo (1920-1936). Cadernos de História da Educação, v. 21, p. e065, 2022. DOI: https://doi.org/10.14393/che-v21-2022-65
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). A nova concepção acerca das práticas esportivas gerou impactos culturais, de tal maneira que, naqueles anos 20, o esporte se tornou a moda e a moda adquiriu um acento desportivo (Sevcenko, 1992SEVCENKO, Nicolau. Orfeu extático na metrópole: São Paulo, sociedade e cultura nos frementes anos 20. São Paulo: Cia. das Letras, 1992.). Vestimentas atléticas passam a ser bem vistas, assim como as rotinas preenchidas por atividades físicas, transformadas em sinônimos de saúde. Não à toa, são desse período os primeiros registros do pingue-pongue feminino na capital paulista (Almeida; Yokota, 2023bALMEIDA, Marco Bettine; YOKOTA, Gustavo Kenzo. Os primórdios do tênis de mesa feminino em São Paulo (1902-1952). Licere, v. 25, n. 4, p. 106–136, 2023b. DOI: https://doi.org/10.35699/2447-6218.2022.44480
https://doi.org/10.35699/2447-6218.2022....
).

Diante desse cenário, em junho de 1921 um novo evento esportivo ganhou as páginas dos jornais. Tratava-se do primeiro campeonato interclubes de pingue-pongue organizado pela APEA (Associação Paulista de Esportes Atléticos), uma entidade surgida em 1913 para dirigir o futebol, mas que mais tarde também agregaria o atletismo, o tênis de campo e outras modalidades (Nicolini, 2001NICOLINI, Henrique. Tietê: o rio do esporte. São Paulo: Phorte, 2001.). O Palestra Itália foi um dos primeiros a se inscrever no certame, juntamente com o S. C. Internacional, S. C. Sírio, Minas Geraes FC, Club Atlético Ypiranga, Associação Atlética Portuguesa, Mackenzie College, Sport Club Sírio, Associação Atlética São Bento e S. C. Corinthians - diferentemente do imaginário coletivo preservado nos dias atuais, este clube também possuía origens italianas (Streapco, 2016STREAPCO, João Paulo F. Cego é aquele que só vê a bola. O futebol paulistano e a formação de Corinthians, Palmeiras e São Paulo. São Paulo: Edusp, 2016.). Todas as agremiações mencionadas eram da primeira divisão da APEA e possuíam um setor responsável pelo pingue-pongue em suas dependências.11 11 CAMPEONATO da APEA. O Estado de São Paulo, São Paulo, p. 4, 22 de junho de 1921.

Segundo uma notícia da época, o pingue-pongue já era tido como "um esporte de união, cultivado por uma boa parte dos clubes filiados" à APEA, o que reforça a sua aceitação perante as alas esportivas mais tradicionais da cidade de São Paulo.12 12 CAMPEONATO da APEA. O Estado de São Paulo, São Paulo, p. 6, 3 de julho de 1931. Após o início das disputas, o campeonato teve ampla divulgação em jornais de alta circulação, tanto que em algumas ocasiões chegou a ocupar espaços inéditos na seção esportiva. Em dezembro de 1921, sagrou-se campeão absoluto o Clube Atlético Ypiranga.13 13 PINGUE-PONGUE. O Estado de São Paulo, São Paulo, p. 6, 3 de dezembro de 1921. Apesar das perspectivas animadoras, a estruturação do pingue-pongue pela APEA começou a declinar, até sumir definitivamente durante o segundo semestre de 1922. É possível especular algumas razões para esse desfecho, as quais provavelmente estiveram relacionadas a questões financeiras. Segundo o balanço oficial da entidade, se por um lado o pingue-pongue demandava baixo investimento, por outro não gerava nenhum tipo de lucro.14 14 PINGUE-PONGUE. A Gazeta, São Paulo, edição 04858, p. 2, 29 de março de 1922. Os clubes e dirigentes endinheirados por trás da APEA provavelmente também não enxergaram outras vantagens que atendessem os seus interesses e justificassem a organização de um campeonato chancelado pela entidade.

Ao futebol, por sua vez, direcionavam-se os maiores investimentos da APEA, enquanto outras modalidades de menor adesão figuravam como coadjuvantes. As turmas de pingue-pongue, por exemplo, eram parcialmente formadas pelos mesmos indivíduos que entravam em campo nas disputas do esporte bretão. Assim foi com o jogador Bianco, do Palestra Itália, que tinha um estilo próprio de atuar nas mesas, pois gostava de ficar "só na defensiva", postura semelhante à que adotava nas quatro linhas do gramado.15 15 CAMPEONATO da APEA. O Estado de São Paulo, São Paulo, p. 5, 9 de agosto de 1921. Tratava-se de Bianco Spartaco Gambini, conhecido por ter disputado o Campeonato Sul-Americano de futebol pela seleção brasileira, além de acumular gloriosas passagens pelo S.C. Corinthians e Mackenzie College antes de ocupar as fileiras do clube italiano (Streapco, 2016STREAPCO, João Paulo F. Cego é aquele que só vê a bola. O futebol paulistano e a formação de Corinthians, Palmeiras e São Paulo. São Paulo: Edusp, 2016.). Envolvido nas duas modalidades, é evidente que Bianco encarava o futebol com mais seriedade do que o pingue-pongue, assim como a maioria dos clubes e esportistas vinculados à APEA naquele momento. Sendo assim, ainda que o pingue-pongue tenha continuado movimentando treinamentos e amistosos internos, pelos anos seguintes parece ter prevalecido nos clubes da entidade a imagem de um esporte de salão com caráter recreativo ao invés de competitivo.

Em período próximo, o tradicional Esperia, fundado em 1899 graças aos esforços de sete jovens imigrantes italianos (Nicolini, 2001NICOLINI, Henrique. Tietê: o rio do esporte. São Paulo: Phorte, 2001.), também incluiu o pingue-pongue em sua programação social. Desde pelo menos 1922 já ocorriam em suas dependências amistosos internos, tais como entre as turmas "Perseo", dos jogadores Vallati (capitão), Satira, Consiglio, Attadia e Delfo Nucci, contra "Spica", dos jogadores Chiocca, Marchetti, Pacicco, Pironnet e Clemente.16 16 CLUB Esperia. O Estado de São Paulo, São Paulo, p. 4, 16 de março de 1922. Diferentemente dos demais mencionados, o Esperia não tomou parte nas iniciativas de estruturação do pingue-pongue.

Paralelamente, outros clubes de origem italiana distribuídos pela cidade de São Paulo seguiram a tendência e integraram o pingue-pongue às suas programações esportivas. Tratava-se de agremiações de menor expressão, tais como o S. C. Cerello17 17 SALESIANOS vs. Serello. O Estado de São Paulo, São Paulo, p. 6, 4 de fevereiro de 1921. e o G. E. Piemonte18 18 CASTELLÕES F.C. A Gazeta, São Paulo, edição 04832, 15 de fevereiro de 1922. .

A título de curiosidade, na cidade de Santos, litoral paulista, imigrantes italianos e seus descendentes também contribuíram com os primeiros campeonatos oficiais. Em 1926 foi fundada a Liga Santista de Pingue-Pongue, a qual reuniu duas influentes agremiações dessa origem: a Sociedade Italiana de Beneficência e o Palestra Itália de Santos.19 19 LIGA Santista de Pingue-Pongue. A Tribuna, Santos, edição 00116, p. 3, 21 de julho de 1926.

4 A LIGA PAULISTA DE PINGUE-PONGUE (1927 A 1933)

Em dezembro de 1927, uma nova entidade regulamentadora abriu as portas na cidade de São Paulo. Com sede na Sé, onde concentrava-se número significativo de adeptos do pingue-pongue, os clubes Touring F.C., S. C. Sírio, Imparcial F.C., Ex Alunos da Associação Dom Bosco, A. E. Commercio, Centro Político e Industrial da Mooca, C. A. Columbia, Palmeiras F. C., Imperial Club e Circulo Israelita fundaram a Liga Paulista de Pingue-Pongue.20 20 LIGA Paulista de Ping-Pong. Correio Paulistano, São Paulo, edição 23147, p. 8, 22 de janeiro de 1928. Para além da participação do Touring F.C., clube dirigido por italianos que novamente se empenhava na estruturação da prática, cabe destacar a escolha de Bruno Ricci (1º tesoureiro), Luiz Boggia (2º tesoureiro) e Lido Piccinini (2º secretário) para ocuparem cargos técnicos na diretoria da Liga Paulista de Pingue-Pongue.21 21 PINGUE-PONGUE. A Gazeta, São Paulo, edição 06576, p. 7, 2 de janeiro de 1928. Em contraste com as iniciativas da APEA, desta vez tratava-se de uma entidade que reunia clubes de classe média, concentrados majoritariamente em bairros industriais.

A Liga Paulista passou a organizar campeonatos em 1928, com o seguinte formato: quatro jogadores por turma, sendo o placar final proporcional ao nível técnico (100 pontos para a terceira turma, 150 pontos para a segunda turma e 200 pontos para a primeira turma). As partidas da primeira turma começavam às 22 horas, portanto aquelas com placares disputados podiam se estender à madrugada. Entre outras normas, para cada confronto haveria um único juiz escolhido no dia pelos próprios capitães dos clubes, a tabela ocorreria em dois turnos, e os donos da casa tinham a obrigatoriedade de fornecer as bolas. Tal formato não tinha nenhuma semelhança com as regras padronizadas no exterior, adotadas desde 1926 com a fundação da Federação Internacional de Tênis de Mesa (ITTF, 2023ITTF. History of table tennis. International Table Tennis Federation, 2023. Disponível em: https://www.ittf.com/history/documents/historyoftabletennis/. Acesso em: 18 jul. 2023.
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). Embora um processo de esportivização estivesse em curso, o pingue-pongue consistia numa prática ressignificada e remodelada pelos brasileiros, cujas características eram exclusivas, com variações regionais - algo semelhante ocorreu com o remo, no início do século XX, quando esse processo de esportivização se deu de forma não linear, entre adaptações, interpretações e recriações das regras adotadas em outros países (Medeiros, 2022MEDEIROS, Daniele C. C. de. O processo de esportivização do remo na cidade de São Paulo (1899-1949). Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 44, p. e009221, 2022. DOI: https://doi.org/10.1590/rbce.43.e009221
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).

Embora nem sempre relacionados a agremiações dessa origem, diversos jogadores com sobrenomes italianos figuraram com destaque nos campeonatos da Liga Paulista. Attilio Faedo, por exemplo, foi vice-campeão individual em 1928, enquanto que Armando Dizioli ocupou a terceira colocação.22 22 LIGA Paulista de Pingue-Pongue. O Estado de São Paulo, São Paulo, p. 16, 21 de dezembro de 1928.

Já em 1929, a Liga Paulista passou por uma mudança na diretoria, tendo sido nomeado Lido Piccinini como 1º secretário.23 23 LIGA Paulista de Pingue-Pongue. O Estado de São Paulo, São Paulo, p. 7, 2 de janeiro de 1929. Este brasileiro de ascendência italiana destacou-se pela atuação em prol do pingue-pongue. Segundo o jornal Correio de São Paulo, tratava-se de um personagem de relevo do esporte local, afinal carregava em seu histórico passagens pelo futebol do São Bento e do S. C. Corinthians Paulista, além de uma trajetória exitosa pelo pingue-pongue do E.C. Sírio e da A.A. São Jorge.24 24 O CONHECIDO esportista, Lido Piccinini, foi eleito Presidente do Castellões F.C. Correio de São Paulo, São Paulo, edição 00159, p. 5, 16 de dezembro de 1932. Apesar das aventuras no ludopédio, sua paixão era mesmo o pingue-pongue, modalidade na qual Lido Piccinini seria reconhecido como jogador e dirigente exemplar.

Na ausência de muitas referências internas, a solução para os imigrantes que chegavam a São Paulo era construir mecanismos de encontros com o país de origem, ao mesmo tempo em que se misturava o anseio de um Brasil rumo ao futuro (Guedes, Zieff, Negreiros; 2006GUEDES, Cláudia; ZIEFF, Susan; NEGREIROS, Plínio. Clubes de imigrantes em São Paulo - SP. In: DACOSTA, Lamartine. Atlas do esporte no Brasil. Rio de Janeiro: CONFEF, 2006. p. 624-726.). Foi assim que clubes como o Castellões F.C. foram fundados por italianos e seus descendentes para rivalizar no cenário esportivo paulistano. Nesse sentido, ainda que tal comunidade reproduzisse preconceitos contra determinadas etnias e parcelas da sociedade, com o passar dos anos contribuíram para a diversificação da fisionomia da cidade, reforçando a classe média e criando uma das facetas da identidade paulistana do século XX (Streapco, 2016STREAPCO, João Paulo F. Cego é aquele que só vê a bola. O futebol paulistano e a formação de Corinthians, Palmeiras e São Paulo. São Paulo: Edusp, 2016.). Isso era perceptível no tocante às práticas esportivas, inclusive no caso do pingue-pongue.

Embora tivesse como atração principal o futebol, o Castellões F.C. ganhou fama no pingue-pongue. Localizado na Avenida Rangel Pestana, por lá reuniam-se com frequência astros do pingue-pongue local para treinamentos, amistosos e diversas partidas oficiais. O clube de classe média era um dos símbolos da identidade italiana no bairro industrial do Brás, tanto que inspirou o nome da tradicional pizzaria Castelões, em funcionamento até os dias atuais na rua Jairo Góis (Diaféria, 2002DIAFÉRIA, Lourenço. Brás: sotaques e desmemórias. São Paulo: Boitempo Editorial, 2002.). De acordo com o Correio Paulistano, alguns de seus jogadores de pingue-pongue contavam com grande número de admiradores, tendo mobilizado animadas disputas para os moradores do bairro.25 25 PING-PONG. Correio Paulistano, São Paulo, edição 22623, p. 5, 17 de julho de 1926. No que se refere ao seu desempenho, um título relevante para a trajetória do Castellões foi a conquista do campeonato de duplas da Liga Paulista de Pingue-Pongue, ocorrida no mês de abril de 1929, com Luis Laurelli e Antonio Martins.26 26 LIGA Paulista de Pingue-Pongue. O Estado de São Paulo, São Paulo, p. 14, 27 de abril de 1929. Cabe destacar que, antes desse acontecimento, outra agremiação a organizar eventos no formato de duplas foi o Esporte Clube Camerino, o qual, segundo o nome, provavelmente também possuía origem italiana.27 27 PINGUE-PONGUE. A Gazeta, São Paulo, edição 06596, p. 7, 9 de fevereiro de 1928.

Para o campeonato de duplas de 1930, a Liga Paulista divulgou um novo regulamento no jornal O Estado de São Paulo.28 28 PINGUE-PONGUE. O Estado de São Paulo, São Paulo, p. 10, 23 de março de 1930. Chama a atenção que, por conta de seu elevado nível técnico, alguns jogadores já estavam classificados automaticamente para a primeira categoria do campeonato de duplas, e só precisavam definir seus parceiros. Dos dez mencionados, cinco tinham sobrenomes italianos: Dario Fornacchia, Luiz Laurelli, Guilherme Collucci, Dante Barretta e Attilio Faedo.

Visando maior integração regional, a Liga Paulista de Pingue-Pongue passou a promover campeonatos interestaduais com representantes do Rio de Janeiro. No início de 1932, um selecionado carioca viajou até a cidade de São Paulo para enfrentar os clubes locais. Das cinco partidas de equipes ocorridas em São Paulo, o selecionado carioca venceu duas, sendo a primeira delas contra o Castellões F.C.29 29 JOGOS Interestaduais. O Estado de São Paulo, São Paulo, p. 9, 26 de janeiro de 1932. Jogando em casa, com torcedores que lotaram o seu salão localizado na Av. Rangel Pestana, o clube de origem italiana escalou Mario Paciullo, Lido Piccinini, Armando Dizioli, José Rodrigues Maldonado e Nicolau Lavieri. Eram os "campeões do Brás" ante os "campeões do Rio de Janeiro", dizia uma notícia d'O Estado de São Paulo.30 30 JOGO Interestadual. O Estado de São Paulo, São Paulo, p. 8, 23 de janeiro de 1932. A outra vitória do selecionado carioca ocorreu na sede da Banda Musical da Mooca, contra o Clube Atlético Juventus, que também era de origem italiana e adepto do pingue-pongue - na época, o seu melhor jogador chamava-se Guilherme Collucci. 31 31 CARIOCAS vs. C. A. Juventus. O Estado de São Paulo, São Paulo, p. 5, 29 de janeiro de 1932. Ambas as agremiações, localizadas respectivamente no Brás e na Mooca, continuariam promovendo amistosos e campeonatos pelo resto da década. Pouco depois das disputas interestaduais, o jogador e dirigente Lido Piccinini seria eleito presidente do Castellões F.C., o que impulsionaria ainda mais as atividades em torno do pingue-pongue.32 32 O CONHECIDO esportista, Lido Piccinini, foi eleito Presidente do Castellões F.C. Correio de São Paulo, São Paulo, edição 00159, p. 5, 16 de dezembro de 1932.

À medida que os anos passavam, o pingue-pongue competitivo tornava-se cada vez mais ligado aos bairros industriais, cujos clubes haviam, em grande parte, sido erguidos por imigrantes e seus descendentes. Os campeonatos, divulgados em diferentes periódicos de alta circulação, consistiam em espetáculos que mobilizavam quantidade significativa de torcedores. Tratava-se, já, de uma modalidade popular na capital paulista, portanto conhecida e discutida pelos círculos esportivos. Vejamos um exemplo disso a partir de uma notícia do Correio de São Paulo, a qual detalhou um episódio do campeonato de duplas promovido pela Liga Paulista em 1932:

A dupla do Cervantes, formada pelos campeonissimos Antonio Martin e José Colloca, dois veteranos da velha guarda, depois do fracasso da noitada inicial, em que foram facilmente por Tavares e Oswaldo, reabilitou-se de uma forma extraordinária, vencendo na rodada seguinte a dupla Lavieri e Recupero de uma maneira convincente. Este triunfo, obtido sobre dois campeões da nova geração, de maior destaque na Pauliceia, atualmente em grande evidência, foi estupendo. O encontro da terceira noitada, na sede do Ítalo-Brasileiro, foi iniciado muito tarde, e isto em virtude da grande massa de torcedores que se comprimia em redor da mesa, não permitindo o início da partida. Com a intervenção do comissário do distrito, a muito custo conseguiu aquela autoridade fazer com que uns milhares de pessoas abandonassem o recinto e assistissem a luta pelo lado de fora do formidável estadio pingue-ponguistico (sic) do Craib. A peleja correspondeu à expectativa. O jogo foi suspenso várias vezes pelo representante da L.P.P.P. a fim de acalmar os partidários dos disputantes, que não se continham quando seus campeões prediletos obtinham o ponto com cortada rocambolesca. A peleja terminou sob grandes aplausos e com a justa e merecida vitória de Martin e Colloca, pela contagem de 150 a 136. Os vencedores, após o jogo, foram carregados em triunfo pela avenida Rangel Pestana, até a sede do Cervantes, pela compacta massa de povo. Os dois campeões tiveram que comparecer várias vezes à sacada para satisfazer a vontade de seus torcedores que enchiam completamente o largo da concórdia. O veterano Antonio Martin foi obrigado a pronunciar um discurso, findo o qual os manifestantes se retiraram para os seus lares. Eram 4 horas da madrugada. 33 33 CAMPEONATO Oficial de Pingue-Pongue da Cidade. Correio de São Paulo, São Paulo, edição 00164, p. 5, 22 de dezembro de 1932.

O trecho acima evidencia como era querido o pingue-pongue na São Paulo dos anos 30, a tal ponto de mobilizar uma "massa de povo" em torno dos jogadores vitoriosos. Neste caso específico, Antonio Martin e José Colloca, representando o Grêmio Dramático Recreativo Cervantes - agremiação de origem espanhola -, foram carregados como verdadeiros heróis pela avenida Rangel Pestana. Em troca do apoio, os manifestantes esperavam apenas um discurso de seus ídolos, e na expectativa disso, encheram o Largo da Concórdia, antigo palco de greves anarquistas e socialistas, além de ponto de encontro entre os que transitavam nos bairros populares da Penha e Belém. Eram milhares, segundo a notícia, espectadores que em muito superam os números das competições atuais do tênis de mesa paulista.

O cenário da partida entre Lavieri e Recupero versus Martin e Colloca, bem como o da festa "pingue-ponguística" ocorrida após o término da disputa, era outra vez o Brás, um polo de atração de trabalhadores imigrantes durante o processo de industrialização no início do século XX (Gomes, 2006GOMES, Sueli de Castro. Uma inserção dos migrantes nordestinos em São Paulo: o comércio de retalhos. Imaginário, v. 12, n. 13, p. 143-169, dez. 2006. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-666X2006000200007&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 18 jul. 2023.
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). Um dos principais fatores para o alojamento desses imigrantes no bairro era:

[...] devido ao fato da localização da Hospedaria ser próxima da estrada de ferro da São Paulo Railway, que trazia os imigrantes do Porto de Santos até São Paulo. Também as características da própria população imigrante, que chegava da região norte da Itália, região que já possuía características industriais.

(Castro, 2010CASTRO, Danilo Martins. As dinâmicas sócio-espaciais nos bairros operários da capital paulista. 2010. Dissertação (Mestrado em Geografia) - Instituto de Geociências e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista, Rio Claro 2010., p. 91).

Tratava-se de um bairro populoso, caracterizado por moradias simples e falta de planejamento urbano, notadamente influenciado pela presença de imigrantes do Sul da Europa. Os jornais da época evidenciam que, entre os vários esportes ali praticados, destacava-se o pingue-pongue, cujo público tornava-se diversificado com a entrada dos anos 1930. Sendo assim, é de se inferir que operários das camadas populares provavelmente compunham a "massa de povo" mencionada pelo Correio de São Paulo - basta considerar que no primeiro quartel do século XX, cerca de 80% dos operários paulistanos eram italianos (Bertonha, 2001BERTONHA, J. F. Fascismo, antifascismo e as comunidades italianas no Centro, Norte e Nordeste do Brasil: os italianos na política regional brasileira. Clio, v. 1, n.19, p. 141-158, 2001. Disponível em: https://periodicos.ufpe.br/revistas/revistaclio/article/viewFile/243105/33571
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). Tal como na década passada, temos indícios de uma maior democratização do pingue-pongue, cada vez mais acessível.

A paixão em torno do pingue-pongue, pela primeira vez capaz de reunir tanta gente na cidade de São Paulo, pode ser justificada pelas raízes dos jogadores, cujos clubes esportivos expressavam identidades étnicas. Afinal, um aspecto presente na vida dos imigrantes europeus em geral era a competição, de modo que parte considerável deles acreditava representar um grupo superior aos demais, algo que se estendia aos clubes esportivos vinculados às identidades nacionais emergentes no continente de origem (Lesser, 2015LESSER, Jeffrey. A invenção da brasilidade: identidade nacional, etnicidade e políticas de imigração. São Paulo: Editora Unesp, 2015.). Oras, se no bairro do Brás o futebol era motivo de provocações e rivalidades entre italianos e espanhóis (Diaféria, 2002DIAFÉRIA, Lourenço. Brás: sotaques e desmemórias. São Paulo: Boitempo Editorial, 2002.), não seria exagero imaginar que isso também embalava as disputas de outras modalidades. Desse modo, equipes de pingue-pongue podiam consistir em representações de nacionalidades para os imigrantes e seus descendentes, sendo estes muito participativos nas disputas pela Liga Paulista de Pingue-Pongue, fosse como jogadores ou como espectadores. É provável que esse tenha sido o espírito preponderante no episódio do Ítalo-brasileiro contra o G. D. R. Cervantes, onde o que estava em jogo era a bandeira da Itália versus a da Espanha.

Algo que iria atrair novos clubes à Liga Paulista seria a anexação do seu campeonato pela APEA, em 1933.34 34 VÁRIAS do esporte. Correio de São Paulo, São Paulo, edição 00190, p. 6, 21 de janeiro de 1933. Isso ocorreu após um longo período de hiato desta entidade com o pingue-pongue, posto que uma década atrás havia desistido de dirigi-la. A reaproximação era sinal do prestígio que o pingue-pongue detinha nos novos tempos, e seus desdobramentos prometiam ser benéficos à Liga Paulista, pois conferiam às suas competições um status de representante oficial da modalidade em São Paulo. Como consequência, naquele mesmo ano de 1933 o número de filiados da Liga Paulista saltou para trinta e cinco: Castellões F.C., Metrópole Clube, P. P. C. Independência, E. C. Cama Patente, Club São Paulo Pingue-Pongue, Associação São Paulo Alpargatas, Imparcial F.C., G.E.R. Prada, Grêmio Almeida Garret, Club Homs, Touring F.C., C. A. Radium, Sociedade Gabriel D'Annunzio, A. A. 5 de Outubro, CRA Ítalo-brasileiro, Lira da Mooca P.P.C., C. E. Paulista de Aniagens, Circulo Italiano Cario del Prete, Bloco Esportivo Bandeirantes, Clube Atlético Juventus, A. A. São Silvestre, São Cristóvão F.C., King F.C., Eden Clube, Centro Gaúcho, Rodhia de São Bernardo do Campo, G. E. R. Mousselline, Palestra Itália, A. A. São Bento, Associação Portuguesa de Esportes, C. E. Orion, E. C. Sírio, Associação Gráfica de Esportes, Hispano-Americano, Piratininga e G. D. R. Cervantes. Nota-se que, destes, pelo menos oito possuíam raízes italianas, desconsiderando-se os jogadores da mesma origem que representavam outras agremiações e que, certamente, eram numerosos.

Muitos clubes filiados à divisão profissional da APEA decidiram tomar parte na Liga Paulista, tais como o Palestra Itália, hoje conhecido como Sociedade Esportiva Palmeiras. A sua equipe principal no pingue-pongue contava com os jogadores Geraldo Pisani, Laurelli, Dario, Magini e Soares.35 35 NOS DOMÍNIOS do pingue-pongue oficial. Correio de São Paulo, São Paulo, edição 00285, p. 5, 16 de maio de 1933. Em período próximo, a equipe de futebol seria campeã paulista, modalidade esta que possuía maior adesão em suas dependências.

Apesar das expectativas animadoras em torno da Liga Paulista, meses depois começaram a circular entre alguns cronistas esportivos que a entidade estava bem próxima de fechar as portas.36 36 PINGUE-PONGUE. A Gazeta, São Paulo, edição 08282, p. 9, 17 de agosto de 1933. Antes mesmo do ano terminar, o boato mostrou-se verdadeiro e a Liga Paulista, que parecia estar em pujança após a oficialização de seus campeonatos com a chancela da APEA, desapareceu dos jornais. Embora não tenha encontrado maiores informações sobre todas as motivações por trás desse duro desfecho, sabe-se que no mês de julho daquele ano uma Assembleia Geral Extraordinária foi convocada para tratar da vacância de cargos, provavelmente abandonados por representantes dos clubes fundadores que, insatisfeitos com os novos rumos, estavam de saída da entidade regulamentadora.37 37 LIGA Paulista de Pingue-Pongue. Correio de São Paulo, São Paulo, edição 00340, p. 5, 19 de julho de 1933.

A partir de então, a responsável por dirigir exclusivamente o pingue-pongue de São Paulo seria a Associação Paulista, entidade de menor expressão fundada em 1929 por dissidentes da Liga Paulista (CBTM, 2009CBTM. Parabéns à FPTM pelos 80 anos (1929-2009). Confederação Brasileira de Tênis de Mesa, 2009. Disponível em: https://www.cbtm.org.br/noticia/detalhe/80540. Acesso em: 18 jul. 2023.
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). Vale pontuar que cisões eram comuns no decorrer do século XX, período marcado por uma série de disputas pela hegemonia da popularização e profissionalização dos esportes modernos (Gois Júnior, 2013GOIS JÚNIOR, Edivaldo. O esporte e a modernidade em São Paulo: práticas corporais no fim do século XIX e início do XX. Movimento, v. 19, n. 4, p. 95–117, 2013. DOI: https://doi.org/10.22456/1982-8918.37530
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).38 38 Somente no futebol paulista, por exemplo, houve cinco entidades diferentes até a década de 1940: Liga Paulista de Football, Associação Paulista de Esportes Atléticos, Liga de Amadores de Futebol, Liga Paulista de Futebol e Liga de Football do Estado de São Paulo (Nicolini, 2001). Agremiações e jogadores com sobrenomes italianos da entidade extinta migraram para a Associação Paulista, que ganhou força e seguiu dirigindo o pingue-pongue até a sua transição para o tênis de mesa, ocorrida em 1942, quando as regras padronizadas pela ITTF (Federação Internacional de Tênis de Mesa) finalmente foram oficializadas e reconhecidas pela Confederação Brasileira de Desportos (CBTM, 2023CBTM. Histórico do Brasil. Confederação Brasileira de Tênis de Mesa, 2023. Disponível em: https://cbtm.org.br/conteudo/detalhe/3. Acesso em: 18 jul. 2023.
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). Embora tal fato esteja além do recorte histórico proposto para este trabalho, cabe destacar que Geraldo Pisani, italiano de nascimento que tinha se tornado cidadão brasileiro no coração e nos costumes (Kurdoglian, 1979KURDOGLIAN, Alberto. Tênis de mesa, pingue-pongue: técnicas, regras comentadas e ilustrações. São Paulo: Cia. Brasil Editora, 1979.), foi um dos grandes nomes da modalidade nesse período. Em 1949, por exemplo, a primeira medalha de ouro do país em um Campeonato Sul-Americano foi conquistada graças à atuação invicta do referido jogador.

Conforme evidenciado neste trabalho, o caso de Geraldo Pisani é apenas o de mais um entre tantos outros imigrantes italianos e seus descendentes estabelecidos no Brasil que construíram carreiras vitoriosas em diversas práticas esportivas, seja nos tempos de pingue-pongue ou de tênis de mesa.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Partindo da hipótese que os imigrantes e descendentes italianos foram importantes para o desenvolvimento e estruturação do tênis de mesa em São Paulo, este artigo investigou clubes, dirigentes e jogadores dessa origem atuantes na modalidade entre 1916 a 1933. Se até a década de 1910 o tênis de mesa, conhecido à época como pingue-pongue, seguia tendo dificuldades em libertar-se da exclusividade das elites, mudanças nesse perfil de adeptos começaram a se sobressair na década de 1920.

Conforme evidenciado, imigrantes italianos e seus descendentes foram personagens ativos num período em que o pingue-pongue tornava-se mais heterogêneo. Isso se expressa na trajetória da Liga Paulista, cuja primeira sede ficava na Sé, enquanto os seus principais clubes filiados ficavam na Mooca e no Brás, bairros industriais que iriam se notabilizar pela presença significativa de operários dessa origem. Com a participação ativa de clubes esportivos frequentados por italianos e seus descendentes, atesta-se como tal colônia contribuiu para a popularização da modalidade a partir da entidade regulamentadora naquele momento, ocupando não apenas cargos de direção como também posições de destaque nas competições disputadas enquanto jogadores.

À medida que o pingue-pongue se tornava mais suscetível a adaptações, sua adesão a diferentes parcelas da sociedade era flexibilizada, tornando-se acessível a trabalhadores das regiões centrais. A modalidade alcançou, então, um índice de popularidade inédito, visto que já estava presente em grande parte das agremiações de classe média e, inclusive, nas mais modestas, como atestam os jornais de alta circulação.

Por fim, vale pontuar que este artigo contou com alguns limites, tais como a ausência de investigações semelhantes na literatura, direcionadas especificamente à modalidade analisada. Nesse sentido, um olhar atento para a trajetória de outros clubes e jogadores, sejam italianos, espanhóis ou portugueses, faz-se necessário para melhor compreendermos a influência da população imigrante no tênis de mesa paulistano durante o período estudado.

  • 1
    O tênis de grama era chamado de Lawn Tennis, posto que esse era o piso mais utilizado na época.
  • 2
    O nome Ping-Pong, com iniciais maiúsculas, designava uma patente de jogo/sport comercializada nos anos 1900 e 1910. Já o nome tênis de mesa, enquanto uma modalidade esportiva regulamentada, só passaria a ser oficialmente adotado no Brasil a partir de 1942 (CBTM, 2023CBTM. Histórico do Brasil. Confederação Brasileira de Tênis de Mesa, 2023. Disponível em: https://cbtm.org.br/conteudo/detalhe/3. Acesso em: 18 jul. 2023.
    https://cbtm.org.br/conteudo/detalhe/3...
    ). Nesse meio tempo, pingue-pongue foi a nomenclatura cunhada pelos principais jornais paulistas.
  • 3
    PING-PONG. O Estado de São Paulo, São Paulo, p. 5, 30 de abril de 1910.
  • 4
    O cricket, ou críquete em português, é um esporte inglês que chegou ao Brasil pelas mãos de imigrantes dessa nacionalidade, os quais ocupavam cargos importantes no governo ou atuavam em iniciativas empresárias (Melo, 2007MELO. Victor Andrade de. Dicionário do esporte no Brasil. Campinas: Autores Associados/CCS-UFRJ, 2007.).
  • 5
    CAMPEONATO promovido pelo Diário da Noite. O Estado de São Paulo, São Paulo, p. 6, 10 de novembro de 1925.
  • 6
    O período que foi de 1887 a 1910 ficou conhecido como "grande imigração", pois houve uma entrada massiva de imigrantes para cobrir a demanda de mão de obra barata, sobretudo, nos cafezais paulistas.
  • 7
    ASSOCIAÇÃO Paulista de Ping-Pong. O Estado de São Paulo, São Paulo, p. 6, 25 de junho de 1916.
  • 8
    CONFEDERAÇÃO Paulista de Ping-Pong. O Estado de São Paulo, São Paulo, p. 5, 21 de março de 1917.
  • 9
    CONFEDERAÇÃO Paulista de Ping-Pong. O Estado de São Paulo, São Paulo, p. 7, 9 de outubro de 1917.
  • 10
    A década de 1920 ficou conhecida como o período dos "anos loucos", assim chamados por conta das significativas transformações nos costumes, na moda, no entretenimento e na cultura da sociedade ocidental pós-guerra, sob forte influência dos Estados Unidos da América. Foi também um período de novas possibilidades de sociabilidade para as mulheres, as quais conquistaram diferentes espaços e adotaram novos comportamentos até então considerados inapropriados à figura feminina.
  • 11
    CAMPEONATO da APEA. O Estado de São Paulo, São Paulo, p. 4, 22 de junho de 1921.
  • 12
    CAMPEONATO da APEA. O Estado de São Paulo, São Paulo, p. 6, 3 de julho de 1931.
  • 13
    PINGUE-PONGUE. O Estado de São Paulo, São Paulo, p. 6, 3 de dezembro de 1921.
  • 14
    PINGUE-PONGUE. A Gazeta, São Paulo, edição 04858, p. 2, 29 de março de 1922.
  • 15
    CAMPEONATO da APEA. O Estado de São Paulo, São Paulo, p. 5, 9 de agosto de 1921.
  • 16
    CLUB Esperia. O Estado de São Paulo, São Paulo, p. 4, 16 de março de 1922.
  • 17
    SALESIANOS vs. Serello. O Estado de São Paulo, São Paulo, p. 6, 4 de fevereiro de 1921.
  • 18
    CASTELLÕES F.C. A Gazeta, São Paulo, edição 04832, 15 de fevereiro de 1922.
  • 19
    LIGA Santista de Pingue-Pongue. A Tribuna, Santos, edição 00116, p. 3, 21 de julho de 1926.
  • 20
    LIGA Paulista de Ping-Pong. Correio Paulistano, São Paulo, edição 23147, p. 8, 22 de janeiro de 1928.
  • 21
    PINGUE-PONGUE. A Gazeta, São Paulo, edição 06576, p. 7, 2 de janeiro de 1928.
  • 22
    LIGA Paulista de Pingue-Pongue. O Estado de São Paulo, São Paulo, p. 16, 21 de dezembro de 1928.
  • 23
    LIGA Paulista de Pingue-Pongue. O Estado de São Paulo, São Paulo, p. 7, 2 de janeiro de 1929.
  • 24
    O CONHECIDO esportista, Lido Piccinini, foi eleito Presidente do Castellões F.C. Correio de São Paulo, São Paulo, edição 00159, p. 5, 16 de dezembro de 1932.
  • 25
    PING-PONG. Correio Paulistano, São Paulo, edição 22623, p. 5, 17 de julho de 1926.
  • 26
    LIGA Paulista de Pingue-Pongue. O Estado de São Paulo, São Paulo, p. 14, 27 de abril de 1929.
  • 27
    PINGUE-PONGUE. A Gazeta, São Paulo, edição 06596, p. 7, 9 de fevereiro de 1928.
  • 28
    PINGUE-PONGUE. O Estado de São Paulo, São Paulo, p. 10, 23 de março de 1930.
  • 29
    JOGOS Interestaduais. O Estado de São Paulo, São Paulo, p. 9, 26 de janeiro de 1932.
  • 30
    JOGO Interestadual. O Estado de São Paulo, São Paulo, p. 8, 23 de janeiro de 1932.
  • 31
    CARIOCAS vs. C. A. Juventus. O Estado de São Paulo, São Paulo, p. 5, 29 de janeiro de 1932.
  • 32
    O CONHECIDO esportista, Lido Piccinini, foi eleito Presidente do Castellões F.C. Correio de São Paulo, São Paulo, edição 00159, p. 5, 16 de dezembro de 1932.
  • 33
    CAMPEONATO Oficial de Pingue-Pongue da Cidade. Correio de São Paulo, São Paulo, edição 00164, p. 5, 22 de dezembro de 1932.
  • 34
    VÁRIAS do esporte. Correio de São Paulo, São Paulo, edição 00190, p. 6, 21 de janeiro de 1933.
  • 35
    NOS DOMÍNIOS do pingue-pongue oficial. Correio de São Paulo, São Paulo, edição 00285, p. 5, 16 de maio de 1933.
  • 36
    PINGUE-PONGUE. A Gazeta, São Paulo, edição 08282, p. 9, 17 de agosto de 1933.
  • 37
    LIGA Paulista de Pingue-Pongue. Correio de São Paulo, São Paulo, edição 00340, p. 5, 19 de julho de 1933.
  • 38
    Somente no futebol paulista, por exemplo, houve cinco entidades diferentes até a década de 1940: Liga Paulista de Football, Associação Paulista de Esportes Atléticos, Liga de Amadores de Futebol, Liga Paulista de Futebol e Liga de Football do Estado de São Paulo (Nicolini, 2001NICOLINI, Henrique. Tietê: o rio do esporte. São Paulo: Phorte, 2001.).
  • FINANCIAMENTO

    O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001.
  • COMO REFERENCIAR

    YOKOTA, Gustavo Kenzo. As raízes italianas do tênis de mesa paulistano (1916-1933). Movimento, v. 30, p. e30012, jan./dez. 2024. DOI: https://doi.org/10.22456/1982-8918.133999

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Editado por

RESPONSABILIDADE EDITORIAL

Alex Branco Fraga *, Elisandro Schultz Wittizorecki *, Mauro Myskiw *, Raquel da Silveira *
*Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Escola de Educação Física, Fisioterapia e Dança, Porto Alegre, RS, Brasil.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    01 Nov 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    19 Jul 2023
  • Aceito
    26 Abr 2024
  • Publicado
    17 Ago 2024
Universidade Federal do Rio Grande do Sul Rua Felizardo, 750 Jardim Botânico, CEP: 90690-200, RS - Porto Alegre, (51) 3308 5814 - Porto Alegre - RS - Brazil
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